Irmã Cidinha Batista – pddm
Uma memória para aquecer o coração, iluminar o olhar e alimentar o sonho.
Afinal, quem é madre Escolástica? Vamos conhecer, um pouquinho, a vida dessa mulher corajosa, que foi a primeira, entre muitas, a viver o seu discipulado a serviço do Reino na missão Eucarística, Sacerdotal e Litúrgica, no seguimento de Jesus Mestre Caminho, Verdade e Vida.
Num pequeno povoado chamado Guarene, na Itália, nasce a primeira filha do casal Antônio Rivata e Lúcia Alexandria, no dia 12 de julho de 1897. Os pais buscaram logo o sacramento para a recém nascida, que foi batizada com o nome de Úrsula Maria Rivata. Na primeira escola, a família, Úrsula recebeu exemplos que ficaram impressos em sua pessoa desde pequena e que foram um guia constante para seus passos. Sua mãe, Lúcia, adoece e morre aos 24 anos. Úrsula tinha apenas seis anos e, pelo fato de ser a mais velha, sente precocemente o peso da responsabilidade. Era uma bela criança, delicada, graciosa nos gestos, possuía uma voz melodiosa, gostava da escola e aprendia com facilidade, mostrava-se atenta e cuidadosa.
O trabalho sempre fez parte da vida de Úrsula, que crescia num ambiente de pobreza. Aos 15 anos, trabalha como tecelã. Mais tarde passou a trabalhar numa família, como empregada doméstica, por um período de dois anos. Era para ela motivo de grande alegria passar para as mãos do pai o fruto do seu trabalho sem tirar nada para si; agradecia ao Senhor pela oportunidade de ajudar os seus familiares. Um dia seu pai a chama e diz: – “Tem um rapaz que me pediu a sua mão; é um bom moço, está bem de vida. Observe-o, se quiser. Você poderá ser feliz com ele”. Ela não respondeu de imediato, nem deu grande importância à proposta. Foi à missa e, voltando, correu até seu quarto, ajoelhou-se diante da imagem do Sagrado coração e disse, com toda a força do seu ser: “Senhor, apenas Tu, e basta!” Úrsula comunicou ao pai seu não à proposta de casamento. Sua resposta espontânea e decidida durou a vida toda e permaneceu fiel a essa opção.
Foi em busca de bons livros que Úrsula vai à livraria São Paulo, onde encontra padre Alberione que a convida para ingressar no Instituto. Sua decisão de tornar-se religiosa era clara, faltava-lhe, porém uma orientação precisa sobre qual Instituto escolher. Mas ela mesmo afirma: “O Senhor, quando tem projetos sobre uma pessoa, Ele próprio indica os caminhos a seguir”.
Depois de expor ao pai e à segunda mãe a decisão de ingressar, intensificou a oração e empenhou-se aos necessários preparativos. Teve que suportar, naqueles momentos seguintes, as dificuldades que lhe eram apresentadas pela família, e se tornavam para ela uma batalha diária. Enfim, um dia obteve o consentimento do pai que decidiu que a acompanharia até o Instituto de Padre Alberione. Assim, Úrsula ingressou no dia 29 de julho de 1922; era um sábado, tradicionalmente consagrado a Maria.
Ao chegar na casa, foi acompanhada até a capela. Olhou para o Tabernáculo, observou em volta e, sobretudo, olhou para dentro de si mesma. Com os olhos plenos de luz, repetia com coragem e fé, aquilo que num momento de luta e medo havia dito: “Senhor, só Tu, e basta!” Assim, empreendeu um caminho de fidelidade criativa à vocação que aos poucos Deus ia lhe revelando.
Depois de algum tempo, Padre Tiago Alberione vê na jovem Úrsula que é chegada a hora de “visualizar” um outro ponto de luz que teve em sua intuição carismática; começa a prepará-la; entrega-lhe um livro com o título: As mulheres no Evangelho e pede para lê-lo e meditá-lo. Passados alguns dias ele perguntou se havia lido, Úrsula teve a intuição, dada pelo Espírito, de que poderia colaborar em grandes coisas. Embora sentindo-se pequena e pobre, Sentiu-se iluminada pelo conteúdo do livro; ela, uma jovem do campo, poderia reviver o Evangelho; sentia-se chamada a “seguir o Mestre” como as mulheres do Evangelho.
