LITURGIA DO DIA: DOMINGO, DIA DO SENHOR. FESTA DA DEDICAÇÃO DA BASÍLICA DE SÃO JOÃO LATRÃO

Reflexão – Domingo, 9 de novembro de 2025
Dedicação da Basílica de São João de Latrão – Festa – Ano C

A Igreja celebra a Dedicação da Basílica de São João de Latrão, a catedral de Roma e igreja-mãe de todas as igrejas do mundo, sinal visível da unidade da Igreja em torno do sucessor de Pedro. Esta festa, porém, não é apenas uma comemoração arquitetônica: é uma profissão de fé na presença viva de Deus em seu povo, um convite a reconhecer que o verdadeiro templo onde o Senhor habita é o coração humano transformado pelo Espírito.

“Destruí este templo e em três dias eu o levantarei” (Jo 2,19)

O Evangelho de João nos leva ao episódio em que Jesus expulsa os vendedores do Templo. Ele encontra o espaço sagrado transformado em um mercado e reage com força profética, denunciando a profanação daquele lugar. O gesto de Jesus não é um simples ato moral contra o comércio; é um sinal escatológico, um gesto simbólico que anuncia o fim do antigo culto e o início de uma nova forma de presença de Deus no meio dos homens.

Quando Jesus declara: “Destruí este templo e em três dias o levantarei”, os seus ouvintes pensam no edifício de pedra que levou décadas para ser construído. Mas o evangelista esclarece: “Ele falava do templo do seu corpo”. Aqui está o coração da revelação: Cristo é o novo e definitivo Templo de Deus, o lugar onde o Pai se encontra com a humanidade. Nele, o culto não depende mais de paredes, sacrifícios ou ritos exteriores, mas do amor que se entrega e renova a criação. O corpo de Cristo morto e ressuscitado é o novo espaço de adoração em espírito e verdade (cf. Jo 4,23).

O Templo vivo: a Igreja e cada cristão

A leitura da Primeira Carta aos Coríntios, na segunda leitura, aprofunda essa dimensão: “Vós sois o templo de Deus, e o Espírito de Deus habita em vós”. São Paulo revela a dimensão eclesial e pessoal dessa nova realidade. A comunidade cristã, edificada sobre o único fundamento que é Cristo, é o edifício espiritual onde Deus faz morada. Cada batizado é uma “pedra viva” (1Pd 2,5) dessa construção. Por isso, destruir a comunhão, ferir o corpo da Igreja ou desprezar a dignidade de qualquer pessoa é profanar o próprio templo de Deus.

A visão de Ezequiel na primeira leitura antecipa essa vida nova: do templo jorra uma água que fertiliza a terra e dá vida a tudo por onde passa. Essa água é símbolo do Espírito Santo, que brota do Cristo glorificado e faz da Igreja um rio de graça para o mundo. Assim, a Basílica de Latrão, como qualquer igreja consagrada, torna-se sinal visível dessa realidade invisível, sacramento do mistério da presença de Deus entre nós.

A liturgia como lugar de encontro e conversão

Celebrar a dedicação de uma igreja é recordar que os templos de pedra só têm sentido se apontam para o templo vivo que somos nós. Uma comunidade que vive a fé, que se alimenta da Palavra e da Eucaristia, é o verdadeiro santuário onde Deus habita. A liturgia, portanto, não é mero rito, mas encontro transformador: nela o Cristo purifica o templo do nosso coração, expulsa o que é comércio e cálculo, e renova o espaço interior para que ali floresça a graça.

Para nossa vida

Esta Palavra nos convida a uma conversão do coração. É fácil venerar um templo de pedra e, ao mesmo tempo, deixar que nosso interior se torne um mercado de interesses, vaidades e ressentimentos. Jesus hoje também entra no templo do nosso ser e nos chama à purificação.

Perguntemo-nos:

  • O que em mim precisa ser expulso para que Deus volte a habitar plenamente?
  • O que em minha comunidade precisa ser reconstruído sobre o verdadeiro fundamento que é Cristo?
  • Como posso ser, no cotidiano, uma presença de Deus que gera vida e paz como o rio de Ezequiel?

Que a festa da Dedicação da Basílica de Latrão renove em nós a consciência de que somos a casa viva de Deus, templos de sua glória e instrumentos de sua presença no mundo. Que a graça desta liturgia nos ajude a transformar nossa vida e nossa comunidade em lugares onde o amor de Cristo resplandeça e onde o mundo possa encontrar o Deus que quer fazer morada entre nós.

“O Senhor dos Exércitos está conosco, o nosso refúgio é o Deus de Jacó.” (Sl 45,8)

LITURGIA DO DIA: A ALEGRIA DE DEUS DIANTE DE QUEM RETORNA

Liturgia de Quinta-feira, 6 de Novembro de 2025
31ª Semana do Tempo Comum – Ano Ímpar (I)
Leituras: Rm 14,7-12 | Sl 26(27),1.4.13-14 | Lc 15,1-10

O Evangelho de hoje (Lc 15,1-10) nos apresenta duas parábolas que expressam o coração da Boa-Nova: da ovelha perdida e a da moeda perdida. Ambas são narradas por Jesus em resposta à crítica dos fariseus e mestres da Lei, escandalizados porque Ele acolhia pecadores e comia com eles. Este é o ponto de partida de toda a cena: a incompreensão de um amor que ultrapassa a lógica humana, um amor que não se contenta com a justiça dos “bons”, mas se lança à busca dos que se afastaram.

O Evangelho de Lucas 15,1-10 — a ovelha e a moeda perdidas — é um texto extraordinariamente complexo: ele rompe as simplificações religiosas e sociais e nos faz enxergar a realidade humana e divina de modo relacional, dinâmico e não linear.

O contexto: Jesus, o rosto da misericórdia

O texto começa destacando que “os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para o escutar”. Esta aproximação é fundamental: os marginalizados, aqueles que se consideravam indignos, se sentem atraídos por Jesus. Ele não os julga, mas os escuta e os acolhe. Ao contrário, os fariseus e doutores da Lei, representantes da religião institucional, murmuram e o criticam.

A partir dessa tensão, Jesus revela com as parábolas o verdadeiro rosto de Deus. Ele não é um juiz severo, mas um Pai que se alegra com o retorno do filho, um pastor que vai ao encontro da ovelha perdida, uma mulher que busca incansavelmente a moeda desaparecida. Em suma: um Deus que ama antes de ser amado, que busca antes de ser buscado.

O movimento de Deus: sair ao encontro

A primeira parábola fala de um pastor que deixa noventa e nove ovelhas no deserto para procurar uma que se perdeu. Esse gesto, aos olhos humanos, parece insensato. Mas é justamente isso que Jesus quer mostrar: o amor de Deus é “exagerado”, é graça que não calcula. Ele não se conforma com a perda de nenhum de seus filhos.

A ação do pastor é dinâmica: ele “vai atrás” até “encontrá-la” e, ao encontrá-la, “a coloca nos ombros com alegria”. Aqui está o símbolo do Cristo que carrega sobre si as nossas fraquezas. Não é o peso da ovelha que Ele sente, mas o peso da misericórdia. O encontro culmina em festa: “Alegrai-vos comigo!” — a alegria é o sinal de que o Reino de Deus se manifesta onde há reconciliação.

A segunda parábola repete a mesma lógica sob uma imagem doméstica: uma mulher que perde uma moeda acende uma lâmpada, varre a casa e procura cuidadosamente até encontrá-la. Ela representa a ternura de Deus, uma busca paciente, cotidiana, silenciosa. E, mais uma vez, quando a moeda é encontrada, há festa e partilha da alegria.

Nas duas parábolas, na lógica simplificadora dos fariseus, havia apenas duas categorias: os puros e os impuros, os justos e os pecadores. Mas Jesus destrói essa fronteira. Ele revela que o “justo” e o “pecador” estão interligados, que a perda de um afeta o todo. No evangelho, a comunidade só está completa quando o perdido retorna.

A ovelha ausente compromete o sentido do rebanho. A moeda perdida empobrece o conjunto. A alegria do reencontro não é apenas da ovelha ou da mulher, mas de todos: do Pastor, da casa, dos amigos, do céu. A conversão, portanto, não é um ato individualista, mas um movimento de reintegração do todo, uma restauração da comunhão, pois o “pecado” não é apenas erro moral, mas ruptura de vínculos, perda de sentido e de pertença.

A parábola, então, não fala de uma moral estática (“quem erra precisa voltar”), mas de um processo dinâmico e regenerador, em que o erro e a perda são também lugares de revelação e crescimento.
A complexidade nos ensina que o fracasso, a queda, a dúvida — longe de destruírem a fé — podem ampliá-la, porque revelam o amor que busca e o sentido que se reconstrói.

A parábola nos mostra um processo que o sujeito se conhece na relação com o outro e com o mundo:

  • O Pastor, ao buscar a ovelha, também se transforma: ele experimenta a compaixão.
  • A mulher, ao procurar a moeda, redescobre o valor do que possuía.
  • A comunidade, ao celebrar o retorno, reaprende a alegria de estar junto.

Assim, a busca do perdido é também autoconhecimento. Deus, ao nos procurar, revela o Seu próprio rosto de amor. E nós, ao sermos encontrados, reconhecemos quem Ele é. É um movimento recíproco — relacional, circular, complexo — e profundamente humano.

O centro teológico: a alegria da conversão

O tema central das duas parábolas é a alegria de Deus. Não é a alegria do pecador que retorna, mas a alegria divina diante da conversão humana. “Haverá mais alegria no céu por um só pecador que se converte do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão.”

Essa frase quebra qualquer pretensão de superioridade religiosa. No Reino de Deus, o critério de valor não é o mérito, mas a misericórdia. O “céu” se alegra quando alguém recomeça, quando um coração se abre novamente ao amor. Essa alegria é partilhada entre “os anjos de Deus” — símbolo da comunhão plena que a graça cria entre o humano e o divino.

Na teologia, podemos dizer que o Evangelho nos mostra uma teofania da complexidade: Deus não é um Ser isolado no alto, mas uma teia de relações vivas, como o Pastor que se move, a mulher que busca, o céu que se alegra.

A Trindade, na tradição cristã, é a expressão suprema dessa complexidade divina: unidade na diversidade, comunhão no movimento. A parábola da ovelha perdida reflete esse dinamismo trinitário: o Pai que busca, o Filho que carrega, o Espírito que ilumina. Não há hierarquia de exclusão, mas circularidade de amor.

