O Vaticano anunciou, no dia 29 de setembro, o tema do 60º Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2026: “Preservar vozes e rostos humanos”. A proposta, escolhida pelo Papa Leão XIV, toca uma das questões mais urgentes do nosso tempo: como manter a centralidade da pessoa humana em meio ao avanço acelerado da inteligência artificial e das tecnologias digitais.
O comunicado do Dicastério para a Comunicação destaca que os ecossistemas midiáticos contemporâneos estão profundamente moldados por algoritmos e sistemas automatizados, capazes de selecionar conteúdos, simular vozes e até redigir textos e diálogos. Essa constatação traduz uma preocupação não apenas técnica, mas antropológica e ética: à medida que as máquinas assumem funções comunicativas, corre-se o risco de diluir a presença humana, aquilo que dá sentido, emoção e responsabilidade à palavra.
O tema escolhido pelo Papa ressoa fortemente com a visão cristã de comunicação como encontro pessoal e expressão da dignidade humana. Desde o Concílio Vaticano II, a Igreja vem afirmando que comunicar é mais do que transmitir dados: é partilhar vida e construir comunhão. Nesse contexto, “preservar vozes e rostos humanos” significa resguardar a autenticidade, a empatia e a liberdade diante de um mundo cada vez mais mediado por telas e sistemas automáticos.
Os desafios éticos da inteligência artificial
O comunicado reconhece os avanços da IA, mas também alerta para os seus riscos: manipulação de informações, desinformação massiva, reprodução de preconceitos e invasão da privacidade. Mais do que um discurso alarmista, trata-se de um convite à responsabilidade moral. A tecnologia, segundo a perspectiva cristã, deve estar a serviço da pessoa e do bem comum, e não substituir o discernimento humano nem criar novas formas de dominação ou desigualdade.
Educar para um uso consciente
Um dos pontos mais relevantes do texto é a defesa da alfabetização mediática e digital, especialmente entre os jovens. O Vaticano propõe que se desenvolva também a alfabetização em inteligência artificial (MAIL – Media and Artificial Intelligence Literacy), para que as pessoas saibam pensar criticamente, interpretar as mensagens e usar as ferramentas tecnológicas com liberdade de espírito. Essa orientação reforça a missão educativa da Igreja e seu compromisso com uma cultura digital ética e humanizadora.
Uma mensagem para a sociedade, não só para os católicos
Embora dirigida à comunidade católica, a reflexão proposta pelo Papa Leão XIV tem alcance universal. Em uma era em que as fronteiras entre o real e o virtual se tornam cada vez mais tênues, a preservação das “vozes e rostos humanos” é um apelo à sociedade inteira: governos, empresas, educadores e cidadãos. Trata-se de reafirmar que a tecnologia deve amplificar a humanidade, não substituí-la.
O tema do 60º Dia Mundial das Comunicações Sociais convida a um discernimento profundo: como usar a inteligência artificial sem perder a inteligência do coração. O Papa Leão XIV aponta para um horizonte onde fé, ética e inovação se unem na construção de uma comunicação verdadeiramente humana: aquela que reconhece, escuta e valoriza cada rosto e cada voz.
Fonte da imagem e notícia: Vatican News