Com profunda tristeza, recebemos a notícia do falecimento de Dom Angélico Sândalo Bernardino, ocorrido na terça-feira, 15 de abril de 2025, às 18h23, na residência do Padre Antônio Leite Barbosa Júnior. A informação foi confirmada pela Diocese de Blumenau e recebida com grande pesar por todos nós. Estávamos unidos em oração por sua saúde, que havia piorado nas últimas horas. Agora, nos unimos em solidariedade aos seus familiares, amigos e fiéis que caminharam com ele ao longo de sua vida e missão episcopal. Que Deus o acolha em sua misericórdia infinita.
Dom Angélico exerceu seu episcopado com dedicação e firmeza na fé, deixando um legado significativo na história da Igreja no Brasil — como bispo auxiliar de São Paulo e como o primeiro bispo da Diocese de Blumenau, desde sua criação em 2000.
Trajetória de Vida e Ministério
Dom Angélico nasceu em Saltinho (SP), no dia 19 de janeiro de 1933, filho de Duílio Bernardino e Catarina Sândalo Bernardino. Foi batizado no dia 19 de março do mesmo ano, na Igreja do Coração de Jesus, por Frei Evaristo de Santa Úrsula, capuchinho.
Estudou Filosofia em São Paulo (bairro Ipiranga), Jornalismo em Ribeirão Preto e Teologia em Viamão (RS). Foi ordenado presbítero no dia 12 de julho de 1959, na Catedral de São Sebastião, em Ribeirão Preto, por Dom Luiz do Amaral Mousinho. Como sacerdote da Arquidiocese de Ribeirão Preto, desempenhou diversas funções: diretor de jornal, coordenador pastoral, assistente de movimentos eclesiais, cura da catedral e formador no seminário de Brodowski (SP).
Foi nomeado Bispo Auxiliar de São Paulo por São Paulo VI, em 12 de dezembro de 1974, sendo ordenado bispo em 25 de janeiro de 1975, na Catedral da Sé, por Dom Paulo Evaristo Arns. Escolheu como lema episcopal: “Deus é Amor”.
Entre 1975 e 1999, exerceu o episcopado na Arquidiocese de São Paulo, onde foi bispo nas regiões Belém, São Miguel Paulista e Brasilândia; presidiu o Regional Sul 1 da CNBB; atuou na Pastoral Operária; dirigiu o jornal “O São Paulo”; e integrou o Conselho Episcopal Pastoral da CNBB.
Em 19 de abril de 2000, foi nomeado pelo Papa São João Paulo II como o primeiro Bispo Diocesano de Blumenau (SC), tomando posse no dia 24 de junho. Participou do Sínodo da América (Vaticano) e das Conferências de Santo Domingo e Aparecida. Também foi responsável nacional pelo Setor Vocações e Ministérios da CNBB, presidente dos Regionais Sul 1 e Sul 4 e membro da Comissão dos Bispos Eméritos. Em 18 de fevereiro de 2009, teve sua renúncia aceita pelo Papa Bento XVI.
Em sua vida religiosa, ingressou no Instituto Paulino de Vida Secular Consagrada Jesus Sacerdote em 2011. Emitiu os votos perpétuos em 13 de agosto de 2016, após um percurso marcado por dispensas e renovações vocacionais especiais, com autorização da Pia Sociedade de São Paulo.
Velório e Sepultamento
O velório teve início na quarta-feira, 16 de abril, às 8h, na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, Vila Zat, região da Brasilândia, em São Paulo. Às 15h, foi celebrada a Missa de corpo presente, presidida pelo Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo. Em seguida, o corpo foi trasladado para Blumenau (SC).
Na quinta-feira, 17 de abril, às 14h, foi celebrada a Santa Missa de exéquias na Catedral de Blumenau, seguida do sepultamento na cripta da Catedral, onde Dom Angélico exerceu seu ministério episcopal.
Palavra da CNBB
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio de sua presidência, manifestou profundo pesar pela partida de Dom Angélico:
“Com pesar recebemos a notícia do falecimento deste nosso irmão Dom Angélico Sândalo Bernardino, às portas do Tríduo Pascal. Elevamos a Deus nossa gratidão por sua dedicação e serviços prestados à Igreja e à CNBB. Que este momento litúrgico seja fonte de força e consolo para todos os que sentem sua partida. Acreditando na Ressurreição, desejamos que brilhe para ele a luz eterna.”
— Dom Jaime Spengler, Arcebispo de Porto Alegre (RS), Presidente da CNBB
— Dom João Justino de Medeiros Silva, Arcebispo de Goiânia (GO), 1º Vice-presidente
— Dom Paulo Jackson Nóbrega de Sousa, Arcebispo de Olinda e Recife (PE), 2º Vice-presidente
— Dom Ricardo Hoepers, Bispo Auxiliar de Brasília (DF), Secretário-Geral da CNBB
“Dai-lhe, Senhor, o descanso eterno, e brilhe para ele a vossa luz. Que ele descanse em paz. Amém.”
DOM ANGÉLICO
por Dom Pedro Casaldáliga
Angélico, mas não angelical:
tem a sábia malicia que pede o evangelho.
Sândalo, flor que se cheira, “bonus odor Christi”.
Bernardino, será seguramente por causa de Jesus,
em cujo nome ele aposta a vida.
Paulista de Saltinho,
forjado em Ribeirão Preto,
barriga-verde, em Blumenau,
vermelho sempre o coração imenso.
Jornalista daqueles que sabem decifrar
sinais do Reino em todo acontecido.
Ele fez do “O São Paulo” uma voz militante
e ecumênica.
Tem sido um bom pastor, em pé de Povo,
e um bom profeta contra as ditaduras.
Auxiliar do time glorioso do
São Paulo do Paulo.
Coordenador de pastorais – famílias,
operários, vocações, companheiro dos padres tão queridos,
solidário dos bispos em aperto.
Põe ternura e paixão no ministério e
a pitada de sal nas cerimônias do cargo e da assembleia.
“Traço de união” entre tendências,
reza o seu lema, a maior verdade de todo o evangelho:
“Deus é Amor”.
Angélico, Irmão, muito obrigado por seres como és.
Continua a ser e a aprontar com essa angélica malicia…
Pedroca do Araguaia
do livro: Dom Angélico Sândalo Bernardino, Bispo Profeta dos Pobres e da Justiça (pg.31).