VIRGEM MARIA, MÃE DA IGREJA

MEMÓRIA E MENSAGEM

A invocação da Virgem Maria, Mãe da Igreja, já faz parte da tradição cristã e católica. Só no Brasil existem 13 paróquias e igreja dedicadas a Mãe da Igreja.

Mãe da Igreja é uma designação honorífica dada à Maria, a mãe de Jesus Cristo. É um título da doutrina e piedade do povo cristão.

Hoje, a denominação mariana está inscrita na liturgia oficial. Já há a memória litúrgica de Maria, Mãe da Igreja, entre as celebrações marianas no ano litúrgico. A comunidade eclesial a celebra uma vez por ano.

Os cristãos são chamados a reconhecer a importância e a riqueza do título de Mãe da Igreja no seio do povo de Deus. A Igreja tem sua Mãe: Maria. Ela não está órfã e abandonada. Mas está muito bem assistida e amparada pela Mãe do Salvador.

IGREJA E MARIA

A Igreja é a comunidade do povo de Deus constituída por todos os cristãos no mundo. O vocábulo “Igreja” provém da língua grega, “ekklesía” (hebraico: “gahal”, “edah”; latim: “ecclesia”), que significa convocação, reunião, assembléia, comunidade (At 19,32.39-41).

A Igreja é o povo de Deus convocado pelo Pai, reunido por Jesus Cristo e animado pelo Espírito Santo. “Prefigurada já no Antigo Testamento, a Igreja é o povo de Deus caminhando para seu Senhor. É um povo universal, não dependente de raça, idioma ou qualquer particularidade humana. Nasce de Deus pela fé. É um povo de redimidos pelo sangue de Cristo, um povo em marcha, chamado para levar a todos os homens a libertação definitiva que, acontecendo já na história, terá sua plenitude somente na eternidade. É um povo de servidores, no qual cada um desempenha sua função para o crescimento de todos” (CNBB. Catequese Renovada, nº. 206).

A Igreja é a comunidade dos discípulos de Jesus. Pelo fato de serem discípulos, os cristãos fazem opção explícita por Jesus, seguem seus passos, abraçam seus critérios e procuram realizar o projeto do Reino de Deus. O Cristo Redentor ocupa o centro da existência dos cristãos.

Na Igreja os cristãos estão unidos pelos laços da fé, da caridade e da esperança. Eles creem em Deus como Pai, Filho de Deus e Espírito Santo. Amam a Deus acima de tudo e, por causa de Deus, amam aos outros e a si mesmos. Otimistas, aguardam, com confiança e perseverança, o Reino de Deus e a vida eterna, apoiados na fidelidade do Senhor e na força do Espírito Santo.

O batismo é o sacramento de ingresso na da Igreja. Pelo batismo, os seres humanos são incorporados à comunidade dos discípulos de Jesus. Da fonte batismal nasce o único povo de Deus, firmando pela nova e eterna aliança de Cristo, agregados pelo compromisso com o Salvador, e não pelos vínculos naturais, culturais, biológicos e raciais (1Cor 12,13;1Pd 2,5;Ef 4,4-6;At 2,41-47). Os batizados tornam-se membros da Igreja, comprometidos com sua vida, sua caminhada, suas lutas, sua organização e suas atividades.

Continuando a presença salvadora de Jesus, a Igreja tem a missão de evangelizar, anunciando e propagando a boa nova do Reino de Jesus a todos os seres humanos. A missão da Igreja nasce do mandato de Cristo (Mt 28,16-20;Mc 16,12-20).

A fonte da missão da Igreja é o amor de Deus pela humanidade (2Cor 5,14;1Tm 2,4). Guiada pelo Espírito Santo, a Igreja realiza a evangelização por gestos, palavras e sinais.

A figura da Virgem Santíssima está inserida no mistério da Igreja. Faz parte integrante do povo de Deus. Ela é, efetivamente, “um membro eminente e absolutamente único da Igreja” (Concílio Vaticano II. Lumen Gentium, no. 53). Toda a vida e missão de Maria são esclarecidas e iluminadas a partir de seu relacionamento com a Igreja, comunidade de salvação.

CELEBRAÇÃO MARIANA

A Virgem Maria, Mãe da Igreja, constitui uma das celebrações marianas recentes, que pertencem ao calendário religioso do povo católico. Nesta celebração os cristãos honram e veneram a Mãe de Jesus dentro do mistério da comunidade eclesial.

Motivados pela fé e piedade, os cristãos celebram o mistério da Mãe de Jesus de modo singular. Na “celebração anual dos mistérios de Cristo, a Santa Igreja venera com especial amor a Bem-aventurada Mãe de Deus, que por vínculo indissolúvel está unida à obra salvífica de seu Filho. Nela admira e exalta o mais excelente furto da redenção e a contempla com alegria como uma puríssima imagem daquilo que ela mesma anseia e espera ser” (Concílio Vaticano II. Sacrosanctum Concilium, no. 103).

O mistério da Virgem Santíssima está presente na liturgia da Igreja por meio das celebrações marianas inseridas no decorrer do ano litúrgico, na lembrança de que dela se faz nas diversas orações eucarísticas, na evocação dos grandes temas mariais e na coletânea de missas de Nossa Senhora, contidas em seu lecionário. A pessoa de Maria é ainda evocada na liturgia das horas e outros ritos sacramentais e orações da Igreja.

As celebrações marianas expressam o culto oficial que a Igreja presta à Virgem Maria. Esse culto “encontra sua expressão nas festas litúrgicas dedicadas à Mãe de Deus” (Catecismo da Igreja Católica, nº. 971).

No decorrer do ano litúrgico, a Igreja realiza três tipos de celebrações marianas, de acordo com sua importância: solenidades, festas e memórias. Essas celebrações ressaltam a beleza da figura de Maria na obra salvífica de Jesus e na vida da Igreja.

As solenidades são as celebrações marianas mais importantes, com um sabor peculiar. São dias relevantes do calendário litúrgico. Suas celebrações se iniciam com as primeiras vésperas na tarde precedente.

As solenidades têm três leituras próprias na missa e também na liturgia das horas. As solenidades são quatro: Santa Maria, Mãe de Deus (1º. de janeiro), Anunciação do Senhor (25 de março), Assunção de Nossa Senhora (15 de agosto) e Imaculada Conceição de Maria (8 de dezembro). No Brasil há também a solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, sua padroeira principal (12 de outubro).