A autocrítica: quem somos nós na parábola?

É importante perguntar: em qual personagem nos reconhecemos? Talvez, às vezes, sejamos a ovelha perdida: afastados por escolhas, feridos pela vida, cansados de buscar sentido. Outras vezes, podemos ser os “justos” que olham de longe, com desconfiança, os que retornam. A parábola é convite a abandonar o papel do juiz e assumir o olhar do Pastor.

A conversão que Jesus propõe não é apenas moral, mas espiritual: é mudar o modo de ver o outro, de acolher o diferente, de compreender a misericórdia como critério maior da fé. Converter-se, aqui, é permitir que Deus nos encontre e nos coloque sobre seus ombros, mesmo quando achamos que podemos andar sozinhos.

A conversão não é uma mudança linear (“antes eu era mau, agora sou bom”), mas um processo em espiral, cheio de tensões, rupturas, retornos, aprendizados. O pecador não é “o outro” — é uma dimensão de cada um de nós. Em cada momento da vida, há partes de nós perdidas, dispersas, esquecidas. O Evangelho nos convida a reintegrar essas partes, a fazer o caminho do reencontro interior.

A conversão é, portanto, um ato de recomposição da unidade interior, um movimento de “ecologia espiritual”, no qual voltamos a pertencer ao todo que nos gera.

A comunhão com as outras leituras

Na primeira leitura (Rm 14,7-12), Paulo nos recorda: “Nenhum de nós vive para si mesmo, e nenhum morre para si mesmo. Se vivemos, é para o Senhor; e se morremos, é para o Senhor.” Essa afirmação complementa o Evangelho. A ovelha perdida não pertence apenas a si mesma. Ela pertence ao rebanho, pertence ao Pastor. Assim também cada um de nós pertence ao Senhor.

A vida cristã, portanto, não é isolamento, mas comunhão. O julgamento pertence a Deus, não a nós: “Todos nós compareceremos diante do tribunal de Deus”. Isso nos liberta da tentação de condenar e nos convida a confiar na justiça e misericórdia divinas.

O salmo responsorial (Sl 26) reforça essa confiança: “O Senhor é minha luz e salvação; de quem eu terei medo?” O salmista se sabe protegido, mesmo nas trevas, porque Deus o busca e o sustenta — como o Pastor que não desiste de sua ovelha.

Iluminações para a vida cotidiana

O Evangelho de hoje tem uma força transformadora, especialmente em tempos em que o julgamento e a exclusão parecem dominar as relações humanas. A Palavra de Deus nos convida a viver com mais misericórdia e menos indiferença.

  • Na família: quantas vezes há distâncias e feridas que nos afastam uns dos outros. O chamado é para buscar o diálogo, dar o primeiro passo, não desistir de quem se afastou. O reencontro é sempre causa de alegria. Uma crise entre pais e filhos pode parecer apenas uma “desordem”, mas pode se tornar oportunidade de diálogo, perdão e maturidade. Viver este evangelho nos ensina a ver o conflito não como fim, mas como espaço de reorganização afetiva.
  • Na comunidade: às vezes olhamos com desconfiança quem retorna à Igreja depois de muito tempo, como se a conversão alheia fosse suspeita. Jesus nos pede o contrário: acolher, celebrar, partilhar a alegria do retorno. Esse afastamento pode ser também um caminho de busca, um desvio que prepara o reencontro.
  • No trabalho ou na sociedade: a lógica de Deus desmonta a cultura do descarte. Cada pessoa, mesmo aquela que “se perdeu” socialmente — por erro, vício ou fragilidade —, tem valor infinito. Ser cristão é participar dessa busca ativa, é “acender a lâmpada” e “varrer a casa” para reencontrar o que parecia perdido. Em tempos polarizados, o Evangelho nos lembra que ninguém é totalmente justo ou totalmente perdido; a realidade humana é entrelaçada, e o desafio é manter o vínculo e o diálogo mesmo nas diferenças.
  • Na vida pessoal: talvez a ovelha perdida sejamos nós mesmos. A Palavra de hoje diz que Deus não se cansa de procurar, e que o perdão é sempre possível. Permitir-se ser encontrado é um ato de fé e humildade. Nossas “perdas” — um fracasso, uma decepção, uma dúvida — podem ser o terreno fértil onde renasce uma fé mais consciente e humana.

As parábolas da ovelha e da moeda perdidas revelam que a misericórdia de Deus é o coração do Evangelho. Ele não apenas perdoa; Ele se alegra. Não apenas busca; Ele carrega. Não apenas encontra; Ele festeja.

A Palavra de Deus hoje nos impele é redescobrir o cristianismo como uma sabedoria das relações. Deus não é o oposto do mundo, mas sua profundidade; o pecado não é ruptura definitiva, mas chamada ao reencontro; a conversão não é purificação isolada, mas reintegração amorosa.

Assim, a Boa-Nova não é a história de um Deus que pune o erro, mas de um Deus que reorganiza a vida a partir da perda, como o Pastor que deixa as noventa e nove para resgatar uma só, porque sabe que sem ela, o todo está incompleto.

Hoje somos convidados a entrar nessa alegria divina, não apenas como espectadores, mas como participantes. Que o amor de Deus, sempre em busca de quem se perdeu, nos inspire a ser também buscadores de reconciliação, sinais vivos de uma misericórdia que transforma o mundo.

“Haverá alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se converte.” (Lc 15,10)

FAMÍLIA PAULINA CELEBRA A COMEMORAÇÃO DOS FIÉIS DEFUNTOS 2025

Com profundo espírito de fé e esperança, apresentamos esta homilia preparada pelo Pe. Antônio Lúcio, SSP, para a Comemoração dos Fiéis Defuntos de 2025. Neste dia em que a Igreja se une em oração pelos que partiram para a Casa do Pai, somos convidados a renovar a confiança na promessa da vida eterna e na misericórdia de Deus, que acolhe com amor todos os seus filhos.

A Família Paulina esteve reunida nas Capelas Mortuárias para as Missas, às 08h00 e às 10h00, elevando a Deus preces e agradecimentos pelos irmãos e irmãs que concluíram sua caminhada terrena.

As palavras do Pe. Antônio Lúcio nos ajudam a viver este momento com serenidade e gratidão, transformando a saudade em esperança e o luto em fé viva na ressurreição.

Homilia na íntegra:

Finados (Sb 3,1-9; Ap 21,1-7; Lc 7,11-17)

Hoje, o nosso coração se reveste de silêncio e de ternura. Viemos rezar pelos nossos entes queridos, Coirmãos e Coirmãs de Congregação que partiram — aqueles que um dia nos deram a mão, o sorriso, o conselho, a presença. O Dia de Finados não é apenas o dia da saudade; é, sobretudo, o dia da esperança.

1. “A vida dos justos está nas mãos de Deus” (Sb 3,1): A primeira leitura nos consola profundamente: “a vida dos justos está nas mãos de Deus”.O livro da Sabedoria foi escrito para tempos de provação. Fala a pessoas que choram, mas que não se desesperam.Quem está nas mãos de Deus não se perde, não é esquecido.Deus segura cada vida com ternura infinita — como uma mãe que embala o filho adormecido.A morte, para quem crê, não é um abismo, mas uma travessia.E o amor, quando é verdadeiro, não termina com a morte, apenas muda de forma: o amor permanece em Deus!

2. “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21,5): O Apocalipse nos faz levantar os olhos:João viu “um novo céu e uma nova terra”.Tudo o que hoje nos fere — a dor, o luto, a separação — será transformado.Deus enxugará toda lágrima.A fé cristã não nega o sofrimento, mas o ilumina com a promessa da nova criação.A morte não tem a última palavra.A última palavra é a Vida, é Deus, é o Amor que renasce.Quando rezamos pelos falecidos, não o fazemos por tristeza, mas por comunhão.O amor que uniu nossas vidas aqui continua unido no coração de Deus.

No Céu, não há distância: há reencontro.

3. “Jovem, eu te ordeno: levanta-te!” (Lc 7,14): O Evangelho nos leva até a pequena cidade de Naim.Jesus encontra uma viúva que leva o filho único para ser sepultado.Jesus vê aquela mãe — e “enche-se de compaixão”.Antes de realizar o milagre, Ele se aproxima.Não é um Deus distante: é o Deus que se comove, que toca o caixão, que fala com ternura e autoridade:“Jovem, eu te ordeno: levanta-te!”Este é o mesmo Jesus que, diante da nossa dor, se aproxima de nós.Ele não é indiferente às nossas lágrimas.Ele chora conosco, e ao mesmo tempo nos ergue pela fé.Em cada Eucaristia, Ele repete esse gesto: toca a nossa morte com a força da Sua vida.E nos diz, também a nós e aos que amamos:“Levanta-te! Vive em mim!”

4. Memória e Esperança: Neste dia de Finados, acendemos velas, levamos flores, visitamos cemitérios…Mas o gesto mais belo é a oração.Quando rezamos pelos falecidos, o amor passa pela fronteira da morte.A oração é o abraço que atravessa o tempo.E quando celebramos a Eucaristia, o Céu e a Terra se encontram — vivos e falecidos se unem no mesmo altar.Por isso, mesmo entre lágrimas, o nosso coração pode repetir com fé:“Senhor, obrigado pela vida que nos deste;obrigado pela esperança da ressurreição, obrigado porque as almas dos justos estão em Tuas mãos.”

Conclusão: Hoje não celebramos o fim, mas a plenitude.Quem partiu em Cristo vive.E nós, que ainda caminhamos, confiamos:Um dia, o Senhor também nos chamará pelo nome, como chamou o filho de Naim,e dirá: “Levanta-te, vem para a Vida!”Até lá, permaneçamos unidos pela fé, pela saudade e pela esperança.Porque Deus é o Deus dos vivos, e em Suas mãos, ninguém se perde.Amém.

Cemitério da Irmandade do Santíssimo Sacramento
Jazigo da Família Paulina
São Paulo, 2 de novembro de 2025
Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos

MÊS FORMATIVO DAS JUBILANDAS DE 25 ANOS: “DISCÍPULAS JUBILARES NO CAMINHO DA ESPERANÇA”

Hoje, 30/10/2025, com a Missa de Ação de Graças, concluiu-se o mês formativo para as irmãs que celebram 25 anos de consagração religiosa. As irmãs participantes agradecem a todos aqueles que as acompanharam e a quantos tornaram possível esta belíssima experiência.

