“Minhas ovelhas escutam a minha voz” (Jo 10,27)
Neste 4º Domingo da Páscoa, a liturgia nos convida a contemplar Jesus como o Bom Pastor, aquele que guia, conhece e protege suas ovelhas. Esse domingo é tradicionalmente dedicado à oração pelas vocações e à escuta da voz de Cristo, que continua chamando cada pessoa à vida e à missão.
Essa celebração ganha um significado ainda mais profundo neste momento em que a Igreja vive a alegria e a esperança com a chegada do Papa Leão XIV ao ministério petrino e por ser o 62º Dia Mundial de Oração pelas Vocacões.
Com o novo Papa, somos chamados a escutar juntos o que o Espírito diz à Igreja, acolher com fé seus gestos, palavras e orientações, e seguir com confiança este novo tempo de comunhão. O início do pontificado de Leão XIV é um tempo favorável para renovar a missão, o diálogo com o mundo e o anúncio corajoso do Evangelho a todos os povos, especialmente os que ainda esperam por uma palavra de consolo e verdade.
O Papa Leão XIV inicia seu pontificado num mundo marcado por tribulações e esperanças. Mas a Palavra garante: o Cordeiro está conosco e há uma promessa que permanece — Deus enxugará toda lágrima.
Essa esperança não é utopia, mas é sustentada por vidas que escutam a voz de Deus e se deixam conduzir por Ele.
Somos chamados, como peregrinos da esperança, a rezar com fervor pelas vocações. Na mensagem para o 62º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, o Papa Francisco recorda que “a vocação é um dom precioso que Deus semeia nos corações”. É um chamado a sair de si mesmo para seguir um caminho de amor e serviço.
Cada vocação – seja na vida laical, no ministério ordenado ou na vida consagrada – manifesta a esperança que Deus deposita no mundo e em cada um de seus filhos. Por isso, nós, membros da Igreja, especialmente os pastores e formadores, somos convidados a acolher, discernir e acompanhar com carinho e responsabilidade os caminhos vocacionais das novas gerações.
E aos jovens, o Papa Francisco dirige um apelo especial: sejam protagonistas – ou melhor, coprotagonistas – com o Espírito Santo, permitindo que Ele desperte em seus corações o desejo de fazer da vida um dom de amor.
O Evangelho: ser conhecido e seguir o Pastor
No centro da liturgia está o Evangelho de João (10,27-30), onde Jesus afirma com ternura: “As minhas ovelhas escutam a minha voz; eu as conheço e elas me seguem.”
Aqui está a essência da vida cristã: escutar, ser conhecido e seguir. Não seguimos uma ideia, mas uma pessoa que nos conhece profundamente, que nos ama e nos conduz com segurança. Ele nos dá a vida eterna, e ninguém pode nos arrancar de suas mãos. Essa promessa nos consola e fortalece diante das incertezas da vida.
A missão se expande: Atos dos Apóstolos
Na primeira leitura (At 13,14.43-52), vemos Paulo e Barnabé anunciando a Palavra com coragem. Diante da rejeição por parte dos judeus, eles voltam-se aos pagãos, que acolhem a Boa Nova com alegria.
A Palavra de Deus é viva e encontra corações dispostos, mesmo em meio às tribulações. Como discípulos missionários, somos chamados a anunciar com fidelidade, confiando que o Espírito Santo age mesmo quando enfrentamos dificuldades.
Somos o rebanho do Senhor: o Salmo 99(100)
O salmo deste domingo proclama com alegria: “Sabei que o Senhor, só ele é Deus; nós somos seu povo e seu rebanho.” Ser ovelha do rebanho do Senhor não é sinal de fraqueza, mas de confiança. Deus é um pastor que cuida, alimenta e conduz com amor. Pertencer a Ele é motivo de gratidão e louvor.
O Cordeiro que é Pastor: o livro do Apocalipse
A segunda leitura (Ap 7,9.14b-17) nos apresenta a grande multidão dos que lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro. É a imagem da vitória dos fiéis que permaneceram firmes em meio às tribulações.
Cristo, o Cordeiro imolado, torna-se agora o Pastor que conduz à fonte da vida. Ele enxuga todas as lágrimas — não porque não haja dor, mas porque Ele está presente, transformando sofrimento em esperança.