As festas são celebrações marianas que, em ordem de importância, vêm depois das solenidades. São realizadas nos limites do dia natural. Não têm as primeiras vésperas. Mas têm tudo próprio, tanto as leituras e orações da missa, com os textos da liturgia das horas.

As festas são os dias em que os cristãos rompem a monotonia do ordinário e celebra algum acontecimento de Maria com alegria, gratidão e tranquilidade. As principais festas são: apresentação do Senhor (2 de fevereiro), visitação de Nossa Senhora (31 de maio) e natividade de Maria (8 de setembro). No Brasil e outros países latino-americanos, há a festa de Nossa Senhora de Guadalupe (12 de dezembro), padroeira da América Latina.

As memórias são celebrações marianas de menor importância. São obrigatórias ou facultativas. São harmonizadas com a liturgia do dia da semana corrente.

As memórias são: Nossa Senhora de Lourdes (11 de fevereiro), Nossa Senhora de Fátima (13 de maio), Imaculado Coração de Maria (sábado depois da solenidade do Sagrado Coração de Jesus), Nossa Senhora do Carmo (16 de julho), Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior (5 de agosto), Nossa Senhora Rainha (22 de agosto), Nossa Senhora das Dores (15 de setembro), Nossa Senhora do Rosário (7 de outubro) e apresentação de Nossa Senhora (21 de setembro)

Na semana os cristãos dedicam os sábados à memoria da Virgem Santíssima. Recordam a participação constante de Nossa Senhora na vida de Jesus e nas existências das pessoas.

Se no sábado não há nenhuma festa ou memória obrigatória, pode-se celebrar pela manhã a missa de Nossa Senhora. Essa tradição mariana remonta ao século IX.

A Virgem Maria, Mãe da Igreja constitui uma memória litúrgica. Está integrada no conjunto das celebrações marianas que os cristãos celebram durante o ano.

ORIGEM DA MEMÓRIA

A memória da Virgem Maria, Mãe da Igreja, é recente na liturgia cristã. Mas seu título é antigo, proveniente da literatura patrística do século IV.

A denominação de Maria como Mãe da Igreja foi utilizada pela primeira vez por Santo Ambrósio de Milão (338-397). Esse dado foi redescoberto por Hugo Rahner, um jesuíta, que era irmão do renomado teólogo Karl Rahner.

O próprio Santo Agostinho (354-430) afirmava que Maria é mãe dos membros de Cristo, porque cooperou, com sua caridade, para o renascimento dos fiéis na Igreja.

São Leão Magno (440-461), papa e doutor da Igreja, quando diz que o nascimento da Cabeça é, também, o nascimento do Corpo, indica que Maria é, ao mesmo tempo, Mãe de Cristo, o Filho de Deus, e Mãe do seu Corpo Místico, isto é, a Igreja.

Na Idade Média, a partir do século IX, os pregadores, os escritores e os devotos empregavam com maior frequência a maternidade eclesial e espiritual de Maria. Eles também usaram diversos títulos equivalentes, como Mãe dos seres humanos, Mãe dos discípulos, Mãe dos cristãos, Mãe dos redimidos e Mãe de todos aqueles que renascem em Cristo. A invocação torna-se comum nos pronunciamentos e documentos dos papas dos últimos séculos.

No dia 29 de junho de 1943, o Papa Pio XII (1939-1958) já preconizava Maria, a nova Eva, como Mãe de todos os cristãos na Igreja. Maria, que “era fisicamente Mãe da nossa divina Cabeça, foi, com novo título de dor e de glória, feita espiritualmente mãe de todos os seus membros” no Calvário (Carta Encíclica Mystici Corporis, no. 106). Ela é “Mãe santíssima de todos os membros de Cristo, a cujo Coração Imaculado confiadamente consagramos todos os homens, e agora em corpo e alma refulge na glória e reina juntamente com seu Filho, nos alcance dele que sem interrupção corram os caudais da graça da excelsa Cabeça para todos os membros do Corpo Místico” (Carta Encíclica Mystici Corporis, no. 107).

Na Igreja Católica, o título de Mãe da Igreja foi dado oficialmente à Maria pelo Papa Paulo IV (1963-1978), em meados dos anos 60. Bem acolhido pelos cristãos, foi rapidamente divulgado dentro da cristandade. Diversas igrejas e capelas passaram a ter como patrona a Mãe da Igreja.

Aos 21 de novembro de 1964, ao encerrar a terceira sessão do Concílio Vaticano II, Paulo VI declarou a Mãe de Jesus como Mãe da Igreja. Foi durante a promulgação da Constituição Dogmática sobre a Igreja: “Lumen Gentium”, documento considerado a pedra angular da doutrina conciliar, pois faz uma profunda meditação sobre a natureza e a missão da Igreja à luz de Jesus Cristo.

Para o Papa, a missão maternal de Maria na Igreja é expressão de sua bondade, solicitude e caridade atenta e afetuosa. A invocação de Mãe da Igreja sempre foi querida e reconhecida dentro do povo de Deus. Foi também sugerida por muitos ministros ordenados, teólogos, religiosos e leigos de diversos seguimentos, lugares e partes do mundo.

Paulo VI afirmou que Maria é Mãe de todo o povo de Deus, tanto os cristãos leigos como o clero. Em seu discurso oficial, ele pontuava: “Para a glória da Virgem e para nosso conforto, proclamamos Maria Santíssima ‘Mãe da Igreja’, isto é, de todo o povo de Deus, tanto dos fiéis como dos pastores que lhe clamam Mãe amorosíssima; e queremos que com este título suavíssimo seja a Virgem doravante ainda mais honrada e invocada por todo o povo cristão”. Em seu pronunciamento, o Papa precisa, por três vezes, que Maria é mãe de todos os membros da Igreja.

O título de Mãe da Igreja, oficializado por Paulo VI, alicerça-se na união de Maria com Jesus. “Com esse título, se expressa a realidade do vínculo mais profundo de Maria com o Senhor e, nele, conosco. Sua maternidade em relação à comunidade cristã é derivação do dom e da tarefa que recebeu do próprio Deus” (Pe. Angel L. Strada, teólogo e escritor).

Em 13 de maio de 1967, Paulo VI propôs a Exortação Apostólica Signum Magnum, dedicada ao culto da Virgem Maria, Mãe da Igreja e modelo de todas as virtudes. O Papa exorta os cristãos a honrarem, com veneração especial, Nossa Senhora como Mãe espiritual perfeita da Igreja e a imitarem suas virtudes como caminho seguro de fidelidade ao seguimento de Cristo.