Foto: as irmãs jubilares com as quatro Superioras Gerais dos últimos 25 anos, as irmãs do atual Governo Geral e o Pe. Domenico Soliman, Superior Geral da Sociedade de São Paulo.

Durante o mês de outubro de 2025, em Roma, na Casa Betania, realizou-se o mês formativo para as irmãs que celebram 25 anos de consagração religiosa das Pias Discípulas do Divino Mestre. A experiência, vivida sob o lema “Discípulas jubilares no caminho da esperança”, foi um tempo de profunda gratidão, oração, partilha e renovação vocacional.

O mês teve início em 1º de outubro, com a Celebração Eucarística de abertura na cripta do Santuário “Regina degli Apostoli”, presidida por Pe. Valdecir Ubeda, SSP, e prosseguiu com momentos de formação, convivência fraterna e oração comunitária. A Superiora Geral, Ir. M. Bernardita Meraz Sotelo, acolheu calorosamente as participantes, convidando-as a viver o tempo jubilar como oportunidade de esperança e fidelidade criativa.

As atividades incluíram momentos de reflexão espiritual, conduzidos por Ir. M. Bernardita Meráz Sotelo, sobre o tema “Sou imagem e semelhança de Deus: iniciativa gratuita de Deus”, além de dias dedicados ao Jubileu da Vida Consagrada no Vaticano, peregrinações aos lugares carismáticos em Alba, e encontros sobre “Eucaristia, Sacerdócio e Liturgia: a unidade da missão”, guiados pelas Irmãs M. Joseph Oberto, M. Judyta Pudełko e M. Adriana de Jesus.

Participaram irmãs provenientes de diversos países e províncias: Itália, Brasil, Índia, Coreia, Filipinas, Japão, México, Polônia, Congo, Chile e República Tcheca, expressando a universalidade e comunhão do carisma das Pias Discípulas.

O mês formativo concluiu-se em 30 de outubro, com a Missa de Ação de Graças na Igreja de Jesus Mestre, em Roma. Durante a celebração, as irmãs jubilares renovaram o seu “sim” a Deus, rodeadas por irmãs da comunidade, pelas quatro Superioras Gerais dos últimos 25 anos, pelo atual Conselho Geral e pelo Pe. Domenico Soliman, Superior Geral da Sociedade de São Paulo.

Em clima de alegria e fraternidade, as jubilandas expressaram gratidão a todos os que as acompanharam e colaboraram para tornar possível esta bela experiência de comunhão e esperança.
“Sempre em frente com esperança, queridas irmãs, discípulas nos caminhos da esperança!”

FESTA DO DIVINO MESTRE

A meditação intitulada “Festa do Divino Mestre” foi proferida por o Bem-aventurado Tiago Alberione em 8 de janeiro de 1961, na Cripta do Santuário de Santa Maria Rainha dos Apóstolos, em Roma. Dirigida à Família Paulina, a reflexão é voltada de modo especial a todos os que vivem o chamado ao ministério e ao magistério na Igreja, aqueles que têm a missão de formar, ensinar e santificar.

Partindo da vida de Jesus Cristo, Alberione contempla sobretudo o período da vida oculta em Nazaré, tempo de silêncio, trabalho e crescimento, para destacar a importância da formação interior como fundamento de toda missão apostólica. Assim como Jesus “crescia em sabedoria, idade e graça”, também o discípulo-mestre deve crescer antes de ensinar: o fruto da vida pública depende da solidez da vida interior.

Os quatro pilares da formação segundo Alberione

Na meditação, o Fundador da Família Paulina apresenta quatro dimensões essenciais da formação dos mestres, inspiradas na ação de Jesus com seus apóstolos:

  1. Doutrina – Jesus oferece aos discípulos o conteúdo da nova lei, a lei do Evangelho e da caridade. O verdadeiro mestre é aquele que transmite a doutrina de Cristo, que é a própria Verdade.
  2. Exemplo de vida – O Mestre ensina uma moral de perfeição, que liberta o coração do mundo e convida à pobreza, castidade e obediência. A coerência de vida é parte essencial do magistério.
  3. Graça – Cristo comunica aos seus a vida sobrenatural. Sem a união com Ele, não há fecundidade apostólica. O mestre deve ser canal da graça e não apenas transmissor de ideias.
  4. Autoridade – Finalmente, Jesus envia: “Ide e ensinai”. O verdadeiro magistério nasce do envio e da missão recebida, e por isso é exercido com autoridade e fidelidade.

Mestre e discípulo: uma mesma missão

Alberione recorda que a formação é uma caminhada conjunta: não basta haver bons mestres se não houver discípulos abertos e dóceis ao aprendizado. A missão educativa cristã exige uma unidade viva entre quem ensina e quem aprende, onde ambos crescem na fé e na graça.

Toda a Família Paulina é chamada a viver essa dimensão magisterial. Seja na redação, na técnica ou na difusão, todos participam de um mesmo corpo moral e espiritual que tem a missão de sempre aprender de Jesus e sempre dar Jesus. O apostolado, portanto, é uma forma de ensino, um magistério vivido com amor e coerência.

Um magistério que se oferece

A meditação conclui com um apelo profundamente espiritual: o magistério não se limita a palavras ou publicações. Ele é uma oferta de vida. Inspirando-se em São Paulo, Alberione recorda: “Entrega o Evangelho, mas ainda mais, entrega-te a ti mesmo, a tua vida.”

Assim, toda celebração e todo apostolado se tornam oferenda. Na Eucaristia, centro da missão, o mestre e o discípulo unem-se para oferecer a própria existência, fazendo da vida um magistério vivo que comunica Cristo ao mundo.

Para ler e meditar

Ao ler o texto Festa do Divino Mestre, é importante perceber como Alberione entrelaça a Palavra de Deus, a experiência da formação humana e espiritual, e a missão apostólica. Ele convida a cada um a contemplar Jesus como modelo supremo de Mestre e a viver, no cotidiano, o mesmo espírito de obediência, amor e entrega que marcou a vida de Nazaré.


🔗 Texto original em italiano disponível em:
Opera Omnia – Festa del Divin Maestro (1961)


3. FESTA DO DIVINO MESTRE

…mas somente àqueles que entraram ou entram no ministério, no magistério.
Jesus ensinou a vida privada com o exemplo, retirado na solidão daquela pequena aldeia de Nazaré, onde “crescia em sabedoria, idade e graça”², “era-lhes submisso”³, humilde, exercitando-se na profissão de carpinteiro.
A vida privada, a vida retirada, assume importância pelo que se aprende, pelo que se realiza e se vive durante os anos de formação. Disto depende o fruto da vida pública. Tanto se realizará na vida pública quanto houver de preparação correspondente, isto é, suficiente, melhor.
Não se pode esperar mais também por outra razão: porque quem deverá ensinar e ser mestre, deve ser dotado de graça, deve ser santo, pois seu primeiro ofício é dar o exemplo e rezar pelas almas.
Jesus viveu a pobreza, a diligência no amor ao Pai, a obediência em tudo, exercitando-se na submissão a Maria e a José. E ali crescia.
Em redor, os vizinhos, os parentes, não se davam conta do seu admirável progresso e da sua vida interior, mas Ele crescia, e sua sabedoria, sua virtude e seu espírito de oração o acompanhavam — cresciam à medida que Ele crescia nos dias e nos anos daquela vida.

A parte da formação é decisiva para o seguimento da vida. É decisiva e, por isso, requer reflexão tanto de quem é mestre quanto de quem é discípulo. Eis o exemplo.
Quando São Pio X⁴ promulgou os novos regulamentos para a formação daqueles que deveriam tornar-se mestres⁵, exclamou-se: Pio X penetrou o espírito do Evangelho também sob este aspecto: “Instaurare omnia in Christo”⁶, isto é, a formação dos futuros mestres.

E o que fez Jesus durante sua vida pública?
A maior parte do tempo dedicou à formação das vocações.
Certamente pregou ao povo, mas durante suas pregações os apóstolos não estavam ausentes, ao contrário, estavam presentes, e, além disso, em suas pregações há muito que se refere unicamente aos apóstolos.

Eis: Ele se dedicou como Mestre aos seus noviços; primeiro os procurou — procurou as vocações.
Esse é um empenho de todos.
Se nós não chegamos a isso, não seguimos Jesus nem interpretamos seu modo de conduzir a vida pública e de formar seus discípulos, os futuros mestres.

Primeiro, as vocações: buscá-las.
Segundo, formá-las.
E como as formou?
Fez com que permanecessem com Ele, para que vissem como Ele vivia, o que dizia, o espírito com que operava e as provas que dava de ter vindo como Mestre: “Falou-nos por meio do Filho”⁷ — falou-nos Jesus.

Agora, querendo formar aqueles doze Mestres da humanidade, o que fez Jesus? Quatro coisas:

  1. Primeiro, forneceu-lhes a doutrina e revelou os segredos da nova lei — a lei evangélica, a lei do amor.
    E eles se maravilharam quando Ele, por exemplo, pronunciou o sermão da montanha, quando estabeleceu a nova lei, a lei da caridade, e depois agiu em conformidade com ela.
    Forneceu a matéria que os mestres devem ensinar.
    Ele era a própria doutrina, a própria verdade.
    Nós somos mestres apenas na medida em que pregamos a Ele, isto é, repetimos seu ensinamento.
  2. Segundo, não apenas deu aos apóstolos o exemplo de vida, mas ensinou-lhes uma lei moral, uma lei de perfeição que desprendesse o coração do mundo, que os fizesse sair de suas casas e famílias, mostrando-lhes que para eles havia uma missão imensamente maior do que a dos simples cristãos.
    Ensinou-lhes a pobreza, a castidade, a obediência; corrigiu-os muitas vezes quando mostravam não compreender a nova lei.
    “Até quantas vezes devo perdoar? Setenta vezes sete”⁸.
    A nova lei, que conhecemos pelos Evangelhos e pelas Cartas dos apóstolos, especialmente de São Paulo, que a interpretou e aplicou a casos particulares.
  3. Em terceiro lugar, Jesus deu aos apóstolos a graça, pois as almas devem ser confortadas pela graça, pela ajuda de Deus, e devem receber a nova vida, a vida sobrenatural.
    “Quem não permanecer em mim”⁹ — disse Jesus — “não pode chegar à graça”, e portanto não pode possuir a vida eterna.
    E os sacerdotes são dotados do poder de celebrar a Missa e comunicar a graça.
  4. Quarto, era necessário conceder aos novos mestres a “licença”, isto é, autorizá-los ao ensino com autoridade: “Ide, pregai e ensinai a fazer o que vos tenho dito e depois batizai em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”¹⁰.
    Assim, forneceu aos mestres tudo o que precisavam para cumprir sua missão.

