FESTA DO DIVINO MESTRE

A meditação intitulada “Festa do Divino Mestre” foi proferida por o Bem-aventurado Tiago Alberione em 8 de janeiro de 1961, na Cripta do Santuário de Santa Maria Rainha dos Apóstolos, em Roma. Dirigida à Família Paulina, a reflexão é voltada de modo especial a todos os que vivem o chamado ao ministério e ao magistério na Igreja, aqueles que têm a missão de formar, ensinar e santificar.

Partindo da vida de Jesus Cristo, Alberione contempla sobretudo o período da vida oculta em Nazaré, tempo de silêncio, trabalho e crescimento, para destacar a importância da formação interior como fundamento de toda missão apostólica. Assim como Jesus “crescia em sabedoria, idade e graça”, também o discípulo-mestre deve crescer antes de ensinar: o fruto da vida pública depende da solidez da vida interior.

Os quatro pilares da formação segundo Alberione

Na meditação, o Fundador da Família Paulina apresenta quatro dimensões essenciais da formação dos mestres, inspiradas na ação de Jesus com seus apóstolos:

  1. Doutrina – Jesus oferece aos discípulos o conteúdo da nova lei, a lei do Evangelho e da caridade. O verdadeiro mestre é aquele que transmite a doutrina de Cristo, que é a própria Verdade.
  2. Exemplo de vida – O Mestre ensina uma moral de perfeição, que liberta o coração do mundo e convida à pobreza, castidade e obediência. A coerência de vida é parte essencial do magistério.
  3. Graça – Cristo comunica aos seus a vida sobrenatural. Sem a união com Ele, não há fecundidade apostólica. O mestre deve ser canal da graça e não apenas transmissor de ideias.
  4. Autoridade – Finalmente, Jesus envia: “Ide e ensinai”. O verdadeiro magistério nasce do envio e da missão recebida, e por isso é exercido com autoridade e fidelidade.

Mestre e discípulo: uma mesma missão

Alberione recorda que a formação é uma caminhada conjunta: não basta haver bons mestres se não houver discípulos abertos e dóceis ao aprendizado. A missão educativa cristã exige uma unidade viva entre quem ensina e quem aprende, onde ambos crescem na fé e na graça.

Toda a Família Paulina é chamada a viver essa dimensão magisterial. Seja na redação, na técnica ou na difusão, todos participam de um mesmo corpo moral e espiritual que tem a missão de sempre aprender de Jesus e sempre dar Jesus. O apostolado, portanto, é uma forma de ensino, um magistério vivido com amor e coerência.

Um magistério que se oferece

A meditação conclui com um apelo profundamente espiritual: o magistério não se limita a palavras ou publicações. Ele é uma oferta de vida. Inspirando-se em São Paulo, Alberione recorda: “Entrega o Evangelho, mas ainda mais, entrega-te a ti mesmo, a tua vida.”

Assim, toda celebração e todo apostolado se tornam oferenda. Na Eucaristia, centro da missão, o mestre e o discípulo unem-se para oferecer a própria existência, fazendo da vida um magistério vivo que comunica Cristo ao mundo.

Para ler e meditar

Ao ler o texto Festa do Divino Mestre, é importante perceber como Alberione entrelaça a Palavra de Deus, a experiência da formação humana e espiritual, e a missão apostólica. Ele convida a cada um a contemplar Jesus como modelo supremo de Mestre e a viver, no cotidiano, o mesmo espírito de obediência, amor e entrega que marcou a vida de Nazaré.


🔗 Texto original em italiano disponível em:
Opera Omnia – Festa del Divin Maestro (1961)


3. FESTA DO DIVINO MESTRE

…mas somente àqueles que entraram ou entram no ministério, no magistério.
Jesus ensinou a vida privada com o exemplo, retirado na solidão daquela pequena aldeia de Nazaré, onde “crescia em sabedoria, idade e graça”², “era-lhes submisso”³, humilde, exercitando-se na profissão de carpinteiro.
A vida privada, a vida retirada, assume importância pelo que se aprende, pelo que se realiza e se vive durante os anos de formação. Disto depende o fruto da vida pública. Tanto se realizará na vida pública quanto houver de preparação correspondente, isto é, suficiente, melhor.
Não se pode esperar mais também por outra razão: porque quem deverá ensinar e ser mestre, deve ser dotado de graça, deve ser santo, pois seu primeiro ofício é dar o exemplo e rezar pelas almas.
Jesus viveu a pobreza, a diligência no amor ao Pai, a obediência em tudo, exercitando-se na submissão a Maria e a José. E ali crescia.
Em redor, os vizinhos, os parentes, não se davam conta do seu admirável progresso e da sua vida interior, mas Ele crescia, e sua sabedoria, sua virtude e seu espírito de oração o acompanhavam — cresciam à medida que Ele crescia nos dias e nos anos daquela vida.

A parte da formação é decisiva para o seguimento da vida. É decisiva e, por isso, requer reflexão tanto de quem é mestre quanto de quem é discípulo. Eis o exemplo.
Quando São Pio X⁴ promulgou os novos regulamentos para a formação daqueles que deveriam tornar-se mestres⁵, exclamou-se: Pio X penetrou o espírito do Evangelho também sob este aspecto: “Instaurare omnia in Christo”⁶, isto é, a formação dos futuros mestres.

E o que fez Jesus durante sua vida pública?
A maior parte do tempo dedicou à formação das vocações.
Certamente pregou ao povo, mas durante suas pregações os apóstolos não estavam ausentes, ao contrário, estavam presentes, e, além disso, em suas pregações há muito que se refere unicamente aos apóstolos.

Eis: Ele se dedicou como Mestre aos seus noviços; primeiro os procurou — procurou as vocações.
Esse é um empenho de todos.
Se nós não chegamos a isso, não seguimos Jesus nem interpretamos seu modo de conduzir a vida pública e de formar seus discípulos, os futuros mestres.

Primeiro, as vocações: buscá-las.
Segundo, formá-las.
E como as formou?
Fez com que permanecessem com Ele, para que vissem como Ele vivia, o que dizia, o espírito com que operava e as provas que dava de ter vindo como Mestre: “Falou-nos por meio do Filho”⁷ — falou-nos Jesus.

Agora, querendo formar aqueles doze Mestres da humanidade, o que fez Jesus? Quatro coisas:

  1. Primeiro, forneceu-lhes a doutrina e revelou os segredos da nova lei — a lei evangélica, a lei do amor.
    E eles se maravilharam quando Ele, por exemplo, pronunciou o sermão da montanha, quando estabeleceu a nova lei, a lei da caridade, e depois agiu em conformidade com ela.
    Forneceu a matéria que os mestres devem ensinar.
    Ele era a própria doutrina, a própria verdade.
    Nós somos mestres apenas na medida em que pregamos a Ele, isto é, repetimos seu ensinamento.
  2. Segundo, não apenas deu aos apóstolos o exemplo de vida, mas ensinou-lhes uma lei moral, uma lei de perfeição que desprendesse o coração do mundo, que os fizesse sair de suas casas e famílias, mostrando-lhes que para eles havia uma missão imensamente maior do que a dos simples cristãos.
    Ensinou-lhes a pobreza, a castidade, a obediência; corrigiu-os muitas vezes quando mostravam não compreender a nova lei.
    “Até quantas vezes devo perdoar? Setenta vezes sete”⁸.
    A nova lei, que conhecemos pelos Evangelhos e pelas Cartas dos apóstolos, especialmente de São Paulo, que a interpretou e aplicou a casos particulares.
  3. Em terceiro lugar, Jesus deu aos apóstolos a graça, pois as almas devem ser confortadas pela graça, pela ajuda de Deus, e devem receber a nova vida, a vida sobrenatural.
    “Quem não permanecer em mim”⁹ — disse Jesus — “não pode chegar à graça”, e portanto não pode possuir a vida eterna.
    E os sacerdotes são dotados do poder de celebrar a Missa e comunicar a graça.
  4. Quarto, era necessário conceder aos novos mestres a “licença”, isto é, autorizá-los ao ensino com autoridade: “Ide, pregai e ensinai a fazer o que vos tenho dito e depois batizai em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”¹⁰.
    Assim, forneceu aos mestres tudo o que precisavam para cumprir sua missão.

Os mestres são, especialmente, os sacerdotes: o Papa, mestre infalível; os bispos, unidos a ele; e os sacerdotes que, sob sua direção, cumprem a missão de ensinar, guiar e santificar.
Tudo recebem de Jesus Cristo e devem ser administradores fiéis, como diz São Paulo¹¹, mestres fiéis, cumprindo juntos o magistério da palavra, o governo das almas e o ministério da graça e da salvação¹².

Eis então esses novos mestres que partem de Jerusalém, difundem-se pelo mundo e, com sua obra, sua palavra, seu exemplo e a comunicação da graça, fazem discípulas todas as nações: “Ide e fazei discípulas todas as nações”.

Eis o dever próprio dos mestres: realizar essas quatro coisas em relação aos que estão em formação.
E quem está em formação deve escutar e abraçar a doutrina, desde o catecismo até a teologia e a especialização; aprender o que é a moral, o direito, a ascética, a mística; e ser dotado dos meios de graça, isto é, possuir o poder de conferir a graça e o poder de celebrar, pois da Missa derivam os rios da graça e, portanto, a autoridade.

