MEMÓRIA DA DEDICAÇÃO DAS BASÍLICAS DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO, APÓSTOLOS

18 de novembro de 2025

Hoje a Igreja celebra a Memória da Dedicação das Basílicas de São Pedro e São Paulo, erigidas em Roma sobre os túmulos dos dois grandes Apóstolos que sustentam, com sua fé e seu martírio, os alicerces da vida cristã.

Desde o século XII, a Igreja de Roma fazia memória anual da dedicação das duas basílicas: a de São Pedro, no Vaticano, e a de São Paulo, na Via Ostiense. As primeiras dedicatórias remontam ao século IV, realizadas pelos papas Silvestre (São Pedro) e Siriaco (São Paulo). Com o passar dos séculos, essa celebração ultrapassou os limites das basílicas romanas e passou a ser observada em todas as igrejas do Rito Romano, como sinal de comunhão com o centro da cristandade e com a fé apostólica que sustenta toda a Igreja.

Assim como, em 5 de agosto, o aniversário da Basílica de Santa Maria Maior celebra a Maternidade divina da Virgem Maria, também hoje a liturgia nos convida a venerar os Dois Príncipes dos Apóstolos. Em São Pedro, reconhecemos a rocha sobre a qual Cristo edificou sua Igreja; em São Paulo, contemplamos o ardor missionário que levou o Evangelho para além das fronteiras do povo de Israel.

Celebrar esta memória é voltar às fontes: recordar os fundamentos apostólicos, renovar a comunhão com a Igreja universal e reafirmar que nossa fé está edificada sobre testemunhas que deram a vida por Cristo. As basílicas dedicadas a Pedro e Paulo permanecem como sinais visíveis da continuidade da tradição cristã, lugares onde a memória se torna presença e onde a Igreja, ainda hoje, se reconhece unida na mesma fé.

Que esta celebração fortaleça em nós a fidelidade ao Evangelho e o desejo de testemunhá-lo com a mesma generosidade dos santos Apóstolos.

Conheça mais sobre a Basílica de São Pedro: https://www.basilicasanpietro.va/en

Conheça mais sobre a Basília de São Paulo fora dos Muros: https://www.iubilaeum2025.va/pt/pellegrinaggio/cammini-giubilari-dentro-roma/il-pellegrinaggio-delle-sette-chiese/basilica-di-san-paolo-fuori-le-mura.html


Dos Sermões de São Leão Magno, papa

(Sermo 82, in natali apostolorum Petri et Pauli 1,6-7: PL 54,426-428). (Séc. V)

É preciosa aos olhos do Senhor a morte de seus santos (Sl 115,15), e nenhuma crueldade pode destruir a religião fundada no mistério da cruz de Cristo. A Igreja não diminui pelas perseguições; pelo contrário, cresce. O campo do Senhor se reveste de messes sempre mais ricas, porque os grãos, que caem um a um, nascem multiplicados.

Em quantos rebentos estes dois excelentes germes da divina semente brotaram são testemunhas os milhares de santos mártires que, rivais das vitórias apostólicas, envolveram com uma multidão coberta de púrpura nossa Urbe e a coroaram com um diadema de glória, cravejado de muitas pedras preciosas.

Temos de alegrar-nos sumamente, caríssimos, com a comemoração de todos os santos por esta proteção, preparada por Deus, para exemplo e confirmação da fé. Mas, em vista da excelência destes patronos, é justo que os glorifiquemos com ainda maior exultação, porque a graça de Deus, dentre todos os membros da Igreja, os elevou ao cume. Por isso, no corpo, cuja cabeça é Cristo, constituem como que os dois olhos.

Não devemos pensar que os seus méritos e virtudes acima de toda a expressão sejam diferentes de algum modo ou tenham algo de peculiar, pois a eleição divina os tornou pares, o trabalho assemelhou-os e o fim da vida os igualou.

Por experiência pessoal e pela afirmação de nossos antepassados, cremos e confiamos que, nas lutas da vida, temos sempre a intercessão destes especiais padroeiros para obter a misericórdia de Deus; e por mais abatidos que estejamos pelos próprios pecados, somos reerguidos pelos méritos apostólicos.

Oração
Ó Deus, guarda sob a proteção dos apóstolos Pedro e Paulo a vossa Igreja, que deles recebeu a primeira semente do Evangelho, e concede que por eles receba até o fim dos tempos a graça que a faz crescer. Por nosso Senhor Jesus Cristo, teu Filho, na unidade do Espírito Santo.

3ª MARATONA SACROSANCTUM CONCILIUM

Tesouro de Inestimável Valor: A Sacrosanctum Concilium e a música litúrgica

No dia 4 de dezembro, celebramos os 62 anos da promulgação da Sacrosanctum Concilium – a Constituição sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II. Para marcar esta data tão significativa para a vida da Igreja, será realizada a III Maratona Sacrosanctum Concilium, uma jornada online de formação e partilha.

Das 08h às 20h, especialistas em liturgia e música litúrgica conduzirão reflexões, diálogos e apresentações que aprofundam o tema “Tesouro de inestimável valor: A Sacrosanctum Concilium e a música litúrgica”.

O encontro será totalmente gratuito, sem necessidade de inscrição, e transmitido ao vivo pelos seguintes canais do YouTube:

A maratona é um convite à formação, à espiritualidade e ao aprofundamento da compreensão da música na liturgia, reconhecida pelo Concílio como tesouro precioso que eleva o coração dos fiéis e manifesta a beleza da fé.

