CHAMADOS À CONVERSÃO: A MISERICÓRDIA E A PACIÊNCIA DE DEUS

Neste 3º Domingo da Quaresma, Ano C, as leituras nos convidam a uma profunda reflexão sobre a necessidade de conversão e a misericórdia de Deus.

Primeira Leitura: Êxodo 3,1-8a.13-15, Moisés, ao apascentar o rebanho de seu sogro Jetro, aproxima-se do monte Horeb e presencia uma sarça ardente que não se consome. Deus o chama do meio da sarça, revelando-Se como o Deus de seus antepassados e manifestando Seu desejo de libertar o povo de Israel da opressão no Egito. Este encontro destaca a santidade de Deus e Sua compaixão diante do sofrimento humano.

No Salmo 102(103),1-2.3-4.8.11, o salmista exalta a bondade e a misericórdia de Deus, que perdoa as faltas, cura enfermidades e resgata a vida da morte. Este salmo reforça a imagem de um Deus compassivo e amoroso, sempre disposto a acolher aqueles que O buscam com sinceridade.

Na Segunda Leitura, retirada de 1 Coríntios 10,1-6.10-12, São Paulo relembra aos coríntios os eventos do Êxodo, enfatizando que, apesar de todos terem recebido as mesmas bênçãos, muitos caíram devido à desobediência e falta de fé. Ele alerta para que não murmuremos e permaneçamos vigilantes, pois quem pensa estar de pé deve cuidar para não cair.

No evangelho de Lucas 13,1-9, Jesus aborda duas tragédias recentes e questiona a ideia de que essas vítimas eram mais pecadoras que outras. Ele enfatiza a necessidade urgente de arrependimento para todos. Na parábola da figueira estéril, o proprietário deseja cortá-la por não produzir frutos, mas o vinhateiro pede mais um ano, comprometendo-se a cuidar dela para que frutifique. Esta parábola ilustra a paciência e misericórdia de Deus, que nos concede tempo e oportunidades para nos convertermos e darmos frutos de boas obras.

Assim, as leituras deste domingo nos chamam à conversão sincera, reconhecendo a presença amorosa de Deus que nos oferece continuamente Sua misericórdia e nos convida a uma vida fecunda em boas ações.

Para aprofundar esta reflexão, você pode assistir ao vídeo a seguir:

SUGESTÕES PARA OS CANTOS NESTA CELEBRAÇÃO:

1 – ABERTURA – EIS O TEMPO DE CONVERSÃO
Áudio: https://www.youtube.com/watch?v=eYz25RU7-Us

2 – SALMO 102 (103) – O SENHOR BONDOSO E COMPASSIVO
Áudio: https://www.youtube.com/watch?v=9qMfJ_XD-nc

3 – ACLAMAÇÃO
GLÓRIA E LOUVOR…CONVERTEI-VOS, NOS DIZ O SENHOR
Áudio: https://www.youtube.com/watch?v=dO5TAmbzEXQ

4 – OFERENDAS – O VOSSO CORAÇÃO DE PEDDRA SE CONVERTERÁ
Áudio: https://www.youtube.com/watch?v=nI8LGfCBdp0

10 – COMUNHÃO – TANTO DEUS AMOU O MUNDO
Áudio: http://www.youtube.com/watch?v=RLc03QE221k

11 – CANTO FINAL – HINO DA CF
Áudio: https://www.youtube.com/watch?v=puXg_QBgzY4

PARTITURAS OU CIFRAS: https://www.arquidiocesedegoiania.org.br/liturgia/cifras-partituras/celebracoes-dominicais/ano-c-2024-2025

SÃO JOSÉ: O PAI TERRENO DE JESUS E EXEMPLO DE FÉ

São José é uma das figuras mais importantes do Cristianismo, reconhecido como o pai terreno de Jesus e esposo da Virgem Maria. Sua vida é um exemplo de humildade, obediência e dedicação à vontade de Deus. Apesar de pouco mencionado nas Escrituras, suas ações falam mais alto do que qualquer palavra, demonstrando a importância do silêncio, do trabalho árduo e da confiança inabalável no Senhor.

A MISSÃO DE SÃO JOSÉ SEGUNDO AS ESCRITURAS

São José aparece nos Evangelhos de Mateus e Lucas, onde é descrito como um homem justo. A Bíblia nos revela que ele era descendente de Davi, cumprindo assim a profecia de que o Messias viria dessa linhagem:

“Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo.” (Mateus 1,16)

José estava prometido em casamento a Maria quando descobriu que ela estava grávida. No entanto, ao invés de expô-la publicamente, pensou em deixá-la secretamente, demonstrando sua compaixão e retidão. Foi então que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonho e lhe disse:

“José, filho de Davi, não temas receber Maria como tua esposa, porque o que nela foi gerado vem do Espírito Santo.” (Mateus 1,20)

Diante dessa revelação, José não hesitou e aceitou sua missão com fé e coragem. Ele acolheu Maria e cuidou de Jesus como seu próprio filho, assumindo o papel de protetor da Sagrada Família.

A FUGA PARA O EGITO E O CUMPRIMENTO DA PROMESSA DIVINA

Logo após o nascimento de Jesus, José recebeu outro aviso celestial. O rei Herodes, temendo perder seu trono, ordenou a matança de todos os meninos de até dois anos em Belém. Mais uma vez, José foi instruído por um anjo a proteger sua família:

“Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito. Fica lá até que eu te avise, pois Herodes há de procurar o menino para o matar.” (Mateus 2,13)

Obediente, José partiu imediatamente, garantindo a segurança do Salvador do mundo. Sua prontidão e fidelidade à vontade divina demonstram sua grandeza como homem de Deus.

