ALBERIONE E A LITURGIA

Por Ir. Ana Mazzurana, pddm

 A Liturgia é o Cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte donde emana toda a sua força, assim declarou o Concílio na Constituição sobre a Liturgia (SC 10). Para Alberione, esta afirmação calou fundo e veio confirmar sua intuição  de que a  liturgia devia ser  o caminho natural do seguimento de Jesus Cristo no decorrer do Ano Litúrgico.[1]

A formação litúrgica e a atividade apostólica de pe. Alberione a serviço da liturgia têm uma história: leu livros e revistas de liturgia; seguiu a indicações de Pio X para o ensino da liturgia, ao dar aula no seminário; foi cerimoniário do Bispo, com a incumbência de preparar o livro das cerimônias; deu aula de arte sacra e, sobretudo, sempre deu preferência à oração da Igreja e com a Igreja (AD, 71-77).

Cita com muita freqüência o ora et labora da Regra Beneditina eescolheu como data de fundação das Discípulas, 10 de fevereiro, data em que a Igreja faz memória Santa Escolástica, irmã de São Bento. Ele escreve: “Para vocês este dia é muito importante porque lembra o aniversário do seu nascimento.(…) Na comemoração de  Santa Escolástica, recordem a função litúrgica que tiveram os beneditinos e as beneditinas. Portanto, grande estima por tudo o que se refere à liturgia. Não fiquem no exterior, mas penetrem o íntimo da liturgia, façam  algo a mais, diferente para alcançar o verdadeiro apostolado: levar todos à Eucaristia!”[2]

Ter participado do Concílio foi para Alberione, já maduro nos anos, uma confirmação de sua missão de  comunicador do Evangelho com os meios da comunicação social  e um reconhecimento da sua espiritualidade centralizada no Mistério de Cristo, celebrado na Liturgia.

Alberione, em sua  catequese e ação pastoral, sempre procurava formar as pessoas e comunidades  à luz da liturgia. Nas homilias que fazia, referia-se não somente às leituras do dia, mas também  às orações e prefácio. Ele mesmo escreve, falando de si mesmo na terceira pessoa do singular escreve: “…era preciso explicar o evangelho nas missas,  era o que  fazia aos domingos, na catedral. Esse costume se introduziu depois em muitas paróquias…” “sentia sempre mais o gosto de rezar a oração da Igreja”.[3]

A partir dessa sua experiência, convidava a Família Paulina  a aprender dos santos padres e a fazer da liturgia uma escola de fé: “Os santos padres ajudavam a viver a liturgia, que é uma escola de fé e de oração… Seguindo a liturgia é possível elevar os corações dos irmãos ao Senhor, pois a liturgia não é só uma comemoração de fatos, mas celebração da vida, da vida de Cristo”.[4]

Tinha também uma grande preocupação com o estudo da liturgia e não medida esforços para incentivar o estudo e o cultivo da espiritualidade litúrgica: “É necessário estudar, meditar e difundir a Bíblia,… para conhecer a fonte de onde a Igreja atinge a doutrina e para alimentar nossa espiritualidade…estudar os livros litúrgicos, não só como cultura, mas como fonte de meditação e possibilidade de celebrar com inteligência e com sentimento de quem se apropria do próprio sentimento da Igreja quando celebrar a liturgia”.[5] Alberione desejava que todos, ao celebrar, pudessem “sentir a beleza da Liturgia“.

 Estudo, para Alberione, era também sabedoria da fidelidade dinâmica “precisamos seguir as leis litúrgicas, mas sempre é possível melhorá-las. Observá-las, na medida do possível, com perfeição. Mas acima de tudo interpretar o sentido das funções, o sentido das palavras”.

A Espiritualidade do Ano Litúrgico

Alberione participava ativamente do desenrolar-se do Ano Litúrgico e deixou-se tocar pelo espírito desta dinâmica. De fato, fez do Ano Litúrgico seu itinerário natural no seguimento de Jesus. Vivenciava profundamente a espiritualidade própria de cada tempo, de cada domingo, e não media esforços para formar as comunidades na espiritualidade, centralizada na Palavra de Deus, seguindo o próprio do tempo litúrgico.