Os mestres são, especialmente, os sacerdotes: o Papa, mestre infalível; os bispos, unidos a ele; e os sacerdotes que, sob sua direção, cumprem a missão de ensinar, guiar e santificar.
Tudo recebem de Jesus Cristo e devem ser administradores fiéis, como diz São Paulo¹¹, mestres fiéis, cumprindo juntos o magistério da palavra, o governo das almas e o ministério da graça e da salvação¹².

Eis então esses novos mestres que partem de Jerusalém, difundem-se pelo mundo e, com sua obra, sua palavra, seu exemplo e a comunicação da graça, fazem discípulas todas as nações: “Ide e fazei discípulas todas as nações”.

Eis o dever próprio dos mestres: realizar essas quatro coisas em relação aos que estão em formação.
E quem está em formação deve escutar e abraçar a doutrina, desde o catecismo até a teologia e a especialização; aprender o que é a moral, o direito, a ascética, a mística; e ser dotado dos meios de graça, isto é, possuir o poder de conferir a graça e o poder de celebrar, pois da Missa derivam os rios da graça e, portanto, a autoridade.

Nós ensinamos em nome de Jesus Cristo e é dever que nos escutem.
Assim, mestres e discípulos unidos para formar o novo Mestre, o Mestre do Novo Testamento, aquele que um dia deverá ser o Mestre do povo: “Foi-me dado todo o poder”¹³ e “Ide e ensinai”. “Como o Pai me enviou, assim eu vos envio”¹⁴ — a missão.
Portanto, Mestres completos, mas é necessário que existam discípulos completos.

Aqui, porém, é preciso fazer uma observação:
Como todo o nosso apostolado é ensino, o corpo moral da Família Paulina exerce esse ofício de ensinar. Tanto quem faz a redação quanto quem realiza a parte técnica ou a parte de divulgação, todos juntos constituem o corpo moral; todos juntos somos mestres.
Então: sempre aprender de Jesus, sempre dar Jesus.
Isto é o apostolado.

Leiam atentamente os artigos das Constituições que se referem a isso¹⁵:
primeiro, a Igreja, a doutrina da Igreja;
segundo, a Bíblia e celebrai o Ano Bíblico;
terceiro, a Tradição, representada de modo especial pelos Padres e escritores eclesiásticos, particularmente pelos ensinamentos dos Sumos Pontífices.

Portanto, a Missa: para quem está na vida privada, a Missa; para quem já exerce o magistério, unidos todos, ofereçamos tudo a Jesus.
E vós, durante a Missa, no ofertório, apresentai algum fruto do vosso magistério.
São Paulo diz a Tito: “Cuida de transmitir o Evangelho, mas, mais ainda, dá a ti mesmo, a tua vida”¹⁶.
Ofereçamos a nós mesmos, não só o magistério, todas as edições e todo o trabalho apostólico, mas a nossa própria vida consagrada a esta missão, vivendo ao máximo, quanto possível, o magistério de Jesus.
Portanto, oração e, por outro lado, imitação.


¹ Meditação feita à Família Paulina em Roma, na Cripta do Santuário de Santa Maria Rainha dos Apóstolos, em 8 de janeiro de 1961. Transcrição de fita: A6/an 91b = ac 155b. Falta a primeira parte.
² Cf. Lc 2,52.
³ Cf. Lc 2,51: “…estava-lhes submisso”.
⁴ Pio X, Giuseppe Sarto (1835–1914), Papa desde 1903. Seu pontificado foi marcado, em parte, pela luta contra o modernismo. Reformou a liturgia, atuou nos campos catequético e pastoral. Foi canonizado em 29 de maio de 1954 por Pio XII.
⁵ Cf. Pio X, Haerent Animo, Exortação Apostólica ao Clero Católico, 4 de agosto de 1908.
⁶ Lema do pontificado de Pio X. Cf. Ef 1,10: “…reunir em Cristo, como cabeça, todas as coisas…”.
⁷ Cf. Hb 1,2: “…falou-nos por meio do Filho”.
⁸ Cf. Mt 18,22.
⁹ Cf. Jo 15,5-6.
¹⁰ Cf. Mt 28,19.
¹¹ Cf. 1Cor 4,1-2.
¹² Don Alberione refere-se ao tríplice múnus do sacerdote: magistério da Palavra, ministério da graça e governo das almas.
¹³ Cf. Mt 28,18.
¹⁴ Cf. Jo 20,21.
¹⁵ Cf. Constituições de 1953, arts. 258-259.
¹⁶ Cf. Tt 2,7; cf. também 1Tm 4,11-12.


LITURGIA DO DIA: REFLEXÃO DO 30º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

26 de outubro de 2025
Evangelho: Lucas 18,9-14
Leituras: Eclesiástico 35,15b-17.20-22a; Salmo 33(34); 2 Timóteo 4,6-8.16-18
Celebração da Família Paulina: Solenidade de Jesus Mestre e Pastor, Caminho, Verdade e Vida

A liturgia deste domingo nos conduz ao coração da fé cristã: o encontro pessoal com Deus que ouve os humildes e exalta os que se reconhecem pequenos. À medida que nos aproximamos do final do Ano Litúrgico, a Palavra nos convida a uma revisão interior. Não para medir nossas conquistas espirituais, mas para reencontrar o sentido da oração, da fé e da confiança na misericórdia divina.

Neste mesmo domingo, a Família Paulina celebra com alegria a Solenidade de Jesus Mestre e Pastor, Caminho, Verdade e Vida, Aquele que nos conduz à plenitude da comunhão com o Pai. Diante d’Ele, aprendemos que o verdadeiro discipulado se faz na escuta, na humildade e na confiança.

“Quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado.” (Lc 18,14)

Há parábolas que nos desnudam. Diante delas, não há como permanecer indiferente. A parábola do fariseu e do publicano é uma dessas joias que Jesus nos oferece para iluminar o interior do coração.

Dois homens sobem ao templo para rezar. Ambos parecem fazer o mesmo gesto, mas seus corações trilham caminhos opostos. O fariseu ergue os olhos e o peito: recita sua oração com segurança e autossuficiência. Suas palavras ecoam o som do próprio ego: um louvor que termina em si mesmo.
O publicano, por sua vez, permanece à distância. Não tem coragem de olhar para o alto; suas mãos não se elevam, seu corpo se curva. Apenas murmura: “Meu Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!”.

A cena é silenciosa, mas carregada de sentido. Jesus conclui: “Eu vos digo: este último voltou para casa justificado, o outro não.” O contraste é radical. O fariseu cumpre a lei, mas reza a si mesmo. O publicano é pecador, mas reza de verdade. O primeiro busca afirmar-se diante de Deus; o segundo, deixar-se encontrar por Ele.

A oração que nasce da verdade

Este Evangelho, proclamado ao final do Tempo Comum, é um convite à autenticidade. Não basta rezar; é preciso rezar com verdade. O fariseu é o retrato da religião quando se esquece do amor: cumpre ritos, mas não se deixa transformar. O publicano é o retrato da alma que, ao reconhecer sua miséria, abre espaço para a graça.

A oração do fariseu é feita de comparações e méritos; a do publicano, de arrependimento e confiança. Um se exalta e se fecha. O outro se humilha e se abre. Na lógica do Reino, é o vazio que Deus preenche.

Rezar é um ato de despojamento. Quando nos colocamos diante do Senhor, não para mostrar quem somos, mas para deixar que Ele nos diga quem somos, então a oração se torna encontro.

A parábola do fariseu e do publicano não é apenas um contraste moral; é um espelho espiritual. Em algum momento, todos nós carregamos um pouco dos dois dentro de nós. Às vezes, somos o fariseu que se julga justo; outras, o publicano que se sente indigno. O importante é que, como o publicano, nunca deixemos de subir ao templo, isto é, nunca deixemos de procurar a Deus.

A humildade não é se rebaixar, mas permitir que Deus seja Deus. É admitir que nossa força está na dependência d’Ele, que nossa oração mais pura é o simples “tem piedade de mim”.

Neste domingo, ao celebrarmos Jesus Mestre e Pastor, somos convidados a aprender com Ele o caminho da verdade interior. O Mestre não despreza quem se sente pequeno; o Pastor não abandona quem se reconhece perdido. Aos olhos do mundo, a humildade pode parecer fraqueza; aos olhos de Deus, é o solo fértil onde germina a graça.

O eco das demais leituras

A primeira leitura, do livro do Eclesiástico (35,15b-17.20-22a), reforça a convicção de que Deus não se deixa comprar por aparências. “Ele não faz diferença entre pessoas”, diz o texto. “A oração do pobre atravessa as nuvens.” O pobre, aqui, é todo aquele que não tem outro apoio senão Deus. O publicano é, portanto, a concretização desse “pobre” do Eclesiástico: um homem despojado, sem títulos nem méritos, mas que confia plenamente na misericórdia divina.

O Salmo 33(34) é o canto que dá voz a essa experiência: “O pobre clama, e o Senhor o escuta.” O salmista não fala da pobreza como miséria, mas como lugar de encontro com Deus. É no limite humano que se revela a força divina. O louvor do salmo é humilde, mas transbordante. Brota da gratidão de quem experimentou ser sustentado pelo amor.

Na segunda leitura (2Tm 4,6-8.16-18), São Paulo fala com serenidade de quem viveu inteiramente para o Evangelho: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé.” Mas o apóstolo não se exalta. Reconhece que tudo é graça: “O Senhor esteve ao meu lado e me deu forças.” Paulo se torna, assim, o exemplo maduro da atitude do publicano: alguém que se sabe fraco, mas confia no Senhor que o fortalece.

O silêncio onde Deus habita

No fim da parábola, o publicano desce do templo em silêncio. Nenhuma palavra triunfante, nenhum gesto de vitória. Apenas o coração em paz, o coração justificado.

