Liturgia do Dia – 19 de Novembro de 2025
Memória de Santos Roque González, Afonso Rodríguez e João de Castillo, presbíteros e mártires
33ª Semana do Tempo Comum
No Evangelho de hoje (Lc 19,11-28), Jesus conta a parábola dos servos que recebem moedas para administrar enquanto o senhor parte em viagem. A narrativa revela o desejo profundo de Deus: que cada pessoa faça frutificar os dons recebidos, colocando-os a serviço do Reino. O senhor da parábola não exige dos servos aquilo que não lhes foi dado, mas espera fidelidade, coragem e disposição em assumir responsabilidades, mesmo diante de riscos e incertezas.
O contraste entre os servos que trabalham e aquele que esconde a moeda expressa duas posturas espirituais. A primeira é a da confiança: reconhecer que tudo vem de Deus e pode ser devolvido multiplicado em forma de amor, justiça, serviço e compromisso. A segunda é a do medo: paralisia, fechamento em si mesmo e incapacidade de permitir que o dom se torne vida para outros. A censura dirigida ao servo que nada fez lembra-nos que a omissão também tem peso no caminho de fé; não basta “não fazer o mal”, é preciso fazer o bem possível.
O Evangelho de Lc 19,11-28 termina de forma bastante forte. Depois de elogiar os servos que fizeram render as moedas e de repreender o que a escondeu, Jesus conclui a parábola dizendo: “Quanto aos meus inimigos, que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui e matai-os na minha frente.” (Lc 19,27)
Esse desfecho duro cumpre duas funções fundamentais na mensagem de Jesus: a primeira, revela a seriedade da escolha pelo Reino. Esse final deixa claro que rejeitar o Reino de Deus não é algo neutro.
A parábola não fala apenas da omissão do servo medroso, mas também da resistência ativa daqueles que “não querem que Ele reine”. A cena simboliza o juízo final: Deus respeita a liberdade humana, mas essa liberdade tem consequências. A recusa do reinado de Deus é, ao mesmo tempo, recusa da vida.
Ele adverte sobre a responsabilidade de quem recebe dons. O servo que não faz render a moeda é contrastado não só com os servos fiéis, mas também com os inimigos do rei. Isso funciona como um alerta: não basta não fazer o mal; é preciso fazer o bem possível, utilizando os dons recebidos para a construção do Reino. A parábola liga omissão e rejeição: quem se fecha sobre si mesmo, mesmo sem atacar, acaba colaborando com a lógica do “não-reinado” de Deus.
Este desfecho também prepara a entrada de Jesus em Jerusalém. Ou seja, este bramo antecede diretamente a entrada triunfal de Jesus na cidade (Lc 19,28ss). Assim, Jesus se apresenta como o Rei que vem, mas não um rei dominador, e sim o Rei que oferece salvação. No entanto, sua realeza exige decisão: acolher ou rejeitar.
E por fim, este desfecho reforça o chamado à fé corajosa. A dureza do final não pretende inspirar medo, mas responsabilidade e seriedade espiritual. A parábola inteira gira em torno da confiança: quem confia, arrisca; quem teme, paralisa-se; quem rejeita, fecha-se à vida. O final sublinha que o tempo de Jesus é momento de decisão: a fé verdadeira transforma a vida e a vida transformada testemunha o Reino.
A leitura deste Evangelho na 33ª Semana do Tempo Comum, imediatamente antes do Advento, tem um valor espiritual muito profundo. A Igreja, nesses últimos dias do ano litúrgico, orienta nossa atenção para o sentido último da vida, para o juízo, para a vinda do Senhor e para a responsabilidade cristã. A parábola das moedas, com sua forte conclusão, encaixa-se perfeitamente nesse contexto.
Ele nos prepara o coração para a vinda do Senhor. O Advento é tempo de esperança e vigilância, e a liturgia das últimas semanas do Tempo Comum nos ajuda a ajustar essa vigilância. A parábola dos servos que devem administrar o que receberam até o retorno do Senhor é um convite direto a despertar do comodismo, revisar o próprio caminho, reavivar o desejo pela vinda de Cristo. A Igreja quer que entremos no Advento não adormecidos, mas alertas e desejosos de Deus.
Ele também recorda que somos administradores, não donos. A proximidade do novo ano litúrgico é um chamado a avaliar como usamos o tempo, os dons, a fé e as oportunidades que Deus nos deu ao longo do ano que termina. A parábola mostra que não se trata de “guardar” a fé, mas de fazê-la frutificar. Assim, antes do Advento, ela nos ajuda a perguntar:
- Como vivi a fé este ano?
- O que Deus me confiou e como respondi?
- Em que preciso crescer antes de começar um novo tempo de graça?
Também nos ajuda a reacender a responsabilidade: vigiar é agir. O servo que esconde a moeda representa quem vive a fé de forma estática, paralisada. Às portas do Advento, esse Evangelho ensina que esperar o Senhor não é cruzar os braços, mas servir, amar, construir, multiplicar. O Advento é expectativa, mas uma expectativa ativa, missionária.
Portanto, nos convida à conversão, antes que comece o novo ciclo. O final da parábola, com o juízo sobre os servos e os inimigos do rei, lembra a dimensão escatológica da fé: Cristo virá. Essa memória conduz à conversão imediata, preparando interiormente o fiel para viver o Advento como tempo de purificação, de esperança, de reencontro com Deus, de reorientação da vida. É como fazer uma limpeza espiritual antes da chegada do hóspede esperado.
Nos últimos domingos do ano litúrgico celebramos Cristo Rei. Este Evangelho apresenta Jesus justamente como esse Rei que entrega dons, se ausenta por um tempo, volta para pedir contas. À luz disso, o Advento não é apenas preparação para o Natal, mas para a segunda vinda de Cristo, quando Ele reinará plenamente.
A leitura deste Evangelho na semana que antecede o Advento:
- nos desperta,
- nos responsabiliza,
- nos convida a rever nossa vida,
- nos prepara para acolher Cristo com o coração ativo e fecundo.
A primeira leitura (2Mc 7,1.20-31) apresenta o testemunho heroico da mãe e de seus filhos, que permanecem fiéis à Lei de Deus diante da perseguição. A coragem deles ecoa o chamado do Evangelho: viver a fé de modo coerente, mesmo quando somos pressionados a escondê-la ou silenciá-la. Assim como os mártires de hoje — Santos Roque González, Afonso Rodríguez e João de Castillo — testemunharam Cristo com a própria vida, também nós somos convidados a fazer render a graça que recebemos, oferecendo-nos diariamente no serviço e na verdade.
O salmo responsorial proclama: “Eu, por minha justiça, contemplarei a vossa face; ao despertar me saciará a vossa presença” (Sl 16). Essa promessa ilumina todo o sentido de nossa entrega: no fim, não buscamos recompensas, mas a alegria plena de viver diante de Deus e com Ele.
Que a liturgia de hoje nos inspire a assumir com coragem as moedas, isto é, os dons que nos foram confiados: nossas capacidades, nossa fé, nossas oportunidades, e a fazê-los frutificar em favor dos irmãos. E que, sustentados pelo exemplo dos mártires, possamos viver uma vida transparente, generosa e fiel ao Evangelho.