Nós ensinamos em nome de Jesus Cristo e é dever que nos escutem.
Assim, mestres e discípulos unidos para formar o novo Mestre, o Mestre do Novo Testamento, aquele que um dia deverá ser o Mestre do povo: “Foi-me dado todo o poder”¹³ e “Ide e ensinai”. “Como o Pai me enviou, assim eu vos envio”¹⁴ — a missão.
Portanto, Mestres completos, mas é necessário que existam discípulos completos.

Aqui, porém, é preciso fazer uma observação:
Como todo o nosso apostolado é ensino, o corpo moral da Família Paulina exerce esse ofício de ensinar. Tanto quem faz a redação quanto quem realiza a parte técnica ou a parte de divulgação, todos juntos constituem o corpo moral; todos juntos somos mestres.
Então: sempre aprender de Jesus, sempre dar Jesus.
Isto é o apostolado.

Leiam atentamente os artigos das Constituições que se referem a isso¹⁵:
primeiro, a Igreja, a doutrina da Igreja;
segundo, a Bíblia e celebrai o Ano Bíblico;
terceiro, a Tradição, representada de modo especial pelos Padres e escritores eclesiásticos, particularmente pelos ensinamentos dos Sumos Pontífices.

Portanto, a Missa: para quem está na vida privada, a Missa; para quem já exerce o magistério, unidos todos, ofereçamos tudo a Jesus.
E vós, durante a Missa, no ofertório, apresentai algum fruto do vosso magistério.
São Paulo diz a Tito: “Cuida de transmitir o Evangelho, mas, mais ainda, dá a ti mesmo, a tua vida”¹⁶.
Ofereçamos a nós mesmos, não só o magistério, todas as edições e todo o trabalho apostólico, mas a nossa própria vida consagrada a esta missão, vivendo ao máximo, quanto possível, o magistério de Jesus.
Portanto, oração e, por outro lado, imitação.


¹ Meditação feita à Família Paulina em Roma, na Cripta do Santuário de Santa Maria Rainha dos Apóstolos, em 8 de janeiro de 1961. Transcrição de fita: A6/an 91b = ac 155b. Falta a primeira parte.
² Cf. Lc 2,52.
³ Cf. Lc 2,51: “…estava-lhes submisso”.
⁴ Pio X, Giuseppe Sarto (1835–1914), Papa desde 1903. Seu pontificado foi marcado, em parte, pela luta contra o modernismo. Reformou a liturgia, atuou nos campos catequético e pastoral. Foi canonizado em 29 de maio de 1954 por Pio XII.
⁵ Cf. Pio X, Haerent Animo, Exortação Apostólica ao Clero Católico, 4 de agosto de 1908.
⁶ Lema do pontificado de Pio X. Cf. Ef 1,10: “…reunir em Cristo, como cabeça, todas as coisas…”.
⁷ Cf. Hb 1,2: “…falou-nos por meio do Filho”.
⁸ Cf. Mt 18,22.
⁹ Cf. Jo 15,5-6.
¹⁰ Cf. Mt 28,19.
¹¹ Cf. 1Cor 4,1-2.
¹² Don Alberione refere-se ao tríplice múnus do sacerdote: magistério da Palavra, ministério da graça e governo das almas.
¹³ Cf. Mt 28,18.
¹⁴ Cf. Jo 20,21.
¹⁵ Cf. Constituições de 1953, arts. 258-259.
¹⁶ Cf. Tt 2,7; cf. também 1Tm 4,11-12.


LITURGIA DO DIA: REFLEXÃO DO 30º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

26 de outubro de 2025
Evangelho: Lucas 18,9-14
Leituras: Eclesiástico 35,15b-17.20-22a; Salmo 33(34); 2 Timóteo 4,6-8.16-18
Celebração da Família Paulina: Solenidade de Jesus Mestre e Pastor, Caminho, Verdade e Vida

A liturgia deste domingo nos conduz ao coração da fé cristã: o encontro pessoal com Deus que ouve os humildes e exalta os que se reconhecem pequenos. À medida que nos aproximamos do final do Ano Litúrgico, a Palavra nos convida a uma revisão interior. Não para medir nossas conquistas espirituais, mas para reencontrar o sentido da oração, da fé e da confiança na misericórdia divina.

Neste mesmo domingo, a Família Paulina celebra com alegria a Solenidade de Jesus Mestre e Pastor, Caminho, Verdade e Vida, Aquele que nos conduz à plenitude da comunhão com o Pai. Diante d’Ele, aprendemos que o verdadeiro discipulado se faz na escuta, na humildade e na confiança.

“Quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado.” (Lc 18,14)

Há parábolas que nos desnudam. Diante delas, não há como permanecer indiferente. A parábola do fariseu e do publicano é uma dessas joias que Jesus nos oferece para iluminar o interior do coração.

Dois homens sobem ao templo para rezar. Ambos parecem fazer o mesmo gesto, mas seus corações trilham caminhos opostos. O fariseu ergue os olhos e o peito: recita sua oração com segurança e autossuficiência. Suas palavras ecoam o som do próprio ego: um louvor que termina em si mesmo.
O publicano, por sua vez, permanece à distância. Não tem coragem de olhar para o alto; suas mãos não se elevam, seu corpo se curva. Apenas murmura: “Meu Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!”.

A cena é silenciosa, mas carregada de sentido. Jesus conclui: “Eu vos digo: este último voltou para casa justificado, o outro não.” O contraste é radical. O fariseu cumpre a lei, mas reza a si mesmo. O publicano é pecador, mas reza de verdade. O primeiro busca afirmar-se diante de Deus; o segundo, deixar-se encontrar por Ele.

A oração que nasce da verdade

Este Evangelho, proclamado ao final do Tempo Comum, é um convite à autenticidade. Não basta rezar; é preciso rezar com verdade. O fariseu é o retrato da religião quando se esquece do amor: cumpre ritos, mas não se deixa transformar. O publicano é o retrato da alma que, ao reconhecer sua miséria, abre espaço para a graça.

A oração do fariseu é feita de comparações e méritos; a do publicano, de arrependimento e confiança. Um se exalta e se fecha. O outro se humilha e se abre. Na lógica do Reino, é o vazio que Deus preenche.

Rezar é um ato de despojamento. Quando nos colocamos diante do Senhor, não para mostrar quem somos, mas para deixar que Ele nos diga quem somos, então a oração se torna encontro.

A parábola do fariseu e do publicano não é apenas um contraste moral; é um espelho espiritual. Em algum momento, todos nós carregamos um pouco dos dois dentro de nós. Às vezes, somos o fariseu que se julga justo; outras, o publicano que se sente indigno. O importante é que, como o publicano, nunca deixemos de subir ao templo, isto é, nunca deixemos de procurar a Deus.

A humildade não é se rebaixar, mas permitir que Deus seja Deus. É admitir que nossa força está na dependência d’Ele, que nossa oração mais pura é o simples “tem piedade de mim”.

Neste domingo, ao celebrarmos Jesus Mestre e Pastor, somos convidados a aprender com Ele o caminho da verdade interior. O Mestre não despreza quem se sente pequeno; o Pastor não abandona quem se reconhece perdido. Aos olhos do mundo, a humildade pode parecer fraqueza; aos olhos de Deus, é o solo fértil onde germina a graça.

O eco das demais leituras

A primeira leitura, do livro do Eclesiástico (35,15b-17.20-22a), reforça a convicção de que Deus não se deixa comprar por aparências. “Ele não faz diferença entre pessoas”, diz o texto. “A oração do pobre atravessa as nuvens.” O pobre, aqui, é todo aquele que não tem outro apoio senão Deus. O publicano é, portanto, a concretização desse “pobre” do Eclesiástico: um homem despojado, sem títulos nem méritos, mas que confia plenamente na misericórdia divina.

O Salmo 33(34) é o canto que dá voz a essa experiência: “O pobre clama, e o Senhor o escuta.” O salmista não fala da pobreza como miséria, mas como lugar de encontro com Deus. É no limite humano que se revela a força divina. O louvor do salmo é humilde, mas transbordante. Brota da gratidão de quem experimentou ser sustentado pelo amor.

Na segunda leitura (2Tm 4,6-8.16-18), São Paulo fala com serenidade de quem viveu inteiramente para o Evangelho: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé.” Mas o apóstolo não se exalta. Reconhece que tudo é graça: “O Senhor esteve ao meu lado e me deu forças.” Paulo se torna, assim, o exemplo maduro da atitude do publicano: alguém que se sabe fraco, mas confia no Senhor que o fortalece.

O silêncio onde Deus habita

No fim da parábola, o publicano desce do templo em silêncio. Nenhuma palavra triunfante, nenhum gesto de vitória. Apenas o coração em paz, o coração justificado.

É assim que Deus age: em silêncio, no íntimo, transformando o coração que se deixa amar. Que nossa oração, neste domingo, seja como a dele — breve, sincera e verdadeira: “Senhor Jesus, Mestre e Pastor, Caminho, Verdade e Vida, tem piedade de mim e ensina-me a caminhar na tua luz.”

Porque quem se humilha será exaltado, e é no silêncio dos humildes que o Mestre fala mais claramente.