Em 1975, por ocasião do Ano Santo da Reconciliação, a Sé Apostólica propôs uma missa votiva em honra de Santa Maria, Mãe da Igreja. A celebração foi inserida no Missa Romano.

Em 1980, durante o pontificado de João Paulo II, a Sé Apostólica concedeu a possibilidade de acrescentar a invocação de Mãe da Igreja na Ladainha Lauretana. Em 1986, publicou também outros formulários de missas votivas com o título de Mãe e Imagem da Igreja na Coletânea de Missas de Nossa Senhora. Para alguns países, dioceses e institutos religiosos, autorizou a inserir a celebração da Mãe da Igreja em seu calendário particular.

Considerando toda a tradição cristã e a importância da maternidade eclesial no mistério da Igreja, Papa Francisco instituiu a memória de Maria, Mãe da Igreja, no calendário romano geral. Determinou que a celebração mariana fosse feita todos os anos na segunda-feira depois da solenidade de Pentecostes.

A instituição da memória está no Decreto “Ecclesia Mater”, da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos. O documento foi assinado pelo Cardeal Robert Sarah, prefeito do Dicastério, em 11 de fevereiro de 2018, quando se comemorara o centésimo sexagésimo aniversário da primeira aparição de Nossa Senhora em Lurdes, França.

O Decreto foi publicado no dia 3 de março de 2018. O documento orienta que a memória de Maria, Mãe da Igreja, deva figurar em todos os calendários e livros litúrgicos para a celebração da missa e da liturgia das horas.

A memória litúrgica visa favorecer o crescimento do sentido materno da Igreja nos pastores, nos religiosos e nos leigos. Busca também incrementar o senso materno na genuína piedade mariana.

Para instituir a celebração mariana, o Papa Francisco considerou o valor fundamental da presença de Maria na comunidade cristã primitiva, quando se esperava o Espírito Santo em Pentecostes (At 1,14). Desde então, a Mãe de Jesus sempre se ocupou maternalmente com a Igreja peregrina no tempo.

A memória mariana auxilia a recordar e a reforçar que a vida cristã, para progredir, deve ser ancorada no mistério da redenção de Jesus na cruz e no mistério de Maria, a Mãe do Redentor e dos redimidos, como Virgem oferente no Calvário. Esses são mistérios que Deus deu ao mundo para orientar, fecundar e santificar os cristãos. Tais mistérios visam também conduzi-los a Jesus Cristo, o Senhor Ressuscitado.

Os bispos brasileiros reconhecem as implicações da invocação de Mãe da Igreja no bojo da comunidade cristã. “Assim, Maria, para além de toda a ternura que sua devoção inspira, deve ser vista, sobretudo, como Mãe da Igreja; pois assim como o filho traz em seu rosto os traços da sua mãe, nós cristãos nos empenhamos por marcar nossa vida com a escuta da Palavra, o amor incondicional a Cristo e a caridade solícita para com os irmãos, que caracterizaram a santidade de Maria” (Animação da vida litúrgica no Brasil. Doc. da CNBB, 43. no. 135).

MATERNIDADE ECLESIAL

A maternidade eclesial designa o fato de que Maria é considerada a Mãe da Igreja. Essa dimensão é relevante tanto para a eclesiologia como para a mariologia. O título deriva do latim, “Mater Ecclesiae”, que significa Mãe da Igreja.

Maria ocupa lugar especial no povo de Deus por ser a Mãe da Igreja. Essa invocação é muito preciosa e atual. Comentando-a poeticamente, Ives Gandra da Silva Martins, jurista brasileiro, diz a respeito de Maria: “Tornaste-te, Mãe da Igreja, / Sinaleira intemporal / Da mensagem benfazeja / Que semeia a terra em sal”. É um título que Nossa Senhora merece perfeitamente.

Nos documentos oficiais, o magistério eclesiástico considera que Maria é verdadeiramente a Mãe dos membros da Igreja.  De acordo com o Concílio Vaticano II, a Virgem Maria é “reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus e do Redentor. Ela é também verdadeiramente Mãe dos membros de Cristo, porque cooperou pela caridade para que na Igreja nascessem os fiéis que são os membros desta cabeça” (Lumen Gentium, 53). A denominação de Mãe da Igreja é real e autenticamente devido à Mãe do Redentor.

A maternidade eclesial de Maria está baseada em sua maternidade divina. Ela é Mãe da Igreja “por ser Mãe de Jesus Cristo e sua muito íntima colaboradora na nova economia, quando o Filho de Deus assume nela a natureza humana, para libertar o homem do pecado mediante os mistérios da sua carne” (Paulo VI. Exortação Apostólica Signum Magnum, no. 1).

Maria é Mãe de Jesus por tê-lo concebido e gerado em seu ventre puríssimo por obra do Espírito Santo (Mt 1,18-25;Lc 1,26-38;Gl 4,4). Com o nome de “mãe”, Maria é designada 25 vezes no Novo Testamento.

Cercado pela proteção de São José, seu esposo, Maria deu à luz Jesus na cidade de Belém, há sete km ao sul de Jerusalém, na região de Judá (Mt 2,1-12;Lc 2,1-7). Morando em sua casa em Nazaré, na Galiléia, Maria criou e educou seu filho Jesus com amor, atenção, responsabilidade e constância (Mt 2,21-23;Lc 2,39-40.51-52).

No Evangelho, São João destaca Maria como companheira de Jesus. Ela está presente nas bodas de Caná (Jo 2,1-12) e na cena do Calvário (Jo 19,25-27). Assim, Maria aparece no início e no final do ministério público de seu Filho.

Maria é Mãe da Igreja por sua vocação de ser Mãe de Jesus, o Salvador da humanidade. Assim explica o padre Ignace de la Potterie, mariólogo, em seu livro “Mãe de Deus”: “Se nos tornamos filhos de Deus por causa de nossa fé em Cristo, sua mãe, que teve um papel único na encarnação do Filho de Deus, terá certamente também a função no renascimento espiritual dos filhos de Deus porque a encarnação é precisamente o modelo de nossa vida filial. Como nossa filiação espiritual divina é paralela da filiação de Cristo, a maternidade de Maria em relação a nós será igualmente em relação à sua maternidade em relação Jesus”.

Por ter cooperado na encarnação do Verbo de Deus na condição humana, Maria é, por direito, Mãe da Igreja. “Com o consentimento e participação de Maria na encarnação do Redentor, a Virgem concebeu a Igreja” (Pe. Juan Rey, jesuíta e teólogo).

