Domingo da Páscoa na Ressurreição, “máxima solenidade do ano litúrgico” (PSL, 148). A primeira celebração deste domingo maior é a Vigília Pascal na noite santa, noite em que Jesus rompeu o inferno, noite testemunha da ressurreição (cf. Proclamação da Páscoa), Mãe de todas as Vigíliasda Igreja. Nesta noite, os catecúmenos são batizados e crismados, tomam parte nas preces e levam os dons do pão e do vinho até o altar; participam, pela primeira vez, da Oração Eucarística, da recitação da Oração do Senhor e da Mesa do Pão da Vida e do Cálice da Salvação, ápice da iniciação cristã. Nesta noite, os fiéis renovam as promessas batismais, reafirmando a inserção no mistério do crucificado-ressuscitado por meio do Batismo e da Confirmação (cf. PCFP 80). O dia da Ressurreição, celebrado com grande solenidade (PS 97), testemunhamos que o Senhor ressurgiu, como Maria Madalena, Pedro, João e os demais discípulos e discípulas. Eis o dia que o Senhor fez para nós. A celebração começa na Vigília Pascal, na noite do Sábado Santo. O fogo novo é aceso, a luz do Círio Pascal rompe a escuridão. A liturgia a chama de “Mãe de todas as Vigílias”: é a noite santa da libertação, da nova criação.
“Na escuridão do sepulcro nasceu uma luz nova, a luz da Ressurreição.” — Papa Francisco
A Vigília gira em torno de dois momentos centrais:
- A Liturgia da Palavra, com o anúncio da história da salvação.
- A Liturgia dos Sacramentos, com o Batismo, a Crisma e a Eucaristia, que nos unem ao mistério pascal.
“Jesus não é alguém do passado. Ele vive hoje e caminha conosco todos os dias.” — Papa Francisco
Na manhã do domingo, tudo se renova. A luz do Ressuscitado transforma o medo em coragem, a tristeza em alegria. A comunidade cristã proclama com força: “O Senhor ressuscitou verdadeiramente. Aleluia! Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e exultemos!” (Sl 117,24)
Como as mulheres no túmulo vazio, como Pedro e João correndo para ver, somos convidados a nos mover, a buscar, a anunciar. “A Páscoa é o anúncio de que tudo pode ser sempre recomeçado.” — Papa Francisco
A imagem da noite que se ilumina exprime, de forma simbólica, o coração do mistério da Páscoa: a vida vence a morte, a luz vence as trevas.
A celebração do Domingo da Ressurreição não termina ali. Ela se desdobra em cinquenta dias de festa, até Pentecostes, lembrando que viver como ressuscitados é um caminho contínuo. “Cristo vive! E com Ele, também nós podemos viver. Esta é a certeza que transforma tudo.” — Papa Francisco
Somos chamados a deixar para trás as sombras, a renovar o coração e escolher a luz. Como o Papa Francisco nos anima: “Não deixemos que a esperança nos seja roubada. O Senhor ressuscitado caminha conosco!”.
TEXTOS BÍBLICOS PARA A VIGÍLIA PASCAL NA NOITE SANTA:
1ª Leitura:
Gênesis 1,1-2,2
Salmo responsorial – Sl 103(104),1-2a.5-6.10.12.13-14.24.35c (R. cf. 30)
2ª Leitura:
Gênesis 22,1-18
Salmo responsorial Sl 15(16),5.8.9-10.11 (R. 1a)
3ª Leitura:
Êxodo 14,15-15,1
Salmo responsorial Ex 15,1-2.3-4.5-6.17-18 (R. 15,1a)
4ª Leitura:
Isaías 54,5-14
Salmo responsorial Sl 29(30),2.4.5-6.11.12a.13b (R. 2a)
5ª Leitura:
Isaías 55,1-11
Salmo responsorial Is 12,2-3.4bcd.5-6 (R. 3)
6ª Leitura:
Baruc 3,9-15.32-4,4
Salmo responsorial Sl 18B(19),8.9.10.11 (R. Jo 6,68c)
7ª Leitura:
Ezequiel 36,16-17a.18-28
Salmo responsorial Sl 41(42),3.5bcd; 42,3.4 (R. 3a)
Leituras do Novo testamento
8ª Leitura:
Romanos 6,3-11
Salmo responsorial Sl 117(118),1-2.16ab-17.22-23
9ª Leitura: EVANGELHO
Lucas 24,1-12
Reflexão para a Vigília Pascal na Noite Santa
A Vigília Pascal é a noite mais sagrada da liturgia cristã. É a celebração da nova criação inaugurada em Cristo, o Cordeiro Pascal. Nesta noite, a Igreja vela em oração e escuta com reverência a grande narrativa da salvação, contada pelas Escrituras. Cada leitura é uma janela aberta sobre o mistério da Páscoa.