Alberione, porém, não tinha a preocupação de escrever sobre o Ano Litúrgico ou a liturgia. Na verdade, ele não foi um teórico da liturgia, no sentido estrito da palavra, e sim um especialista na vivência do Mistério de Cristo celebrado na liturgia. Por isso seu jeito familiar e simples de expressar a profundidade do Mistério celebrado no diferentes tempos litúrgicos:

 “Os ciclos litúrgicos são contemplados a partir de três vertentes: preparação, celebração e frutos. O Advento é um tempo com uma característica  alegre: a espera do Messias e a grande alegria de recebê-lo: Deus conosco, o Redentor, o Salvador que vem para realizar todas as promessas. Por isso, podemos dizer que é um tempo feliz, enquanto a Quaresma é mais penitencial, tem um caráter de sobriedade, é um tempo de preparação de toda a Igreja para ajudar-nos a fazer da Páscoa, da Ressurreição de Jesus, a celebração central do grande Mistério da nossa, fé”.[6]

O Ano Litúrgico era entendido por Alberione como uma grande unidade sem a qual seria impossível perceber a totalidade do Mistério de Cristo: “O Filho de Deus assumiu um corpo, fez-se homem e morreu por nós. Preparar a Páscoa é lembrar que no Natal recebemos do céu o Filho de Deus feito homem. Nós contemplamos Jesus em Belém, no presépio. Na Páscoa vemos Jesus que se imola, fazendo-se dom e entrega de si mesmo a nós”.

Já em 1939 ele falava da dinâmica do Ano Litúrgico, entendida como um processo em espiral: “O Ano Litúrgico, com suas festas, è ordenado a três fins: conhecer Jesus; imitar Jesus; viver Jesus… O Ano Litúrgico é como o caminho que sobe uma montanha de forma circular. O viajante que a percorre se encontra a cada volta num ponto paralelo à aquele da partida, mas sempre mais no alto, até atingir o cume que é a posse do Reino”.[7]

Como instrumento de ajuda na vivencia deste itinerário, Alberione deixou algumas pistas:

“É útil ler alguns comentários que possam ajudar a entender melhor e a acolher os ensinamentos que brotam do Evangelho. Portanto, ler o Evangelho, o catecismo, os livros litúrgicos, e perguntar-nos: como Jesus viveu?  como realizou a vontade do Pai? E nós o  que estamos buscando? Procuramos a Deus como Jesus?. Amar a Palavra de Deus, desejar compreender o sentido da Palavra dita por Jesus. Olhar como Jesus fazia, pensar na sua Palavra e ao mesmo tempo senti-la e praticá-la. Este é o caminho para conhecermos melhor nosso Mestre”.  (Quaresma 1960).

Como celebrar

Alberione foi um homem atento ao Divino e ao humano. Sua preocupação era formar pessoas capazes de totalidade, mente, vontade, coração. Queria pessoas abertas e sensíveis à história, à cultura, à vida. Pessoas livres e participantes do desenrolar da história. Certamente este seu lado humano o ajudou a perceber a importância de preparar  uma celebração, que  cuidasse do espaço, da beleza, que respeitasse a comunidade celebrante,  a cultura, o tempo litúrgico, que tudo favorecesse a celebração do mistério pascal de Cristo: “Estamos na semana santa, é necessário saber explicar (ao povo), por exemplo, porque se cobre o crucifixo ou porque se usa a cor roxa,  porque existe a Páscoa, a festa de Pentecostes ou  Natal, ou ainda, porque a Igreja celebra a festa dos santos, as festas  de Nossa Senhora. Saber explicar tudo para adquirir o verdadeiro espírito da liturgia, mesmo as pequenas coisas, como o cuidado com o altar, a limpeza do espaço, as velas, as vestes. Sobretudo na semana santa preocupar-se para que todos os fiéis se acomodem e se sintam bem confortáveis no espaço litúrgico, assim poderão participar com inteligência, e coração das celebrações litúrgicas”.