DOM DE JESUS

A maternidade eclesial de Maria é graça e dom de Jesus em sua obra redentora. Antes de morrer na cruz, Jesus constitui Maria, sua mãe, como Mãe da Igreja.

De acordo com os escritores eclesiásticos, Jesus, no alto da cruz, nos deu Maria como Mãe de todos os redimidos na pessoa de João, que ali representava todos os discípulos (Jo 19,26-27). A maternidade divina de Maria estendeu-se a dimensão universal, abrangendo a maternidade eclesial.

Como Mãe de Jesus, Maria é Mãe da Igreja na ordem da graça por ter cooperado decisivamente na realização da obra salvadora da humanidade. No povo de Deus ela torna possível o nascimento dos cristãos para a vida espiritual, que provém de seu Filho. É justo que Maria seja a Mãe da Igreja porque coopera, com amor incondicional, para o Cristo na geração, formação e desenvolvimento dos membros da comunidade de fé. “O conjunto dos cristãos, integrados tanto na hierarquia como no povo fiel, são a Igreja nascida do Salvador na cruz, qual nova Eva, Mãe de todos os viventes” (Pio XII).

Associada ao sacrifício redentor de Jesus, a Virgem Santíssima coopera na redenção dos seres humanos, realizada por seu Filho no Calvário. Com “ânimo materno se associou ao sacrifício de Jesus, consentindo com amor na imolação da vítima por ela mesma gerada. Finalmente, pelo próprio Cristo Jesus moribundo na cruz, foi dada como mãe ao discípulo com elas palavras: Mulher, eis aí teu filho (cf. Jo 19,26-27)” (Concílio Vaticano II. L.G., nº. 58). Na crucificação de Jesus, Maria assume ser a Mãe de todos os redimidos.

O grande teólogo contemporâneo Hans Urs von Balthasar (1905-1988) resgatou o fundamento bíblico da maternidade eclesial de Maria. Dizia o pensador cristão: “Junto à cruz, já que o Pai abandonara o Filho, o Filho abandona a sua mãe. Confia a mãe à Igreja. A partir do Calvário, Maria torna-se mãe da Igreja, é a primeira entre os seus membros. Trata-se de um novo empenhamento, a que Maria se consagra. Assim, tudo se desenvolverá até à Assunção ao céu, no qual ela começará a agir como medianeira da Igreja do Senhor. Por isso, o Senhor envia-a continuamente à Igreja e aos homens”.

Sendo Mãe de Jesus e contribuindo com Ele na obra salvadora, Maria é Mãe de todos os membros da Igreja na ordem da graça. “Concebendo seu Filho, dando-o à luz, alimentando-o, apresentando-o ao Pai no templo e participando de seus sofrimentos até a morte de cruz, ela cooperou de maneira toda especial com a obra do Salvador, pela obediência, pela fé e pela caridade ardente, para a restauração da vida sobrenatural das pessoas. Por isso, é nossa Mãe na ordem da graça” Concílio Vaticano II. Lumen Gentium, nº. 61)

Em Jerusalém, no Cenáculo, a comunidade cristã está reunida na fé. Os apóstolos e discípulos estão em oração, aguardando a vinda o Espírito Santo em Pentecostes (At 1,12-14). Quando chegou o dia de Pentecostes, eles se encontram no mesmo lugar e recebem a infusão do Espírito Santo como dom, luz e força para testemunharem e anunciarem a boa de Jesus como Igreja (At 2,1-13).

No próprio livro dos Atos dos apóstolos, São Lucas salienta que Maria está presente na comunidade cristã (At 1,14). Sua presença não é secundária e ocasional, mas é significativa, viva e consciente. Maria participa da comunidade cristã com consciência e constância.

Cheia de fé e de amor, Maria é a Mãe que anima, sustenta e fortalece a vida e a missão da comunidade cristã inicial. “Maria tornou-se a Mãe da Igreja nascente, pois, ao redor dela se reuniam os apóstolos, sob a autoridade de Pedro, para o lugar de Judas escolheu-se outro apóstolo. Esta escolha foi feita sob os olhares e assistência de Maria” (Pe. Adalíbio Barth, escritor mariano).

No Cenáculo, Maria, com sua oração confiante, implora a vinda do Espírito Santo sobre a Igreja aí congregada. Ela pede que desça sobre a comunidade cristã “o Espírito Santo, a santifique e lhe comunique todos os seus dons, principalmente o da fortaleza e da ciência, de que vai precisar em breve para enfrentar um mundo pagão e regenerá-lo em Cristo e para Cristo” (Pe. Juan Rey, jesuíta e teólogo).

A missão maternal de Maria foi muito importante para que a Igreja começasse e consolidasse sua missão evangelizadora no meio da humanidade. “Com santidade exemplar, com autoridade de seu conselho, com a palavra consoladora e com a eficácia das suas preces, Maria amparou maravilhosamente os primeiros passos do povo cristão” (Papa Leão XIII).

Já ingressa na pátria eterna, Maria passa a exercer sua missão de Mãe da Igreja por sua intercessão atual, eficaz e constante. Ela “continua agora no céu a cumprir a missão que teve na terra de cooperadora no nascimento e desenvolvimento da vida divina no ser de cada pessoa redimida” (Paulo VI. Exortação Apostólica Signum Magnum, no. 1). Essa verdade religiosa faz parte integrante do mistério da salvação humana.

A maternidade eclesial de Maria não termina no fim de seu trajeto histórico na terra, mas prossegue no céu, com sua assunção. Presente na comunhão dos santos, Maria coopera na obra salvadora de Jesus, gerando e formando os filhos de Deus na Igreja.

Na pátria eterna, Maria implora a Jesus pelo povo de Deus, que está na terra. Ressuscitada e viva, ela vela pelos membros da Igreja em sua peregrinação terrestre para que perseverem no seguimento de Jesus e possam alcançar seu destino final: participar da vida plena e definitiva da Santíssima Trindade. Maria coopera com Jesus na Igreja “mediante a sua incessante súplica, inspirada por uma caridade ardente” (Paulo VI. Exortação Apostólica Signum Magnum, no. 2)

Como Mãe da Igreja, Maria empenha-se junto a Jesus para que os cristãos possam ser fiéis aos seus compromissos como família do Salvador. A Igreja “é a família de todos os cristãos e seguidores de Jesus. Nela e através dela prolonga-se a sua ação libertadora. É sinal de salvação para todos: é o povo de Deus que, vivendo a unidade da fé, animado pelo Espírito de Jesus, caminha para seu destino definitivo, para a verdadeira pátria prometida: a casa do Pai” (Vital Ayala, escritor mariano). A Igreja conta com a cooperação preciosa e sempre solícita de Nossa Senhora.

