LITURGIA DO DIA: MARIA, MÃE E RAINHA, QUE SERVE E INTERCEDE

A liturgia do dia (22/08/2025) celebra a Memória da Bem-aventurada Virgem Maria Rainha, que nos convida a contemplar não apenas a grandeza da Mãe de Deus, mas também o modo como essa realeza é vivida: não como poder que domina, mas como serviço que salva. Inserida na 20ª Semana do Tempo Comum, essa festa nos recorda que a lógica de Deus sempre supera a lógica humana: Maria é Rainha porque foi a primeira discípula, a serva fiel do Senhor, aquela que acolheu com amor o plano divino e nos deu o Salvador.

A liturgia nos propõe três belíssimas leituras: Isaías 9,1-6, o Salmo 112(113),1-8 e o Evangelho de Lucas 1,26-38. Juntas, elas traçam o retrato da esperança de Israel, o cântico de louvor ao Deus que se inclina para erguer os humildes, e a narrativa da Anunciação, quando Maria, em sua liberdade, diz “sim” ao projeto divino.

A liturgia do dia propõe como primeira leitura (Is 9,1-6) um dos textos mais conhecidos do profeta Isaías, muitas vezes proclamado também no Natal. O povo, que caminhava nas trevas, viu uma grande luz; uma criança foi dada, sobre quem repousa o governo, e que recebe títulos grandiosos: “Conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da paz”.

Essa profecia anuncia a chegada de um Rei diferente: não um guerreiro violento, mas um governante de justiça e paz. Seu trono não será marcado por conquistas humanas, mas pela fidelidade de Deus que cumpre sua promessa.

Maria entra nessa história como aquela que colabora para que a profecia se realize. O Filho prometido nasce de seu ventre, e ela o apresenta ao mundo não apenas como Messias, mas como Salvador universal. Ao celebrarmos Maria Rainha, lembramos que sua realeza está intimamente ligada ao reinado de Cristo. Se Ele é o Príncipe da paz, ela é a Rainha que intercede pela paz; se Ele é o Filho eterno do Pai, ela é a Mãe que nos ensina a viver como filhos.

O salmo responsorial (Sl 112[113]) é um hino de louvor ao Senhor que “ergue do pó o indigente e do lixo levanta o pobre, para fazê-lo assentar-se com os príncipes de seu povo”.

Esse salmo ajuda a compreender a lógica da eleição de Maria. Deus não escolheu uma rainha de palácio, cercada de ouro e poder, mas uma jovem simples de Nazaré, quase invisível aos olhos do mundo. No entanto, a grandeza de Maria não vem dela mesma, mas da ação de Deus que “olhou para a humildade de sua serva”.

Ao proclamar Maria como Rainha, a Igreja não a coloca distante de nós, em um trono inalcançável. Pelo contrário, recorda que sua exaltação é consequência de sua humildade. Como canta o Magnificat, “Deus derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes”. A Rainha dos Céus é a mesma jovem que se declarou serva, mostrando que na lógica do Evangelho, grande é aquele que serve.

O Evangelho de Lucas (Lc 1,26-38) nos leva ao coração da celebração: a cena da Anunciação. O anjo Gabriel é enviado a uma cidadezinha da Galileia, Nazaré, para anunciar a Maria o projeto de Deus: ela conceberá e dará à luz um filho, o Filho do Altíssimo, cujo reino não terá fim.

Esse é o momento em que Maria é convidada a colaborar com o plano divino. Sua resposta, “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”, é o sim que mudou a história da humanidade. Não se trata de um consentimento passivo, mas de uma adesão consciente, cheia de fé e de coragem.

Aqui se revela a verdadeira realeza de Maria: ela reina porque soube obedecer. Ela confiou plenamente em Deus mesmo diante do mistério, sem impor condições. Apenas se entregou. Sua realeza não é de quem manda, mas de quem se deixa conduzir pela vontade divina.

Maria Rainha: uma festa inserida no mistério pascal

A festa de hoje não é apenas uma devoção popular; ela tem fundamento teológico profundo. Em 1954, o papa Pio XII instituiu oficialmente a festa de Maria Rainha. Depois, com a reforma litúrgica, foi colocada no oitavo dia após a Assunção. Isto para que sublinhasse assim a ligação entre os dois mistérios.