Jesus Mestre e Pastor: o Caminho dos humildes

Neste domingo, a Família Paulina celebra a Solenidade de Jesus Mestre e Pastor, Caminho, Verdade e Vida. É belo notar como o Evangelho nos leva exatamente a essa experiência: o fariseu permanece em si, perdido em seu próprio caminho; o publicano se deixa conduzir pelo Mestre, que é o verdadeiro Caminho.

Jesus é o Mestre que ensina não apenas com palavras, mas com o gesto humilde de quem se inclina para servir. É o Pastor que guia com ternura, que busca a ovelha perdida e se alegra com o seu retorno.
É o Caminho que nos liberta das ilusões da perfeição aparente.
É a Verdade que nos mostra o rosto de Deus, não como juiz severo, mas como Pai compassivo.
É a Vida que brota quando reconhecemos que não somos o centro: Ele é.

Ser discípulo do Mestre é aprender a orar como o publicano: com o coração exposto, sem máscaras, sem defesas.

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O CORAÇÃO DA ESPIRITUALIDADE PAULINA: JESUS MESTRE, CAMINHO, VERDADE E VIDA

A vastidão da espiritualidade cristã é rica em métodos, carismas e escolas de santidade, cada um oferecendo uma via singular para o encontro profundo com Deus. No entanto, para o Bem-aventurado Tiago Alberione (1884-1971), fundador da Família Paulina, a essência de todo o itinerário de fé e apostolado converge para uma única e fundamental figura: Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida. Esta não é apenas uma devoção, mas a espinha dorsal de um método de vida espiritual e missionária que ele legou aos seus filhos e filhas.

Esta fórmula, extraída da eloquente passagem evangélica de João 14,6 – “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vem ao Pai senão por Mim” –, não é, na visão de Alberione, uma simples tríade de atributos. É, antes, a “definição completa” que Jesus deu de Si mesmo, o Cristo total, que se oferece à pessoa humana inteira. O método de Jesus Mestre é, portanto, uma espiritualidade integral que visa a conformação perfeita do crente a Cristo em todas as dimensões da sua personalidade: mente, vontade e coração.

A Urgência de uma Espiritualidade Integral

Tiago Alberione viveu a sua juventude e fundou as suas congregações no início do século XX, um tempo marcado por profundas transformações sociais, científicas e culturais. O progresso acelerado da técnica e a emergência dos poderosos meios de comunicação social (imprensa, cinema, rádio) exigiam uma nova forma de evangelização. Alberione intuiu que, para responder aos desafios do novo século, não bastava usar os novos instrumentos; era preciso, sobretudo, forjar um “homem novo”, um apóstolo plenamente formado e estruturado em Cristo, capaz de inserir a mensagem evangélica na cultura da comunicação.

É neste contexto que a proposta de Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida revela a sua genialidade e a sua profunda sabedoria pastoral. Alberione compreendeu que a fragmentação da vida moderna, com as suas divisões entre fé e vida, razão e sentimento, exigia uma síntese poderosa. O método paulino oferece essa síntese, garantindo que o apostolado e a santidade não sejam realidades separadas, mas faces da mesma moeda: a vida vivida em e por Cristo.

Desdobrando a Tríade: Mente, Vontade e Coração

A genialidade de Tiago Alberione consistiu em associar cada termo da fórmula de Jesus a uma faculdade fundamental da alma humana, transformando-a num roteiro prático para a santificação e a missão.

1. Jesus Mestre: A Verdade (Mente/Intelecto)

A primeira dimensão é Jesus como a Verdade. Na visão de Alberione, esta Verdade corresponde à Mente ou ao intelecto do ser humano.

Jesus é o Mestre Divino, a Palavra feita carne que ensina a plenitude da doutrina e revela o mistério do Pai. A santificação da mente passa, primeiramente, pelo conhecimento, pelo estudo e pela assimilação da doutrina de Cristo, que é a única capaz de libertar o indivíduo do erro, das trevas e dos “pensamentos inúteis” que o afastam da realidade de Deus.

O método exige, portanto, um esforço contínuo para pensar em Cristo e com Cristo. A meta é alcançar a suprema altura da personalidade, onde se pode dizer: “Não sou eu que penso em Jesus Cristo, mas é o Cristo que pensa em mim”. Esta dimensão implica um profundo amor à Palavra de Deus, à Sagrada Escritura e ao Magistério da Igreja, para que a inteligência do apóstolo seja verdadeiramente iluminada pela luz da Verdade. É a base da formação, garantindo que o apóstolo da comunicação anuncie sempre uma mensagem sólida e verdadeira.

2. Jesus Mestre: O Caminho (Vontade/Ação)

A segunda dimensão é Jesus como o Caminho, associado à Vontade e à ação humana.

Se a Verdade ilumina a mente, o Caminho direciona a vida. Jesus não apenas ensinou o caminho, mas é o Caminho que conduz ao Pai. Esta dimensão está intrinsecamente ligada à moral, à prática das virtudes e ao dinamismo da santidade. O método de Alberione apela para que o apóstolo se torne um fiel seguidor de Jesus, imitando as Suas atitudes, os Seus gestos e, sobretudo, a Sua entrega total ao projeto do Pai.

A santificação da vontade exige a conformação do querer humano ao querer divino. O apóstolo busca querer em Cristo, esforçando-se para realizar a perfeição ensinada por Jesus: “Tornai-me perfeito, como o Pai que está nos céus”. Esta é a dimensão do apostolado, pois o Caminho de Jesus é um caminho em saída, em direção aos outros. Ao imitar o Caminho de Cristo, o apóstolo torna-se uma testemunha autêntica d’Ele diante dos homens.

3. Jesus Mestre: A Vida (Coração/Sentimento)

A terceira e decisiva dimensão é Jesus como a Vida, que corresponde ao Coração e aos sentimentos humanos.

A Vida de Cristo é o dom da graça, a plenitude do amor e a união íntima com Deus. É a dimensão que garante que o Caminho percorrido e a Verdade conhecida sejam vivificados pela caridade. Não basta conhecer a Verdade ou trilhar o Caminho; é preciso ter a Vida, que é o Espírito Santo operando no íntimo do ser.

A santificação do coração implica o desejo ardente de amar em Cristo e viver em Cristo. O apóstolo clama: “Jesus Vida, vivei em mim, para que eu viva em Vós”. Esta é a dimensão mística e afetiva, o cerne da devoção para Alberione. O apóstolo busca a união tão profunda com o Mestre que os seus sentimentos, as suas paixões e a sua alegria sejam os do próprio Cristo. É a dimensão que leva o apóstolo a ser uma presença que contagia a todos com o amor e a alegria de Jesus.

A Conformação Total: Mente, Vontade e Coração

O método de Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida, na visão de Tiago Alberione, não é um conjunto de exercícios a serem feitos separadamente, mas um dinamismo espiritual e apostólico em “sístole e diástole”, como o coração. O objetivo final é a cristiformidade, a formação de um ser novo que reflita Jesus de modo completo, em todas as suas faculdades.

Alberione sintetiza esta meta numa frase de extraordinária densidade teológica e mística, que é a chave de interpretação do seu método:

“Estabelecer-se totalmente em Jesus Mestre Verdade (mente), Caminho (vontade) e Vida (sentimento); até chegar à suprema altura da nossa personalidade, ou seja: não sou eu que penso em Jesus Cristo, não sou eu que amo em Jesus Cristo, não sou eu que quero em Jesus Cristo; é o Cristo que pensa em mim, que ama em mim, que quer em mim.”

Este ideal de identificação total com o Mestre Divino é a alma da Espiritualidade Paulina e a garantia da fecundidade do apostolado. A pessoa que alcança esta “suprema altura” é o “homem de Deus”, a “alma apóstola” que Alberione sempre desejou formar.

Para Alberione, o apóstolo completo é aquele que semeia as três coisas juntas:

  • Santidade (Caminho)
  • Verdade (Verdade)
  • Graça (Vida)

Quem semeia estas três juntas exerce um apostolado completo.

Alberione exortava os seus seguidores a pensar e a desejar o grande: “Ter um coração maior que os mares e os oceanos!”. Este coração é alimentado pela devoção a Jesus Mestre. Ao contemplar a figura de Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida, o apóstolo Paulino encontra a sabedoria (Verdade) para discernir os sinais dos tempos e as linguagens da cultura, o caminho (Caminho) para a ação audaciosa e persistente para a missão, e a força (Vida) que o faz consumir-se abundantemente (como São Paulo) para levar a todos o bem extremo que é Cristo.

Em conclusão, o método de Jesus Mestre é a síntese da espiritualidade e da missão para Tiago Alberione. Ele garante que a técnica e o espírito, o corpo externo e a alma do apostolado, permaneçam indissociáveis, fazendo de cada membro da Família Paulina um instrumento completo para que “Jesus Cristo seja conhecido, amado e vivido por todos” através dos instrumentos mais eficazes que o tempo presente oferece. É a herança de um místico que transformou um versículo evangélico no mais completo plano de vida e ação para o apóstolo moderno.

