Por Ir. M. Cristina Cruciani, pddm*
Texto traduzido da Revista “La Vita in Cristo e nella Chiesa”, pela Ir. Maristela Bravin, pddm.
1. A biografia litúrgica de Padre Alberione
Padre Alberione viveu em uma época[1] que, por quanto se refere à liturgia, é marcada por eventos gloriosos daquilo que chamamos «Movimento litúrgico». O momento determinante para tal movimento se faz coincidir com o «Congrès national des oeuvres catholiques» realizado em Malines (Bélgica) em 23 de setembro de 1909, onde o monge beneditino Lambert Beaudoin deu uma magistral conferência sobre a Liturgia que constituiu uma enorme novidade e suscitou grande interesse.
Sob o pontificado de Pio X se desenvolvem, quase com um caráter oficial, todos os germes de reforma da Liturgia surgidos no final do século XIX e recolhidos em particular na obra de outro beneditino, P. Guéranger (1805-1875).
O ‘800 foi marcado por grandes figuras que na Europa indicam a urgência de uma renovação da Liturgia. Entre outros, depois de Guéranger, o fundador do movimento litúrgico beneditino de Solesmes, foi justamente, L. Beaudoin (1873-1953) que amplia o movimento na Bélgica, na Alemanha onde a abadia de Maria Laach dá ulterior contributo especialmente por obra do abade l. Herwegen e do monge Odo Casel. O romantismo do 800 tinha favorecido o retorno à tradição e à redescoberta daquela época, diria Guéranger, «na qual os livros santos nunca eram abandonados pelas mãos dos pastores e dos fiéis»[2]: a época dos Padres!
Os pontos cardeais do Movimento litúrgico, no seu nascer, de algum modo, podem-se reduzir ao amor pelas S. Escrituras, à sua interpretação segundo os Padres e à redescoberta de um conceito profundo do valor da Tradição, na sua continuidade infalível e na fidelidade ao Magistério.
Depois de 1909 o Movimento litúrgico encontrará uma brecada por causa da primeira guerra mundial para, depois, estender-se, na Europa e além do oceano. Depois da segunda guerra mundial encontrará a sua «Magna charta » na encíclica de Pio XII «Mediator Dei» de novembro de 1947.
Na Áustria o padre P. Parch e na Itália outras figuras eminentes de liturgistas, são pioneiras, sobretudo do retorno do povo à Liturgia. Já desde 1887 publicava-se a revista do Centro litúrgico vicentino, em Roma: Ephemerides liturgicae. E, em 1914 a abadia beneditina de Finalpia, por obra do abade B. Bolognani tinha fundado Rivista liturgica com o objetivo de «apresentar, fazer amar e praticar a liturgia como vida religiosa própria na Igreja… e de apoiar a piedade no sentido católico, que é o sentido de Cristo»[3]. Depois, a direção da revista foi confiada ao Padre E. Caronti da abadia de Praglia.
Nos anos entre as duas guerras e depois da segunda, desenvolve-se uma enorme série de iniciativas em campo litúrgico: revistas, artigos, pequenos missais, obras de comentário ao Ano litúrgico. Semanas litúrgicas são constantemente promovidas para difundir, primeiro entre o clero e depois entre o povo, um conhecimento mais profundo da Liturgia como fonte de genuína vida espiritual. Não nos podemos deter muito sobre estes acontecimentos históricos importantes, que desembocam na Constituição sobre a S. Liturgia do Concílio Vaticano II. Reenviamos aos livros de história da liturgia. Estes acenos servem para sublinhar a sensibilidade eclesial de Padre Alberione e a sua atenção aos sinais dos tempos. O campo litúrgico foi um dos campos de maior interesse para ele.
Com acentuada sensibilidade e preocupação pastoral encontrou e indicou na liturgia uma das maiores fontes para alimentar a vida cristã dos fiéis.