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Sacrosanctum Concilium e a música litúrgica

A Constituição Sacrosanctum Concilium, do Concílio Vaticano II, dedica um conjunto de artigos à música litúrgica (§112–§120), reconhecendo sua importância singular na vida de oração da Igreja. Para o Concílio, a tradição musical eclesial é um “tesouro de inestimável valor”, não pela sofisticação estética, mas porque o canto sagrado, unido ao texto litúrgico, faz parte integrante da própria ação ritual. A música, por isso, não é acessória: ela participa da comunicação simbólica da liturgia e contribui para a elevação espiritual dos fiéis.

O documento afirma que a música sacra tem um duplo propósito: a glória de Deus e a santificação dos fiéis. Por essa razão, o culto adquire maior nobreza quando celebrado com canto, envolvendo ministros, coro e assembleia. Essa dimensão comunitária do canto está diretamente ligada ao princípio da participação ativa, tão central à reforma litúrgica.

A Sacrosanctum Concilium também pede que a Igreja preserve e promova seu patrimônio musical. Isso inclui o incentivo à formação de coros, especialmente nas catedrais, e o compromisso de bispos e pastores em assegurar uma prática musical que realmente permita a participação do povo. A formação musical é destacada como fundamental: seminários, casas de formação e institutos especializados devem oferecer sólida preparação aos que atuam na liturgia.

Entre as expressões musicais, o Concílio reconhece a primazia do canto gregoriano, próprio da liturgia romana, recomendando que ele tenha lugar preferencial nas celebrações. Ao mesmo tempo, abre espaço para outras formas de música sacra, como a polifonia, desde que estejam em consonância com o espírito da liturgia e favoreçam a oração e a comunhão da assembleia. Também atribui importância ao órgão de tubos, tradicional na Igreja latina, por sua capacidade de elevar o espírito a Deus, sem excluir outros instrumentos adequados ao culto.

Por fim, o Concílio orienta que os textos destinados ao canto sejam doutrinariamente sólidos e inspirados na Sagrada Escritura e nas fontes litúrgicas, garantindo assim que o canto seja, ao mesmo tempo, beleza estética e expressão de fé.

Assim, a Sacrosanctum Concilium oferece uma visão equilibrada e profundamente teológica da música litúrgica: tradição e participação, beleza e função ritual, formação e vida espiritual caminham juntas. A música, iluminada pelo espírito do Concílio, torna-se caminho de encontro com Deus e de comunhão entre os fiéis.

Leia na íntegra o documento da SC:

LITURGIA DO DIA: QUANDO TUDO PARECE DESABAR… RESPIRA, PERMANECE, CONFIA!

33º Domingo do Tempo Comum – Ano C
Leituras: Ml 3,19-20a | Sl 97(98),5-6.7-8.9a.9bc (R. cf. 9) | 2Ts 3,7-12 | Lc 21,5-19

Às vezes, parece que Jesus gosta de nos pegar desprevenidos. Enquanto alguns discípulos admiravam o Templo de Jerusalém, Jesus solta, com toda serenidade: “Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra.” Imagina a cena. É mais ou menos como você comentar: “Nossa, que prédio bonito!”, e alguém responder: “Pois é, vai cair tudinho.” Não exatamente o tipo de conversa que anima um domingo de manhã.

Mas é justamente desse espanto inicial que nasce a reflexão deste domingo. Jesus não está fazendo terrorismo espiritual. Ele está ensinando seus discípulos — e nós — a não colocar o coração nas estruturas que passam, por mais impressionantes que sejam. É como se dissesse: “Gente, foquem no essencial.” O Evangelho começa com pedras e termina com promessa. Entre uma coisa e outra, existe um caminho feito de perseverança, coragem e olhos atentos.

1. Quando as estruturas tremem

Os discípulos, evidentemente alarmados, perguntam: “Mestre, quando será isso?” A pergunta que a gente adoraria fazer também. Jesus, porém, não dá datas, cronogramas ou tabelas de eventos proféticos. Ele prefere falar do coração humano, das ilusões, dos medos e da tentação de ser enganado. “Cuidado para não serdes enganados.” Quando o cenário confunde, quando o mundo parece um grande reality show apocalíptico, a primeira coisa que Jesus pede é: discernimento.

E aqui entra o toque humorístico da vida real: quantas vezes, quando algo dá errado, a nossa mente já começa a criar um filme inteiro de catástrofes? “Meu Deus, o carro fez um barulho estranho… será que é o motor? Será que vai explodir? Será que devo vender tudo e virar eremita?” O imaginário humano é fértil, às vezes até demais.

Jesus, porém, nos convida a olhar para a realidade sem pânico e com fé. Não se trata de negar os desafios do mundo (guerras, violências, tensões sociais, injustiças), mas de não deixar que eles nos roubem a paz. Ele nos ensina a viver com os pés no chão e o coração no alto.

2. Entre perseguições e testemunhos

Depois, Jesus aprofunda o discurso: “Antes disso, sereis presos e perseguidos… isso será uma oportunidade para testemunhardes.” Aqui está um dos maiores paradoxos do Evangelho: momentos difíceis não são sinais de abandono, mas oportunidades de fidelidade.

Parece até contraditório; nós preferiríamos que “oportunidades de testemunho” viessem na forma de aplausos, holofotes e cafés bem passados, e não de dificuldades. Mas Jesus insiste: as provações podem se tornar palco para o amor e para a resistência da fé.

A primeira leitura, de Malaquias, ilumina essa parte. O profeta fala do “dia do Senhor”, visto por alguns como ameaça, mas, para aqueles que permanecem fiéis, esse dia é “sol de justiça” que traz cura. Em outras palavras: para quem confia no Senhor, os dias difíceis não são o fim, mas começo de algo novo.