Escutar e seguir hoje
Em um mundo de tantas vozes e ruídos, a liturgia de hoje nos convida a reconhecer e escutar a voz do Bom Pastor. Ele continua falando por meio da Palavra, da Igreja, dos pobres e dos acontecimentos da vida.
Também hoje o Senhor chama homens e mulheres a seguir seus passos: no sacerdócio, na vida consagrada, na missão leiga, no silêncio do lar ou no serviço à comunidade. Escutar sua voz é o primeiro passo para viver a vocação com alegria.
Oremos pelo Papa Leão XIV
Senhor Jesus Cristo, Bom Pastor,
Tu que confiaste a Pedro o cuidado de apascentar o teu rebanho,
nós te damos graças pelo dom do Papa Leão XIV.Concede-lhe sabedoria para discernir, coragem para anunciar,
mansidão para acolher, e fidelidade para servir.Sustenta-o com o teu Espírito Santo,
fortalece-o nos momentos de cruz
e alegra-o com os frutos da unidade e da paz na tua Igreja.Que sob sua guia, sigamos todos na escuta da tua voz,
firmes na fé, abertos à missão e comprometidos com a verdade do Evangelho.Maria, Mãe da Igreja, intercede por ele e por todos nós.
Amém.
Que neste Domingo do Bom Pastor, oremos por todas as vocações e renovemos nosso compromisso de escutar e seguir Aquele que nos conduz com amor.
Abaixo, a íntegra da mensagem pelo 62º Dia Mundial de Oração pelas Vocacões, ainda escrita pelo saudoso Papa Francisco:
MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO
PARA O LXII DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES
(11 de maio de 2025 – IV Domingo da Páscoa)
Peregrinos de esperança: o dom da vida
Queridos irmãos e irmãs!
Neste LXII Dia Mundial de Oração pelas Vocações, desejo dirigir-vos um alegre e encorajador convite a serdes peregrinos de esperança, doando generosamente a vida.
A vocação é um dom precioso que Deus semeia nos corações, uma chamada a sair de si mesmo para trilhar um caminho de amor e serviço. E cada vocação na Igreja – seja laical, seja ao ministério ordenado, seja à vida consagrada – é sinal da esperança que Deus nutre pelo mundo e por cada um dos seus filhos.
Neste nosso tempo, muitos jovens sentem-se perdidos face ao futuro. Frequentemente vivem na incerteza quanto às perspectivas de emprego e, lá no fundo, experimentam uma crise de identidade que é uma crise de sentido e de valores, que a confusão digital torna ainda mais difícil de atravessar. A injustiça para com os fracos e os pobres, a indiferença do bem-estar egoísta e a violência da guerra ameaçam os projetos de vida boa que cultivam no seu íntimo. Contudo, o Senhor, que conhece o coração do homem, não nos abandona na insegurança; pelo contrário, quer suscitar em cada um a consciência de ser amado, chamado e enviado como peregrino de esperança.
Por isso, nós, membros adultos da Igreja, especialmente os pastores, somos convidados a acolher, discernir e acompanhar o caminho vocacional das novas gerações. E vós, jovens, sois chamados a ser nele protagonistas, ou melhor, coprotagonistas com o Espírito Santo, que suscita em vós o desejo de fazer da vida um dom de amor.
Acolher o próprio caminho vocacional
Queridos jovens, «a vossa vida não é “entretanto”; vós sois o agora de Deus» (Exort. ap. pós-sinodal Christus vivit, 178). É necessário tomar consciência de que o dom da vida exige uma resposta generosa e fiel. Olhai para os jovens santos e beatos que responderam com alegria à chamada do Senhor: Santa Rosa de Lima, São Domingos Sávio, Santa Teresa do Menino Jesus, São Gabriel de Nossa Senhora das Dores, os Beatos – que em breve serão Santos – Carlo Acutis e Pier Giorgio Frassati, e muitos outros. Cada um deles viveu a vocação como um caminho para a felicidade plena, na relação com Jesus vivo. Quando escutamos a sua palavra, o nosso coração arde (cf. Lc 24, 32) e sentimos o desejo de consagrar a vida a Deus! Desejamos, por isso, descobrir de que modo, em que forma de vida é possível retribuir o amor que Ele primeiro nos dá.
