LITURGIA DO DIA: PERSEVERAR NA ESPERANÇA

26 de novembro de 2025
Quarta-feira da 34ª Semana do Tempo Comum, Ano Ímpar
Leituras: Dn 5,1-6.13-14.16-17.23-28; Dn 3,62-63.64-65.66-67 (R. 59b); Lc 21,12-19.

A liturgia de hoje nos conduz a uma profunda reflexão sobre a soberania de Deus sobre a história humana e sobre o testemunho corajoso dos discípulos de Cristo diante das adversidades. À medida que nos aproximamos do final do Ano Litúrgico, a Palavra nos convida a olhar para a fidelidade como a única postura capaz de sustentar o discípulo em meio às incertezas e às provações que marcam a caminhada de fé.

Primeira Leitura – Daniel 5,1-6.13-14.16-17.23-28: o capítulo 5 do livro de Daniel nos apresenta uma cena de forte simbolismo: o banquete do rei Baltazar. Em meio à festa desregrada, o rei manda buscar os vasos sagrados que haviam sido retirados do Templo de Jerusalém, profanando o que era dedicado ao culto de Deus. Enquanto bebem e celebram, exaltando deuses feitos por mãos humanas, uma misteriosa mão aparece e escreve na parede palavras incompreensíveis para todos os sábios da Babilônia.

A aparição causa terror no rei, que se vê incapaz de compreender o ocorrido. Daniel é então chamado, conhecido por possuir “o espírito dos deuses santos” e por sua sabedoria singular. Diante do rei, Daniel recusa os presentes oferecidos e proclama a verdade com coragem: Baltazar não reconheceu o senhorio do Deus Altíssimo e, ao profanar os vasos sagrados, demonstrou arrogância e desprezo pelo Senhor. A inscrição — Mene, Tekel, Parsin — revela o julgamento divino: o reino do rei será pesado, medido e entregue a outros.

Esta leitura nos ensina que nenhum poder humano é absoluto. Impérios passam, reinos se desfazem, governantes mudam, mas Deus permanece soberano. A história está sob seu olhar, e quando a criatura se exalta, quando se esquece da origem de todo bem e de toda autoridade, caminha para a ruína. O profeta Daniel é para nós um exemplo de integridade: não se vende, não se deixa seduzir, não distorce a verdade para agradar. Seu compromisso é com Deus.

Salmo Responsorial – Daniel 3: o cântico dos três jovens, que hoje ressoa nos versículos escolhidos, é um convite à criação inteira para louvar o Senhor. Tudo o que existe — sol, lua, estrelas, chuvas, ventos, montanhas e mares — proclama a glória de Deus. A cada verso ressoa um chamado: “A Ele glória e louvor pelos séculos sem fim!”

É um salmo profundamente consolador. Enquanto a primeira leitura apresenta um rei tomado pelo orgulho e pela ilusão de grandeza, o salmo contrapõe a verdade: toda a criação é dependente de Deus e vive para honrá-lo. A liturgia nos coloca num horizonte de humildade: somos parte de uma obra muito maior do que nós mesmos. Diante de um mundo marcado por autossuficiência e esquecimento de Deus, o salmo recupera nossa vocação fundamental: louvar, agradecer, reconhecer.

Evangelho – Lucas 21,12-19: no Evangelho, Jesus fala aos seus discípulos sobre as perseguições que virão. A linguagem é séria e realista: prisões, acusações, ódio, rejeições até mesmo vindas de familiares. A missão cristã não se ilude com facilidades; ela nasce do próprio caminho de Cristo, que passou pela cruz antes da ressurreição.

Mas o Evangelho não é um anúncio de desespero. Ao contrário, é uma mensagem de esperança plena. Jesus afirma: “Eu vos darei palavras e sabedoria a que nenhum dos vossos adversários poderá resistir” e ainda “É pela vossa perseverança que conservareis a vossa vida.”

A perseverança, aqui, não é mera resistência teimosa. É uma fidelidade sustentada por Deus, uma confiança que se mantém mesmo nas contradições da vida. Jesus promete sua presença ativa naqueles que dão testemunho. No momento da prova, não estamos sozinhos. Ele mesmo conduz, fortalece e inspira.

Unidade das Leituras: Vigilância, Fidelidade e Verdade

A liturgia de hoje traz uma síntese preciosa. Daniel nos ensina a manter a verdade diante dos poderosos e a não negociar a fé. O Salmo recorda que tudo existe para glorificar o Senhor e que quem vive nessa sintonia encontra a verdadeira paz. Jesus nos chama à perseverança, sabendo que a fé autêntica incomoda, provoca reações e exige coragem.

    Há um contraste evidente: enquanto Baltazar se perde na arrogância, Daniel se mantém fiel. Enquanto falsos deuses são exaltados, o salmo exalta o único Deus verdadeiro. Enquanto o mundo promete segurança ilusória, Jesus revela que a verdadeira segurança nasce da perseverança na fé.

    Viver hoje a liturgia deste dia é confrontar nossas próprias tentações de autossuficiência. Quantas vezes buscamos apoios que não sustentam? Quantas vezes fazemos nossos próprios “ídolos”: sucesso, dinheiro, imagem, poder, a própria vontade colocada como medida de tudo? Baltazar não é apenas um personagem antigo; é espelho das fragilidades humanas de todos os tempos.

    Do outro lado, Daniel nos inspira a manter a integridade mesmo quando isso implica riscos. Ele não teme desagradar o rei, porque sabe que sua vida está nas mãos de Deus. Sua liberdade interior nasce da fé profunda.

    E Jesus completa esse ensinamento ao afirmar que o discípulo deve esperar dificuldades, mas jamais desistir. Não é a ausência de perseguições que comprova a autenticidade da fé, mas a constância no meio delas. A perseverança é o lugar onde Deus age, onde sua força se manifesta.

    A liturgia de hoje nos convida a renovar nossa confiança no Senhor da história. Nenhum poder humano é definitivo, nenhuma perseguição tem a última palavra, nenhuma provação é maior do que a graça de Deus. O que Ele espera de nós é fidelidade — serena, constante, verdadeira.

    Que, como Daniel, tenhamos coragem de viver a fé sem concessões. Que, como os jovens do cântico, Louvemos a Deus em tudo. E que, como os discípulos do Evangelho, caminhemos com perseverança, certos de que Cristo está conosco em cada prova, sustentando-nos com sua sabedoria e sua paz.