Antes de tudo é preciso recordar a conceituação da ética. A mesma é entendida como a investigação dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo a respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social. Aqui vamos ater na ética que permeia a Ressurreição de Jesus, como um princípio vital que faz com que o ser humano possa vir também a ressuscitar com Ele.

A Ressurreição de Jesus que estamos celebrando, deve abrir algumas linhas de reflexão para num primeiro momento traçar um olhar de atenção sobre o progresso pessoal de cada um, e depois o progresso comunitário. Quando falamos de ressurreição, estamos partindo de um princípio de movimento, e este por sua vez é caracterizado tanto no aspecto interior e exterior. A ressurreição deve, portanto, causar um movimento dentro de nós, sendo este capaz de nos desinstalar, de realmente nos tocar ao ponto de querermos e buscarmos uma renovação da nossa existência. Existir somente não vale a pena, a grande questão é como estamos existindo? Estamos sendo sinais de quê? Jesus quando obedeceu ao Pai trilhando a história da salvação, Ele foi sinal de vida, e vida em abundância. Essa é a ética encarnada no cerne da Páscoa, precisamos ser sinais de vida nova, de esperança, de fraternidade e de paz. Precisamos anunciar para um mundo cada vez mais sofrido e descrente que vale a pena seguir Jesus Cristo, por mais que este seguimento exige muito ou quase tudo de nós.

Quando nos abrimos à graça de Deus, reconhecemos quem é Jesus e o que Ele fez por cada um de nós. Por este motivo, precisamos permitir mudanças em nós que nos façam sujeitos éticos, permeados pela graça e misericórdia Dele. A cada dia é necessário pensar profundamente e existencialmente: quem sou? Por que estou no mundo? E em uma linha cristã refletir: o que Deus quer ou espera de mim com este chamado que Ele colocou em meu coração?

O ser humano nunca está pronto, ou até mesmo nunca estará, mas o importante é essa abertura fecunda para deixar-se ser lapidado por Deus. Ele é o grande autor da humanidade, e quer essa humanidade junto do coração Dele. Dizer que estamos prontos é um grande absurdo, nunca estamos prontos repito, precisamos estar a caminho, buscando, e esforçando para caminhar segundo a ética da ressurreição.Outro ponto fundamental dentro dessa ética é não ficarmos parados observando o túmulo vazio de Jesus, é preciso caminhar e anunciar que Ele ressuscitou. O primeiro momento de contemplação do túmulo vazio já passou e dá lugar agora ao Kerigma que é o anúncio, a mensagem, a Boa Nova de Jesus. Anunciamos o Kairós, o tempo da graça de Deus que efetiva em nós a capacidade de olharmos a realidade com outros olhos, e com o desejo de mudança.

Neste sentido, quando somos abraçados no nível pessoal pela Ressurreição de Jesus, temos incutido em nós o desejo e a capacidade de servir no nível comunitário. Quando somos de fato renovados por esse Jesus que se doa para nós e em nosso favor, podemos a partir desse progresso pessoal passar então para o nível comunitário. Para refletir melhor sobre isso uso os três pilares da Vida Agostiniana: Oração, vida fraterna e serviço à Igreja.

A realidade é um grande desafio que salta aos nossos olhos, realidade esta que traduz a dureza de corações que não querem perceber a mensagem de Deus, por isso a oração como este contato direto com o Pai permite que nós possamos dar testemunho da verdade. Uma vida profunda e verdadeira de oração é capaz de converter uma comunidade.

A vida comunitária é o cerne do discipulado de Jesus, discipulado esse com suas diferenças, porém alicerçados nos ensinamentos do mestre. O respeito pelo outro, pela sua posição, opinião e gestos marcam uma vida comunitária sadia e é verdadeiramente instrumento de ressurreição.

E por fim o serviço à Igreja é em primeiro modo serviço ao Reino gestado no coração materno de Deus. Ele amou a humanidade com amor maternal, e a nossa resposta a esse amor deve ser um serviço que nos faça pessoas leves, harmoniosas, atentas aossinais Dele ao nosso redor.

Assim, caminhemos guiados pela Luz do Ressuscitado e deixemos que a ética da ressurreição faça morada em nós e em nosso próximo! Shalom!

 

Frei Danilo Gomes de Almeida, OSA. Ordem de Santo Agostinho. Vigário Paroquial. Paróquia Nossa Senhora da Consolação e Correia. Rio de Janeiro, RJ.

 

 

Deixe um comentário