No livrinho autobiográfico, «Abundantes Divitiae», ele mesmo fala do seu «espírito litúrgico». Citamos integralmente o texto:
«Grande proveito[4] (lhe ofereceu) a leitura dos livros de G. Durando, Gavanti, Barin, Destefani, Guéranger, Schuster, Veneroni, Eisenhofer, Lefèbvre[5]; assim também lhe valeram os periódicos Ephemerides liturgicae e Rivista liturgica (Finalpia). Ficara particularmente impressionado com a atividade de Pio X em favor do canto sacro, do breviário, do ensino da liturgia. Teve que dar aula de liturgia por alguns anos. Depois designado mestre de cerimônias, sacristão no seminário, cerimoniário do Bispo, com o encargo de preparar o livro das cerimônias, saboreou sempre melhor a oração da Igreja e com a Igreja. Tais incumbências levaram-no ao desejo de ter igrejas adequadas às belas funções litúrgicas. Certo dia o Bispo lhe confidenciou: “Uma vez eu pregava de preferência o dogma: depois de preferência a moral; hoje sinto mais útil expor as orações litúrgicas, com os ensinamentos dogmáticos e morais que lhe são ligados”. Foi uma orientação para ele. Consequências: na Família Paulina se teve em grande conta o canto gregoriano e a música sacra; bem cedo pôs mãos ao missalzinho que era preparado em aula (1935), depois o boletim litúrgico (1932), La Vita in Cristo e nella Chiesa (1952), e foi fundado o Instituto das Pias Discípulas com finalidade litúrgica (1924); tudo isso considerando a Liturgia no seu sentido pleno e realístico.
O Divino Mestre sacramentalmente mora em 150 capelas (estamos em 1954) da Família Paulina. Três igrejas principais: ao Divino Mestre, à Rainha dos Apóstolos, a São Paulo, de acordo com as três principais devoções. Foram-lhe confiadas as aulas de Arte sacra. Por isso (seguiu-se) a leitura de textos, as visitas a obras, os debates em revistas e em privado sobre o princípio: “a arte para a vida, para a verdade, para o bem”.
Bem cedo se inscrevera como membro da Sociedade “Amigos da arte cristã”. As três igrejas foram construídas de acordo com os princípios publicados muitos anos antes, nos Apontamentos de teologia pastoral[6].
Entregou ao arquiteto o esboço para a elaboração do desenho de cada uma, como programa geral de trabalho; para que a igreja tenha unidade e desenvolvimento de tema em todas as partes: arquitetura, escultura, pintura, vitrais, alfaias. Sobretudo (para que) corresponda à finalidade para a qual era construída uma igreja paulina»[7].
Certamente a atividade litúrgica de Pio X impressionou particularmente Padre Alberione. Se os anos de formação e os primeiros de seu ministério foram, portanto, marcados pelo interesse e trabalho direto no campo litúrgico, toda a vida de Padre Alberione foi caracterizada por esta atenção. Para ele, era habitual a expressão: «As edições devem referir: o dogma, a moral, o culto». A Providência o chamou depois a assinar com entusiasmo, junto aos outros Padres do Concílio, a Constituição «Sacrosanctum Concilium» de 4 de dezembro de 1963.
2. Bíblia e Liturgia
O objetivo claro desde o início para as fundações paulinas é a divulgação do Evangelho, aliás, de toda a Escritura, enquanto esta é dar a conhecer Jesus Cristo.
Por isto Padre Alberione promoveu a Associação Bíblica Internacional e foi ele que idealizou o projeto: «A Bíblia em cada família».
Da Bíblia deriva a compreensão da Liturgia; não é possível reconduzir as grandes multidões à Liturgia sem antes reconduzi-las à Bíblia. Nos últimos anos ele repetia esta convicção: «O retorno à Liturgia e o retorno à Bíblia são duas realidades inseparáveis. Antes, este é um dos maiores frutos que a Igreja espera da reforma litúrgica: reconduzir com a reforma, o povo à Bíblia e a Bíblia ao povo. Este contínuo descristianizar-se da vida, da arte, do pensamento depende da falta de oxigênio litúrgico bíblico no qual nós, por séculos fizemos o povo viver. Do fenômeno de séculos de separação entre Liturgia e Bíblia resultam consequências dolorosas: o grande povo não compreendia a Missa, os Sacramentos, as funções… Uma pregação separada da Bíblia não era ouvida como Palavra de Deus, mas sim como raciocínio de homem. E o que é a Liturgia? É a realização de quanto está na Bíblia; missa, sacramentos, sacramentais… É apresentada por palavras, gestos, cerimônias, etc. que estão na Bíblia; e se faltasse a leitura da Bíblia não se compreenderia nada da Liturgia. A Liturgia é a sacramentalidade da Bíblia. Disso segue a necessidade da Bíblia, em particular do Novo Testamento em paralelo ao Antigo. Também nos trechos reportados literalmente pelos livros litúrgicos, é sempre o sentido, o espírito, o clima bíblico.