É assim que Deus age: em silêncio, no íntimo, transformando o coração que se deixa amar. Que nossa oração, neste domingo, seja como a dele — breve, sincera e verdadeira: “Senhor Jesus, Mestre e Pastor, Caminho, Verdade e Vida, tem piedade de mim e ensina-me a caminhar na tua luz.”

Porque quem se humilha será exaltado, e é no silêncio dos humildes que o Mestre fala mais claramente.

Jesus Mestre e Pastor: o Caminho dos humildes

Neste domingo, a Família Paulina celebra a Solenidade de Jesus Mestre e Pastor, Caminho, Verdade e Vida. É belo notar como o Evangelho nos leva exatamente a essa experiência: o fariseu permanece em si, perdido em seu próprio caminho; o publicano se deixa conduzir pelo Mestre, que é o verdadeiro Caminho.

Jesus é o Mestre que ensina não apenas com palavras, mas com o gesto humilde de quem se inclina para servir. É o Pastor que guia com ternura, que busca a ovelha perdida e se alegra com o seu retorno.
É o Caminho que nos liberta das ilusões da perfeição aparente.
É a Verdade que nos mostra o rosto de Deus, não como juiz severo, mas como Pai compassivo.
É a Vida que brota quando reconhecemos que não somos o centro: Ele é.

Ser discípulo do Mestre é aprender a orar como o publicano: com o coração exposto, sem máscaras, sem defesas.

Assine, renove e divulgue a revista de liturgia.

O CORAÇÃO DA ESPIRITUALIDADE PAULINA: JESUS MESTRE, CAMINHO, VERDADE E VIDA

A vastidão da espiritualidade cristã é rica em métodos, carismas e escolas de santidade, cada um oferecendo uma via singular para o encontro profundo com Deus. No entanto, para o Bem-aventurado Tiago Alberione (1884-1971), fundador da Família Paulina, a essência de todo o itinerário de fé e apostolado converge para uma única e fundamental figura: Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida. Esta não é apenas uma devoção, mas a espinha dorsal de um método de vida espiritual e missionária que ele legou aos seus filhos e filhas.

Esta fórmula, extraída da eloquente passagem evangélica de João 14,6 – “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vem ao Pai senão por Mim” –, não é, na visão de Alberione, uma simples tríade de atributos. É, antes, a “definição completa” que Jesus deu de Si mesmo, o Cristo total, que se oferece à pessoa humana inteira. O método de Jesus Mestre é, portanto, uma espiritualidade integral que visa a conformação perfeita do crente a Cristo em todas as dimensões da sua personalidade: mente, vontade e coração.

A Urgência de uma Espiritualidade Integral

Tiago Alberione viveu a sua juventude e fundou as suas congregações no início do século XX, um tempo marcado por profundas transformações sociais, científicas e culturais. O progresso acelerado da técnica e a emergência dos poderosos meios de comunicação social (imprensa, cinema, rádio) exigiam uma nova forma de evangelização. Alberione intuiu que, para responder aos desafios do novo século, não bastava usar os novos instrumentos; era preciso, sobretudo, forjar um “homem novo”, um apóstolo plenamente formado e estruturado em Cristo, capaz de inserir a mensagem evangélica na cultura da comunicação.

É neste contexto que a proposta de Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida revela a sua genialidade e a sua profunda sabedoria pastoral. Alberione compreendeu que a fragmentação da vida moderna, com as suas divisões entre fé e vida, razão e sentimento, exigia uma síntese poderosa. O método paulino oferece essa síntese, garantindo que o apostolado e a santidade não sejam realidades separadas, mas faces da mesma moeda: a vida vivida em e por Cristo.

Desdobrando a Tríade: Mente, Vontade e Coração

A genialidade de Tiago Alberione consistiu em associar cada termo da fórmula de Jesus a uma faculdade fundamental da alma humana, transformando-a num roteiro prático para a santificação e a missão.

1. Jesus Mestre: A Verdade (Mente/Intelecto)

A primeira dimensão é Jesus como a Verdade. Na visão de Alberione, esta Verdade corresponde à Mente ou ao intelecto do ser humano.

Jesus é o Mestre Divino, a Palavra feita carne que ensina a plenitude da doutrina e revela o mistério do Pai. A santificação da mente passa, primeiramente, pelo conhecimento, pelo estudo e pela assimilação da doutrina de Cristo, que é a única capaz de libertar o indivíduo do erro, das trevas e dos “pensamentos inúteis” que o afastam da realidade de Deus.

O método exige, portanto, um esforço contínuo para pensar em Cristo e com Cristo. A meta é alcançar a suprema altura da personalidade, onde se pode dizer: “Não sou eu que penso em Jesus Cristo, mas é o Cristo que pensa em mim”. Esta dimensão implica um profundo amor à Palavra de Deus, à Sagrada Escritura e ao Magistério da Igreja, para que a inteligência do apóstolo seja verdadeiramente iluminada pela luz da Verdade. É a base da formação, garantindo que o apóstolo da comunicação anuncie sempre uma mensagem sólida e verdadeira.

2. Jesus Mestre: O Caminho (Vontade/Ação)

A segunda dimensão é Jesus como o Caminho, associado à Vontade e à ação humana.

Se a Verdade ilumina a mente, o Caminho direciona a vida. Jesus não apenas ensinou o caminho, mas é o Caminho que conduz ao Pai. Esta dimensão está intrinsecamente ligada à moral, à prática das virtudes e ao dinamismo da santidade. O método de Alberione apela para que o apóstolo se torne um fiel seguidor de Jesus, imitando as Suas atitudes, os Seus gestos e, sobretudo, a Sua entrega total ao projeto do Pai.

A santificação da vontade exige a conformação do querer humano ao querer divino. O apóstolo busca querer em Cristo, esforçando-se para realizar a perfeição ensinada por Jesus: “Tornai-me perfeito, como o Pai que está nos céus”. Esta é a dimensão do apostolado, pois o Caminho de Jesus é um caminho em saída, em direção aos outros. Ao imitar o Caminho de Cristo, o apóstolo torna-se uma testemunha autêntica d’Ele diante dos homens.

3. Jesus Mestre: A Vida (Coração/Sentimento)

A terceira e decisiva dimensão é Jesus como a Vida, que corresponde ao Coração e aos sentimentos humanos.

A Vida de Cristo é o dom da graça, a plenitude do amor e a união íntima com Deus. É a dimensão que garante que o Caminho percorrido e a Verdade conhecida sejam vivificados pela caridade. Não basta conhecer a Verdade ou trilhar o Caminho; é preciso ter a Vida, que é o Espírito Santo operando no íntimo do ser.

A santificação do coração implica o desejo ardente de amar em Cristo e viver em Cristo. O apóstolo clama: “Jesus Vida, vivei em mim, para que eu viva em Vós”. Esta é a dimensão mística e afetiva, o cerne da devoção para Alberione. O apóstolo busca a união tão profunda com o Mestre que os seus sentimentos, as suas paixões e a sua alegria sejam os do próprio Cristo. É a dimensão que leva o apóstolo a ser uma presença que contagia a todos com o amor e a alegria de Jesus.

A Conformação Total: Mente, Vontade e Coração

O método de Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida, na visão de Tiago Alberione, não é um conjunto de exercícios a serem feitos separadamente, mas um dinamismo espiritual e apostólico em “sístole e diástole”, como o coração. O objetivo final é a cristiformidade, a formação de um ser novo que reflita Jesus de modo completo, em todas as suas faculdades.

Alberione sintetiza esta meta numa frase de extraordinária densidade teológica e mística, que é a chave de interpretação do seu método:

“Estabelecer-se totalmente em Jesus Mestre Verdade (mente), Caminho (vontade) e Vida (sentimento); até chegar à suprema altura da nossa personalidade, ou seja: não sou eu que penso em Jesus Cristo, não sou eu que amo em Jesus Cristo, não sou eu que quero em Jesus Cristo; é o Cristo que pensa em mim, que ama em mim, que quer em mim.”

Este ideal de identificação total com o Mestre Divino é a alma da Espiritualidade Paulina e a garantia da fecundidade do apostolado. A pessoa que alcança esta “suprema altura” é o “homem de Deus”, a “alma apóstola” que Alberione sempre desejou formar.

Para Alberione, o apóstolo completo é aquele que semeia as três coisas juntas:

  • Santidade (Caminho)
  • Verdade (Verdade)
  • Graça (Vida)

Quem semeia estas três juntas exerce um apostolado completo.

Alberione exortava os seus seguidores a pensar e a desejar o grande: “Ter um coração maior que os mares e os oceanos!”. Este coração é alimentado pela devoção a Jesus Mestre. Ao contemplar a figura de Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida, o apóstolo Paulino encontra a sabedoria (Verdade) para discernir os sinais dos tempos e as linguagens da cultura, o caminho (Caminho) para a ação audaciosa e persistente para a missão, e a força (Vida) que o faz consumir-se abundantemente (como São Paulo) para levar a todos o bem extremo que é Cristo.

Em conclusão, o método de Jesus Mestre é a síntese da espiritualidade e da missão para Tiago Alberione. Ele garante que a técnica e o espírito, o corpo externo e a alma do apostolado, permaneçam indissociáveis, fazendo de cada membro da Família Paulina um instrumento completo para que “Jesus Cristo seja conhecido, amado e vivido por todos” através dos instrumentos mais eficazes que o tempo presente oferece. É a herança de um místico que transformou um versículo evangélico no mais completo plano de vida e ação para o apóstolo moderno.

A VOSSA MISSÃO: DIFUNDIR A ESPIRITUALIDADE PAULINA

Este texto encerra uma série de Exercícios Espirituais pregados pelo Bem-aventurado Tiago Alberione às Pias Discípulas do Divino Mestre, em abril de 1966, na Casa Divino Mestre, em Ariccia. Trata-se de uma fala final, de tom profundamente espiritual e afetivo, em que o Fundador retoma os principais temas de sua espiritualidade e os entrega às irmãs como um verdadeiro testamento interior.

Em italiano, o texto “La vostra missione: diffondere la spiritualità paolina” (Fecho dos Exercícios Espirituais, Ariccia, 29 de abril de 1966), proferido pelo Bem-aventurado Tiago Alberione às Pias Discípulas do Divino Mestre: APD66

Alberione convida suas ouvintes a dar graças a Deus pelos frutos dos Exercícios (luzes, consolações e propósitos), lembrando que o agradecimento é o primeiro passo para receber novas graças. O clima do discurso é de recolhimento, alegria e missão, típico do encerramento de um retiro, mas também de envio: ele envia as irmãs novamente ao mundo, como portadoras da espiritualidade paulina.

