A voz das Mulheres nos Ministérios da Igreja-Diálogo Sinodal

Nestes dias, de 23 a 28 de junho, nós, Irmãs Pias Discípulas do Divino Mestre estamos vivendo a 26º Semana de Formação Intensiva no Jardim Divino Mestre, Cabreúva-SP.

Somos 26 irmãs, vindas de todas as comunidades do Brasil, acolhidas com a sororidade e o carinho da Comunidade do Jardim DM.

Iniciamos com a Celebração Eucarística na tarde deste domingo, presidida pelo Pe. Alberto Simionato que nos incentivou a aprender do Divino Mestre que nos forma com sua Palavra e sua vida. Após o jantar, Ir. Aparecida Batista, provincial, com as boas-vindas nos introduziu no tema da semana que viveremos em clima sinodal.

Com uma dinâmica interativa ao som de música e concentração, Ir. Juceli Aparecida Mesquita nos orientou e cada uma das irmãs teceu sua própria mandala e o conjunto delas enfeitou nossa sala de encontro.

Nosso primeiro dia foi orientado por Ir. Penha Carpanedo e Ir. Veronice Fernandes, com a participação remota de Ir. Regina Cesarato, de Roma, Itália. Nos adentramos no fundamento bíblico com o método da conversação espiritual.

Foi uma riqueza de conteúdos e de participação. Amanhã continuaremos nosso estudo e aprofundamento.

26ª Semana de Formação Intensiva

Além desta semana que acontece de 23 a 28 de junho, as Irmãs Pias Discípulas do Divino Mestre terão mais dois outros grupos: 07 a 12 de julho; e 04 a 09 de agosto de 2024.

A temática é a mesma para os três grupos formativos: A voz da mulher nos ministérios da Igreja – um diálogo sinodal. Este foi o tema do Congresso que aconteceu em Ariccia, Itália, na comemoração do Centenário da Congregação, de 28 de janeiro a 03 de fevereiro de 2024. Ir. Penha, Ir. Veronice e Ir. Laíde participaram deste importante evento e agora fazem o repasse para todas as irmãs da província.

O Congresso tinha como objetivo celebrar o Centenário da Fundação das Pias Discípulas do Divino Mestre, o aniversário de 60 anos da Sacrosanctum Concilium, a partir das Escrituras, do Concílio Vaticano II e do legado carismático do Bem-aventurado Tiago Alberione. Assim, foi proposto neste Congresso:

  • Ouvir, com atenção e respeito, a voz das mulheres em uma Igreja ministerial e missionária, em estilo sinodal e em diálogo com outras denominações cristãs;
  • Aprofundar o tema e a prática dos ministérios eclesiais, particularmente aqueles exercidos pelas mulheres na Igreja de ontem e de hoje, de acordo com contextos culturais específicos;
  • Iniciar processos transformadores e geradores que favoreçam escolhas corajosas para a missão dos Discípulos do Divino Mestre na vida da Igreja, na Família Paulina, em uma forma mais participativa e samaritana.

Na 26ª Semana de Formação Intensiva, as Irmãs Penha, Veronice e Laíde propuseram de usar o método da conversação espiritual, integrado com o método da Leitura Orante da Bíblia.

O MÉTODO DA CONVERSAÇÃO ESPIRITUAL

O método do diálogo sinodal é uma modalidade de diálogo. Mais que método é uma “Regra de conversação espiritual” [Regra de vida] que busca purificar o olhar e o coração com o máximo de participação para chegar ao discernimento espiritual.  Esta regra foi usada no sínodo. Aliás o sínodo não é um método. É da natureza da Igreja ser sinodal. Na Igreja não há nada mais sinodal do que a liturgia [fazer coletivo].

Esta Regra de vida não é o jeito de fazer funcionar melhor um processo mas despertar em nós a natureza do ser Igreja. A Regra da conversação espiritual, é uma espécie de “ginástica” que nos coloca no eixo. É exigente, é a passagem caminho estreito como no parto, para nascer em um lugar amplo.

Os participantes formam pequenos círculos de 5 a 8pessoas. Cada círculo será acompanhado por uma facilitadora que tem a função de vigilância sobre o andamento dos trabalhos com a participação de todas as pessoas do círculo.

Invocação do Espírito. Ele age quando o invocamos. Seguido de um tempo pessoal para organizar-nos interiormente.

Primeiro passo: faz-se um primeiro giro, na sequencia do circulo. Cada pessoa partilha um aspecto que seja importante, bonito, útil e necessário, a partir da minha condição batismal de discipula, mulher, não a partir da função que exerço. Os demais membros do círculo estão à escuta.

Silencio: Terminado o 1º giro seguem um ou dois minutos de silêncio, que faz parte do diálogo. Neste silêncio deixar ressoar o que tocou nas falas do primeiro giro. Não podemos falar nada da própria fala no  primeiro giro.