O Concílio  lembra exatamente a importância desta participação plena, consciente e ativa, exigida pela própria natureza da liturgia e pelo direito que o povo tem por força do seu batismo (SC 14). “A Liturgia é como um rio  que atravessa todo o Ano: um rio de graças, de luz, de bênçãos”.

Alberione e o Concílio

Alberione seguiu atentamente a evolução do movimento litúrgico e dele falava às Irmãs Pias Discípulas, como fez por exemplo, em 1963, a respeito da Sacrosanctum Concilium, sobre a liturgia, a primeira Constituição aprovada pelo Concílio Ecumênico Vaticano II, votada também pelo pe. Alberione.

Já antes, em outubro de 1962,  portanto, durante Concílio Alberione fala às Pias Discípulas sobre suas preocupações com a reforma litúrgica: “Que o Espírito Santo derrame a suas luzes sobre todos os padres conciliares, a fim de que seja considerado apenas aquilo que melhor apresente o culto e melhor glorifique a Deus, sobretudo o que se refere à Eucaristia… se é preciso rever os livros litúrgicos – Breviário, Missal, Ritual Pontifical – também para isso precisa-se da luz de Deus, sempre na busca de compreender a mentalidade e as necessidade de hoje…é preciso caminhar, isto é, deve-se rodar segundo o desenvolvimento dos tempos…O Concílio Vaticano II vem cumprir a sua missão, que é necessária no momento atual da história e da história da Igreja. Por isso, é preciso colaborar com tudo o que se refira à liturgia, ao centro da liturgia; a Eucaristia”.

E dado que a renovação litúrgica não é só reforma do ritos, mas também a retomada de um novo contato vivo com a Bíblia, Palavra de Deus. Junto com o movimento litúrgico deve ser estudado também o movimento bíblico. Da Bíblia, de fato, é que nasce a compreensão da liturgia. Participante ativo deste movimento eclesial, pe. Alberione rezou, pregou e trabalhou muito para a compreensão e divulgação da Bíblia, e do Evangelho. O binômio Bíblia – Liturgia era, para ele, essencial, como o recorda o próprio Alberione em 1965: “essa contínua descristianização da vida, da arte, do pensamento, deve-se à falta do oxigênio litúrgico-bíblico, que durante séculos sustentou a vida do povo. Do fenômeno da separação entre liturgia e Bíblia resultaram consequências como: a grande massa não entendia mais a Missa, os sacramentos, a funções… A pregação, distante da bíblia, não era mais sentida como Palavra de Deus, e sim um raciocínio humano. A liturgia é a sacramentalidade da Bíblia…, segue-se a necessidade da Bíblia para o povo; do contrário, para o povo a liturgia nada diz, e por isso deixa de louvar a Deus e não faz uma prece consciente”

De fato, uma nova pedagogia espiritual nasceu a partir do Concilio para o crescimento, em Cristo, do povo cristão, chamado a entrar no mistério da salvação.

Em 1963 Alberione, em pleno Concílio, Alberione lembrava às Pias Discipulas: “ Rezai para que os padres conciliares sejam iluminados e todos compreendam o que é essencial na liturgia, não somente na parte técnica, mas sobretudo o espírito, o que constitui a vida. A liturgia tem um corpo esterno, mas este corpo deve ter uma alma, e a alma é o espírito”.[8]

O caminho percorrido por pe. Alberione

Na igreja do Brasil, Alberione é conhecido como o homem que dedicou toda a sua vida ao anúncio do Evangelho através da comunicação social.  Alberione, ainda jovem, intuiu  que os meios da comunicação  formariam a cultura do novo século (1900) e  dos séculos  futuros,  e consequentemente que também a Igreja, já não poderia mais evangelizar sem contar com a ajuda destes meios e das novas técnicas que haveriam de surgir. Assim dizia Alberione nos anos 50: “A imprensa, o cinema, o rádio e a televisão, constituem hoje os mais urgentes, rápidos e eficazes meios para a missão evangelizadora. Com essas técnicas, deve-se comunicar às pessoas a mensagem do Evangelho e tudo o que é bom, verdadeiro e útil”.

