Leitura Orante Solenidade Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, Ano B

Algumas recomendações: Antes de começar a leitura, prepare o ambiente, acenda uma vela…Encontre uma posição confortável, acalma-se de toda a agitação, preste atenção aos próprios sentimentos, pensamentos, preocupações…Deixe que volte ao coração acontecimentos, pessoas, situações…Entregue tudo ao Senhor. Em atitude de fé, invoque o Espírito Santo, pois é ele que ‘perscruta todas as coisas, até mesmo as profundidades de Deus’ (cf. I Coríntios 2,10-12). Se desejar escreve no seu caderno pessoal tudo que viveu durante a oração e partilhe.

Leituras dos textos bíblicos:
Evangelho João 18,33b-37
1ªLeitura da Profecia de Daniel 7,13-14
Salmo 93 (92), 1ab.1c-2.5 (R.1a)
2ªLeitura – Livro do Apocalipse de São João 1,5-8
QUATRO PASSOS DA LEITURA ORANTE
Invocação ao Espírito Santo…
Primeiro passo: LER
“Ele me desperta a cada manhã e me excita o ouvido,
para prestar atenção como um discípulo” (Is 50,4b)
● Ler e reler o texto, baixinho e em voz alta; escutar o texto (alguém está falando!).
● Prestar atenção a cada palavra, às ideias, às imagens, ao ritmo, à melodia.
● Tentar entender o texto (no contexto em que foi escrito).
● Se for possível, recorrer também a um bom comentário de um biblista.

  • Ler como se fosse a primeira vez.
  • Ler quantas vezes forem necessárias para deixar o texto falar.
  • O que o texto está dizendo?
  • Não interpretar, nem jogar suas ideias no texto – escute!
  • Responder: Nível literário: Quem? O quê? Quando? Como? Onde? Por quê? O texto faz insistências (imagens, verbos, substantivos…)? Nível histórico: Quando o texto foi escrito? O relato coincide com a data da redação? Para quem foi escrito? Nível teológico: O que Deus estava dizendo naquela situação? Como ele se revelava? Como o povo respondia?
  • Obs.: procurar as respostas em primeiro lugar no texto, depois em algum subsídio.
  • Ao final desse momento, experimente reler o texto.

Segundo passo: MEDITAR
“Uma vez Deus Falou, duas eu ouvi” (Sl 62,12)
● Repetir o texto (ou parte dele) com a boca, a mente e o coração: não “engolir” logo o texto, e sim mastigá-lo, “ruminá-lo”, tirando dele todo o seu sabor; não ficar só com as idéias que contém, mas deixar que as próprias palavras mostrem sua força; aprender de cor (= de coração!) pelo menos uma parte do texto.
● Penetrar no texto, interiorizá-lo; compreendê-lo, interpretá-lo a partir de nossa realidade; identificarmo-nos com ele. Perceber como o texto expressa nossas próprias experiências, sentimentos e pensamentos. Principalmente no caso dos salmos, estas experiências podem ser entendidas também como se referindo a Jesus, o Cristo.
● Trata-se de atualizar o texto: perceber como ele acontece hoje, em nossa realidade pessoal comunitária e social; perceber qual a palavra que o Senhor poderá estar nos dizendo…

  • Ouvir o que Deus está dizendo hoje através do texto.
  • Relacionar o texto com outras leituras (texto da Bíblia ou da Liturgia).
  • Experimente reler o texto!
  • Escolha uma frase ou expressão do texto que te marcou.

Terceiro passo: ORAR
“O Espírito nos socorre em nossa fraqueza,
pois não sabemos orar como convém” (Rm 8,26)
● Deixar brotar de dentro do coração tocado pela Palavra uma resposta ao Senhor. Dependendo da leitura e da meditação feitas, poderá ser uma resposta de admiração, louvor, agradecimento, pedido de perdão, compromisso, clamor, pedido, intercessão…

  • O que o texto me faz dizer a Deus?
  • Não “maquiar” os sentimentos diante de Deus.
  • A oração pode ser feita a partir de um salmo ou cântico bíblico.
  • Levar em conta o próprio texto e deixar o “movimento” do Espírito conduzir sua prece, louvor, adoração…
  • Você pode também compor uma oração estilo coleta ou uma introdução para a celebração dominical (sentido litúrgico).
  • Formular um compromisso: “Senhor, que queres que eu faça?”
  • Experimente reler o texto.

Quarto passo: CONTEMPLAR
“Tende em vós os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo” (Fl 2,5)
● A Bíblia não usa o verbo contemplar e, sim, escutar, conhecer, ver. Trata-se de saborear, “curtir” a presença de Deus, o jeito de ele ser e agir, o quanto ele é bom e o quanto faz por nós. Supõe uma entrega total na fé. Passa necessariamente pelo conhecimento de Jesus Cristo (“Quem me vê, vê o Pai”), que se encontra ao lado dos pobres.

  • Ver a realidade com os olhos de Deus. Transformação interior de que se pôs à escuta da palavra.
  • Contemplar = “viver no templo” – atitude permanente de vida.
  • Permitir a encarnação do Verbo – o sentido das escrituras está na sua realização em nossas vidas: “Hoje se cumpriu”.
    Palavra de um lavrador: “…fui notando que se a gente vai deixando a palavra de Deus entrar dentro da gente, a gente vai se divinizando. Assim, ela vai tomando conta da gente e a gente não consegue mais separar o que é de Deus e o que é da gente. Nem sabe muito bem o que é Palavra dele e palavra da gente. A Bíblia fez isso em mim”.

Para ajudar no aprofundamento dos textos: O Messias rei, cujo trono pulsa de amor pela vida – João 18:33-37
Pilatos então voltou para o Pretório, chamou Jesus e lhe perguntou: “Você é o rei dos judeus?” Perguntou-lhe Jesus: “Essa pergunta é tua, ou outros te falaram a meu respeito?” Respondeu Pilatos: “Acaso sou judeu? Foram o seu povo e os chefes dos sacerdotes que entregaram a mim. Que foi que você fez?” Disse Jesus: “O meu Reino não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem. Mas agora o meu Reino não é daqui”. “Então, você é rei!”, disse Pilatos. Jesus respondeu: “Tu dizes que sou rei. De fato, por esta razão nasci e para isto vim ao mundo: para testemunhar da verdade. Todos os que são da verdade me ouvem”. (João 18:33-37).
Qual era o sonho de Judas Escariotes, senão a eclosão de um reino poderoso que derrotasse a tirania romana, submetendo César e o resto mundo ao secto de Jerusalém, com Jesus entronizado rei? Aliás, esse messias imbatível que faz descer fogo do céu estava muito vivo na cultura belicista dos “filhos do trovão”, discípulos de jesus que, até um pouco antes da prisão do seu mestre, alimentavam o desejo de ver os ditos incircuncisos da sua época transformados em cinzas pelo fogo do seu messias. Como foi difícil para aqueles homens compreenderem a natureza messiânica de Jesus de Nazaré! Assim como Judas, os demais discípulos de jesus viram frustradas suas pretensões de se assentarem a direita e a esquerda do futuro monarca e, ainda assim, até o último momento antes da prisão, não desistiram de entronizá-lo rei. Judas, talvez – especulação minha – tinha a pretensão de forçar uma reação poderosa do messias que projetava de si mesmo e Pedro, com o facão que cortou a orelha de Malco, decepou também a última possibilidade de se tornar a pedra poderosa que seria a base do “reinado” com o qual sonhara até aquele momento. O desejo doentio de usar a figura de Jesus Cristo para a imposição de projetos de poder não parou ali no olival, às margens do vale de Cedrom, a história é pródiga de acontecimentos tristes em que o filho de Deus é usado para legitimar tiranias legitimadas pela religião, às custas de vidas inocentes. Gosto muito da leitura do padre Alberto Maggi realizada no livro “A Loucura de Deus – O Cristo de João” onde diz que, “[…] em Jesus, o Homem-Deus, se manifesta a plenitude do amor do Pai, um Deus-Amor que não é rival do homem, mas seu aliado, que não o domina, mas o potencia, não o absorve, mas se funde com o homem, para comunicar-lhe a plenitude da sua vida divina (Jo 17,22). Um Deus que não pede ofertas, porque é ele que se oferece (Jo 4,10), que não quer ser servido, porque é ele que serve aos homens (Jo 13,14), que pede nova relação com ele, não mais como servos, mas como filhos.” (Maggi, p.10, 2013). Eu poderia encerrar esta reflexão com esta citação do Alberto Maggi, que diz tudo o que é necessário dizer sobre a natureza do Rei Jesus e da natureza do seu reinado. Entretanto, quero dialogar um pouco mais com você leitor e leitora atentos. Vejam que a mentalidade do poder atravessa toda a sociedade, dos discípulos aos religiosos do templo, de Herodes aos funcionários de Roma. Ao receber Jesus, manietado, fisicamente indigente diante da poderosa Roma, Pilatos trás para a cena a fala que denuncia os interesses do império ao perguntar se aquele galileu, de Nazaré, era o rei dos Judeus? Não é mera retórica de um magistrado romano ante um réu acusado de revolta contra o império. A pergunta está carregada de interesses da preservação dos privilégios de quem governa em palácios, de sentimentos que alimentam a fobia à cultura alheia – Xenofobia, de pensamentos supremacistas, de preconceitos racistas das ditas elites de “sangue azul” que não suportam o cheiro do Povo, especialmente dos pobres periféricos de “Nazaré.” E aqui, trago para o centro da nossa reflexão as dores e perdas dos nossos irmãos e irmãs das periferias do mundo que sofrem as atrocidades de gente violenta que atira bomba em cima de crianças, mulheres e famílias desarmadas sob o discurso mentiroso da guerra contra o terror…Sim! Diante de Roma está o Rei da glória! Fisicamente limitado pelo espancamento e pelas agressões sofridas desde a prisão no olival. Um rei cujo domínio inicia no terreno da Liberdade. Ele tem a sua vida nas mãos. Ninguém, absolutamente, ninguém pode tomar dele. Somente ele pode entregá-la. Isso é lindo no Deus-Amor que se revela em jesus de Nazaré. Vejam queridos leitores e leitoras os versículos 4, 5 e 6 do mesmo capítulo desta reflexão: Jesus, sabendo tudo o que lhe ia acontecer, saiu e lhes perguntou: “A quem vocês estão procurando?” “A Jesus de Nazaré”, responderam eles. “Sou eu”, disse Jesus. (E Judas, o traidor, estava com eles.) Quando Jesus disse: “Sou eu”, eles recuaram e caíram por terra. A potência do Kyrios (Senhor) estava, e está, plena da possibilidade de doar a sua vida como um cordeiro, o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. A glória do rei é de uma outra natureza, de divindade amorosa que se revela na fragilidade do humano, tão profundamente humano que, em sua plena humanidade, permitia ao toque das mãos, seus contemporâneos, apalparem o rosto de Deus. Por isso, tantos sinais, curas e milagres. Todo reino se caracteriza pelas relações com os súditos onde este domínio se materializa. O reinado de Jesus Cristo tem um jeito diferente de se relacionar com aqueles que se colocam debaixo do seu secto. Concluo, transcrevendo a fala do pastor Ed Rene Kivitz sobre a régua que baliza as relações políticas no reino de Deus. Ed Diz assim: – “Deus não faz acepção de pessoas! Amém? Mas, Ele tem lado. O lado do órfão, da viúva e do estrangeiro. Da criança. Do empobrecido. Do escravizado. Do que sofre preconceito. Do que sofre violência. Deus está sempre do lado da vítima […].” A loucura de um Messias cujo trono pulsa de amor pela vida está na identificação radical do Rei com o seu Povo, especialmente com este Povo citado no hell transcrito acima, pois, a política do seu reino se baseia no acolhimento que Deus faz, a partir dos pequenos.
Referência: Hell – pastor Ed Rene Kivitz
Andrade é pastor da Comunidade Batista do Caminho (CBC) em Campina Grande /PB.