3. “É ficando firmes que ireis ganhar a vida”

O versículo final do Evangelho é uma verdadeira bússola espiritual: “É pela vossa perseverança que ireis ganhar a vida.” Não é pela força, não é pela esperteza, não é pela estratégia humana: é pela perseverança, essa palavra tão pequena e tão exigente.

Perseverar significa continuar mesmo quando o entusiasmo diminui. É correr a maratona da fé sabendo que não é sprint. É ser fiel no ordinário, no discreto, no repetitivo. Parece pouco, mas é ali que se constrói a santidade.

E é aqui que Paulo, na segunda leitura (2Ts 3,7-12), entra com uma conversa que parece saída diretamente de uma reunião comunitária: “Trabalhem. Não fiquem à toa. Não vivam às custas dos outros.” A comunidade cristã não é refúgio para preguiçosos espirituais ou sociais. Perseverar também significa contribuir, estar presente, colocar a mão na massa, com alegria, responsabilidade e humildade.

4. O horizonte da liturgia deste domingo

Quando reunimos as leituras, temos um mosaico espiritual:

  • Malaquias fala do dia do Senhor como purificação e cura;
  • O Salmo 97 canta que Deus vem para governar com justiça;
  • Paulo lembra a importância do testemunho concreto;
  • Jesus nos convida à perseverança diante de tempos turbulentos.

Tudo converge para uma mensagem central: a vida cristã não é fuga do mundo, mas fidelidade dentro dele. Mesmo quando os “templos” da vida (aquilo que construímos, admiramos ou seguramos com tanta força) parecem desabar, Deus permanece. E é nessa permanência divina que a nossa própria fidelidade se apoia.

5. Quando o Evangelho encontra a vida real

O Evangelho de hoje também tem um lado profundamente humano. Todos nós temos nossos “templos”: projetos, seguranças, rotinas, planos infalíveis (ou não tão infalíveis assim). E todos nós já sentimos o chão tremer quando algo inesperado acontece.

O que Jesus nos diz é: não coloquem o coração no que passa. Não absolutizem o que é relativo. Não façam eternos os cenários provisórios. E, sobretudo, não busquem atalhos espirituais, nem gurus da moda, nem profetas do pânico, nem receitas mágicas de fé.

A fé verdadeira não precisa de pirotecnia. Ela precisa de constância. De passos pequenos e firmes. De escuta. De discernimento. De coragem.

E, sim, às vezes precisa também de humor. Aquele humor que nasce da humildade, de reconhecer que não controlamos tudo, e que Deus continua sendo Deus mesmo quando nossos planos não são aprovados.

O penúltimo domingo do Tempo Comum nos prepara para o Advento. Fala de fins, mas aponta para começos. Porque o Evangelho não termina com destruição, mas com promessa: “Eu vos darei sabedoria.” “Nenhum fio de cabelo se perderá.” “Pela perseverança ganhareis a vida.”

Quando sentimos que tudo está incerto, Jesus nos entrega três convites simples e profundos:

  1. Não tenham medo.
  2. Não se deixem enganar.
  3. Permaneçam.

E talvez seja isso que precisamos ouvir mais do que nunca: mesmo quando tudo parece desabar, respira, permanece, confia. Porque Deus não abandona o seu povo: Ele o sustenta. Ele o atravessa. Ele o conduz. E, no fim, como diz Malaquias, o Sol da Justiça voltará a brilhar. Com cura. Com esperança. Com vida plena.

ENCONTROS REGIONAIS DOS COOPERADORES PAULINOS

Nos dois últimos finais de semana de setembro (14 e 21), aconteceram os Encontros Regionais dos Cooperadores Paulinos do Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Esses momentos marcaram o encerramento do itinerário formativo que preparou os participantes para viver o tema central: a identidade do Cooperador Paulino, iluminada pela reflexão “Retomando o meu batismo” e “Nossa Identidade a partir da óptica do Fundador”. Inspirados na imagem da construção de uma casa, todos foram convidados a refletir não apenas sobre a missão da Família Paulina no mundo, mas também sobre a edificação da própria “casa interior”, alicerçada em Cristo.

Em Caxias do Sul (RS), o encontro foi acolhido pela comunidade Santa Lúcia, reunindo Cooperadores vindos de várias partes do Brasil: Boa Vista (RR), Conceição do Tocantins (TO), São Paulo (SP), Presidente Prudente (SP), Curitiba/Pinhais (PR) e Cascavel (PR). Do Rio Grande do Sul, participaram grupos de Santana do Livramento, Bento Gonçalves e Porto Alegre, além dos grupos locais: Santos Apóstolos, Santíssima Trindade, Jesus Mestre e Terceira Légua. A presença do Pe. Francisco Galvão, primeiro Padre Paulino a participar de um Regional no estado, trouxe ainda mais entusiasmo e vitalidade. O encontro também foi enriquecido pela presença das Irmãs Pias Discípulas do Divino Mestre, Irmãs Paulinas e Irmãs Pastorinhas, fortalecendo os laços da Família Paulina.

Já em Anastácio (MS), os Cooperadores receberam com alegria os grupos vindos de Campo Grande e Bodoquena. Foi um momento marcado por emoção, partilha e renovação da fé, em que Cooperadores e religiosas reafirmaram sua identidade e compromisso no seguimento do Mestre Pastor, redescobrindo a beleza de pertencer à Família Paulina.

É importante recordar que o Cooperador Paulino é um leigo batizado que, inspirado pelo carisma paulino, assume a busca da santidade e o compromisso com o apostolado. Vive no coração do mundo a missão de anunciar Jesus Mestre, Pastor, Caminho, Verdade e Vida, tornando-se fermento do Evangelho nas realidades humanas e presença viva da Família Paulina na sociedade.