Toda a vocação, sentida na profundidade do coração, faz germinar uma resposta como impulso interior ao amor e ao serviço, como fonte de esperança e caridade e não como busca de autoafirmação. Vocação e esperança entrelaçam-se, portanto, no projeto divino pela alegria de cada homem e mulher, todos eles chamados em primeira pessoa a oferecer a sua vida pelos outros (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 268). São muitos os jovens que procuram conhecer o caminho que Deus os chama a percorrer: alguns constatam – muitas vezes com surpresa – a vocação ao sacerdócio ou à vida consagrada; outros descobrem a beleza da chamada ao matrimónio e à vida familiar, bem como ao empenho pelo bem comum e ao testemunho da fé entre colegas e amigos.
Toda a vocação é animada pela esperança, que se traduz em confiança na Providência. Com efeito, para o cristão, ter esperança é mais do que um simples otimismo humano: é antes uma certeza enraizada na fé em Deus, que age na história de cada pessoa. E, deste modo, a vocação amadurece através do compromisso quotidiano de fidelidade ao Evangelho, na oração, no discernimento e no serviço.
Queridos jovens, a esperança em Deus não engana, porque Ele guia os passos de quem a Ele se entrega. O mundo precisa de jovens peregrinos de esperança, corajosos em dedicar a sua vida a Cristo, cheios de alegria por serem seus discípulos-missionários.
Discernir o próprio caminho vocacional
A descoberta da própria vocação passa por um caminho de discernimento. Este percurso nunca é solitário, mas desenvolve-se no seio da comunidade cristã e com ela.
O mundo, queridos jovens, induz-vos a fazer escolhas precipitadas e a encher os dias de barulho, impedindo a experiência de um silêncio aberto a Deus, que fala ao coração. Tende a coragem de parar, de escutar dentro de vós e de perguntar a Deus o que Ele sonha para vós. O silêncio da oração é indispensável para “interpretar” a chamada de Deus na própria história e para dar uma resposta livre e consciente.
O recolhimento permite compreender que todos podemos ser peregrinos de esperança se fizermos da nossa vida um dom, especialmente ao serviço daqueles que habitam as periferias materiais e existenciais do mundo. Quem se põe a escutar Deus que chama não pode ignorar o grito de tantos irmãos e irmãs que se sentem excluídos, feridos e abandonados. Cada vocação abre para a missão de ser presença de Cristo onde mais se sente necessidade de luz e consolação. Em particular, os fiéis leigos são chamados a ser “sal, luz e fermento” do Reino de Deus, através do empenho social e profissional.
Acompanhar o caminho vocacional
Nesse horizonte, os agentes pastorais e vocacionais, especialmente os conselheiros espirituais, não tenham medo de acompanhar os jovens com a esperançosa e paciente confiança da pedagogia divina. Trata-se de ser para eles pessoas capazes de escuta e respeitoso acolhimento; pessoas em quem podem confiar, guias sábios, disponíveis para os ajudar e atentos a reconhecer os sinais de Deus no seu caminho.
Exorto, portanto, a que se promova o cuidado da vocação cristã nos vários campos da vida e da atividade humana, favorecendo a abertura espiritual de cada pessoa à voz de Deus. Para este fim, é importante que os itinerários educativos e pastorais contemplem espaços adequados para o acompanhamento das vocações.
A Igreja precisa de pastores, religiosos, missionários e esposos que, com confiança e esperança, saibam dizer “sim” ao Senhor. A vocação nunca é um tesouro que fica fechado no coração, mas cresce e fortalece-se na comunidade que crê, ama e espera. E como ninguém pode responder sozinho à chamada de Deus, todos temos necessidade da oração e do apoio dos nossos irmãos e irmãs.
Caríssimos, a Igreja é viva e fecunda quando gera novas vocações. E o mundo, muitas vezes inconscientemente, procura testemunhas de esperança que anunciem com a vida que seguir Cristo é fonte de alegria. Por isso, não nos cansemos de pedir ao Senhor novos operários para a sua messe, certos de que Ele continua a chamar com amor. Queridos jovens, confio o vosso seguimento de Jesus à intercessão de Maria, Mãe da Igreja e das vocações. Caminhai sempre como peregrinos de esperança no caminho do Evangelho! Acompanho-vos com a minha bênção e peço-vos que rezeis por mim.
Roma, Hospital Gemelli, 19 de março de 2025.
FRANCISCO