Segue disso a necessidade da Bíblia para o povo: do contrário, a Liturgia nada diz ao povo; e muito menos dá louvor a Deus; nem fará uma oração consciente.
Em conclusão: o binômio Liturgia e Bíblia, Cálice e Livro[8].
3. A liturgia para as massas
Era então necessário, devolver a Bíblia, e portanto, a Liturgia às massas através de publicações que chegassem ao grande público.
A atividade editorial paulina, desde os primeiros decênios, dedicou particular atenção à publicações de caráter litúrgico; já em 1921 editava-se um folheto tendo por título: Uma boa palavra que depois foi substituído por La Domenica. Em 8 de dezembro de 1926 saiu La Domenica illustrata; em 1932 iniciou-se Bollettino Parrocchiale-liturgico justamente no intento de orientar os fiéis para maior compreensão e estima da Liturgia da Igreja. Foi editado por uns quinze anos. Em 1952 foi substituído pela revista litúrgica La Vita in Cristo e nella Chiesa, confiada às Pias Discípulas do Divino Mestre, congregação fundada em 1924 para o apostolado Eucarístico, Sacerdotal e Litúrgico. O próprio Padre Alberione ditou o programa para a Revista no seu primeiro número: «A mulher que se torna ajuda dell’Alter Christus, o padre, desde a vocação à formação, ao ministério público, na morte: depois da morte com os sufrágios: eis a primeira chama do incêndio que este periódico quer alimentar. Incendeie!
…Levar as pessoas à Missa, à Comunhão, à Adoração. Esta é a segunda chama do incêndio que este periódico quer alimentar. Incendeie!
…Conhecer os tesouros da Liturgia, divulgar tudo quanto serve à Liturgia, viver a Liturgia conforme a Igreja: esta é a terceira chama do incêndio que este periódico quer alimentar. Incendeie!»[9].
4. A Liturgia, livro do Espírito Santo
Uma definição original da Liturgia recorre mais vezes nos escritos e nas falas de Padre Alberione. No prefácio de um missalzinho organizado pelos paulinos em 1935 ele escrevia: «A sagrada Liturgia da Igreja é ao mesmo tempo: Lei de oração, Norma de ação – Regra de fé. A Liturgia da Igreja deve, portanto, ser interpretada segundo seu sentido integral e total. Esta é como o grande livro do Espírito Santo. Em forma de oração, em atos de culto, em coisas sagradas o Espírito Santo ilumina, enquanto manifesta a Divina Vontade e juntamente infunde a graça: ‘Assim também o Espírito Santo socorre a nossa fraqueza. Pois não sabemos o que pedir como convém; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis, e aquele que perscruta os corações sabe qual o desejo do Espírito; pois, é segundo Deus que ele intercede pelos santos’ (Rm 8,26-27). Existem no presente, diversos livros para o povo; há livros rituais, sacramentais, breviários, epistolários, missais, etc. com comentários e interpretações fáceis ou elevadas, críticas ou piedosas. É necessário, porém, entender toda a mente da Igreja.