No coração do texto está o chamado à missão de difundir o espírito paulino, que consiste em viver e anunciar Jesus Cristo como Caminho, Verdade e Vida. Essa tríplice dimensão expressa toda a pedagogia espiritual de Alberione:

  • Caminho, porque Cristo é a forma de viver, a via concreta da santidade;
  • Verdade, porque Ele ilumina a mente com a sabedoria do Evangelho;
  • Vida, porque comunica a graça e transforma o ser humano desde dentro.

Inspirado em São Paulo, Alberione recorda que essa espiritualidade nasce do Evangelho interpretado e vivido pelo Apóstolo das Nações, e que a presença de Maria “Rainha dos Apóstolos”, garante a fecundidade dessa missão.

O Fundador sublinha ainda a importância de uma vida interior profundamente unida a Cristo, cultivada no silêncio, na adoração e na meditação da Palavra. Ele fala de uma “meia vida claustral”: não o isolamento do mundo, mas um recolhimento que mantém o coração em contínuo diálogo com o Mestre Divino.

Para Alberione, viver o espírito paulino exige também fidelidade às Constituições, lidas e meditadas como caminho seguro de santificação. Nelas, a religiosa encontra a expressão concreta da vontade de Deus e o meio de viver “em Cristo e na Igreja”.

Na parte final, o texto assume um tom litúrgico e pedagógico: Alberione convida à renovação das promessas batismais e dos votos religiosos, e à formulação de propósitos pessoais para uma vida mais plena e coerente com a vocação. Ele estrutura a conclusão em três atos:

  1. Reavivar o batismo como raiz da vida cristã;
  2. Renovar os votos como caminho de amor perfeito — perfectae caritatis — em consonância com o Concílio Vaticano II;
  3. Confirmar os propósitos feitos diante de Cristo Eucarístico, com seriedade e verdade interior.

A homilia termina com uma bênção solene e um gesto de paternidade espiritual: Alberione promete rezar todos os dias por quatro intenções fundamentais (vocações, formação, santificação e apostolado), desejando que as irmãs vivam o lema paulino de sua revista: In Christo et in Ecclesia, “em Cristo e na Igreja”.

Assim, este texto pode ser lido como uma síntese luminosa da espiritualidade paulina: união com Cristo Mestre, amor à Igreja, fidelidade à vocação e ardor apostólico. Nele, o Fundador transmite não apenas conselhos práticos, mas um itinerário espiritual completo. Um verdadeiro caminho de contemplação e de missão, de silêncio e de anúncio, de comunhão e de vida interior.

Segue o texto na íntegra, traduzido em português:


22. A VOSSA MISSÃO: DIFUNDIR A ESPIRITUALIDADE PAULINA

(Conclusão dos Exercícios Espirituais)

Exercícios Espirituais (21-29 de abril de 1966) às Pias Discípulas do Divino Mestre.
Ariccia, Casa Divino Mestre, 29 de abril de 1966

“Agimus tibi gratias… pro universis beneficis tuis.”
Durante dezoito anos, sempre nos fizeram recitar o agradecimento: de manhã, após o estudo, após a escola, depois de cada atividade: “Senhor, nós Vos agradecemos pelos benefícios que nos concedestes.”
E agora, todas vocês, juntas: Agimus tibi gratias. Senhor, nós Vos agradecemos pelos benefícios destes Exercícios, pelas inspirações, pela luz, pelo conforto e pelos propósitos feitos. Oh! Agradeçamos ao Senhor. Ao agradecer, vocês se asseguram de novas graças da misericórdia de Deus. Como o Senhor é bom! Como tem sido bom com vocês! Desde o nascimento até o momento em que chegaram à consagração ao Senhor — e quão mais crescerão as graças depois da profissão perpétua! E, no fim da vida, se tiverem correspondido, direis o Te Deum, o Agimus tibi gratias pro universis beneficis tuis. Agradecer!

Agora, dois pensamentos para a conclusão destes santos Exercícios, que fizestes com tanto zelo e fervor.

O primeiro pensamento é este: a vossa missão de levar e viver, em toda a Família Paulina, Jesus Cristo Caminho, Verdade e Vida. Eis: Caminho, Verdade e Vida!

Este é o espírito paulino. Porque o espírito paulino consiste no Evangelho: Jesus Cristo, sua vida, sua pregação, sua paixão, morte, ressurreição e glorificação à direita do Pai. Este Evangelho, interpretado e aplicado por São Paulo — o Evangelho explicado e concretizado nos detalhes que nos dizem respeito, pela sua pregação e pelas suas cartas.

E, para que isto aconteça, é necessária a proteção de Maria. Vocês têm esta santa missão de difundir a espiritualidade paulina, sim. Fazendo a vossa parte — entrando na intimidade de Jesus Cristo Caminho, Verdade e Vida, segundo as pregações e as cartas de São Paulo, e sob a proteção de Maria — possuireis o verdadeiro espírito paulino, e o alcançareis para toda a Família Paulina. Eis, sim: esta é uma grande missão.

E neste sentido, deveis conduzir a vida com meia vida claustral. Essa “meia vida claustral” corresponde ao silêncio e ao recolhimento, para que sempre exista comunicação da alma com Jesus Cristo.

Se falamos pouco com os homens… é preciso falar nas necessidades, mas, nas demais coisas… Quando há essa vida semi-claustral, ela participa, comunica e vivifica a vida em Cristo e no Divino Mestre, que ensinou com o exemplo, com a palavra e com a graça.

Portanto, esse silêncio habitual — mesmo quando há necessidade de falar — e também as recreações e comunicações fraternas, devem acontecer com moderação: de um lado, comunicam-se as coisas necessárias e se leva alegria à comunidade; de outro, o restante é vivido com Jesus, em Jesus, e no Divino Mestre.

Porém, ainda não existe plenamente entre vocês essa espiritualidade em Jesus Cristo Mestre Divino — mas já há certo grau, e Deus seja bendito! É preciso progredir neste sentido, vivendo cada vez mais em Cristo: Vivit vero in me Christus — “vive em mim Cristo” (Gl 2,20).

Cristo vive em nós na medida em que é Caminho, Verdade e Vida: domina a vontade, ilumina a mente e comunica a graça. Grande é a vossa missão! Oh, grande é a vossa missão!

E para viver esse espírito, é necessária a observância das Constituições. Leiam e releiam as Constituições, ao menos uma vez por ano, devagar, refletindo. Durante a Visita: adoração e reflexão. Ano após ano haverá progresso no conhecimento de Jesus Cristo e no crescimento do espírito paulino em nós.

Amem as Constituições, como já disse no início dos Exercícios. É preciso amar as Constituições aprovadas pela Igreja — pois, pela orientação da Igreja, elas vos introduzem na verdadeira santidade, na vossa santidade própria — da Família Paulina e, em particular, de vocês.

Meditem sobre os artigos das Constituições. Às vezes, um artigo pode não se aplicar diretamente a uma pessoa, porque não exerce aquele ofício, mas é preciso sempre considerar e meditar: uns servem para cada uma pessoalmente, outros aplicam-se às demais irmãs. Amem muito as Constituições. Quando se faz a profissão, é entregue o livro das Constituições — e até antes, no noviciado.

Eis, então, os dois pensamentos para o encerramento destes Exercícios Espirituais.

Obtêm-se muitas graças — mas antes é preciso adorar e agradecer.
Quando a oração se divide em quatro partes — adoração, agradecimento, reparação e súplica — devemos adorar a Deus, o Divino Mestre Jesus Cristo, e depois agradecer-Lhe por tudo: pela vocação, pela Congregação, pela vida da Igreja. Se compreendermos bem a Igreja para vivê-la, especialmente nesta parte da Igreja que é vossa e nossa, então vivemos as Constituições.

Porque em Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida — mas, como se chega a isso? — por meio das Constituições, sim.

Agora que realizastes bem os Exercícios, há três pontos de conclusão a recordar:

  1. Renovação das promessas batismais — o batismo como cristãs;
  2. Renovação dos votos religiosos — como religiosas;
  3. Propósitos para viver melhor a vida religiosa segundo o espírito das Pias Discípulas.

Primeiro: a renovação das promessas batismais (ou “votos batismais”). Seja qual for o nome, o sentido é o mesmo. Quando nascemos — vida humana — o Senhor nos deu também a vida da graça, a vida cristã. Assim, tornamo-nos cristãos; a criança vive da graça. Mas houve um pacto: para que o Senhor conceda a graça por meio do batismo, é preciso que se façam promessas.

Por isso, antes do batismo, o sacerdote pede o compromisso — digamos assim — assumido em nome da criança pelos padrinhos. E o Senhor concede a graça. O compromisso é viver cristamente, seguir o Divino Mestre, Caminho, Verdade e Vida; crer nas verdades ensinadas por Jesus Cristo e viver segundo Ele — na graça e crescendo nela a cada dia.

O segundo ponto diz respeito aos votos religiosos.
Depois da vida humana e da vida cristã, vem a vida religiosa: a terceira vida, vida de aperfeiçoamento — perfectae caritatis, como diz o Decreto do Concílio Vaticano II sobre a vida religiosa. Perfectae caritatis significa amar perfeitamente, amar completamente a Deus com todo o ser, sem buscar outra coisa. E amar o próximo, buscando a salvação das almas — amando-as de todas as maneiras, através dos apostolados que vos são confiados.

Portanto, o empenho nos apostolados distribuídos na Congregação: todas as Pias Discípulas, quanto à vida eucarística; e depois, conforme os ofícios, o serviço sacerdotal e o serviço litúrgico.

Agora é certamente o momento mais belo do ano. Tendes ótimas disposições e, portanto, também uma compreensão mais profunda da vida religiosa e da observância. É a luz recebida nestes dias. Compreendei cada vez mais a vida religiosa. É um momento de máxima preparação. Às vezes, recitam-se as fórmulas superficialmente, mas agora, profundamente: a total doação ao Senhor — mente, coração, vontade, imaginação, memória, olhos, ouvido, língua, tato… Tudo de Deus, tudo de Jesus Cristo.

