Lançamento de Livro: Arte no Espaço Litúrgico

A cada festa de Jesus Mestre, em outubro, toda a congregação das Pias Discípulas do Divino Mestre com os Amigos e Amigas do Divino Mestre é convidada a aprofundar um tema proposto pela equipe de criação do Apostolado Litúrgico, para motivar a criatividade em consonância com os documentos e vida da Igreja.

Assim, em 2017, todas as comunidades foram animadas a fazer uma pesquisa sobre os objetos e paramentos litúrgicos, a fim de propor novos lançamentos. O fruto desta pesquisa foi trabalhado e editado, e reunido neste livro “Arte no Espaço Litúrgico” que lançamos neste ano de 2020, na Festa de Jesus Mestre.

Arte no Espaço Litúrgico é um livro de fácil leitura e pode ajudar muito aos Catequistas. É um subsídio que oferece critérios para a escolha dos diversos elementos que compõem o espaço litúrgico e esclarece sobre o significado dos símbolos, sinais e figuras que lhe são recorrentes.

Conheça e compre esta riqueza:

Para que a Palavra do Senhor se espalhe rapidamente

Neste 1º de Novembro de 2021, a Família Paulina de todo o mundo é convidada a voltar seu olhar para Roma. As relíquias do Bem-Aventurado Pe. Tiago Alberione será trasladada da Sotto Cripta para o Santuário Rainha dos Apóstolos, em Roma.

Confira toda a programação deste mês de novembro para a Família Paulina que marca a conclusão do Ano Bíblico:

Cronograma de transferência de relíquias do Bem-Aventurado Tiago Alberione e Festa Litúrgica no 50º aniversário do seu Dies Natalis

1 a 26 de novembro de 2021

• 1º de novembro, 13h00 (horário de Brasília):

Santa Missa e transferência da urna do Bem-Aventurado Pe. Tiago Alberione ao Santuário de Maria Rainha dos Apóstolos, em Roma; presidido pelo Card. Vigário Angelo De Donatis (ao vivo online).

• 2, 3 e 4 de novembro:

– 12h00 (horário de Brasília): Tríduo de agradecimento pela presença da urna do Bem-Aventurado Alberione no Santuário de Maria Rainha dos Apóstolos, em Roma.

– 13h00 (horário de Brasília): Santa Missa (ao vivo online).

• 2 a 23 de novembro:

Peregrinação da relíquia do Bem-Aventurado Alberione nas comunidades da Família Paulina de Roma e das Colinas Albanas

• 3, 10, 17, 24 de novembro:

#incontripaolini dedicado ao Beato Giacomo Alberione

(No dia 24/11, participa a Ir. Laíde Sonda, pddm, do Brasil)

• 23, 24 e 25 de novembro:

– 12h00 (horário de Brasília): Tríduo de oração em preparação à festa do 50º aniversário do Dies Natalis do Fundador, no Santuário de Maria Rainha dos Apóstolos, em Roma

– 13h00 (horário de Brasília): Santa Missa (ao vivo online)

• 25 de novembro:

Audiência concedida pelo Papa Francisco aos Governos Gerais da Família Paulina e representantes dos Institutos Paulinos e Cooperadores Paulinos

• 26 de novembro:

Festa litúrgica do Beato Alberione e encerramento do Ano Bíblico da Família Paulina

– 3h30: Oração de encerramento do Ano Bíblico da Família Paulina – “Compi la tua opera di annunciatore” (ao vivo online) – pela equipe do Ano Bíblico da Família Paulina

– 10h00: Webinar internacional dedicado ao tema “O estudo das Escrituras: a contribuição da Liturgia” – pela equipe do Ano Bíblico da Família Paulina

– 12h00: Inauguração do Museu Dom Alberione na Casa Geral da Sociedade de São Paulo: Participa o Card. Marcello Semeraro

– 13h00: Santa Missa no Santuário de Maria Rainha dos Apóstolos: presidida pelo Card. Marcello Semeraro (ao vivo online)

Para informação:

Postulador Geral da Família Paulina
Sociedade de São Paulo
Via A. Severo, 58 00145 Roma
Tel: 06.597861
Email: [email protected]

Encontros de Formação Litúrgica

No dia 19 de outubro, das 19h30 às 21h30, Ir. Veronice Fernandes, assessorou o encontro de formação litúrgica para os setores Mogi e Sapucaí, da arquidiocese de Pouso Alegre, no sul de Minas Gerais.

O encontro foi realizado de modo remoto, pela plataforma do google meet, com o tema “Orações da Igreja (eucologia)”, com a participação de 95 pessoas, entre leigos, leigas, candidatos ao diaconato permanente e dois padres coordenadores dos respectivos setores.

O tema foi desenvolvido a partir da etimologia da palavra eucologia – euchê = oração, e logos = discurso. Eucologia é a ciência que estuda as orações e as leis que governam a sua formulação. Em seguida foi apresentado o que é oração e na sequência se tratou das formas, natureza e estrutura da oração litúrgica.

Foram dados exemplos de eucologia maior (prece eucarística; oração das ordenações dos bispos, presbíteros e diáconos; oração de consagração das Virgens; bênção nupcial; prece de dedicação da igreja e do altar; bênçãos dos elementos sacramentais (água batismal, óleos etc); as principais bênçãos de pessoas, lugares e objetos para o culto e para o serviço dos homens e mulheres); e a eucologia menor (oração do dia ou coleta, sobre as oferendas, pós comunhão, sobre o povo, conclusiva do ofício, sálmicas etc.).

É importante destacar que a liturgia nos ensina a rezar com suas fórmulas eucológicas que expressam, em geral, o mistério da salvação que se realizou em Cristo por nós – conteúdo essencial e anamnético que está na base e que depois suscita, por obra do Espírito Santo, o louvor, a ação de graças, a súplica, etc.

REVISTA DE LITURGIA PROMOVE LIVE COM O PE. FRANCISCO TABORDA

Na memória da páscoa do Senhor, recordamos a Bem-aventurada, Mãe de Deus, a mais singular testemunha de Jesus, imagem da nova humanidade. Para marcar esta importante festa da Igreja sobre o dogma da Assunção de Maria, a Revista de Liturgia promoverá uma live muito interessante no canal do Youtube da Revista de Liturgia.

Marque esta data: LIVE dia 13 de Agosto de 2021, às 20h

Com Pe. Francisco Taborda.

Durante a live teremos um sorteio do Conjunto para oratório Assunção de Maria.

Aproveite! Acesse o link, curta a página do Youtube da Revista de Liturgia, ative o sininho para acompanhar esta live!

Pe. Francisco de Assis Costa Taborda

Segundo o site O ESCAVADOR, o teólogo e padre jesuíta Francisco de Assis Costa Taborda possui doutorado em Teologia pela Westfälische Wilhelms-Universität Münster (Alemanha, 1974), graduação em Teologia pela Philosophisch-theologische Hochschule St. Georgen (Frankfurt, Alemanha, 1969), licenciatura em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Porto Alegre, 1964) e graduação em Filosofia pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Cristo Rei (atual UNISINOS, São Leopoldo, RS, 1963). Professor emérito da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Tem experiência na área de Teologia, com ênfase em Teologia dos Sacramentos e Mariologia.

REVISTA DE LITURGIA E A ASSUNÇÃO DE MARIA

Abaixo um texto publicado pelo site IHU UNISINOS em 18 de agosto de 2017 que vale a pena ler para ir se preparando para esta live.

Trânsitos e Dormitio constituem um rico patrimônio apócrifo sobre o êxito final da Mãe de Deus. Com o tempo, eles influenciaram os Padres da Igreja, escritores medievais, pintores e poetas. Esses textos trazem consigo tradições antiquíssimas e levam o leitor ao momento em que a Virgem Maria adormeceu e o seu corpo foi levado ao céu, assunto entre a glória dos anjos.”

A reflexão é do teólogo italiano Mario Colavita, padre da diocese de Termoli-Larino e presidente diocesano do Istituto Sostentamento del Clero e professor do Instituto Teológico Abruzzese-Molisano de Chieti.

O artigo foi publicado por Settimana News, 14-08-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Nos textos canônicos, a última recordação que temos de Maria é a relacionada com os Atos dos Apóstolos, em que se diz que, depois da ascensão de Jesus, “todos eles tinham os mesmos sentimentos e eram assíduos na oração, junto com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus” (At 1, 14). Depois disso, não sabemos mais nada da Virgem Maria a partir dos textos sagrados considerados inspirados. Eles são bastante secos em delinear detalhes e indícios sobre os últimos instantes da vida da Mãe de Deus.

Um patrimônio apócrifo

No entanto, desde os primeiros séculos do cristianismo, por obra da comunidade judaico-cristã, transmitiram-se histórias orais sobre o último curso da vida da Virgem. No fim do século II, essas tradições foram postas por escrito formando, assim, textos apócrifos em que se delineiam detalhes sobre a Dormição ou o Trânsito da Virgem.

Trânsitos e Dormitio constituem um rico patrimônio apócrifo sobre o êxito final da Mãe de Deus. Com o tempo, eles influenciaram os Padres da Igreja, escritores medievais, pintores e poetas.

Esses textos trazem consigo tradições antiquíssimas, mesmo que, às vezes, pareçam abundar em detalhes pitorescos, e levam o leitor ao momento em que a Virgem Maria adormeceu e o seu corpo foi levado ao céu, assunto entre a glória dos anjos.

Giotto, Sepultura de Maria (Fonte: Settimana News)

Os trânsitos (conhecemos cerca de 20 deles em várias línguas: grego, copta, siríaco, latim) nascem pela veneração à Mãe de Deus, pela piedade e pelo culto que, na comunidade, estavam nascendo e crescendo. Não só isso, os primeiros cristãos buscavam saber o que tinha acontecido com o corpo da Virgem e os últimos instantes da vida da Mãe de Jesus.

Em um livro de 1748, com o título emblemático “O perfeito legendário: da vida e dos fatos de N. S. Jesus Cristo e de todos os santos”, diz-se, atribuindo a narrativa a Epifânio de Salamina, que a Virgem adormeceu 24 anos depois da ascensão do Filho. Outros, de acordo com o que Eusébio de Cesareia escreve, que a Virgem morreu sob o imperador Cláudio, no ano 48 d.C., aos 73 anos de idade.

A igreja do Kathisma

De acordo com a tradição de JerusalémMaria adormeceu no Sião, o monte do alto da cidade santa, repleto de memórias. Sobre essa colina, os cristãos veneravam o Santo Cenáculo.

No século IV, sobre o Sião, surgiu uma imponente igreja chamada de Santa Sião, que incorpora tanto o lugar da santa ceia quanto o lugar da dormição da Virgem.

A partir dos apócrifos, sabemos que, depois da dormitio da Virgem, os apóstolos pegaram o corpo e o levaram a um sepulcro novo, no Vale do Cedron, perto da gruta da traição, no terreno do Getsêmani.