Esta sempre nos apresenta o dogma, a moral, o culto; mesmo com prevalência de uma das partes conforme os fins e as circunstâncias específicas. Por outro lado, na Liturgia a Igreja quer levar o homem a Deus inteiramente: conforme a mente, a vontade, o coração. Portanto, as considerações, os comentários, as introduções deverão ser ao mesmo tempo: dogmáticas para iluminar os fiéis sobre as verdades que a Chiesa nos quer ensinar nos vários mistérios do Ano Litúrgico; morais, pois a vida de Jesus Cristo, da SS. Virgem e dos Santos que passam diante de nós cada dia, são para serem imitadas; piedosas: de fato, o missal é, na sua parte mais substancial, um livro de oração, aliás, ele é feito pela maior oração, a renovação do Sacrifício da Cruz. O presente Missal quotidiano é completo sob este ponto de vista, porque feito na plena luz da Igreja, na plena luz de Jesus Cristo que disse: «eu sou o Caminho, a Verdade, a Vida» (cf. Jo 14,6). Poderá, portanto, fazer grande bem aos fiéis que o usarão. Unindo-nos à Igreja, grande mestra de oração, nos unimos a Jesus Cristo mesmo: por Ele, com Ele, Nele, mandamos as nossas adorações, agradecimentos, propiciações e súplicas ao Pai celeste».
Ao apresentar La vita in Cristo e nella Chiesa, Padre Alberione afirmava: «Deus Pai fala na criação, e as coisas são o seu grande livro. O Filho fala nas suas obras e na sua pregação, e o Evangelho é o seu grande livro. O Espírito Santo fala e opera nos Sacramentos, sacramentais, orações, e a Liturgia é o seu grande livro»[10]. A sagrada Liturgia é luz para as almas porque se apóia sobre os dogmas; é guia para as pessoas porque mostra a vida cristã e a vida perfeita; é santificação para as pessoas, porque é o meio ordinário com o qual comunica às pessoas a graça e o caminho sobrenatural.
Em um escrito autógrafo Padre Alberione observava acerca das Pias Discípulas: «Considerou-se longamente três necessidades e três apostolados correspondentes e até então repartidos em várias instituições:
a) Apostolado eucarístico praticado já amplamente, mas ainda privado de forma e de organização definitiva…, sentia o Espírito do B. Eymard[11] e Pio X, que era por todos considerado o papa da Eucaristia. Era necessário, porém, que a piedade eucarística se tornasse apostolado, e se realizasse no Divino Mestre.
b) Apostolado litúrgico, pois o Divino Mestre quis na Igreja uma pregação verbal, mas a história ensina qual seja a pregação do culto e que a sua eficácia concebia a Liturgia conjuntamente: como culto a Deus, como distribuição do caminho divino às almas, como instrução ativa sobre a fé e sobre a moral e meio pelo qual a moral pregada e a moral ensinada fossem, pela divina graça, aceitas e vividas. Parecia-lhe que a Liturgia, depois dos grandes mestres, devesse popularizar-se; parecia-lhe o livro do Espírito Santo prometido por Jesus Cristo; e que cumprisse a obra da pregação com os meios modernos. Esta pregação é cheia de perigos e de dificuldades! São necessárias, portanto, graças especiais para os apóstolos e os apostolados;
c) O apostolado do serviço sacerdotal… Este serviço compreende a espera: a Pia Discípula pede e ajuda vocações; o serviço de casa; a assistência de oração, durante o ministério; ofício de enfermeira; sufrágios após a morte “[12].
Liturgia, portanto «grande livro do Espírito Santo», lugar eminente onde a Igreja ensina a verdade e a fé. Ainda mais: «Liturgia que cumpre a obra da pregação com os meios modernos». Estas afirmações são riquíssimas de consequências. Hoje os estudos litúrgicos, 25 anos após a Constituição conciliar sobre a Liturgia, depois de uma reflexão mais propriamente bíblica e teológica, os estudos orientam-se sobre a linguagem da Liturgia, sobre a característica simbólica, sobre códigos de comunicação dos quais esta se serve: palavra, gesto, imagem. E tudo isso se justifica enquanto a Liturgia é veículo da salvação para o homem que nela entra com suas capacidades humanas de receptividade e de resposta. Padre Alberione de algum modo intuiu tudo isso.
