Dando continuidade à leitura de alguns textos do Fundador sobre a devoção a Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida, prosseguimos agora com a homilia do Pe. Alberione, de 1966 (APD66).
A meditação Gesù l’unico Maestro, proferida por Tiago Alberione às Pias Discípulas do Divino Mestre em Roma, em 23 de janeiro de 1966, durante a novena dedicada ao Divino Mestre, é uma profunda reflexão sobre o papel de Cristo como único e verdadeiro Mestre da humanidade. A partir das leituras litúrgicas do III Domingo depois da Epifania, especialmente o Evangelho de Mateus (8,1-13), com as curas do leproso e do centurião, Alberione desenvolve uma catequese centrada em duas disposições interiores fundamentais para a vida espiritual: a humildade e a fé.
Segundo ele, é por meio dessas atitudes que o discípulo acolhe a graça de Deus e cresce na santidade. O leproso e o centurião tornam-se, assim, figuras paradigmáticas da confiança total em Jesus, cuja palavra e presença curam e transformam.
Na segunda parte, Alberione apresenta Cristo como o único Mestre, aquele que ensina pela palavra, pelo exemplo e pela própria vida: privada, pública, dolorosa e eucarística. Recorda os principais textos evangélicos em que Jesus se define como Via, Veritas et Vita, a videira verdadeira e o pão da vida, revelando que toda sabedoria e santidade derivam da comunhão com Ele.
Por fim, dirige-se às Pias Discípulas, convidando-as a aprofundar sua devoção ao Divino Mestre, especialmente na adoração eucarística, e a difundir essa espiritualidade no seio da congregação. Para Alberione, seguir o Mestre é deixar-se formar interiormente por Ele, para pensar, amar e agir segundo Cristo Caminho, Verdade e Vida.
5. JESUS, O ÚNICO MESTRE (Domingo III depois da Epifania)
Meditação à Comunidade das Pias Discípulas do Divino Mestre
Roma, Via A. Severo 56, 23 de janeiro de 1966¹
Na Epístola, Paulo instrui os Romanos com sua grande Carta:
Irmãos, não vos considereis sábios aos vossos próprios olhos.
A ninguém retribuais o mal com o mal, cuidando de fazer o bem não somente diante de Deus, mas também diante de todos os homens.
Se for possível, no que depender de vós, vivei em paz com todos os homens.
Não vos vingueis a vós mesmos, caríssimos, mas deixai lugar à ira de Deus².
E todos os outros ensinamentos que seguem na mesma Carta. Depois, recordemos o Evangelho, que já foi lido na Missa. No entanto, repitamos. As nações temerão o teu Nome, ó Senhor, e todos os reis da terra a tua glória³.
O Evangelho segundo São Mateus:
Naquele tempo, tendo Jesus descido do monte, uma grande multidão o seguiu — Jesus havia feito aquele célebre sermão, aquele grande sermão que começa com: “Bem-aventurados os pobres, etc.”⁴ —.
Assim, descendo depois do monte, um leproso veio prostrar-se diante dele, dizendo: “Senhor, se queres, podes purificar-me.”
E Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: “Eu quero, sê purificado.”
E imediatamente ele foi purificado da lepra.
Disse-lhe então Jesus: “Vê, não o digas a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote e oferece a oferta prescrita por Moisés, em testemunho para eles.”
Ao entrar em Cafarnaum, aproximou-se dele um centurião que o implorava, dizendo: “Senhor, o meu servo jaz em casa paralítico e sofre terrivelmente.”
E Jesus lhe disse: “Irei e o curarei.”
O centurião respondeu: “Senhor, eu não sou digno de que entres sob o meu teto, mas dize apenas uma palavra, e o meu servo será curado.
Pois também eu, ainda que sujeito a outros, tenho sob meu comando soldados; e digo a um: vai — e ele vai; e a outro: vem — e ele vem; e ao meu servo: faze isto — e ele o faz.”