A VIDA OCULTA EM NAZARÉ

ÍCONE DE SÃO JOSÉ AMAZÔNICO por MANOEL NERYS

Após a morte de Herodes, José foi novamente guiado pelo anjo do Senhor para retornar a Israel. Estabeleceu-se em Nazaré, onde Jesus cresceu em sabedoria e graça. Embora a Bíblia não entre em detalhes sobre essa fase da vida de José, sabe-se que ele foi um carpinteiro dedicado, ensinando seu ofício a Jesus e provendo para sua família com dignidade.

“Não é este o filho do carpinteiro?” (Mateus 13,55)

A vida simples de José é um testemunho do valor do trabalho honesto e da importância da família. Ele nos ensina que a santidade pode ser vivida no dia a dia, através da dedicação e do amor ao próximo.

O EXEMPLO DE SÃO JOSÉ PARA OS CRISTÃOS

São José é um modelo para todos os cristãos, especialmente para os pais e trabalhadores. Sua fé inabalável, sua prontidão em obedecer a Deus e seu amor pela família fazem dele um exemplo de virtude. Mesmo sem palavras registradas na Bíblia, sua vida é um sermão de entrega total a Deus.

Na tradição católica, ele é invocado como o padroeiro dos trabalhadores, das famílias e da Igreja Universal. O Papa Francisco, grande devoto de São José, frequentemente destaca sua importância e nos convida a seguir seu exemplo de humildade e confiança em Deus.

O Papa Francisco tem uma grande devoção por São José e frequentemente destaca sua importância na Igreja e na vida dos cristãos. Ele até declarou o Ano de São José (de 8 de dezembro de 2020 a 8 de dezembro de 2021) para celebrar os 150 anos do decreto que o proclamou Padroeiro da Igreja Universal. Além disso, escreveu a carta apostólica Patris Corde (“Com Coração de Pai”), onde reflete sobre o papel de São José na história da salvação.

Principais ensinamentos do Papa Francisco sobre São José:

  1. Pai amoroso e terno
    O Papa enfatiza que São José amou Jesus com um coração de pai, ensinando-lhe valores e cuidando dele com dedicação. Ele o chama de um modelo de ternura e misericórdia.
  2. Exemplo de obediência e fé
    Francisco destaca como José escutava a voz de Deus e obedecia sem hesitação, mesmo diante das dificuldades, como a fuga para o Egito. Ele nos ensina a confiar na providência divina.
  3. Padroeiro dos trabalhadores
    São José é um exemplo para todos os trabalhadores. O Papa sempre menciona a dignidade do trabalho e como José, sendo carpinteiro, sustentou sua família com esforço e honestidade.
  4. O Santo do silêncio e da humildade
    Francisco admira o silêncio de São José. Mesmo sem palavras registradas na Bíblia, suas ações falam alto e mostram a importância da humildade e da escuta atenta a Deus.
  5. Protetor dos fracos e necessitados
    José acolheu Maria e Jesus, protegendo-os com coragem. O Papa vê nele um modelo de cuidado com os vulneráveis, como os refugiados, órfãos e os que sofrem injustiças.
  6. Intercessor nas dificuldades
    O Papa incentiva os fiéis a recorrerem a São José em momentos de necessidade. Ele revelou que sempre tem em sua mesa de trabalho uma imagem de São José dormindo, e coloca bilhetes com pedidos de oração debaixo dela.

Frases do Papa Francisco sobre São José:

  • “Todos podem encontrar em São José um intercessor, um apoio e um guia nos momentos de dificuldade.”
  • “A felicidade de José não está na lógica do sacrifício de si mesmo, mas no dom de si mesmo.”
  • “José nos ensina que ter fé em Deus inclui acreditar que Ele pode agir através de nossos medos, nossas fragilidades, nossas fraquezas.”

O Papa Francisco convida os cristãos a imitarem São José, confiando na providência de Deus e vivendo com humildade, amor e dedicação ao próximo.

CONCLUSÃO

São José nos ensina que a verdadeira grandeza está em servir. Ele foi escolhido para uma das missões mais importantes da história da salvação e cumpriu seu papel com dedicação e amor. Seu silêncio não foi omissão, mas sim um testemunho eloquente de que a obediência a Deus vale mais do que palavras.

Que possamos aprender com ele a confiar plenamente nos desígnios divinos e a buscar a santidade em nossas vidas cotidianas. São José, rogai por nós!

https://espacoorante.piasdiscipulas.org.br/post/3956

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025 E QUARESMA: UM CHAMADO URGENTE À CONVERSÃO E AO CUIDADO COM A CRIAÇÃO

A Quaresma é um período de 40 dias que antecede a Páscoa, começando na Quarta-feira de Cinzas e terminando na Quinta-feira Santa. Em 2025, a Quaresma ocorre de 5 de março a 17 de abril. Este tempo é dedicado à reflexão, penitência e conversão, preparando os fiéis para celebrar a ressurreição de Cristo.

No Brasil, a Campanha da Fraternidade é realizada anualmente durante a Quaresma pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Em 2025, o tema escolhido é “Fraternidade e Ecologia Integral“, com o lema “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31) (Fonte: cnbb.org.br). Esta campanha convida à reflexão sobre a urgência de cuidar da nossa Casa Comum, promovendo uma ecologia integral que conecta a fé cristã com a responsabilidade socioambiental.

A Campanha da Fraternidade 2025 destaca a Ecologia Integral como um chamado ao cuidado com a criação, unindo dimensões ambientais, sociais e espirituais. O lançamento da campanha ocorreu em Brasília, na Quarta-feira de Cinzas, precedido por uma missa presidida pelo bispo auxiliar de Brasília e secretário-geral da CNBB, Dom Ricardo Hoepers.

Durante a Quaresma, os fiéis são convidados a intensificar a oração, o jejum e a caridade, buscando uma verdadeira conversão do coração. A Campanha da Fraternidade 2025 reforça essa vivência ao chamar a atenção para a necessidade de uma conversão ecológica, promovendo ações concretas em prol da preservação ambiental e da justiça social.