Em segundo lugar as consequências estão no plano do papel do Instituto das Irmãs Pias Discípulas ao interno da Família Paulina. Elas cumprem, como toda a Família, o apostolado do anúncio de Jesus Cristo às multidões com sua atividade litúrgica. Portanto, não somente com a oração elas têm parte, no apostolado dos meios da comunicação de massa, com os outros Institutos mais diretamente empenhados, mas se inserem neste mandato carismático paulino com o apostolado litúrgico.
Fazem isto seja cuidando da arte em todas as suas formas, como a música, a pintura, a escultura, a arquitetura, seja cuidando da realização do arredo litúrgico; seja, sobretudo com a catequese específica litúrgica, através do ensino da Liturgia, a edição, os audiovisuais.
5. Às Pias Discípulas do Divino Mestre: manifestar Jesus por meio da Liturgia
Padre Alberione manifestava a intenção de fundar um instituto com estas palavras «Em 1908 comecei a rezar e a pedir orações para que nascesse uma Família religiosa de vida retirada, dedicada à adoração e ao apostolado sacerdotal e litúrgico, toda de Jesus Divino Mestre presente no Mistério Eucarístico. Para que? Para que se tornasse fonte de graça à qual atingiriam outras famílias religiosas mais especialmente dedicadas à vida apostólica. Sucessivamente continuando a rezar, vinha se delineando o modo de vida desta Família e a forma concreta das relações com as Famílias a serem instituídas. Escrevi então o livro La donna associata allo zelo sacerdotale[13], onde expressei no modo então possível; projetando luz sobre o apostolado da mulher em união e sob a direção do apostolado sacerdotal”[14].
O apostolado litúrgico tem a finalidade de levar os fiéis a viver em Cristo e na Igreja. A atividade litúrgica do Instituto das Pias Discípulas é «atividade de espírito pastoral» como toda a atividade paulina[15]. «A Liturgia, acrescentava Padre Alberione, se exerce em primeiro lugar com o conhecimento e em segundo dando a conhecer. Conhecer e fazer conhecer. A revista La Vita in Cristo e nella Chiesa tem esta finalidade. As publicações litúrgicas deveriam aumentar e então, seja por meio do periódico, seja por meio do livro, de áudio visuais, seja com filmes, se contribui para tornar conhecida a Liturgia da Igreja. Nisto tem-se muito que progredir porque de um lado, importa o estudo da sagrada teologia para melhor conhecer e, por outro, importa também o amor à Liturgia. Folhetos, pequenos opúsculos e quem sabe, livros! »[16].
Dirá ele às irmãs: «Entrem sempre mais no espírito da Igreja como entraram muitos artistas e muitos estudiosos da liturgia… Devem pensar que se pode abraçar tudo aquilo que é apostolado litúrgico, também as igrejas que se devem construir.
Mas, especialmente. devem se tornar mestras de Liturgia, porque o Instituto é para isto. Se não levasse seu aporte de luz, de clareza, de maior inteligência da S. Liturgia, não alcançaria completamente seu fim. Liturgia a ser estudada em si mesma, estudada no seu sentido teológico e de modo específico; e ainda, Liturgia na sua história, Liturgia nos documentos pontifícios»[17].
Referindo-se ao canto, Padre Alberione exortava a fazer canto de multidões, como já Pio X havia ensinado, e enquanto possível, cantos cantados por todo o povo, não tão facilmente por poucos[18].