Dias depois, Alberione reúne a comunidade e diz: – Coloquem-se à parte Úrsula e Metilde, pois confiarei a elas uma missão especial. Em seguida, Metilde, dirigindo-se ao padre Alberione, pergunta – E o que faremos? – Vocês farão silêncio, silêncio, silêncio. Assim começou, de forma silenciosa e operosa, a vida das Discípulas.
A jovem Úrsula de 26 anos, esperta, vivaz e entusiasta assume de forma serena e produtiva a missão que lhe foi confiada publicamente. A elas se unem mais seis jovens e em poucos meses são oito. Padre Alberione, no dia 10 de fevereiro 1924, reuniu as jovens escolhidas para dar orientação a respeito da missão e da vida espiritual. Falou-lhes sobre santa Escolástica e explicou-lhes que o nome ‘Escolástica’ significa “discípula”, e que escolhera propositalmente este dia para formar uma família que se dedique à oração, ao Culto do Divino Mestre eucarístico e ao louvor perene, no silêncio e no recolhimento, em reparação dos pecados cometidos pela má imprensa. Elas iriam se chamar Irmãs Discípulas do Divino Mestre; elegeu Úrsula como responsável pelo grupo e deu-lhe o nome de Irmã Escolástica. Este foi oficialmente o dia da fundação da Congregação.
No dia 25 de março deste mesmo ano as jovens fizeram os votos religiosos, receberam um habito próprio. Úrsula, agora irmã Escolástica, com o entusiasmo que lhe era característico fazia da oração um encontro profundo com Jesus, o Mestre, ao mesmo tempo em que trazia presente toda a realidade da humanidade. Levava para a oração a Bíblia e o jornal; apresentava diariamente ao Senhor as necessidades e os sofrimentos das pessoas, os fatos sociais, as situações políticas e econômicas que afetavam o mundo. Esta atitude revela-nos a grande sensibilidade de uma mulher atenta à realidade e de sua fé encarnada na vida e, de uma vida vivida na fé. Foi para as jovens irmãs guia e intérprete das orientações do fundador, sempre operosa, jovial e contente. Mesmo quando passava por duras provas, seu olhar transparecia alegria e docilidade.
O sonho de Padre Tiago Alberione e o projeto de Deus que irmã Escolástica assumiu custaram-lhe muitos sacrifícios, sofrimentos, incompreensões e até calúnias no interno da Família Religiosa e na cúpula da Igreja. Principalmente no que se refere aos trâmites para o reconhecimento e aprovação jurídica da Congregação. Ela ousou ir ao Vaticano e, pessoalmente, se dirigir à Congregação dos Religiosos para esclarecer alguns aspectos que dificultava a aprovação das Discípulas, pois sentia profundamente que essa era a vontade de Deus. Tal atitude não foi vista com bons olhos pelas autoridades da Igreja; por isso sofreu muito e foi afastada de todas as suas funções (uma espécie de exílio). Apesar da angústia que lhe despedaçava o coração, Escolástica nutria um grande amor pelo Senhor e pela missão, e por isso não se deixava abater pelas adversidades. Viveu seu discipulado na escuta, na criatividade e no amor até o fim a serviço do reino, passando pela experiência do Mistério Pascal.
Na celebração do seu nascimento, 12 de julho, como uma forma de homenagem, a Congregação fixou esse dia como o dia das Aspirantes. Assumindo na força do carisma o exercício de nosso ministério junto ao povo de Deus, temos a alegria de partilhar o dom que é Madre Escolástica. Teríamos ainda muito a dizer diante da longa e intensa vida dessa nossa irmã. Fica o convite para quem deseja juntar-se às Discípulas no desafio de tornar mais conhecida e estimada essa grande mulher.