1. Do caos à luz – Gênesis 1,1-2,2: A primeira leitura nos leva ao princípio de tudo. Deus cria a luz para vencer as trevas, a ordem para dominar o caos, e o ser humano para viver em comunhão com Ele. A criação é dom e expressão do amor divino. Ao celebrarmos a Ressurreição, reconhecemos que Cristo é a nova luz que refaz a criação ferida pelo pecado. “Enviai o vosso Espírito e tudo será criado, e renovareis a face da terra.” (Sl 103)
2. A fé provada – Gênesis 22,1-18: Abraão, ao entregar seu filho Isaac, figura a oferta suprema do Pai que não poupou o próprio Filho. A obediência de Abraão prefigura o sim de Jesus na cruz. Na ressurreição, compreendemos que a morte não tem a última palavra. “Guardai-me, ó Deus, porque em vós me refugio!” (Sl 15)
3. A travessia da liberdade – Êxodo 14,15–15,1: este é o coração do Antigo Testamento pascal: Deus liberta o seu povo da escravidão. O mar que se abre simboliza o Batismo: mergulhar na morte para emergir na vida. Cristo é o novo Moisés, que nos conduz à liberdade. “Cantemos ao Senhor: ele fez brilhar a sua glória!” (Ex 15)
4. A ternura de Deus – Isaías 54,5-14: mesmo quando o povo se afasta, Deus permanece fiel. Seu amor é como o de um esposo fiel. A Páscoa nos mostra que o Senhor não nos abandona — mesmo no exílio ou na noite do sofrimento. “Eu vos exalto, Senhor, porque vós me livrastes.” (Sl 29)
5. Um convite à vida – Isaías 55,1-11: a palavra de Deus é eficaz, como a chuva que fecunda a terra. Nesta noite, somos convidados a acolher a Palavra viva que é Cristo, o Verbo encarnado. A salvação é gratuita, mas exige sede e abertura do coração. “Com alegria bebereis do manancial da salvação!” (Is 12)
6. Sabedoria para viver – Baruc 3,9-15.32-4,4: o Senhor nos chama a buscar a sabedoria, que não está nas riquezas nem nos ídolos, mas na Lei do Senhor, na sua Palavra que conduz à vida. Cristo é a Sabedoria encarnada, luz para os que andam nas trevas. “Senhor, só tu tens palavras de vida eterna.” (Sl 18B / Jo 6,68c)
7. Um coração novo – Ezequiel 36,16-28: Deus promete lavar o povo com água pura, dar um coração novo e um espírito novo. Essa promessa se cumpre no Batismo, onde morremos para o pecado e renascemos para Deus. A ressurreição de Cristo é fonte de vida nova para todos. “Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo!” (Sl 41)
8. Unidos à morte e ressurreição – Romanos 6,3-11: o Batismo nos une à morte de Cristo, para que vivamos uma vida ressuscitada. Morremos ao pecado para caminhar em novidade de vida. Somos, em Cristo, uma nova criação. “Não morrerei, mas ao contrário, viverei!” (Sl 117)
9. O túmulo vazio – Lucas 24,1-12: As mulheres encontram o túmulo vazio e recebem o anúncio: “Ele não está aqui! Ressuscitou!”. A pedra foi removida, a morte vencida, e a vida irrompeu gloriosa. A Vigília Pascal é a noite da surpresa divina: Deus ressuscita Jesus e com Ele, nos chama a ressuscitar também — desde já, com uma vida nova, e para sempre, na glória.
No Evangelho de Lucas (24,1-12), como nos outros evangelhos, as mulheres são as primeiras a ir ao túmulo. Isso não é um detalhe casual: em uma cultura onde o testemunho feminino não tinha valor jurídico, o fato de os evangelhos colocarem as mulheres como as primeiras a receber o anúncio da ressurreição mostra a autenticidade e a força contracultural do Evangelho. “Ele não está aqui! Ressuscitou!” – este anúncio, confiado primeiro às mulheres, é o coração da fé cristã.
O túmulo vazio não é apenas um sinal de ausência, mas de presença transformada. Jesus ressuscitado não está preso à morte, ao lugar da sepultura, ao passado. Ele vive, mas de um modo novo, além do espaço e do tempo. As mulheres são as primeiras a perceber que algo radicalmente novo começou. O túmulo vazio é o primeiro “sinal sacramental” da nova criação.
O anúncio pascal não é para ser guardado: é para ser compartilhado com os outros discípulos. Assim, as mulheres são as primeiras “apóstolas dos apóstolos”, como dizia Santo Tomás de Aquino. Elas não apenas veem e ouvem, mas são enviadas. A fé cristã nasce como testemunho de uma experiência, não como teoria. Começa com um encontro e se espalha pelo anúncio.