Ouvindo-o, Jesus ficou admirado e disse aos que o seguiam: “Em verdade vos digo: não encontrei tamanha fé em Israel.
E vos digo que muitos virão do Oriente e do Ocidente e se sentarão à mesa no Reino dos Céus com Abraão, Isaac e Jacó, enquanto os filhos do Reino serão lançados nas trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes.”
E Jesus disse ao centurião: “Vai, e seja feito conforme a tua fé.”
E naquele instante o servo foi curado⁴.
Nós obtemos as graças depois que fazemos atos de humildade e de fé.
O leproso que recorre a Jesus sente-se tão pobre e tão enfermo — leproso; portanto, humilde.
E depois diz: “Se queres, podes purificar-me” — eis aí.
Então: “Se queres, tu podes purificar-me.” — essas são as duas disposições necessárias para obter.
A humildade: reconhecer a própria pobreza.
E o Senhor é rico, é onipotente, e Ele pode tudo.
Eis as duas disposições.
E Jesus estendeu a mão e o tocou, dizendo: “Eu quero, sê purificado.”
E imediatamente foi purificado da lepra.
Depois, outro milagre, outra graça — mas também aí houve humildade e fé.
Ao entrar em Cafarnaum, aproximou-se dele um centurião que o implorava, dizendo:
“Senhor, o meu servo jaz em casa paralítico e sofre terrivelmente.”
Eis a humildade.
E Jesus lhe respondeu:
“Irei e o curarei.”
O centurião replicou:
“Não sou digno de que entres em minha casa.”
Humildade.
Mas acrescenta, como quem diz:
“Tu podes curá-lo de longe, sem vir à minha casa.”
Eis a fé.
A humildade: reconhecer que não é digno de que Jesus entre em sua casa.
E são essas as palavras que nós dizemos antes da comunhão:
Domine, non sum dignus…¹
E depois, a fé:
“Não é necessário que entres em minha casa, mas dize apenas uma palavra — mesmo daqui, de longe — e ele será curado.”
Ele queria dizer:
“Tu és o Senhor de tudo, e portanto, podes tudo.
Também eu tenho autoridade: posso dar ordens àqueles que me são sujeitos.
Assim, tu és o Senhor de todas as coisas, e tudo te é sujeito.
Tu podes ordenar a tudo — inclusive ao mal.”
Portanto, o comando sobre o mal, sobre a doença.
E então o Senhor Jesus realiza uma maravilha.
Este homem era um pagão, e muitos outros, ao contrário, não haviam acreditado.
“E vos digo que muitos virão do Oriente e do Ocidente e se sentarão à mesa, no Reino dos Céus, com Abraão, Isaac e Jacó.”
Isto quer dizer: um dia o Evangelho será pregado “de um mar a outro mar”, ou seja, por todo o mundo; e muitos que hoje são pagãos tornar-se-ão cristãos e entrarão no paraíso.
E muitos dos judeus obstinados serão expulsos do paraíso.
E Jesus disse ao centurião: “Vai, e seja feito conforme a tua fé.”
E naquele instante o servo foi curado.
Vejamos: nós medimos as graças de Deus — e de que modo?
Segundo a nossa fé, se é pequena ou grande.
Assim, obtemos pouco ou muito conforme a nossa fé.
E fé verdadeira — não há muita. Não há muita fé.
Vede: no mundo, há bem pouca.
Mas também nós, depois de tantas graças, depois de tantas instruções, depois de tantas práticas de piedade, ainda não temos aquela fé que faz os santos.
E cada um se faz santo na medida em que tem fé.
Se se diz: “Fazei-nos santos”¹ — mas quando isso é dito só com os lábios, sem compreender bem o que se diz e qual é a disposição interior…
Portanto, há dois grandes ensinamentos:
o leproso, humilde e cheio de fé;
o centurião, humilde e cheio de fé.
E ambos obtiveram [a graça].
Assim, dois milagres.
Oh! Então devemos extrair deste Evangelho o ensinamento da humildade e da fé.