Em síntese, o Hino dos Regionais dos Cooperadores Paulinos no Brasil – 2025 expressa e confirma essa vivência: o desejo de corresponder à vontade do Mestre Pastor, valorizando a riqueza da diversidade que nos caracteriza e respondendo, com fé e esperança, ao chamado de ser sal e luz no tempo e nos contextos em que estamos inseridos.

“Pedras Vivas em Cristo!”

Atentos aos sinais dos tempos com o coração do Bom Pastor
Vemos tanta morte, fake News e divisões
Cansaço, desesperança dilaceram os corações
Com ardor de Paulo e Alberione um mundo novo edificar

   Eu e você, “pedras vivas” da construção
   Em Cristo Alicerçados, a “Casa Paulina”, edificar:
   Sal da terra luz do mundo – o Evangelho proclamar!

 Na Família Paulina cada membro tem seu lugar
Dons diversos, mas unidos, tijolos na construção
Palavra e Eucaristia, em Cristo Mestre, inspiração
De uma Nova mentalidade, unidade e compaixão.
(L.M. Ir. Suzimara B. De Almeida, sjbp)

Fonte da notícia: https://irmaspastorinhas.com.br/wp/cooperadores/2025/09/23/alicercados-em-cristo-edificamos-a-nossa-casa-paulina-para-o-mundo/

LITURGIA DO DIA: DOMINGO DA FESTA DA EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ

Liturgia do dia – Domingo, 14 de setembro de 2025
Exaltação da Santa Cruz – Festa – Ano C
24ª Semana do Tempo Comum

A Liturgia do dia nos convida a contemplar o mistério da Santa Cruz, sinal de salvação e vitória. A festa da Exaltação da Santa Cruz recorda que a cruz, antes instrumento de sofrimento e morte, tornou-se para os cristãos a árvore da vida, pela qual recebemos a redenção em Cristo.

Na primeira leitura (Nm 21,4b-9), o povo de Israel, ferido pelas serpentes no deserto, encontra na serpente erguida por Moisés o sinal de cura e salvação. Este gesto já anunciava o mistério de Cristo, elevado na cruz para dar vida ao mundo.

O salmo responsorial (Sl 77) nos convida a recordar as maravilhas de Deus, que sempre perdoa e salva o seu povo, mesmo quando este vacila na fidelidade.

Na segunda leitura (Fl 2,6-11), São Paulo apresenta o hino cristológico que proclama a obediência de Jesus até a morte de cruz. Por isso, Deus o exaltou, dando-lhe o nome acima de todo nome, diante do qual todo joelho se dobra.

O Evangelho (Jo 3,13-17) mostra que a cruz é o grande sinal do amor de Deus pela humanidade: “Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna”. A cruz não é derrota, mas manifestação plena da misericórdia e da vitória da vida sobre a morte.

A liturgia da Exaltação da Santa Cruz nos conduz ao coração do mistério cristão: a cruz, que aos olhos humanos é sinal de sofrimento e condenação, se torna em Cristo a plena revelação do amor de Deus e a fonte de vida eterna. O Evangelho de João nos apresenta Jesus como o Filho do Homem que desceu do céu e que deve ser elevado. Essa elevação possui um duplo sentido: histórico, pois se refere à sua entrega na cruz, e teológico, porque aponta também para sua glorificação junto do Pai. Assim como a serpente de bronze erguida por Moisés no deserto se tornou sinal de salvação para os que olhavam para ela, também o Filho do Homem, elevado na cruz, torna-se fonte de vida para todos os que nele crerem.

No centro do Evangelho está o versículo que muitos chamam de “pequeno evangelho”: “Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna”. Neste anúncio, encontra-se resumida toda a Boa Nova. Deus é o sujeito do amor, o mundo inteiro, mesmo em sua fragilidade e pecado, é o destinatário, e o Filho é o dom oferecido até a cruz. O fruto desta entrega é a vida eterna, concedida a quem se abre à fé. A cruz, portanto, não é o lugar da derrota, mas a epifania do amor gratuito e misericordioso de Deus, que não poupa o próprio Filho para salvar a humanidade.

O texto continua afirmando que Deus não enviou o Filho para condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Esse detalhe é essencial: a cruz não é condenação, mas reconciliação; não é sinal da ira divina, mas do excesso de amor que gera salvação. O julgamento não é um castigo imposto, mas a escolha que cada pessoa faz diante do amor manifestado em Cristo. Quem crê encontra vida; quem rejeita permanece nas trevas.

Liturgicamente, a cruz é exaltada como altar do sacrifício, trono de glória e sinal de comunhão. No altar, Cristo se entrega totalmente ao Pai por amor à humanidade. No trono da cruz, Ele reina, pois é precisamente no abaixamento que se manifesta sua exaltação. Como sinal de comunhão, a cruz une o céu e a terra, reconciliando os homens com Deus e entre si. A festa de hoje nos convida, portanto, a olhar para a cruz não como peso, mas como caminho de amor e libertação, celebrando-a como sinal pascal de vitória.

Exaltar a cruz significa reconhecer que nela está a fonte de nossa fé, esperança e caridade. Na fé, porque acreditamos que a vida venceu a morte e que o amor é mais forte que o pecado. Na esperança, porque podemos carregar as nossas cruzes com confiança, certos de que em Cristo já participamos de sua ressurreição. Na caridade, porque somos chamados a viver a mesma entrega de amor que Ele viveu, transformando a vida em dom.

