A Sabedoria construiu a sua casa, talhando suas sete colunas. Abateu seus animais, preparou o vinho e pôs a mesa. Enviou suas criadas para anunciar nos pontos mais altos da cidade: “Os ingênuos venham até aqui. Quero falar aos que não tem juízo. Venham comer do meu pão e beber do vinho que eu preparei. Deixem de ser ingênuos, e vocês viverão; sigam o caminho da inteligência.
Provérbios 9, 1-6
Em grande festa, com a Igreja, celebramos a Solenidade da Santíssima Trindade. Contemplando este grande Mistério e vivendo a nossa vocação à vida de santidade, no seio de Deus, renovamos nossa fé e nossa adesão à aliança com Deus.
Especialmente neste ano de 2019 recorda-se um marco importante na vida de fé e na iconografia que explicita os dados da fé. Há 30 anos, a capela da Vila Kostka em Itaici (SP) recebeu um painel iconográfico, que seguramente representa uma grande herança da arte sacra do nosso país. O artista de grande sensibilidade e outros incontáveis valores já reconhecidos, Cláudio Pastro, representou a Santíssima Trindade na figura dos três anjos. Este tema é inspirado no texto bíblico do livro do Gênesis (cf. Gn 18, 1-15) e tem sua representação já muito antiga na tradição da Igreja.
O ícone mais conhecido da Santíssima Trindade (pelas Igrejas tanto do Oriente quanto do Ocidente) é do iconógrafo Andrej Rublëv (1360-1430) e foi escrito no ano de 1441, por ocasião da construção de uma igreja de madeira sobre o sepulcro de São Sérgio, na Rússia. As Igrejas conheceram muitos outros ícones da Santíssima Trindade, mas sem dúvida, O iconógrafo Rublev soube expressar a Unidade da Trindade com uma particular harmonia.
O afresco da Santíssima Trindade em Itaici também marcou a tradição iconográfica da Igreja no Brasil. Ele se apresenta como lugar de contemplação, a partir do mundo interior do observador. A própria capela é lida como a tenda, aquele que se detém na contemplação também se percebe dentro da tenda. No centro, estão as três figuras, os três anjos, que envolvem a atenção do observador; d’Eles emanam a comunicação e a iniciativa da cena. No meio, o Pai, que com a mão aponta para o Filho. A direita do Pai, O Filho direciona seu olhar diretamente para o observador; Ele nos revela o Pai. O Espírito Santo tem seu olhar voltado para além do que está visível, para fora, para o mundo. Ele está continuamente inspirando a humanidade. A composição geral da cena, comunica a dinâmica das dunas, (que o vento, símbolo do Espírito, transforma a todo instante), a força central da árvore da vida e a contemplação humana diante do Eterno Deus.
Colocando-nos diante deste Mistério, somos envolvidos, como Abraão e Sara para adorar e reconhecer a grandiosidade da Vida Divina. A fé nos aproxime da dinâmica do Deus Trino que é a Unidade, a Comunhão, a Vida. Renovemos também nossa vocação à Vida Comunitária, sinal visível do Reino acontecendo entre nós.
Ir. Jeyd Gomes, pddm
Arquiteta do Apostolado Litúrgico