Roteiro preparado pelas irmãs
Pias Discípulas do Divino Mestre – Pastoral Vocacional
Site: www.piasdiscipulas.org.br

RETIRO MENSAL DE OUTUBRO DE 2024

Todo sábado que antecede ao primeiro Domingo de cada mês, nós, família das Pias Discípulas do Divino Mestre, fazemos o retiro mensal. É um momento de encontro com a palavra de Deus da liturgia do primeiro Domingo do mês, domingo dedicado ao Divino Mestre.

Neste 27º Domingo do Tempo Comum, a Ir. M. Letícia Pontini do Secretariado de Espiritualidade quem preparou o texto de reflexão e que nos conduz na leitura atenta da Palavra de Deus.

Compartilhamos com vocês este texto, que está na integra no site: https://espacoorante.piasdiscipulas.org.br/retiro-mensal

Boa oração a todos!

SECRETARIADO PARA ESPIRITUALIDADE

RETIRO – OUTUBRO – 2024

27º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B

Prepare o ambiente: uma mesa com toalha, a bíblia, uma vela e cadeiras em círculo. Alguém acende a vela. Canta-se um hino apropriado. Pessoas previamente preparadas leem as leituras dos textos deste domingo: primeiro o Evangelho, segue a 1ª leitura, o salmo, a 2ª leitura.

A liturgia deste 27ª Domingo do Tempo Comum reflete sobre algumas questões fundamentais como: o homem não realiza sua vocação só no domínio da matéria e da vida, mas traz em si a exigência do encontro com um ser capaz de comunhão com ele.

De fato, é outro ele mesmo que descobre na mulher: “Desta vez é carne da minha carne e osso dos meus ossos” (1ª leitura). A estrutura sexual do homem e da mulher, como toda a sua existência corporal, deve ser compreendida como presença, linguagem, reconhecimento do outro. O mistério do homem e da mulher não está no homem e na mulher separadamente, mas a comunhão de toda a pessoa até um verdadeiro diálogo fecundo e aberto. O profundo laço que une o homem e a mulher tem, no texto do Gênesis, duas características essenciais: é superior a qualquer outro laço, inclusive o dos pais, que, nos mandamentos, vem imediatamente depois das relações com Deus; é tão íntimo e profundo no plano do corpo e do espírito que  formam um só ser.

Analisando a história do matrimônio através dos séculos, nota-se como a evolução dos costumes favoreceu, em quase todos os povos, a passagem da poligamia para a concepção monogâmica do matrimônio, e isto teve duas importantes consequências paralelas: a libertação da condição da mulher, que de um estado de inferioridade e quase de escravidão passou gradualmente à igualdade jurídica e social; e a escolha do parceiro no matrimônio, como ato livre, pessoal, não mais regulamentado e imposto de fora, por interesses estranhos. O atrativo sempre mais forte para o matrimônio, fundado no livre consenso dos cônjuges, não é absolutamente acompanhado, porém, de uma adesão voluntária à lei da indissolubilidade, onde ela figura no código religioso ou mesmo civil.

O Amor nunca morre.  Assim como Cristo não abandonou a humanidade nem a Igreja quando o pregavam na cruz, também no matrimônio contraído “no Senhor” conserva a indissolubilidade da ligação entre Cristo e a Igreja, também quando se tornou uma crucifixão. A presença de Cristo no matrimônio dos que creem não exclui, pois, a priori, incompatibilidade de caracteres, erros na escolha matrimonial, dificuldades com os filhos, nervosismo, doença, tédio… mas significa que, para os que creem, o Terceiro, isto é, Cristo, está sempre presente; Jesus Cristo dá força, conforto, esperança, enquanto observa que é sempre melhor dar que receber( cf At 20,35). Quem se impregna deste espírito nos dias felizes, poderá continuar a viver desta esperança nas horas difíceis.  (Missal Dominical).

Como uma criança que aprende convivendo com os pais e vendo a atitude deles, assim Jesus nos convida a aprender do Pai vendo o exemplo do Filho. Se recebermos o Reino como crianças, aprendendo as atitudes de Jesus, o amor fiel que nos une, perdoa e se doa será sempre a regra sem exceção.

Leituras para nossa oração orante:

Evangelho Marcos 10,2-16, conversar sobre o que chamou a atenção no texto. Em seguida, ler a primeira leitura, de Genesis 2,18-24, o salmo 128(127), e a segunda leitura, de Hebreus 2,9-11.  Como esses textos combinam com o Evangelho.

Que o mês do Divino Mestre seja uma escola de Amor, Fidelidade e Perseverança no caminhar de cada uma. “O homem todo em Cristo, com pleno amor a Deus: mente, vontade, coração, forças físicas. Tudo, natureza e graça e vocação, pelo apostolado. Carro que corre apoiado sobe quatro rodas: santidade, estudo, apostolado, pobreza”,(AD 100). Este é o centro, o núcleo da espiritualidade que estimula cada filho de Padre Alberione.  (Catequese Paulina)

50 anos de vida religiosa: Ir. M. Pierângela Dalla Riva

Ir. Pierangela Dalla Riva nasceu no dia 14 de setembro de 1945, em Aratiba/RS. Ingressou na Congregação em 4 de março de 1971. Emitiu a sua primeira profissão em 10 de fevereiro de 1974. Viveu a vida e missão de Discípula nas comunidades em São Paulo, Caxias do Sul/RS, Rio de Janeiro, Porto Alegre/RS, Olinda/PE, Taguatinga/DF. Colaborou também no apostolado sacerdotal junto ao Seminário Diocesano de Osasco. Em 2001, em Roma, participou dos estudos das nossas origens, com enfoque aos personagens: Pe. Tiago Alberione, Madre Escolástica e Pe. Timóteo Giaccardo. Desde 2011, pertence à Comunidade Madre Escolástica, para tratamento de saúde.

Frase: Tudo na alegria do ” Faça-se de Maria …seguindo JESUS MESTRE CAMINHO, VERDADE E VIDA no intuito primeiro do Chamado à graça a ser: ” Ser total para Deus e para as pessoas no Serviço: Eucarístico, Sacerdotal e Litúrgico na Igreja e no nosso mundo.

Escreve a Ir. M. Pierângela sobre o seu jubileu: Esta momento da minha caminhada, foi de vida e morte, porque, quando eu fiquei doente, eu achei que não tinha mais retorno, mas eu consegui retomar a saúde com a graça e a força de Deus. É uma grande alegria e gratidão profunda acolher a vida em mim, na Congregação, na nossa realidade de povo.

Dentro dessa minha entrega, eu me sinto que nada preservei para mim mesma, mas foi uma entrega contínua à Congregação, a quem muito amo e tenho muito apreço.

E, no final, quando o meu grupo se movimentou pra celebrar os 50 anos e os 100 anos, eu senti que não tinha palavras para expressar minha gratidão a Deus e a Congregação pelo caminho feito até aqui.

E sinto que realmente, como eu expressei no meu escrito por ocasião do jubileu, é um eterno Magnificat. É um eterno Magnificat por estar ainda aqui celebrando, ainda continuando a celebrar, continuando esse esforço comum de fazer esse momento tão importante.

Foi uma grande alegria ter a minha família participando. Família e amigos. Foi uma explosão de alegria encontrar os meus irmãos, que expressaram também que foi como um relâmpago, de tão feliz.

Entre nós e na expectativa de futuro de um desenvolvimento, dentro da realidade do nosso servir a Deus e aos irmãos. Está muito dentro do Carisma, até na fórmula dos votos a gente pronuncia: ”eu me entrego ao Senhor e à Congregação no serviço da Eucaristia, do Sacerdócio e da Liturgia, na pessoa de Jesus Cristo Caminho, Verdade e Vida.

PÁSCOA ETERNA DE IR. PIERÂNGELA

No dia 16 de setembro de 2024, no Hospital Lefort, em São Paulo (Brasil), às 17 horas, o Divino Mestre chamou nossa irmã

Ir. M. PIERÂNGELA – ILIDA  DALLA  RIVA

(nascida em 14 de setembro de 1945 em Aratiba (Rio Grande do Sul – Brasil)

É a mais velha dos seis filhos do casal Pedro Dalla Riva e Ângela De Ré. Uma família unida, trabalhadora e animada pela fé e pelo espírito de sacrífício. Participavam com disposição da vida paroquial, da animação das celebrações litúrgicas e das festas populares e, na oração, vai amadurecendo o desejo de consagrar-se totalmente a Deus, a exemplo de Maria, a Mãe de Jesus, que considera sua vocação e mestra de vida.