Que esta Quaresma e a Campanha da Fraternidade 2025 nos inspirem a cuidar do meio ambiente e a promover uma ecologia integral, reconhecendo a bondade da criação divina e nossa responsabilidade em preservá-la para as futuras gerações.

Fontes:

CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB). Campanha da Fraternidade 2025: Conheça o tema, a identidade visual e a oração. 2024. Disponível em: https://www.cnbb.org.br/campanha-da-fraternidade-2025-conheca-o-tema-a-identidade-visual-e-a-oracao. Acesso em: 14 mar. 2025.

ANEC – ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CATÓLICA DO BRASIL. Campanha da Fraternidade 2025. 2024. Disponível em: https://anec.org.br/acao/campanha-da-fraternidade-2025. Acesso em: 14 mar. 2025.

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS (PUC-CAMPINAS). CNBB lança a Campanha da Fraternidade 2025. 2024. Disponível em: https://www.puc-campinas.edu.br/cnbb-lanca-a-campanha-da-fraternidade-2025. Acesso em: 14 mar. 2025.

Por que não se usam flores na Quaresma?

A Quaresma é um período de preparação para a Páscoa, marcado pelo jejum, oração e penitência. Durante esses 40 dias, a Igreja Católica adota um tom de sobriedade, refletindo sobre o sacrifício de Cristo e convidando os fiéis à conversão. Como parte desse espírito de recolhimento, uma das tradições litúrgicas é a ausência de flores nos altares e nos espaços sagrados.

As flores são símbolos de alegria, beleza e celebração. Seu uso é comum em momentos festivos da Igreja, como o Natal e a Páscoa, quando representam a vida, a renovação e a glória de Deus. No entanto, durante a Quaresma, a Igreja propõe um ambiente mais austero. A retirada das flores, assim como a suspensão do canto do “Glória” e do “Aleluia”, ajuda a criar um clima de introspecção e penitência.

Há, contudo, algumas exceções a essa norma. No Quarto Domingo da Quaresma, chamado “Domingo Laetare” (que significa “Alegra-te”), a Igreja permite um alívio na austeridade litúrgica, podendo haver um uso moderado de flores para indicar a proximidade da alegria pascal. Além disso, em solenidades que possam coincidir com o período quaresmal, como a Anunciação do Senhor, o uso de flores pode ser permitido.

Como decorar a Igreja na Quaresma?

Mesmo sem flores, a Igreja pode ser decorada de forma simples e coerente com o espírito quaresmal. Algumas sugestões incluem:

  • Uso de tecidos roxos, cor litúrgica da Quaresma;
  • Arranjos com ramos secos ou galhos sem folhas, simbolizando o deserto e a penitência;
  • Iluminação mais suave para criar um ambiente propício à oração e reflexão.
  • Propiciar o ambiente silencioso, como convite para oração e encontro profundo com o Senhor.

A ausência de flores na Quaresma não significa tristeza, mas sim um convite ao recolhimento e à reflexão sobre a nossa caminhada de fé. É um tempo de preparação para a grande festa da Páscoa, quando os templos se enchem novamente de cores e flores para celebrar a vitória de Cristo sobre a morte.

A Quaresma com os Padres da Igreja

* Por Padre José Raimundo dos Santos

Neste Primeiro Domingo da Quaresma, muitas Comunidades viverão o início do Segundo Tempo do Catecumenato, o Tempo da Purificação e Iluminação com a Celebração da Eleição ou inscrição do Nome. A Igreja conhece o belo caminho catecumenal de Agostinho de Hipona e propõe na Liturgia das Horas um texto de sua autoria, fruto de seu processo de conversão e do seu coração assimilado ao de Cristo.

Agostinho nasceu em 13 de novembro de 354 em Tagaste, na África, atual Algéria. Ele foi educado por sua mãe Mônica na fé católica, mas não seguiu seu exemplo. Contudo, ela exerceu uma grande influência sobre seu filho e o educou na fé cristã. Agostinho também recebeu sal como sinal de sua aceitação no catecumenato. E ele sempre foi fascinado pela figura de Jesus Cristo; de fato, ele diz que sempre amou Jesus, mas que se afastou cada vez mais da fé eclesial, da prática eclesial, como também acontece hoje com muitos jovens e adultos.

Adolescente animado, espirituoso e exuberante, dedicou-se ao estudo da retórica e seu desempenho foi excelente. Ele ama a vida e seus prazeres, cultiva amizades, persegue amores voluptuosos, adora o teatro e busca diversão e recreação. Depois de seus primeiros estudos em Tagaste e Madaura, ele continuou seu treinamento como retórico, graças ao apoio financeiro de um amigo de seu pai, em Cartago, onde se apaixonou por uma moça. Como ela era de um nível inferior ao seu, ele só pôde torná-la sua concubina, legalmente era impedido de casar-se comela. O fruto desse relacionamento é Adeodato. Agostinho, pai com apenas 19 anos, permanece fiel a essa mulher e assume a responsabilidade de chefe “familiar”. Mas a leitura do livro Hortensius, de Cícero, muda sua maneira de ver as coisas. A felicidade, escreve o grande orador, consiste nos bens que não perecem: sabedoria, verdade, virtude. Agostinho decide, então, ir em busca deles e consagrar-se à pesquisa da Filosofia.

Após sua conversão e Batismo, Agostinho, retornando à África em 388, levou uma vida de retiro por três anos na casa de seu pai em Tagaste, junto com seus amigos, lançando as bases do que mais tarde se tornaria seu estilo de vida religioso específico. Tornando-se sacerdote em 391 e bispo em 395, dedicou toda a sua vida à busca de Deus e a uma intensa atividade pastoral, estabelecendo comunidades religiosas de homens e mulheres, leigos e sacerdotes.

O texto seguinte é do período em que ele era bispo e medita os Salmos com o Povo de Deus.

Comentários sobre os Salmos, de Santo Agostinho, (Ps 60, 2-3:CCL39,766).

