FORMAÇÃO LITÚRGICA: OLHA O MICROFONE AÍ, GENTE!

Pe. Carlos Gustavo Haas

Fizeram-me a pergunta: “para entoar e sustentar os cantos na liturgia, os cantores devem usar microfone?” A resposta parecia óbvia, mas comecei a observar as equipes de músicos e cantores que animam nossas celebrações, para responder melhor.

Não quero generalizar, mas, em muitos lugares, se está confundindo grupo de animação do canto litúrgico com banda para animação de shows. Sem se dar conta, o grupo adota uma prática que se afasta da verdadeira função do canto litúrgico e prejudica a participação da assembleia.

Trata-se do costume de cada cantor ter um microfone (já vi igrejas com 10 microfones para o grupo de cantos – e não era uma igreja grande, não!). O problema não está no número de microfones, mas no fato de as pessoas permanecerem usando os microfones, enquanto a assembleia também canta. Assim o canto do povo de Deus é completamente abafado.

Este é o verdadeiro problema. Um instrumento técnico, o microfone, deve servir para animar a assembleia e não para abafar, esconder, suprimir as vozes do povo santo que se reúne para cantar as maravilhas do Senhor.

Então não devemos mais usar o microfone? – alguém pergunta. É óbvio que, na maioria de nossas igrejas, precisamos de microfones. Mas o grupo de cantores deve usar este instrumento APENAS para iniciar o canto. Para tanto, não bastaria 1 ou 2 microfones?

Se o grupo dispõe de cantores bem preparados, pode fazer um ou outro canto “a vozes”, precisando então de algum microfone a mais. Isto, porém, não abafaria o canto da assembleia. Depois que o povo começa a cantar, o cantor se afasta do microfone, deixando que apareça claramente a voz da assembleia. O que deve ser ouvido é o canto da assembleia litúrgica, povo sacerdotal, família de Deus, Corpo de Cristo, e não a voz de 1, 2 ou 5 pessoas apenas.

O mesmo vale para os instrumentos musicais, alguns com imensas e potentes caixas de som. Para quê? Se for para animar uma missa ao ar livre, num estádio, tudo bem. Mas JAMAIS numa capela pequena ou média, que não necessita de muita ampliação de som.

Infelizmente, o que muitas vezes se constata é um barulho (ruído) excessivo que perturba e tira a calma e a serenidade indispensáveis para que a assembleia possa ouvir a própria voz e tenha  momentos de silêncio que favoreçam a escuta da Palavra e o louvor que brota de nosso coração agradecido. Depois, façam a experiência: como é bonito o som de um violão sem amplificação! O ideal seria mais violões e menos amplificadores.

Nossa reflexão não quer, de forma alguma, desconsiderar a boa vontade, o empenho e a solicitude de tantos e tantos animadores de cantos, músicos e instrumentistas de nossas comunidades. Eles são uma bênção para as nossas comunidades. O que queremos é alertar para certos exageros e apontar para a função específica deste ministério: “garantir a devida execução das partes que lhe são próprias, conforme os vários gêneros de canto, e auxiliar a ativa participação dos fiéis no canto” (Instrução Geral sobre o Missal Romano, n. 103).

Como subsídio de formação, vejam o DVD produzido por Verbo Filmes, Paulus e Rede Celebra, com o apoio da CNBB, intitulado: CANTO E MÚSICA NA LITURGIA.

Perguntas para colaborar na reflexão:

1. Como avaliamos a presença e a atuação dos animadores de cantos, músicos e instrumentistas de nossa comunidade?

2. A sua atuação ajuda a comunidade a celebrar bem o mistério pascal?

3. Quais as dificuldades que encontramos?

4. Como podemos ajudá-los a bem exercer seu ministério?

5. Por que os cantores e instrumentistas não devem abafar a voz da assembleia?

Pe. Carlos Gustavo Haas possui graduação em Filosofia pela Faculdade de Filosofia Nossa Senhora da Imaculada Conceição (1985), graduação em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1990) e mestrado em Liturgia – Pontifício Instituto Liturgico (1994). Atualmente é membro da comissão doutrina da fé – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, perito da comissão de liturgia – Consejo Episcopal Latinoamericano, professor horista da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e coordenador do Curso de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Teologia, com ênfase em Liturgia, atuando principalmente nos seguintes temas: liturgia, sacrosanctum concilium, igreja católica, eucaristia e igreja. (Fonte: escavador.com)

Música Litúrgica