Maria é elevada ao céu em corpo e alma porque participou plenamente da vida de seu Filho. E, ao ser coroada como Rainha, não recebe um título honorífico, mas uma missão: interceder por nós junto ao Rei do universo. Ela é Rainha porque está unida a Cristo; e sendo Ele o Rei que veio servir, também sua realeza se manifesta no serviço materno de cuidar da Igreja.

O que aprendemos com Maria Rainha?

A liturgia de hoje nos deixa algumas lições preciosas:

  1. Reinar é servir: Maria nos mostra que a grandeza está na humildade. Ser Rainha significa ser a primeira a amar, a primeira a obedecer, a primeira a confiar.
  2. Deus escolhe os pequenos: O salmo lembra que o Senhor ergue o pobre do pó. Maria é exemplo disso: uma jovem simples é escolhida para a maior das missões. Isso nos encoraja a acreditar que Deus também pode realizar grandes coisas em nós, apesar de nossas limitações.
  3. O sim transforma a história: A decisão de Maria mudou os rumos da humanidade. Também nossas escolhas de fé e amor, ainda que pequenas, podem ter impacto enorme na vida de muitos.
  4. Maria intercede por nós: Como Rainha, ela não se distancia, mas intercede junto a seu Filho. Assim como em Caná, onde pediu a Jesus pelo casal em dificuldade, ela continua hoje a apresentar nossas necessidades ao Senhor.

Em um mundo marcado por divisões, violências e desigualdades, a liturgia deste dia nos lembra que o reinado de Cristo – e consequentemente a realeza de Maria – não se apoia na lógica do poder e da dominação. É um reinado de paz, justiça e serviço.

Celebrar Maria Rainha é deixar-se inspirar por sua fé corajosa, por sua confiança inabalável, por sua disponibilidade sem reservas. É aprender que, mesmo em tempos de trevas, como diz Isaías, Deus sempre acende uma luz. E muitas vezes essa luz se manifesta através de pessoas simples que dizem “sim” ao amor.

Maria Rainha

A memória da Bem-aventurada Virgem Maria Rainha nos conduz a contemplar o mistério de uma mulher que, ao mesmo tempo humilde e grandiosa, tornou-se Mãe do Rei eterno e participa de sua glória.

Isaías anuncia a chegada do Príncipe da paz; o salmo proclama o Deus que exalta os humildes; o Evangelho mostra Maria dizendo sim ao projeto divino. Nessa trama de textos e símbolos, descobrimos a beleza de uma realeza que não oprime, mas serve; que não domina, mas intercede; que não se impõe, mas ama.

Hoje, ao celebrar Maria Rainha, somos convidados a imitá-la em sua confiança e em sua entrega. Que possamos também nós, como ela, dizer: “Eis aqui o servo, a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. Pois é nessa obediência amorosa que está a verdadeira coroa da vida cristã.

ESPAÇO PARA CELEBRAR: COMO A ARQUITETURA E O AMBIENTE INFLUENCIAM AS LITURGIAS

Por Ir. Cidinha Batista
cidabatista2001@yahoo.com.br

Em nossos espaços de celebração, é comum realizarmos diversas liturgias ao longo dos tempos litúrgicos, sempre no mesmo local: o salão, com os mesmos móveis e a mesma igreja. De forma semelhante, a vida também se desenrola no mesmo cenário natural, com as mesmas montanhas, rios, árvores e o céu que nos circundam. No entanto, a natureza, com seus ciclos diários e sazonais, com o frio e o calor, a chuva e o vento, e os diferentes aromas, enriquece constantemente este cenário e nos permite fugir da rotina.

Inspirar-se na natureza pode ser uma excelente forma de enriquecer os espaços litúrgicos, ajustando-os aos tempos e celebrações da Igreja. A natureza sabe utilizar a luz e a sombra, as cores, os cheiros e as diferentes atmosferas de cada estação. No inverno, a luz escassa e as cores mais apagadas trazem uma sensação de introspecção, enquanto no verão, a abundância de água e a vegetação vibrante despertam ânimo. A primavera é uma explosão sensorial, e o outono nos prepara para a melancolia do inverno. Para cada tempo litúrgico, podemos (e devemos) adaptar os espaços de celebração de forma discreta e coerente com a essência do momento.