Assim, a Liturgia do dia nos leva a contemplar o grande paradoxo cristão: onde parecia haver derrota, resplandece a vitória; onde se via morte, nasce a vida; onde se esperava condenação, transborda a misericórdia. A cruz, hoje exaltada, é para nós a certeza de que Deus nunca desiste da humanidade, mas a envolve com um amor que se faz total entrega.

Origem da Festa da Exaltação da Santa Cruz

A festa da Exaltação da Santa Cruz remonta aos primeiros séculos do cristianismo e está ligada a acontecimentos marcantes na história da Igreja. Sua origem mais antiga está associada à peregrinação de Santa Helena, mãe do imperador Constantino, à Terra Santa, por volta do ano 326. Movida por profunda devoção, ela procurou os lugares santos ligados à vida de Jesus e, segundo a tradição, encontrou o lenho da verdadeira cruz em Jerusalém. Poucos anos depois, Constantino mandou erguer no local a imponente Basílica do Santo Sepulcro, dedicada em 13 de setembro de 335. No dia seguinte, 14 de setembro, a cruz foi solenemente apresentada aos fiéis, que a veneraram com grande devoção. Esse gesto litúrgico passou a ser celebrado anualmente, dando origem à festa da Exaltação da Santa Cruz.

A importância dessa celebração se fortaleceu ainda mais no século VII, quando o imperador bizantino Heráclio recuperou a relíquia da cruz, que havia sido roubada pelos persas em 614. Em 628, a cruz foi devolvida solenemente a Jerusalém, e esse evento se uniu à memória já existente do dia 14 de setembro, conferindo à festa caráter universal.

Desde então, a Igreja não celebra apenas a descoberta ou a recuperação de uma relíquia, mas sobretudo o mistério que a cruz revela: a vitória de Cristo sobre a morte e a manifestação suprema do amor de Deus. A cruz, que aos olhos do mundo foi instrumento de humilhação, é exaltada como trono da glória de Cristo e árvore da vida, da qual brota a salvação.

Por isso, a liturgia deste dia não se concentra no sofrimento da paixão, como acontece na Sexta-feira Santa, mas na alegria pascal da cruz redentora. Ao celebrarmos a Exaltação da Santa Cruz, contemplamos o sinal do amor infinito de Deus, que transforma aquilo que era derrota em vitória e aquilo que era morte em fonte de vida.

Que esta Liturgia do dia nos ajude a contemplar a cruz não como peso, mas como caminho de amor, entrega e salvação.

LITURGIA DO DIA: FESTA DE SANTA ROSA DE LIMA, PADROEIRA DA AMÉRICA LATINA

Hoje (23/08/2025) celebramos com júbilo a Festa de Santa Rosa de Lima, virgem, Padroeira da América Latina. Estamos na 20ª Semana do Tempo Comum, Ano C e a liturgia transpira esperança e nos chama à vivência fiel dos mistérios de Cristo no dia a dia.

Leituras do dia

Na Primeira leitura – 2Cor 10,17-11,2, São Paulo exorta: “Quem se gloria, glorie-se no Senhor”. Não em si mesmo, não em suas obras, mas em Deus. Ele lembra que a aprovação verdadeira vem do Senhor, não dos homens. Paulo se apresenta como aquele que desposou a comunidade a Cristo, como uma virgem pura a um único esposo.

O Salmo responsorial – Sl 148,1-2.11-13a.13c-14 (R. cf. 12a.13a) – faz um convite universal ao louvor. O salmista chama anjos, reis, príncipes, jovens, crianças, homens e mulheres a bendizer o nome do Senhor. Toda a criação é chamada a glorificar seu Criador.

No Evangelho – Mt 13,44-46 – Jesus nos apresenta duas breves parábolas. O Reino dos Céus é comparado a um tesouro escondido em um campo. Quem o encontra vende tudo para comprá-lo. É também como um comerciante em busca de pérolas preciosas. Ao encontrar uma pérola de grande valor, vende tudo para adquiri-la. O Reino exige entrega total.

Quem foi Santa Rosa de Lima

Santa Rosa nasceu em Lima, Peru, em 1586. Seu nome de batismo era Isabel, mas a beleza de seu rosto inspirou o apelido “Rosa”. Desde jovem, buscou a vida de oração, penitência e caridade. Pertenceu à Ordem Terceira Dominicana. Fez voto de castidade, cuidou dos pobres, dos indígenas e dos escravos. Viveu austeramente e ofereceu tudo a Cristo. Morreu em 24 de agosto de 1617, com apenas 31 anos. Foi canonizada em 1671 e tornou-se a primeira santa das Américas, padroeira do Peru e de toda a América Latina.

A vida de Santa Rosa reflete a mensagem das leituras. Como Paulo, ela se apresentou a Cristo como uma virgem pura. Não buscou glória própria. Sua vida foi um constante “gloriar-se no Senhor”. Viveu para Ele e por Ele.

O salmo do dia fala do louvor universal. Rosa também louvou com sua vida. Via Deus na beleza da criação, nas flores que cultivava, no cuidado com os pobres. Sua oração se unia ao cântico dos céus.

O Evangelho das parábolas mostra a radicalidade do Reino. Quem encontra o tesouro vende tudo. Quem acha a pérola deixa tudo para adquiri-la. Assim fez Rosa. Abriu mão de riquezas, de prestígio, de comodidades. Tudo para conquistar o Reino.

Mensagem para nós hoje

A festa de Santa Rosa de Lima nos provoca a rever nossas prioridades. Onde está o nosso tesouro? O que valorizamos acima de tudo? O Senhor nos convida a vender, isto é, a deixar de lado o supérfluo para abraçar o essencial.

Rosa nos ensina que a santidade é possível no cotidiano. É escolha diária. É busca de Cristo como a pérola mais preciosa. É olhar para o mundo com humildade, servir com amor, louvar com simplicidade.

