ARTE FLORAL NA LITURGIA: O SIGNIFICADO DAS FLORES

Por Ir. Cidinha Batista, pddm
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As flores sempre estiveram presentes nos momentos mais marcantes da vida humana. Desde tempos imemoriais, elas simbolizam alegria, celebração e beleza. Seja em ocasiões festivas, cerimônias religiosas ou momentos de luto, as flores desempenham um papel essencial na expressão de sentimentos e emoções.

Na tradição bíblica, as flores são frequentemente mencionadas como símbolos da efemeridade da vida e da graça divina. São João da Cruz as via como representações das virtudes da alma, enquanto o ramalhete simbolizava a plenitude espiritual. A infância e a pureza são também associadas às flores, remetendo, de certa forma, ao Paraíso.

No entanto, devido à sua delicadeza, as flores também podem representar a transitoriedade da existência e a fugacidade da beleza terrena. Isso pode ser observado nos túmulos do cristianismo primitivo, frequentemente situados em jardins e adornados com flores frescas e gravuras florais, evocando a imagem de um paraíso repleto de vida. Inscrições tumulares e mosaicos costumam exibir coroas e cestos floridos, além da icônica figura da pomba segurando uma flor no bico.

A natureza efêmera das flores é especialmente evidente na Palestina, onde, após as chuvas de inverno, o solo árido se transforma em um vasto tapete colorido de flores silvestres. Contudo, essa exuberância dura pouco, já que as flores murcham rapidamente em poucos dias. As Escrituras fazem menção a essa efemeridade, associando-a à fragilidade humana (Sl 103,15-16; Jó 14,2; Is 40,6-8).

A ARTE FLORAL NA LITURGIA

A arte floral aplicada à liturgia deve refletir o Mistério Pascal e expressar a alegria da Ressurreição. A celebração pascal é perene e sempre traz consigo a novidade da criação. Assim, a fragilidade da flor pode simbolizar a força que se manifesta na simplicidade. Um arranjo floral, cuidadosamente planejado, é capaz de traduzir esse mistério profundo.

As flores possuem um papel fundamental na estética litúrgica, não apenas como meros adornos, mas como elementos que enriquecem e comunicam o sentido das celebrações. Elas não devem ser vistas apenas como enfeites decorativos, mas como participantes da linguagem litúrgica, contribuindo para a harmonia do espaço sagrado. O Bispo Auxiliar de Paris, Albert Rouet, ressalta que a liturgia é uma experiência integral, onde iluminação, música, cores, ornamentos e outros elementos sensoriais colaboram para a plena imersão na Palavra de Deus.

Um arranjo floral bem elaborado pode elevar a beleza das celebrações, conduzindo os fiéis a uma maior comunhão com Deus, que é a suprema Beleza. Santo Agostinho já afirmava que Deus é “a beleza de todas as belezas”.

ORIENTAÇÕES PARA A UTILIZAÇÃO DE FLORES NA LITURGIA

Segundo Jeanne Emard, as flores e plantas enriquecem o ambiente litúrgico, mas seu uso deve ser supervisionado por aqueles que compreendem a arte e a ambientação na comunidade. Não se trata apenas de encher o espaço de flores, mas de posicioná-las estrategicamente para contribuir com a harmonia do ambiente e destacar os elementos essenciais do culto.

Dessa forma, algumas diretrizes devem ser seguidas:

  • Evitar obstruções visuais e movimentação litúrgica: Os arranjos não devem bloquear a visibilidade dos fiéis nem atrapalhar a dinâmica das celebrações. O altar, por exemplo, não deve ser sobrecarregado com flores, pois sua importância central já é suficiente para captar a atenção.
  • Uso de elementos naturais: O princípio da autenticidade deve ser respeitado. Flores artificiais não são recomendadas, pois não refletem a vida e a renovação, que são aspectos fundamentais da mensagem cristã.
  • Simplicidade e equilíbrio: A exuberância excessiva pode desviar a atenção dos elementos principais da liturgia. Os arranjos devem ser equilibrados e permitir que cada flor respire e seja apreciada em sua individualidade.

PRINCÍPIOS DA VIVIFICAÇÃO FLORAL (ESCOLA SANGUETSU)

A técnica de vivificação floral, difundida pela Escola Sanguetsu, propõe uma abordagem artística e contemplativa na composição dos arranjos. Alguns princípios fundamentais são:

  1. Naturalidade: As flores devem ser valorizadas em sua essência, sem forçar formas ou posições artificiais. É essencial respeitar a natureza de cada espécie e priorizar flores da estação.
  2. Precisão no corte: O corte dos caules deve ser feito com exatidão, garantindo a melhor absorção da água e harmonizando cada ramo com o vaso.
  3. Expressividade artística: Arranjar flores deve ser como pintar um quadro, onde cada elemento contribui para uma composição equilibrada e expressiva.
  4. Harmonia entre flor, vaso e ambiente: O arranjo deve estar em sintonia com o espaço em que será inserido, criando uma unidade estética.
  5. Alegria na composição: A vivificação floral deve ser feita com alegria, pois essa energia se transmite a quem observa e participa da experiência litúrgica.

ASPECTOS PRÁTICOS PARA A MONTAGEM DOS ARRANJOS

Para obter um arranjo litúrgico harmonioso, alguns cuidados básicos são recomendados:

  • Escolher os galhos mais bonitos e valorizá-los no arranjo.
  • Selecionar um ramo principal que expresse movimento e graça.
  • Utilizar linhas complementares para reforçar a harmonia visual.
  • Dispor flores abertas e de cores fortes na parte inferior, enquanto as flores em botão ou de tons suaves podem ficar mais altas.
  • Preencher espaços vazios com discrição, utilizando folhagens e flores menores.
  • Manter as folhas fora da água para evitar deterioração precoce.
  • Cortar os caules submersos em água, garantindo uma melhor absorção hídrica e prolongando a durabilidade do arranjo.

CONCLUSÃO

A arte floral a serviço da liturgia é um convite à contemplação e à celebração da beleza divina. Ela transcende a estética e se torna um meio de comunicação simbólica, expressando os mistérios da fé cristã. Os arranjos florais devem ser concebidos com sensibilidade e respeito ao ambiente sagrado, colaborando para que a liturgia seja uma experiência profunda e transformadora.

Quando bem planejados, os arranjos florais não apenas embelezam o espaço, mas também elevam a alma dos fiéis, conduzindo-os a um encontro mais íntimo com o Criador. O uso de flores na liturgia é, portanto, uma arte sagrada, que une a criação divina ao louvor humano.

Referências:

  • EMARD, Jeanne. A arte floral a serviço da liturgia. São Paulo: Paulinas, 1999.
  • Dicionário dos Símbolos. São Paulo: Paulus, 1994.
  • Dicionário Bíblico. São Paulo: Ed. Paulinas, 1983.