No Cristo fomos tentados e nele vencemos o demônio

Ouvi, ó Deus, a minha súplica, atendei a minha oração (Sl 60,2). Quem é que fala assim? Parece ser um só: Dos confins da terra a vós eu clamo, e em mim o coração já desfalece (Sl 60,3). Então já não é um só, e, contudo, é somente um, porque o Cristo, de quem todos somos membros, é um só. Como pode um único homem clamar dos confins da terra? Quem clama dos confins da terra é aquela herança a respeito da qual foi dito ao próprio Filho: Pede-me e te darei as nações como herança e os confins da terra por domínio (Sl 2,8).

Portanto, é esse domínio de Cristo, essa herança de Cristo, esse corpo de Cristo, essa Igreja de Cristo, essa unidade que somos nós, que clama dos confins da terra. E o que clama? O que eu disse acima: Ouvi, ó Deus, a minha súplica, atendei a minha oração; dos confins da terra a vós eu clamo. Sim, clamei a vós dos confins da terra, isto é, de toda parte.

Mas por que clamei? Porque em mim o coração já desfalece. Revela com estas palavras que ele está presente a todos os povos no mundo inteiro, não rodeado de grande glória, mas no meio de grandes tentações. Com efeito, nossa vida, enquanto somos peregrinos neste mundo, não pode estar livre de tentações, pois é através delas que se realiza nosso progresso e ninguém pode conhecer-se a si mesmo sem ter sido tentado. Ninguém pode vencer sem ter combatido, nem pode combater se não tiver inimigo e tentações.

Aquele que clama dos confins da terra está angustiado, mas não está abandonado. Porque foi a nós mesmos, que somos o seu corpo, que o Senhor quis prefigurar em seu próprio corpo, no qual já morreu, ressuscitou e subiu ao céu, para que os membros tenham a certeza de chegar também aonde a cabeça os precedeu.

Portanto, o Senhor nos representou em sua pessoa quando quis ser tentado por Satanás. Líamos há pouco no Evangelho que nosso Senhor Jesus Cristo foi tentado pelo demônio no deserto. De fato, Cristo foi tentado pelo demônio. Mas em Cristo também tu eras tentado, porque ele assumiu a tua condição humana, para te dar a sua salvação; assumiu a tua morte, para te dar a sua vida; assumiu os teus ultrajes, para te dar a sua glória; por conseguinte, assumiu as tuas tentações, para te dar a sua vitória.

Se nele fomos tentados, nele também vencemos o demônio. Consideras que o Cristo foi tentado e não consideras que ele venceu? Reconhece-te nele em sua tentação, reconhece-te nele em sua vitória. O Senhor poderia impedir o demônio de aproximar-se dele; mas, se não fosse tentado, não te daria o exemplo de como vencer na tentação”.


A Igreja começando hoje o Sacramento da Quaresma seu caminho para a Páscoa, contempla o Cristo em oração e jejum, sendo ao mesmo tempo tentado pelo enganador. Em Cristo, a Comunidade cristã descobre a si mesma em todas as tribulações de sua existência desde o princípio. Enquanto Cristo faz os maiores esforços para estar perto de Deus, quem parece mais presente é o maligno, com os problemas diários de subsistência, dinheiro e poder. Não parece um pouco com o nosso itinerário humano?

A situação paradoxal de Cristo sendo tentado expressa também a situação da Igreja, de cada ser humano, da vida humana em geral, que pode ser considerada a grande. tação. Cristo não foge à luta, à tentação da vida com pessimismo resignado, mas com uma confiança inabalável em Deus, que se faz presente entre os homens para que aprendam a dar sentido à sua existência. E a vida é aceita em seu significado insondável, entregando-a a Deus, de quem ela procede e para quem é dirigida.

Assim a vida humana é investida por uma nova luz, por uma nova dimensão, a da fé. Nessa perspectiva, a vida é entendida como liturgia, isto é, como serviço a Deus, e como “Eucaristia”, e, portanto, como oferenda de louvor. Agostinho escreve: “O cristão percebe a vida não tanto como o aspecto da tentação, mas sim como o resultado positivo dessa situação, isto é, Cristo que vence.”

Desde os confins da terra clamo a ti, enquanto meu coração está angustiado” (Sl 60,2).

  1. Você compreende a tentação como oportunidade de avaliação do seu progresso peregrinante na fé?
  2. Você sente em você a tendência de se reconhecer na vitória de Cristo sobre a tentação? 
  3. Para interiorizar: Cristo assumiu a tua morte, para te dar a sua vida; assumiu os teus ultrajes, para te dar a sua glória; assumiu as tuas tentações, para te dar a sua vitória.

Pe. José Raimundo dos Santos

*Padre José Raimundo dos Santos é presbítero da Diocese de Amargosa-BA. É Mestre e Doutorando em Teologia e Ciências Patrísticas Pelo Pontifício Instituto Patrístico Agostiniano de Roma. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição em Castro Alves/BA.

ARTE FLORAL NA LITURGIA: O SIGNIFICADO DAS FLORES

Por Ir. Cidinha Batista, pddm
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As flores sempre estiveram presentes nos momentos mais marcantes da vida humana. Desde tempos imemoriais, elas simbolizam alegria, celebração e beleza. Seja em ocasiões festivas, cerimônias religiosas ou momentos de luto, as flores desempenham um papel essencial na expressão de sentimentos e emoções.

Na tradição bíblica, as flores são frequentemente mencionadas como símbolos da efemeridade da vida e da graça divina. São João da Cruz as via como representações das virtudes da alma, enquanto o ramalhete simbolizava a plenitude espiritual. A infância e a pureza são também associadas às flores, remetendo, de certa forma, ao Paraíso.

No entanto, devido à sua delicadeza, as flores também podem representar a transitoriedade da existência e a fugacidade da beleza terrena. Isso pode ser observado nos túmulos do cristianismo primitivo, frequentemente situados em jardins e adornados com flores frescas e gravuras florais, evocando a imagem de um paraíso repleto de vida. Inscrições tumulares e mosaicos costumam exibir coroas e cestos floridos, além da icônica figura da pomba segurando uma flor no bico.

