O texto “Crescer em Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida” é uma meditação proferida por Pe. Tiago Alberione às Pias Discípulas do Divino Mestre, em 14 de novembro de 1966, como preparação espiritual para o centenário do martírio dos santos Pedro e Paulo. Nesta reflexão simples e profunda, Alberione conduz as religiosas a contemplar o mistério do crescimento interior em Cristo, partindo da afirmação evangélica: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6).
Texto em italiano: APD66
O autor convida à introspecção e à oração, destacando que, assim como o corpo precisa de alimento material, a alma necessita ser continuamente nutrida pela graça. Esse alimento espiritual é o próprio Cristo, que se oferece na Eucaristia e na Palavra como fonte de vida abundante. Alberione explica que o verdadeiro crescimento cristão consiste em conformar a vontade, o pensamento e o amor aos de Cristo — caminhando em obediência (Caminho), iluminando a mente pela fé (Verdade) e vivendo no amor a Deus e ao próximo (Vida).
A meditação propõe um exame de consciência: estamos realmente crescendo em Jesus Cristo? Estamos deixando que Ele viva em nós, como dizia São Paulo: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20)? Com esse chamado, Alberione recorda que a santidade é um processo contínuo, que dura até o último suspiro, e que se alimenta na oração, na fidelidade à vocação e no amor à Igreja.
Lida hoje, essa meditação conserva toda a sua atualidade: é um convite à formação interior, à vida eucarística e à comunhão com o Espírito do Concílio Vaticano II, que renovava a Igreja naquele tempo. Alberione, com sua clareza e fervor, nos convida a crescer com Cristo, por Cristo e em Cristo — até que seja Ele a viver plenamente em nós.
55. CRESCER EM JESUS CRISTO, CAMINHO, VERDADE E VIDA
Meditação à Comunidade das Pias Discípulas do Divino Mestre em preparação ao ano centenário do martírio dos santos Pedro e Paulo.
Roma, Via Portuense 739, 14 de novembro de 1966
Neste tempo, especialmente em novembro e dezembro, somos convidados a refletir e a rezar. Façamos, pois, uma breve meditação. Devemos considerar que o ser humano é composto de alma e corpo, e que se alimenta com o alimento material; mas, além do corpo, há aquilo que é o homem em sua essência, isto é, a vida sobrenatural. Assim como o corpo precisa de alimento, também a alma necessita de nutrição, sim, a alma que, quando vive em estado de graça, cresce em santidade e continua a corresponder ao amor de Deus. Devemos, portanto, considerar esta vida sobrenatural, a vida da graça, a vida que Jesus Cristo nos concedeu.
A alma precisa de alimento espiritual para crescer. O Senhor disse: “Vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10). São Paulo também nos ensina a crescer em Jesus Cristo (cf. Ef 4,15). E o mesmo São Pedro exorta: “Crescei em espírito, em Cristo” (cf. 1Pd 2,2). Assim, recebemos esta vida sobrenatural, uma vida que pode crescer continuamente. O homem, quando chega aos 20 ou 22 anos, já não cresce mais fisicamente. Mas a alma, sim, quando vive na graça e deseja verdadeiramente crescer em Cristo, pode crescer dia após dia, ano após ano, até o fim da vida presente. Crescer, sim! O próprio Jesus nos fez compreender isso quando o Evangelho diz que Ele “crescia em sabedoria, em estatura e em graça” (Lc 2,52).
Qual é, então, o nosso alimento? É o próprio Jesus Cristo. Ele se fez pão, e o pão é transformado n’Ele. Jesus é o alimento de nossas almas; e cada dia, a vida espiritual se torna mais vigorosa. Assim, de que nos nutrimos? Alimentamo-nos do próprio Cristo, até o ponto em que Ele domina plenamente a parte humana de nosso ser. Então se realiza o que diz São Paulo: “Vivit vero in me Christus”: é Cristo quem vive em mim (Gl 2,20).
Jesus Cristo disse de si mesmo: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). Ele é aquele que nos alimenta.
“Eu sou o Caminho”: crescer em Jesus Cristo, Caminho, significa caminhar como Ele quer, trilhar o caminho da santificação, o caminho da vontade, isto é, o caminho da obediência. Peçamos ao Senhor o dom de oferecer-Lhe nossa vontade. Ele é o Caminho, aquele que nos indica a obediência ao desígnio do Pai.