A VOSSA MISSÃO: DIFUNDIR A ESPIRITUALIDADE PAULINA

Este texto encerra uma série de Exercícios Espirituais pregados pelo Bem-aventurado Tiago Alberione às Pias Discípulas do Divino Mestre, em abril de 1966, na Casa Divino Mestre, em Ariccia. Trata-se de uma fala final, de tom profundamente espiritual e afetivo, em que o Fundador retoma os principais temas de sua espiritualidade e os entrega às irmãs como um verdadeiro testamento interior.

Em italiano, o texto “La vostra missione: diffondere la spiritualità paolina” (Fecho dos Exercícios Espirituais, Ariccia, 29 de abril de 1966), proferido pelo Bem-aventurado Tiago Alberione às Pias Discípulas do Divino Mestre: APD66

Alberione convida suas ouvintes a dar graças a Deus pelos frutos dos Exercícios (luzes, consolações e propósitos), lembrando que o agradecimento é o primeiro passo para receber novas graças. O clima do discurso é de recolhimento, alegria e missão, típico do encerramento de um retiro, mas também de envio: ele envia as irmãs novamente ao mundo, como portadoras da espiritualidade paulina.

No coração do texto está o chamado à missão de difundir o espírito paulino, que consiste em viver e anunciar Jesus Cristo como Caminho, Verdade e Vida. Essa tríplice dimensão expressa toda a pedagogia espiritual de Alberione:

  • Caminho, porque Cristo é a forma de viver, a via concreta da santidade;
  • Verdade, porque Ele ilumina a mente com a sabedoria do Evangelho;
  • Vida, porque comunica a graça e transforma o ser humano desde dentro.

Inspirado em São Paulo, Alberione recorda que essa espiritualidade nasce do Evangelho interpretado e vivido pelo Apóstolo das Nações, e que a presença de Maria “Rainha dos Apóstolos”, garante a fecundidade dessa missão.

O Fundador sublinha ainda a importância de uma vida interior profundamente unida a Cristo, cultivada no silêncio, na adoração e na meditação da Palavra. Ele fala de uma “meia vida claustral”: não o isolamento do mundo, mas um recolhimento que mantém o coração em contínuo diálogo com o Mestre Divino.

Para Alberione, viver o espírito paulino exige também fidelidade às Constituições, lidas e meditadas como caminho seguro de santificação. Nelas, a religiosa encontra a expressão concreta da vontade de Deus e o meio de viver “em Cristo e na Igreja”.

Na parte final, o texto assume um tom litúrgico e pedagógico: Alberione convida à renovação das promessas batismais e dos votos religiosos, e à formulação de propósitos pessoais para uma vida mais plena e coerente com a vocação. Ele estrutura a conclusão em três atos:

  1. Reavivar o batismo como raiz da vida cristã;
  2. Renovar os votos como caminho de amor perfeito — perfectae caritatis — em consonância com o Concílio Vaticano II;
  3. Confirmar os propósitos feitos diante de Cristo Eucarístico, com seriedade e verdade interior.

A homilia termina com uma bênção solene e um gesto de paternidade espiritual: Alberione promete rezar todos os dias por quatro intenções fundamentais (vocações, formação, santificação e apostolado), desejando que as irmãs vivam o lema paulino de sua revista: In Christo et in Ecclesia, “em Cristo e na Igreja”.

Assim, este texto pode ser lido como uma síntese luminosa da espiritualidade paulina: união com Cristo Mestre, amor à Igreja, fidelidade à vocação e ardor apostólico. Nele, o Fundador transmite não apenas conselhos práticos, mas um itinerário espiritual completo. Um verdadeiro caminho de contemplação e de missão, de silêncio e de anúncio, de comunhão e de vida interior.

Segue o texto na íntegra, traduzido em português:


22. A VOSSA MISSÃO: DIFUNDIR A ESPIRITUALIDADE PAULINA

(Conclusão dos Exercícios Espirituais)

Exercícios Espirituais (21-29 de abril de 1966) às Pias Discípulas do Divino Mestre.
Ariccia, Casa Divino Mestre, 29 de abril de 1966

“Agimus tibi gratias… pro universis beneficis tuis.”
Durante dezoito anos, sempre nos fizeram recitar o agradecimento: de manhã, após o estudo, após a escola, depois de cada atividade: “Senhor, nós Vos agradecemos pelos benefícios que nos concedestes.”
E agora, todas vocês, juntas: Agimus tibi gratias. Senhor, nós Vos agradecemos pelos benefícios destes Exercícios, pelas inspirações, pela luz, pelo conforto e pelos propósitos feitos. Oh! Agradeçamos ao Senhor. Ao agradecer, vocês se asseguram de novas graças da misericórdia de Deus. Como o Senhor é bom! Como tem sido bom com vocês! Desde o nascimento até o momento em que chegaram à consagração ao Senhor — e quão mais crescerão as graças depois da profissão perpétua! E, no fim da vida, se tiverem correspondido, direis o Te Deum, o Agimus tibi gratias pro universis beneficis tuis. Agradecer!

Agora, dois pensamentos para a conclusão destes santos Exercícios, que fizestes com tanto zelo e fervor.

O primeiro pensamento é este: a vossa missão de levar e viver, em toda a Família Paulina, Jesus Cristo Caminho, Verdade e Vida. Eis: Caminho, Verdade e Vida!

Este é o espírito paulino. Porque o espírito paulino consiste no Evangelho: Jesus Cristo, sua vida, sua pregação, sua paixão, morte, ressurreição e glorificação à direita do Pai. Este Evangelho, interpretado e aplicado por São Paulo — o Evangelho explicado e concretizado nos detalhes que nos dizem respeito, pela sua pregação e pelas suas cartas.

E, para que isto aconteça, é necessária a proteção de Maria. Vocês têm esta santa missão de difundir a espiritualidade paulina, sim. Fazendo a vossa parte — entrando na intimidade de Jesus Cristo Caminho, Verdade e Vida, segundo as pregações e as cartas de São Paulo, e sob a proteção de Maria — possuireis o verdadeiro espírito paulino, e o alcançareis para toda a Família Paulina. Eis, sim: esta é uma grande missão.

E neste sentido, deveis conduzir a vida com meia vida claustral. Essa “meia vida claustral” corresponde ao silêncio e ao recolhimento, para que sempre exista comunicação da alma com Jesus Cristo.

Se falamos pouco com os homens… é preciso falar nas necessidades, mas, nas demais coisas… Quando há essa vida semi-claustral, ela participa, comunica e vivifica a vida em Cristo e no Divino Mestre, que ensinou com o exemplo, com a palavra e com a graça.

Portanto, esse silêncio habitual — mesmo quando há necessidade de falar — e também as recreações e comunicações fraternas, devem acontecer com moderação: de um lado, comunicam-se as coisas necessárias e se leva alegria à comunidade; de outro, o restante é vivido com Jesus, em Jesus, e no Divino Mestre.

Porém, ainda não existe plenamente entre vocês essa espiritualidade em Jesus Cristo Mestre Divino — mas já há certo grau, e Deus seja bendito! É preciso progredir neste sentido, vivendo cada vez mais em Cristo: Vivit vero in me Christus — “vive em mim Cristo” (Gl 2,20).

Cristo vive em nós na medida em que é Caminho, Verdade e Vida: domina a vontade, ilumina a mente e comunica a graça. Grande é a vossa missão! Oh, grande é a vossa missão!

E para viver esse espírito, é necessária a observância das Constituições. Leiam e releiam as Constituições, ao menos uma vez por ano, devagar, refletindo. Durante a Visita: adoração e reflexão. Ano após ano haverá progresso no conhecimento de Jesus Cristo e no crescimento do espírito paulino em nós.

Amem as Constituições, como já disse no início dos Exercícios. É preciso amar as Constituições aprovadas pela Igreja — pois, pela orientação da Igreja, elas vos introduzem na verdadeira santidade, na vossa santidade própria — da Família Paulina e, em particular, de vocês.

Meditem sobre os artigos das Constituições. Às vezes, um artigo pode não se aplicar diretamente a uma pessoa, porque não exerce aquele ofício, mas é preciso sempre considerar e meditar: uns servem para cada uma pessoalmente, outros aplicam-se às demais irmãs. Amem muito as Constituições. Quando se faz a profissão, é entregue o livro das Constituições — e até antes, no noviciado.

Eis, então, os dois pensamentos para o encerramento destes Exercícios Espirituais.

Obtêm-se muitas graças — mas antes é preciso adorar e agradecer.
Quando a oração se divide em quatro partes — adoração, agradecimento, reparação e súplica — devemos adorar a Deus, o Divino Mestre Jesus Cristo, e depois agradecer-Lhe por tudo: pela vocação, pela Congregação, pela vida da Igreja. Se compreendermos bem a Igreja para vivê-la, especialmente nesta parte da Igreja que é vossa e nossa, então vivemos as Constituições.

Porque em Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida — mas, como se chega a isso? — por meio das Constituições, sim.

Agora que realizastes bem os Exercícios, há três pontos de conclusão a recordar:

  1. Renovação das promessas batismais — o batismo como cristãs;
  2. Renovação dos votos religiosos — como religiosas;
  3. Propósitos para viver melhor a vida religiosa segundo o espírito das Pias Discípulas.

Primeiro: a renovação das promessas batismais (ou “votos batismais”). Seja qual for o nome, o sentido é o mesmo. Quando nascemos — vida humana — o Senhor nos deu também a vida da graça, a vida cristã. Assim, tornamo-nos cristãos; a criança vive da graça. Mas houve um pacto: para que o Senhor conceda a graça por meio do batismo, é preciso que se façam promessas.