A natureza efêmera das flores é especialmente evidente na Palestina, onde, após as chuvas de inverno, o solo árido se transforma em um vasto tapete colorido de flores silvestres. Contudo, essa exuberância dura pouco, já que as flores murcham rapidamente em poucos dias. As Escrituras fazem menção a essa efemeridade, associando-a à fragilidade humana (Sl 103,15-16; Jó 14,2; Is 40,6-8).

A ARTE FLORAL NA LITURGIA

A arte floral aplicada à liturgia deve refletir o Mistério Pascal e expressar a alegria da Ressurreição. A celebração pascal é perene e sempre traz consigo a novidade da criação. Assim, a fragilidade da flor pode simbolizar a força que se manifesta na simplicidade. Um arranjo floral, cuidadosamente planejado, é capaz de traduzir esse mistério profundo.

As flores possuem um papel fundamental na estética litúrgica, não apenas como meros adornos, mas como elementos que enriquecem e comunicam o sentido das celebrações. Elas não devem ser vistas apenas como enfeites decorativos, mas como participantes da linguagem litúrgica, contribuindo para a harmonia do espaço sagrado. O Bispo Auxiliar de Paris, Albert Rouet, ressalta que a liturgia é uma experiência integral, onde iluminação, música, cores, ornamentos e outros elementos sensoriais colaboram para a plena imersão na Palavra de Deus.

Um arranjo floral bem elaborado pode elevar a beleza das celebrações, conduzindo os fiéis a uma maior comunhão com Deus, que é a suprema Beleza. Santo Agostinho já afirmava que Deus é “a beleza de todas as belezas”.

ORIENTAÇÕES PARA A UTILIZAÇÃO DE FLORES NA LITURGIA

Segundo Jeanne Emard, as flores e plantas enriquecem o ambiente litúrgico, mas seu uso deve ser supervisionado por aqueles que compreendem a arte e a ambientação na comunidade. Não se trata apenas de encher o espaço de flores, mas de posicioná-las estrategicamente para contribuir com a harmonia do ambiente e destacar os elementos essenciais do culto.

Dessa forma, algumas diretrizes devem ser seguidas:

  • Evitar obstruções visuais e movimentação litúrgica: Os arranjos não devem bloquear a visibilidade dos fiéis nem atrapalhar a dinâmica das celebrações. O altar, por exemplo, não deve ser sobrecarregado com flores, pois sua importância central já é suficiente para captar a atenção.
  • Uso de elementos naturais: O princípio da autenticidade deve ser respeitado. Flores artificiais não são recomendadas, pois não refletem a vida e a renovação, que são aspectos fundamentais da mensagem cristã.
  • Simplicidade e equilíbrio: A exuberância excessiva pode desviar a atenção dos elementos principais da liturgia. Os arranjos devem ser equilibrados e permitir que cada flor respire e seja apreciada em sua individualidade.

PRINCÍPIOS DA VIVIFICAÇÃO FLORAL (ESCOLA SANGUETSU)

A técnica de vivificação floral, difundida pela Escola Sanguetsu, propõe uma abordagem artística e contemplativa na composição dos arranjos. Alguns princípios fundamentais são:

  1. Naturalidade: As flores devem ser valorizadas em sua essência, sem forçar formas ou posições artificiais. É essencial respeitar a natureza de cada espécie e priorizar flores da estação.
  2. Precisão no corte: O corte dos caules deve ser feito com exatidão, garantindo a melhor absorção da água e harmonizando cada ramo com o vaso.
  3. Expressividade artística: Arranjar flores deve ser como pintar um quadro, onde cada elemento contribui para uma composição equilibrada e expressiva.
  4. Harmonia entre flor, vaso e ambiente: O arranjo deve estar em sintonia com o espaço em que será inserido, criando uma unidade estética.
  5. Alegria na composição: A vivificação floral deve ser feita com alegria, pois essa energia se transmite a quem observa e participa da experiência litúrgica.

ASPECTOS PRÁTICOS PARA A MONTAGEM DOS ARRANJOS

Para obter um arranjo litúrgico harmonioso, alguns cuidados básicos são recomendados:

  • Escolher os galhos mais bonitos e valorizá-los no arranjo.
  • Selecionar um ramo principal que expresse movimento e graça.
  • Utilizar linhas complementares para reforçar a harmonia visual.
  • Dispor flores abertas e de cores fortes na parte inferior, enquanto as flores em botão ou de tons suaves podem ficar mais altas.
  • Preencher espaços vazios com discrição, utilizando folhagens e flores menores.
  • Manter as folhas fora da água para evitar deterioração precoce.
  • Cortar os caules submersos em água, garantindo uma melhor absorção hídrica e prolongando a durabilidade do arranjo.

CONCLUSÃO

A arte floral a serviço da liturgia é um convite à contemplação e à celebração da beleza divina. Ela transcende a estética e se torna um meio de comunicação simbólica, expressando os mistérios da fé cristã. Os arranjos florais devem ser concebidos com sensibilidade e respeito ao ambiente sagrado, colaborando para que a liturgia seja uma experiência profunda e transformadora.

Quando bem planejados, os arranjos florais não apenas embelezam o espaço, mas também elevam a alma dos fiéis, conduzindo-os a um encontro mais íntimo com o Criador. O uso de flores na liturgia é, portanto, uma arte sagrada, que une a criação divina ao louvor humano.

Referências:

  • EMARD, Jeanne. A arte floral a serviço da liturgia. São Paulo: Paulinas, 1999.
  • Dicionário dos Símbolos. São Paulo: Paulus, 1994.
  • Dicionário Bíblico. São Paulo: Ed. Paulinas, 1983.