Lendo os apócrifos, ficamos sabendo o lugar da sepultura da Virgem: “Os apóstolos transportaram o leito e depuseram o seu corpo santo e precioso em um túmulo novo do Getsêmani; e um perfume delicioso se espalhou a partir do sagrado túmulo da Nossa Senhora Teotóco. Por três dias, ouviram-se vozes de anjos invisíveis que glorificavam Cristo, Deus nosso, nascido dela. Depois do terceiro dia, as vozes não foram mais ouvidas: todos, então, compreenderam que o puro e precioso corpo dela havia sido transportado para o paraíso”.

Em uma versão do Trânsito da Virgem do século V, em siríaco, lemos: “Nesta manhã, peguem a Senhora Maria e vão para fora de Jerusalém, na via que leva ao vale principal do outro lado do Monte das Oliveiras. Eis que lá há três grutas: uma ampla externa, depois outra interna e uma pequena câmara interna com um banco elevado de argila na parte leste. Vão e ponham a Bem-aventurada sobre aquele banco e coloquem-na lá e sirvam-na até que eu diga”.

Segundo a tradição, a Virgem Maria foi sepultada nos arredores da torrente Cedron, não muito longe do campo do Getsêmani. Aqui surgiu, desde o primeiro século, uma veneração especial por um túmulo novo, entalhado na rocha, onde os apóstolos tinham deposto o corpo da Mãe de Deus. Posteriormente, o lugar foi transformado em uma igreja rupestre (século IV). Ela foi consagrada à Mãe de Deus pelo bispo Juvenal de Jerusalém, depois do Concílio de Calcedônia, em 451.

Em 490 d.C., o imperador Maurício quis edificar uma nova igreja de planta redonda (como a da anastasis para o túmulo de Cristo) sobre a primeira igreja, que se tornou, assim, a cripta que conservava o santo túmulo (vazio) da Virgem.

A recordação do lugar foi conservada pela devoção dos fiéis que celebravam ali, com ritos solenes, a memória do trânsito e da assunção de Maria ao céu. Devemos a data de 15 de agosto, provavelmente, ao dia da dedicação da igreja do Kathisma (= pausa, parada), no caminho para Belém. Depois do Concílio de Calcedônia, talvez, também por problemas entre as duas Igrejas (uma fiel ao Concílio de Calcedônia, a outra, não), no Kathisma, a festa era antecipada para o dia 13 e, no Getsêmani, para o dia 15 de agosto.

A igreja edificada pelo imperador Maurício foi destruída antes da chegada dos cruzados.

O sepulcro de Maria

Os beneditinos, em 1112-1130, abriram um novo acesso à cripta e ali edificaram uma terceira igreja com um monastério adjacente. Ela foi destruída por Saladino depois de 1187, mas poupou a cripta e o túmulo para a veneração que a religião islâmica tem em relação a Maria, venerada como a mãe do profeta Jesus.

O abade russo Daniel, peregrino à Terra Santa em 1106, recorda: “O sepulcro da santa Mãe de Deus (…) é uma pequena gruta escavada na pedra, que tem portinhas tão pequenas que um homem deve se curvar para entrar. Dentro da gruta, de frente para as portinhas, não há como que um banco esculpido na pedra da gruta, e, naquele banco, foi posto o corpo venerável”.

Para venerar o sepulcro da Virgem, desce-se uma longa escadaria que leva à cripta. Depois da inundação de 1972, o padre franciscano Bagatti estudou o local, chegando a afirmar que o túmulo da Virgem faz parte de um lugar sepulcral em uso no século I d.C.

O túmulo venerado corresponde às indicações contidas nos apócrifos. Ela se eleva de 1,60 a 1,80 metros e apresenta duas aberturas, uma a norte e outra a oeste. São as portas atuais pelas quais passam os devotos para entrar. O túmulo de Maria tem todas as características de um túmulo do primeiro século, embora os cruzados tenham embelezado o banco rochoso, que apresenta quatro restos de decorações que se sucederam umas às outras entre os séculos IV e XII.

A “dormição” de Maria

Sobre a dormição, os apócrifos são fortemente marcados pelo período histórico, pelas diferenças das várias comunidades (Jerusalém – Belém), pelas heresias, pelo culto, pela devoção, pelo ambiente judaico, elementos que constituíram os seus relatos. Na maioria dos casos, os escritos respeitam uma espécie de pista comum: Maria morreu de morte natural (descartando, assim, tanto o martírio quanto a imortalidade, seguida ou não pela ressurreição); os apóstolos chegam, todos, milagrosamente ao leito da Virgem em Jerusalém, à qual um mensageiro celeste havia anunciado a proximidade da morte; o temor de Maria ao se aproximar da morte; a intervenção hostil dos judeus à sua sepultura; a assunção gloriosa do corpo da Virgem ao céu.

Através dessas narrativas, a nascente comunidade cristã quis reafirmar a sua fé em Jesus Cristo nascido de Maria Virgem.

O que lemos no “Transitus Romanus”

A dormição da Virgem é assim descrita: “Enquanto Pedro falava e confortava as multidões, chegou a aurora, e despontou o sol. Maria se levantou, saiu, recitou a oração que o anjo lhe havia dado e, depois da oração, estendeu-se no leito e levou a termo a sua economia (…). O Senhor a abraçou, levou a sua alma santa, pô-la entre as mãos de Miguel” (Transito R, 32.34) [1].

Depois desses fatos prodigiosos, o texto do trânsito descreve a procissão fúnebre do corpo da Virgem, do Sião ao Getsêmani. Os apóstolos saem cantando “Israel saiu do Egito, aleluia”, enquanto uma grande luz envolve toda a cidade de Jerusalém. Os sumos sacerdotes do templo, ouvindo o barulho, saem cheios de ódio e querem queimar o corpo da Virgem, “o corpo que trouxe aquele sedutor”. Mas os anjos cegam a todos, exceto o sumo sacerdote Jefonias.

Aqui, o trânsito quer demonstrar a superioridade da comunidade cristã sobre a judaica, fazendo a fé em Jesus Cristo ser confessada pelo sumo sacerdote: “Jefonias se aproximou dos apóstolos e, quando os viu carregando o leito coroado, cantando hinos, ficou cheio de raiva e disse: ‘Eis quanta glória recebe hoje a morada daquele que despojou a nossa estirpe!’. E, cheio de raiva, dirigiu-se ao leito, com a intenção de derrubá-lo. Tocou-o no ponto onde se encontrava a palma: logo as suas mãos se colaram ao leito, foram truncadas nos cotovelos e ficaram suspensas no leito” (Transitus R, 39).

Jefonias, então, pediu a graça da cura aos apóstolos, que o convidaram a fazer a profissão de fé. Pedro – continua o relato – fez parar o leito com o corpo de Maria, e o sumo sacerdote fez a profissão de fé: “No nome do Senhor Jesus Cristo, filho de Deus e de Maria, pomba imaculada daquele que está escondido na sua bondade, que as minhas mãos se unam sem defeito! E, logo, tornaram-se como eram antes” (Transitus R, 43).

Seria, depois, Jefonias que anunciaria à multidão aos prantos em Jerusalém o prodígio da Virgem: “[Jefonias] tomou a folha [a palma], falou-lhes da fé, e aqueles que creram recuperaram a visão”.

A narrativa do Trânsito encerra-se com a assunção da Virgem Maria. Os apóstolos, depois de terem deposto o corpo no sepulcro novo, viram chegar o Senhor Jesus: “Eis, descido dos céus, o Senhor Jesus Cristo com Miguel e Gabriel (…). O Senhor disse a Miguel para elevar o corpo de Maria sobre uma nuvem e transferi-lo para o paraíso (…). Tendo chegado ao paraíso, depuseram o corpo de Maria sob a árvore da vida. Miguel levou a sua alma santa, que depuseram no seu corpo” (Transitus R, 47-48).

O símbolo da palma

Para alguns autores, os trânsitos podem ser divididos em duas grandes famílias: aqueles em que se menciona a palma (sinal da glória de Deus) que Maria recebeu de Deus, e aqueles do anúncio da Dormitio em Belém com um aspecto mais litúrgico.

É interessante notar como o símbolo da palma acompanha Maria até a sua glorificação.

A palmeira, com as suas folhas verdes, é símbolo da vida, que nada pode destruir. Pela sua altura, profundidade e flexibilidade, é também símbolo de beleza, elegância, graça, estabilidade. O justo que, radicado na Palavra se eleva ao alto, para Deus (Sl 93, 13), é como uma palmeira verdejante. No Evangelho de João, a palma indica a vitória de Jesus sobre a morte e a sua ressurreição. No Apocalipse, recorda o triunfo dos mártires (Ap 7, 9).

Na estrada que vai de Jerusalém a Belém, na terceira milha, estão os restos de uma antiga igreja octogonal chamada “do Kathima” (o repouso da Virgem), os mosaicos encontrados estão todos ao redor e dentro da Igreja. Entre eles, um é de particular importância e beleza: a palmeira com as tâmaras.

No Evangelho apócrifo do Pseudo-Mateus, narra-se a sagrada família voltando do Egito. Em um certo momento, Maria pede para repousar um pouco à sombra de uma alta palmeira, desejando comer as frutas. José, respondendo, diz: “Admiro-me que tu digas isso e que, vendo o quão alta é esta palmeira, penses em comer os frutos da palmeira. Eu, ao contrário, penso na falta de água: ele já veio a faltar nos odres, e não temos onde nos refocilar, nós e os jumentos. Então, o menino Jesus, que, com o rosto sereno, repousava no colo de sua mãe, disse à palmeira: ‘Árvore, dobre os teus ramos e restaura, com o teu fruto, a minha mãe’. Ao ouvir essas palavras, a palmeira logo curvou a sua copa até os pés da bem-aventurada Maria, e recolheram dela os frutos com os quais todos se refocilaram. (…) Jesus disse: ‘Palmeira, levanta-te, toma força e sê companheira das minhas árvores que estão no paraíso do meu Pai. Abre com as teus raízes a veia de água que está escondida na terra, para que dela fluam águas para a nossa saciedade’. Logo ela se ergueu e, da sua raiz, começou a brotar uma fonte de águas limpidíssimas e extremamente frias e claras” (Evangelho do Pseudo-Mateus 20, 1-2).

No Alcorão, a palmeira é citada na sura 19 a propósito do nascimento de Jesus: “Não fiques triste. O teu senhor fez jorrar uma fonte aos teus pés. Sacode perto de ti o tronco da palmeira, que fará cair sobre ti tâmaras frescas e maduras. Come, bebe e alegra-te” (Sura 19, 25-26).

De acordo com P. Manns, o símbolo da palmeira que abre o apócrifo do trânsito da Virgem, junto com outros símbolos, como as nuvens, a lâmpada e o perfume, remete à festa de Sucot, a festa judaica das cabanas.

Todos esses símbolos podem ser associados à festa judaica de Sucot.

