OS INÍCIOS
Nasceu em Narzole (Cúneo-Itália) no sábado, dia 13 de junho de 1896. Teve a graça de receber o santo batismo na tarde desse mesmo dia. Na fonte batismal recebeu o nome de José. Imediatamente depois do batismo foi consagrado a Maria Santíssima e revestido com o escapulário de Nossa Senhora do Carmo.
Em março de 1908 fui enviado a Narzole como vice-pároco, em virtude da obediência. O pároco era idoso e enfermo e era pouco o que podia fazer em seu ministério. Entre as famílias que verdadeiramente possuíam sentimentos cristãos, estava a dos Giaccardo. Frequentavam assiduamente a Igreja, amavam as celebrações sagradas, eram simples e bons em seus costumes, além de ser trabalhadores honestos. Os membros desta família gozavam da estima de todos, faziam parte de todas as boas iniciativas religiosas e civis do povoado. Entre os meninos que frequentavam a Igreja, notei em seguida ao pequeno José (Pinotu) Giaccardo. Destacava-se por sua piedade, por sua seriedade, quase superior a sua idade, por seu amor ao estudo e pela vivacidade contida nos limites de uma alegre inocência. Porém me impressionava sobretudo a sensatez de suas perguntas e respostas e o acatamento a todos os conselhos. Em breve tempo começou a receber a comunhão, que logo chegou a ser cotidiana; chegava à Igreja muito cedo pela manhã com um companheiro (agora missionário na África), para ajudar na missa e comungar.
Em certa ocasião se apresentou na paróquia um irmão marista em busca de vocações e o bom Pinotu em seguida foi escolhido como um dos meninos que prometiam as melhores esperanças.
Seus pais já estavam de acordo, porém a Divina Providência deu outro rumo às coisas. No outono ingressava no seminário de Alba. Ocupava sempre os primeiros lugares no anos de colegial. Destacava-se por sua piedade, estudo, delicadeza e disciplina. Meditou o livrete O pecado venial, e adquiriu uma delicadeza de consciência tal, que sempre fugiu da mais mínima falta voluntária. Desde então os superiores notaram, e o fizeram notar várias vezes, especialmente nas reuniões do Conselho, o trabalho que o Espírito Santo estava realizando em sua alma. Era estimado e querido por seus superiores e seus companheiros, devido a sua espontaneidade, sua sensatez, seu bom trato, sua condescendência e disponibilidade para realizar qualquer serviço em favor dos demais.
Nos cursos de filosofia e teologia era certamente o mais distinto. Sempre obteve os primeiros prêmios; confiaram-lhe funções especiais entre seus companheiros; era sempre aberto e amável com o diretor espiritual; promovia conversas edificantes e dava bom exemplo a todos.
NA SOCIEDADE DE SÃO PAULO
Desde 1909 até 1914, quando a Divina Providência estava preparando a Família Paulina, Giaccardo teve claramente uma intuição, embora nesse momento não compreendesse tudo. As luzes que recebia da Santíssima eucaristia, da qual era muito devoto, sua fervorosa piedade mariana, a meditação e a leitura dos documentos pontifícios, o iluminavam acerca de todas as necessidades da Igreja e sobre os meios modernos de fazer o bem.
Em 1917 entrou como mestre dos primeiros jovens escolhidos com o fim de formar a Sociedade de São Paulo. Desde então foi chamado constantemente de Senhor mestre. Era estimado, seguido, escutado e venerado por todos.
Em janeiro de 1926, por seu grande amor ao papa, foi enviado a Roma, para dar início, no coração da cristandade e próximo ao papa, à primeira casa filial do Instituto. Graças a sua humildade e docilidade soube conquistar para si a veneração das mais altas autoridades eclesiásticas.
Em 1937 regressou a Alba para dirigir a Casa Mãe.
Foi um mestre que precedia a todos com o exemplo: instruía e aconselhava a todos: tudo era feito baseado em sua cálida e fervorosa oração. Compreendia tudo e a todos comunicava seu espírito; ainda que se considerasse o último, era o primeiro em dar-se por inteiro a todos; era muito sensível, muito dócil, muito delicado. Pode-se dizer que escreveu seu espírito em cada alma e transmitiu seu ser aos sacerdotes, discípulos, paulinas, discípulas, pastorinhas e àqueles que se aproximaram dele por motivos espirituais, sociais e econômicos.
Em 1946, ao terminar a guerra, regressou a Roma, à Casa geral, para desempenhar o delicado cargo de vigário geral. Aqui, como o tinha desejado, morreu piedosamente no sábado, 24 de janeiro de 1948, não sem antes ter renovado o oferecimento de sua vida ao Senhor pela Família Paulina.