Tendo conhecido as Discípulas do Divino Mestre, pôde finalmente ingressar na Congregação em São Paulo DM, em 4 de março de 1971, aos 25 anos de idade. No final de seu noviciado, fez sua Profissão Religiosa, na comunidade DM, em São Paulo, em 10 de fevereiro de 1974, no 50º aniversário da fundação do Instituto. Em 10 de fevereiro de 1980, fez sua Profissão Perpétua, na mesma comunidade Divino Mestre, em São Paulo.

Provocada também pela vida e pela situação familiar, Ir. M. Pierangela mostrou-se, desde os primeiros passos da vida religiosa, uma jovem madura, boa e serena, que participava ativamente da vida comunitária e exercia o apostolado com amor e dedicação. Ela cultivou um espírito de oração e de profundo louvor e progrediu na compreensão e na fidelidade ao carisma das Pias Discípulas do Divino Mestre.

Especialmente nos primeiros anos de sua vida religiosa, dedicou-se à pastoral vocacional e à formação de aspirantes e, posteriormente, assumiu a função de coordenadora nas comunidades no Rio de Janeiro (1985 – 1988) e em Caxias do Sul (1989 – 1990).  Passou a maior parte de sua vida consagrada dedicando-se à missão nos Centros de Apostolado Litúrgico.

A Ir. M. Pierângela é fascinada pela força e beleza de nossa missão como Discípulas do Divino Mestre. Todos os padres e outras pessoas que entravam no CAL, de alguma forma, procuravam a irmã, seja para receber ajuda ou para serem ouvidos. No relacionamento que ela estabelecia com os padres e amigos, era possível perceber a marca da fé e da gratuidade que norteava sua doação de vida. Todos os dias, com alegria, esperança e com a certeza da Divina Providência, preparava-se para o serviço com a oração inicial junto com sua equipe e, na medida do possível, desejava por um momento de adoração ao Santíssimo Sacramento na capela interna do Centro. Os padres e leigos que compareciam no CAL de São Paulo o percebiam como um oásis hospitaleiro e um ponto de encontro.

A irmã M. Pierângela testemunhou abertamente: “De minha parte, continuo agradecendo e abençoando o Senhor pelas inúmeras experiências de fé que ocorreram ao longo dos anos. Sempre tentei e descobri que a melhor ajuda é a escuta: acolher a todos da melhor maneira possível. Há espaço para todos em nossa capela. A Palavra de Deus sempre nos coloca em uma atitude de humildade e abertura interior para acolher o mistério do amor que não tem limites.

Refleti, à luz dos escritos de Pe. Alberione, Madre Escolástica e dos artigos da Regra de Vida, sobre como ser testemunha viva da presença do Senhor Ressuscitado, em cada período de nossa história. Nossa querida e amada Madre Escolástica, em seus escritos, nos lembra que aqui é “a terra dos méritos e o paraíso é o lugar da alegria”; é também nosso desejo que o Senhor seja Ele mesmo em nós, o único tudo, para que todos possam vê-lo e amá-lo”.

Ir. M. Pierângela passou seus últimos anos enfrentando com serenidade e paciência a exacerbação de várias doenças que tornaram sua pequena pessoa cada vez mais frágil e purificaram seu espírito interior como ouro no crisol. Na celebração do centenário de fundação, ela se une à ação de graças pelo dom do jubileu de sua consagração religiosa, continuando a bendizer o Divino Mestre pelo grande dom da vocação e da missão que brota do Mistério Pascal de Cristo Jesus. E ela se consomiu no físico, lenta e inexoravelmente, como “uma vela acesa para iluminar”.

E agora confiamos que ela possa interceder por todos nós invocando o dom da fidelidade criativa e da interioridade que se nutre na docilidade ao Espírito de Deus e na escuta da Palavra de Vida eterna.

Roma, 17 de setembro de 2024         

Necrológio escrito por Ir. M. Micaela Monetti

Ir. M. Pierangela e irmãos, no dia 10 de fevereiro de 2024.

Leitura orante com a Pastoral Vocacional

Querida juventude,

Nós irmãs Pias Discípulas do Divino Mestre neste mês de agosto iremos oferecer a cada sexta-feira um roteiro de oração em preparação para o Domingo Dia do Senhor.

No Brasil o mês de agosto é dedicado a oração pelas vocações. Esse ano de 2024 tem como tema: “Igreja como uma sinfonia vocacional” e o lema é: “Pedi, pois, ao Senhor da Messe” (Mt 9, 38).

Desejamos a você um frutuoso caminho com Jesus Mestre.

Boa oração!

Algumas recomendações:

-Antes de começar a leitura, prepare o ambiente, acenda uma vela…

Encontre uma posição confortável, acalma-se de toda a agitação, preste atenção aos próprios sentimentos, pensamentos, preocupações…

Deixe que volte ao coração acontecimentos, pessoas, situações…Entregue tudo ao Senhor.
Em atitude de fé, invoque o Espírito Santo, pois é ele que ‘perscruta todas as coisas, até mesmo as profundidades de Deus’ (cf. I Coríntios 2,10-12 ).

Se desejar, escreva no seu caderno pessoal tudo o que experimentou durante a oração. Se possível, partilhe com alguém.

Abaixo o roteiro na íntegra.

CURSO SOBRE O CARISMA DA FAMÍLIA PAULINA NO BRASIL 2024

Na tarde do dia 18 de julho de 2024 iniciou-se, em São Paulo, mais um módulo do Curso sobre o Carisma da Família Paulina no Brasil. A Missa de abertura foi presidida pelo Vigário Geral da Sociedade de São Paulo, Pe. Bugoslaw Zeman, e concelebrada pelo Pe. Antonio Pimienta, Conselheiro Geral, e Pe. Francisco Galvão, coordenador do Curso. Além da Equipe Organizadora (Ir. Josefa, fsp, Ir. Marilez, pddm, Ir. Júlia, pddm, Ir. Suzana, Ap),também estava presente o Padre Antônio da Silva, idealizador do curso (que iniciou em 2015).

Para dar início à Celebração Eucarística, os participantes do curso e demais convidados (Ir. Marlene, fsp, Ir.
Cristiane, sjbp, Ir. Suzana, Ap, Ir. Vera, pddm) reuniram-se na Capela da Casa de Oração das Paulinas para – de maneira simbólica – acender a “chama do Carisma”, enquanto cantavam “O Senhor vai acendendo
luzes”. Na homilia, Padre Boguslaw destacou – com base no Evangelho do dia – três passos para seguir o caminho de Jesus: “Vinde a mim”, “Tomai o meu jugo”, “Aprendei de mim”.

Ao final da Celebração, a irmã Marlene, provincial das Filhas de São Paulo, fez uso da palavra e dirigiu uma esperançosa mensagem aos participantes. O Pe. Antônio da Silva também expressou sua alegria pela continuidade do Curso. Após a Celebração e jantar, os participantes reuniram-se no saguão e, orientados pela Equipe organizadora, fizeram um momento de apresentação e entrosamento.

O Curso irá até o dia 28 de julho e, neste segundo módulo, contará com os seguintes temas e convidados:

  • A Igreja Catól.ica, a falência da sociedade cristã e a ascensão dos totalitarismos de 1930-1955 – Profa. Andrea Gripp.
  • A fundação da Família Paulina – de 1930 a 1955 – Ir. Suzimara Barbosa de Almeida, SJBP.
  • O carisma da comunicação hoje – Pe. Antônio Iraido, ssp.
  • “No centro está Jesus Cristo Caminho Verdade e Vida” e “As obras de Pe. Tiago Alberione” – Ir. Josefa Soares dos Santos, fsp.
  • Da Filosofia Escolástica a Alberione e a Francesco Chiesa – Prof. Pedro Monticelli.
  • Raízes teológicas da Família Paulina: “Pensei que o Cônego Chiesa poderia nos escrever uma Teologia” – Cl. Bento Maria, ssp.
  • O evangelho anunciado por Paulo na Carta aos Gálatas – Profa. Maria Antônia Marques.

Pelo grupo,

Pe. Galvão, ssp Ir. Gabriele, sjbp Bianca, pddm, Felipe, ssp David, ssp


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MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA O LVIII DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS

(12 de maio de 2024)


Inteligência artificial e sabedoria do coração: para uma comunicação plenamente humana


Queridos irmãos e irmãs!


A evolução dos sistemas da chamada «inteligência artificial», sobre a qual já me debrucei na recente Mensagem para o Dia Mundial da Paz, está a modificar de forma radical também a informação e a comunicação e, através delas, algumas bases da convivência civil. Trata-se duma mudança que afeta não só aos profissionais, mas a todos. A rápida difusão de maravilhosas invenções, cujo funcionamento e potencialidades são indecifráveis para a maior parte de nós, suscita um espanto que oscila entre entusiasmo e desorientação e põe-nos inevitavelmente diante de questões fundamentais: O que é então o homem, qual é a sua especificidade e qual será o futuro desta nossa espécie chamada homo sapiens na era das inteligências artificiais? Como podemos permanecer plenamente humanos e orientar para o bem a mudança cultural em curso?


A partir do coração


Antes de mais nada, convém limpar o terreno das leituras catastróficas e dos seus efeitos paralisadores. Já há um século Romano Guardini, refletindo sobre a técnica e o homem, convidava a não se inveterar contra o «novo» na tentativa de «conservar um mundo belo condenado a desaparecer». Ao mesmo tempo, porém, com veemência profética advertia: «O nosso posto é no devir. Devemos inserir-nos nele, cada um no seu lugar (…), aderindo honestamente, mas permanecendo sensíveis, com um coração incorruptível, a tudo o que nele houver de destrutivo e não-humano». E concluía: «Trata- se – é verdade – de problemas de natureza técnica, científica e política; mas só podem ser resolvidos passando pelo homem. Deve-se formar um novo tipo humano, dotado duma espiritualidade mais profunda, duma nova liberdade e duma nova interioridade». [1]

Neste tempo que corre o risco de ser rico em técnica e pobre em humanidade, a nossa reflexão só pode partir do coração humano. [2] Somente dotando-nos dum olhar espiritual, apenas recuperando uma sabedoria do coração é que poderemos ler e interpretar a novidade do nosso tempo e descobrir o caminho para uma comunicação plenamente humana. O coração, entendido biblicamente como sede da liberdade e das decisões mais importantes da vida, é símbolo de integridade e de unidade, mas evoca também os afetos, os desejos, os sonhos, e sobretudo é o lugar interior do encontro com Deus. Por isso a sabedoria do coração é a virtude que nos permite combinar o todo com as partes, as decisões com as suas consequências, as grandezas com as fragilidades, o passado com o futuro, o eu com o nós.