Para o profeta Zacarias (14, 16), será no Monte das Oliveiras que os sobreviventes das nações, que fizeram a guerra contra Jerusalém, se reunirão para celebrar a festa das cabanas.

Relendo os apócrifos, os apóstolos, quando levam o corpo de Maria ao Vale do Cedron, cantam o Halel, o salmo que é cantado para as grandes festas judaicas.

A festa das cabanas é apresentada como festa de ressurreição, e Filão de Alexandria afirma que a festa é esperança da imortalidade. Se o simbolismo for aceito, o sentido do apócrifo, de acordo com Manns, seria: “Maria celebra a sua última festa das cabanas sobre o Monte das Oliveiras. O simbolismo judaico de tal festa ilustrava bem o sentido da sua morte e a sua fé na ressurreição. Em outras palavras, significa que a fé na assunção de Maria remonta aos judeu-cristãos de Jerusalém. Os judeu-cristãos estavam bem preparados para aceitar a assunção de Maria, porque, do judaísmo, tinham herdado a fé de que Miriam, irmã de Moisés, não tinha conhecido a corrupção do túmulo” [2].

Notas:

1. Transito R está para romanus. Cf. L. Moraldi (org.). Apocrifi del Nuovo Testamento. Turim: I, Utet, 1971, p. 807-925.

2. F. Manns. Scoperte archeologiche e tradizioni antiche sulla Dormizione e Assunzione di Maria. In: G. C. Moralejo; S. Cecchin (org). L’assunzione di Maria Madre di Dio: significato storico-salvifico a 50 anni dalla definizione dogmática. Atas do 1º Forum Internazionale di Mariologia, Roma, 30-31 out. 2000, Cidade do Vaticano, 2001, p. 181.

MARTA, MARIA E LÁZARO: OS TRÊS IRMÃOS DE BETÂNIA

No dia 29 de julho, Marta, Maria e Lázaro, os três irmãos de Betânia descritos nos Evangelhos, são lembrados juntos, pela primeira vez, como Santos. A decisão do Papa Francisco foi apresentada em um decreto emitido pela Congregação para o Culto Divino em 2 de fevereiro. Mas além dos calendários e livros litúrgicos, a memória da família de Betânia é um convite para redescobrir a dimensão relacional e familiar da vida eclesial e para valorizar a diversidade na consciência de que Jesus nos acolhe precisamente em nossa fragilidade.

A incerteza sobre a identidade de Maria

Na raiz da escolha de Francisco está o desejo de esclarecer uma incerteza sobre a identidade de Maria de Betânia, como explica o padre Corrado Maggioni, liturgista e desde 2014 subsecretário da Congregação para o Culto Divino.  “A tradição ocidental nos transmitia uma dúvida: no passado alguns estudiosos identificavam Maria de Betânia com Madalena, Maria de Magdala, mas na realidade já na década de cinquenta os que trabalhavam na reforma do Calendário Romano já tinham verificado que essa identificação era incerta. Pensou-se, portanto, que já tinha chegado o tempo para resolver definitivamente esta perplexidade, até porque o nosso Dicastério recebia pedidos para unificar na mesma celebração os santos Marta, Maria e Lázaro e já existiam calendários, como o dos beneditinos ou o da Terra Santa, que celebravam juntos no dia 29 de julho estes três irmãos, amigos de Jesus”.   Por outro lado”, explica o religioso, “o Martirológio Romano restaurado, publicado em 2002, já havia esclarecido esta dúvida sobre a identidade de Maria de Betânia. Assim, fizemos este pedido ao Papa para que a variação ao Calendário Romano Geral pudesse ser aprovada”.

MARTA, MARIA E LÁZARO: Acolher Jesus em família

O Padre Maggioni não tem dúvidas sobre o significado pastoral da nova memória. “O Evangelho diz que Jesus gostava muito dos três irmãos de Betânia. De Lucas e João aprendemos que eles têm temperamentos diferentes, mas todos são capazes de acolher o Senhor Jesus em sua casa. Eles disponibilizam um espaço físico para Jesus quando ele deseja passar momentos de serenidade com os amigos. Portanto, esta memória sublinha a acolhida dos três irmãos para com Jesus e da sua palavra e o amor que Jesus tem por eles. É, portanto, uma ocasião para valorizar a amizade, o acolhimento, mas também as relações familiares que ajudam a unir-se à Palavra de Jesus”. “Pode acontecer que a família seja um impedimento à adesão ao Evangelho, a fazer escolhas radicais para seguir Jesus”, explica o Padre Maggioni. “Mas a casa de Betânia nos mostra que são precisamente as relações familiares, irmãos, irmãs, parentes, que nos ajudam com seu exemplo a abrir nossos corações para acolhê-Lo”.

A amizade é o alfabeto do Evangelho

Há alguns anos, padre Luigi Maria Epicoco, sacerdote e escritor, diretor do Instituto Superior de Ciências Religiosas Fides et Ratio de Aquila, dedicou a estes três personagens do Evangelho um livreto de meditações, impresso pela Tau Editrice, centrado no tema dos laços de amizade. “A escolha do Papa de lembrá-los juntos em uma única festa – comenta – é uma notícia maravilhosa porque estes três personagens são uma verdadeira família e Jesus frequenta sua casa. Portanto, foi correto não dar espaço a apenas um dos protagonistas, mas estender esta celebração a todo o clã familiar que nos diz, afinal, que o cristianismo sempre funciona dentro de uma dinâmica de relações e não simplesmente no heroísmo individual”.

De acordo com Epicoco, a dinâmica relacional é a única dentro da qual é possível compreender o Evangelho. Este cristianismo que às vezes respiramos hoje, tão solipsístico, individual, fechado no otimismo, não é o cristianismo de Jesus Cristo”. De fato, Jesus nos ensinou que, para compreender a Boa Nova, devemos apostar nossas vidas nas relações. Na vida de Jesus a amizade jamais é um passatempo, mas é o alfabeto básico para poder compreender a sua mensagem. Se pensamos que mesmo no Getsêmani Jesus precisava de amigos, entendemos que nossa maior presunção é a de querer enfrentar a vida sozinhos”.

CONGREGATIO DE CULTU DIVINO ET DISCIPLINA SACRAMENTORUM

Prot. N. 35/21

DECRETO
sobre a celebração de Santa Marta, Maria e Lázaro,
no Calendário Romano Geral

Na casa de Betânia o Senhor Jesus experimentou o espírito de família e a amizade de Marta, de Maria e de Lázaro; por isso, o Evangelho de S. João afirma que Ele os amava. Marta ofereceu-Lhe generosamente hospitalidade, Maria ouviu atentamente as suas palavras e Lázaro saiu de imediato do sepulcro a convite d’Aquele que aniquilou a morte.

A tradicional dúvida na Igreja latina acerca da identidade de Maria – a Madalena a quem Cristo apareceu depois da ressurreição, a irmã de Marta, a pecadora a quem o Senhor perdoou os pecados – determinou a inscrição, no Calendário Romano, unicamente de Marta no dia 29 de julho. A solução encontrou-se em estudos de tempos recentes, como atesta o atual Martirológico Romano, que comemora naquele mesmo dia, também, Maria e Lázaro. Além disso, em alguns Calendários particulares, os três irmãos são celebrados conjuntamente nesse dia.

Por conseguinte, considerando o importante testemunho evangélico dos três irmãos, que ofereceram ao Senhor Jesus a hospitalidade da sua casa, prestando-lhe uma atenção dedicada, e acreditando que Ele é a ressurreição e a vida, o Sumo Pontífice FRANCISCO, acolhendo a proposta deste Dicastério, decidiu que no dia 29 de julho seja inscrito no calendário Romano Geral a memória dos Santos Marta, Maria e Lázaro.

Assim, é com esta denominação, que esta memória deverá figurar em todos os Calendários e Livros Litúrgicos para a celebração da Missa e da Liturgia das Horas. As variantes e os acrescentos a adotar nos textos litúrgicos, em anexo ao presente decreto, deverão ser traduzidas, aprovadas e, depois de confirmadas por este Dicastério, publicadas pela Conferência Episcopal.

Nada obste em contrário.

Sede da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos,

26 de janeiro de 2021, memória de S. Timóteo e S. Tito, bispos.

Robert Card. Sarah
Prefeito

X Arthur Roche
Arcebispo Secretário

ORAÇÕES EUCOLÓGICAS PARA ESTE DIA

ORAÇÃO DO DIA
Ó Deus, o vosso Filho
fez voltar Lázaro do sepulcro para a vida
e se dignou hospedar-se na casa de Marta,
concedei-nos, vos suplicamos,
que nós também, servindo fielmente aos nossos irmãos,
mereçamos com Maria nutrir-nos da meditação de Sua Palavra.
Ele vive e reina convosco na unidade do Espírito Santo
por todos os séculos dos séculos.

SOBRE AS OFERENDAS
Nós vos proclamamos admirável nos vossos santos, Senhor,
e suplicamos a vossa majestade
que seja aceitável o exercício de nosso serviço,
assim como vos agradou a atenciosa caridade deles.
Por Cristo nosso Senhor.

DEPOIS DA COMUNHÃO
A sagrada comunhão do Corpo e Sangue de vosso Filho,
ó Senhor, nos afaste de todas as coisas caducas,
para que, pelo exemplo dos santos Marta, Maria e Lázaro,
possamos progredir na prática sincera da caridade na terra,
e contemplar com alegria perene a vossa glória no céu.
Por Cristo nosso Senhor.

Fonte: Vatican News

Ministérios Instituídos e admissão das mulheres

O Regional Sul 3 da CNBB, organizou um Seminário Regional de Liturgia. A live da terceira noite, quinta-feira, dia 15 de julho, a assessora foi a Ir. Veronice Fernandes, da Congregação das Pias Discípulas do Divino Mestre. O tema deste encontro: Ministérios Instituídos e admissão das mulheres.

Acompanhe:

Ministérios instituídos e admissão da mulher | 15 de julho de 2021

A ir. Veronice Fernandes, pddm, iniciou sua argumentação a partir da Lumen Gentium que diz que a renovação eclesiológica conciliar compreendeu o cristão(a) leigo(a) plenamente como membro efetivo da Igreja e não como um fiel de pertença menor ou inferior, a quem faltasse algo da comum dignidade cristã. (LG, cap. 4).

Assim, o Vaticano II se constituiu numa experiência de valorização e reconhecimento, dos leigos e leigas, um verdadeiro Pentecostes, pois a constituição dogmática, Lumen Gentium que repensou a identidade da Igreja, colocou em primeiro lugar o que era comum a todos(as) na igreja católica, ou seja, a condição cristã, que em virtude do sacramento do Batismo nos constitui a todos(as) como equivalentes dentro do Povo de Deus, possibilitando, aos leigos e leigas, um novo estatuto dentro da Igreja Católica. Colaborou para nos restituir a situação, que tínhamos na Igreja dos primórdios. (cf. TEPEDINO. De Medellín a Aparecida: marcos, trajetórias, perspectivas da Igreja Latino-americana, p. 377).