Segundo passo: Faz-se um segundo giro, ressoando o que ouviu nas outras falas. Não só repetir, mas ampliar: que imagem esta palavra despertou em mim, que movimento?  Se no grupo não ressoar a minha fala não é porque foi esquecida, mas porque não foi considerada importante neste momento.

Silêncio, dois minutos para iniciarmosa síntese, dentro de nós. Não é um resumo, onde nos preocupamos em juntar todas as falas. Dois critérios para saber se é uma passagem do Espírito. Primeiro: a insistência de um argumento em diferentes falas é um indicador da passagem do Espírito, Não vem só de uma pessoa. Segundo: a originalidade, no sentido de originário, do nosso ser como Igreja, do nosso carisma, do nosso ministério também é um indicador da passagem. Cada pessoa busca esta síntese e depois partilha.

O terceiro passo; não propriamente um giro. As pessoas partilham o que emergiu na sua síntese pessoal, e no círculo se discute à luz destes dois critérios para chegar a dois ou três núcleos. Discussão é energia, que reconhecendo a pessoa, pode discordar do seu argumento, até chegar ao consenso que o discernimento espiritual requer.  No círculo pode ter uma secretária que toma nota de tudo. A síntese se configura em dois ou três núcleos de significância espiritual,  que vem ao nosso encontro,  que não decidimos por nossa vontade e que acolhemos como dom do Espírito. A elaboração do texto final pode ser depois, mas é preciso que o círculo saia com o consenso sobre os núcleos que emergiram. [Se há uma posição A diferente da B ou se deixa perder ou devemos buscar uma posição C].

MÉTODO SINODAL E LEITURA ORANTE

Considerando que boa parte do nosso trabalho tem como ponto de partida leitura de textos biblicos, procuramos fazer uma articulação entre conversaão espiritual e os dois primeiros passos da leitua orante: leitura e meditação. Em certa medida, quando o ponto de partida é um texto biblico, a prmeira rodada no métoda conversação coincide com leitura, ao passo que a segunda coincide com a meditação. Nunca é demais lembrar em que consiste a leitura e meditação, no método da lectio divina.

Como já conhecemos e praticamos, a leitura é atenção às palavras, às imagens, às personagens, ações, sentimentos, atitudes. Importante: despojar-nos de todo saber sobre o texto.

Enquanto se lê, pode ser que um versículo ou uma palavra, chame a nossa atenção. Alessandro Borban[1] faz uma distinção entre “versículo de cabeça” e o “versículo de coração”. O “versículo de cabeça” é aquele filtrado pela nossa compreensão imediata, nossas memórias. Hoje em dia temos opinião sobre tudo. O versículo de “cabeça” coincide com o já dito, o já explicado, escutado, digamos, o lugar comum. O “versículo de coração”, é algo inédito, surpreendente, que não tínhamos percebido antes, ou não tínhamos percebido ainda desta maneira. O versículo do coração é um dom que requer uma qualidade na escuta: “atenção como escutais” [LC 8,18].

A meditação, segundo Alessandro, não é tempo de silêncio, nem exercício de ioga. Isso pode ser bom antes, para favorecer uma postura física correta e um acordo de paz no corpo.[2] Na meditação a escuta transforma-se em interpretação. Não uma interpretação, fundamentalista, mas um olhar que leva em conta o autor, o contexto, a questão vital a que o texto responde. Também não é necessariamente uma interpretação do texto em todas as direções ou em todos os seus aspectos. O ponto de partida da meditação é o “versículo do coração”, ou seja, aquela, palavra que nos atraiu como a sarça atraiu Moisés. À medida que nos aproximamos da Palavra como Moisés da sarça, outras palavras da Escritura quem venham enriquecer o nosso versículo, inicia-se um êxodo pessoal que “abre a inteligência das Escrituras [Lc 24,45]. Eis a importância dos textos paralelos ou memórias bíblicas, que se prolonga depois da lectio, mas durante toda a jornada, entre os afazeres cotidianos e compromisso, sempre à espera de faíscas emanadas do texto, verdadeiras intuições de sentido nunca antes entendido.  

Muito esclarecedor é o que diz Ivan Nicoletto citado por Alessandro Barban: “Começas a colocar tua atenção em uma palavra, em um versículo, em uma pericote e ela te introduz em outras salas, espalha-se por toda a bíblia, as literaturas, os grandes mitos e símbolos da humanidade, e depois envolve as interpretações e as experiências às quais aquelas imagens deram vida. Estende-se ao presente da tua vida, te eleva talvez ao coração inexaurível da energia criadora e amante”.[3]


[1] Cf. Alessandro Barban. O Caminho espiritual da lectio divina. No livro Como água da fonte: a espiritualidade monástica camaldolense entre memória e profecia. São Paulo Edições Loyola, 2009,p. 174.

[2] Cf Borban, p. 174-175

[3] Barban. p. 177:

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