Esta sabedoria do coração deixa-se encontrar por quem a busca e deixa-se ver a quem a ama; antecipa-se a quem a deseja e vai à procura de quem é digno dela (cf. Sab 6, 12-16). Está com quem aceita conselho (cf. Pr 13, 10), com quem tem um coração dócil, um coração que escuta (cf. 1 Re 3, 9). É um dom do Espírito Santo, que permite ver as coisas com os olhos de Deus, compreender as interligações, as situações, os acontecimentos e descobrir o seu sentido. Sem esta sabedoria, a existência torna-se insípida, pois é precisamente a sabedoria que dá gosto à vida: a sua raiz latina sapere associa-a ao sabor.

Oportunidade e perigo

Não podemos esperar esta sabedoria das máquinas. Embora o termo inteligência artificial já tenha suplantado o termo mais correto utilizado na literatura científica de machine learning (aprendizagem automática), o próprio uso da palavra «inteligência» é falacioso. É certo que as máquinas têm uma capacidade imensamente maior que os seres humanos de memorizar os dados e relacioná-los entre si, mas compete ao homem, e só a ele, descodificar o seu sentido. Não se trata, pois, de exigir das máquinas que pareçam humanas; mas de despertar o homem da hipnose em que cai devido ao seu delírio de omnipotência, crendo-se sujeito totalmente autónomo e autorreferencial, separado de toda a ligação social e esquecido da sua condição de criatura.

Realmente o homem sempre teve experiência de não se bastar a si mesmo, e procura superar a sua vulnerabilidade valendo-se de todos os meios. Partindo dos primeiros instrumentos pré-históricos, utilizados como prolongamento dos braços, passando pelos meios de comunicação como extensão da palavra, chegamos hoje às máquinas mais sofisticadas que funcionam como auxílio do pensamento. Entretanto cada uma destas realidades pode ser contaminada pela tentação primordial de se tornar como Deus sem Deus (cf. Gen 3), isto é, a tentação de querer conquistar com as próprias forças aquilo que deveria, pelo contrário, acolher como dom de Deus e viver na relação com os outros.

Cada coisa nas mãos do homem torna-se oportunidade ou perigo, segundo a orientação do coração. O próprio corpo, criado para ser lugar de comunicação e comunhão, pode tornar-se instrumento de agressão. Da mesma forma, cada prolongamento técnico do homem pode ser instrumento de amoroso serviço ou de domínio hostil. Os sistemas de inteligência artificial podem contribuir para o processo de libertação da ignorância e facilitar a troca de informações entre diferentes povos e gerações. Por exemplo, podem tornar acessível e compreensível um património enorme de conhecimentos, escrito em épocas passadas, ou permitir às pessoas comunicarem em línguas que lhes são desconhecidas. Mas simultaneamente podem ser instrumentos de «poluição cognitiva», alteração da realidade através de narrações parcial ou totalmente falsas, mas acreditadas – e partilhadas – como se fossem verdadeiras. Basta pensar no problema da desinformação que enfrentamos, há anos, no caso das fake news [3] e que hoje se serve da deep fake, isto é, da criação e divulgação de imagens que parecem perfeitamente plausíveis mas são falsas (já me aconteceu a mim também ser objeto delas), ou mensagensáudio que usam a voz duma pessoa, dizendo coisas que ela própria nunca disse. A simulação, que está na base destes programas, pode ser útil nalguns campos específicos, mas torna-se perversa quando distorce as relações com os outros e com a realidade.

Já desde a primeira vaga de inteligência artificial – a das redes sociais – compreendemos a sua ambivalência, constatando a par das oportunidades também os riscos e as patologias. O segundo nível de inteligências artificiais geradoras marca, indiscutivelmente, um salto qualitativo. Por conseguinte é importante ter a possibilidade de perceber, compreender e regulamentar instrumentos que, em mãos erradas, poderiam abrir cenários negativos. Os algoritmos, como tudo o mais que sai da mente e das mãos do homem, não são neutros. Por isso é necessário prevenir propondo modelos de regulamentação ética para contornar os efeitos danosos, discriminadores e socialmente injustos dos sistemas de inteligência artificial e contrastar a sua utilização para a redução do pluralismo, a polarização da opinião pública ou a construção do pensamento único. Assim reitero aqui a minha exortação à «Comunidade das Nações a trabalhar unida para adotar um tratado internacional vinculativo, que regule o desenvolvimento e o uso da inteligência artificial nas suas variadas formas». [4] Entretanto, como em todo o âmbito humano, não é suficiente a regulamentação.

Crescer em humanidade

Somos chamados a crescer juntos, em humanidade e como humanidade. O desafio que temos diante de nós é realizar um salto de qualidade para estarmos à altura duma sociedade complexa, multiétnica, pluralista, multirreligiosa e multicultural. Cabe a nós questionar-nos sobre o progresso teórico e a utilização prática destes novos instrumentos de comunicação e conhecimento. As suas grandes possibilidades de bem são acompanhadas pelo risco de que tudo se transforme num cálculo abstrato que reduz as pessoas a dados, o pensamento a um esquema, a experiência a um caso, o bem ao lucro, com o risco sobretudo de que se acabe por negar a singularidade de cada pessoa e da sua história, dissolvendo a realidade concreta numa série de dados estatísticos.

A revolução digital pode tornar-nos mais livres, mas certamente não conseguirá fazê-lo se nos prender nos modelos designados hoje como echo chamber (câmara de eco). Nestes casos, em vez de aumentar o pluralismo da informação, corre-se o risco de se perder num pântano anónimo, favorecendo os interesses do mercado ou do poder. Não é aceitável que a utilização da inteligência artificial conduza a um pensamento anónimo, a uma montagem de dados não certificados, a uma desresponsabilização editorial coletiva. A representação da realidade por big data (grandes dados), embora funcional para a gestão das máquinas, implica na realidade uma perda substancial da verdade das coisas, o que dificulta a comunicação interpessoal e corre o risco de danificar a nossa própria humanidade. A informação não pode ser separada da relação existencial: implica o corpo, o situar-se na realidade; pede para correlacionar não apenas dados, mas experiências; exige o rosto, o olhar, a compaixão e ainda a partilha.

Penso na narração das guerras e naquela «guerra paralela» que se trava através de campanhas de desinformação. E penso em tantos repórteres que ficam feridos ou morrem no local em efervescência para nos permitir a nós ver o que viram os olhos deles. Pois só tocando pessoalmente o sofrimento das crianças, das mulheres e dos homens é que poderemos compreender o caráter absurdo das guerras.

A utilização da inteligência artificial poderá proporcionar um contributo positivo no âmbito da comunicação, se não anular o papel do jornalismo no local, antes pelo contrário se o apoiar; se valorizar o profissionalismo da comunicação, responsabilizando cada comunicador; se devolver a cada ser humano o papel de sujeito, com capacidade crítica, da própria comunicação.

Interrogativos de hoje e de amanhã

E surgem, espontâneas, algumas questões: Como tutelar o profissionalismo e a dignidade dos trabalhadores no campo da comunicação e da informação, juntamente com a dos utentes em todo o mundo? Como garantir a interoperabilidade das plataformas? Como fazer com que as empresas que desenvolvem plataformas digitais assumam as suas responsabilidades relativamente ao que divulgam daí tirando os seus lucros, de forma análoga ao que acontece com os editores dos meios de comunicação tradicionais? Como tornar mais transparentes os critérios subjacentes aos algoritmos de indexação e desindexação e aos motores de pesquisa, capazes de exaltar ou cancelar pessoas e opiniões, histórias e culturas? Como garantir a transparência dos processos de informação? Como tornar evidente a paternidade dos escritos e rastreáveis as fontes, evitando o para-vento do anonimato? Como deixar claro se uma imagem ou um vídeo retrata um acontecimento ou o simula? Como evitar que as fontes se reduzam a uma só, a um pensamento único elaborado algoritmicamente? E, ao contrário, como promover um ambiente adequado para salvaguardar o pluralismo e representar a complexidade da realidade? Como podemos tornar sustentável este instrumento poderoso, caro e extremamente energívoro? Como podemos torná-lo acessível também aos países em vias de desenvolvimento? A partir das respostas a estas e outras questões compreenderemos se a inteligência artificial acabará por construir novas castas baseadas no domínio informativo, gerando novas formas de exploração e desigualdade ou se, pelo contrário, trará mais igualdade, promovendo uma informação correta e uma maior consciência da transição de época que estamos a atravessar, favorecendo a escuta das múltiplas carências das pessoas e dos povos, num sistema de informação articulado e pluralista. Dum lado, vemos assomar o espetro duma nova escravidão, do outro uma conquista de liberdade; dum lado, a possibilidade de que uns poucos condicionem o pensamento de todos, do outro a possibilidade de que todos participem na elaboração do pensamento. A resposta não está escrita; depende de nós. Compete ao homem decidir se há de tornar-se alimento para os algoritmos ou nutrir o seu coração de liberdade, sem a qual não se cresce na sabedoria. Esta sabedoria amadurece valorizando o tempo e abraçando as vulnerabilidades.

Cresce na aliança entre as gerações, entre quem tem memória do passado e quem tem visão de futuro. Somente juntos é que cresce a capacidade de discernir, vigiar, ver as coisas a partir do seu termo. Para não perder a nossa humanidade, procuremos a Sabedoria que existe antes de todas as coisas (cf. Sir 1, 4), que, passando através dos corações puros, prepara amigos de Deus e profetas (cf. Sab 7, 27): há de ajudar-nos também a orientar os sistemas da inteligência artificial para uma comunicação plenamente humana.

