LITURGIA DO DIA: FESTA DE SANTA ROSA DE LIMA, PADROEIRA DA AMÉRICA LATINA

Hoje (23/08/2025) celebramos com júbilo a Festa de Santa Rosa de Lima, virgem, Padroeira da América Latina. Estamos na 20ª Semana do Tempo Comum, Ano C e a liturgia transpira esperança e nos chama à vivência fiel dos mistérios de Cristo no dia a dia.

Leituras do dia

Na Primeira leitura – 2Cor 10,17-11,2, São Paulo exorta: “Quem se gloria, glorie-se no Senhor”. Não em si mesmo, não em suas obras, mas em Deus. Ele lembra que a aprovação verdadeira vem do Senhor, não dos homens. Paulo se apresenta como aquele que desposou a comunidade a Cristo, como uma virgem pura a um único esposo.

O Salmo responsorial – Sl 148,1-2.11-13a.13c-14 (R. cf. 12a.13a) – faz um convite universal ao louvor. O salmista chama anjos, reis, príncipes, jovens, crianças, homens e mulheres a bendizer o nome do Senhor. Toda a criação é chamada a glorificar seu Criador.

No Evangelho – Mt 13,44-46 – Jesus nos apresenta duas breves parábolas. O Reino dos Céus é comparado a um tesouro escondido em um campo. Quem o encontra vende tudo para comprá-lo. É também como um comerciante em busca de pérolas preciosas. Ao encontrar uma pérola de grande valor, vende tudo para adquiri-la. O Reino exige entrega total.

Quem foi Santa Rosa de Lima

Santa Rosa nasceu em Lima, Peru, em 1586. Seu nome de batismo era Isabel, mas a beleza de seu rosto inspirou o apelido “Rosa”. Desde jovem, buscou a vida de oração, penitência e caridade. Pertenceu à Ordem Terceira Dominicana. Fez voto de castidade, cuidou dos pobres, dos indígenas e dos escravos. Viveu austeramente e ofereceu tudo a Cristo. Morreu em 24 de agosto de 1617, com apenas 31 anos. Foi canonizada em 1671 e tornou-se a primeira santa das Américas, padroeira do Peru e de toda a América Latina.

A vida de Santa Rosa reflete a mensagem das leituras. Como Paulo, ela se apresentou a Cristo como uma virgem pura. Não buscou glória própria. Sua vida foi um constante “gloriar-se no Senhor”. Viveu para Ele e por Ele.

O salmo do dia fala do louvor universal. Rosa também louvou com sua vida. Via Deus na beleza da criação, nas flores que cultivava, no cuidado com os pobres. Sua oração se unia ao cântico dos céus.

O Evangelho das parábolas mostra a radicalidade do Reino. Quem encontra o tesouro vende tudo. Quem acha a pérola deixa tudo para adquiri-la. Assim fez Rosa. Abriu mão de riquezas, de prestígio, de comodidades. Tudo para conquistar o Reino.

Mensagem para nós hoje

A festa de Santa Rosa de Lima nos provoca a rever nossas prioridades. Onde está o nosso tesouro? O que valorizamos acima de tudo? O Senhor nos convida a vender, isto é, a deixar de lado o supérfluo para abraçar o essencial.

Rosa nos ensina que a santidade é possível no cotidiano. É escolha diária. É busca de Cristo como a pérola mais preciosa. É olhar para o mundo com humildade, servir com amor, louvar com simplicidade.

Hoje, o convite é claro: não nos gloriemos em nós mesmos. Reconheçamos que tudo vem de Deus. Ele é nosso maior bem. Que possamos viver o desposório com Cristo, como Santa Rosa, com fidelidade e pureza de coração.

Que todo nosso ser, como o salmo pede, seja louvor. Que nossos gestos revelem amor. Que nossas escolhas apontem para o tesouro maior: Cristo. A vida de Santa Rosa nos mostra que vale a pena entregar tudo para ganhar tudo. E esse tudo é Deus.

Assim, celebramos esta festa pedindo a intercessão de Santa Rosa de Lima. Que ela nos ajude a buscar o Reino com coragem. Que nos inspire a trocar as pérolas falsas pelas verdadeiras. Que nossa vida seja um hino de louvor e entrega. Que possamos um dia, com ela, gloriar-nos apenas no Senhor.