Hoje, o convite é claro: não nos gloriemos em nós mesmos. Reconheçamos que tudo vem de Deus. Ele é nosso maior bem. Que possamos viver o desposório com Cristo, como Santa Rosa, com fidelidade e pureza de coração.

Que todo nosso ser, como o salmo pede, seja louvor. Que nossos gestos revelem amor. Que nossas escolhas apontem para o tesouro maior: Cristo. A vida de Santa Rosa nos mostra que vale a pena entregar tudo para ganhar tudo. E esse tudo é Deus.

Assim, celebramos esta festa pedindo a intercessão de Santa Rosa de Lima. Que ela nos ajude a buscar o Reino com coragem. Que nos inspire a trocar as pérolas falsas pelas verdadeiras. Que nossa vida seja um hino de louvor e entrega. Que possamos um dia, com ela, gloriar-nos apenas no Senhor.

69 ANOS DE PRESENÇA DAS PIAS DISCÍPULAS NO BRASIL

Memória agradecida e fidelidade criativa à missão

No dia 26 de julho de 2025, celebramos com profunda gratidão os 69 anos da chegada das Irmãs Pias Discípulas do Divino Mestre ao Brasil. Foi em 1956 que as primeiras irmãs pisaram em terras brasileiras, vindas da Itália, acolhendo com generosidade o chamado da missão confiada pelo Bem-aventurado Tiago Alberione: ser presença orante, litúrgica e formativa no coração da Igreja e da Família Paulina.

Esses quase sete decênios de história são marcados por uma entrega silenciosa e fiel, construída dia a dia nas comunidades, nos bastidores da liturgia, na atenção aos ministros ordenados, na acolhida aos que buscam um espaço de silêncio e oração, na evangelização através da arte e da beleza.

Ao longo deste caminho, foram muitos os rostos, nomes e histórias que deram corpo à missão das Pias Discípulas no Brasil. Mulheres consagradas, discípulas e apóstolas do Divino Mestre, que, com simplicidade e ousadia, lançaram as sementes do carisma e cuidaram para que crescessem em solo brasileiro, sempre em sintonia com os tempos, as culturas e os desafios de cada época.

Hoje, a presença das Pias Discípulas se estende por diferentes regiões do país, com comunidades e centros de missão que continuam a proclamar, com a vida e o serviço, a centralidade da Eucaristia, da Palavra e da Liturgia na vida da Igreja.

Celebrar este aniversário é mais do que recordar o passado. É renovar o compromisso de ser hoje “memória viva de Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida”, como nos lembra a espiritualidade que herdamos. É continuar, com fidelidade criativa, a missão iniciada por Ir. M. Escolástica Rivata e tantas irmãs que nos precederam, tendo os olhos fixos no Mestre que caminha conosco.

Nesta linda festa, recordamos com gratidão a vida e a fidelidade de nossas Irmãs jubilandas:
Ir. Neusa, Ir. Auxiliadora, Ir. Clarinda, Ir. Rosângela e Ir. Vera,
que celebram 60 anos de consagração religiosa. Suas vidas testemunham o “sim” perseverante, a comunhão fraterna e o amor apaixonado por Jesus Mestre, vivido no cotidiano da missão. Com elas, louvamos ao Senhor por tantas graças derramadas!

A Ele, a glória!
A Maria, Rainha dos Apóstolos, nossa confiança!
Aos irmãos e irmãs que caminham conosco, a nossa gratidão!

“NAS PEGADAS DO MESTRE”: IRMÃS PIAS DISCÍPULAS VIVEM EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS COMO PEREGRINAS DE ESPERANÇA

Taboão da Serra, SP — De 29 de junho a 6 de julho de 2025, trinta Irmãs Pias Discípulas do Divino Mestre, provenientes de diversas comunidades do Brasil, reuniram-se na Casa de Retiros Cenáculo, em Taboão da Serra (SP), para viverem um intenso tempo de Exercícios Espirituais. Acompanhadas pela Ir. Suzimara Barbosa de Almeida, SJBP, as irmãs foram conduzidas a um caminho de interiorização e renovação à luz do tema: “Nas pegadas do Mestre – Peregrinas de Esperança: um caminho de renovação espiritual”, inspirado no itinerário do Ano Jubilar da Esperança convocado pelo Papa Francisco para 2025.

O retiro, vivido em clima de profundo silêncio, oração e escuta da Palavra, foi uma oportunidade privilegiada para reavivar o chamado pessoal à vida consagrada e renovar o ardor missionário. O tema, em sintonia com a preparação espiritual para o Jubileu, levou as irmãs a reconhecerem-se como peregrinas em busca de esperança, seguindo os passos do Divino Mestre com fé e coragem, mesmo entre os desafios do tempo presente.

A Casa das Irmãs do Cenáculo de Taboão da Serra, envolta por paisagens silenciosas e acolhedoras, tornou-se espaço fecundo de encontro com Deus e de revisão de vida. O ritmo dos Exercícios contemplou meditações diárias conduzidas pela Ir. Suzimara, acompanhamento espiritual individual, celebrações comunitárias e momentos de oração pessoal.

A assessora, com sabedoria e sensibilidade espiritual, ofereceu pistas de meditação enraizadas na Palavra de Deus e nos apelos da Igreja para o tempo jubilar. As irmãs foram convidadas a colocar-se a caminho com simplicidade, permitindo que o Espírito Santo renovasse em cada uma a alegria do primeiro chamado e a esperança que não decepciona.