Roma – São João de Latrão, 24 de janeiro de 2024.

[Francisco]

[1] Cartas do Lago de Como (Brescia 52022), 95-97
[2] Em continuidade com as anteriores Mensagens para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, dedicadas a «encontrar as pessoas onde estão e como são» (2021), «escutar com o ouvido do coração» (2022) e «falar com o coração» (2023).
[3] Cf. Mensagem para o LII Dia Mundial das Comunicações (2018): «“A verdade vos tornará livres” (Jo 8, 32). Fake news e jornalismo de paz».
[4] Mensagem para o LVII Dia Mundial da Paz: 1 de janeiro de 2024, 8

Fonte: PARA O LVIII DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS

Semana de Oração pela Unidade Cristã – SOUC

A busca da unidade ao longo de todo o ano

Promovida mundialmente pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e pelo Conselho Mundial de Igrejas, a Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC) acontece em períodos diferentes nos dois hemisférios.

No hemisfério Norte, o período tradicional para a Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC) é de 18 a 25 de janeiro. Essas datas foram propostas em 1908, por Paul Watson, pois cobriam o tempo entre as festas de São Pedro e São Paulo, e tinham, portanto, um significado simbólico.

Sobre o Cartaz da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos 2024

Larissa Bichuete, uma talentosa arquiteta e artista de 31 anos, natural de São Paulo, SP, foi a vencedora do concurso para o cartaz que ilustrará as comunicações visuais da Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC) deste ano, que ocorrerá de 12 a 19 de maio (este que está a primeira página).

Larissa é graduada em Arquitetura e Urbanismo e sua arte reflete a interseção entre arte, tecnologia e comunicação, com o desenho desempenhando um papel central nessa jornada criativa.

Explicação do cartaz

O foco principal está na palavra “reconciliação“. Inspirada por suas próprias experiências, ela procurou transmitir a ideia de reencontro, diálogo e escuta mútua como elementos essenciais para a reconciliação. A paleta de cores terrosas representa o solo árido, enquanto o trajeto em vermelho simboliza o óleo e o vinho, e o curativo representa a ferida cicatrizando. Larissa enfatizou que, em sua visão, a reconciliação surge quando as pessoas se unem na mesma direção, buscando aliviar uma dor compartilhada.

O cartaz de Larissa representa não apenas sua habilidade artística, mas também sua profunda compreensão do tema e capacidade de transmitir conceitos complexos por meio de representações gráficas. A arte, aliás, será o símbolo visual da SOUC deste ano, convidando igrejas de todo o Brasil a se unirem em oração e diálogo ecumênico pela unidade cristã.

A busca da unidade ao longo de todo o ano

Promovida mundialmente pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e pelo Conselho Mundial de Igrejas, a Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC) acontece em períodos diferentes nos dois hemisférios.

No hemisfério Norte, o período tradicional para a Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC) é de 18 a 25 de janeiro. Essas datas foram propostas em 1908, por Paul Watson, pois cobriam o tempo entre as festas de São Pedro e São Paulo, e tinham, portanto, um significado simbólico.

No hemisfério Sul, por sua vez, as Igrejas geralmente celebram a Semana de Oração no período de Pentecostes (como foi sugerido pelo movimento Fé e Ordem, em 1926), que também é um momento simbólico para a unidade da Igreja. No Brasil, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) lidera e coordena as iniciativas para a celebração da Semana em diversos estados.

Levando em conta essa flexibilidade no que diz respeito à data, estimulamos a todos os cristãos, ao longo do ano, a expressar o grau de comunhão que as Igrejas já atingiram e a orar juntos por uma unidade cada vez mais plena, que é desejo do próprio Cristo (Jo 17,21). 

Duas proposta de roteiros de oração com o Ofício Divino das Comunidades para a Semana de Oração pela Unidade Cristã e a Novena de Pentecostes:

36ª SEMANA DE LITURGIA

De 14 a 18 de outubro de 2024 (de segunda a sexta-feira), acontece a 36ª Semana de Liturgia em Belo Horizonte/MG. De forma inédita, a 36ª Semana de Liturgia terá novo local: RECANTO SÃO JOSÉ – (Franciscanas Alcantarinas), R. Júlio de Castilho, 561 – Betânia, BELO HORIZONTE – MG, CEP: 30570-080, Telefone: (31) 3653-3054. Terá o seu início às 14h do dia 14/10 e término: 12h com o almoço do dia 18/10.

O valor deste encontro compreende o pagamento da taxa de inscrição e a hospedagem. Veja mais abaixo todas as informações.

A 36ª Semana de Liturgia terá como tema “Liturgia, Oração da Igreja”.

A Igreja celebrará em 2025 o Jubileu, convocado pelo Papa Francisco que propõe à toda Igreja um tempo de preparação, em torno das quatro Constituições Conciliares do Vaticano II. O ano de 2023 foi vivido como redescoberta do ensinamento do Concílio e, para o ano de 2024 se propõe um ano da oração.
Aberto a 11 de outubro de 2022, o Ano do Concílio iniciou-se com a solene Liturgia Eucarística, presidida pelo Santo Padre, em comemoração ao 60º aniversário da abertura do Concílio Vaticano II. Era o desejo do Papa que as comunidades cristãs de todo o mundo trilhassem caminhos e momentos de reflexão sobre a Dei Verbum, a Sacrosanctum Concilium, a Lumen Gentium e a Gaudium et Spes. Conforme afirmou, as Constituições, juntamente com o magistério destes decênios, continuarão a orientar e guiar o santo povo de Deus, a fim de que progrida na missão de levar a todos o jubiloso anúncio do Evangelho. Para isto foram publicados em todo o mundo, pelo Dicastério para a Evangelização, e no Brasil por meio das Edições CNBB, 34 volumes intitulados “Cadernos do Concílio”, dos quais 9 volumes dedicados à Liturgia.
Além da motivação oferecida para a preparação do jubileu, ainda ressoa a comemoração dos 60 anos da Sacrosanctum Concilium e a publicação da 3ª edição do Missal Romano. O missal é o livro “oracional” por excelência de todo o Povo de Deus. Por isso, é oportuno tratar da oração litúrgica na Semana de Liturgia, pois não apenas a missa, mas toda a liturgia se constitui, em sentido máximo, como a Oração da Igreja. Tudo isso coincide com a proposta do Papa para 2024, como uma grande “sinfonia” de oração, em vista do jubileu.
O Centro de Liturgia D. Clemente Isnard e a Rede Celebra, cumprindo a missão de recepcionar o Concílio Vaticano II e a reforma litúrgica nos anos subsequentes, se associa ao convite do Papa. Propõem como tema da Semana para o ano de 2024 a “Liturgia, a Oração da Igreja”. Segundo o nosso Papa, a Liturgia pós conciliar é única Lex Orandi da Igreja: aquela Oração do Cristo inteiro, cabeça e membros, da qual nasce a Igreja e a fé cristãs. Por ela, os fiéis são impulsionados ao seguimento de Jesus, à missão evangelizadora e ao cuidado com os empobrecidos e com a criação.
A 36ª Semana de Liturgia quer proporcionar aos participantes um reencontro com essa dimensão orante de todo o Povo de Deus, expressão do único sacerdócio de Cristo. A comunhão no ato de orar, o louvor e súplica, o silêncio e a adoração dispõem a riqueza da tradição cristã no ato celebrativo, situa a comunidade diante do Pai, em Cristo, e reaviva o amor e a esperança diante de um mundo cansado e sedento de Deus. Cada gesto, cada oração conduz os participantes ao núcleo da fé, o Mistério Pascal de Cristo e promove, a partir da celebração, o reencontro com a vocação filial própria de cada batizado(a).

VALORES:
✓ Completa para hospedados em quarto duplo: 930,00 (novecentos e trinta reais) por pessoa.
✓ Aos que necessitarem chegar no domingo (sem alimentação) – R$1.030,00 (Mil e Trinta Reais), por pessoa – Com checkin a partir das 14 Horas e entrada no máximo até 22h:30min.
✓ O pagamento pode ser feito por depósitos, Pix ou em dinheiro vivo direto no Recanto São José, com a devida identificação do nome do participante ou dos participantes e identificando o evento “36ª Semana de Liturgia”.
✓ Não trabalham com cartões de crédito/débito.
Dados para o pagamento: PROVINCIA N. SRA. APARECIDA DO INSTITUTO DAS TERCIARIAS FRANCISCANAS ALCANTARINAS- Banco = SANTANDER, Agencia=0944, Conta Corrente = 130031229 ou PIX (CNPJ) = 30.796.402/0002-96

  • Para a emissão das Notas fiscais é necessário preencher todos os dados no Formulário da Inscrição.
  • Cancelamento com menos de 30 dias = Multa de 30 % do valor total pago.
  • Quem obrigatoriamente precisar chegar com antecedência deverá informar a casa. Os horários de Checkin são até no máximo 22h:30.
  • Alimentações fora dos dias do evento devem ser programadas com antecedência de pelo menos 1 dia.
  • Participantes com restrições alimentares devem informar no momento da inscrição. Não trabalham com alimentação vegana/vegetariana.


Do centro de Belo Horizonte existem várias opções que estão no anexo “Linhas”, mas ao descer na rodoviária perguntar como chegar a Av. Amazonas, que é próxima e lá tem vários pontos do ônibus 1404 A ou B que tem ponto a 30 m do portão de entrada da casa.
Se vier de Confins e descer na Rodoviária o procedimento é o mesmo.
Se tomar taxi da Rodoviária – Informar o endereço pois é fácil a chegada pela Av. Tereza Cristina.
Se vier de Confins direto por taxi, deve ser dado o endereço e solicitado a passagem pelo Anel Rodoviário com entrada no Bairro Betânia.

  • Trazer o Ofício Divino das Comunidades.
  • Trazer comidas e bebidas típicas da sua região para a confraternização.
  • Outras dúvidas e informações escreva para o e-mail: semanadeliturgia@gmail.com
    ou pelo telefone (WhatsApp): semana de liturgia (11) 95206-3482 (Ir. Veronice Fernandes).

