A festa de “Corpus Christi”, celebra solenemente o mistério da Eucaristia que é o Sacramento do Corpo e do Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Esta é celebrada sempre em uma quinta-feira (após a oitava de Pentecostes, mais precisamente depois da festa da Santíssima Trindade), fazendo alusão à quinta-feira santa, dia em que Jesus instituiu este sacramento salutar.
A celebração de Corpus Christi tem origem no Séc. XIII, em 1243, na Cidade de Liège na Bélgica. Uma freira chamada Juliana de Cornion que depois foi canonizada, teria tido visões de Jesus Cristo demonstrando-lhe o desejo que a Eucaristia fosse celebrada com destaque. Vale também ressaltar o milagre eucarístico com o padre da Boemia, na Alemanha, que tinha dúvidas a respeito da veracidade da transubstanciação. Durante uma viagem da cidade de Praga a Roma, ao celebrar a santa missa na tumba de Santa Cristina, em Bolsena na Itália, no momento da consagração, viu sangue escorrer da Hóstia Consagrada, banhando desta forma as alfaias litúrgicas e também a pedra do altar. Impressionado com o fato, o sacerdote dirigiu-se até a cidade de Orvieto, onde residia o Papa Urbano IV, que logo enviou a Bolsena o Bispo Giacomo, para atestar o ocorrido e levar até ele o linho ensanguentado. Desta forma, a relíquia venerada foi levada em procissão a Orvieto em 19 de junho de 1264. O Papa então mostrou a relíquia ao povo.
O Santo Padre motivado pelas visões de Santa Juliana, e por este fato, fez com que a festa de Corpus Christi se estendesse por toda a Igreja por meio da Bula “Transiturus de hoc mundo”, em 11 de Agosto de 1264. Assim sendo, Santo Tomás de Aquino ficou encarregado de preparar as leituras e os textos litúrgicos que, até hoje, são usados na celebração. Em 1274, acontece a procissão com a Hóstia Consagrada conduzida em um ostensório. Contudo, na época barroca, esta procissão se torna um grande cortejo de ação de graças.
Tradicionalmente, muitas famílias e comunidades, se unem para preparar os tapetes pelas ruas cuja procissão com o Santíssimo Sacramento irá percorrer, é um gesto profundamente bonito e especial. Assim, a festa de Corpus Christi se torna um movimento de comunhão e participação, revelando o grande sentido de estarmos unidos ao mistério eucarístico que se revela no amor e na colaboração mútua.
Corpus Christi, reacende em nós a esperança, de que juntos podemos lutar por um mundo melhor, mais humano, mais fraterno e justo. Através da oração e da ação, podemos efetivar a vontade plena de Jesus que é a vida abundante para todos.
Neste ano, somos chamados a celebrar esta festa de um modo diferente, em casa, no seio de nossas famílias. Isto, de forma alguma tira a beleza desta festa, pois podemos acolher o Corpo e o Sangue de Jesus através da vivência do diálogo, do amor, da compreensão, do respeito, do perdão e de tudo aquilo que faz com que nosso espaço comum seja lugar da presença amorosa Dele.
Neste tempo desafiador, nossas famílias são agraciadas com esta oportunidade de celebrar Corpus Christi, contemplando a face de Jesus através daqueles que se fazem mais próximos. Um novo tempo se descortina diante de nós, tempo este que nos faz enxergar com mais dedicação antes algumas coisas que passavam despercebidas diante dos nossos sentidos, e que agora exige a nossa atenção e cuidado.
A mesa de nossas casas se torna então um lugar sagrado, onde podemos tomar a refeição comum permeada pela graça de estarmos unidos, cuidando uns dos outros, seguindo o exemplo de Jesus. A comunhão com o Senhor desperta em nós o desejo de sermos homens e mulheres de fé, que colocam em prática a Boa Nova que gera esperança e força em tempos de medo e desespero.
O desejo de Jesus é habitar no coração e na vida daqueles que se dispõe a construir seu reino de amor. Com isso, efetivamente, cada um precisa tomar a decisão de acolher a presença eucarística do Cristo através da vivência em família. Certamente o Senhor está em primeiro lugar no interior de todos os que se esforçam para fazer a comunhão acontecer de verdade.
Que a festa de Corpus Christi nos aproxime mais ainda de Jesus e dos irmãos, para que de fato a vida seja celebrada com entusiasmo e esta esteja sempre em primeiro lugar.
Frei Danilo Gomes de Almeida, OSA
Ordem de Santo Agostinho
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Assunção.
São Félix do Araguaia, MT