As trinta participantes representavam comunidades de norte a sul do Brasil: Manaus, Codajás, Brasília, Olinda, Belo Horizonte, Cabreúva, Caxias do Sul, São Paulo, entre outras localidades. Essa diversidade regional refletiu a universalidade da missão das Pias Discípulas e a comunhão que une todas no seguimento do mesmo Mestre e na vivência do mesmo carisma.

Mesmo no silêncio proposto pelo retiro, a presença de cada irmã tornava-se elo de comunhão: um silêncio habitado pela oração, pela escuta e pela fraternidade discreta, mas profunda. Como peregrinas, cada uma reconheceu-se parte de um povo em marcha, sustentado pela fé e pelo testemunho recíproco.

Os Exercícios Espirituais foram estruturados em torno da metáfora do caminho: caminhar com o Mestre, aprender d’Ele, deixar-se transformar e ser enviada novamente com esperança renovada. As reflexões tocaram temas sensíveis e concretos do caminho da vida consagrada, como o chamado, a fidelidade nas provações, o dom da fraternidade, a configuração a Cristo Mestre, o serviço generoso dentro da Família Paulina e a esperança como virtude ativa.

O tempo de oração pessoal ajudou cada irmã a reler a própria história à luz da Palavra e do olhar misericordioso de Deus. Houve também espaço para confrontar os desafios da vida consagrada hoje (como o cansaço espiritual, o ativismo e a dispersão interior) e para renovar o desejo de seguir Jesus com inteireza de coração.

Em contraste com o ritmo acelerado do cotidiano, o silêncio vivido nos Exercícios revelou-se não como ausência, mas como presença viva do Senhor. “Foi um silêncio que falava ao coração, que curava, que fazia ouvir com mais nitidez a voz do Mestre”, relatou uma das participantes.

Esse ambiente favoreceu a escuta interior e a abertura à ação do Espírito Santo. O silêncio tornou-se espaço de fecundidade espiritual, onde cada irmã pôde redescobrir a beleza da própria vocação e reavivar o sentido da consagração como dom e missão.

Gratidão e missão

A Província do Brasil manifesta sua gratidão à Ir. Suzimara Barbosa de Almeida pelo serviço prestado com sabedoria, escuta e fidelidade ao carisma. Agradece também à Casa de Retiros das Irmãs do Cenáculo, em Taboão da Serra/SP, que proporcionou um ambiente acolhedor e propício à oração, e a cada irmã que, com generosidade, entrou na dinâmica dos Exercícios como verdadeira peregrina do Espírito.

Que este primeiro grupo de Exercícios Espirituais de 2025 inspire muitas outras irmãs a buscarem, “nas pegadas do Mestre”, a força e a esperança necessárias para a missão que continua. O Ano Jubilar é convite à renovação da fé, à vivência alegre da esperança e ao testemunho de caridade. Que, como Pias Discípulas, possamos seguir firmes e disponíveis, anunciando com a vida: Cristo vive! Ele é nossa esperança!

SOLENIDADE DE CORPUS CHRISTI: O PÃO QUE DÁ VIDA AO MUNDO

Quinta-feira, 19 de junho de 2025
“Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Lc 9,13)

A Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo (Corpus Christi) é uma das mais belas expressões da fé católica na presença real de Jesus Cristo na Eucaristia. Neste dia, a Igreja celebra com solenidade, louvor e gratidão o mistério do pão consagrado, que é o próprio Cristo, oferecido por amor ao Pai e por nós.

A festa teve início no século XIII e foi instituída oficialmente pelo Papa Urbano IV, diante do desejo de reafirmar a fé na Eucaristia em tempos de incerteza. Desde então, ela se tornou uma celebração que une liturgia, piedade e missão, levando o Corpo de Cristo a percorrer nossas ruas em procissão, como sinal de bênção e esperança.

As leituras proclamadas neste ano (Ano C) nos conduzem a uma profunda compreensão teológica da Eucaristia como presença viva, sacrificial e salvífica de Cristo.

Na primeira leitura (Gn 14,18-20), encontramos Melquisedec, figura enigmática e ao mesmo tempo profética, que oferece pão e vinho em ação de graças e bênção. Este gesto antigo, realizado por um sacerdote-rei, já prefigura a oferta eucarística de Cristo, Sumo e eterno Sacerdote, que nos alimenta com o pão da vida e o cálice da salvação. Não por acaso, o Salmo responsorial recorda: “Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem do rei Melquisedec!” (Sl 109/110,4).

A segunda leitura (1Cor 11,23-26) nos leva ao coração da ceia de Jesus. São Paulo transmite à comunidade aquilo que ele mesmo recebeu: “Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória.”

Celebrar a Eucaristia é tornar presente a entrega de Cristo, sua morte e ressurreição, até que ele venha. Trata-se de uma memória viva e transformadora: ao partilhar do mesmo pão e do mesmo cálice, a comunidade é chamada a se tornar o que recebe, Corpo de Cristo no mundo, unido, reconciliado e comprometido.

No Evangelho de Lucas (9,11b-17), Jesus multiplica os pães e peixes diante de uma multidão faminta. O cenário é revelador: Jesus acolhe, ensina, cura e alimenta. Diante da escassez, Ele não manda o povo embora, mas confia aos discípulos uma missão ousada: “Dai-lhes vós mesmos de comer.”

A multiplicação é mais do que um milagre físico: é sinal e antecipação da Eucaristia, onde Jesus toma o pão, ergue os olhos ao céu, pronuncia a bênção, parte e o entrega. É o mesmo gesto da Última Ceia, é o mesmo gesto da Missa.

Na Eucaristia, não apenas comungamos um alimento espiritual, mas aprendemos o gesto do dom: abençoar, partir e repartir. A lógica do Evangelho não é a do acúmulo, mas a da entrega. Por isso, “todos comeram e ficaram satisfeitos” e ainda sobrou.