A partir do Concilio Vaticano II, que bebeu das fontes, as Conferências Episcopais Latino-Americanas e a Conferência Episcopal dos Bispos do Brasil: Medellín (1968), Puebla (1979), Santo Domingo (1992) e Aparecida (2007), compreende-se o leigo e a leiga como “sujeito eclesial”. (DAp, n. 497a). Cada cristão leigo e leiga é chamado a ser sujeito eclesial para atuar na Igreja e no mundo.

Dentro deste panorama que chama os leigos à corresponsabilidade na Igreja, vão aparecer as mulheres: “Com efeito, se é verdade, que todas as coisas que se disseram a respeito do Povo de Deus se dirigem igualmente aos leigos, aos religiosos e aos clérigos, algumas, contudo, pertencem de modo particular aos leigos, homens e mulheres, em razão de seu estado e missão; e os seus fundamentos, devido às circunstâncias especiais de nosso tempo, devem ser mais cuidadosamente expostos. Os sagrados pastores conhecem, com efeito, perfeitamente quanto os leigos contribuem para o bem de toda a igreja. Pois eles próprios sabem que não foram instituídos por Cristo para se encarregarem por si sós de toda a missão salvadora da igreja para com o mundo. (LG 30).

Sobre a participação da mulher na vida cultural e que podemos aplicar para todos os setores, vale a pena recordar a Gaudium et spes:

“As mulheres trabalham já em quase todos os setores de atividade; mas convém que possam exercer plenamente a sua participação, segundo a própria índole. Será um dever para todos reconhecer e fomentar a necessária e específica participação das mulheres…”. (GS 60).

E, sobretudo, Apostolicam actuositatem: “Os leigos exercem o seu apostolado multiforme tanto na Igreja como no mundo… E como hoje a mulher tem cada vez mais parte ativa em toda a vida social, é da maior importância que ela tome uma participação mais ampla também nos vários campos do apostolado da Igreja”. (AA 9).

Os ministérios instituídos

Motu proprio Ministeria quaedam

Após um processo de reforma dos ministérios não ordenados, em 15 de agosto de 1972, através do motu proprio Ministeria quaedam, Paulo VI: aboliu as “ordens menores” (hostiário, leitor, exorcista e acólito); suprimiu o subdiaconato (“ordens maiores”); substituiu o termo “ordens” por “ministérios”; Estabeleceu os ministérios de leitor e acólito que, segundo a norma “podem ser confiados também aos fiéis leigos (homens), de modo que não sejam mais considerados como reservados aos candidatos da ordem”. (ALMEIDA, Antonio Jose de. Novos ministérios: a necessidade de um salto à frente. São Paulo: Paulinas, 2016).

Paulo VI tirou o monopólio clerical de muitos séculos, que não correspondia, entretanto, ao conjunto da tradição e possibilitou ministérios oficiais exercidos por leigos; autorizou as Conferências Episcopais de instituir outros ministérios que sejam úteis e necessários. (ALMEIDA, Antonio Jose de. Novos ministérios: a necessidade de um salto à frente. São Paulo: Paulinas, 2016).

O leitor

O leitor é instituído para:

  • Ler a palavra de Deus na assembleia litúrgica: proclamará as leituras da sagrada Escritura, exceto o Evangelho na missa e nas demais celebrações sagradas;
  • Faltando o salmista recitará o salmo responsorial;
  • Proclamará as intenções para a oração universal, na falta do diácono ou o do cantor;
  • Dirigirá o canto e a participação do povo;
  • Instruirá os fiéis para receberem os sacramentos;
  • Quando necessário preparará outros fiéis para proclamar as leituras da Sagrada Escritura. (MQ V)

(Ver ainda: IGMR 99; cf. IGMR 194-198; ELM 49;51-55).

O acólito

  • O acólito é instituído para o serviço do altar e para auxiliar o presidente da celebração e o diácono;
  • Compete-lhe principalmente preparar o altar e os vasos sagrados;
  • Se necessário, distribuir aos fiéis a comunhão, da qual é ministro extraordinário;
  • Se necessário, expor o Santíssimo sacramento para a adoração;
  • Pode cuidar da instrução dos demais fiéis (MQ VI).

(Ver também: IGMR 98; cf. IGMR 187-193).

O acólito aprenda tudo aquilo que pertence ao culto público divino e trate de captar seu sentido íntimo e espiritual; de forma que ofereça diariamente a si mesmo a Deus, sendo para todos um exemplo de seriedade e devoção no tempo sagrado e outros lugares, com sincero amor, se aproxime do Corpo Místico de Cristo, o povo de Deus, especialmente os necessitados e enfermos (MQ VI).

Todas estas funções as exercerá mais dignamente participando com piedade cada dia mais ardente na Sagrada Eucaristia, alimentando-se dela e adquirindo um mais profundo conhecimento da mesma (MQ VI)

Inclusão das MULHERES leitoras e acólitas instituídas

Spiritus Domini papa Francisco 10 de janeiro de 2021 – Festa do Batismo do Senhor

Sobre a modificação do Cân. 230§1 do Código de Direito Canônico acerca do acesso das pessoas do sexo feminino ao ministério instituído do leitorado e do acolitado. Carta ao prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé a respeito do acesso das mulheres aos ministérios do leitorado e do acolitado.

No final do Sínodo de 2008, sobre a Palavra de Deus na vida da Igreja, foi feito o pedido de admitir mulheres ao ministério instituído do leitorado (Propositio, n.17). Recentemente (2019), o Documento Final do Sínodo para a Amazônia solicitava o leitorado e o acolitato para asmulheres (n. 102).

“Pedimos revisar o Motu Proprio de São Paulo VI, Ministeria quaedam, para que também mulheres adequadamente formadas e preparadas possam receber os ministérios do Leitorado e do Acolitado, entre outros a serem criados”. (DF).

O papa Francisco em Spiritus Domini recorda os pedidos dos Sínodos para aprofundar a questão: “aprofundar doutrinalmente este tema, de modo a responder à natureza dos mencionados carismas e às exigências dos tempos, oferecendo um apoio oportuno ao papel de evangelização que cabe à comunidade eclesial”. (p. 10 – Edições CNBB e Paulus).

E argumenta:

“Aceitando estas recomendações, nestes últimos anos alcançou-se um desenvolvimento doutrinal que evidenciou como determinados ministérios instituídos pela Igreja têm como fundamento a condição comum de batizado e o sacerdócio real recebido no Sacramento do Batismo; eles são essencialmente distintos do ministério ordenado, recebido com o Sacramento da Ordem. Com efeito, também uma prática consolidada na Igreja latina confirmou que tais ministérios laicais, baseando-se no Sacramento do Batismo, podem ser confiados a todos os fiéis que forem idôneos, de sexo masculino ou feminino, de acordo com quanto já é implicitamente previsto pelo cânone 230 § 2”. (p. 10 – Edições CNBB e Paulus).

Na Carta do Papa Francisco ao Cardeal Ladaria, Prefeito da Congregação pela Doutrina da Fé, que acompanha e motiva teologicamente o Motu Proprio Spiritus Domini, é expressamente mencionado o Sínodo para a Amazônia:

“No horizonte de renovação traçado pelo Concílio Vaticano II, existe hoje um crescente sentido de urgência em redescobrir a corresponsabilidade de todos os batizados na Igreja, e especialmente a missão dos leigos. A Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazónica (6-27 de outubro de 2019), no quinto capítulo do documento final assinalou a necessidade de pensar em ‘novos caminhos para a ministerialidade eclesial’. Não só para a Igreja Amazônica, mas para toda a Igreja, na variedade de situações, ‘é urgente promover e conferir ministérios a homens e mulheres… É a Igreja dos batizados que devemos consolidar promovendo a ministerialidade e, sobretudo, uma consciência da dignidade batismal’”. (Documento Final, n. 95).

Destacamos:

– A retomada do sacerdócio batismal: “É a Igreja dos batizados que devemos consolidar promovendo a ministerialidade”. (S.D.)

– A resposta dada ao pedido dos Sínodos e outras instâncias….

Nesse sentido, e com base no Ministeria quaedam de Paulo VI, propõe que mulheres adequadamente treinadas e preparadas possam receber os ministérios do leitorado e do acolitado, entre outros a serem desenvolvidos. •

[…] depois de ter ouvido o parecer dos Dicastérios competentes, decidi prover à modificação do cânone 230 § 1 do Código de Direito Canônico. Portanto, disponho que no futuro o cânone 230 § 1 do Código de Direito Canônico seja assim redigido:

Os leigos que tiverem a idade e as aptidões determinadas com decreto pela Conferência Episcopal, podem ser assumidos estavelmente, mediante o rito litúrgico estabelecido, nos ministérios de leitores e de acólitos; no entanto, tal concessão não lhes atribui o direito ao sustento ou à remuneração por parte da Igreja” (Spiritus Domini, 2021).

Modificação feita por papa Francisco no can. 230, § 1

1983

Modificação (10/01/2021) Festa do Batismo do Senhor

“Os leigos varões que tiverem a idade e as qualidades estabelecidas por decreto da Conferência dos Bispos, podem ser assumidos estavelmente, mediante o rito litúrgico prescrito, para os ministérios do leitor e de acólito; o ministério, porém, a eles conferido não lhes dá o direito ao sustento ou à remuneração por parte da Igreja”.

“Os leigos que tiverem a idade e as qualidades estabelecidas por decreto da Conferência dos Bispos, podem ser assumidos estavelmente, mediante o rito litúrgico prescrito, para os ministérios de leitores e de acólitos; o ministério, porém, a eles conferido não lhes dá o direito ao sustento ou à remuneração por parte da Igreja”. (Papa Franscisco. Motu Proprio Spiritus Domini)


Disponho do mesmo modo a modificação das outras disposições, corroboradas pela lei, que se referem a este cânone. Quanto deliberado por esta Carta apostólica sob forma de Motu Proprio, ordeno que tenha vigor firme e estável, não obstante qualquer disposição contrária, mesmo que seja digna de menção especial, e que seja promulgado através da publicação em L’Osservatore Romano,  entrando em vigor no mesmo dia, e em seguida publicado no comentário oficial das Acta Apostolicae Sedis (Spiritus Dominis)

A reforma disciplinar de Paulo VI trouxe à luz o caráter laico desses ministérios e marcou uma diferença com aqueles ordenados no diaconato, presbiterado e episcopado. • Francisco fala do desenvolvimento doutrinário ao confiar o leitorado e o acolitado também às mulheres, colocando como fundamento teológico “a comum condição de ser batizado e o sacerdócio real recebido no sacramento do Batismo”.

“A partir da modificação do cânone 230 § 1, podem ser instituídos homens e mulheres para exercerem o ministério de leitor e de acólito. Embora as mulheres, aqui no Brasil, já exercem estes ministérios, esta modificação traz para elas a possibilidade de exercerem estavelmente o leitorado e o acolitato e saírem, nestes casos, da condição de ‘ministras extraordinárias’”. (BRANDÃO, 2021, p. 6-7).