As mulheres são fiéis até o fim: não abandonam Jesus na cruz, estão presentes no sepultamento, e são as primeiras a buscá-lo mesmo no silêncio da morte. Sua perseverança e amor as colocam no centro da revelação pascal. Elas vão ao túmulo movidas pela dor e pelo amor. E é nesse lugar de perda que Deus age com poder. Isso mostra que a fé pascal não nega a dor, mas a atravessa. A ressurreição é uma resposta divina ao sofrimento humano.
A experiência das mulheres revela que o Ressuscitado se manifesta onde há amor fiel e esperança humilde. A ressurreição não se revela a quem desiste, mas a quem continua amando e esperando mesmo sem entender.
Nesta noite santa, a história da salvação se revela como uma história de amor fiel. Deus cria, liberta, conduz, perdoa, renova… e por fim, ressuscita. A escuridão da cruz dá lugar à luz da vida. Somos convidados a deixar o túmulo e caminhar na luz do Ressuscitado. “Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos!” (Sl 117)
TEXTOS BÍBLICOS PARA O DOMINGO DA PÁSCOA NA RESSURREIÇÃO DO SENHOR
At 10,34a.37-43
Sl 117(118),1-2.16ab-17.22-23 (R. 24)
Cl 3,1-4 ou 1Cor 5,6b-8
Jo 20,1-9
Em lugar deste Evangelho, pode-se proclamar o Evangelho da Vigília Pascal: Mt 28,1-10 (Ano A); Mc 16,1-7 (Ano B); Lc 24 1-12 (Ano C). Nas missas vespertinas do domingo de Páscoa, pode-se também proclamar o Evangelho de Lc 24,13-35.
“Ele viu e acreditou” – Reflexão para o Domingo da Ressurreição
João 20,1-9 | Atos 10,34a.37-43 | Colossenses 3,1-4 ou 1Coríntios 5,6b-8 | Salmo 117
O dia da Páscoa ressoa em toda a liturgia como um grito de vitória: Cristo ressuscitou! Este é o dia que o Senhor fez para nós — um dia em que a vida venceu a morte, a esperança renasceu, e o amor mostrou-se mais forte que tudo. O Salmo 117 canta com alegria: “Este é o dia que o Senhor fez: alegremo-nos e nele exultemos!”
Mas esse dia tão glorioso começou com silêncio e surpresa, com um túmulo vazio e corações confusos. O Evangelho de João nos apresenta a corrida de Maria Madalena, Pedro e o discípulo amado ao sepulcro. Eles não encontram Jesus ali, mas apenas os sinais de sua passagem: as faixas de linho no chão, o sudário dobrado.
A fé pascal não nasce da lógica, mas da experiência do mistério. O discípulo amado “viu e acreditou”. Ele viu o vazio e acreditou na plenitude. Isso é Páscoa: ver o invisível, confiar no que parece impossível, crer no Amor que não morre.
No livro dos Atos, Pedro anuncia com clareza o coração da fé cristã: “Jesus, que passou fazendo o bem e curando os oprimidos, foi crucificado, mas Deus o ressuscitou ao terceiro dia.” E ele testemunha que esse Ressuscitado apareceu aos que comeram e beberam com Ele — não a todos, mas àqueles que caminhavam com Ele. A ressurreição não é um espetáculo público, mas uma experiência que transforma a vida dos que O amam.
Hoje, somos chamados a ser essas testemunhas: homens e mulheres que experimentaram o Cristo vivo em sua história e o anunciam com a vida.
A carta aos Colossenses nos recorda: “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto.” A Páscoa não é apenas um evento do passado, mas uma realidade que nos transforma no presente. Ressuscitar com Cristo significa deixar para trás o “fermento velho”, como diz São Paulo aos Coríntios: tudo aquilo que pesa, que corrompe, que nos distancia do amor e da comunhão.
Celebrar a Páscoa é viver como novas criaturas, revestidos da luz e da alegria de Cristo. É fazer da vida uma Eucaristia permanente, um testemunho vivo da presença do Ressuscitado no mundo.
Hoje, diante do túmulo vazio…
Também nós nos aproximamos do túmulo, como Maria Madalena. Também nós corremos, como Pedro e o discípulo amado. E o que encontramos? Não provas, mas sinais. Não certezas humanas, mas a presença silenciosa de um Deus que nos precede e nos convida a crer.
Cristo não está mais entre os mortos. Ele caminha conosco, ressuscitado.
Ele está nas feridas curadas, nos corações reconciliados, na paz reencontrada.
Ele está em cada gesto de amor que vence o medo, em cada perdão que renasce, em cada vida restaurada pela esperança.
Oração final
Senhor Ressuscitado,
como o discípulo amado, queremos ver e acreditar.
Ensina-nos a reconhecer-te nos sinais discretos da vida,
a correr ao encontro da tua presença viva,
e a viver como testemunhas da ressurreição.
Que este dia, que tu fizeste para nós,
seja o início de uma vida nova,
marcada pela luz, pela alegria e pela paz.
Amém.