Mas é preciso dizer que essas disposições precisam estar no íntimo; e, dolorosamente, muitas vezes — ou melhor, sempre — ainda não fizemos o ato de verdadeira humildade, profunda, aquela que agrada a Deus;
nem a fé profunda, aquela que agrada a Deus.
Então: “Fazei-nos santos.”
E assim será: cada um se fará santo.
Estamos na novena do Mestre Jesus.
E então, lede bem a tradução¹.
E assim, como devemos pensar?
O Mestre Divino é um só, Jesus Cristo — vinde, adoremo-lo².
Ou seja: Ele somente é o verdadeiro Mestre.
E o que ensina o Mestre?
Primeiro, ensina com o exemplo:
sua santíssima vida privada,
sua santíssima vida pública,
sua santíssima vida dolorosa,
e sua santíssima vida eucarística sob as espécies do pão:
está presente na hóstia e se dá a comer a nós.
Pode-se chegar a um ato de humildade assim?
Ele é o Mestre — portanto, o seu exemplo.
Mas há também tudo o que Jesus ensinou com palavras.
E aí devemos considerar os três capítulos do discurso da montanha:
“Bem-aventurados os pobres, etc.”³
Mas são poucos os que sabem observar bem a pobreza;
aqueles que amaram o sofrimento, as dores, etc.
Como estamos distantes de compreender tudo o que está no discurso da montanha, especialmente nas Oito Bem-Aventuranças!
- Ego sum Via, Veritas et Vita.
Então: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida.
Quem me segue não andará nas trevas¹.
Isto é: quem segue — quem procura seguir, imitar — Jesus, não andará nas trevas, mas terá a luz da vida.
Ou seja, seguindo Jesus, terá a vida eterna.
- Vós me chamais Mestre e Senhor — e o chamavam, de fato, Mestre —
e dizeis bem, porque o sou: Mestre e Senhor².
Isto é: o Mestre que ensina, e o Senhor, que é o Deus da terra e do céu, o Criador.
Eu, de fato, vos dei o exemplo³ —
eis o primeiro ensinamento: o exemplo —
para que, assim como eu fiz, também vós o façais³.
Humilhar-se como Jesus.
- Não vos façais chamar de Doutores — como queriam ser chamados os chefes do povo judeu —
porque um só é o vosso Doutor: o Cristo;
o verdadeiro mestre do caminho do céu.
Vós todos sois irmãos⁴; não mestres.
- O discípulo não é mais que o Mestre;
todo aluno, ao completar sua formação, será como o seu mestre⁵.
Ou seja: se seguirmos o Mestre pelos exemplos que ele deixou, também nós seremos como ele — iguais ao Mestre —, isto é, viveremos como Jesus vivia.
- Eu sou a videira, vós os ramos.
Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto⁶.
Ou seja: a graça de Deus está na alma boa.
A videira e os ramos: há a mesma seiva em Jesus Cristo — ou seja, a graça — que passa a nós, os membros, assim como a seiva nutre a planta e os ramos.
“Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto.”
Isto é: tendo em nós a graça, o que fazemos dá muito fruto, ou seja, mérito.
- Eu sou o pão da vida.
Quem comer deste pão viverá eternamente,
e o pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo⁷.
A sua imolação.
E então: Multifaria multisque modis — isto é, o Senhor ensinou de muitos modos e de diversas maneiras nos tempos antigos:
pelos Profetas, pelos Patriarcas.
Mas agora, nestes últimos tempos, é Jesus quem fala:
Locutus est nobis in Filio⁸ — “falou-nos por meio do Filho”.
Depois, as Pias Discípulas deveriam cantar de preferência essas coisas:
a antífona:
“Deus, que antigamente falou muitas vezes e de muitas maneiras aos Pais por meio dos Profetas, nestes últimos tempos falou também a nós por meio do Filho”¹;
e esses hinos que estão traduzidos:
- Ego sum Via² — primeiro;
- Ego sum Veritas³ — segundo;
- Ego sum Vita⁴ — terceiro.