Como Mãe da Igreja, Maria guia, ilumina e protege os cristãos, suplicando por suas necessidades junto a seu Filho. Ela acompanha e orienta o povo de Deus desde o início do cristianismo até hoje. E permanecerá em sua missão maternal até a parusia. “De fato, da Jerusalém celeste ela está a guiar a Igreja peregrina na terra, animando-a, confortando-a até que todos estejam na gloriosa comunidade dos eleitos” (Credo do Povo de Deus. Profissão da fé solene, nº. 15).

Em sua missão maternal, Maria está com a Igreja em todos os momentos e lugares. “Quem podemos pensar que leve mais no coração a Igreja que a Mãe de Cristo, que esteve com ela, não só apenas quando esta nasceu do coração aberto de Cristo e quando se apresentou ao mundo sob a efusão do Espírito Santo em Jerusalém, mas sempre e em todas as lutas, em todos os seus merecimentos, em todos os seus caminhos ao longo dos séculos?” (Papa Paulo VI).

CORPO DE CRISTO

Maria é Mãe da Igreja por ser a Mãe do Corpo de Cristo em sua totalidade. É a mãe de Jesus e, ao mesmo tempo, é a mãe da comunidade cristã. “Repleta do Espírito Santo, Maria concebeu seu Filho Jesus. Repleta do Espirito, ela concebeu e deu à luz o corpo místico de Cristo, pois ela foi constituída a ‘Mãe da igreja'” (Fr. Alberto Beckauser, liturgista e teólogo).

De acordo com a reflexão eclesiológica, a Igreja é concebida como Corpo de Cristo. Jesus e a Igreja formam o “Cristo total” (Santo Agostinho, bispo e doutor da Igreja). “Cabeça e membros são como uma só pessoa mística” (São Tomás de Aquino, teólogo e doutor da Igreja).

Já na Bíblia os hagiógrafos afirmam que a Igreja é o Corpo de Cristo porque seus membros estão unidos sob Jesus, como sua cabeça, e por um único Espírito, o Espírito Santo (1Cor 10,17;12,12-26). Tem muitos e diferentes membros, unificados pela graça de Jesus (Rm 12.4-5; Gl 3,27-28;Ef 4,4.12;5,30).

Jesus é o princípio vital da Igreja. Ele é a cabeça do Corpo, pois a Igreja vive dele, nele e por Ele (Gl 4,19;Ef 1,22-23;4,11-16;Cl 1,18;1Pd 2,25). “Nosso Redentor mostrou-se como uma só pessoa com a santa Igreja, que Ele assumiu” (São Gregório Magno, papa e doutor da Igreja).

Como cabeça da Igreja, Jesus aparece como esposo dela, formando com ela profunda unidade. “Na qualidade de cabeça Ele se diz ‘esposo’, na qualidade de Corpo se diz ‘esposa’” (Santo Agostinho).

Jesus é esposo da Igreja porque Ele a amou e se entregou por Ela. Jesus cuida da Igreja com carinho, solicitude e atenção. Ele a purifica, a santifica e a oriente durante seu trajeto terrestre Mt 22,1-14;25,1-13;Mc 2,19;1Cor 6,15-16;2Cor 11,2;Ef 1,4-5.27;5,26;Ap 217).

Jesus é o esposo que fecunda e faz crescer a Igreja cada vez mais. Ele atrai muitas pessoas para que ingressem na Igreja mediante a conversão, a fé, a formação catequética e iniciação cristã. Jesus faz dela “a mãe fecunda de todos os filhos de Deus” (Catecismo da Igreja Católica, no. 808).

A união da Igreja com o Cristo é efetuada pelo batismo e sustentada pela eucaristia (Mt 26;26-27;28,19;Mc 14,22-23;15,16;Lc 22,19-20;24,3035;Jo 6,56;At 3,39-41; Rm 6,1-5;1Cor 11,17-34). “A comparação da Igreja com o corpo projeta uma luz sobre os laços íntimos entre a Igreja e Cristo. Ela não é somente congregada em torno dele; é unificada nele, em seu Corpo” (Catecismo da Igreja Católica, nº 789).

Maria é a Mãe da Igreja por ser a Mãe do Redentor e da Cabeça do Corpo de Cristo. “Maria é Mãe de Deus, Mãe de Jesus Cristo no seu ‘sim’ da anunciação. É Mãe da Igreja, porque é Mãe de Cristo, Cabeça do Corpo Místico” (CNBB. Catequese Renovada. Doc. 26, no. 231).

Em 27 de janeiro de 1979, no Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, no México, o Papa João Paulo II dizia aos participantes da III Conferência Geral do Episcopado Latino-americano: “A divina maternidade é o fundamento da relação especial de Maria com Cristo e de sua presença na economia da salvação operada por Cristo, e também o fundamento das relações de Maria com a Igreja, por ser Mãe daquele que, desde o primeiro instante da encarnação em seu seio virginal, constitui-se em cabeça do Corpo místico, que é a Igreja” (Documento de Puebla. Homília).

Maria é a Mãe de todo o Corpo de Cristo: todos os fiéis e pastores. “Maria é mãe de Cristo que, não só assumiu a natureza humana no seio virginal dela, mas também ligou a si, como cabeça, o seu corpo místico, que é a Igreja. Consequentemente, como mãe de Cristo, Maria é também mãe dos fiéis e de todos os pastores, isto é, a Igreja” (Papa Paulo VI).

Com bondade e solicitude, Maria, em sua missão maternal, coopera na obra de seu Filho para resgatar e salvar os seres humanos, fazendo-os filhos de Deus na Igreja, o Corpo de Cristo (Gl 4,4-5).  A Mãe do Redentor “está unida de modo especial com a Igreja, que o Senhor constitui como seu corpo” (Papa João Paulo II. Carta Encíclica Redemptoris Mater, nº. 66).