Por isso, antes do batismo, o sacerdote pede o compromisso — digamos assim — assumido em nome da criança pelos padrinhos. E o Senhor concede a graça. O compromisso é viver cristamente, seguir o Divino Mestre, Caminho, Verdade e Vida; crer nas verdades ensinadas por Jesus Cristo e viver segundo Ele — na graça e crescendo nela a cada dia.

O segundo ponto diz respeito aos votos religiosos.
Depois da vida humana e da vida cristã, vem a vida religiosa: a terceira vida, vida de aperfeiçoamento — perfectae caritatis, como diz o Decreto do Concílio Vaticano II sobre a vida religiosa. Perfectae caritatis significa amar perfeitamente, amar completamente a Deus com todo o ser, sem buscar outra coisa. E amar o próximo, buscando a salvação das almas — amando-as de todas as maneiras, através dos apostolados que vos são confiados.

Portanto, o empenho nos apostolados distribuídos na Congregação: todas as Pias Discípulas, quanto à vida eucarística; e depois, conforme os ofícios, o serviço sacerdotal e o serviço litúrgico.

Agora é certamente o momento mais belo do ano. Tendes ótimas disposições e, portanto, também uma compreensão mais profunda da vida religiosa e da observância. É a luz recebida nestes dias. Compreendei cada vez mais a vida religiosa. É um momento de máxima preparação. Às vezes, recitam-se as fórmulas superficialmente, mas agora, profundamente: a total doação ao Senhor — mente, coração, vontade, imaginação, memória, olhos, ouvido, língua, tato… Tudo de Deus, tudo de Jesus Cristo.

O compromisso de fazer tudo o que as Constituições contêm e o que está compreendido na renovação dos votos religiosos.

O terceiro ponto diz respeito aos propósitos pessoais.
Esses propósitos devem ser mantidos. Podem ser gerais — relativos à vida religiosa —, mas cada uma tem suas necessidades, dificuldades e propósitos particulares para viver melhor a própria consagração.

Agora, dois minutos de silêncio, para que cada uma apresente seus propósitos a Jesus na Eucaristia, aqui presente. Cuidemos para não brincar com Jesus — não apenas escrever palavras, mas que haja profundidade: “Quero, e, com a tua graça, espero conseguir observá-los.” Assim, quando voltardes aos Exercícios, podereis perguntar-vos: “Cumpri realmente o que havia prometido?”

Agora, dois minutos de silêncio para que cada uma apresente seus propósitos a Jesus.
Louvado seja Jesus Cristo.

Neste ano, rezai muito. Digo-vos que todas as manhãs, antes da Missa, peço quatro graças:

  1. As vocações;
  2. Uma santa formação — antes do hábito, depois do hábito, durante o noviciado e o tempo dos votos temporários;
  3. O trabalho de santificação na observância das Constituições;
  4. O apostolado — para a glória do Senhor e a salvação das almas, no espírito da Igreja, vivendo in Christo et in Ecclesia, como é o título da vossa publicação.

E então:
“A bênção de Deus onipotente, Pai, Filho e Espírito Santo, desça sobre vós e permaneça sempre.”
Amém. Deo gratias.

Recordai estas quatro graças. O Senhor esteja sempre convosco.

TRÍDUO A JESUS MESTRE

A Família Paulina celebra, neste próximo final de semana, a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Mestre e Pastor, Caminho, Verdade e Vida, devoção profundamente enraizada na espiritualidade paulina e confiada pelo venerável Pe. Tiago Alberione a toda a sua admirável Família.

Por que a Família Paulina celebra Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida?

A Família Paulina celebra com profunda alegria e fé a Solenidade de Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida, expressão central da espiritualidade e do carisma deixados pelo seu fundador, o Bem-aventurado Pe. Tiago Alberione.

Inspirado no Evangelho de São João: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6), Pe. Alberione reconheceu em Jesus o Mestre divino que conduz toda a pessoa humana ao encontro pleno com Deus: iluminando a mente com a Verdade, fortalecendo a vontade no Caminho do bem e vivificando o coração com a Vida da graça.

Essa tríplice dimensão revela a integridade do seguimento de Cristo e orienta a missão paulina de “viver e comunicar Jesus Mestre ao mundo inteiro”, especialmente por meio dos instrumentos da comunicação social e das diversas formas de apostolado moderno.

Na liturgia, a Solenidade de Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida, celebrada tradicionalmente no último domingo de outubro, é um momento de renovação espiritual para todos os membros da Família Paulina. É a ocasião de reafirmar o compromisso de seguir e anunciar Cristo Mestre, modelo perfeito de humanidade e fonte de toda sabedoria, amor e vida.

Em preparação para esta solene comemoração, apresentamos uma proposta de celebração do tríduo, conforme o Ofício Divino das Comunidades, a ser rezado no Ofício de Vésperas.

Anexamos, ainda, o roteiro para o Ofício de Vigília, a ser celebrado no sábado, bem como os cantos próprios para a Solenidade de Jesus Mestre, a fim de favorecer uma vivência orante e comunitária mais profunda deste mistério de fé.

Tríduo de preparação, 2025 – OFÍCIO DA TARDE

1. CHEGADA – Ô, ô, ô, Nós te adoramos o Cristo.

2. ABERTURA

– Vem, ó Deus da vida vem nos ajudar, (bis)
Vem não demores mais vem nos libertar! (bis)

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Santo Espírito. (bis)
Glória à Trindade Santa, glória ao Deus bendito! (bis)

– Mestre e verdade és, Cristo Jesus (bis)
Nosso caminho e vida, Sol que nos conduz. (bis)

3. RECORDAÇÃO DA VIDA

4. HINO melodia: hino da tarde, quinta, véspera II semana.

Ó Verbo de Deus Pai / bem antes do universo.
Tua luz brilhou nas trevas / que o mundo estava imerso.

De tua plenitude  / nós todos recebemos,
Que a glória de Deus Pai / em ti nós contemplemos.

Divino Mestre amado, / ó vem nos conduzir
A nossa fé sustenta / pra sempre te seguir.

Verdade, te escutamos / Caminho, te seguimos
Ó Vida, em ti nós cremos / Amor da nossa vida.

Glorificado sejas, / Jesus, Mestre e Pastor,
Ao Pai e ao Espírito / o nosso igual louvor.

5. SALMODIA

1º dia:
Salmo 119 – ODC p. 154  [melodia da antífona, Gelineau].
Ant. A palavra de Deus é a verdade sua lei liberdade
Cântico de Timóteo – Lembra-te ODC p. 258 [N. 46]

2º dia:
Salmo 25 – ODC P. 142
Ant. Ensina-me Senhor os teus caminhos,
     Tua Palavra me oriente e me conduza.
Cântico 1Tm 3,16 – ODC, p. 708 – melodia: O Senhor me disse
Ant.: Grande é o mistério da piedade, Cristo, salvador.

3º dia:
Salmo 1
Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vai ao Pai a não ser por mim [João 14,6]
Cântico de filipenses, ODC, p. 256 [n. 43]
Adoremos a Cristo, Verbo do Pai, que se fez servo, para ser nosso caminho e nossa vida.

6. LEITURA BÍBLICA

1º DIA:  Gálatas 2,19b-20
Leitura da carta do apóstolo Paulo ao Gálatas. Estou crucificado com Cristo. E já não sou eu que vivo: é Cristo que vive em mim. E a vida que vivo agora na carne, eu a vivo pela fé no Filho de Deus que me amou e se entregou por mim. Palavra do Senhor.

Responso: Fl1,20-21;3,14
Cristo será engrandecido no meu corpo, pela vida ou pela morte,
pois para mim o viver é Cristo, e o morrer é apenas lucro.
Sabeis que eu tenho por missão a defesa do Evangelho, pois para mim o viver é Cristo…
Esquecendo o que fica para trás, corro em direção à meta, pois para mim o viver é Cristo…

2º DIA:  2Pedro 1,16-19
Leitura da segunda carta de Pedro. Quando ensinamos a vocês sobre a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, não tiramos isso de fábulas artificiais. Nós ensinamos porque fomos testemunhas oculares da grandeza dele. Pois ele recebeu honra e glória de Deus Pai, quando uma voz vinda da sua majestade lhe disse: “Este é meu Filho amado, no qual encontro o meu agrado”. Essa voz, vinda do céu, nós a ouvimos quando estávamos com ele no monte santo. Com isso, a mensagem profética se confirma em nós. E vocês farão bem recorrendo a ela como lâmpada que brilha na escuridão até que amanheça o dia, e brilhe em suas mentes a estrela da manhã. Palavra do Senhor.

Responso: melodia: nas águas do jordão:
– Tua Palavra, Senhor, * é luz em meu caminho.
– Tua Palavra, Senhor, * é luz em meu caminho.
– Ensina-me a seguir teus passos.
é luz em meu caminho.
Glória ao Pai e ao Filho, * e ao Espírito Santo.
– Tua Palavra, Senhor, * é luz em meu caminho.