LITURGIA DE HOJE: REFLEXÕES SOBRE JUÍZES 11,29.39A, SALMO 39(40) E MATEUS 22,1-14

A liturgia de hoje (21/08/2025) nos apresenta leituras profundamente desafiadoras, capazes de provocar em nós tanto estranhamento quanto esperança. De um lado, a primeira leitura (Jz 11,29-39a) traz a história trágica do voto insensato de Jefté, que termina com a morte de sua própria filha. De outro, o Evangelho (Mt 22,1-14) nos abre a perspectiva de um Deus que convida todos para o banquete de bodas do Reino, revelando sua graça gratuita. O salmo responsorial (Sl 39/40) se coloca no meio desses dois textos como chave de interpretação: “Sacrifício e oblação não quiseste, mas abriste, Senhor, os meus ouvidos”.

Essas leituras, quando lidas em conjunto, nos ajudam a refletir sobre a diferença entre uma religiosidade baseada em medo, violência e barganha, e a verdadeira fé, fundada na escuta da Palavra e no acolhimento do amor gratuito de Deus.

A liturgia de hoje e o contexto do Livro dos Juízes

A liturgia de hoje começa com um episódio marcante do Livro dos Juízes. Jefté, um homem de origem marginalizada, é escolhido para libertar Israel da opressão dos amonitas. Antes da batalha, tomado pelo desejo de vitória, ele faz uma promessa precipitada: se vencer, oferecerá em holocausto a primeira pessoa que sair da porta de sua casa para saudá-lo. Para sua tragédia, quem sai é sua filha única.

O texto bíblico não é um modelo a ser imitado, mas um retrato cru da mentalidade da época, quando práticas religiosas pagãs — como sacrifícios humanos — ainda influenciavam Israel. Aqui, a Escritura não silencia a dor, nem tenta “adoçar” a dureza do acontecimento. Ela nos coloca diante de uma experiência de fé mal compreendida, que acaba gerando morte e sofrimento.

Um voto insensato e uma religiosidade distorcida

O drama de Jefté é, antes de tudo, um alerta. Ele tinha sido revestido pelo Espírito do Senhor para conduzir o povo (Jz 11,29), mas isso não o impediu de agir de maneira equivocada. Seu voto revela uma tentativa de “comprar” o favor divino, como se Deus precisasse de pagamento humano para conceder a vitória.

Essa postura mostra uma compreensão distorcida de Deus: em vez de confiar na sua misericórdia e na sua promessa, Jefté se deixou levar pelo medo e pela superstição. O resultado é um ato de violência contra a própria vida, justamente contra a filha que representava sua descendência e esperança de futuro.

O contraste com o salmo da liturgia de hoje

É interessante perceber como o salmo responsorial da liturgia de hoje oferece uma resposta direta ao drama de Jefté. O Salmo 39(40) proclama: “Sacrifício e oblação não quiseste, mas abriste, Senhor, os meus ouvidos”. Aqui, o salmista deixa claro que Deus não se agrada de rituais vazios ou de ofertas violentas, mas deseja sobretudo a escuta obediente e a disponibilidade interior.

Se Jefté tivesse compreendido isso, não teria caído na armadilha de pensar que o sacrifício de uma vida humana poderia agradar ao Senhor. O salmo, portanto, funciona como chave hermenêutica que nos orienta: o verdadeiro culto é feito de fé, obediência e amor, não de gestos desesperados ou supersticiosos.

O Evangelho e a gratuidade do convite divino

No Evangelho de Mateus (22,1-14), a liturgia de hoje apresenta a parábola das bodas. Um rei prepara a festa de casamento para seu filho e convida muitos, mas os primeiros convidados recusam, ocupados com seus próprios interesses. Então, o rei manda chamar todos os que encontrarem, bons e maus, para preencher a sala do banquete.

Aqui vemos o contraste com a primeira leitura. Enquanto Jefté tenta conquistar o favor de Deus por meio de um sacrifício terrível, Jesus revela que o Pai é aquele que oferece gratuitamente a salvação, comparada a um banquete de alegria. Não se trata de negociar com Deus, mas de acolher seu convite.

Contudo, há também o detalhe da veste nupcial. Isso nos lembra que, embora o convite seja gratuito, ele pede de nossa parte uma resposta sincera. Não basta apenas “estar presente” fisicamente; é preciso deixar-se transformar, vestir-se da graça que nos é oferecida.