Significado da Mudança

  • A vida eclesial nutre-se da referência reciproca entre sacerdócio ordenado e sacerdócio comum e é alimentada pela frutuosa tensão desses dois polos,, enraizados no único sacerdócio de Cristo.
  • Possibilidade de cada Igreja local/particular… Viver a ação litúrgica, o serviço dos pobres e o anúncio do Evangelho em fidelidade ao mandato do Senhor Jesus.
  • Pode ajudar a Igreja a redescobrir o sentido da comunhão que a caracteriza e a iniciar um renovado empenho na catequese e na celebração da fé.
  • Esta reciprocidade, do serviço ao sacramento do altar, é chamada a refluir, na distinção das tarefas, para aquele serviço de ‘fazer de Cristo o coração do mundo’, que é a missão particular de toda a Igreja […]  sem disputas de poder… (Carta ao Prefeito…).
  • Redescobrir a corresponsabilidade de todos os batizados na Igreja.
  • Aumentará o reconhecimento, também através de uma ato litúrgico (instituição), da preciosa contribuição que, durante muito tempo, muitos leigos, incluindo mulheres, oferecem à vida e missão da Igreja. (Carta ao Prefeito…).
  • “A opção de conferir também às mulheres ofícios como os de leitorado e acolitado, “que comportam uma estabilidade, um reconhecimento público e um mandato do bispo, torna mais efetiva na Igreja a participação de todos na obra de evangelização“.(Carta ao Prefeito…).
  • “Permite que as mulheres tenham uma incidência real e efetiva na organização, nas decisões mais importantes e na liderança das comunidades, mas sem deixar de o fazer com o estilo próprio da sua marca feminina”. (Francisco, Exortação Apostólica Querida Amazonia, n. 103).

O Motu Proprio abre um cenário inédito. Sem dúvida, é fruto da caminhada da Igreja pós-conciliar que vê as mulheres como sujeitos nas paróquias e nas dioceses, com múltiplas formas de serviço pastoral e ricas experiências de ministerialidade: as mulheres  de hoje são portadoras de uma palavra falada com autoridade, competente, pública, que contribui para a construção e o amadurecimento do corpo eclesial.

O passo dado é portador de um rico significado eclesiológico, no espírito de uma recepção mais profunda da visão conciliar do povo de Deus, em que os leigos são vistos como sujeitos corresponsáveis da vida e da missão da igreja.

Temos enfim:

  • Verdadeiro reconhecimento do fato que, pelo batismo, todos os leigos – homens e mulheres, participam do sacerdócio batismal com igual dignidade e comum responsabilidade, sem que sejam justificáveis exclusões de gênero no exercício de ministérios leigos (de fato ou instituídos).
  • A superação de um fator discriminatório, não justificável no plano teológico; uma “reserva” em contraste com a igualdade radical de todos os leigos, afirmada no Código de Direito Canônico.
  • O rosto ministerial da igreja é enriquecido: nascem novas “figuras ministeriais”, inexistentes até hoje, de mulheres leitoras e acólitas.

BIBLIOGRAFIA


ALMEIDA, A.J. Novos ministérios: a necessidade de um salto à frente. São Paulo: Paulinas, 2013.

BRANDÃO, Patrick. Ministérios leigos instituídos na Igreja. Revista de Liturgia, São Paulo, v. 48, n. 284, p. 4-7, mar./abr. 2021.

FRANCISCO. Antiguum Ministerium pela qual se institui o ministério do catequista. Carta Apostólica sob a forma de Motu Proprio. São Paulo: Paulinas, 2021. (A voz do Papa).

FRANCISCO. Querida Amazônia: ao povo de Deus e a todas as pessoas de boa vontade. Exortação Apostólica Pós-Sinodal. São Paulo: Paulinas, 2020. (Coleção a voz do papa, 209).

FRANCISCO. Spiritus Domini: sobre a modificação do Cân. 230 § 1 do Código de Direito Canônico acerca do acesso das pessoas do sexto feminino ao ministério instituído do leitorado e do acolitado. Carta Apostólica sob a forma de Motu Proprio. Brasília: Edições CNBB, 2021. (Documentos Pontifícios, 46).

GOLDIE. Rosemary. Mulher. In: SARTORE, Domenico; TRIACCA, Achille M. (Org.). Dicionário de liturgia. São Paulo: Paulinas; Lisboa: Paulistas, 1992. p. 799-810.

GRILLO, Andrea. Um ministério antigo, uma instituição nova, um atributo velho, uma estrutura ultrapassada. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/609225-um-ministerio-antigo-uma-instituicao-nova-um-atributo-velho-uma-estrutura-ultrapassada.  Acesso em: 12 julho 2021.

LEPORE, Francesco. Leitoras e acólitas, a obra-prima estratégica do Papa Francisco. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/606183-leitoras-e-acolitas-a-obra-prima-estrategica-do-papa-Francisco. Acesso em: 5 julho 2021.

MODINO, Luis Miguel. Papa Francisco institui o Ministério do Catequista, “uma acentuação maior ao empenho missionário”. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/609185-papa-francisco-institui-o-ministerio-do-catequista-uma-acentuacao-maior-ao-empenho-missionário. Acesso em: 12 julho 2021.

MODINO, Luis Miguel. Leitorado e acolitado feminino, um novo caminho nascido na Amazônia. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/606058-leitorado-e-acolitado-feminino-um-novo-caminho-nascido-na-amazonia. Acesso em: 12 julho 2021.

SECRETARIADO NACIONAL DE LITURGIA. O livro do leitor. 2ª ed., Fátima: Artipol, 2015.

SÍNODO DOS BISPOS. Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral. Assembleia Especial para a região Pan-Amazônica. Documento final, Brasília: Edições CNBB, 2019.

TEPEDINO, Ana Maria. De Medellín a Aparecida: marcos, trajetórias, perspectivas da Igreja Latino-americana. In: Atualidade Teológica – Revista do Departamento de Teologia da PUC-Rio, v. XIV,  n. 36, p. 376-394, set./dez., 2010. Disponível em: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/17718/17718.PDF. Acesso em: 5 julho 2021.

TORNIELLI, Andrea. Catequistas, um serviço com raízes antigas voltado para o futuro. Disponível em:  http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/609186-catequistas-um-servico-com-raizes-antigas-voltado-para-o-futuro. Acesso em: 12 julho 2021.

Aprofundamento bíblico para o Tríduo Pascal

Nesta semana, a REVISTA DE LITURGIA publicou um texto da ir. Helena Ghiggi, pddm, com aprofundamento bíblico do Tríduo Pascal. Nossas Igrejas Domésticas se animam, mais do que nunca, para celebrarem com fervor as festas pascais.

Abaixo, o texto na íntegra. Vai nos ajudar na nossa leitura orante de cada dia do Tríduo Pascal:

ESTE É O DIA QUE O SENHOR FEZ PARA NÓS; ALEGREMO-NOS E NELE EXULTEMOS! (Sl 118,24)

QUINTA FEIRA NA CEIA DO SENHOR

A antífona da entrada nos introduz no mistério da paixão, morte e ressurreição do Senhor: “A cruz de nosso Senhor Jesus Cristo deve ser a nossa glória: nele está nossa vida e ressurreição; foi ele que nos salvou e libertou” (Gl 6,14). A cruz, maldição (Dt 21,22-23), instrumento de tortura, torna-se sinal de salvação na entrega de Jesus. A oração do dia enfatiza o sentido da “santa ceia, na qual o Filho único do Pai, ao entregar-se à morte, deu à sua Igreja um novo e eterno sacrifício, como banquete do seu amor”.

Nesse momento difícil de sofrimento causado pelo Covid-19, o Papa Francisco destaca que o Senhor reanima a nossa fé pascal. Temos uma âncora: na sua cruz, fomos salvos. Temos um leme: na sua cruz, fomos resgatados. Temos uma esperança: na sua cruz, fomos curados e abraçados, para que nada e ninguém nos separem do seu amor redentor (homilia, 27/03/2020).

O texto do evangelho segundo João (Jo 13,1-15) faz referência a Última Ceia, mas não relata a instituição da eucaristia, pois Jesus já havia revelado sua vida como pão e vinho, verdadeira comida e bebida (Jo 6,51-58). Aqui o evangelista traz o gesto do lava pés, símbolo do amor gratuito de Jesus aos irmãos e irmãs, memorial de sua atuação ao longo do ministério. “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). O “Mestre e Senhor”, com seu exemplo de humilde serviço, ensina um novo modo de viver na fraternidade, que transforma as desigualdades e toda forma de injustiça e dominação. O cuidado recíproco, realçado no mandamento novo de “amar como Jesus amou” (Jo 13,34-35), é essencial para que todos tenham vida digna. Como Igreja doméstica, somos chamados a celebrar a memória da entrega radical de Cristo, servidor até a cruz, solidários com o bem comum de toda a sociedade, de toda a comunidade.

A Leitura do livro do Êxodo (Ex 12,1-8.11-14) recorda a Páscoa dos hebreus, antiga festa pastoril que se torna memorial da passagem da escravidão no Egito para a liberdade em busca da terra prometida, de vida melhor para todos os povos. O Salmo 116 (115) mostra que o povo agradece a salvação e os benefícios recebidos do Senhor, “erguendo o cálice da salvação”, gesto de compromisso com o seu projeto. Paulo, na Leitura de 1Coríntios (1Cor 11,23-26), apresenta a narrativa mais antiga da Ceia do Senhor. “Este é o Corpo que será entregue por vós, este é o cálice da nova aliança no meu Sangue, diz o Senhor. Todas as vezes que os receberdes fazei-o em minha memória”. A eucaristia, memória da morte de Jesus como dom de vida para a humanidade, é testemunhada na compaixão, cuidado, partilha com os irmãos (1Cor 11,17-34).

SEXTA FEIRA DA PAIXÃO DO SENHOR

O caminho de fidelidade trilhado por Jesus, Servo sofredor, é acentuado já na aclamação ao evangelho: “Jesus Cristo se tornou obediente, obediente até a morte numa cruz, pelo que o Senhor Deus o exaltou, e deu-lhe um nome muito acima de outro nome” (Fl 2,8-9). A narrativa da Paixão de Jesus segundo João (Jo 18,1–19,42) acentua o sentido soteriológico, salvífico da morte de Jesus, e também o significado de revelação na qual a natureza profunda de Deus se torna manifesta. Jesus revela o Deus compassivo que ouve o clamor do povo “Eu Sou” (Jo 18,6; Ex 3,14), e livra os discípulos dos que chegam para prendê-lo com a força e a violência.

