São Gregório Magno, Papa e Doutor da Igreja – Memória
22ª Semana do Tempo Comum
As leituras propostas para a liturgia do dia desta quarta-feira, 3 de setembro de 2025, nos convidam a refletir sobre o testemunho da fé, a missão da Igreja e a compaixão de Cristo diante do sofrimento humano. Neste dia especial, a Igreja celebra também a memória de São Gregório Magno, papa e doutor, que deixou marcas profundas na história da liturgia, da teologia e da espiritualidade cristã.
As leituras são: Colossenses 1,1-8; Salmo 51(52),10-11; Lucas 4,38-44.
Primeira leitura: Colossenses 1,1-8
Na carta aos Colossenses, São Paulo e Timóteo se dirigem aos cristãos da cidade de Colossos, exaltando a fé e a caridade que brotam da esperança. O apóstolo sublinha que o Evangelho chegou a eles e continua a frutificar no mundo inteiro, transformando vidas e gerando comunidades novas.
Este trecho é um verdadeiro hino à ação missionária da Palavra de Deus. A fé não se limita a uma adesão intelectual, mas se manifesta concretamente em amor e serviço. A liturgia do dia nos recorda que a vida cristã floresce quando está enraizada na esperança que vem do céu.
A menção a Epáfras, colaborador de Paulo, também nos ensina sobre a importância da comunhão eclesial: ninguém caminha sozinho na missão, mas todos colaboram para que o Evangelho alcance novos corações.
Salmo Responsorial: Salmo 51(52),10-11
O salmista proclama: “Confio na misericórdia de Deus para sempre e eternamente!” Este salmo reforça a confiança no Senhor, que é fiel e misericordioso.
Na liturgia do dia, o salmo funciona como resposta à mensagem da primeira leitura: a fé que cresce e dá frutos não nasce do esforço humano isolado, mas da confiança em Deus que sustenta, purifica e fortalece.
Evangelho: Lucas 4,38-44
O evangelho de Lucas 4,38-44 apresenta uma cena decisiva para compreender a identidade de Jesus e o modo como Ele realiza sua missão. O episódio da cura da sogra de Simão, seguido das numerosas curas e do anúncio do Reino em outras cidades, não deve ser lido apenas como uma série de milagres isolados, mas como manifestação concreta de que a salvação chegou e já está atuando na história.
A narrativa começa com Jesus saindo da sinagoga e dirigindo-se à casa de Simão. Ali encontra a sogra do discípulo enferma, tomada por febre. O detalhe aparentemente simples tem um profundo significado teológico: o Messias não permanece apenas no espaço sagrado da sinagoga, mas entra no espaço doméstico, onde a vida cotidiana acontece.
O encontro com o Reino não se restringe ao culto, mas se estende às realidades mais simples e familiares. Ao se inclinar sobre a mulher e ordenar à febre que a deixe, Jesus revela que sua autoridade não se limita ao mundo espiritual, mas alcança também a fragilidade física. Sua palavra é eficaz, capaz de recriar e restaurar. O gesto que se segue é revelador: imediatamente a mulher se levanta e começa a servir.
O sinal da cura não é apenas o desaparecimento da febre, mas a restituição da pessoa à sua vocação primeira, que é o serviço. Em linguagem lucana, ser salvo por Cristo significa ser reinserido na comunhão e na capacidade de doar-se.
Ao entardecer, quando o dia do sábado já tinha terminado, as multidões se aproximam trazendo enfermos de toda espécie. A descrição mostra a universalidade da compaixão de Cristo. Ele não cura apenas alguns, mas toca a todos, impondo as mãos e devolvendo dignidade a cada um. A proximidade do gesto de tocar indica que não se trata de uma força mágica que age à distância, mas de uma presença amorosa e atenta, que respeita a singularidade de cada pessoa.
Além das doenças físicas, Jesus também expulsa demônios. Aqui se revela uma dimensão ainda mais profunda de sua missão: Ele veio para destruir as forças do mal que escravizam o ser humano. Curar os corpos é parte da salvação, mas libertar das potências espirituais hostis é a obra plena do Messias. Os demônios o reconhecem como o Filho de Deus, mas Ele os silencia, porque sua identidade messiânica não deve ser proclamada por forças obscuras, nem interpretada de modo sensacionalista. Sua verdadeira revelação acontecerá na obediência à vontade do Pai e no mistério da cruz e da ressurreição.
Depois de um dia inteiro de curas e milagres, Jesus se retira para um lugar deserto. O movimento é significativo: mesmo diante da multidão que o procura e quer retê-lo, Ele se coloca em oração e em silêncio diante de Deus. Essa atitude mostra que sua missão não se deixa guiar pelo entusiasmo popular ou pelo sucesso imediato, mas pela fidelidade ao desígnio divino.
Quando as pessoas tentam convencê-lo a permanecer em Cafarnaum, sua resposta é clara: “É necessário que eu anuncie também às outras cidades a Boa-Nova do Reino de Deus, pois para isso é que fui enviado”. O termo “é necessário” traduz uma convicção teológica fundamental: tudo o que Jesus faz obedece ao plano salvífico do Pai. Ele não é simplesmente um curandeiro local, mas o enviado de Deus para anunciar o Reino a todos. A missão, portanto, é universal e não pode ser aprisionada por interesses particulares.
Do ponto de vista teológico, este trecho revela o núcleo da cristologia lucana. Jesus é o Messias que realiza a salvação de forma integral: cura as doenças, liberta dos demônios e proclama o Reino. Ele é o Senhor da vida, aquele cuja palavra cria e restaura, aquele que não se deixa dominar por expectativas humanas, mas permanece fiel ao envio recebido.