SUPERANDO AS TENTAÇÕES: O CAMINHO ESPIRITUAL DA QUARESMA COM JESUS

Reflexão para o 1º Domingo da Quaresma – Ano C

A Quaresma se inicia como um tempo forte de conversão, penitência e aprofundamento na fé. Neste 1º Domingo da Quaresma, a Liturgia da Palavra nos convida a confiar na providência divina e a resistir às tentações do mal, seguindo o exemplo de Cristo.

A primeira leitura (Dt 26,4-10) nos leva ao reconhecimento da história da salvação. O povo de Israel relembra sua escravidão no Egito e a libertação operada por Deus. Essa passagem nos ensina a gratidão e a memória dos feitos do Senhor, que nunca abandona os seus filhos. Assim como os israelitas, somos chamados a apresentar nossas ofertas e a reconhecer as maravilhas de Deus em nossa vida.

O Salmo 90(91) proclama a confiança naquele que se refugia no Senhor. “Estarei com ele na tribulação”, diz o refrão, reafirmando que, mesmo diante das provações, Deus é nosso amparo e proteção. Essa certeza nos fortalece para enfrentar os desafios da vida sem temer o mal.

Na segunda leitura (Rm 10,8-13), Paulo nos recorda que a salvação está ao alcance de todos. Confessar com a boca e crer com o coração são atitudes fundamentais para nos unirmos a Cristo. Esse ensinamento nos convida a viver uma fé autêntica e confiante, sem distinção entre povos ou condições sociais, pois “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”.

O Evangelho (Lc 4,1-13) apresenta as três tentações de Jesus no deserto. O diabo tenta desviá-lo de sua missão, oferecendo-lhe alimento, poder e glória. Contudo, Jesus responde a cada tentação com a Palavra de Deus, mostrando-nos o caminho para superar as seduções do mundo. Este episódio nos ensina que a fidelidade a Deus e a força da oração são essenciais para vencer as provações.

Neste início da Quaresma, somos chamados a refletir sobre nossas próprias tentações e a buscar força na oração e na confiança em Deus. Que este tempo seja uma oportunidade para renovar nossa fé, reconhecer nossa dependência de Deus e trilhar o caminho da conversão com coragem e esperança.

Que o Espírito Santo nos conduza neste deserto espiritual e nos fortaleça na luta contra o mal, para que possamos celebrar, com coração renovado, a Páscoa do Senhor.

Veja neste link as sugestões para os cantos litúrgicos para a Celebração Eucarística deste 1º Domingo da Quaresma, ano C, disponibilizado pela Arquidiocese de Goiânia. Já vem com as cifras, partituras e áudio no Youtube para aprendizagem.

R. Em minhas dores, ó Senhor, permanecei junto de mim!

1 Quem habita ao abrigo do Altíssimo *
e vive à sombra do Senhor onipotente,

2 diz ao Senhor: “Sois meu refúgio e proteção, *
sois o meu Deus, no qual confio inteiramente”. R.

10 Nenhum mal há de chegar perto de ti, *
nem a desgraça baterá à tua porta;

11 pois o Senhor deu uma ordem a seus anjos *
para em todos os caminhos te guardarem. R.

12 Haverão de te levar em suas mãos, *
para o teu pé não se ferir nalguma pedra.

13 Passarás por sobre cobras e serpentes, *
pisarás sobre leões e outras feras. R.

14 “Porque a mim se confiou, hei de livrá-lo *
e protegê-lo, pois meu nome ele conhece.

15 Ao invocar-me hei de ouvi-lo e atendê-lo, *
e a seu lado eu estarei em suas dores”. R.

DIA INTERNACIONAL DA MULHER: A VOZ DA IGREJA CATÓLICA SOBRE A PRESENÇA FEMININA

No Dia Internacional da Mulher, celebramos não apenas as conquistas e a força feminina, mas também refletimos sobre o papel da mulher na sociedade e na Igreja. Ao longo da história, a Igreja Católica tem se manifestado sobre a dignidade, a vocação e a importância das mulheres em diversos documentos oficiais. Confira abaixo um resumo de alguns desses importantes textos, que iluminam a missão feminina sob a luz da fé cristã.

  1. Gaudium et Spes (1965) – A Constituição Pastoral do Concílio Vaticano II traz uma visão abrangente sobre o papel da mulher na sociedade moderna. O documento destaca a igualdade de dignidade entre homens e mulheres e reforça os direitos femininos, promovendo o respeito e a valorização das mulheres em todos os âmbitos.
  2. Inter Mulieres Claras (1970) – Na Carta Apostólica do Papa Paulo VI, Santa Teresa de Ávila foi proclamada Doutora da Igreja. Este reconhecimento reafirma o valor da contribuição intelectual e espiritual das mulheres na teologia e na vida da Igreja.
  3. Mulieris Dignitatem (1988) – Carta Apostólica do Papa João Paulo II sobre a dignidade e a vocação da mulher. O documento destaca o “gênio feminino”, ressaltando o valor insubstituível das mulheres na família, na Igreja e na sociedade. João Paulo II reflete sobre o papel da mulher na história da salvação, inspirando-se especialmente em Maria, mãe de Jesus.
  4. Christifideles Laici (1988) – Este documento de João Paulo II fala sobre a vocação e a missão dos leigos na Igreja e no mundo, sublinhando a relevância da contribuição feminina. O Papa encoraja as mulheres a atuarem ativamente na evangelização e no serviço à comunidade.
  5. Carta às Mulheres (1995) – Também escrita pelo Papa João Paulo II, esta carta expressa gratidão e reconhecimento pelo papel das mulheres em todos os campos da vida humana. O Papa agradece às mães, esposas, filhas, irmãs, trabalhadoras, consagradas e mulheres de todas as vocações, exaltando seu valor e contribuição.
  6. Verbum Domini (2010) – Na Exortação Apostólica do Papa Bento XVI, é destacada a importância das mulheres no anúncio da Palavra de Deus e na transmissão da fé. O Papa Bento XVI valoriza o papel das mulheres na evangelização e no testemunho cristão, especialmente como catequistas e educadoras da fé.
  7. Evangelii Gaudium (2013) – Na Exortação Apostólica do Papa Francisco, é reforçada a importância da presença feminina na vida eclesial. O Papa destaca a necessidade de uma maior participação das mulheres em posições de liderança e responsabilidade na Igreja, respeitando a sua dignidade e carismas.
  8. Querida Amazonia (2020) – Nesta Exortação Apostólica Pós-Sinodal, o Papa Francisco destaca o papel essencial das mulheres na região amazônica e na Igreja. Ele enfatiza a necessidade de ampliar os espaços para uma participação feminina mais incisiva na Igreja, especialmente em áreas de liderança e decisão pastoral.
  9. Praedicate Evangelium (2022) – A Constituição Apostólica sobre a Cúria Romana, promulgada pelo Papa Francisco, permite que leigos, incluindo mulheres, possam ocupar cargos de governo e chefia na Cúria. Essa mudança reforça a importância da colaboração feminina em posições de destaque na estrutura da Igreja.