O compromisso de fazer tudo o que as Constituições contêm e o que está compreendido na renovação dos votos religiosos.

O terceiro ponto diz respeito aos propósitos pessoais.
Esses propósitos devem ser mantidos. Podem ser gerais — relativos à vida religiosa —, mas cada uma tem suas necessidades, dificuldades e propósitos particulares para viver melhor a própria consagração.

Agora, dois minutos de silêncio, para que cada uma apresente seus propósitos a Jesus na Eucaristia, aqui presente. Cuidemos para não brincar com Jesus — não apenas escrever palavras, mas que haja profundidade: “Quero, e, com a tua graça, espero conseguir observá-los.” Assim, quando voltardes aos Exercícios, podereis perguntar-vos: “Cumpri realmente o que havia prometido?”

Agora, dois minutos de silêncio para que cada uma apresente seus propósitos a Jesus.
Louvado seja Jesus Cristo.

Neste ano, rezai muito. Digo-vos que todas as manhãs, antes da Missa, peço quatro graças:

  1. As vocações;
  2. Uma santa formação — antes do hábito, depois do hábito, durante o noviciado e o tempo dos votos temporários;
  3. O trabalho de santificação na observância das Constituições;
  4. O apostolado — para a glória do Senhor e a salvação das almas, no espírito da Igreja, vivendo in Christo et in Ecclesia, como é o título da vossa publicação.

E então:
“A bênção de Deus onipotente, Pai, Filho e Espírito Santo, desça sobre vós e permaneça sempre.”
Amém. Deo gratias.

Recordai estas quatro graças. O Senhor esteja sempre convosco.

TRÍDUO A JESUS MESTRE

A Família Paulina celebra, neste próximo final de semana, a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Mestre e Pastor, Caminho, Verdade e Vida, devoção profundamente enraizada na espiritualidade paulina e confiada pelo venerável Pe. Tiago Alberione a toda a sua admirável Família.

Por que a Família Paulina celebra Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida?

A Família Paulina celebra com profunda alegria e fé a Solenidade de Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida, expressão central da espiritualidade e do carisma deixados pelo seu fundador, o Bem-aventurado Pe. Tiago Alberione.

Inspirado no Evangelho de São João: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6), Pe. Alberione reconheceu em Jesus o Mestre divino que conduz toda a pessoa humana ao encontro pleno com Deus: iluminando a mente com a Verdade, fortalecendo a vontade no Caminho do bem e vivificando o coração com a Vida da graça.

Essa tríplice dimensão revela a integridade do seguimento de Cristo e orienta a missão paulina de “viver e comunicar Jesus Mestre ao mundo inteiro”, especialmente por meio dos instrumentos da comunicação social e das diversas formas de apostolado moderno.

Na liturgia, a Solenidade de Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida, celebrada tradicionalmente no último domingo de outubro, é um momento de renovação espiritual para todos os membros da Família Paulina. É a ocasião de reafirmar o compromisso de seguir e anunciar Cristo Mestre, modelo perfeito de humanidade e fonte de toda sabedoria, amor e vida.

Em preparação para esta solene comemoração, apresentamos uma proposta de celebração do tríduo, conforme o Ofício Divino das Comunidades, a ser rezado no Ofício de Vésperas.

Anexamos, ainda, o roteiro para o Ofício de Vigília, a ser celebrado no sábado, bem como os cantos próprios para a Solenidade de Jesus Mestre, a fim de favorecer uma vivência orante e comunitária mais profunda deste mistério de fé.

Tríduo de preparação, 2025 – OFÍCIO DA TARDE

1. CHEGADA – Ô, ô, ô, Nós te adoramos o Cristo.

2. ABERTURA

– Vem, ó Deus da vida vem nos ajudar, (bis)
Vem não demores mais vem nos libertar! (bis)

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Santo Espírito. (bis)
Glória à Trindade Santa, glória ao Deus bendito! (bis)

– Mestre e verdade és, Cristo Jesus (bis)
Nosso caminho e vida, Sol que nos conduz. (bis)

3. RECORDAÇÃO DA VIDA

4. HINO melodia: hino da tarde, quinta, véspera II semana.

Ó Verbo de Deus Pai / bem antes do universo.
Tua luz brilhou nas trevas / que o mundo estava imerso.

De tua plenitude  / nós todos recebemos,
Que a glória de Deus Pai / em ti nós contemplemos.

Divino Mestre amado, / ó vem nos conduzir
A nossa fé sustenta / pra sempre te seguir.

Verdade, te escutamos / Caminho, te seguimos
Ó Vida, em ti nós cremos / Amor da nossa vida.

Glorificado sejas, / Jesus, Mestre e Pastor,
Ao Pai e ao Espírito / o nosso igual louvor.

5. SALMODIA

1º dia:
Salmo 119 – ODC p. 154  [melodia da antífona, Gelineau].
Ant. A palavra de Deus é a verdade sua lei liberdade
Cântico de Timóteo – Lembra-te ODC p. 258 [N. 46]

2º dia:
Salmo 25 – ODC P. 142
Ant. Ensina-me Senhor os teus caminhos,
     Tua Palavra me oriente e me conduza.
Cântico 1Tm 3,16 – ODC, p. 708 – melodia: O Senhor me disse
Ant.: Grande é o mistério da piedade, Cristo, salvador.

3º dia:
Salmo 1
Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vai ao Pai a não ser por mim [João 14,6]
Cântico de filipenses, ODC, p. 256 [n. 43]
Adoremos a Cristo, Verbo do Pai, que se fez servo, para ser nosso caminho e nossa vida.

6. LEITURA BÍBLICA

1º DIA:  Gálatas 2,19b-20
Leitura da carta do apóstolo Paulo ao Gálatas. Estou crucificado com Cristo. E já não sou eu que vivo: é Cristo que vive em mim. E a vida que vivo agora na carne, eu a vivo pela fé no Filho de Deus que me amou e se entregou por mim. Palavra do Senhor.

Responso: Fl1,20-21;3,14
Cristo será engrandecido no meu corpo, pela vida ou pela morte,
pois para mim o viver é Cristo, e o morrer é apenas lucro.
Sabeis que eu tenho por missão a defesa do Evangelho, pois para mim o viver é Cristo…
Esquecendo o que fica para trás, corro em direção à meta, pois para mim o viver é Cristo…

2º DIA:  2Pedro 1,16-19
Leitura da segunda carta de Pedro. Quando ensinamos a vocês sobre a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, não tiramos isso de fábulas artificiais. Nós ensinamos porque fomos testemunhas oculares da grandeza dele. Pois ele recebeu honra e glória de Deus Pai, quando uma voz vinda da sua majestade lhe disse: “Este é meu Filho amado, no qual encontro o meu agrado”. Essa voz, vinda do céu, nós a ouvimos quando estávamos com ele no monte santo. Com isso, a mensagem profética se confirma em nós. E vocês farão bem recorrendo a ela como lâmpada que brilha na escuridão até que amanheça o dia, e brilhe em suas mentes a estrela da manhã. Palavra do Senhor.

Responso: melodia: nas águas do jordão:
– Tua Palavra, Senhor, * é luz em meu caminho.
– Tua Palavra, Senhor, * é luz em meu caminho.
– Ensina-me a seguir teus passos.
é luz em meu caminho.
Glória ao Pai e ao Filho, * e ao Espírito Santo.
– Tua Palavra, Senhor, * é luz em meu caminho.

3º DIA2 Timóteo 3, 14-17
Leitura da segunda carta de Paulo a Timóteo. Quanto a você, fique firme naquilo que aprendeu e aceitou como certo. Você sabe de quem o aprendeu. Desde a infância, você conhece as Sagradas Letras, que podem dar-lhe a sabedoria que leva à salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, refutar, corrigir, educar na justiça. Assim, a pessoa que é de Deus estará capacitada e bem preparada para toda boa obra. Palavra do Senhor.

Responso:ODC p. 426, n. 370
– Inclina, Senhor meu ouvido * para a tua palavra.
Inclina, Senhor meu ouvido * para a tua palavra.
Desperta o meu coração
para a tua palavra.
Glória ao Pai e ao Filho, * e ao Espírito Santo.
Inclina, Senhor meu ouvido * para a tua palavra.

7.  MEDITAÇÃO – Silêncio…

8. CÂNTICO DE MARIA (melodia: Refrão meditativo, n. 14a, p. 8)

Ant.Vivo na fé do filho de Deus
que me amou e se entregou por mim.

Ou: ODC 237 Ant: Weber ciclo pascal faixa 22

Ant.:Eu sou o caminho a verdade e a vida,
        ninguém vai ao Pai se por mim não passar

Ant.: Já não sou mais eu que vivo,
        é Cristo que vive em mim.

9. PRECES

1º DIA
Oremos ao Cristo, Senhor e Mestre, único mediador da nossa salvação:

Só tu, tens Palavra de vida eterna!

– Ó Cristo, que em ti reconciliaste todas as coisas, faze que a humanidade, dilacerada pelas divisões, encontre a paz e a unidade, nós te pedimos.

– Ó Cristo, que te fizeste caminho para a humanidade, ilumina toda pessoa que busca um sentido em sua vida, nós te pedimos.

– Ó Cristo, que te compadeceste das nossas fraquezas, sustenta as vítimas das injustiças e da violência institucionalizada.

– Ó Cristo. guarda-nos na comunhão dos santos, com nosso Pai Alberione e nossa Madre Escolástica, e com todas as testemunhas do Reino.

Preces espontâneas…

Dá, ó Senhor, às Igrejas cristãs, a unidade visível.
Que nós sejamos um para que o mundo creia. Pai nosso

2º DIA
Invoquemos irmãos e irmãs, o Santíssimo nome de Jesus

Cristo, Filho do Deus vivo, tem piedade de nós.
Cristo, Palavra do Pai, nosso Mestre e Pastor, tem piedade de nós.
Cristo, Verdade, Caminho e Vida, tem piedade de nós.
Cristo, Sol da justiça, tem piedade de nós.
Cristo, força dos mártires, tem piedade de nós.
Cristo, Senhor do universo, tem piedade de nós.
Cristo, Estrela da manhã. Tem piedade de nós.

Invocações espontâneas…

Dá, ó Senhor, às Igrejas cristãs, a unidade visível.
Que nós sejamos um para que o mundo creia. Pai nosso

3º DIA
De coração agradecido, invoquemos a Jesus, nosso Mestre e nossa vida.