3º DIA2 Timóteo 3, 14-17
Leitura da segunda carta de Paulo a Timóteo. Quanto a você, fique firme naquilo que aprendeu e aceitou como certo. Você sabe de quem o aprendeu. Desde a infância, você conhece as Sagradas Letras, que podem dar-lhe a sabedoria que leva à salvação pela fé em Cristo Jesus. Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, refutar, corrigir, educar na justiça. Assim, a pessoa que é de Deus estará capacitada e bem preparada para toda boa obra. Palavra do Senhor.

Responso:ODC p. 426, n. 370
– Inclina, Senhor meu ouvido * para a tua palavra.
Inclina, Senhor meu ouvido * para a tua palavra.
Desperta o meu coração
para a tua palavra.
Glória ao Pai e ao Filho, * e ao Espírito Santo.
Inclina, Senhor meu ouvido * para a tua palavra.

7.  MEDITAÇÃO – Silêncio…

8. CÂNTICO DE MARIA (melodia: Refrão meditativo, n. 14a, p. 8)

Ant.Vivo na fé do filho de Deus
que me amou e se entregou por mim.

Ou: ODC 237 Ant: Weber ciclo pascal faixa 22

Ant.:Eu sou o caminho a verdade e a vida,
        ninguém vai ao Pai se por mim não passar

Ant.: Já não sou mais eu que vivo,
        é Cristo que vive em mim.

9. PRECES

1º DIA
Oremos ao Cristo, Senhor e Mestre, único mediador da nossa salvação:

Só tu, tens Palavra de vida eterna!

– Ó Cristo, que em ti reconciliaste todas as coisas, faze que a humanidade, dilacerada pelas divisões, encontre a paz e a unidade, nós te pedimos.

– Ó Cristo, que te fizeste caminho para a humanidade, ilumina toda pessoa que busca um sentido em sua vida, nós te pedimos.

– Ó Cristo, que te compadeceste das nossas fraquezas, sustenta as vítimas das injustiças e da violência institucionalizada.

– Ó Cristo. guarda-nos na comunhão dos santos, com nosso Pai Alberione e nossa Madre Escolástica, e com todas as testemunhas do Reino.

Preces espontâneas…

Dá, ó Senhor, às Igrejas cristãs, a unidade visível.
Que nós sejamos um para que o mundo creia. Pai nosso

2º DIA
Invoquemos irmãos e irmãs, o Santíssimo nome de Jesus

Cristo, Filho do Deus vivo, tem piedade de nós.
Cristo, Palavra do Pai, nosso Mestre e Pastor, tem piedade de nós.
Cristo, Verdade, Caminho e Vida, tem piedade de nós.
Cristo, Sol da justiça, tem piedade de nós.
Cristo, força dos mártires, tem piedade de nós.
Cristo, Senhor do universo, tem piedade de nós.
Cristo, Estrela da manhã. Tem piedade de nós.

Invocações espontâneas…

Dá, ó Senhor, às Igrejas cristãs, a unidade visível.
Que nós sejamos um para que o mundo creia. Pai nosso

3º DIA
De coração agradecido, invoquemos a Jesus, nosso Mestre e nossa vida.

Ouve Senhor, a nossa oração.

– Filho de Deus, invocamos a tua compaixão sobre toda a família humana.- Faze-nos viver da tua vida e caminhar como filhas e filhos da luz, na alegria do Evangelho.

– Aumenta a fé da Igreja, para que esteja sempre pronta a dar testemunho de amor no serviço dos pobres.

– Consola os que estão tristes e manifesta o teu rosto aos que estão desanimados.

Preces espontâneas…

Dá, ó Senhor, às Igrejas cristãs, a unidade visível.
Que nós sejamos um para que o mundo creia. Pai nosso

Pai-nosso

Oração [santo Ambrósio]
“Nós te seguimos, Senhor Jesus,
mas para que te sigamos, chama-nos.
Pois sem si, ninguém caminha.
Tu és com efeito o Caminho, a Verdade e a vida.
Recebe-nos como estrada acolhedora,
acalma-nos como só a verdade pode acalmar.
Vivifica-nos, porque só tu és a vida”.
Tu que és nosso Senhor e Mestre,
com o Pai e o Espírito Santo. Amém

Ou

Ó Deus, que na plenitude dos tempos
falaste à humanidade na pessoa
do teu amado Filho, Jesus Cristo,
concede-nos reconhecê-lo por nosso Mestre e Senhor,
segui-lo fielmente como discípulas
e anunciá-lo ao mundo
como Caminho, Verdade e Vida.
Ele que é Deus contigo,
na unidade do Espírito Santo. Amém

10. BÊNÇÃO

O Deus da vida que se revela na pessoa de Jesus nos cumule do seu Espírito e nos abençoe, o Pai e o Filho e o Espírito Santo. Amém!

–  Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo.
Para sempre seja louvado!

– Que o auxilio divino permaneça conosco
E com nossos irmãos e irmãs ausentes

CRESCER EM JESUS CRISTO, CAMINHO, VERDADE E VIDA

O texto “Crescer em Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida” é uma meditação proferida por Pe. Tiago Alberione às Pias Discípulas do Divino Mestre, em 14 de novembro de 1966, como preparação espiritual para o centenário do martírio dos santos Pedro e Paulo. Nesta reflexão simples e profunda, Alberione conduz as religiosas a contemplar o mistério do crescimento interior em Cristo, partindo da afirmação evangélica: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6).

Texto em italiano: APD66

O autor convida à introspecção e à oração, destacando que, assim como o corpo precisa de alimento material, a alma necessita ser continuamente nutrida pela graça. Esse alimento espiritual é o próprio Cristo, que se oferece na Eucaristia e na Palavra como fonte de vida abundante. Alberione explica que o verdadeiro crescimento cristão consiste em conformar a vontade, o pensamento e o amor aos de Cristo — caminhando em obediência (Caminho), iluminando a mente pela fé (Verdade) e vivendo no amor a Deus e ao próximo (Vida).

A meditação propõe um exame de consciência: estamos realmente crescendo em Jesus Cristo? Estamos deixando que Ele viva em nós, como dizia São Paulo: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20)? Com esse chamado, Alberione recorda que a santidade é um processo contínuo, que dura até o último suspiro, e que se alimenta na oração, na fidelidade à vocação e no amor à Igreja.

Lida hoje, essa meditação conserva toda a sua atualidade: é um convite à formação interior, à vida eucarística e à comunhão com o Espírito do Concílio Vaticano II, que renovava a Igreja naquele tempo. Alberione, com sua clareza e fervor, nos convida a crescer com Cristo, por Cristo e em Cristo — até que seja Ele a viver plenamente em nós.

55. CRESCER EM JESUS CRISTO, CAMINHO, VERDADE E VIDA

Meditação à Comunidade das Pias Discípulas do Divino Mestre em preparação ao ano centenário do martírio dos santos Pedro e Paulo.
Roma, Via Portuense 739, 14 de novembro de 1966

Neste tempo, especialmente em novembro e dezembro, somos convidados a refletir e a rezar. Façamos, pois, uma breve meditação. Devemos considerar que o ser humano é composto de alma e corpo, e que se alimenta com o alimento material; mas, além do corpo, há aquilo que é o homem em sua essência, isto é, a vida sobrenatural. Assim como o corpo precisa de alimento, também a alma necessita de nutrição, sim, a alma que, quando vive em estado de graça, cresce em santidade e continua a corresponder ao amor de Deus. Devemos, portanto, considerar esta vida sobrenatural, a vida da graça, a vida que Jesus Cristo nos concedeu.

A alma precisa de alimento espiritual para crescer. O Senhor disse: “Vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10). São Paulo também nos ensina a crescer em Jesus Cristo (cf. Ef 4,15). E o mesmo São Pedro exorta: “Crescei em espírito, em Cristo” (cf. 1Pd 2,2). Assim, recebemos esta vida sobrenatural, uma vida que pode crescer continuamente. O homem, quando chega aos 20 ou 22 anos, já não cresce mais fisicamente. Mas a alma, sim, quando vive na graça e deseja verdadeiramente crescer em Cristo, pode crescer dia após dia, ano após ano, até o fim da vida presente. Crescer, sim! O próprio Jesus nos fez compreender isso quando o Evangelho diz que Ele “crescia em sabedoria, em estatura e em graça” (Lc 2,52).

Qual é, então, o nosso alimento? É o próprio Jesus Cristo. Ele se fez pão, e o pão é transformado n’Ele. Jesus é o alimento de nossas almas; e cada dia, a vida espiritual se torna mais vigorosa. Assim, de que nos nutrimos? Alimentamo-nos do próprio Cristo, até o ponto em que Ele domina plenamente a parte humana de nosso ser. Então se realiza o que diz São Paulo: “Vivit vero in me Christus”: é Cristo quem vive em mim (Gl 2,20).

Jesus Cristo disse de si mesmo: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). Ele é aquele que nos alimenta.

“Eu sou o Caminho”: crescer em Jesus Cristo, Caminho, significa caminhar como Ele quer, trilhar o caminho da santificação, o caminho da vontade, isto é, o caminho da obediência. Peçamos ao Senhor o dom de oferecer-Lhe nossa vontade. Ele é o Caminho, aquele que nos indica a obediência ao desígnio do Pai.