Religião que gera morte versus fé que gera vida

Colocadas lado a lado, as leituras da liturgia de hoje nos ajudam a discernir entre dois tipos de religiosidade:

  1. Uma religião distorcida, que nasce do medo, da superstição e da tentativa de controlar Deus, mas que termina gerando violência e morte (como no caso de Jefté).
  2. A fé verdadeira, que nasce da escuta e da confiança no amor gratuito de Deus, levando à vida plena e à alegria do banquete (como ensina Jesus na parábola).

Esse contraste nos convida a examinar a qualidade de nossa própria fé: será que buscamos a Deus por confiança e amor, ou por interesse e medo? Estamos abertos à sua graça gratuita, ou ainda tentamos negociar com Ele?

A história de Jefté pode parecer distante, mas ela continua atual. Quantas vezes ainda hoje vemos pessoas fazendo “promessas” a Deus, pensando que Ele exige algo em troca para abençoar sua vida? Muitas vezes, essa lógica pode levar a sofrimentos desnecessários e a uma compreensão equivocada do amor divino.

O Evangelho, ao contrário, nos chama a uma espiritualidade da gratuidade. Deus nos convida a participar de sua festa, independentemente de méritos. O que Ele pede é que tenhamos um coração aberto, revestido de humildade e pronto para acolher sua graça transformadora.

A liturgia de hoje e a memória de São Pio X

Além das leituras bíblicas, a liturgia de hoje celebra a memória de São Pio X, Papa (1835–1914). Conhecido como o “Papa da Eucaristia”, ele incentivou fortemente a participação dos fiéis no mistério do altar. Promoveu a comunhão frequente e até mesmo das crianças, convencido de que a Eucaristia é o alimento essencial para a vida cristã.

Enquanto a primeira leitura nos mostra uma religiosidade que gera morte, e o Evangelho nos revela a festa da vida no Reino, São Pio X nos aponta o caminho concreto para viver essa fé: a comunhão com Cristo na Eucaristia, que fortalece a Igreja e renova os corações. Sua vida foi marcada pelo lema: “Instaurare omnia in Christo” – “Restaurar todas as coisas em Cristo”.

Celebrar sua memória junto com estas leituras é recordar que a verdadeira fé não exige sacrifícios humanos ou gestos supersticiosos, mas se manifesta na confiança no amor de Deus, na participação no banquete da Eucaristia e na vida transformada pela graça.

A liturgia de hoje nos provoca com a dureza da história de Jefté e ao mesmo tempo nos consola com a beleza do convite divino ao banquete. De um lado, aprendemos a rejeitar toda religiosidade marcada pela violência e pela barganha; de outro, somos convidados a abrir o coração para a gratuidade da salvação oferecida por Cristo.

São Pio X foi para o Bem-Aventurado Pe. Tiago Alberione uma inspiração determinante. Seu lema Instaurare omnia in Christo moldou o projeto apostólico da Família Paulina, enquanto sua promoção da Eucaristia como centro da vida cristã alimentou a espiritualidade de Alberione. Pode-se dizer que Pio X foi a grande referência eclesial que confirmou e orientou a vocação do Fundador da Família Paulina.

Quando ainda seminarista, Alberione participou em 1900 da vigília de Ano Novo em Alba, onde sentiu o chamado para trabalhar pela Igreja do novo século. Pouco depois, Pio X foi eleito Papa e adotou como lema “Instaurare omnia in Christo”. Esse lema se tornou uma inspiração central para Alberione, que o assumiu como guia espiritual e apostólico.

Pio X também foi o Papa da Eucaristia, incentivando a comunhão frequente e das crianças. Alberione bebeu intensamente dessa espiritualidade: para ele, a Eucaristia deveria ser o centro da vida e da missão apostólica. Não por acaso, a espiritualidade da Família Paulina é marcada pela adoração eucarística e pela centralidade de Cristo Mestre.

Além disso, Alberione viu em Pio X o impulso para usar os novos meios de comunicação como instrumentos para “restaurar todas as coisas em Cristo”. A missão da Família Paulina nasceu desse horizonte: difundir a Palavra de Deus através da imprensa e, depois, de todos os meios de comunicação social.

Assim, pode-se dizer que São Pio X foi uma referência determinante para Alberione: sua visão e seu lema inspiraram diretamente a espiritualidade e a missão da Família Paulina.

Que a memória de São Pio X, Papa da Eucaristia, inspire novos profetas e nos ajude a viver essa fé verdadeira, centrada não em sacrifícios externos, mas na comunhão profunda com o Senhor, que nos chama sempre para o seu banquete de amor.