Mas Pe. Alberione foi também o homem da universalidade e da intimidade com Deus: “é preciso ter no coração todos os povos e fazer com que em todos os problemas, se sinta a presença da Igreja”. Seus olhos de apóstolo estavam fixos no Cristo do Evangelho, o Mestre Caminho, Verdade e Vida da humanidade. A Bíblia, a Eucaristia, a Igreja, o ecumenismo, o mundo moderno, a necessidade de novos apóstolos povoavam sua mente e fizeram dele  um grande místico, ativo e inquieto. Sua espiritualidade era alimentada nas fontes das águas puras da liturgia. Talvez esta última característica seja a menos conhecida na vida de Alberione, e com este artigo queremos  tornar conhecido um pouco do coração litúrgico deste homem do nosso tempo.


[1] Sobre a contribuição dada pelo pe. Alberione ao movimento litúrgico, há a tese de doutorado em Sagrada Liturgia da primeira mulher doutora, pelo Instituto de Santo Anselmo, em Roma. Trata-se da Pia Discípula Agnes Abayan Tapang – Giacomo Alberione – 1884-1971 – and the liturgical movement, Roma, 1988.

[2] Tiago Alberione, Opera omnia, Alle Pie Discepole Del Divin Maestro (=APD)(1946/47)98, 138-141

[3] Tiago Alberione, opera omnia, Abundantes Divitae Gratiae suae, Ed. Paulus, Roma (2000)nº 72. 140

[4] Alberione, Giacomo, Opera Omnia, 2 “Mihi vivere Christus est.”, Roma,  (1971), p.98

[5] Opera Omnia APD – 1960, p. 182

[6] Opera Omnia APD 1961, p.27

[7] Citado no livro Vade-mecum, nº 755,  St Paul publications, Roma 1989.

[8]  Tiago Alberione, APD, nº 340, 1963

141º ANIVERSÁRIO DO NASCIMENTO DO BEM ABENTURADO TIAGO ALBERIONE

4 DE ABRIL: UMA DATA DE GRATIDÃO E REFLEXÃO

Neste dia especial, celebramos com gratidão o nascimento do Bem Aventurado Tiago Alberione, fundador da Família Paulina e apóstolo incansável da comunicação a serviço do Evangelho. Nascido em 4 de abril de 1884, em San Lorenzo di Fossano, Itália, Alberione veio ao mundo em uma família humilde, mas profundamente enraizada na fé cristã. Desde cedo, sentiu-se chamado por Deus a uma grande missão: evangelizar com os meios de comunicação e formar apóstolos para o Reino de Deus.

Ele mesmo, ao longo de sua vida, reconheceu a obra da misericórdia divina sobre si. Em um de seus escritos espirituais, expressou com humildade:

“Tua misericórdia é infinita: nunca poderei compreendê-la totalmente. Quero mais adorá-la do que investigá-la. Como escolheste para ser Sacerdote […] um tão grande pecador, que previas que trairia tuas expectativas?… Foi toda e somente tua misericórdia. Sou um milagre de Deus!”
(G. Alberione, Paulo Apóstolo Inspirador e Modelo, 163-164.)

As palavras do Bem Aventurado Alberione são um chamado à confiança na graça divina e um lembrete de que a missão é um caminho a ser percorrido com fé e fidelidade. Assim como ele respondeu ao chamado divino, somos convidadas a renovar nosso compromisso missionário e a adaptar nossa evangelização aos desafios do nosso tempo, com criatividade e coragem.