“Eu sou a Verdade”: é Ele quem ilumina nossa mente. Devemos fazer com que nossos pensamentos se tornem os pensamentos de Cristo, que as verdades que guiam nossa vida sejam as que estão n’Ele. Assim, além do alimento da vontade, há o alimento da mente, a fé. Crescemos na fé quando pensamos como Cristo, quando deixamos que Ele pense em nós.

“Eu sou a Vida”: a vida é o amor a Deus e ao próximo. Jesus amou o Pai e amou as almas. Assim, meditando o que Ele disse de si mesmo — Caminho, Verdade e Vida —, pouco a pouco, Cristo entra em nós, formando em nosso interior a vontade, o pensamento, a fé e a caridade. A nutrição espiritual é contínua, especialmente a partir da Profissão religiosa, quando o crescimento deve tornar-se mais abundante. Há almas que progridem rapidamente, e outras que caminham mais devagar, algumas até retrocedem em certos momentos.

Examinemo-nos, então: estamos crescendo em Jesus Cristo? Crescemos segundo a Sua vontade? Nossa vontade está realmente submissa à d’Ele? E quanto à fé, ao amor? Como estamos caminhando? Neste tempo de maior recolhimento e oração, o crescimento espiritual se fará sentir cada vez mais. Há também almas que retrocedem mas, segundo o espírito que vos anima, estou convencido de que em vós há, dia após dia, um crescimento de vida. Assim, pouco a pouco, podemos chegar a dizer com São Paulo: “Mihi vivere Christus est” (“para mim, viver é Cristo”) (Fl 1,21); “já não sou eu quem vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).

Tomar São Paulo como protetor não é apenas porque foi pregador ou escritor, mas porque foi uma alma transformada em Cristo. É isso o que quero dizer nesta meditação: que nos conformemos à vida de São Paulo.

Em breve será enviada uma circular a toda a Família Paulina, pois nos aproximamos do centenário de São Pedro e São Paulo (1867–1967). No próximo ano, se o Senhor nos conservar a vida, deverá ser um tempo de nos aproximarmos mais de São Paulo, de seus pensamentos, de seus sentimentos. Sua vida foi toda ordenada a Cristo, toda voltada a Deus. Comecemos, pois, lendo a vida de São Paulo: há boas biografias disponíveis, e pensando em como poderemos expressar nosso afeto, nossa veneração e nossa oração.

Rezemos a São Paulo para que nos ajude a nos aproximar cada vez mais de Jesus Cristo, até que seja Ele quem viva em nós. Quando a alma cresce verdadeiramente, ainda assim pode crescer mais, alcançar uma santidade sempre maior, conforme as graças e o tempo que Deus nos concede.

Tenhamos este desejo, este propósito. Rezemos também a São Paulo por toda a Família Paulina: pelos que ingressam, pelos que crescem, e pelos que procuram corresponder à própria missão e vocação. Rezemos.

Hoje, a Família Paulina está presente em todos os cinco continentes: Europa, Ásia, África, América e Oceania. Rezemos, em primeiro lugar, pelas vocações; depois, por uma formação autenticamente paulina; pela santificação da vida religiosa; e, por fim, pelos frutos apostólicos, pelos frutos que chegam às almas com as quais entramos em contato. Rezemos, pois, por todos, por toda a humanidade, especialmente neste centenário.

Além disso, rezemos para que a Igreja possa realizar plenamente tudo o que foi estabelecido pelo Concílio Vaticano II. É uma graça imensa! Creio que já lestes os discursos do Papa nas audiências. Devemos acolher todos os seus pensamentos e desejos, acompanhá-lo com fidelidade. É admirável vê-lo trabalhar tanto, e o quanto Deus o tem sustentado em saúde. Rezemos por ele. É realmente um Pontífice suscitado por Deus para as necessidades deste tempo.

Concluindo: crescer, crescer sempre. Até quando? Até o último respiro. Entreguemos a Jesus Cristo nossa vontade, nossa mente, nosso coração. Cresçamos n’Ele, com Ele e por Ele.

E, por fim, sintamo-nos membros vivos e atuantes na Igreja, não vivendo apenas para nós mesmos, mas para a Igreja e para o Senhor. Eternidade! Eternidade!

Seja louvado Jesus Cristo.

A ADORAÇÃO SEGUNDO O MÉTODO “CAMINHO, VERDADE E VIDA”: CAMINHO DE SANTIFICAÇÃO

O texto que segue — L’Adorazione secondo il metodo Via, Verità e Vita — é uma conferência de 20 de junho de 1966, dirigida pelo Bem-aventurado Tiago Alberione às noviças das Pias Discípulas do Divino Mestre, durante um curso de Exercícios Espirituais em Roma. Trata-se de uma de suas mais belas sínteses sobre o sentido da adoração eucarística e o modo concreto de vivê-la no cotidiano da vida consagrada.

Partindo da estrutura tradicional dos Exercícios (purificação e santificação), Alberione recorda que a verdadeira santificação deve abranger todo o ser: mente, vontade, coração e corpo; toda a jornada; e todas as dimensões da vida: oração, trabalho, descanso e apostolado. Nesse horizonte, apresenta a oração como o “grande meio” da santificação, conforme ensinava Santo Afonso de Ligório.

O núcleo da conferência é a explicação do método “Caminho, Verdade e Vida” (Jo 14,6), que o Fundador propõe como itinerário espiritual para a Adoração ao Santíssimo Sacramento.

  • Jesus, Caminho: é o modelo de vida a seguir, o traçado concreto da santidade, o convite a conformar-se com Ele na humildade, na obediência e na caridade.
  • Jesus, Verdade: é o conteúdo da fé, o Mestre que revela o Pai, conduzindo-nos à contemplação e ao aprofundamento da Palavra.
  • Jesus, Vida: é a fonte da graça que nos anima e transforma interiormente, comunicando-nos sua própria vida divina.

Ao propor esse método, Alberione mostra que a adoração não é simples devoção, mas um diálogo vital com o Senhor, que abrange o pensar, o crer e o viver. A Eucaristia torna-se, assim, o coração pulsante da formação espiritual e do apostolado: quanto melhor se adora, melhor se vive; quanto mais se reza, mais a vida se santifica.

Este texto, marcado pelo tom familiar e pedagógico do Fundador, é um verdadeiro roteiro de vida e de oração. Ele convida cada pessoa a transformar o tempo diante do Santíssimo em um caminho de configuração com Cristo, no qual a adoração se converte em comunhão e a comunhão em missão.


33. A ADORAÇÃO SEGUNDO O MÉTODO “CAMINHO, VERDADE E VIDA”

Exercícios Espirituais (13–21 de junho de 1966) às Pias Discípulas do Divino Mestre, noviças do 2º ano.
Roma, Via Portuense 739, 20 de junho de 1966

Recordamos que os Exercícios Espirituais podem ser considerados sob dois aspectos:
primeiro, a parte da purificação;
segundo, a parte da santificação, que deve ser assumida como compromisso para o ano espiritual, isto é, desde este tempo, desta semana, até o próximo curso de Exercícios Espirituais.

Agora, quanto à santificação. Ela deve se estender a todo o nosso ser: à mente, à vontade, ao coração e ao corpo. A santificação abrange tudo, todo o decorrer do dia: as práticas de piedade da manhã; os compromissos do dia: estudo, trabalho, apostolado; o tempo dedicado à recreação, à refeição; as Adorações; e até o descanso noturno, que também deve ser oferecido ao Senhor. Pois é vontade de Deus que, assim como nos alimentamos para nos mantermos a serviço d’Ele, também descansemos na medida justa, para conservar a vida e continuarmos servindo a Deus e ao apostolado. Portanto, toda a jornada, sim, deve ser santificada.

A santificação também se estende às Constituições e a tudo o que é determinado pela obediência.


Mas o primeiro ponto é a oração, o grande meio de santificação — como escreveu Santo Afonso no seu belo livro O grande meio da oração.
A oração é realmente o grande meio da santificação.
Devemos, pois, examinar a nossa piedade, as nossas práticas de piedade, e ver como elas se compõem.
A oração deve ser sempre considerada sob dois aspectos:

  1. A oração para honrar a Deus.
  2. A oração para a nossa santificação.

A primeira parte, isto é, a oração que diz respeito a Deus, é para adorar o Senhor — Jesus, o Pai celeste, o Espírito Santo — e, ao mesmo tempo, agradecer.
Assim: “Eu Vos adoro e Vos agradeço”.
A oração, portanto, compõe-se de dois elementos: adoração e ação de graças.

A segunda parte da oração diz respeito a nós: pedir perdão e reparação pelos nossos males; e depois a súplica, as petições que devemos fazer ao Senhor.
Portanto, a oração dirigida a Deus é para adoração e ação de graças; e, quanto a nós, é para pedir perdão, oferecer penitência e suplicar todas as graças de que precisamos.
Não se deve apenas pedir graças, mas começar sempre com o agradecimento e o louvor a Deus.


A oração, então: como despertamos pela manhã, com que pensamentos, com que orações; depois, a meditação, a Missa, a Comunhão e as demais práticas; as Adorações; as jaculatórias que se podem recitar durante o dia; as orações da noite; as bênçãos do Santíssimo Sacramento.
É preciso ver se fazemos bem a oração — esse grande meio de salvação e de santificação.
Santo Afonso o explica tão bem naquele precioso livro O grande meio da oração, que se nos fazia ler todos os anos.