Abaixo, o pdf com todas as informações:

ESPIRITUALIDADE DA SEMANA SANTA

Secretariado de Espiritualidade PDDM, 2024

Domingo de Ramos

A porta de entrada na Semana Santa é a memória solene da entrada de Jesus em Jerusalém, “porque não convém que um profeta morra fora de Jerusalém” (Lucas 13,22]. Normalmente passamos rápido demais da procissão dos ramos ao relato da paixão. Mas é importante nos deter no mistério profundo desta epifania de Jesus que reúne todo o sentido espiritual da Semana Santa. Os relatos de Marcos Mateus e Lucas estão em sintonia entre si sobre a interpretação deste evento pascal. Neste domingo, escutamos a narrativa de

Marcos 11,1-10:

Quando se aproximaram de Jerusalém, na altura de Betfagé e de Betânia, junto ao monte das Oliveiras, Jesus enviou dois discípulos, dizendo: ‘Ide até o povoado que está em frente, e logo que ali entrardes, encontrareis amarrado um jumentinho que nunca foi montado. Desamarrai-o e trazei-o aqui! Se alguém disser: ‘Por que fazeis isso?’, dizei: ‘O Senhor precisa dele, mas logo o mandará de volta’.’ Eles foram e encontraram um jumentinho amarrado junto de uma porta, do lado de fora, na rua, e o desamarraram. Alguns dos que estavam ali disseram: ‘O que estais fazendo, desamarrando este jumentinho?’ Os discípulos responderam como Jesus havia dito, e eles permitiram. Trouxeram então o jumentinho a Jesus, colocaram sobre ele seus mantos, e Jesus montou. Muitos estenderam seus mantos pelo caminho, outros espalharam ramos que haviam apanhado nos campos. Os que iam na frente e os que vinham atrás gritavam: ‘Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito seja o reino que vem, o reino de nosso pai Davi! Hosana no mais alto dos céus!’

Multidões de peregrinos ocupam a cidade de Jerusalém na festa da Páscoa. Jesus não é um peregrino a mais, anônimo, perdido no meio da multidão. Jesus sobre a Jerusalém para cumprir o seu destino. Chega com os discípulos no limiar da cidade santa. Esta soleira  que não é apenas a fronteira de uma cidade, mas o limite de uma vida. Jesus sente e sabe que seu caminho vai em direção à morte. E quando o futuro desaparece, o olhar se volta para o que está próximo. 

Jesus, então se volta para os discípulos, envia dois deles, sem citar nome, e lhes dá responsabilidade sobre os preparativos de sua entrada solene em montaria régia. Os detalhes sobre o burrinho [7 dos 11 versículos] mostra toda a sua importância no contexto. Jesus entra na cidade como o Messias descrito pelo profeta Zacarias 9,9: rei justo e humilde, montado em um jumento emprestado [v. 3], sem tropas e sem armas, para destruir todo armamento e proclamar a paz. A participação ativa dos discípulos indica o profundo entrelaçamento entre o discipulado e a missão de paz de Jesus. Os discípulos e discípulas que subiram com Jesus a Jerusalém estão na sua escola. Um ditado rabínico afirma que “uma pessoa aprende pelos caminhos que percorre”. Os discípulos e discipulas aprendem medindo os seus próprios caminhos com os passos percorridos por Jesus.

A procissão que acompanhará esta entrada (v. 8-10) apresenta traços régios, como transparecem nos mantos espalhados pelo caminho e nas aclamações.  O povo reconhece em Jesus o Messias  como um novo Davi poderoso, conquistador, que iria devolver a Israel a soberania.  Projetam sobre Jesus a sua ideia de Messias: “Bendito seja o Reino vindouro de nosso pai Davi”. 

E no entanto, Jesus frustra esta expectativa. Jesus sempre anunciou o Reino de Deus, não de Davi. Passou a vida inteira desmontando a ideia de triunfo que imperava no povo e nos seus discípulos, fugiu daqueles que queriam fazê-lo rei (…).  Com sua “entrada em Jerusalém”, Jesus desconcerta a todos. Diante dele é preciso decidir.

E então, veremos que a maioria dos que hoje o recebem como rei, pedirão que seja crucificado. O aparente êxito de hoje, será transformado no aparente fracasso dos dias que virão. Mas em Jesus, é no extremo fracasso, que êxito será revelado. “Quando eu for exaltado atrairei todos a mim”. Martín Buber, lembra que as realidades significativas se realizam mais na profundidade do fracasso que na superficialidade do êxito. No fracasso nossa consciência fica marcada para sempre.

Neste domingo o adentrar as portas da igreja com nossos ramos, o convite que chega até nós e a toda a Igreja é o de voltar o nosso olhar, para aquele que foi levantado como a serpente foi levantada por Moisés no deserto. A liturgia da Semana Santa, como toda a liturgia da Igreja, nos coloca diante do Pai, do lugar do filho, recordando ao Pai seu amor e a sua obediência. Neste curto espaço de tempo de uma semana, que vamos nos submergir no Mistério da MORTE DO FILHO, é a partir de seus passos, e não de nossos pensamentos, que cada coisa terá um novo olhar.  O caminho que se abre é o caminho da não violência, do amor gratuito, da obediência à Palavra.  

A violência, na sua raiz mais profunda, é uma absolutização do ego. Seguir o caminho de Cristo significa aprender o caminho da mansidão, isto é, de aceitar colocar limites em nós para acolher e dar espaço ao coletivo, às grandes causas humanitárias.

Seguir o Senhor para estar com Ele, para servi-Lo, fazer um silêncio profundo sobre nossas necessidades, sobre nossos pensamentos, sobre nossos sentimentos, sobre nossas opiniões. Estar atentos aos acontecimentos sem a interferência de nosso eu, sequer para tentar compreender. Silêncio receptivo: somente a ação de Deus, seus atos, suas palavras, seu silêncio. Podemos repetir ao longo destes dias uma pequena oração “Não eu, Senhor, senão Tu”.[1] Ou como nos inspira nossa Madre Escolástica: “Só tu, e basta!” 

PARA BEM CELEBRAR O TRÍDUO PASCAL

O Tríduo Pascal não é preparação para a solenidade da Páscoa [como acontece com outros tríduos], mas é a própria celebração pascal em três dias: a sexta-feira da paixão, o sábado do seu repouso e o domingo do seu ressurgir dos mortos [segundo Santo Ambrósio][2] ou, o Sagrado Tríduo da cruz, sepultura e ressurreição [segundo Santo Agostinho][3]. A celebração da Ceia do Senhor ao anoitecer da quinta-feira com caráter de “primeiras vésperas”[4], é solene abertura do Tríduo que culmina na Vigília da noite pascal.

Toda a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II teve como finalidade devolver ao povo de Deus o acesso à liturgia, qual fonte de vida espiritual. Nesta perspectiva a celebração da Páscoa como era nas origens, volta a cada ano, como festa espiritual, realidade mística e universal. Assim sendo, não basta executar os ritos, ainda que de forma precisa, é preciso celebrar e fazer silêncio para deixar ecoar no coração o mistério proclamado na assembleia litúrgica. Além de participar das celebrações litúrgicas próprias de cada dia do Tríduo, há os ofícios comunitários, sobretudo o ofício da manhã no sábado santo. Ese propõe ainda tempo de oração pessoal como preparação e aprofundamento para os momentos comunitários.O que seguem são dicas para a oração pessoal de cada dia do tríduo.

MEMÓRIA DA ÚLTIMA CEIA DE JESUS – ABERTURA DO TRÍDUO

Memória da última Ceia de Jesus

O que celebramos:

Nesta noite repetimos em memória da Páscoa de Jesus, os gestos da sua última ceia que estrutura a Liturgia eucarística; “tomou o pão, deu graças, partiu e passou aos seus”. Com esta celebração retomamos o verdadeiro sentido da eucaristia. O simples gesto de passar ao outro um pedaço de pão é um gesto despojado de poder que aponta para uma espiritualidade da mesa, baseada na gratuidade e no serviço  fraterno [cf. padre Adroaldo]. Eis o gesto de Jesus na noite da em que foi entregue, tendo à mesa Judas, aquele que o iria entregar.

Para a Oração pessoal

Depois da celebração celebra-se o ofício da “Vigilância com Jesus” na capela da reposição fazendo memória da passagem de Jesus, da Ceia à Cruz. Esta oração comunitária pode ser prolongada pessoalmente, repassando no coração a Palavra e meditando em silêncio:

a) Ler pausadamente e com toda a atenção, o texto da segunda leitura 1Coríntios 11,23-26 [relato mais antigo da última ceia de Jesus]. Ler também o evangelho de João 13,1-15. 

b)  Rezar no coração o salmo 116 da liturgia da Palavra da missa ou o salmo 130 indicado no Ofício da vigilância com sua antífona:

Pai, se este cálice não pode passar sem que eu beba,

seja feita a tua vontade.

1. Das profundezas, Senhor clamo a ti: / escuta a minha voz!

Atento se façam teus ouvidos / ao clamor da minha prece.

2 Se reténs os pecados, Senhor, / quem poderá subsistir?

Mas em ti se encontra o perdão: / eu temo e espero.

3. No Senhor ponho a minha esperança / e na sua palavra

espera a minh’alma o Senhor / mais que os guardas pela aurora.

4. No Senhor está toda a graça, / copiosa redenção,

ele vem resgatar Israel / de toda iniquidade.

5. Glória ao Deus presente em toda a terra / que Jesus manifestou,

ao Espírito de Deus amor materno, / toda graça e todo amor.

c) Ficar em silêncio, repetindo no coração alguma palavra, deixando que os sentimentos de Jesus habite o coração.

 A GRANDE SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO – Primeiro dia do Tríduo

O que celebramos:

A Sexta-Feira da Paixão, em que pese a dimensão de dor tão curtida pela piedade popular, na perspectiva bíblica, sobretudo do Evangelho de João, é “Paixão gloriosa”, celebra, pois, o Amor Maior, que se manifestará vencedor na madrugada da Ressurreição. Ao fazer memória da bem-aventurada paixão do Senhor, a Igreja comemora o seu próprio nascimento do lado de Cristo na cruz (cf. PCFP, 58). A leitura da paixão segundo João é a parte mais importante da celebração deste dia. Exalta a vitória do Cristo o servo sofredor anunciado por Isaías 52,13-53,12 que fez da sua vida uma oferenda de amor até o fim (Hebreus 4,14-16;5,6-7).