A sequência litúrgica tradicional de Corpus Christi, atribuída a São Tomás de Aquino, é uma verdadeira catequese em forma de poesia. Em versos belíssimos, proclamamos o mistério de fé: “Faz-se carne o pão de trigo, faz-se sangue o vinho amigo: deve-o crer todo cristão.”

A sequência nos convida a olhar com fé para o altar: vemos pão e vinho, mas cremos no Cristo inteiro, que se dá em cada partícula da Hóstia e em cada gota do Cálice. Alimentar-se da Eucaristia é entrar em comunhão com o próprio Deus, é ser nutrido para a vida eterna.

A Eucaristia é presença. Não é apenas símbolo ou lembrança, mas o Senhor Ressuscitado realmente presente, que permanece conosco até o fim dos tempos. Adorá-Lo no Sacramento é reconhecer que Ele está vivo entre nós e que o altar é o centro e o coração da Igreja.

A Eucaristia também é missão. Como afirmou o Papa Francisco: “A Missa é o céu na terra, mas também é um apelo à caridade no mundo.” Quem comunga o Corpo do Senhor é chamado a ser corpo doado, pão repartido, vida entregue. Não há verdadeira adoração sem compromisso com a justiça, a fraternidade e a dignidade humana. A procissão de Corpus Christi, ao sair do templo, nos lembra disso: Cristo quer caminhar pelas ruas, encontrar as feridas do povo, alimentar os famintos do corpo e da alma.

Celebrar Corpus Christi é renovar a fé no mistério da Eucaristia, que nos forma, transforma e envia. É deixar que Jesus nos nutra com o Pão da vida e nos ensine a repartir com generosidade. “Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente.” (Jo 6,51)

Que nesta festa, cada comunidade cristã se reúna com alegria, fé e reverência ao redor da mesa da Palavra e da Eucaristia, reconhecendo no pão consagrado o Cristo vivo que caminha conosco. E que, ao final da celebração, ao sair em procissão pelas ruas, cada fiel seja sinal de esperança, de comunhão e de solidariedade, levando a presença de Jesus aos cantos do mundo que mais precisam Dele.

FESTA DE PENTECOSTES: VEM ESPÍRITO SANTO DE AMOR!

“Recebei o Espírito Santo!” (Jo 20,22)

A Festa de Pentecostes é uma das celebrações mais importantes do calendário cristão. Marca o encerramento do Tempo Pascal e comemora a efusão do Espírito Santo sobre os discípulos, cinquenta dias após a Ressurreição do Senhor. Essa solenidade nos convida a mergulhar no mistério da presença viva e operante do Espírito de Deus na Igreja e no mundo.

OS TEXTOS BÍBLICOS DESTA SOLENE CELEBRAÇÃO

O texto dos Atos dos Apóstolos (2,1-11) descreve o momento em que os discípulos, reunidos no Cenáculo com Maria, são surpreendidos por um vento impetuoso e por línguas de fogo. É o cumprimento da promessa de Jesus: “Recebereis o Espírito Santo” (cf. At 1,8). O Espírito Santo transforma aquele grupo de homens temerosos em testemunhas corajosas e anunciadores do Evangelho a todas as nações. A diversidade de línguas compreendidas simboliza a universalidade da salvação e o nascimento da Igreja missionária.

O Salmo 103(104), com sua beleza poética, proclama: “Enviai o vosso Espírito, Senhor, e da terra toda a face renovai!” O Espírito é aquele que dá vida, renova, transforma o caos em ordem, a aridez em fecundidade. A criação e a missão da Igreja se entrelaçam pela ação constante do Espírito vivificador.

Na Primeira Carta aos Coríntios (12,3b-7.12-13), São Paulo nos recorda que é o Espírito quem faz da Igreja um só corpo, distribuindo diferentes dons para o bem comum. A pluralidade de carismas não divide, mas edifica. Todos são batizados em um mesmo Espírito e formam um só corpo: Cristo. Pentecostes, portanto, é também a festa da unidade na diversidade, da comunhão e da partilha de dons para o serviço do Reino.

A belíssima Sequência de Pentecostes expressa em forma de oração poética o desejo da Igreja: “Vinde, Espírito Divino!” É um clamor por luz, consolo, força e santidade. O Espírito é invocado como hóspede da alma, descanso no labor, cura para os corações feridos. Cada verso revela a confiança na ação discreta, porém poderosa, do Espírito que age no mais íntimo da vida humana.

No Evangelho de João (20,19-23), Jesus ressuscitado aparece aos discípulos e sopra sobre eles, dizendo: “Recebei o Espírito Santo.” Como o Pai enviou Jesus, Ele agora envia os discípulos. O dom do Espírito está diretamente ligado à missão: anunciar, reconciliar, perdoar. É o início de uma nova criação, da humanidade renovada em Cristo.

PENTECOSTES: ABRIR-SE AO SOPRO DO ESPÍRITO SANTO

Celebrar Pentecostes é abrir-se ao sopro do Espírito Santo que renova todas as coisas. É reconhecer que a Igreja vive e cresce não por sua força, mas pela presença do Espírito. É tempo de renovar os dons recebidos no Batismo e na Crisma, de reacender a chama do amor de Deus e de assumir, com coragem, a missão de anunciar a Boa Nova.

Que esta solenidade reavive em nós a alegria do Evangelho, fortaleça nossa unidade na diversidade e nos envie como discípulos missionários, cheios do fogo do Espírito.

“Dai à vossa Igreja, que espera e deseja, vossos sete dons.”
(Sequência de Pentecostes)