Como Mãe, Maria atua ativamente na Igreja como Corpo de Cristo, gerando e formando os seus membros para que possam conservar a graça de filhos de Deus e progredir na fé, na caridade e na esperança. “Sendo a Virgem verdadeira Mãe de Cristo, ela gerou seu Filho, que é a Cabeça de todo o gênero humano. É por isso, coisa inteiramente lógica, que a Santíssima Virgem proceda a geração de todos os membros de Cristo, até a perfeita formação do seu Corpo. Esta geração espiritual se dá com a comunicação da graça, dos dons e das virtudes, que são exigidas para a Salvação” (Santo Agostinho, bispo e doutor da Igreja).

Maria teve e tem solicitude maternal para com a Igreja como Corpo de Cristo. “Maria dispensou ao Corpo Místico, recém-nascido do coração aberto do Salvador, os mesmos cuidados maternais e o mesmo carinho que tinha tratado o Menino Jesus em seu berço” (Pio XII. Carta Encíclica Corpo Místico).

MATERNIDADE MÍSTICA

A maternidade mística de Maria refere-se ao fato de que ela é considerada como Mãe espiritual no seio do povo de Deus. Esse termo significa que Maria é mãe dos cristãos, membros da Igreja.

No dia 11 de outubro de 1963, na Basílica de Santa Maria Maior, Paulo VI, ladeado pelos participantes do Concílio Vaticano II, pronunciou a seguinte oração, dirigida a Nossa Senhora: “Ó Maria, olhai para a Igreja e para os membros responsáveis do Corpo Místico de Cristo, reunidos ao pé de vós para vos reconhecer e venerar como mística Mãe. Fazei, ó Maria, que esta sua e vossa Igreja, ao querer definir-se a si própria, vos reconheça como Mãe, Filha e Irmã escolhida, como modelo inigualável, sua glória e sua esperança”.

Depois de sua assunção gloriosa, Maria, como Mãe espiritual, está junto a Jesus, presente na comunhão dos santos, intervindo em favor de todos aqueles que a invocam no céu. “Maria continua a interceder pelos seus filhos” (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, no. 197).

A maternidade mística de Maria é decorrente de sua maternidade eclesial. Tendo em vista que é a Mãe da Igreja, Maria acompanha todos os membros do povo de Deus e se preocupa com a vida, a missão e o destino de cada um deles. “Santa Maria, como Mãe de Cristo, é Mãe da Igreja, quer dizer, de todo o povo de Deus” (Pablo Arce e Ricardo Sada, escritores catequéticos).

Durante sua existência histórica, Maria foi mãe espiritual dos discípulos de Jesus, que seguiam o Mestre de Nazaré, comprometiam-se com seu projeto do Reino de Deus e participavam de sua comunidade. Ela sempre esteve ao lado dos discípulos, ajudando-os em suas necessidades e conduzindo-os a seu Filho Jesus (Lc 1,39-56;Jo 2,1-12).

Desde a origem e fundação da Igreja, Maria teve presença atuante e constante na vida e missão dos discípulos. Ela soube orientá-los, animá-los, consolá-los e encorajá-los em todos os momentos históricos como sua bondade maternal.

Após a morte, a ressurreição e a ascensão de Jesus, Maria permaneceu com a Igreja, dando aos discípulos toda a assistência maternal e atenciosa. Estando com os discípulos em Pentecostes, “Maria implorou para a Igreja o Espírito Santo Vivificador” (CELAM. Documento de Puebla, no. 287).

Após sua assunção gloriosa, Maria continua sua ação de Mãe espiritual dos cristãos que estão fazendo sua peregrinação terrestre rumo ao Reino definitivo do Pai. Isso porque ela possui a prerrogativa de onipotência suplicante, dada pelo Senhor Ressuscitado (Concílio Vaticano II. Lumen Gentium, no. 62). Essa onipotência suplicante significa o papel atual de Maria que implora os benefícios e as graças para os seus filhos junto a Jesus, o Salvador da humanidade.

No céu, Maria exerce sua onipotência suplicante em virtude de sua maternidade divina e mística. A ligação íntima de Nossa Senhora com Jesus faz com que a súplica seja poderosa e eficaz, ou seja, possa ser atendida pelo Salvador.

Na comunhão dos santos, Maria está próxima de Jesus por encontrar-se ressuscitada e gloriosa na vida eterna. Todavia, ela também está próxima dos cristãos por ser sua Mãe imensamente poderosa e extremamente bondosa.

Como Mãe Espiritual, Maria acompanha cada cristão em sua caminhada humana e religiosa, estando perto dele, compreendendo seus desafios, interessando-se por ele e cuidando dele. “A Virgem Maria, Rainha dos Apóstolos, é modelo perfeito de vida espiritual e apostólica. Enquanto viva na terra uma vida comum, cheia de solicitudes familiares e de trabalho, estava sempre inteiramente unida a seu Filho, cooperando de modo singular para a obra do Salvador. Agora, que está no céu, com sua maternal caridade, cuida dos irmãos de seu Filho, que peregrinam ainda e estão entre os perigos e afazeres, até serem conduzidos à Pátria celeste” (Livro: “Senhor, que queres que faça?” – Pe. Mário Tranquilli, jesuíta e escritor).

Na pátria celeste, Maria é a Mãe carinhosa e compassiva, que está atenta à vida de seus filhos desde sua concepção no útero até seu final na terra. Em sua benevolência maternal, ela procura manter um relacionamento personalizado com cada um deles, auxiliando-o, protegendo-o e defendendo-o

Maria é a mãe generosa e compassiva que se coloca a serviço dos cristãos, zelando por eles em seu trajeto histórico. Participando do domínio de Cristo Ressuscitado, ela “cuida com amor materno dos irmãos de seu Filho, que ainda peregrinam” (Concílio Vaticano II. Lumen Gentium, no. 62).

Velando pelos cristãos na terra, Maria é a educadora da fé deles por ser sua Mãe Espiritual. “Ela cuida que o Evangelho nos penetre intimamente, plasme nossa vida de cada dia e produza em nós frutos de santidade” (CELAM. Documento de Puebla, no. 290).

Como Mãe Espiritual, Maria educa também educa os cristãos pelo exemplo de suas virtudes. A “suavidade e o encanto das excelsas virtudes da Imaculada Mãe de Deus atraem de maneira irresistível os ânimos para a imitação do divino modelo, Jesus Cristo, de que Ela foi a mais fiel imagem” (Paulo VI. Exortação Apostólica Signum Magnum, no. 3).