O Pe. Timóteo era chamado, e era verdadeiramente, Senhor mestre. Representava e imitava em tudo ao Senhor: no altar, no confessionário, no púlpito, nas conversas, nas aulas, no recreio, nos relacionamentos, no complexo mundo de seus cargos e em sua vida pessoal. Era de verdade um alter Christus.
Em certa ocasião, depois de uma longa discussão em que teve que opor-se firmemente a certas idéias, seu interlocutor concluiu dizendo: “Não estou de acordo, porém o senhor não poderia falar de outro modo”. Mais tarde o compreendeu e chegou a ser um admirador seu e um dócil filho espiritual.
Era o mestre!
Tinha uma grande capacidade de pensamento; sua mente sempre estava ocupada em Cristo e na Igreja. Estava sempre concentrado nos livros, artigos, pregações; dava aulas de todas as matérias, segundo o requeriam as circunstâncias; estava sempre preparado; era sempre ouvido, mesmo quando às vezes era um pouco elevado devido à visão que tinha das coisas.
MESTRE DE TODAS AS VIRTUDES
Desde quando ouvi a opinião dos superiores do Seminário acerca dele e de sua vida, sempre se dizia: “Sobre Giaccardo não há observações: faz tudo bem”.
Suas virtudes eram bem conhecidas: tinha humildade, caridade, paciência, grandeza de espírito e amabilidade, porém era muito firme quando se tratava de dar glória a Deus e de fazer o bem às almas.
Sabia falar com Deus!
Vivia especialmente da piedade eucarística, da piedade mariana, da piedade litúrgica, de amor à Igreja e ao papa. Era afável e caridoso com todos; seus pensamentos e aspirações eram sempre elevados; vivia em plenitude a vida religiosa.
É certo o que se escreveu no boletim: “É opinião comum que entre nós passou um santo, um virgem, uma alma que levou até a tumba intacta a veste batismal “.
Quando estava próximo de morrer dizia: “É necessário viver na caridade! É a forma de saborear a doçura, a alegria e o fruto da vida religiosa”.
Suas palavras, suas aulas, seu confessionário, o púlpito, a caneta, o recreio e ainda as coisas mínimas, refletiam sua abundante piedade e a caridade de seu coração.
O Pe. Giaccardo escrevia: “O fundamento, a fonte, o método e a coroa da vida espiritual religiosa da Sociedade de São Paulo, o centro ao redor do qual gira nosso ser e nosso agir, é a devoção à Pessoa de Jesus Cristo, nosso Divino Mestre, presente no Mistério eucarístico e considerado sob o aspecto especial de Caminho, Verdade e Vida”. Ele vivia estes princípios. Quem quisesse conhecer a pessoa que encarnou todo o ideal paulino, em sua integridade, deveria recorrer ao “Senhor mestre”. Tantos são os testemunhos, quantas são as pessoas que o conheceram e quantos são os membros da Família Paulina.
Conheceu-o bem S. E. o Cardeal Schuster, a quem professava uma singular devoção. E o Cardeal, em uma conversa em que se falava das dificuldades que o Pe. Timóteo tinha encontrado em Roma, disse: “Superará todas elas, pois é muito humilde e reza muito”. E em outra ocasião, ao tratar-se de uma questão espinhosa, afirmou: “Se o Pe. Timóteo o disse, não discutais mais: ele vê bem as coisas”.
Depois da morte de Giaccardo, o Cardeal escreveu:
Rev. P. Alberione,
A partida do Teólogo Pe. Giaccardo é para mim um luto familiar, já que lhe estive fraternalmente próximo nos primeiros difíceis anos da fundação em Roma. Oh!, anos preciosos!, cheios de fecunda pobreza e de heróico abandono em Deus. Dia após dia o corvo trazia o pão cotidiano.
Agora o Teólogo reza por nós. Oxalá consigamos imitá-lo e segui-lo um dia no céu. São Timóteo e são Paulo o acolheram em sua companhia. Bem-aventurado!
Com humildes pedidos de oração me confirmo, vosso, Rev. Senhor, Dev. Servo
I. Card. Schuster
Milão, 25 de Janeiro de 1948.
Fonte:
LIMA, Pe. Antonio Lúcio da Silva. Do Teto para cima: Pensamentos espirituais do primeiro sacerdote paulino Timóteo Giaccardo. Edição 2005-2006. São Paulo: Editora Centro Vocacional Paulino, 2005.