“Eu sou a Verdade”: é Ele quem ilumina nossa mente. Devemos fazer com que nossos pensamentos se tornem os pensamentos de Cristo, que as verdades que guiam nossa vida sejam as que estão n’Ele. Assim, além do alimento da vontade, há o alimento da mente, a fé. Crescemos na fé quando pensamos como Cristo, quando deixamos que Ele pense em nós.
“Eu sou a Vida”: a vida é o amor a Deus e ao próximo. Jesus amou o Pai e amou as almas. Assim, meditando o que Ele disse de si mesmo — Caminho, Verdade e Vida —, pouco a pouco, Cristo entra em nós, formando em nosso interior a vontade, o pensamento, a fé e a caridade. A nutrição espiritual é contínua, especialmente a partir da Profissão religiosa, quando o crescimento deve tornar-se mais abundante. Há almas que progridem rapidamente, e outras que caminham mais devagar, algumas até retrocedem em certos momentos.
Examinemo-nos, então: estamos crescendo em Jesus Cristo? Crescemos segundo a Sua vontade? Nossa vontade está realmente submissa à d’Ele? E quanto à fé, ao amor? Como estamos caminhando? Neste tempo de maior recolhimento e oração, o crescimento espiritual se fará sentir cada vez mais. Há também almas que retrocedem mas, segundo o espírito que vos anima, estou convencido de que em vós há, dia após dia, um crescimento de vida. Assim, pouco a pouco, podemos chegar a dizer com São Paulo: “Mihi vivere Christus est” (“para mim, viver é Cristo”) (Fl 1,21); “já não sou eu quem vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
Tomar São Paulo como protetor não é apenas porque foi pregador ou escritor, mas porque foi uma alma transformada em Cristo. É isso o que quero dizer nesta meditação: que nos conformemos à vida de São Paulo.
Em breve será enviada uma circular a toda a Família Paulina, pois nos aproximamos do centenário de São Pedro e São Paulo (1867–1967). No próximo ano, se o Senhor nos conservar a vida, deverá ser um tempo de nos aproximarmos mais de São Paulo, de seus pensamentos, de seus sentimentos. Sua vida foi toda ordenada a Cristo, toda voltada a Deus. Comecemos, pois, lendo a vida de São Paulo: há boas biografias disponíveis, e pensando em como poderemos expressar nosso afeto, nossa veneração e nossa oração.
Rezemos a São Paulo para que nos ajude a nos aproximar cada vez mais de Jesus Cristo, até que seja Ele quem viva em nós. Quando a alma cresce verdadeiramente, ainda assim pode crescer mais, alcançar uma santidade sempre maior, conforme as graças e o tempo que Deus nos concede.
Tenhamos este desejo, este propósito. Rezemos também a São Paulo por toda a Família Paulina: pelos que ingressam, pelos que crescem, e pelos que procuram corresponder à própria missão e vocação. Rezemos.
Hoje, a Família Paulina está presente em todos os cinco continentes: Europa, Ásia, África, América e Oceania. Rezemos, em primeiro lugar, pelas vocações; depois, por uma formação autenticamente paulina; pela santificação da vida religiosa; e, por fim, pelos frutos apostólicos, pelos frutos que chegam às almas com as quais entramos em contato. Rezemos, pois, por todos, por toda a humanidade, especialmente neste centenário.
Além disso, rezemos para que a Igreja possa realizar plenamente tudo o que foi estabelecido pelo Concílio Vaticano II. É uma graça imensa! Creio que já lestes os discursos do Papa nas audiências. Devemos acolher todos os seus pensamentos e desejos, acompanhá-lo com fidelidade. É admirável vê-lo trabalhar tanto, e o quanto Deus o tem sustentado em saúde. Rezemos por ele. É realmente um Pontífice suscitado por Deus para as necessidades deste tempo.
Concluindo: crescer, crescer sempre. Até quando? Até o último respiro. Entreguemos a Jesus Cristo nossa vontade, nossa mente, nosso coração. Cresçamos n’Ele, com Ele e por Ele.
E, por fim, sintamo-nos membros vivos e atuantes na Igreja, não vivendo apenas para nós mesmos, mas para a Igreja e para o Senhor. Eternidade! Eternidade!
Seja louvado Jesus Cristo.