Os evangelistas, os padres da Igreja, os doutores, os teólogos, os escritores e os pregadores ressaltaram as virtudes admiráveis que transpareceram na vida da Virgem Maria. Associados a todos eles, nós “contemplamos Maria, firme na fé, pronta na obediência, simples na humildade, exultante no louvor do Senhor, ardente na caridade, forte e constante no cumprimento de sua missão até ao holocausto de si própria, em plena comunhão de sentimentos com seu Filho, que se imolava na cruz para dar aos homens uma vida nova” (Paulo VI. Exortação Apostólica Signum Magnum, no. 6).

Por ser Mãe espiritual, Maria é a Serva do Senhor, que inspira os cristãos a terem uma vida de união cada vez mais com seu Filho Jesus. “Maria é modelo de vida cristã, pois toda a sua existência é plena comunhão com o Filho, uma entrega total a Deus em todos os seus caminhos, numa união única que culmina na glória” (CNBB. Documento Catequese Renovada, no. 233).

Como Mãe pronta e misericordiosa, Maria ostenta um coração universal, capaz de abarcar os cristãos e todas as pessoas. “Tem um coração tão grande quanto ao mundo e intercede ante o Senhor da história por todos os povos. Isto bem registra a fé popular que põe nas mãos de Maria, como rainha e mãe, o destino de nossas nações” (CELAM. Documento de Puebla, no. 289).

MISSA DE MARIA, MÃE DA IGREJA

No Decreto em que aprovou e oficializou a memória da Virgem Maria como Mãe da Igreja, a Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos acrescentou os textos litúrgicos, em latim, para a missa, a liturgia das horas e o martiriológico romano.

Nos diversos países e lugares, as Conferências episcopais deverão providenciar a tradução dos textos necessários e, depois de confirmados, a publicação nos livros litúrgicos de sua jurisdição.

A missa, que celebra a memória de Maria como Mãe da Igreja, começa com a antífona de entrada: “Os discípulos unidos perseveravam em oração com Maria, a Mãe de Jesus”. Lembra a presença de Nossa Senhora na comunidade cristã em Jerusalém à espera de Pentecostes (At 1,14).

A oração do dia diz o seguinte: “Deus, Pai de misericórdia, vosso Filho, pregado na cruz, nos deu por mãe a sua Mãe. Pela intercessão amorosa da Virgem Maria, fazei que a vossa Igreja se torne cada vez mais fecunda e se alegre pela santidade de seus filhos e filhas, atraindo para o seu convívio as famílias de todos os povos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo”. Recorda a função de Maria como Mãe da Igreja, dada por Jesus na cruz e continuada hoje.

Na oração sobre as oferendas o sacerdote pronuncia: “Recebei, Senhor, as nossas oferendas e transformai-as em sacramento da salvação. Pela força deste mistério, sejamos inflamados no mesmo amor da Virgem Maria, Mãe da Igreja, e mereçamos com ela associar-nos mais estreitamente à obra da redenção. Por Cristo, nosso Senhor”. Suplica que os participantes da missa sejam inflamados pelo amor de Maria.

No início da oração eucarística, o presidente abre os braços e profere o seguinte prefácio:

Pres.: O Senhor esteja convosco.

Ass.: Ele está no meio de nós.

Erguendo as mãos, o presidente prossegue:

Pres.: Corações ao alto.

Ass.: O nosso coração está em Deus.

O sacerdote, com os braços abertos, acrescenta:

Pres.: Demos graças ao Senhor, nosso Deus.

Ass.: É nosso dever e nossa salvação.

O sacerdote, de braços abertos, continua o prefácio.

Pres.:  Na verdade, é justo e necessário, é nosso dever e salvação dar-vos graças, sempre e em todo o lugar, Senhor, Pai santo, Deus eterno e todo-poderoso, e na celebração da santa Virgem Maria engrandecer-vos com os devidos louvores. Acolhendo a vossa Palavra no coração sem mancha, mereceu concebê-lo no seio virginal e, ao dar à luz o Fundador, acalentou a Igreja que nascia. Recebendo aos pés da cruz o testamento da caridade divina, assumiu todos os seres humanos como filhos e filhas, renascidos para a vida eterna, pela morte de Cristo. Ao esperar com os Apóstolos o Espírito Santo, unindo suas súplicas às preces dos discípulos, tornou-se modelo da Igreja orante. Arrebatada à glória dos céus, acompanha até hoje com amor de mãe a Igreja que caminha na terra, guiando-lhe os passos para a pátria, até que venha o dia glorioso do Senhor. Portanto, com todos os anjos e santos, vos louvamos eternamente cantando (dizendo) a uma só voz: 

Durante o prefácio, o sacerdote louva a Deus que nos concedeu Maria como modelo e Mãe da Igreja. Ela é exemplo de acolhida da Palavra de Deus e de oração. É a Mãe da Igreja desde a encarnação do Verbo de Deus, da crucificação de Jesus e de pentecostes até hoje. Assunta à gloria celeste, Maria acompanha com amor maternal a Igreja, guiando-lhe no caminho da salvação até a parusia.

O texto antífona da comunhão é o seguinte: “Celebrou-se um casamento em Caná da Galiléia, e a Mãe de Jesus estava lá. Jesus deu início aos seus milagres, manifestou a sua glória e os discípulos creram nele”. Rememora as bodas de casamento em Caná da Galiléia, onde Maria estava presente com Jesus e os discípulos (Jo 2,1-12). Além do papel de intercessora, Maria é a pedagoga de fé, que conduz as pessoas ao seguimento de Jesus na comunidade cristã.

Após da comunhão eucarística, o sacerdote faz a seguinte oração: “Tendo recebido o penhor da redenção e da vida, nós vos pedimos, Senhor, que vossa Igreja, pela intercessão da Virgem Maria,  instrua todas as nações pelo anúncio do Evangelho e encha toda a terra com a efusão do Evangelho”. Implora a intercessão Maria para que ajude a Igreja em sua missão de evangelizar todos os povos.

LEITURAS BÍBLICAS

Na missa de Maria, Mãe da Igreja, a Liturgia da Palavra abrange os textos bíblicos que iluminam e esclarecem a missão maternal da Virgem Santíssima no seio do povo de Deus. Reunida para celebrar a memória litúrgica, a assembléia de fé ouve os textos e compreendem o sentido da maternidade eclesial de Maria à luz da Palavra de Deus.

Durante a celebração da missa, a Liturgia da Palavra apresenta uma leitura, um salmo e o Evangelho. São leituras bíblicas muito oportunas, instrutivas e inspiradoras.