Em 6 de janeiro de 1958, na solenidade da Epifania, Padre Alberione reforçava o programa das Pias Discípulas: manifestar Jesus através da Liturgia, acrescentando que isto deve ser feito imitando Maria: «Manifestar Jesus, claro, com a palavra, mas a manifestação pode ser feita de vários modos, sim, com o ensino, com a pregação, mas, ao mesmo tempo, com os trabalhos, com os quadros, com as estátuas e com tudo aquilo que a Liturgia é; tudo é manifestação de Jesus Cristo realizada no espírito da Igreja e no espírito do Evangelho. E quem, primeiro, mostrou Jesus Cristo foi a Virgem bendita. Ela trouxe no seu seio o Filho de Deus encarnado e depois o manifestou, sem pregar, no silêncio, com fatos. Mostrou-o, antes aos pastores, para que o adorassem; manifestou-o aos Magos para que o adorassem; manifestou-o qual ele era, isto é, Filho de Deus, Mestre da humanidade, Salvador do mundo. Jesus depois manifestou a si mesmo por meio dos milagres, da palavra, e manifestou o Pai, falando do Pai e dando a conhecer o Pai: «Dei a conhecer o teu Nome!» (Jo 17,5). E continuava: «Jesus é a própria Liturgia e Maria é a mãe da Liturgia, porque é a mãe de Jesus. Ele o Liturgos, ela é a mãe. Então se as Pias Discípulas, se vocês, atuarem melhor no espírito de Maria, manifestarão Jesus com Maria, como o manifestou Maria, não tanto com as palavras, mas com aquilo que se produz, aquilo que se apresenta. Portanto, a vida do apostolado é vida «em Cristo e na Igreja» (Ef 5,32)… Tudo aquilo que a Igreja ensina se pode dizer com palavras e se pode dizer com as obras, com os fatos, com a pintura, com a escultura, com as construções das igrejas e com tudo aquilo que diretamente è Liturgia. O campo de vocês é vastíssimo e requer sempre mais instrução…
Quando uma pintura representa um dogma é claro que é uma pregação. Agora, vejam bem se existe uma mente aberta naquilo que se estuda, naquilo que se produz, naquilo que se divulga: se há uma mente ampla, ou uma mente muito restrita.
Sempre a mente aberta, isto é, ideias amplas. Quem alcançará mais? Quem penetra melhor o mistério cristão. E se penetra antes com o catecismo, depois com a cultura religiosa um pouco mais ampla, particularmente rezando. É preciso que se pense que o Centro litúrgico[19] é como uma igreja onde tornar conhecido Jesus e as coisas que se referem a Jesus, que se referem ao Divino Mestre e que portanto, se referem, às almas… Terão muitas vocações na medida em que saberão fazer bem o próprio apostolado”[20].
6. Liturgia fonte de vida em Cristo
Da Liturgia deriva o nutrimento da própria vida em Cristo Mestre, até assimilar-se a ele. As inumeráveis meditações ditadas pelo Padre Alberione aos seus, seguem o Ano Litúrgico, como «itinerário de fé»: «O Ano litúrgico com suas festas é ordenado para conhecer Jesus, imitar Jesus, viver Jesus»[21].
Para Padre Alberione, normalmente o Evangelho do dia, da festa ou do tempo, constitui o ponto de partida da meditação que, tendo em conta o grupo ao qual se dirige, torna-se Parola atualizada, dita por Deus naquele dia e para aquelas pessoas ou Instituto. Manifesta-se aqui o gênio do homem de Deus que sabe ler a história à luz da Palavra e sabe fazer a Liturgia tornar-se vida e a vida Liturgia, ou seja, resposta a Deus Pai na Igreja por meio de Jesus Cristo, na força do Espírito que, na Liturgia, leva a cumprimento toda santificação. Do trecho da Transfiguração (Mt 17,1-8), no segundo domingo da Quaresma de 1964, por exemplo, ele tira consequências ousadas e aproveita para indicar o objetivo de uma vida formada por Palavra e Liturgia: a contemplação e a inserção em Cristo. Propunha, portanto às irmãs esta reflexão: «Os apóstolos, vendo Jesus assim transfigurado: ‘o seu rosto como um sol, suas vestes brancas como a neve’, contemplavam maravilhados aquela transfiguração.
É isso, contemplavam. Existe a oração vocal, a mais simples, há a oração mental isto é, a meditação, depois a oração afetiva; e, quarto, a contemplação.
Existem ainda outros graus de oração, mas chegar à contemplação não é difícil… é uma coisa que vem, é ordinária, não é milagre, é o que é normal; as almas quando são um pouco adiantadas, devem chegar ali. Rezar, como diz a Escritura, para pedir o Espírito de oração: ‘infundirei o Espírito de graça e de oração’ (Zc 12,10). Sobre quem o deseja o Espírito Santo infundirá o Espírito de oração[22]. Participando da Eucaristia, sobretudo: chegar a ter os mesmos pensamentos de Deus e as mesmas intenções pelas quais Deus criou o mundo, pelas quais Jesus Cristo remiu o mundo, pelo que o Espírito Santo santifica as pessoas no mundo. Ter em mira esta perfeição».
