Reflexão para o 4º Domingo do Advento — Ano A
21 de dezembro de 2025

Leituras: Is 7,10-14 | Sl 23(24),1-2.3-4ab.5-6 (R. 7c.10b) | Rm 1,1-7 | Mt 1,18-24

O quarto domingo do Advento coloca diante de nós uma das cenas mais silenciosas e mais revolucionárias da história da fé: o anúncio do nascimento de Jesus, visto pelos olhos de José. Aqui o Evangelho se faz íntimo, doméstico, tecido de afetos, dúvidas e escolhas que determinam o rumo do mundo. É o Advento já às portas do Natal, momento em que a liturgia concentra a atenção na delicadeza do Deus que se aproxima por caminhos inesperados.

As leituras deste domingo convidam a contemplar uma fé que se constrói na complexidade dos acontecimentos, das emoções, das relações e da própria vida. Não há nada simples na experiência espiritual: há camadas, tensões, contradições e silêncios que precisam ser acolhidos. A espiritualidade deste domingo é, portanto, uma espiritualidade da atenção sensível ao mistério que se esconde nas pequenas coisas.

O sinal improvável: “Uma virgem conceberá e dará à luz um filho”

O profeta Isaías anuncia um sinal que, para a lógica comum, ultrapassa qualquer expectativa humana: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho.” É um sinal que escapa às categorias previsíveis. Ele se move na contramão dos cálculos e das garantias. Deus não oferece a Acaz um plano estratégico, mas um gesto de fragilidade: um nascimento. A fé bíblica apresenta, assim, um paradoxo fundamental: o divino se comunica através do que não parece seguro, forte ou evidente.

Em nosso tempo, acostumado à lógica do desempenho, da superexposição e da busca contínua de resultados, essa profecia se torna profundamente contracultural. A fragilidade não é algo a ser evitado; ela é o lugar do encontro. O anúncio de Isaías revela que a salvação não chega pelas vias da força, mas pela via da delicadeza, da gestação, do cuidado.

A espiritualidade do Advento nos ensina a valorizar aquilo que cresce devagar, os processos discretos, os sinais que parecem pequenos demais para serem percebidos. Na complexidade da vida, a graça não se manifesta como espetáculo, mas como gesto silencioso que pede atenção.

“Quem subirá à montanha do Senhor?”: Um coração disposto

O salmo deste domingo pergunta quem é capaz de acolher a presença de Deus. Não se trata de alguém impecável, mas de alguém que mantém o coração aberto, disponível, desejoso de profundidade.

Em um mundo que vive disperso e saturado, essa abertura interior se torna um verdadeiro desafio espiritual. A superficialidade emocional, relacional, espiritual se manifesta como um cansaço difuso, que torna difícil sustentar um olhar contemplativo. Muitas vezes, estamos presentes fisicamente, mas ausentes interiormente.

A liturgia responde com um convite simples e exigente: abrir as portas. Abrir as portas da sensibilidade, do tempo, da interioridade. Abrir espaço para o inesperado. Abrir caminho para a entrada de algo que não controlamos.

O Advento é essa pedagogia do desarme interior: deixar que Deus venha não como imaginamos, mas como Ele é.

Paulo: o Evangelho como chamado à pertença

Na carta aos Romanos, Paulo apresenta o Evangelho como um chamado à comunhão, à integração, à pertença mais profunda: “Chamados a pertencer a Jesus Cristo.” O Evangelho não é apenas uma doutrina, mas uma força que costura relações, que cria vínculos, que devolve ao ser humano a sua densidade. Essa compreensão é essencial para um mundo frequentemente marcado pela ruptura dos laços, pela solidão saturada e pela dificuldade de sustentar experiências duradouras.

A fé, nesse sentido, não é um acessório para tempos de espiritualidade leve e esporádica, mas um eixo que sustenta a existência. Ela nos recorda que não somos ilhas, que a vida só se compreende no entrelaçamento com os outros, com Deus e com a história. O Advento nos coloca diante dessa pertença radical: somos parte de uma promessa maior do que nós.

José: fé no meio da incerteza

O Evangelho de Mateus apresenta José em um momento de grande tensão. Descobrir que Maria está grávida antes de viverem juntos é um terremoto íntimo, uma ruptura inesperada na ordem previsível da vida. A reação inicial de José é de cuidado e de justiça: ele busca uma saída que não exponha Maria ao risco, à vergonha ou ao julgamento.

É nesse momento de incerteza que o anjo fala: “José, filho de Davi, não temas receber Maria.” A fé de José nasce exatamente aí — na dúvida, na complexidade, na tomada de decisão difícil. Ele não recebe uma explicação detalhada, mas uma direção. Não recebe um mapa, mas uma presença. A resposta dele não é verbal; é um gesto: ele acolhe.

José ensina que a fé não elimina a ambiguidade da vida. Ela oferece uma forma nova de habitá-la. Em um tempo saturado por dados, análises e diagnósticos, José nos lembra que as decisões essenciais não se tomam por cálculo, mas por escuta; não por controle, mas por confiança.

O Advento nos educa para essa confiança que não ignora a realidade, mas a abraça com espírito renovado.

O Deus que habita a fragilidade

A narrativa do nascimento de Jesus poderia ter sido grandiosa, espetacular, imponente. No entanto, Deus escolhe a intimidade familiar, a vulnerabilidade de uma criança, a confiança de um casal jovem diante de incertezas profundas.

O Deus cristão não se apresenta como resposta pronta, mas como presença que se mistura à complexidade do mundo. Ele não suprime a fragilidade humana; Ele a assume. E, ao assumi-la, a transfigura.

Essa perspectiva se torna especialmente significativa para nosso tempo, marcado pela exaustão emocional, pela pressão por performar e pela impressão de que nunca somos suficientes. O Natal, preparado pelo Advento, responde com uma verdade suave e revolucionária: Deus não exige grandeza; Ele visita a nossa vulnerabilidade.

Advento: aprender a acolher

Às vésperas do Natal, este domingo nos convida a um último movimento interior: acolher. Não apenas acolher a celebração, mas acolher o modo como Deus fala concretamente à nossa vida.

— Acolher o inesperado.
— Acolher relações que nos moldam.
— Acolher nossa própria fragilidade.
— Acolher o mistério que se aproxima.
— Acolher a graça que cresce no silêncio.

A fé de José, discreta e profunda, torna-se modelo para essa semana final do Advento. Sua atitude lembra que o Reino nasce quando deixamos de lutar contra o mistério e aprendemos a hospedá-lo.

O Natal começa onde um coração se abre

O 4º Domingo do Advento nos prepara para o grande encontro do Natal. Ele nos pede um último gesto: fazer espaço. No meio das nossas pressas e tensões, permitir que Deus habite o que somos, inclusive aquilo que consideramos pequeno demais, frágil demais ou imperfeito demais.

Porque é exatamente aí, nesse espaço inesperado, que Ele quer nascer. Que esta semana que antecede o Natal nos encontre com o coração aberto, disposto, silencioso e profundamente habitado pela presença que vem.





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