A Luz: Elemento Essencial da Liturgia

A iluminação é um fator fundamental para o desenvolvimento da liturgia e deve ser cuidadosamente planejada. Cada ambiente requer um tipo de luz específico, com intensidades variadas conforme a função do local. A luz em uma igreja, por exemplo, não deve ser a mesma que em uma sala de aula ou escritório. Uma igreja iluminada excessivamente pode perder seu caráter acolhedor, enquanto a iluminação fluorescente, típica de escritórios, não é indicada para ambientes de oração.

A iluminação pode, inclusive, ser usada de forma estratégica. Destacar certos espaços, como o altar ou a mesa da Palavra, com uma iluminação direcionada, valoriza os elementos essenciais da celebração. O contraste entre luz e sombra, além de ser esteticamente atraente, remete à dinâmica da fé, que transita entre a luz e as trevas.

Cores e Texturas: O Conforto Estético

As cores e as texturas desempenham um papel crucial na criação de um ambiente acolhedor e propício à oração. Cores frias, como o cinza e o gelo, tendem a afastar, criando uma atmosfera de frieza. Já tons como areia, camurça, terra e pérola são acolhedores, promovendo um ambiente confortável. Além disso, as texturas dos materiais que revestem o interior e o exterior das igrejas podem reforçar essa sensação de acolhimento, como as paredes texturizadas que não só enriquecem visualmente o espaço, mas também contribuem para a acústica.

Decoração: Simplicidade e Coerência

É comum vermos construções feitas de forma desordenada, para depois buscar um toque de beleza e acolhimento através da decoração. No entanto, a decoração não deve ser um elemento isolado. Ela deve estar sempre a serviço do projeto arquitetônico e litúrgico, criando uma unidade harmoniosa. Seja através de vitrais, pinturas ou outros elementos decorativos, tudo deve ser pensado de maneira cuidadosa, alinhado à teologia e à liturgia. O excesso de decoração pode tornar o ambiente sobrecarregado, o que acaba afastando os fiéis da experiência de oração, dispersando sua atenção.

Em espaços litúrgicos, menos é mais. A sobriedade, a simplicidade e a discrição devem ser priorizadas, evitando a tentação de enfeitar o ambiente de maneira exagerada.

Flores: Moderação na Simplicidade

Quanto às flores, a discrição é essencial. Muitas vezes, os arranjos florais ganham destaque de forma excessiva, obscurecendo o altar e a mesa da Palavra. É importante que o arranjo não seja mais notável que o próprio espaço sagrado. Além disso, plantas e flores artificiais não devem ser utilizadas. Em um ambiente de celebração, onde a verdade é proclamada e experimentada, o uso de materiais artificiais – como o plástico, símbolo de descarte – não é apropriado.

Vasos de barro, madeira ou ferro são os mais indicados, trazendo um toque de nobreza e dignidade ao ambiente. A escolha do material e a quantidade de decoração devem sempre estar em consonância com o objetivo litúrgico e teológico do momento.

Conclusão: Um Espaço Coerente com a Liturgia

Para cada liturgia, a dinâmica do espaço deve ser cuidadosamente planejada. O local de celebração não deve ser apenas um ambiente decorado, mas um espaço com um objetivo claro e definido. A arquitetura e a decoração devem ser pensadas para servir à liturgia, para enriquecer a experiência de oração e promover uma verdadeira vivência da fé. O segredo está na simplicidade, no equilíbrio, e na coerência com o tempo litúrgico.


Bibliografia:

  • Carpanedo, Penha e Guimarães, Marcelo. Dia do Senhor: Guia para as Celebrações das Comunidades. São Paulo, Ave Maria, 1997.
  • Beckhäuser, Alberto. Celebrar a Vida Cristã. Petrópolis, Vozes, 1984.
  • Machado, Regina Céli de Albuquerque. O Local de Celebração: Arquitetura e Liturgia. São Paulo, Paulinas, 2001.