LITURGIA DO DIA: VIGILÂNCIA E FIDELIDADE NO MEIO DAS RUÍNAS

Reflexão – Terça-feira, 25 de Novembro de 2025
34ª Semana do Tempo Comum – Ano Ímpar

Leituras: Dn 2,31-45 | Dn 3,57-59.60-61 (R. cf. 59b) | Lc 21,5-11

As leituras de hoje nos colocam diante de uma verdade profunda: tudo o que é humano passa, mas o Reino de Deus permanece. Em um tempo no qual tantas estruturas parecem inabaláveis e tantas seguranças são construídas sobre aquilo que vemos, a Palavra nos convida a redescobrir onde está o fundamento que não se abala.

A 1ª leitura (Dn 2,31-45), no sonho interpretado por Daniel, os reinos representados pela grande estátua – por mais grandiosos e variados que pareçam – acabam ruindo. Apenas a pequena pedra, “não cortada por mão humana”, cresce e se torna uma montanha que enche toda a terra.

Essa pedra é símbolo do Reino de Deus, um reino que não se constrói pela força humana, mas pela ação divina; um reino que cresce silenciosamente, muitas vezes sem espetáculos, mas com solidez eterna.

O texto nos questiona: Em que construo minha vida? Nas estátuas brilhantes e frágeis do mundo, ou na pedra firme que é o Senhor?

No salmo responsorial continuamos a cantar com louvor: “A Ele glória e louvor eternamente!” (Dn 3). O cântico dos três jovens na fornalha é uma explosão de confiança. Mesmo no meio do fogo, eles encontram motivos para louvar.

O louvor passa a ser uma forma de resistência espiritual: não deixamos que a adversidade defina nossa fé, mas permitimos que nossa fé ilumine a adversidade.

É um convite a reconhecer que, nas pequenas e grandes lutas, tudo o que existe dá glória ao Criador – e nós também podemos fazer o mesmo, mesmo quando a vida nos atravessa com fogo.

E finalmente o evangelho: “Não ficará pedra sobre pedra…” (Lc 21,5-11). Jesus contempla o templo magnífico e anuncia sua destruição. É um choque para os discípulos, que viam ali a maior expressão da presença de Deus. Mas Jesus revela algo essencial: a fé não pode depender do que é exterior, do que parece grandioso ou seguro.

Guerras, conflitos, catástrofes, rumores… tudo isso pode acontecer. Mas a mensagem final é clara:
não se deixem enganar; mantenham-se firmes. É uma advertência e, ao mesmo tempo, um consolo. Não somos chamados ao medo, mas à vigilância. Não a especulações, mas à fé perseverante.

Num mundo acelerado e instável, facilmente nos apoiamos no que é imediato, visível, impressionante. Contudo, a liturgia nos recorda que o que parece sólido nem sempre é durável; o que parece pequeno e silencioso, quando vem de Deus, transforma a história; a fidelidade no meio das provações é nosso maior testemunho; e que, acima de todas as mudanças, Deus permanece como fundamento firme.

Que hoje sejamos capazes de olhar para nossa vida e perguntar: quais “estátuas” tenho erguido? E, com humildade e coragem, reconstruir tudo sobre Cristo, a Pedra que nunca se desfaz.

Que o Senhor nos dê um coração vigilante, fiel e cheio de confiança.






LITURGIA DO DIA: A SABEDORIA DOS FILHOS DA LUZ

Sexta-feira, 7 de novembro de 2025
31ª Semana do Tempo Comum – Ano Ímpar (I)
Leituras: Rm 15,14-21; Sl 97(98),1.2-3ab.3cd-4; Lc 16,1-8

O Evangelho de hoje nos apresenta uma das parábolas mais instigantes de Jesus: a do administrador infiel (Lc 16,1-8). À primeira vista, o texto causa desconforto, pois parece que Jesus elogia a desonestidade. No entanto, ao olharmos mais profundamente, percebemos que o Senhor nos convida a enxergar a realidade com um olhar mais amplo, onde as contradições da vida se tornam espaço de aprendizado espiritual.

O administrador é acusado de desperdiçar os bens do patrão e, diante da perda iminente do emprego, age com astúcia: busca garantir sua sobrevivência aproximando-se dos devedores. Jesus não aprova sua falta de ética, mas destaca sua esperteza diante das circunstâncias. O elogio não é à trapaça, mas à capacidade de discernir, agir com criatividade e tomar decisões rápidas diante de uma crise.

A vida humana é feita de enredos entrelaçados — relações, escolhas, consequências — e nem sempre é possível reduzi-la a categorias simples de certo ou errado. Jesus nos convida a compreender essa trama da existência, onde o bem e o mal se misturam, e a perceber que a verdadeira sabedoria está em agir com prudência e visão, orientando toda a nossa habilidade e inteligência para o Reino de Deus.

Enquanto os “filhos deste mundo” usam de sagacidade para seus interesses imediatos, os “filhos da luz” são chamados a empregar a mesma energia e criatividade para o bem, para a comunhão, para a justiça. O Evangelho nos provoca a refletir: temos colocado a mesma dedicação e engenhosidade nas coisas do Reino quanto colocamos em nossos projetos pessoais?

Na primeira leitura, Paulo expressa seu zelo missionário: ele não se contenta com o já conquistado, mas deseja levar o Evangelho a novos lugares. Seu impulso evangelizador é o oposto da inércia. É o dinamismo de quem compreende que o Reino de Deus exige movimento, inteligência e coragem.

Assim também nós, discípulos de Cristo, somos chamados a uma fé lúcida e ativa, não ingênua, mas capaz de enfrentar as tensões e ambiguidades da vida sem perder o horizonte do amor.

O administrador infiel nos ensina, paradoxalmente, que o Evangelho exige criatividade espiritual: saber discernir, planejar e agir com sabedoria diante dos desafios. O cristão autêntico não é aquele que foge do mundo, mas aquele que o lê com profundidade, compreende suas múltiplas dimensões e nele constrói sinais do Reino, onde a justiça e a misericórdia se encontram.

Os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz” (Lc 16,8). Que esta palavra nos desperte: que sejamos também sagazes — não para enganar, mas para amar com inteligência, servir com discernimento e construir, com criatividade e fé, o Reino que Cristo nos confiou.