Neste Dia Internacional da Mulher, ao celebrarmos as muitas conquistas das mulheres, também recordamos o reconhecimento da Igreja Católica à importância feminina. Que o exemplo de Maria e das santas mulheres, somado à reflexão desses documentos, nos inspire a promover uma sociedade mais justa, inclusiva e cheia de amor.

Parabéns a todas as mulheres! Que Deus abençoe e fortaleça cada uma de vocês!

Referências Bibliográficas

CONCÍLIO VATICANO II. Gaudium et Spes: Constituição Pastoral sobre a Igreja no Mundo Atual. 1965.

PAULO VI. Inter Mulieres Claras: Carta Apostólica. 1970.

JOÃO PAULO II. Mulieris Dignitatem: Carta Apostólica sobre a dignidade e a vocação da mulher. 1988.

JOÃO PAULO II. Christifideles Laici: Exortação Apostólica sobre a vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo. 1988.

JOÃO PAULO II. Carta às Mulheres. 1995.

BENTO XVI. Verbum Domini: Exortação Apostólica sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja. 2010.

FRANCISCO. Evangelii Gaudium: Exortação Apostólica sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. 2013.

FRANCISCO. Querida Amazonia: Exortação Apostólica Pós-Sinodal sobre a Amazônia. 2020.

FRANCISCO. Praedicate Evangelium: Constituição Apostólica sobre a Cúria Romana. 2022.

MISTAGOGIA NO TEMPO DA QUARESMA: UM CAMINHO DE CONVERSÃO E RENOVAÇÃO ESPIRITUAL

Por Ir. Veronice Fernandes, pddm

O texto abaixo “Mistagogia no Tempo da Quaresma” foi escrito pela Ir. Veronice Fernandes, pddm, e é uma reflexão profunda e prática destinada a guiar os fiéis durante o período quaresmal, desde a Quarta-feira de Cinzas até o Domingo de Ramos e da Paixão. Este material propõe um exercício espiritual que une preparação, participação e reflexão, oferecendo um caminho de conversão e crescimento na fé.

Durante a Quaresma, a Igreja nos convida a vivenciar o jejum, a oração e a esmola como práticas essenciais para a liberdade espiritual, a unificação do coração e a solidariedade concreta. Através da escuta da Palavra, das celebrações litúrgicas e de uma atitude constante de penitência e conversão, os cristãos são chamados a seguir os passos de Jesus rumo à Páscoa.

A proposta mistagógica vai além das celebrações, convidando cada fiel a recordar os ritos, refletir sobre sua experiência espiritual e permitir que o Espírito Santo conduza a oração interior. A inspiração das catequeses de Cirilo de Jerusalém ressalta o valor da iniciação cristã e da participação ativa nos sacramentos.

Este exercício espiritual é um convite para transformar a fé em caridade, promovendo ações concretas de solidariedade e justiça. Com um olhar atento à misericórdia de Deus e à renovação das promessas batismais, a Mistagogia no Tempo da Quaresma busca preparar os fiéis para a vivência plena do mistério pascal.

QUARESMA: RECEBER O PERFUME DAS NOSSAS CINZAS

“Quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto…” (Mt 6,17)

Na Quarta-feira, dia 05/02/2025, iniciaremos o Tempo da Quaresma. E começamos este período recebendo as cinzas. A Quaresma é um tempo favorável para “ordenar a própria vida” de acordo com o sonho de Deus para a humanidade. Este período litúrgico nos convida a refletir sobre nossas relações mais profundas: com Deus, com os outros, com o mundo e conosco mesmos. A partir das práticas quaresmais da oração, esmola e jejum, somos chamados a analisar e questionar o modo como nos relacionamos, guiados pelo exemplo de Jesus.

Esses três gestos — oração, esmola e jejum — são essenciais para vivermos de forma plena e fecunda a Quaresma. Eles não apenas humanizam, mas também tornam a vida mais leve e cheia de sentido. Eles condensam o propósito da vida cristã: abrir-se aos outros (esmola), mergulhar no mistério de Deus (oração) e ordenar a própria existência (jejum).

É essencial criar um espaço novo no coração e na mente, permitindo que algo novo aconteça dentro de nós. Vividos a partir da identificação com Cristo, esses valores ajudam a esvaziar o “ego” e nos aproximam dos pobres e excluídos. Eles nos convidam à compaixão, à misericórdia, ao exercício do bem, ao acolhimento, ao perdão gratuito e ao cuidado com o que nos cerca. O verdadeiro espírito da Quaresma é deixar que o amor circule em nós e no mundo, gerando vida em abundância. Este não é um gesto pontual, mas um “modo de proceder” permanente, que deve se estender além do período quaresmal.

Quaresmas que Acontecem “Fora do Tempo”

A vida nos traz “quaresmas” em momentos inesperados, que não escolhem datas no calendário. São as quaresmas que chegam quando enfrentamos doenças, crises, rupturas ou lutos. Essas situações nos forçam a atravessar momentos difíceis, mas também nos ensinam sobre nossa limitação, fragilidade e pecado.