Conduzido ao palácio dos sumos sacerdotes, Jesus aguarda a reunião do Sinédrio na manhã seguinte. Após o julgamento, ele é enviado ao pretório onde ficava o governador romano, de modo que sua acusação torna-se política. Diante do poder imperial, Jesus reafirma que seu Reino não é deste mundo e dá testemunho da verdade, que é ele mesmo (Jo 14,6). Apesar de ser reconhecido inocente Jesus é condenado à morte, consequência de seu compromisso com as vítimas do sistema, com os últimos. Assim, Jesus assume livremente o caminho até o Calvário, carregando a própria cruz. “Crucificaram Jesus no meio de outros dois”, com tantas pessoas que carregam a cruz da violência, desemprego, fome. O sofrimento de Jesus até à morte violenta na cruz não é da vontade do Pai, mas causa de salvação e fonte de vida e libertação para a humanidade.

Em meio a tanta dor, Jesus não se encontra só, ao pé da cruz a comunidade fortalece a fé e a esperança para dar continuidade à missão. A presença da mãe de Jesus, como nas bodas em Caná da Galileia (Jo 2,1-12), sublinha que chegou a “hora” da glorificação do Filho. A solidariedade dos discípulos e discípulas junto ao Mestre na cruz multiplica-se através dos gestos de bondade de tantas pessoas, que consolam os doentes, os idosos, os abandonados. “Tudo está consumado” revela a soberania de Jesus, que completa a obra confiada pelo Pai com fidelidade. “E, inclinando a cabeça, Jesus entregou o Espírito” como dom de vida nova para seus seguidores e seguidoras.

Nenhum osso é quebrado de Jesus, o verdadeiro Cordeiro Pascal (Ex 12,46), que entrega a vida enquanto eram imolados os cordeiros para a Páscoa. A leitura do Livro do Profeta Isaías (Is 52,13–53,12) é o quarto cântico do “Servo do Senhor”. Convida a contemplar a vida do Servo oprimido e exaltado, cujo sofrimento substitui a culpa do povo, como prefiguração de Jesus Cristo. O Salmo 31 (30) é um cântico de lamentação e confiança, que Jesus rezou na cruz: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46). A leitura da Carta aos Hebreus (Hb 4,14-16; 5,7-9) ressalta a solidariedade de Jesus com a humanidade e sua fidelidade ao Pai, que o tornam fonte de salvação, mediador único e definitivo.

O Papa Francisco fala de tantos companheiros de viagem exemplares, que arriscam suas vidas para curar e defender as pessoas. É a força operante do Espírito derramada e plasmada em entregas corajosas e generosas. É a vida do Espírito, capaz de resgatar, valorizar e mostrar como as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns, que hoje marcam os acontecimentos decisivos da nossa história: médicos, enfermeiros e enfermeiras, trabalhadores dos supermercados, pessoal da limpeza, cuidadores, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosos e muitos – mas muitos – outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho (homilia, 27/03/2020).

VIGÍLIA PASCAL DO SENHOR

A Páscoa infunde confiança no Pai, que nunca abandona seus filhos/filhas e oferece a plenitude da vida à humanidade mediante a ressurreição de seu Filho Amado. No texto do evangelho segundo Mateus (Mt 28,1-10), a vida nova que jorrou do Crucificado fortalece a fé e a esperança da comunidade, impelida a realizar a missão na certeza da presença viva do Ressuscitado. As discípulas fiéis desde a Galileia, que permanecem junto de Jesus e o acompanham até a paixão e a morte de Cruz (Mt 27,55-56), se dirigem ao local onde o Mestre fora enterrado para “ver o sepulcro”. A experiência pascal possibilita encontrar novos caminhos, para anunciar a Boa Nova do Reino após a morte de Jesus Cristo.

A pedra que fechava o túmulo (Mt 27,60) foi removida pelo anjo do Senhor, cuja aparência fulgurante evoca o transfigurado-ressuscitado (Mt 17,2). O diálogo do anjo com as mulheres (Mt 28,5-7) ilumina a “não ter medo”, que corresponde a manter viva a fé. Jesus, o Crucificado a quem procuravam, “foi ressuscitado”, voz passiva que acentua a intervenção divina na vitória da vida sobre a morte. A missão confiada às mulheres, no anúncio da ressurreição de Jesus aos discípulos, rompe o esquema social excludente que não reconhecia o testemunho delas. Enquanto as mulheres corriam para anunciar a Boa Notícia aos discípulos, o Ressuscitado vem-lhes ao encontro e as saúda com a alegria pascal, plenificando-as de confiança. As mulheres se prostram diante do Senhor, reconhecendo sua presença que conduz no caminho para a Galileia, região onde o Mestre havia iniciado o ministério (Mt 4,12-17).

As Leituras recordam as grandes maravilhas realizadas por Deus ao longo da história da salvação, plenificada na ressurreição de Jesus. O Ressuscitado é a primícia da nova criação, que faz resplandecer a luz sobre as trevas do pecado e da morte. Filho único, que passa pela cruz assumida por amor fiel, Jesus revela o Deus que quer a vida como no episódio de Abraão e Isaac. A Páscoa de Jesus realiza plenamente o êxodo, a libertação do povo que atravessa o Mar Vermelho em busca da Terra Prometida. Em Jesus manifestam-se a consolação do povo e o banquete messiânico, anunciados no fim do exílio babilônico (Is 54 e 55). A vida doada de Jesus interpela a converter e a renovar o coração, como proclamam Baruc e Ezequiel. Rm 6,3-11 sublinha a participação na morte e ressurreição de Cristo pelo batismo, que nos reveste da vida nova para construirmos a fraternidade entre os povos (Revista de Liturgia, Março/Abril, 2020).

O Papa Francisco diz que a resposta de Deus ao problema da morte é Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida… Tenham fé! Em meio ao choro continuem a ter fé, ainda que pareça que a morte tenha vencido. Removam a pedra de seus corações! Deixem que a Palavra de Deus leve de novo a vida onde há morte. Deus não nos criou para o túmulo, nos criou para a vida, bela, boa, alegre. Jesus Cristo veio nos libertar dos laços da morte. Cristo vive, e quem o acolhe e se une a Ele participa da vida. O batismo nos insere no Mistério Pascal de Cristo. Pela ação e a força do Espírito Santo, o cristão é uma pessoa que caminha na vida como uma nova criatura: uma criatura para a vida, e que vai em direção à vida. Que a Virgem Maria nos ajude a sermos compassivos como o seu Filho Jesus, que fez sua a nossa dor. Que cada um de nós seja próximo daqueles que estão sofrendo, tornando-se para eles um reflexo do amor e da ternura de Deus, que liberta da morte e faz vencer a vida (29/03/2020).

DOMINGO DA PÁSCOA

NA RESSURREIÇÃO DO SENHOR

A oração do dia realça o sentido da “ressurreição de Jesus” como acontecimento central da nossa fé: “Ó Deus, por vosso Filho Unigênito, vencedor da morte, abristes hoje para nós as portas da eternidade. Concedei que, celebrando a ressurreição do Senhor, renovados pelo vosso Espírito, ressuscitemos na luz da vida nova”. O Ressuscitado caminha conosco, sustentando a nossa fé e esperança nesse momento de trevas e morte, causada pela pandemia. No texto do evangelho segundo João (Jo 20,1-9), Maria de Mágdala se dirigiu ao sepulcro no alvorecer do “primeiro dia da semana”, quando ainda estava escuro. A ressurreição de Jesus inaugura a nova criação, a vitória da vida sobre o pecado da injustiça e da morte. A caminhada de fé da comunidade leva a compreender os sinais do sepulcro, o poder da vida que vence a morte pelo amor solidário.

Com a experiência pascal, os que foram ao sepulcro à procura do corpo de Jesus compreendem as Escrituras, que anunciavam o corpo do Ressuscitado como novo e definitivo santuário da humanidade (Jo 2,21). A comunidade unida como “Corpo de Cristo” continua a missão libertadora de Jesus, conduzida pela força do seu Espírito (Jo 20,11-23). No texto do evangelho segundo Lucas (Lc 24,13-35), Jesus ressuscitado caminha com os discípulos de Emaús, reafirmando a presença viva de Deus que nunca abandona o seu povo. O Ressuscitado se faz presente na escuta e compressão da Palavra: “Não estava ardendo o nosso coração, quando ele nos falava pelo caminho e nos abria as Escrituras?”. Os olhos dos discípulos se abrem verdadeiramente, quando repetem os gestos de acolhida de Jesus “fica conosco”, e da entrega de sua vida por amor “tomou o pão, abençoou, partiu e deu a eles” (22,19; 24,30).

A Leitura dos Atos dos Apóstolos (At 10,34a.37-43) é um anúncio querigmático sobre Jesus de Nazaré, o Ungido de Deus que passou a vida fazendo o bem e curando todos os males; foi morto pelas autoridades, mas “Deus o ressuscitou no terceiro dia” e permanece na vida da comunidade como “o Senhor de todos” (10,36). O salmo 118(117), ação de graças a Deus pelas vitórias que dá ao seu povo, celebra a esperança de nossa libertação definitiva na ressurreição de Cristo: “Este é o dia que o Senhor fez para nós; alegremo-nos e nele exultemos”! A Leitura da Carta aos Colossenses (Cl 3,1-4) reflete a experiência de morte e ressurreição pela fé batismal (Cl 2,12), que faz trilhar o caminho da vida nova, buscando as coisas do alto, os valores do Reino anunciados por Jesus.

 A leitura orante da Palavra faz arder o nosso coração e permanecer vigilantes, nesse momento em que a prioridade deve ser a vida das pessoas. O Papa Francisco nos alerta: sabemos que defender as pessoas supõe um prejuízo econômico. Mas seria triste se o oposto fosse escolhido, o que levaria à morte muitas pessoas, algo como um “genocídio viral” (carta enviada a Roberto Andrés Gallardo). O Ressuscitado caminha conosco, suscitando “novas formas de hospitalidade, de fraternidade e de solidariedade”. Cantemos com esperança: “Da região da morte cesse o clamor ingente: Ressuscitou! exclama o anjo refulgente. Jesus, perene Páscoa, a todos alegrai-nos. Nascidos para a vida, da morte libertai-nos. Louvor ao que da morte ressuscitado vem, ao Pai e ao Paráclito eternamente. Amém”. (hino de Laudes, no Domingo da Páscoa).

Fonte: site da Revista de Liturgia

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2020: "Viu, sentiu compaixão e cuidou dele", Lc 10,33-34

A Campanha da Fraternidade é o modo com o qual a Igreja no Brasil vivencia a Quaresma. Há mais de cinco décadas, ela anuncia a importância de não se separar conversão e serviço à sociedade e ao planeta. A cada ano, um tema é destacado, assim, a Campanha da Fraternidade já refletiu sobre realidades muito próximas dos brasileiros: família, políticas públicas, saúde, trabalho, educação, moradia e violência, entre outros enfoques.

Em 2020, a CF convida, por meio de seu texto-base, a olhar de modo mais atento e detalhado para a vida. Com o tema “Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso” e lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34), busca conscientizar, à luz da palavra de Deus, para o sentido da vida como dom e compromisso, que se traduz em relações de mútuo cuidado entre as pessoas, na família, na comunidade, na sociedade e no planeta, casa comum. 