Para a Oração pessoal

a) Os Ofícios da manhã e do meio-dia celebrados na igreja despojada [não na capela da reposição] e a solene celebração da tarde em si já oferecem uma experiência contemplativa do Mistério celebrado neste dia.

b) Esta contemplação pode ser prolongada depois de cada celebração, repassando no coração a Palavra e meditando em silêncio.

3) Em algum momento do dia, ler com calma, o texto que segue sobre o sentido espiritual deste grande dia em seu duplo mistério:[5]

 […]. A Igreja primitiva chamava a este dia “A Páscoa da Cruz,” porque ele é de fato o começo desta Páscoa ou Passagem cujo sentido nos será revelado progressivamente; primeiro na paz do grande e santo Sabbat, depois na alegria do dia da Ressurreição.

Mas antes, as trevas. Se ao menos pudéssemos compreender que as trevas da Sexta-feira Santa não são puramente simbólicas e comemorativas! É muito frequentemente com o sentimento de nossa própria justiça e de nossa própria integridade que contemplamos a tristeza solene destes ofícios. Há dois mil anos, sim, homens “maus” mataram o Cristo, mas hoje nós — o bom povo cristão — levantamos suntuosos túmulos em nossas igrejas; não é esta a prova da nossa justiça? E, no entanto, a Sexta-feira Santa não concerne somente ao passado. É o dia do Pecado, o dia do Mal, o dia no qual a Igreja nos ensina a aprender a terrível realidade do pecado e seu poder no mundo. Pois o pecado e o mal não desapareceram: ao contrário, permanecem a lei fundamental do mundo e de nossa vida. Nós que nos dizemos cristãos não entramos frequentemente nesta lógica do mal que conduziu o Sinédrio e Pilatos, os soldados romanos e toda a multidão a detestar, torturar e matar o Cristo? De que lado nós teríamos ficado se tivéssemos vivido em Jerusalém no tempo de Pilatos? Esta é a pergunta que nos é feita por cada uma das palavras do ofício de Sexta-feira Santa. É de fato “o dia deste mundo,” de sua condenação real e não somente simbólica, e do julgamento real e não somente ritual, de nossa vida. . . É a revelação da verdadeira natureza do mundo que preferiu então e continua a preferir as trevas à luz, o pecado ao bem, a morte à vida. E condenando o Cristo à morte “este mundo” condenou-se a si mesmo à morte, e na medida em que aceitamos seu espírito, seu pecado e sua traição a Deus, estamos também condenados. . . Este é o primeiro significado, terrivelmente realista, da Sexta-feira Santa: uma condenação à morte…

No entanto, este dia do Mal cuja manifestação e triunfo estão em seu paroxismo, é também o dia da Redenção. A morte do Cristo nos é revelada como uma morte salvífica para nós e para nossa salvação. […] O Cristo dá sua morte a seu Pai e no-la dá também. Ele a dá a seu Pai porque não há outro meio de destruí-la e libertar a humanidade dela; ora, é a vontade do Pai que os homens sejam salvos da morte. O Cristo nos dá sua morte porque na verdade é em nosso lugar que Ele morre. A morte é o fruto natural do pecado, um castigo iminente. O homem escolheu não mais estar em comunhão com Deus, porém como ele não tem a vida nele mesmo e por ele mesmo, morre. Em Jesus Cristo, entretanto, não há pecado, logo não há morte. É somente por amor a nós que ele aceita morrer; Ele quer assumir e compartilhar de nossa condição humana até o fim. […] Sua morte é então a revelação suprema de sua compaixão e de seu amor. […] A condenação é transformada em perdão.

[…] E enquanto o Cristo avança silenciosamente para a Cruz e para seu fim, quando a tragédia humana está em seu apogeu, seu triunfo, sua vitória sobre o mal e sua glorificação, aparecem progressivamente em luz plena. A cada passo esta vitória é reconhecida, confessada, proclamada: pela mulher de Pilatos, por José, pelo bom ladrão, pelo centurião. Quando ele morre na cruz, tendo aceito o supremo horror da morte, a solidão absoluta (Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?)” não resta senão confessar: “Verdadeiramente este homem era o filho de Deus!” Assim esta morte, este amor e esta obediência, esta plenitude de vida destroem aquilo que faz da morte o destino universal. “E os túmulos foram abertos” (Mt 27:52). Já aparecem os primeiros clarões da Ressurreição…

Este é o duplo mistério desta grande Sexta-feira; os ofícios deste dia nô-lo mostram e nos fazem participar dele. De um lado, eles insistem constantemente sobre a Paixão do Cristo enquanto pecado de todos os pecados, crime de todos os crimes. […] Por outro lado, encontramos desde o começo do ofício o segundo aspecto do mistério deste dia: o do sacrifício de amor que prepara a vitória final. […]

SÁBADO SANTOSegundo dia do Tríduo

O que celebramos:

– No Sábado Santo, “a Igreja permanece junto ao sepulcro do Senhor, meditando sua paixão e morte, a sua descida à mansão dos mortos, e esperando na oração e no jejum a sua ressurreição” (PS 73); ela abstém-se absolutamente do sacrifício da Missa, o altar foi desnudado (Missal Romano). O foco é a sepultura do Senhor, certificação de sua morte, pertencente à forma mais antiga da fé: ‘Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras’ (1Cor 15,3-4). Na liturgia ressoa o convite: “Cristo por nós padeceu, morreu e foi sepultado: vinde todos, adoremos!”

Para a Oração pessoal

O sábado santo é o segundo dia do tríduo, carrega em si um aspecto fundamental do mistério pascal do Senhor. Mesmo tendo de cuidar dos preparativos da grande vigília na noite pascal, é importante é importante consagrar algum momento à oração comunitária e pessoal. A Liturgia das Horas e a sua versão inculturada, o Ofício Divino das Comunidades, oferecem as orações para esse segundo dia do Tríduo.   A insistência é que se celebre com o povo o Ofício de Leituras na madrugadinha e a Oração da manhã  [ou ofício da manhã e do meio dia].  Tais ofícios celebrados na igreja despojada [não na capela da reposição] oferecem um ambiente contemplativo de vigilância, como as mulheres portadoras dos perfumes [miróforas] à espera da madrugada.

a) Esta contemplação pode ser prolongada depois de cada ofício, repassando no coração a Palavra e fazendo silêncio em atitude de vigilância.

b) Além disso é importante reservar um tempo pessoal em algum momento do dia, para a oração silenciosa e para a leitura espiritual. Sugerimos os seguintes textos: Os relatos evangélicos referentes aos sepultamento de Jesus: João  19,38-42 e  Lucas 23,50-56 [ver também Mateus 27,56-61 e ; Marcos 15,42-47].

c) Textos sobre o sentido espiritual do sábado santo:

Alexandre Schmémann, Olivier Clément [padres da Igreja Oriental]:

O ‘grande e santo Sabbat’ é o dia que liga a Sexta-Feira santa, à comemoração da Cruz, ao dia da Ressurreição. Para muitos, a verdadeira natureza e o sentido desta ligação, a necessidade real deste dia intermediário, permanece obscura. Para a grande maioria daqueles que vão à igreja, os dias “importantes” da grande semana são a Sexta-feira e o Domingo, a Cruz e a Ressurreição. Estes dois dias, entretanto, ficam de alguma forma distintos. Há um dia de tristeza e depois um dia de alegria. Nesta sucessão, a tristeza é simplesmente substituída pela alegria. Mas segundo o ensinamento da Igreja, expresso na sua tradição litúrgica, a natureza desta sucessão não é uma simples substituição. A Igreja proclama que o Cristo “venceu a morte pela morte”; isto quer dizer que, antes mesmo da ressurreição, coloca-se um acontecimento no qual a tristeza não é simplesmente substituída pela alegria, mas ela própria é transformada em alegria. O grande Sábado é precisamente este dia de transformação, o dia em que a vitória germina de dentro mesmo da derrota, uma vez que antes da ressurreição nos é dado contemplar a morte da própria morte. . . E tudo isso é expresso – mais ainda, tudo isso é realmente atualizado – a cada ano, neste maravilhoso ofício matinal, na comemoração litúrgica que se torna para nós um “presente” salvador e transformador.

Bento XVI [2/5/2010]:

O Sábado Santo é aquele intervalo único e irrepetível na história da humanidade e do universo em que Deus, em Jesus Cristo, compartilhou não só nosso morrer, mas também nosso permanecer na morte. A solidariedade mais radical. Todos temos sentido alguma vez uma sensação espantosa de abandono. Isto é o que mais tememos da morte. Como os meninos, nos dá medo ficarmos sozinhos na escuridão. Só a presença de uma pessoa que nos ama nos dá segurança. Pois bem, isto é o que ocorreu no Sábado Santo: no reino da morte ressoou a voz de Deus. Aconteceu o inimaginável: que o Amor penetrou “nos infernos”: na obscuridade extrema da solidão humana mais absoluta. Também nós podemos escutar a voz que nos chama e a mão que nos toma e nos tira para fora. O ser humano vive porque é amado e pode amar. E se no espaço da morte penetrou o amor, então chegou ali a vida. Na hora da extrema solidão, nunca estaremos sozinhos.

Padre Adroaldo Palaoro:

O silêncio de Deus deve ser respeitado, pois a Deus lhe dói a morte de seus fiéis (Sl. 116,15): o Pai não estará fazendo luto por seu Filho e por suas criaturas? Não será que o silêncio do Sábado Santo supõe o direito de Deus se calar? Quê Deus não tem direito de guardar silêncio? Quem somos nós para exigir de Deus que nos esteja falando continuamente? Se não oramos a partir desse silêncio, é porque ainda não mergulhamos no mistério do Amor compassivo. […] O Pai está de luto; toda a natureza, em silêncio, acolhe a semente do Corpo do Verbo, na esperança de germinar Vida plena. O Sábado Santo, portanto, não é o mutismo de Deus, mas seu Silêncio, ou seja, a ação oculta de Deus estendida no tempo; morte e ressurreição são simultâneas no presente de Deus, mas no acontecer humano só podem ser sucessivas.

