A condição da finitude humana causa em nós, no mínimo um desconforto. Essa situação abre alguns precedentes, inclusive para especulações e propostas. O Cristianismo sempre olhou para essa realidade com muita esperança, por isso celebramos o dia de nossos irmãos já falecidos como uma verdadeira comunhão de santos. Por herança no sangue de Cristo todos participam da salvação que Ele nos mereceu formando um só corpo, quer nesta vida (pelo testemunho), quer na esperança da vida Eterna (pela graça).
Em diversos momentos a Palavra de Deus nos atesta essa realidade. Apenas um exemplo: “Desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos!” (1Jo 3,2). Não seria novidade se alguém nos dissesse que há uma grande tribulação em curso e que nos afeta direta ou indiretamente. Quantasvezes nos sentimos tomados por um sentimento de temor perante o futuro, ou atemorizados diante de acontecimentos do dia a dia. Porém, quando nos deparamos com o amor extremado de Deus para com a humanidade a qual pertencemos, nos fica evidente que “Deus amou de tal modo o mundo que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). O fato de pedirmos o auxilio de Deus nas provações não é novidade nem O desagrada. O Senhor ouviu o clamor do seu povo (cfEx 3, 7-8), e esteve presente libertando-os das amarras da escravidão e concedendo-lhes novos horizontes em vista da vida nova, nesta vida e na outra. O Antigo testamento nos apresenta um Deus ciumento (cfEx 20,5) pedindo fidelidade a esse amor sob pena de aquele que não fosse capaz testemunhá-Lo na inteira fidelidade, experimentasse imediatamente a Sua ira. Tal pensamento evoluiu. O profeta Oséias propõe uma sincera conversão ao Senhor “Pois eu quero amor e não sacrifícios, conhecimento de Deus mais do que holocaustos”. A mesma referência encontramos na citação de São Mateus “Eu quero a misericórdia e não o sacrifício” (Mt 9,13). Portanto, por uma sinceridade de coração diantedaquelas situações muito humanas pelas quais passamos, nossas indiferenças e até incoerências na presençada salvação que o Cristo nos mereceu, por uma entrega filial e reconhecedora de quem agradece e confia no gesto salvador do Cristo Senhor, nos fará participar dos méritos que Ele próprio nos mereceu.
Temos no céu grandes intercessores. Assim, celebremos a memória daqueles que passaram pelas nossas vidas e humanamente nos amaram tanto, já estão nos braços do Pai, diante de Sua divina e infinita misericórdia, não com uma atitude de desesperança ou de inconformismo, mas com um redobrado ardor pela vida, como alguém que confia, acredita, luta pela instauração da justiça nessa terra. O Senhor não nos trouxe ao mundo para o desalento, mas para que fôssemos capazes de nos amar como irmãos e amá-Lo acima de outras coisas (cfJo 15,12), pois “Ele enxugará toda lágrima dos seus olhos, nunca mais haverá morte, nem luto, nem grito nem dor. Sim! As coisas antigas desapareceram!” (Ap 21,4).
Que a Virgem Maria, Mãe de Misericórdia, a qual invocamos na oração da Ave Maria, nos faça caminheiros com destino certo: a Jerusalém celeste.
Pe. Ancelmo Alencar GomesCSsR
Missionário Redentorista
Santa Bárbara d’Oeste – SP