Também a eclesiologia se ilumina à luz desse texto: a sogra de Simão simboliza a comunidade que, ao ser curada por Cristo, não permanece passiva, mas se levanta e se põe a servir. A Igreja existe não para si mesma, mas para servir, anunciando e testemunhando a graça recebida.
Finalmente, a dimensão missionária é explicitada: o evangelho não pode ficar restrito a um grupo ou território, mas deve ser levado a todos os povos, pois é Boa-Nova para toda a humanidade.
A atualização desse texto para a vida cristã é evidente. Hoje, como ontem, Cristo continua a entrar em nossas casas, a inclinar-se sobre nossas fragilidades e a restaurar nossa capacidade de servir. Muitos ainda sofrem não só de doenças físicas, mas de feridas emocionais e espirituais. Jesus continua a tocar e curar, especialmente nos sacramentos e na vida comunitária. Sua palavra continua eficaz, libertando-nos das forças que nos aprisionam.
Ao mesmo tempo, este evangelho nos recorda que a experiência da graça não pode ser vivida de maneira egoísta. A cura leva necessariamente ao serviço, e a salvação recebida nos envia em missão. Como Jesus, a Igreja é chamada a não se fixar apenas no lugar do sucesso, mas a ir sempre além, a ser missionária, a levar o anúncio do Reino a todos os ambientes da sociedade e a todos os povos.
Assim, Lucas 4,38-44 nos mostra um Cristo profundamente humano e divino: próximo dos que sofrem, compassivo diante das misérias humanas, mas ao mesmo tempo firme em sua missão de anunciar o Reino em toda parte. Ele nos ensina que a verdadeira fé não se esgota no milagre, mas se manifesta na vida transformada e colocada a serviço. Ele nos convida a seguir seus passos, deixando-nos curar e libertar, para que também possamos ser testemunhas do Reino em nosso tempo.
São Gregório Magno: pastor e doutor da Igreja
A memória litúrgica de hoje nos apresenta São Gregório Magno (540-604), papa entre os anos 590 e 604. Ele é considerado um dos maiores pastores da Igreja antiga. Sua humildade marcou seu pontificado: mesmo sendo Papa, assumiu o título de “Servo dos servos de Deus”, expressão que até hoje acompanha os papas.
Gregório foi também um grande reformador da liturgia, incentivando a simplicidade, a dignidade e a centralidade da oração. É a ele atribuído o desenvolvimento do canto gregoriano, expressão musical que elevou a oração cristã e atravessou os séculos como herança espiritual da Igreja.
Seu cuidado pelos pobres e sua atenção missionária também são notáveis: enviou monges para evangelizar a Inglaterra, mostrando que a Igreja não pode se fechar em si mesma, mas deve estar sempre em saída, como recorda o Papa Francisco.
Celebrar São Gregório Magno na liturgia do dia é recordar a importância de unir fé, serviço e sabedoria pastoral, a exemplo de Cristo que veio para servir e dar a vida.
Mensagem para a vida cristã
A liturgia do dia desta quarta-feira nos deixa preciosos ensinamentos:
- A fé gera frutos concretos – como recorda a carta aos Colossenses, a fé não é teoria, mas prática que se traduz em amor. O cristão é chamado a deixar que o Evangelho transforme sua vida e seu modo de se relacionar com os outros.
- A confiança na misericórdia de Deus é fonte de esperança – o salmo nos convida a colocar nossa vida nas mãos do Senhor, mesmo diante das dificuldades.
- A cura leva ao serviço – a atitude da sogra de Simão é um exemplo de que ser tocado por Cristo não é fim em si mesmo, mas começo de uma vida dedicada ao próximo.
- A missão é universal – Jesus não se restringe a um lugar ou a um grupo, mas anuncia o Reino em todos os lugares. Também nós somos chamados a viver uma fé que se abre, que dialoga e que testemunha.
- O exemplo de São Gregório Magno – sua vida mostra que a santidade se constrói na humildade, na oração e na entrega generosa ao serviço da Igreja e dos mais necessitados.
A liturgia do dia nos convida a refletir sobre como vivemos nossa fé no cotidiano. Temos permitido que o Evangelho dê frutos em nossas atitudes? Nossa confiança está firmada na misericórdia de Deus, mesmo diante de crises pessoais ou sociais?
O evangelho nos provoca a olhar para os sofrimentos ao nosso redor. Muitas pessoas aguardam um gesto de compaixão, um cuidado, uma palavra de esperança. Assim como Jesus curou os enfermos de Cafarnaum, também nós somos chamados a ser instrumentos de cura espiritual, emocional e até material para aqueles que sofrem.
Celebrar São Gregório Magno nos recorda ainda a importância da liturgia como caminho de encontro com Deus. Nossa participação na missa e nos sacramentos deve ser consciente, viva e transformadora, pois é ali que Cristo continua a nos curar e enviar em missão.
A liturgia do dia de 3 de setembro de 2025 nos oferece um rico itinerário espiritual. A carta aos Colossenses nos mostra a fé que dá frutos; o salmo nos recorda a confiança na misericórdia divina; o evangelho revela a compaixão de Cristo e o chamado ao serviço; e a memória de São Gregório Magno nos inspira a viver a humildade e o zelo missionário.
Que esta celebração nos ajude a renovar nossa fé, fortalecer nossa esperança e impulsionar nossa caridade. Como São Gregório, sejamos também servos dos servos de Deus, anunciando com a vida a Boa-Nova que transforma o mundo.