Por Ir. Cidinha Batista, pddm
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A arte floral litúrgica desempenha um papel fundamental na ambientação das celebrações religiosas. Muito mais do que uma simples decoração, os arranjos florais inseridos na liturgia têm a missão de elevar o espírito e criar um ambiente propício à oração. Como afirmava o Papa Paulo VI, “o mundo precisa de beleza para não cair no desespero“. Seguindo essa premissa, a arte floral na Igreja é um ministério que busca traduzir, por meio das flores, a espiritualidade e o ciclo da vida.
A Contemplação da Natureza
A base da arte floral litúrgica é a contemplação da natureza, considerada um dom divino. A observação atenta das formas e cores das árvores e flores é essencial para criar arranjos harmoniosos e simbólicos.
As árvores, por exemplo, servem de referência para a disposição das flores: alguns ramos crescem de forma vertical, outros inclinados ou horizontais. Essa estrutura natural deve ser respeitada ao compor os arranjos. Além disso, é importante considerar as folhas perenes, que se mantêm verdes ao longo do ano, e as caducas, que caem no outono, refletindo a passagem das estações.
As flores também apresentam grande diversidade de formas e significados. Algumas são arredondadas, outras pontiagudas ou eretas. A atenção ao seu processo de desabrochar também é essencial: há flores que se mantêm em botão por mais tempo, enquanto outras se abrem rapidamente.
O Cuidado com os Materiais
Para garantir a durabilidade e a beleza dos arranjos, algumas etapas são fundamentais:
- Escolha e separação: Selecionar flores e folhas saudáveis, eliminando aquelas que estão danificadas.
- Limpeza: Remover folhas e pétalas quebradas, garantindo que nenhuma folha fique submersa na água, evitando o apodrecimento.
- Corte adequado: O corte das hastes deve ser feito dentro da água para evitar bolhas de ar que prejudicam a absorção. O ângulo do corte deve ser de aproximadamente 45°, pois isso amplia a área de absorção de água e melhora a hidratação das flores. Alguns consideram que, para as plantas lenhosas, este ângulo deve ser entre 60° e 80°.
- Hidratação: Antes da montagem, as flores devem ficar em água limpa e fresca por pelo menos uma hora.
- Manutenção: Borrifar água regularmente, umedecer a esponja floral e retirar as flores murchas.
O reaproveitamento também é essencial: folhas descartadas e ramos menores podem ser utilizados em arranjos secundários, evitando desperdícios.
Composição dos Arranjos Litúrgicos
A confecção de arranjos para a liturgia exige um estudo do espaço disponível, da iluminação e do estilo arquitetônico da igreja. O posicionamento das flores deve ser planejado para integrar-se harmoniosamente ao ambiente.
Escolha dos Suportes
Os suportes para os arranjos podem variar entre:
- Estruturas características (vasos tradicionais, suportes e pedestais);
- Elementos neutros (cascas, raízes, pedras), que conferem um aspecto natural e sutil.
Elementos Naturais ao Ritmo das Estações
Os arranjos florais podem refletir a atmosfera das estações do ano:
- Inverno: Tons mais sóbrios, simbolizando a purificação.
- Primavera: Cores vibrantes e formas dinâmicas, representando renovação e vida.
- Verão: Arranjos exuberantes, expressando a plenitude e a força da vida.
- Outono: Cores quentes e composições equilibradas, remetendo à maturidade e à reflexão.
Estrutura e Equilíbrio
A arte floral litúrgica combina elementos da pintura (cores e perspectivas) e da escultura (formas e volumes). Assim, a composição floral deve levar em conta:
- Linhas e volumes: A disposição das flores pode formar figuras geométricas como triângulos, círculos ou quadrados.
- Altura e profundidade: Os arranjos devem distribuir os elementos de maneira equilibrada, criando uma sensação de harmonia.
- Ponto focal: Deve haver um centro visual, seja uma grande flor ou um agrupamento de flores menores.
As flores devem estar dispostas de forma que pareçam “dialogar” entre si. Os cálices devem estar voltados para cima, transmitindo a ideia de elevação espiritual. Elementos arredondados e pontiagudos, flores claras e botões são mais adequados para as partes superiores do arranjo, enquanto as flores mais abertas e intensas devem estar na base.
A Espiritualidade da Arte Floral Litúrgica
Mais do que um aspecto estético, a arte floral na liturgia deve servir como um meio de conexão com o divino. Cada arranjo deve estar a serviço da oração, contribuindo para a experiência de fé dos fiéis.
Para que essa prática seja plenamente integrada às celebrações, é fundamental que haja uma equipe litúrgica dedicada ao planejamento das composições florais.
Dessa forma, a beleza dos arranjos não será apenas um elemento decorativo, mas uma expressão da espiritualidade que envolve toda a comunidade, auxiliando na oração e na vivência da fé.