Liturgia do Dia – Sexta-feira, 19 de Setembro de 2025 – 24ª Semana do Tempo Comum, Ano Ímpar (I)

O evangelho proposto pela liturgia do dia (Lc 8,1-3) nos coloca diante de uma cena de profundo valor teológico e pastoral: Jesus caminha de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, anunciando e proclamando a boa-nova do Reino de Deus. Acompanhavam-no os Doze e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades. Entre elas, Lucas menciona Maria Madalena, da qual tinham saído sete demônios, Joana, esposa de Cuza, administrador de Herodes, Susana e muitas outras, que ajudavam a sustentar Jesus e seus discípulos com os próprios bens.

Esse breve relato mostra um traço fundamental do ministério de Jesus: a itinerância missionária e a inclusão. Jesus não permanece preso a um lugar, mas percorre os caminhos, vai ao encontro das pessoas, leva a Boa-Nova a todos, sem restrições. Além disso, sua missão não é solitária nem exclusiva dos Doze apóstolos: mulheres também estão integradas nesse movimento evangelizador. Em um contexto cultural em que a mulher tinha um papel social limitado, a presença feminina no discipulado de Jesus revela a novidade radical do Evangelho, onde todos têm lugar, todos podem servir, todos podem participar.

Do ponto de vista teológico, o texto aponta para a universalidade da salvação e para a dimensão comunitária do seguimento de Cristo. O Reino não é construído apenas por figuras centrais, mas por uma comunidade variada, com diferentes histórias de vida, marcada por curas, libertações e testemunhos. Jesus mostra que o discipulado é fruto da experiência de encontro e de gratuidade: aqueles que foram alcançados pela graça tornam-se colaboradores na missão.

Essa perspectiva ajuda a compreender a articulação com a primeira leitura (1Tm 6,2c-12). Paulo, dirigindo-se a Timóteo, recorda a importância de ensinar a sã doutrina, evitando a tentação da busca pelo lucro e a avidez pelo dinheiro. O apóstolo exorta a fugir da ganância, pois “a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro”. Em contraste, convida a cultivar a fé, a piedade, a perseverança, o amor e a mansidão, lutando o bom combate da fé e alcançando a vida eterna.

Ao ligar o evangelho com a exortação paulina, podemos perceber um fio condutor: a verdadeira riqueza está em seguir Jesus e partilhar os bens para o serviço do Reino. As mulheres que acompanhavam Cristo sustentavam a missão não por interesse, mas por gratidão e generosidade. Paulo, por sua vez, adverte contra o risco de reduzir a fé a um meio de enriquecimento. A liturgia do dia, portanto, convida a refletir sobre a relação entre fé e bens materiais: o discipulado se expressa também na maneira como administramos aquilo que temos.

O salmo responsorial (Sl 48[49]) reforça essa mensagem, proclamando a relatividade das riquezas. “Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus” é o refrão tirado do Evangelho de Mateus, e o salmo canta a precariedade da confiança nos bens terrenos. O salmista lembra que ninguém leva nada consigo ao morrer; por mais que alguém se enriqueça, sua glória não o acompanha na morte. O que permanece, em última instância, é a confiança em Deus.

Se o evangelho mostra mulheres generosas que oferecem seus recursos para a missão e a carta a Timóteo adverte contra a cobiça, o salmo nos coloca diante da transitoriedade da vida e do chamado à confiança plena no Senhor. O itinerário da liturgia do dia conduz a uma síntese clara: o seguimento de Jesus exige liberdade interior em relação aos bens materiais, disponibilidade para partilhar e coragem para viver uma fé encarnada no serviço.

As implicações pastorais desse conjunto de leituras são riquíssimas. Em primeiro lugar, a comunidade cristã é chamada a reconhecer o valor da diversidade de vocações e ministérios. O evangelho lembra que o seguimento de Jesus é para homens e mulheres, jovens e idosos, ricos e pobres, cada qual com seus dons e com sua história de libertação. A pastoral da Igreja deve sempre cultivar esse espírito de inclusão, rompendo barreiras culturais e sociais que possam restringir a ação do Evangelho.

Em segundo lugar, a liturgia do dia provoca a refletir sobre o uso dos bens. No mundo atual, marcado pelo consumismo, pela desigualdade e pela idolatria do dinheiro, a Palavra convida a um estilo de vida mais simples, solidário e desapegado. Não se trata de desprezar os bens materiais, mas de saber orientá-los para o bem comum, como fizeram aquelas mulheres que ajudaram Jesus e os discípulos. A pastoral social e a prática da caridade são, assim, dimensões inseparáveis da vida cristã.

Outro aspecto importante é a exortação de Paulo a Timóteo: a fé não deve ser instrumentalizada para interesses pessoais. Isso vale também para o nosso tempo, quando muitas vezes se vê a tentação de usar a religião como meio de lucro, de poder ou de manipulação. A liturgia do dia denuncia tais desvios e reafirma que a missão da Igreja é testemunhar o Evangelho com simplicidade e gratuidade, apontando para Cristo e não para si mesma.

Por fim, a palavra proclamada nos chama à esperança e à confiança. O salmo recorda que nada neste mundo é definitivo, exceto a promessa de Deus. Por isso, o cristão é convidado a viver com os pés na terra, comprometido com a justiça, mas com o coração voltado para o céu, buscando sempre o Reino que não passa.

Celebrar a liturgia do dia nesta sexta-feira, 19 de setembro de 2025, é renovar o compromisso de ser discípulo missionário, como aqueles que seguiam Jesus em seu caminho. É deixar-se tocar pela Palavra, rever nossas prioridades, cultivar a generosidade e manter viva a esperança na vida eterna. O convite é claro: lutar o bom combate da fé, viver na mansidão, partilhar os dons, caminhar em comunidade.

Assim, a liturgia não é apenas um rito repetido, mas um encontro transformador com o Senhor que continua a passar por nossas cidades, chamando homens e mulheres a segui-lo. Que essa Palavra inspire nossa vida e nossa pastoral, para que, unidos, possamos proclamar a Boa-Nova com gestos concretos de amor e serviço.

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