Sobre a CF 2020

Lançado pela editora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Edições CNBB, o texto-base convida a um olhar que se eleva para Deus, no mais profundo espírito quaresmal, e volta-se também para os irmãos e irmãs, identificando a criação como presente amoroso do Pai. No texto, a presidência da CNBB afirma que a Campanha será uma motivação para olhar transversalmente as diversas realidades, interpelando a todos ao respeito do sentido que, na prática, se atribui à vida, nas suas diversas dimensões: pessoal, comunitária, social e ecológica.

“Não se pode viver a vida passando ao largo das dores dos irmãos e irmãs”, diz um trecho do texto base. Versentir, compaixão cuidar são os verbos de ação que irão conduzir este tempo quaresmal. Para isso, o texto-base que é dividido em três partes, convida que cada pessoa, cada grupo pastoral, movimento, associação, Igreja Particular e o Brasil inteiro, motivados pela Campanha da Fraternidade, possam ver fortalecida a revolução do cuidado, do zelo, da preocupação mútua e, portanto, da fraternidade.

HINO DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2020

O autor da letra é o padre José Antônio de Oliveira, 67 anos, da paróquia São João Batista de Barão de Cocais da arquidiocese de Mariana (MG). Segundo ele, o hino tem o poder de levar a mensagem central da campanha da fraternidade para todo o Brasil. “É uma semente que será semeada por aí. Não deixa de ser uma alegria muito grande evangelizar por meio da música”, disse.

O religioso já teve outras letras de música escolhidas para concursos da CNBB, entre elas o canto de comunhão: “Vamos Juntos para a Mesa”, da CF 2002, musicada por Lucas de Paula Almeida.

Processo de escolha –  31 propostas de letra para o hino da CF 2020 chegaram à CNBB após a prorrogação do edital de concurso nacional até 22 de julho de 2019. A Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da CNBB fez uma triagem entre todas as propostas e pré-selecionou 5 letras que foram apresentadas em reunião do Conselho Episcopal Pastoral (Consep) da entidade. Entre as cinco finalistas, os bispos, membros do Consep, escolheram o hino.

A próximo passo segundo o irmão Fernando Benedito Vieira, assessor do Setor de Música Litúrgica da CNBB, será colocar a música na letra, o que será feito com o apoio de uma equipe composta de cinco peritos em música litúrgica. A proposta é que em um mês a versão final de letra com a música seja apresentada para a Comissão para a Liturgia da CNBB para a aprovação final.

Conheça a letra do Hino da Campanha da Fraternidade 2020:

Tema: Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso
Lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (cf. Lc 10,33-34)
Autor: Pe. José Antonio de Oliveira

1) Deus de amor e de ternura, contemplamos
este mundo tão bonito que nos deste. (Cf. Gn 1,2-15; 2,1-25)
Desse Dom, fonte da vida, recordamos: (Cf. SI 36,10)
Cuidadores, guardiões tu nos fizeste. (Cf. Gn 2,15)

Peregrinos, aprendemos nesta estrada
o que o “bom samaritano” ensinou:
Ao passar por uma vida ameaçada,
Ele a viu, compadeceu e cuidou. (Cf. Lc 10,33-34)

2) Toda vida é um presente e é sagrada,
seja humana, vegetal ou animal. (Cf. LS, esp. Cap. IV)
É pra sempre ser cuidada e respeitada,
desde o início até seu termo natural.

3) Tua glória é o homem vivo, Deus da Vida; (Cf. Santo Irineu)
ver felizes os teus filhos, tuas filhas;
é a justiça para todos, sem medida; (Cf. Am 5,24)
É formarmos, no amor, bela Família.

4) Mata a vida o vírus torpe da ganância,
da violência, da mentira e da ambição.
Mas também o preconceito, a intolerância.
O caminho é a justiça e conversão. (Cf. 2Tm 2,22-26)

HINO DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2020

CEN 2020: abertas inscrições para Simpósio Teológico, em Olinda (PE)

Na perspectiva para o Congresso Eucarístico Nacional (CEN 2020), que será realizado no próximo mês de novembro, na arquidiocese de Recife e Olinda (PE), foram abertas as inscrições para o Simpósio Teológico, uma das atividades que faz parte da programação do CEN 2020, entre os dias 12 e 15 de novembro. Os interessados devem acessar o endereço cen2020.com.br/simposio-teologico para adquirir os ingressos.

O investimento é de R$100 mais taxa de R$8 e pode ser pago via boleto bancário ou cartão de crédito. O ingresso dará ao participante o direito de participar das três conferências e escolher três das nove oficinas disponíveis na programação. Tanto as conferências quanto as oficinas do Simpósio Teológico serão ministradas por teólogos de várias regiões do Brasil, com larga experiência teológica e pastoral, entre os dias 13 e 14 de novembro, no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda.

Confira a notícia na íntegra e a programação.

NOSSA SENHORA DE GUADALUPE

Na América Latina o título mariano que se destaca é, realmente, Nossa Senhora de Guadalupe. Já existe há quase 500 anos.

Na liturgia da Igreja Nossa Senhora de Guadalupe tem sua festa celebrada no dia 12 de dezembro. É considerada a padroeira principal da América Latina. A festa foi instituída em 1754.

A Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe localize-se na cidade do México. É uma basílica menor da Igreja Católica.

A atual Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe constitui um santuário nacional do México. Está situado no monte de Tepyac.

O Santuário mariano é considerado o principal templo da Igreja católica no continente americano. É a segunda igreja mais visitada do catolicismo no mundo, só perdendo para a Basílica de São Pedro.

A nova Basílica recebe mais de 20 milhões de visitantes ao longo do ano e inumeráveis peregrinações de todo o México. As grandes peregrinações chegam a 2.500 por ano. Os grupos espontâneos perfazem 6 mil anuais.

Basílica moderna

O Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe é composto de várias igrejas e capelas, dentre elas as duas basílicas, uma do século XVI, e outra da década de 1970. A Basílica nova foi edificada em razão do afundamento da antiga devido ao terreno movediço. Isso porque a cidade do México foi construída em cima de um lago aterrado, o Lago de Texcoco.

A Basílica nova foi construída entre os anos de 1974 e 1976. Foi projetada pelo arquiteto mexicano Pedro Ramírez Vásquez. Sua inauguração transcorreu aos 12 de outubro de 1976.

A Basílica nova foi idealizada em estilo moderno. Viabiliza permitir uma vista total do altar para os devotos que estão no interior.

A estrutura é suportada por 350 pilares. Pode abrigar 10 mil peregrinos dentro da Igreja.

Na nova Basílica, em celebrações especiais, são colocados assentos adicionais e a capacidade chega até 40 mil lugares. O santuário abriga, em seu interior a tilma de Juan Diego Cuauhtlatoatzin.

Basílica antiga

A antiga Basílica é o primeiro templo católico dedicado a Nossa Senhora de Guadalupe. Começou a ser construída em 1531.

Foi concluída e inaugurada no dia 1º. de maio de 1709. Foi projetada por Pedro Arrieta. Em 24 de outubro de 1887 foram feitas reparações na igreja.

No dia 12 de outubro de 1895 a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe foi solenemente coroada pelo arcebispo do México. 50 mil fiéis participaram com piedade e comoção.

O interior do templo é decorado em mármore com duas estátuas de Juan Diego e de D. Fr. Juan de Zumárraga. Em 1904, foi elevado à categoria de Basílica pelo Papa São Pio X.

As vestes de Juan Diego ficaram abrigadas na Igreja até 1974. Quando a nova Basílica ficou pronta, passaram para ela.

Na década de 1970 foi descoberto o afundamento do terreno. E novo templo teve que ser planejado.

Já em 1979, o Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH), em parceria com a Igreja católica mexicana, iniciou um trabalho arqueológico para restaurar o chão da Igreja e impedir a perda de artefatos importantes.

Embora ainda não tenham sido finalizados os trabalhos na Basílica antiga, a primeira etapa da restauração já foi concluída com sucesso em 2000. O templo foi reaberto em 2001.

Origem da devoção

Os primeiros missionários, que chegaram ao México, eram originários da Espanha, país de tradição mariana. Além de transmitirem a fé cristã, eles também ensinaram a devoção da Virgem Maria. Nos albores da evangelização, o primeiro sinal luminoso do culto mariano foi a presença de Nossa Senhora de Guadalupe na religiosidade de nosso povo.

A devoção de Nossa Senhora de Guadalupe é proveniente do país do México, no século XVI. Surgiu em 1531, quando a Virgem Maria apareceu a Juan Diego, de 48 anos, na colina de Tepyac, localizado a noroeste da cidade do México.

Originário do México, Juan nasceu em 1474, em Calpuli. Era um índio nativo, que antes de ser batizado tinha o nome de Cuauhtlatoatzin.

Juan era um índio pobre, da Tribo de Nahua. Pertencia a mais baixa casta do Império Asteca. Dedicava ao difícil trabalho do campo e à fabricação de esteira.

Possuía um pedaço de terra, onde vivia feliz com a esposa, numa pequena casa, mas não tinha filho. Sua esposa se chamava Maria Lúcia.

Atraído pela pregação dos frades franciscanos que chegaram ao Méxido em 1524, Juan converteu-se ao cristianismo. Foi batizado junto com sua esposa. Receberam o nome cristão de  Juan Diego e Maria Lúcia.

Homem piedoso

Juan era um homem dedicado e piedoso, que sempre se retirava para fazer suas orações e penitências. Costumava caminhar de sua vila à cidade do Mèxico, percorrendo três horas e meia até a igreja, onde participava da missa e aprendia religião.

Juan andava descalço. Vestia, nas manhãs frias, uma roupa de tecido grosso de fibras de cactos como um manto, chamado tilma ou ayate, como todos de sua classe social.

Sua esposa adoeceu e faleceu em 1529. Juan foi morar com seu tio, diminuindo a distância da igreja. Fazia esse percurso todo sábado e domingo, saindo bem cedo, antes do amanhecer. Foi numa destas idas que Nossa Senhora lhe apareceu.

Quando ocorreram as aparições marianas, Juan tinha 57 anos. Ele dedicou-se ao serviço de Nossa Senhora de Guadalupe em sua pequena igreja. Deixando seu povoado para sempre, ele foi morar num pequeno quarto junto à igreja como ermitão, com licença do bispo. Amou, profundamente, o sacramento da eucaristia e consegui uma especial licença do bispo para receber a comunhão três vezes na semana, um fato bastante raro na época.

Juan cuidava bem do templo mariano. Todos os dias fazia uma oração familiar diante da imagem da Mãe de Deus. Era um homem exemplar, temente a Deus de consciência reta e louváveis costumes. Tinha tal reputação de santidade que os peregrinos, que frequentavam o pequeno santuário para suplicar favores a Virgem Maria, tomavam o indígena como intercessor e se recomendava às suas preces.