O CHAMADO À RENOVAÇÃO: UMA MISSÃO PERMANENTE

A conversão pastoral é um dos grandes desafios da Igreja hoje. O Papa Francisco nos convida a repensar nossas estruturas e métodos para que estejam a serviço da missão evangelizadora, como afirmou na Evangelii Gaudium:

“Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que costumes, estilos, horários, linguagem e estruturas eclesiais se tornem um canal adequado para a evangelização do mundo atual, mais do que para a autopreservação.”
(EG 27)

Esse pensamento ressoa com as palavras de Alberione, que, ao comentar a renovação da vida religiosa, disse:

“Renovação significa ser sempre mais religiosos, a cada dia, a cada mês, a cada ano. […] Devemos nos perguntar se estamos nos renovando e melhorando.”
(APD 1966, 375)

Ser fiéis ao carisma de Alberione significa manter viva essa atitude de renovação e compromisso missionário. Precisamos nos questionar:

  • Quero ser mais perfeita?
  • Quero ainda me converter?
  • Desejo mudar para me tornar mais discípula e apóstola de Jesus?

ORAÇÃO PELO BEM AVENTURADO TIAGO ALBERIONE

Com o coração cheio de gratidão, elevemos nossa oração:

“Senhor, te agradecemos pelo nascimento da Família Paulina por meio do Bem Aventurado Tiago Alberione. Que os apóstolos do Evangelho tenham o desejo ardente de levar tua Palavra a todos os povos. Ajuda-nos a usar os meios de comunicação para o bem e a paz no mundo. Que o Bem AventuradoAlberione seja reconhecido como santo, para que sua obra de amor seja ainda mais louvada. Concede-nos seguir seus passos com fidelidade e coragem, como peregrinas da esperança. Amém.”

Que o Bem Aventurado Tiago Alberione interceda por nós, para que possamos irradiar Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida, sendo instrumentos de sua luz no mundo!

Texto escrito pelo Secretariado de Espiritualidade do Governo Geral.

SANTA ESCOLÁSTICA E MADRE ESCOLÁSTICA: DUAS MULHERES, UM MESMO AMOR POR JESUS MESTRE

Por Ir. Julia de Almeida

Na história da Igreja Católica, há nomes que marcam épocas e vocações específicas. Entre eles, encontramos duas mulheres que, embora separadas pelo tempo e pelas circunstâncias, compartilham um mesmo nome e um mesmo amor profundo por Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida. Trata-se de Santa Escolástica, irmã de São Bento, e Madre Escolástica Rivata, a primeira religiosa das Pias Discípulas do Divino Mestre. Apesar de pertencerem a contextos distintos, ambas viveram sua vocação de maneira intensa e são figuras inspiradoras para a espiritualidade cristã.

Santa Escolástica: A Primeira Monja Beneditina

Santa Escolástica nasceu no século VI e era irmã gêmea de São Bento, o grande fundador da ordem beneditina e da tradição monástica no Ocidente. Desde jovem, Escolástica escolheu dedicar sua vida a Deus, fundando um mosteiro feminino que seguia a Regra Beneditina, com ênfase na oração, no trabalho e na vida comunitária.

Um dos episódios mais marcantes de sua vida foi seu último encontro com São Bento, narrado por São Gregório Magno. Conta-se que, em uma noite de conversa espiritual, Santa Escolástica desejava prolongar aquele momento de comunhão, mas São Bento insistia em seguir a disciplina e voltar ao seu mosteiro. Santa Escolástica então rezou, e uma forte tempestade impediu seu irmão de partir, permitindo que passassem a noite em oração e reflexão. Três dias depois, São Bento teve uma visão de sua irmã subindo ao céu em forma de uma pomba, indicando sua morte e sua entrada na glória eterna.

Essa história reflete o amor de Santa Escolástica pela oração e sua íntima união com Deus. Sua vida foi um exemplo de fé, obediência e entrega total, características essenciais da espiritualidade beneditina. Por isso, ela se tornou padroeira das monjas beneditinas, da vida consagrada feminina e das pessoas que buscam uma relação profunda com Deus através da oração.