Na primeira leitura pode-se escolher um dos trechos bíblicos: Gn 3,9-15.20 ou At 1,12-14. O primeiro trecho de Gênesis descreve a promessa de salvação que Deus faz aos seres humanos, após o pecado. Destaca a vinda futura do Messias, que irá salvar a humanidade, e a figura da Mãe do Salvador. De acordo com a tradição cristã, o Messias é identificado com Jesus e a Mãe refere-se à Virgem Maria.

O trecho dos Atos dos Apóstolos aponta a presença viva e atuante de Maria na Igreja primitiva, em Jerusalém. No cenáculo, ela está junto dos apóstolos e discípulos perseverando na oração, aguardando a vinda do Espírito Santo em Pentecostes.

Na liturgia da Palavra, o salmo responsorial é o 86 (87). É um hino a Jerusalém, cidade do povo de Deus. Jerusalém tem a vocação de ser mãe do povo. Ela é chamada a se expandir, reunindo pessoas de todos os povos. Essa missão passará mais tarde para a Igreja, aberta a todos. Maria é a mãe do povo de Deus, que zela por ele com carinho e solicitude.

Durante a missa, o presidente proclama o Evangelho, que é extraído de São João (19,25-34). O texto narra a cena da crucificação de Jesus no Gólgota. A morte de Jesus foi ato extremo de caridade, pois Ele, com amor e liberdade, faz a entrega generosa e incondicional de sua vida ao Pai em favor da humanidade. Exprime e concretiza a ação redentora de Jesus no mundo, tendo em vista que, ao ser crucificado, Ele liberta os seres humanos da morte e do pecado e os reconcilia com o Pai.

No Calvário, perto da cruz de Jesus, Maria estava de pé, junto com Maria de Cléofas, Maria Madalena e João Evangelista, o discípulo amado pelo Salvador. Em sua bondade, Jesus, pregado na cruz, deu aos discípulos por Mãe sua mãe, Maria. Recebendo no alto do monte o testamento da caridade divina, Maria assumiu todos os seres humanos como filhos, renascidos para a vida plena mediante a morte redentora de Cristo. A maternidade divina de Maria se ampliou e se universalizou, tornando-se também maternidade eclesial.

CULTO MARIANO

O culto mariano é a honra que os cristãos prestam a Virgem Maria na Igreja. Tem servido como alimento de fé, de esperança e de caridade para o povo de Deus.

O culto mariano faz parte integrante da espiritualidade da Igreja e do patrimônio da religiosidade popular. “A piedade da Igreja para com a bem-aventurada Virgem Maria é elemento intrínseco do culto cristão” (Paulo VI. Culto da Virgem Maria, no. 56).

O culto marino constitui uma prática qualificadora e constante da Igreja desde as origens do cristianismo. Os evangelhos e outros escritos neotestamentários registram e recordam a pessoa e a missão de Maria na história da salvação (Lc 1,26-38;At 1,14;Gl 4,4).

O Novo Testamento destaca a figura de Maria de forma explícita, lúcida e personalizada. Ela aparece sempre unida a Jesus Cristo e à sua obra evangelizadora. É mencionada cerca de 183 versículos, os quais se encontram em 17 trechos. São sete livros que se referem à Mãe do Salvador.

Enraizado na tradição bíblica e cristã, o culto mariano é válido e atual na Igreja. O Concílio Vaticano II recomenta que a Igreja venere, “com amor peculiar, a bem-aventurada Mãe de Deus, que está associada à obra salutar de seu Filho. Em Maria brilha, na sua expressão máxima, o fruto da redenção, e nela se contempla, como em sua imagem puríssima, tudo o que se pode desejar e esperar”  (Sacrosanctum Concilium, no. 103).

A memória de Maria, Mãe da Igreja, constitui uma das formas litúrgicas da expressão do culto mariano da Igreja nos dias atuais. “Igreja, instruída pelo Espírito Santo, venera Maria como Mãe muito amada, com afeto e piedade filial” (CNBB. Documento de Catequese Renovada”, no. 230).

Ao celebrar a memória mariana, todos nós, cristãos, honramos Maria como Mãe da Igreja, que lá do céu, junto de Jesus, nos escuta, nos norteia, nos guarda, nos ensina, conhece nossas necessidades e nos atende “Arrebatada à glória dos céus, ela acompanha a Igreja que caminha na terra, guiando-lhe os passos para a pátria, até que venha o dia glorioso do Senhor” (Prefácio da memória de Maria, Mãe da Igreja). Em sua bondade maternal, Maria cuida da Igreja e de todos com generosidade e constância.

Na memória litúrgica, nós conhecemos, aprofundamos e assumimos o culto de Maria como Mãe da Igreja de maneira consciente, convicta e piedosa. Assunta e glorificada, Maria, como Mãe de Cristo, está próxima de seu Filho, recorrendo a Ele em nosso favor. Como Mãe da Igreja está próxima de povo de Deus e de cada um de nós, ensinando-nos a seguir a Jesus e socorrendo-os perpetuamente.

Confiantes, nós, cristãos, contamos com o auxílio carinhoso, certo, pronto, seguro e eficaz da Mãe da Igreja em nossa peregrinação de fé na terra. Como devotos, nós amamos a Virgem Maria como nossa mãe com afeto filial e terno. “A Igreja Católica, guiada pelo Espírito Santo, honra-a como Mãe amantíssima, dedicando-lhe afeto de piedade filial” (Concílio Vaticano II. Constituição Dogmática Lumen Gentium, no. 53).

Em suas orações, a Igreja recorre a Maria como Mãe bondosa, suplicando-lhe pelas suas precisões e urgências. “A Igreja teve desde sempre a consoladora experiência de encontrar em Maria a Mãe de misericórdia e de graça, que ela tão frequentemente invoca em suas preces” (Papa Bento XV. Encíclica Fausto Appetente Die, 1921).

Na celebração mariana, nós, peregrinos, somos chamados persistir na fé cristã, inspirados pela esperança de Maria, a Mãe da Igreja. “Glorificada no céu de corpo e alma, a mãe de Jesus é a imagem e início da Igreja perfeita, no fim da história. Por agora, na  terra, enquanto não chega o Dia do Senhor (cf. 2Pd 3,10), brilha como sinal e auxílio do povo de Deus em peregrinação” (Concílio Vaticano II. Constituição Dogmática Lumen Gentium, no. 68).

Pe. Eugênio Antônio Bisinoto C. Ss. R.

Sacerdote Redentorista e Escritor

Igreja Santa Cruz, Araraquara – SP