Nos últimos anos o apelo é ainda mais recorrente: agir para a glória de Deus, chegar até: «A minha vida é Jesus Cristo» (Fl 1,21 e Gl 2,20) vivendo o Ano Litúrgico. «Cada ano que o Senhor nos dá, ele afirmava, é para que cheguemos a uma perfeição mais alta, mais profunda e isto é: «vivit vero in me Christus», Jesus Cristo vive em nós; os seus pensamentos são os nossos pensamentos, o seu querer é o nosso querer, os desejos e as intenções são aquelas de Jesus… A cada Ano Litúrgico crescer no conhecimento de Deus e no fazer bem em todos os modos…, «viverão assim de modo digno de Deus» (Cl 1,9-14)[23].
Conclusão
Do imenso material sobre o assunto, resulta muito claramente, que Padre Alberione foi um homem que atuou as linhas, primeiro do Movimento litúrgico, depois da Reforma litúrgica conciliar. Não teorizou muito, mas realizou! Para ele a Liturgia, cujo centro é a Eucaristia, tanto no Ano Litúrgico, quanto na celebração quotidiana, tem a finalidade de formar no cristão e no religioso, Jesus Cristo, para que «o homem de Deus seja perfeito» (cf 2Tm 3,16), até a estatura de Cristo e, como Paulo, possa dizer: «a minha vida é Cristo» (Gl 2,20). Este é, na realidade o fim último da Liturgia da Igreja.
A. UGENTI (ed.) O desafio de Pe. Alberione, Piemme, Casale Monferrato, 1989, PP 153-165
* Pia Discípula do Divino Mestre italiana e foi Diretora da Revista A Vida em Cristo e na Igreja.
[1] Sublinha-se neste trabalho, as principais realizações e as mais originais intuições de Padre Alberione em ordem à Liturgia.
[2] O. ROUSSEAU, Storia del Movimento Liturgico, Roma 1961, pp. 23ss.
[3] Ibid, p. 290.
[4] Padre Alberione fala de si na terceira pessoa.
[5] São figuras de grande liturgistas cujas obras foram lidas por Padre Alberione.
[6] G. ALBERIONE, Appunti di teologia pastorale, Lit. Viretto, Torino 1912. Deste livro antes datilografado, foram faeitas duas edições, a terceira foi atualizada eml 1960 por um sacerdote paulino. .
[7] G. ALBERI0NE Abundantes Divitiae , Opera Omnia, Roma 1985, pp. 78-82.
[8] R.F. ESPOSITO (curador), Carissimi in San Paolo (CISP), Roma 1971, pp. 685-687.
[9] G. ALBERIONE, Apresentação, em La Vita in Cristo e nella Chiesa, l, 1952, pp. 4-5.
[10] lbid, p. 5.
[11] S. PIETRO GIULIANO EYMARD (1811-1868) fundador dos PP. Sacramentinos.
[12] G. ALBERIONE, Abundantes Divitiae, o.c., pp. 184-185. 11.
[13] ID,. La donna associata allo zelo sacerdotale. Alba 1915.
[14] ID,. Abundantes Divitiae, o.c., p. 171 ss.
[15] ID., Alle Pie Discepole, Opera Omnia, 1961, p. 144.
[16] ID., 1955, p. 338.
[17] ID., 1958, pp. 13-16.
[18] CISP, pp. 680-681.
[19] Centro de Apostolado litúrgico é o local aberto ao público para a divulgação de arredo sacro, paramentos, etc. preparados pelas Irmãs Pias Discípulas do D.M.
[20] Opera Omnia, 1962, p. 52ss.
[21] A dinalidade do ano Litúrgico, em «La Vita in Cristo e nella Chiesa», (1952) p. 3.
[22] Opera Omnia, 1964, p. 66ss.
[23] Meditação no 24° dom. depois de Pentecostes 1965, texto datilografado.