Madre Escolástica Rivata: A Primeira Pia Discípula do Divino Mestre

Séculos depois, no século XX, surge uma nova Escolástica, chamada para uma missão diferente, mas igualmente marcada pela oração e pelo serviço ao Reino de Deus. Úrsula Rivata, nascida em 1897, foi a primeira mulher a ingressar na Congregação das Pias Discípulas do Divino Mestre, um ramo da Família Paulina fundado pelo Bem-aventurado Tiago Alberione. Ao professar seus votos, recebeu o nome de Irmã Escolástica Rivata, tornando-se a primeira religiosa dessa nova família religiosa.

As Pias Discípulas do Divino Mestre foram fundadas com um carisma muito especial: unir vida contemplativa e serviço apostólico, especialmente no cuidado da liturgia, na oração e na adoração ao Santíssimo Sacramento. Madre Escolástica foi uma das grandes responsáveis por dar forma a essa missão, ajudando na formação das primeiras irmãs e sendo um modelo de vida consagrada.

Ela viveu com simplicidade, discrição e grande espírito de obediência, enfrentando desafios e até períodos de isolamento dentro da própria congregação. No entanto, permaneceu fiel ao seu chamado, confiando sempre na vontade de Deus e no carisma que Alberione havia lhe confiado. Por essa razão, em 2014, o Papa Francisco reconheceu suas virtudes heroicas, concedendo-lhe o título de Venerável Madre Escolástica Rivata, um passo importante para sua futura beatificação.

Por que Alberione escolheu o nome Escolástica para Úrsula Rivata?

O Bem-aventurado Tiago Alberione não escolhia nomes ao acaso. Para ele, cada nome dado a um membro da Família Paulina possuía um significado profundo, refletindo uma missão e um modelo de santidade a ser seguido.

No caso de Úrsula Rivata, Alberione escolheu o nome Escolástica por algumas razões muito significativas:

  1. Ligação com a vida contemplativa: Assim como Santa Escolástica, Irmã Escolástica Rivata foi chamada a uma vida de intensa oração. O carisma das Pias Discípulas inclui a adoração eucarística e a espiritualidade litúrgica, que exigem uma alma profundamente contemplativa.
  2. Obediência e entrega total: Santa Escolástica foi um exemplo de confiança na providência divina e obediência à vontade de Deus. Madre Escolástica Rivata também viveu essa entrega, aceitando com humildade os desafios e provações de sua vida religiosa.
  3. Comunhão com a missão da Igreja: Santa Escolástica tinha uma relação profunda com São Bento e, juntos, influenciaram a vida monástica da Igreja. Da mesma forma, Madre Escolástica foi um pilar na construção da identidade das Pias Discípulas, auxiliando na formação das irmãs e na vivência do carisma paulino.
  4. Amor por Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida: Ambas as Escolásticas viveram centradas em Cristo. Santa Escolástica dedicou-se à oração e à contemplação, enquanto Madre Escolástica foi chamada a servir a Igreja na liturgia e na formação espiritual das religiosas e dos fiéis.

Duas Mulheres, Um Mesmo Espírito de Amor e Serviço

Embora separadas por séculos, Santa Escolástica e Madre Escolástica Rivata têm muito em comum. Ambas foram mulheres de oração, que viveram sua vocação com fidelidade e entrega total a Deus. Santa Escolástica influenciou a vida monástica feminina e nos ensina sobre o poder da oração e da confiança na vontade divina. Madre Escolástica, por sua vez, foi um exemplo de humildade e serviço dentro da Família Paulina, ajudando a construir uma nova espiritualidade para a Igreja do século XX.

O nome Escolástica, portanto, não foi apenas um título simbólico para Úrsula Rivata, mas uma verdadeira missão de vida. Tiago Alberione viu nela o espírito de Santa Escolástica e a confiou à mesma missão de santidade e comunhão com Deus. Hoje, ao lembrarmos dessas duas grandes mulheres, somos convidados a seguir seus exemplos, buscando em nossa vida um profundo amor por Jesus Mestre e um compromisso fiel com a missão da Igreja.

Que Santa Escolástica e a Venerável Madre Escolástica Rivata intercedam por nós e nos ensinem a viver com fé, oração e serviço a Deus e ao próximo!