Leituras: 1Tm 3,14-16; Sl 110(111); Lc 7,31-35

A liturgia do dia nos apresenta uma Palavra forte e atual. No Evangelho de Lucas, Jesus compara sua geração a crianças caprichosas, que não querem brincar nem de choro nem de festa. Essa imagem revela a dificuldade de acolher tanto a pregação de João Batista, mais austera, quanto a presença de Jesus, marcada pela proximidade com os pecadores. A mensagem é clara: quando o coração está fechado, nenhuma manifestação de Deus é suficiente. Por isso, a liturgia do dia nos convida a abrir o coração e a reconhecer a sabedoria divina que se manifesta nas obras de Cristo.

Jesus nos mostra que a salvação não cabe em esquemas humanos. João Batista, com sua vida austera, lembrava a necessidade de conversão; Jesus, com sua misericórdia, revelava a ternura de Deus. Ambos eram sinais complementares do mesmo amor. Mas aquela geração não quis ouvir. O Evangelho denuncia, portanto, a imaturidade de quem prefere criticar a acolher.

Aqui podemos olhar também para nós. Quantas vezes fazemos como as “crianças da praça”? Se a mensagem exige esforço, achamos dura demais; se fala de festa e acolhida, julgamos frouxa demais. A liturgia do dia nos chama a crescer espiritualmente, para reconhecer que a sabedoria de Deus é maior que nossos gostos pessoais.

A liturgia é justamente o espaço onde aprendemos esse equilíbrio. Temos tempos de penitência, como a Quaresma, e tempos de festa, como a Páscoa. O caminho cristão precisa dos dois. O rigor e a alegria se completam. A liturgia do dia, ao nos reunir em oração, educa o nosso coração para viver tanto o silêncio da conversão quanto a festa da ressurreição. Assim, celebramos o Mistério Pascal em toda a sua riqueza.

Há também uma dimensão psicológica neste Evangelho. A atitude das crianças mostra imaturidade: nada serve, nada agrada, nada satisfaz. Muitas vezes, também nós usamos críticas como defesa, para não mudar de vida. O coração humano tem medo da novidade de Deus. Mas a liturgia do dia, com sua repetição, seus ritos e símbolos, cria um espaço seguro para que possamos enfrentar nossos medos e permitir que o Espírito nos transforme pouco a pouco.

A Primeira Leitura e a Profissão de Fé

Na primeira leitura, São Paulo recorda a essência da nossa fé: Cristo manifestado na carne, justificado no Espírito, proclamado às nações e elevado à glória. É como um Credo primitivo, um resumo da história da salvação. A liturgia do dia, ao nos colocar diante dessa profissão de fé, fortalece nossa esperança. Diante das mudanças e incertezas da vida, essa certeza nos dá estabilidade: Cristo é o centro de tudo.

O Salmo Responsorial

O Salmo 110(111) reforça essa confiança: “Grandes são as obras do Senhor, dignas de admiração por todos que as amam”. Ao repetir esse refrão na liturgia, somos educados para a gratidão. Enquanto a murmuração e a ingratidão enfraquecem a vida comunitária, a liturgia do dia nos ensina a louvar, a reconhecer que Deus guia a história com amor.

Aplicações para a vida

A Palavra de hoje ilumina situações bem concretas:

  • Na convivência social, vemos muitos que criticam tudo: se alguém é firme, é acusado de severidade; se é alegre e aberto, é taxado de irresponsável. O Evangelho nos ensina a olhar para os frutos, e não para os preconceitos.
  • Na política e na vida pública, quantas vezes líderes são julgados mais por estereótipos do que por suas ações. Jesus lembra que a sabedoria se reconhece pelas obras.
  • Na família e na educação, pais e educadores muitas vezes oscilam entre a exigência e a ternura. O critério não é agradar, mas formar para o bem.
  • Na vida da Igreja, há quem prefira rigidez litúrgica e outros que valorizam mais abertura pastoral. A liturgia do dia nos mostra que as duas dimensões são importantes: conversão e misericórdia, silêncio e festa.

A mensagem da liturgia do dia é clara: não podemos ser como crianças imaturas, que recusam qualquer proposta. Deus se manifesta de muitos modos, e precisamos acolher sua sabedoria, que se revela nas obras de Cristo. A liturgia é o espaço onde aprendemos a integrar exigência e ternura, penitência e festa, silêncio e louvor.

Que esta celebração nos ajude a reconhecer a presença do Senhor na nossa história, e que possamos ser testemunhas da sabedoria de Deus no mundo.

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