Ouve Senhor, a nossa oração.

– Filho de Deus, invocamos a tua compaixão sobre toda a família humana.- Faze-nos viver da tua vida e caminhar como filhas e filhos da luz, na alegria do Evangelho.

– Aumenta a fé da Igreja, para que esteja sempre pronta a dar testemunho de amor no serviço dos pobres.

– Consola os que estão tristes e manifesta o teu rosto aos que estão desanimados.

Preces espontâneas…

Dá, ó Senhor, às Igrejas cristãs, a unidade visível.
Que nós sejamos um para que o mundo creia. Pai nosso

Pai-nosso

Oração [santo Ambrósio]
“Nós te seguimos, Senhor Jesus,
mas para que te sigamos, chama-nos.
Pois sem si, ninguém caminha.
Tu és com efeito o Caminho, a Verdade e a vida.
Recebe-nos como estrada acolhedora,
acalma-nos como só a verdade pode acalmar.
Vivifica-nos, porque só tu és a vida”.
Tu que és nosso Senhor e Mestre,
com o Pai e o Espírito Santo. Amém

Ou

Ó Deus, que na plenitude dos tempos
falaste à humanidade na pessoa
do teu amado Filho, Jesus Cristo,
concede-nos reconhecê-lo por nosso Mestre e Senhor,
segui-lo fielmente como discípulas
e anunciá-lo ao mundo
como Caminho, Verdade e Vida.
Ele que é Deus contigo,
na unidade do Espírito Santo. Amém

10. BÊNÇÃO

O Deus da vida que se revela na pessoa de Jesus nos cumule do seu Espírito e nos abençoe, o Pai e o Filho e o Espírito Santo. Amém!

–  Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo.
Para sempre seja louvado!

– Que o auxilio divino permaneça conosco
E com nossos irmãos e irmãs ausentes

CRESCER EM JESUS CRISTO, CAMINHO, VERDADE E VIDA

O texto “Crescer em Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida” é uma meditação proferida por Pe. Tiago Alberione às Pias Discípulas do Divino Mestre, em 14 de novembro de 1966, como preparação espiritual para o centenário do martírio dos santos Pedro e Paulo. Nesta reflexão simples e profunda, Alberione conduz as religiosas a contemplar o mistério do crescimento interior em Cristo, partindo da afirmação evangélica: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6).

Texto em italiano: APD66

O autor convida à introspecção e à oração, destacando que, assim como o corpo precisa de alimento material, a alma necessita ser continuamente nutrida pela graça. Esse alimento espiritual é o próprio Cristo, que se oferece na Eucaristia e na Palavra como fonte de vida abundante. Alberione explica que o verdadeiro crescimento cristão consiste em conformar a vontade, o pensamento e o amor aos de Cristo — caminhando em obediência (Caminho), iluminando a mente pela fé (Verdade) e vivendo no amor a Deus e ao próximo (Vida).

A meditação propõe um exame de consciência: estamos realmente crescendo em Jesus Cristo? Estamos deixando que Ele viva em nós, como dizia São Paulo: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20)? Com esse chamado, Alberione recorda que a santidade é um processo contínuo, que dura até o último suspiro, e que se alimenta na oração, na fidelidade à vocação e no amor à Igreja.

Lida hoje, essa meditação conserva toda a sua atualidade: é um convite à formação interior, à vida eucarística e à comunhão com o Espírito do Concílio Vaticano II, que renovava a Igreja naquele tempo. Alberione, com sua clareza e fervor, nos convida a crescer com Cristo, por Cristo e em Cristo — até que seja Ele a viver plenamente em nós.

55. CRESCER EM JESUS CRISTO, CAMINHO, VERDADE E VIDA

Meditação à Comunidade das Pias Discípulas do Divino Mestre em preparação ao ano centenário do martírio dos santos Pedro e Paulo.
Roma, Via Portuense 739, 14 de novembro de 1966

Neste tempo, especialmente em novembro e dezembro, somos convidados a refletir e a rezar. Façamos, pois, uma breve meditação. Devemos considerar que o ser humano é composto de alma e corpo, e que se alimenta com o alimento material; mas, além do corpo, há aquilo que é o homem em sua essência, isto é, a vida sobrenatural. Assim como o corpo precisa de alimento, também a alma necessita de nutrição, sim, a alma que, quando vive em estado de graça, cresce em santidade e continua a corresponder ao amor de Deus. Devemos, portanto, considerar esta vida sobrenatural, a vida da graça, a vida que Jesus Cristo nos concedeu.

A alma precisa de alimento espiritual para crescer. O Senhor disse: “Vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10). São Paulo também nos ensina a crescer em Jesus Cristo (cf. Ef 4,15). E o mesmo São Pedro exorta: “Crescei em espírito, em Cristo” (cf. 1Pd 2,2). Assim, recebemos esta vida sobrenatural, uma vida que pode crescer continuamente. O homem, quando chega aos 20 ou 22 anos, já não cresce mais fisicamente. Mas a alma, sim, quando vive na graça e deseja verdadeiramente crescer em Cristo, pode crescer dia após dia, ano após ano, até o fim da vida presente. Crescer, sim! O próprio Jesus nos fez compreender isso quando o Evangelho diz que Ele “crescia em sabedoria, em estatura e em graça” (Lc 2,52).

Qual é, então, o nosso alimento? É o próprio Jesus Cristo. Ele se fez pão, e o pão é transformado n’Ele. Jesus é o alimento de nossas almas; e cada dia, a vida espiritual se torna mais vigorosa. Assim, de que nos nutrimos? Alimentamo-nos do próprio Cristo, até o ponto em que Ele domina plenamente a parte humana de nosso ser. Então se realiza o que diz São Paulo: “Vivit vero in me Christus”: é Cristo quem vive em mim (Gl 2,20).

Jesus Cristo disse de si mesmo: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). Ele é aquele que nos alimenta.

“Eu sou o Caminho”: crescer em Jesus Cristo, Caminho, significa caminhar como Ele quer, trilhar o caminho da santificação, o caminho da vontade, isto é, o caminho da obediência. Peçamos ao Senhor o dom de oferecer-Lhe nossa vontade. Ele é o Caminho, aquele que nos indica a obediência ao desígnio do Pai.

“Eu sou a Verdade”: é Ele quem ilumina nossa mente. Devemos fazer com que nossos pensamentos se tornem os pensamentos de Cristo, que as verdades que guiam nossa vida sejam as que estão n’Ele. Assim, além do alimento da vontade, há o alimento da mente, a fé. Crescemos na fé quando pensamos como Cristo, quando deixamos que Ele pense em nós.

“Eu sou a Vida”: a vida é o amor a Deus e ao próximo. Jesus amou o Pai e amou as almas. Assim, meditando o que Ele disse de si mesmo — Caminho, Verdade e Vida —, pouco a pouco, Cristo entra em nós, formando em nosso interior a vontade, o pensamento, a fé e a caridade. A nutrição espiritual é contínua, especialmente a partir da Profissão religiosa, quando o crescimento deve tornar-se mais abundante. Há almas que progridem rapidamente, e outras que caminham mais devagar, algumas até retrocedem em certos momentos.

Examinemo-nos, então: estamos crescendo em Jesus Cristo? Crescemos segundo a Sua vontade? Nossa vontade está realmente submissa à d’Ele? E quanto à fé, ao amor? Como estamos caminhando? Neste tempo de maior recolhimento e oração, o crescimento espiritual se fará sentir cada vez mais. Há também almas que retrocedem mas, segundo o espírito que vos anima, estou convencido de que em vós há, dia após dia, um crescimento de vida. Assim, pouco a pouco, podemos chegar a dizer com São Paulo: “Mihi vivere Christus est” (“para mim, viver é Cristo”) (Fl 1,21); “já não sou eu quem vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).

Tomar São Paulo como protetor não é apenas porque foi pregador ou escritor, mas porque foi uma alma transformada em Cristo. É isso o que quero dizer nesta meditação: que nos conformemos à vida de São Paulo.

Em breve será enviada uma circular a toda a Família Paulina, pois nos aproximamos do centenário de São Pedro e São Paulo (1867–1967). No próximo ano, se o Senhor nos conservar a vida, deverá ser um tempo de nos aproximarmos mais de São Paulo, de seus pensamentos, de seus sentimentos. Sua vida foi toda ordenada a Cristo, toda voltada a Deus. Comecemos, pois, lendo a vida de São Paulo: há boas biografias disponíveis, e pensando em como poderemos expressar nosso afeto, nossa veneração e nossa oração.

Rezemos a São Paulo para que nos ajude a nos aproximar cada vez mais de Jesus Cristo, até que seja Ele quem viva em nós. Quando a alma cresce verdadeiramente, ainda assim pode crescer mais, alcançar uma santidade sempre maior, conforme as graças e o tempo que Deus nos concede.

Tenhamos este desejo, este propósito. Rezemos também a São Paulo por toda a Família Paulina: pelos que ingressam, pelos que crescem, e pelos que procuram corresponder à própria missão e vocação. Rezemos.

Hoje, a Família Paulina está presente em todos os cinco continentes: Europa, Ásia, África, América e Oceania. Rezemos, em primeiro lugar, pelas vocações; depois, por uma formação autenticamente paulina; pela santificação da vida religiosa; e, por fim, pelos frutos apostólicos, pelos frutos que chegam às almas com as quais entramos em contato. Rezemos, pois, por todos, por toda a humanidade, especialmente neste centenário.

Além disso, rezemos para que a Igreja possa realizar plenamente tudo o que foi estabelecido pelo Concílio Vaticano II. É uma graça imensa! Creio que já lestes os discursos do Papa nas audiências. Devemos acolher todos os seus pensamentos e desejos, acompanhá-lo com fidelidade. É admirável vê-lo trabalhar tanto, e o quanto Deus o tem sustentado em saúde. Rezemos por ele. É realmente um Pontífice suscitado por Deus para as necessidades deste tempo.

Concluindo: crescer, crescer sempre. Até quando? Até o último respiro. Entreguemos a Jesus Cristo nossa vontade, nossa mente, nosso coração. Cresçamos n’Ele, com Ele e por Ele.

E, por fim, sintamo-nos membros vivos e atuantes na Igreja, não vivendo apenas para nós mesmos, mas para a Igreja e para o Senhor. Eternidade! Eternidade!

Seja louvado Jesus Cristo.