Ao recebermos as cinzas na Quarta-feira de Cinzas, não estamos realizando um gesto de tristeza ou derrotismo. Pelo contrário, estamos fazendo uma profissão de fé na força da esperança. Mesmo diante das dificuldades, há uma potência interior que nos permite recomeçar, perdoar, confiar novamente nas pessoas e seguir o caminho da vida com renovada energia. As cinzas, simbolizando a fragilidade da vida humana, não são um fim, mas um convite à renovação e à conversão.

O Valor das Nossas Cinzas

As cinzas que recebemos têm significados diferentes, dependendo de sua origem. Elas podem simbolizar a perda e a destruição, como as cinzas de uma casa destruída pelo fogo, ou podem representar algo mais suave, como as cinzas de uma chaminé em um campo. As cinzas que carregamos sobre nossas cabeças são um lembrete da fragilidade humana: do que perdemos, do que desperdiçamos, do amor que não cultivamos, das indiferenças que alimentamos e dos sonhos que não deixamos florescer.

Mas, mesmo que carreguemos essas cicatrizes, há também um caminho novo diante de nós, uma oportunidade de transformação. As cinzas, no sentido bíblico, não representam destruição, mas sim força, espírito, vida, projeto e renovação. Elas são símbolos de esperança, ressurreição e conversão, tanto de nós mesmos quanto dos outros. A imposição das Cinzas é, assim, um convite à purificação, à renovação e à comunhão.

A Travessia Interior e a Graça de Deus

A finalidade da imposição das Cinzas e das práticas quaresmais (oração, jejum e esmola) é nos ajudar a realizar uma verdadeira “travessia interior”. Não se trata de apenas ajustar superficialmente nossa vida, mas de permitir que a Graça de Deus toque os recantos mais profundos de nosso ser. Jesus nos ensina que “o Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa” (Mt 6,18). Portanto, precisamos de tempos de silêncio, de espaços especiais, para criar um ambiente que favoreça o encontro verdadeiro com Deus.

Re-descobrir nosso lugar interior é um sinal de maturidade e sabedoria. Esse lugar não se refere ao reconhecimento social ou ao êxito externo, mas ao espaço íntimo onde a Graça de Deus tem liberdade para atuar. Nesse “escondido”, podemos encontrar a paz e a serenidade, e é a partir desse lugar que a transformação profunda começa.

A Mística do Encontro

A oração é um convite para entrar nesse “escondido”, onde encontramos a verdadeira essência de nosso ser e nos encontramos com Deus. Ela não é uma obrigação ou uma imposição, mas uma conversa íntima com o Autor da vida. Orar é buscar o centro, é agir a partir do nosso ser mais profundo, e não de influências externas.

A Quaresma nos oferece a chance de reavivar nossas práticas espirituais e transformar nosso coração. Devemos fazer do nosso coração um espaço de humildade e riqueza, de nossas mãos um gesto de ternura, e de nossos pés um desejo de proximidade e comunhão. Dessa forma, podemos ungir com o azeite da misericórdia e o vinho da fragilidade os feridos que encontramos em nosso caminho.

Reflexão para a Quaresma

Iniciamos este caminho quaresmal com a intenção de nos aproximarmos mais de Deus, buscando transformar nossos gestos em expressão de amor e misericórdia. A Quaresma é uma jornada que nos convida a ir além das camadas exteriores de nossa vida, para alcançar a verdade profunda e essencial que habita em nosso interior.

Que, ao longo deste tempo, possamos ser tocados pela Graça de Deus e encontrar, a cada dia, o verdadeiro significado de nossa caminhada de conversão e renovação.


QUARTA-FEIRA DE CINZAS, Ano C

Leituras:

Jl 2,12-18

Sl 50(51),3-4.5-6a.12-13.14 e 17 (R. cf. 3a)

2Cor 5,20-6,2

Mt 6,1-6.16-18


Campanha da Fraternidade 2025: Fraternidade e Ecologia Integral

No início da Quaresma, a Igreja Católica no Brasil dá início à tradicional Campanha da Fraternidade, um importante momento de reflexão e ação em prol da solidariedade e do bem comum. Em 2025, o tema escolhido para esta campanha é “Fraternidade e Ecologia Integral“, e o lema que norteia as ações e reflexões deste ano é retirado do livro de Gênesis: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31).

A proposta da Campanha da Fraternidade 2025 é convidar todos os fiéis e a sociedade em geral a refletirem sobre a relação entre a fraternidade humana e a preservação do meio ambiente. A escolha do tema busca destacar a importância de uma abordagem integrada da ecologia, que não só defende a preservação da natureza, mas também considera as dimensões sociais e culturais do cuidado com a criação. Este conceito de “Ecologia Integral” nos chama a atenção para a interdependência entre os seres humanos e o planeta, ressaltando que o bem-estar do ser humano está profundamente ligado ao cuidado com o ambiente em que vive.

A mensagem central da campanha é um convite à conversão ecológica, promovendo a conscientização sobre o impacto das nossas ações no planeta e chamando-nos a viver de forma mais responsável, solidária e harmoniosa com a criação divina. O lema “Deus viu que tudo era muito bom” nos recorda a visão positiva e criativa de Deus sobre o mundo, reforçando a beleza e a perfeição da criação, mas também a nossa responsabilidade em cuidar dela.

Neste tempo de Quaresma, a Igreja convida todos a refletirem sobre como suas escolhas diárias impactam o meio ambiente e a sociedade, estimulando ações concretas que promovam a justiça social, a paz e a preservação da Casa Comum. Que a Campanha da Fraternidade 2025 inspire um compromisso renovado com a vida, com a fraternidade e com a ecologia integral, fazendo com que, como cristãos, sejamos verdadeiros cuidadores da criação de Deus.