Faleceu hoje, 30 de outubro, em Belo Horizonte, MG, o músico e compositor holandês Frei Joel Postma, responsável pela organização dos Hinários Litúrgicos da CNBB e colaborador surgimento do Ofício Divino das Comunidades.
Frei Joel Postma nasceu na Holanda, em 8 de março de 1929. Entrou para a Ordem Francis cana aos 13 anos e antes mesmo de ir ao noviciado, teve sua facilidade musical reconhecida, aprendida em sua família, e começou a ter aulas para poder tocar nas orações dos noviços de sua turma.
Foi indicado para o Brasil no final do curso de teologia e começou a se preparar melhor para a empreitada que o esperava: ser o mestre de canto no seminário em Divinópolis: “Após a sua ordenação presbiteral em 1956 e durante três anos (1957 a 1959), Frei Joel estudou no conceituado Instituto Holandês para Música Sacra, em Utrecht. Nesse instituto, fundado por um franciscano, teve como professores Albert de Klerk (1917-1998) (Órgão), Herman Strategier (1912-1988) (Harmonia) e Job Wilderbeek (Piano)”.
Em outubro de 1959, Frei Joel embarcou numa viagem de 17 dias até o Brasil. Na bagagem, trouxe um clavicórdio, que foi utilizado por ele anos depois na composição da Cantata “O Peregrino de Assis”.
Frei Joel permaneceu em Divinópolis de 1959 a 1964. “Destacava-se, nesse período, a figura do jesuíta Pe. Joseph Gelineau (1920-2008) e sua obra litúrgica-musical, principalmente relacionada com os Salmos. Frei Joel tivera contato com o trabalho do Pe. Gelineau ainda durante seus estudos no Instituto Holandês para Música Sacra. Era conhecida uma gravação das melodias para Salmos em francês compostas por Pe.
Gelineau.
No Brasil, cônego Amaro Cavalcanti de Albuquerque, da Arquidiocese do Rio de Janeiro e Presidente da Comissão Nacional de Música Sacra, havia publicado uma pequena brochura com uma seleção das composições do Pe. Gelineau, com a letra dos salmos e cânticos traduzidos e metrificados para o português. Na sua vinda para o Brasil, Frei Joel recebeu de presente de seu pai um bom gravador de rolo Philips. Com a ajuda desse gravador, as melodias compostas pelo Pe. Gelineau, com as versões vertidas para o português por cônego Amaro, foram sendo gravadas por Frei Joel em Divinópolis. (…) Com justiça, Pe. Joseph Gelineau pode ser chamado o patriarca da música sacra conciliar”.
Em 1964, Frei Joel Postma foi para Santos Dumont, MG. “É desse período em Santos Dumont a primeira e, talvez, mais significativa composição de Frei Joel: a cantata ‘O Peregrino de Assis’. O motivo da sua composição foi a comemoração dos 25 anos do Seminário Seráfico, celebrados em 1966. A iniciativa de vertera cantata para o português ocorreu em 1965”.
O período de Frei Joel em Santos Dumont (1964 a 1984) corresponde à sua fase mais produtiva como compositor. Todo esse trabalho, além da sua participação nas diversas edições dos cursos de canto pastoral Brasil afora o tornaram a pessoa apropriada para assumir um serviço importante na Igreja do Brasil: assessor do Setor de Música Litúrgica da Comissão para a Liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Muitos músicos brasileiros, ao irem estudar na Europa, acabavam menosprezando a cultura brasileira. Com Frei Joel ocorreu o contrário: fez questão de valorizar as tradições brasileiras e incentivar os compositores litúrgicos que prezavam por destacar as culturas locais, como Pe. Jocy Rodrigues e Pe. Geraldo Leite Bastos, Cônego Amaro Cavalcanti, o líder dessa turma, Pe. Nicolau Vale, Pe. José Alves, Reginaldo Veloso, entre outros.
Três frutos concretos dos treze anos em que Frei Joel esteve à frente do Setor de Música Litúrgica da CNBB merecem ser destacados: O primeiro deles é o Celmu – Curso Ecumênico de Formação e Atualização Litúrgico-musical.
O segundo fruto não nasceu como uma iniciativa direta do Setor de Música Litúrgica, mas teve, em Fr. Joel, um grande colaborador e incentivador: o Ofício Divino das Comunidades (ODC).
Finalmente, um terceiro fruto do trabalho de Frei Joel na CNBB é o conjunto de Hinários Litúrgicos, iniciado durante o seu trabalho no Setor de Música Litúrgica.
Ao término de seu período em Brasília, Frei Joel regressou a Santos Dumont, onde continuou seus trabalhos musicais, na regência do Coral Trovadores da Mantiqueira, fundado por ele durante sua primeira estadia na cidade.
A Província Santa Cruz, de um modo especial, é devedora e grata a esse irmão franciscano. Podemos afirmar, com clareza, que temos em nosso meio uma tradição litúrgica e musical fruto do trabalho incansável e persistente desse frade menor. Por tradição litúrgica, entenda-se a beleza e a simplicidade do canto, que mais eficazmente abre o espírito humano para o Criador e Redentor presentes nas criaturas, principalmente nos empobrecidos.
No último ano, Frei Joel tinha sido transferido para Belo Horizonte, a fim de receber maiores cuidados, dado o avanço de sua idade. Ao todo, foram 46 anos residindo em Santos Dumont. Seu último acorde de vida foi soado às 5h19min, aos 95 anos de idade.
*Informações colhidas na biografia do Frei Joel Postma em suas obras completas, Vol. 1, escrita por Frei
Fabiano Aguilar Satler.
Fonte: Site: https://ofm.org.b