Se não cantardes vós, que sois as Discípulas do Mestre, quem cantará?
Parece-me que se exige muito mais devoção ao Mestre Divino, que é o Caminho, a Verdade e a Vida.
Empenhei bastante tempo em preparar estas coisas — e com o conselho que recebi, e com o estudo, e com o que submeti à Santa Sé, como a Missa do Mestre Divino; e isso levou três, quatro anos (…).
E agora seria bom que justamente as Discípulas cantassem ao Mestre.
Por quê?
Porque não se considera suficientemente o Evangelho, onde o Mestre ensina, onde Ele instrui.
E nós devemos — e vós deveis — ter uma devoção particular ao Divino Mestre.
E estamos na novena.
Mas não deve ser apenas agora.
Isso, sim, para o mês de janeiro, para a novena.
Mas qual é a vossa devoção?
A vossa devoção é o Mestre.
E os louvores?
E como são as orações ao Divino Mestre no livro das Orações?
O diabo tenta sempre desviar um pouco a espiritualidade, a piedade deste ou daquele.
Muitas vezes nem se compreende, nem sequer se percebe Jesus —
às vezes, nem mesmo na Comunhão,
que é o Mestre (…),
aquele que orienta a mente, o coração e a vontade,
para que sejamos nEle, para que Ele seja em nós.
Há comunhões que são assim… mais ou menos.
Mas serão realmente aquelas que agradam plenamente a Jesus Mestre?
Assumi este compromisso: considerar e ensinar isto,
começando pela casa do noviciado, passando depois às irmãs professas e depois às outras casas.
É preciso mais devoção ao Divino Mestre.
E quando se está ajoelhada fazendo a Adoração,
eis o Mestre, que então fala a nós.
Orar com distração (…), ler isto e aquilo…
Mas é preciso rezar de verdade,
e rezar ao próprio Mestre, que é a nossa devoção,
e que é a vossa devoção em particular.
Peço ao Senhor esta graça:
que a devoção ao Divino Mestre domine sobre todas as outras.
Seja louvado Jesus Cristo.
Notas
- Fita 134/b (= cassete 206/a).
Para a datação, cf. PM: “Estamos na novena do Mestre Jesus (festa em 30 de janeiro de 1966)” (cf. PM em c41).
Com base neste dado seguro, a datação das outras meditações n.º 3 e 8, gravadas na mesma fita e em sequência, foi considerada muito provável.
— dAS, 23 de janeiro de 1966 (domingo): “Por volta das 5h, Missa e meditação às PD (na capela). Às 15h, em Ariccia, para uma meditação às PD em Exercícios.” — VV (cf. c20). - Epístola: Rm 12,16–21.
- Gradual: Sl 101,16–17.
- Evangelho: Mt 8,1–13.
(Cf. Mt 5,3–10 para as Bem-Aventuranças). - Domine, non sum dignus… — Cf. Missale Romanum, Cânon da Missa.
- Fazei-nos santos: referência ao uso tradicional da coroinha:
“Virgem Maria, Mãe de Jesus, fazei-nos santos”, recitada na hora de levantar-se e de deitar-se. - Novena a Jesus Mestre, em As Orações da Família Paulina, ed. 1965, pp. 350–352.
- Invitatório da novena, cf. Mt 23,8.
Referências bíblicas:
- Jo 14,6; 8,12.
- Jo 13,13.
- Jo 13,15.
- Mt 23,8.
- Lc 6,40.
- Jo 15,5.
- Jo 6,48.51.
- Hb 1,1–2.
- Cf. Liber Usualis Missae et Officii, In Circumcisione Domini et Octavam Nativitatis, ad Missam, Alleluia. Cf. também Hb 1,1–2.
- Cf. As Orações da Família Paulina, op. cit. (1965), p. 234.
- Ib., p. 232.
- Ib., p. 236.