Antiga Homilia no grande Sábado Santo [(s. IV), lido do ofício das leituras]:

Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos.

Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos.

O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: “O meu Senhor está no meio de nós”. E Cristo respondeu a Adão: “E com teu espírito”. E tomando-o pela mão, disse: “Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará.

Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nasceram de ti, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão: ‘Saí!’; e aos que jaziam nas trevas: ‘Vinde para a luz!’; e aos entorpecidos: ‘Levantai-vos!’

Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te dentre os mortos; eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.

Por ti, eu, o teu Deus, me tornei teu filho; por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci à terra e fui até mesmo sepultado debaixo da terra; por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, abandonado entre os mortos. Por ti, que deixaste o jardim do paraíso, ao sair de um jardim fui entregue aos judeus e num jardim, crucificado. […]

Adormeci na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te do sono da morte. Minha lança deteve a lança que estava dirigida contra ti.

Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso; eu, porém, já não te coloco no paraíso mas num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem; ordeno agora que eles te adorem como Deus, embora não sejas Deus.

Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, construído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade”.

O DOMINGO DA RESSURREIÇÃOTerceiro dia do Tríduo

Domingo da Páscoa na Ressurreição, “máxima solenidade do ano litúrgico” (PSL, 148).

  1. A primeira celebração deste domingo maior é a Vigília Pascal,Mãe de todas as Vigílias da Igreja.

O que celebramos: Nesta NOITE os nossos pais e mães passaram pelas águas do Mar Vermelho livres da escravidão. Foi nesta noite que Jesus rompeu o inferno, e tornou para nós o novo Adão e a própria noite, e tão só ela, soube a hora em que Cristo ressurgiu da morte. Nesta noite, também nós passamos pelas águas batismais da Páscoa e renovamos o que professamos.

Para a oração pessoal – Lectio das leituras da Liturgia da Palavra[6]

a) Ler com atenção cada uma das 7 leituras, liturgia diária, ou no missal. Prestar atenção nas palavras que chamam a nossa atenção…

b) Ler a oração, buscando perceber a conexão que esta faz da leitura com o batismo

c) Por último ler a leitura da carta aos Romanos e o relato da ressurreição segundo Marcos

1ª Leitura de  Gn 1,1-2,2; ou 1,1.26-31 – sobre a criação

Oração: Deus eterno e todo-poderoso,que dispondes de modo admirável todas as vossas obras, dai aos que forem resgatados pelo vosso Filho a graça de compreender que o sacrifício do Cristo, nossa Páscoa, na plenitude dos tempos, ultrapassa em grandeza a criação do mundo realizada no princípio. Por Cristo, nosso Senhor.

2ª  Leitura de Gn 22,1-18 sobre o sacrifício de Abraão

Oração: Ó Deus, Pai de todos os fiéis, vós multiplicais por toda a terra os filhos da vossa promessa, derramando sobre eles a graça da filiação e, pelo mistério pascal, tornais vosso servo Abraão pai de todos os povos, como lhe tínheis prometido. Concedei, portanto, a todos os povos a graça de corresponder ao vosso chamado. Por Cristo, nosso Senhor.

3ª  Leitura de Ex 14,15-15,1 sobre a passagem do mar Vermelho

Oração: Ó Deus, vemos brilhar ainda em nossos dias as vossas antigas maravilhas. Como manifestastes outrora o vosso poder, libertando um só povo da perseguição de Faraó, realizais agora a salvação de todas as nações, fazendo-as renascer nas águas do batismo. Concedei a todos os seres humanos tornarem-se filhos de Abraão e membros do vosso povo eleito. Por Cristo, nosso Senhor.

4ª Leitura de Is 54,5-14 sobre a nova Jerusalém:

Oração: Deus eterno e todo-poderoso, para a glória do vosso nome, multiplicai a posteridade que prometestes aos nossos pais, aumentando o número dos vossos filhos adotivos. Possa a Igreja reconhecer que já se realizou em grande parte a promessa feita a nossos pais, da qual jamais duvidaram. Por Cristo nosso Senhor.

5ª  Leitura de Is 55,1-11 sobre a “salvação oferecida a todos gratuitamente”

Oração: Deus eterno e todo-poderoso, única esperança do mundo, anunciastes pela voz dos profetas os mistérios que hoje se realizam. Aumentai o fervor do vosso povo, pois nenhum dos vossos filhos conseguirá progredir na virtude sem o auxílio da vossa graça. Por Cristo, nosso Senhor.

6ª Leitura de Br 3,9-15.31-4,4 sobre “a fonte da sabedoria”

Oração: Ó Deus, que fazeis vossa Igreja crescer sempre mais chamando todos os povos ao Evangelho, guardai sob a vossa proteção os que purificastes na água do batismo. Por Cristo, nosso Senhor.

7ª Leitura de Ez 36,16-28 – sobre “um coração novo e um espírito novo”:

Oração: Ó Deus, força imutável e luz inextinguível, olhai com bondade o mistério de toda a vossa Igreja e conduzi pelos caminhos da paz a obra da salvação que concebestes desde a eternidade. Que o mundo todo veja e reconheça que levanta o que estava caído, que o velho se torna novo e tudo volta à integridade primitiva por aquele que é princípio de todas as coisas. Por Cristo, nosso Senhor.

 Leitura de Rm 6,3-11 o  nosso batismo na morte de Cristo

9. Evangelho de Marcos 16,1-7

A segunda celebração é a do dia da ressurreição,

O que celebramos:

O domingo da ressurreição é celebrado com grande solenidade (PS 97) o dia que o Senhor fez para nós.

Para a oração pessoal:

a) Fazer a Leitura orante do evangelho de João 20,1-18: não só a trecho indicado para este dia [1-10], mas até o versículo 18, que inclui o encontro com Madalena, a discípula amada.

b) Em algum momento do dia, ler com calma, o texto que segue sobre o sentido espiritual deste grande:

Alexandre Schmémann, Olivier Clément [padres da Igreja Oriental]:

Na Páscoa os esponsais são consumados. No Ressuscitado é a humanidade inteira, e o cosmos, que se acham secretamente recriados, transfigurados. Em sua hipóstase divina, portanto perfeita, e pela qual nada de exterior pode existir, o Cristo, através de uma comunhão sem limites, assume todo ser criado e o arrebata em sua ressurreição. […]

Em Cristo sempre vivo e presente no Espírito, cada um de nós morre e ressuscita: “Ontem, eu estava enterrado contigo, ó Cristo; hoje eu acordo contigo, ó Ressuscitado; Salvador, glorifica-me contigo em teu Reino.” A Ressurreição tem um alcance cósmico pois o corpo engloba secretamente o cosmos inteiro. Por isso o universo é chamado a rejubilar-se após ter tremido de um horror sagrado diante da Paixão e do enterro de seu Criador. “Que todo o universo esteja em festa, toda a terra… pois ele ressuscitou, o Cristo, alegria eterna.”

[…] Doravante a vida e a luz nos chegam mesmo pela morte e por todas as situações de morte de nossa existência se as “configuramos” na fé na cruz do Cristo sobre a qual ele venceu a morte. Por isso o mártir é o mais elevado estado místico do cristianismo. […] Não somente a morte está repleta de luz, como também o inferno: “Agora tudo está repleto de luz: o céu, a terra e o inferno.” Deus é tudo em todos. A apocatastase (a salvação universal) é oferecida à humanidade.

Não é, pois, de se impressionar que esses textos tenham fortes ressonâncias escatológicas: a luz da Páscoa é a mesma da Parusia. A Páscoa já é o Oitavo dia em que se inaugura a luz sem declínio. É o “dia do Senhor,” no sentido escatológico de que se reveste esta expressão na Bíblia: “É agora o dia insigne e santo, único nas semanas, o rei e o Senhor dos dias, a festa das festas.” […] O mundo só existe através das existências pessoais: sua transfiguração escatológica, inaugurada em Cristo, deve ser decifrada, assumida, reinventada e difundida pela comunhão dos santos, até que ela tenha atingido seu “pleroma,” conforme uma medida que não é a da história “objetiva,” mas a de Deus.

No Espírito Santo, a luz pascal, vida do Ressuscitado, nos é comunicada pela eucaristia que constitui a Igreja, que a funda sobre o “mistério pascal”: “Vinde, neste dia da Ressurreição, comungar o fruto novo da vinha, a alegria divina, a realeza do Cristo.” Uma vez que a eucaristia nos incorpora ao Ressuscitado, nós podemos, pouco a pouco, por uma ascese de vigilância, nos acordarmos para nossa ressurreição no Ressuscitado, de modo que nós contemplamos conscientemente nossa reunião com ele. […] “Vigiemos até o final do dia; em lugar da mirra, ofereçamos um hino ao Senhor e nós veremos o Cristo, Sol de Justiça, fazer brotar a vida para todos.”


[1] Padre Enrique Bikkesbakke (www.ecclesia.com.br)

[2] Epistula 23, 13. (séc IV)

[3] Epistula 55,24.

[4]Ao longo da Idade Média, em consequência da decadência de toda a liturgia da Igreja, o tríduo pascal passou por tal deformação que o domingo da páscoa já não contava como parte do Tríduo [considerado como tal a quinta, a sexta e o sábado]. O sábado da sepultura desapareceu do horizonte espiritual da Igreja e tomou o lugar do domingo, denominado “Sábado de Aleluia”. Por isso, o papa Pio XII (1876-1958), incentivado pelo movimento litúrgico propôs Reforma da Vigília pascal [1951] a da semana santa [1955]. Entre outras coisas estabeleceu a hora da missa vespertina da ceia do Senhor [não antes das 17 horas] bem como a hora da vigília, de preferência depois da meia noite de sábado para o domingo. Com isto se restabelecia os dias do tríduo pascal: sexta da paixão, sábado da sepultura e domingo da Ressurreição, com seu solene início na noite da quinta [que na contagem da liturgia já pertence ao dia seguinte]. O dia da Quinta-feira santa, portanto, pertente à quaresma, não ao tríduo.

[5] Alexandre Schmémann, Olivier Clément – www.ecclesia.com.br

[6] Este texto foi proposto por padre. Domingos Ormonde, fev 2019

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