Juan faleceu no dia 30 de maio de 1538, aos 74 anos, de morte natural. Foi beatificado pelo Papa São João Paulo II em 1990.

Foi também canonizado por São João Paulo II em 2002. Foi o primeiro santo católico indígena americano. É modelo de fé simples e humilde nutrida pelo catecismo.

A festa litúrgica de São Juan é celebrada no dia 9 de dezembro. É padroeiro dos povos indígenas e floristas.

Aparições marianas

De acordo com os relatos históricos, a Virgem Maria apareceu primeiro quatro vezes a Juan. E também apareceu uma vez ao seu tio.

No dia 9 de dezembro de 1531, sábado, de madrugada, na cidade do México, Juan, recém batizado, dirigiu-se à Igreja de Santa Cruz de Tlaltelolco, que ficava a 24 km de sua casa, a fim de para participar da missa.

Ao passar junto à colina de Tepyac, o indígena ouviu um cântico harmonioso e suave, vindo do alto do morro. Enquanto admirava e olhava ao redor, cessou, de repente, o canto. Então ouviu uma voz delicada do alto que o chamava carinhosamente pelo nome.

Ao olhar em direção à colina, Juan viu uma Senhora belíssima, de pé, que o convidava a se aproximar. Subiu com toda pressa a encosta do outeiro. No topo do monte, estando diante dela, ele ficou maravilhado com sua beleza. Sua vestimenta brilhava.

Com ternura e polidez, a Senhora se apresentou a Juan como a Virgem Maria, Mãe de Jesus Cristo, o Verbo de Deus. Falando-lhe em sua língua, náhuatl, ela o enviou para dizer ao primeiro bispo do México, D. Fr. João de Zumárraga, que era seu desejo ardente que fosse erigida naquele local uma igreja em sua honra.

Logo após a aparição, Juan dirigiu-se até a cidade do México, onde ficava o palácio episcopal. Acanhado, transmitiu ao bispo a mensagem que recebera de Nossa Senhora. Sua missão não foi bem sucedida, porque a autoridade eclesiástica não acreditou na veracidade do fato.

Na tarde do mesmo dia 9, Juan novamente se encontrou com a Virgem Maria, que o esperava na colina. Ele quis renunciar a ser embaixador da Mãe de Deus junto ao bispo, pedindo que escolhesse outro mensageiro mais importante.

Missão reafirmada

Entretanto, Nossa Senhora não aceitou a renúncia de Juan. Reafirmou missão dele, dizendo-lhe que ele era plenamente capaz. Então, ela solicitou que ele, em seu nome, voltasse a falar com o bispo no dia seguinte e continuasse insistindo em seu pedido.

No domingo de manhã, 10 de dezembro, Juan, obedecendo a Mãe de Jesus, procurou novamente o bispo. O prelado instruiu que o indígena retornasse ao monte Tepyac e pedisse a Virgem Maria uma prova de sua identidade sobrenatural.

Ainda no dia 10, à tarde, Juan voltou para a colina e viu novamente Nossa Senhora, informando-lhe a resposta do bispo. Ela consentiu em fornecer no dia seguinte o sinal que o bispo lhe havia solicitado.

Na segunda-feira, 11 de dezembro, Juan não se apresentou ao encontro marcado com a Virgem Maria. Teve que cuidar do tio e pai de criação, Juan Bernardino, que adoecera gravemente. Em vão procurou um médico que atendesse o tio.

Na terça-feira, dia 12 de dezembro, Juan teve que ir às pressas a Tlatelolco para buscar um sacerdote para ouvir a confissão do tio e ministrar a unção dos enfermos em seu leito de morte.

Para evitar ser atrasado pela aparição e por sentir envergonhado por não ter conseguido ver a Virgem Maria na segunda-feira, Juan escolheu outra rota ao redor da colina. Mas a Mãe de Jesus o interceptou no desvio e pergunto-lhe para onde ele estava indo. O vidente desculpou-se, falando-lhe do tio doente.

Flores raras

Como mãe benigna, dadivosa e protetora, Nossa Senhora assegurou a Juan que seu tio obteria perfeito restabelecimento. Logo em seguida, ela lhe pediu que subisse o monte Tepyac e colhesse flores do seu cume, levando-as ao bispo.

No alto do morro o solo era estéril, principalmente em dezembro. Era inverno no hemisfério norte. Seguindo as instruções de Nossa Senhora, Juan colheu rosas castelhanas, não nativas do México, florescendo lá. Eram flores frescas. Ele as recolheu e as enrolou na manta.

Chegando ao palácio episcopal, depois de longa espera, Juan conseguiu a audiência com o bispo no dia 12 de dezembro. Repetiu-lhe a mensagem da Virgem Maria. Desdobrou a manta diante do bispo e de um grupo de assistentes.

Surpreso, o bispo viu a imagem de Nossa Senhora pintada na manta, de onde caíam as flores frescas em pleno inverno. Era o retrato da Mãe de Jesus que Juan tinha visto várias vezes na colina de Tepyac.

Emocionados, o bispo e todos os presentes caíram de joelhos beijando a imagem milagrosa. O bispo a guardou em sua capela.

Nome querido pela Virgem

No outro dia, 13 de dezembro, Juan e o bispo, com numeroso séquito, foram conhecer o lugar das aparições. Imediatamente, foram convidadas pessoas para construir a igreja no lugar que Nossa Senhora indicara.

No mesmo dia, Juan e o bispo foram visitar Juan Bernardino, seu tio, encontrando-o totalmente recuperado. Sorrindo, ouvindo o relato das aparições, Bernardino contou também que tinha visto a Virgem Maria ao lado de sua cama. Disse-lhe que ela desejava a construção de um templo na colina de Tepyac. Declarou que a Mãe de Deus queria que sua imagem fosse chamada: “Santa Maria de Guadalupe”.

Inicialmente, a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe permaneceu por certo tempo na catedral da cidade. Os fiéis vinham ver e admirar a imagem como obra divina e rezavam diante dela. Ficavam muito comovidos da maneira como, por milagre, ela aparecera. Para eles, ficava evidente que nenhum ser humano da terra havia pintado aquela imagem da Mãe do Salvador.

Diante do fenômeno da aparição de Nossa Senhora de Guadalupe, em pouco tempo, os indígenas se converteram ao catolicismo. Eles “se sentiram amados pela Virgem Maria” (Pe. Ernesto N. Roman, sacerdote diocesano e escritor).

Em 26 de dezembro de 1531, a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe foi solenemente transladada para uma pequena capela erguida no outeiro da coluna de Tepyac. No singular templo a pintura mariana ficou exposta à veneração pública dos fiéis.

O culto de Nossa Senhora de Guadalupe propagou-se rapidamente na região. Contribuiu muito para a difusão da fé católica entre os indígenas.

A devoção mariana provocou rápidas conversões dos mexicanos à Igreja de Cristo. Os franciscanos batizaram dez milhões de pessoas.

Padroeira da América Latina

Em 25 de maio de 1754, o Papa Bento XIV declarou Nossa Senhora de Guadalupe patrona da chamada Nova Espanha, que correspondia à América Central e América do Norte. Aprovou também os textos litúrgicos para a missa e breviário em sua homenagem.

Em 1891, o Papa Leão XII concedeu novos textos litúrgicos. Em 8 de fevereiro de 1895, ele autorizou a coroação canônica da imagem. Aos 12 de outubro de 1897, a imagem foi solenemente coroada.

Em 1910, São Pio X proclamou Nossa Senhora de Guadalupe como Padroeira da América Latina.

Em 1945, o Papa Pio XII deu-lhe o título de “Imperatriz da América”.

Atualmente, no centro da abside da majestosa Basílica observa-se o manto com as feições da Virgem Maria, conservados durante os últimos 500 anos. Testemunha o culto ininterrupto da Virgem Maria desde os inícios até hoje. “A presença de Maria de Guadalupe é um abraço amoroso a todos os seus devotos” (Pe. Corrado Maggioni, sacerdote montfortiano e escritor mariano).

Os devotos têm visitado continuamente a Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe. Não só peregrinos do país, mas também do estrangeiro. O Santuário se transforma em centro de evangelização e nicho de aconchego dos filhos de Maria. “As aparições da Virgem Maria oficializadas pela Igreja sempre deixaram profundas marcas na história, na alma e no coração dos fiéis” (Pe. Reginaldo Manzotti, sacerdote evangelizador, escritor e cantor).

Ao contemplar a imagem de Nossa Senhora, todos os fiéis experimentam nela a ternura, a acolhida, a solicitude e o amparo daquela que é Mãe da humanidade, que intercede sempre por seus filhos junto a Jesus Cristo, o Salvador. Eles a veneram e a invocam com piedade, confiança e carinho.

Tilma e os olhos

A tilma de Juan é uma espécie de tecido tradicionalmente indígena dos povos pré-colombianos. Era um manto feito de fibras de cacto agave manguey.

Na tilma, usada por Juan, ficou originalmente estampada a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe. A tilma mede 168 x 105 cm. A pintura tem 143 x 55 cm.

A pintura retrata uma mulher contemplativa de pele mestiça, rodeada por raios solares. Trata-se de uma jovem, com pele morena e rosto ovalado. Seu rosto é modesto, formoso e amável, de beleza inimitável. Suas mãos estão postas.

Na cabeça, por cima do manto, a imagem tinha uma coroa dourada, de dez pontas. Todavia, ao fazerem os preparativos para a solene coroação da Virgem Maria, a coroa havia desaparecido misteriosamente, sem deixar vestígio de raspadura ou outra intervenção humana.

A jovem está vestida com uma túnica de cor rosa, com arabescos dourados. A túnica é coberta por manto azul esverdeado, todo adornado de estrelas de oito pontas. Está em cima de uma lua crescente escurecida, que representa as forças do mal. É carregada por um anjo querubim.

O tecido da tilma é fraco, porque é constituído de fibras vegetais. Pode durar no máximo 20 anos.

A tilma ficou exposta ao longo de quase cinco séculos em lugares abertos. Foi levada em procissões. Ficou em diferentes templos. Tem sido atingida pelas emanações gasosas do lago subterrâneo vizinho.  No entanto, não se deteriorou. Ao contrário, tem resistido até hoje, permanecendo intacta mesmo após a passagem de quase 500 anos.

Os olhos de Nossa Senhora de Guadalupe estão sendo estudas por inúmeras investigações cientificas durante os últimos cinquenta anos.

Em 1929, os pesquisadores descobriram que as pupilas dos olhos dela refletem o momento em que Juan abriu o manto diante do bispo em 1531.

Nos olhos da Virgem de Guadalupe estão reproduzidos o pátio da residência episcopal, Juan e mais dez pessoas, algumas das quais estão sentadas.

Pe. Eugênio Antônio Bisinoto C.Ss.R.
Missionário Redentorista
Sacerdote e escritor
Igreja Santa Cruz – Araraquara – SP