Naturalmente, o primeiro lugar cabe ao Sacrifício da Missa, depois à Comunhão, e em seguida à Adoração.


Falemos um momento da Adoração, da Visita que fazeis ao Santíssimo.
A Adoração pode ser feita de várias formas, mas há aquela que se pratica no vosso Instituto.

No século passado e no início deste século, a Adoração geralmente não se fazia como a fazeis hoje. Ela era dividida em quatro pontos: adoração, ação de graças, reparação e súplica.
Esse modo foi introduzido especialmente por São Pedro Julião Eymard, fundador dos Religiosos e das Servas do Santíssimo Sacramento, que faziam Adoração dia e noite.
Em certos lugares onde estive, que solenidade! O Senhor exposto, Jesus Eucarístico, com tamanha reverência! Quanta gente vinha adorá-Lo — por pouco ou muito tempo —, uma verdadeira pregação viva da Adoração.


Mas, geralmente para nós, a Adoração pode ser feita com três pontos, segundo o método:
“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6).

É Ele — o Filho de Deus encarnado — quem é o Caminho, não apenas quem o ensina.
Ele mesmo é o Caminho que conduz à santidade e, portanto, ao Céu.

Depois, Ele é a Verdade — e nós dobramos a mente diante d’Ele, fazendo atos de fé.

E, por fim, Ele é a Vida em nós — a vida da graça.
Quando a criança nasce, tem a vida humana; quando é batizada, recebe a vida cristã; quando abraça a vida religiosa, participa ainda mais profundamente da vida de Cristo.
A graça entra na alma como segunda vida, a vida divina.
E esta cresce na medida em que amamos Jesus Cristo e o próximo.


Quando entra o Espírito Santo na criança? Quando a água é derramada e pronunciada a fórmula batismal: ali começa a graça.
Mas, a partir do uso da razão, essa vida se amplia e cresce.
Jesus, durante toda a sua vida — do presépio à cruz —, mereceu não só para Si, mas também para nós.
Tudo o que Ele fez, desde o nascimento, foi para nossa salvação: para que tivéssemos a graça que apaga o pecado e aumenta os méritos.


Assim, a Adoração pode ser feita nesses três pontos:

  • 40 minutos para cada um, se forem duas horas seguidas;
  • ou divididos de outro modo, conforme o tempo disponível.

Mas, para fazer boas Adorações, é indispensável viver o catecismo — desde o que aprendemos na infância até a teologia, que nada mais é do que um catecismo aprofundado.
O catecismo trata da fé e da vida moral — da graça, enfim.


A primeira parte, portanto, diz respeito ao Caminho: a vida, o Evangelho, o exemplo de Jesus.
Ler e reler o Evangelho, as Cartas de São Paulo, os Atos dos Apóstolos; e, quando possível, outras partes da Bíblia.

No diálogo com o Senhor, devemos ter diante de nós o ensinamento da Igreja, do Catecismo e da Teologia.
Com esses pensamentos, olhando para Jesus, dialogamos com Ele, mostrando o desejo de segui-Lo.

Meditamos:
— Como Jesus viveu?
— Como se comportava com Maria, com os vizinhos, no trabalho, na oração?
— Como rezava no templo, de dia e de noite?
— Como rezou no Getsêmani e na cruz, pedindo perdão pelos que o crucificaram?

Conformemos a nossa vida à de Jesus: na oração, na caridade, na humildade, na obediência.

Fazemos, então, o exame de consciência, o ato de arrependimento e os propósitos de seguir a Via de Cristo.


Depois vem o segundo ponto: “Eu sou a Verdade”.
Ele é a Verdade do Pai.
Na Adoração, meditar sobre as verdades da fé: a criação, os mistérios, as verdades reveladas.
Recitar as palavras de Jesus:
“Bem-aventurados os pobres, os mansos, os que têm fome e sede de justiça…” (Mt 5,3-10).

Meditar o Sermão da Montanha, as pregações ao povo, os ensinamentos aos Apóstolos, especialmente os dos últimos dias de sua vida.
Aprofundar a fé, fazer atos de fé e pedir o aumento da fé.


A terceira parte: “Eu sou a Vida”.
Cristo é a própria Vida, a graça que nos é comunicada pelos sacramentos, especialmente na Confissão e na Eucaristia.
Ele é a videira, nós os ramos (Jo 15,5).
A mesma seiva — a graça — que circula n’Ele, passa a nós.
Por isso somos irmãos de Cristo e filhos do Pai:
“Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20,17).
Se somos filhos, somos também herdeiros (Rm 8,17): herdeiros da graça e do paraíso.

Essa parte da Adoração é dedicada à oração pelo crescimento dessa vida da graça — para que não vivamos apenas minimamente, mas em abundância.
Podem-se rezar o Rosário e outras orações, conforme o costume.

Mas é bom aprofundar sempre mais a Adoração neste eixo:
“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6).
Porque Ele é também a Vida eterna, o Filho de Deus encarnado.


Há muitas maneiras de fazer a Adoração; mas, como tendes o privilégio de estar longamente diante do Filho de Deus, que Cristo viva em vós:
“Vivit vero in me Christus” (Gl 2,20) — Vive em mim Cristo Jesus.
Que Ele viva em vós como Caminho, Verdade e Vida.

E nas orações, pedir todas as graças pela humanidade, pela Igreja, pelas necessidades do mundo e pelas pessoas a quem estamos mais unidas.

Se fizermos Adorações cada vez melhores, toda a vida se aperfeiçoará:
na medida em que rezamos bem, avançamos melhor; e, em proporção à qualidade da oração, é santificada a vida.

Seja louvado Jesus Cristo.

VIVER JESUS CRISTO MESTRE, CAMINHO, VERDADE E VIDA

A meditação “Vivere Gesù Cristo Maestro Via, Verità e Vita” foi proferida por Pe. Tiago Alberione, fundador da Família Paulina, às Pias Discípulas do Divino Mestre em 19 de março de 1966, na igreja dedicada a Jesus Mestre, em Roma, por ocasião da festa de São José. Trata-se de uma das últimas reflexões públicas do fundador, nas quais se percebe a maturidade espiritual e teológica de sua vida interior, sintetizando o coração de toda a espiritualidade paulina: viver em profunda comunhão com Cristo Mestre, Caminho, Verdade e Vida.

Nesta meditação, Alberione propõe um itinerário espiritual centrado na vida interior como núcleo da santidade e da missão. Inspirando-se em São José, ele destaca a simplicidade e a fidelidade cotidiana como o verdadeiro caminho de união com Deus. O autor adverte que as expressões externas da fé (cânticos, ritos e observâncias) são valiosas, mas somente têm sentido quando brotam de um interior animado pela fé, pela esperança e pela caridade. Assim, viver a vida religiosa não é apenas cumprir regras, mas deixar que Cristo transforme a própria interioridade.

O fundador retoma, em seguida, o núcleo da devoção paulina a Jesus Mestre: Ele é honrado como Verdade, pela fé e pela busca da sabedoria; como Caminho, pelo seguimento de seus exemplos e mandamentos; e como Vida, pelo amor que o discípulo cultiva a Deus e às almas. Alberione também recorda que o conhecimento de Cristo se dá pela Revelação, pela Tradição e pelo Magistério da Igreja, e que a verdadeira comunhão com o Mestre se realiza na Eucaristia e na Palavra, duas presenças inseparáveis.

A meditação conclui com uma exortação à Família Paulina: que todos compreendam e vivam profundamente a presença do Mestre Divino, irradiando a partir da Eucaristia a luz de Cristo para o mundo. O autor confia essa graça à comunidade das Pias Discípulas, unindo o sentido espiritual da nova igreja a uma missão universal de evangelização.

Ler este texto é entrar no pensamento orante de Pe. Alberione, onde a teologia se faz vida e a espiritualidade se traduz em comunhão. Sua voz, serena e convicta, convida cada discípulo e discípula do Divino Mestre a cultivar uma fé encarnada, unindo oração e ação, interioridade e missão, Eucaristia e Evangelho.


17. VIVER JESUS CRISTO MESTRE, CAMINHO, VERDADE E VIDA

Meditação à Comunidade das Pias Discípulas do Divino Mestre.
Roma, Via Portuense 739, 19 de março de 1966

… a vida interior. Ele — São José — foi o maior dos santos depois da Santíssima Virgem: seu recolhimento habitual, sua união com Deus, sua docilidade à vontade divina em tudo, sempre disposto a tudo o que o Senhor lhe pedia nas diversas circunstâncias, conforme entendemos pelo Evangelho. Vida interior.

Os cânticos têm seu lugar e fazem muito bem; é necessária também a parte litúrgica exterior; mas, depois disso, é preciso cultivar a vida interior, ou seja, uma fé cada vez mais viva, uma esperança cada vez mais viva, e uma caridade cada vez mais viva. A vida religiosa deve ser observada nas diversas disposições das Constituições religiosas, mas sobretudo observada no íntimo, mais do que no exterior, em tudo, do primeiro ao último artigo das Constituições. Antes de tudo, que seja animada pela fé; pela esperança em Jesus Cristo e na imitação de Jesus Cristo; e pelo amor a Deus e ao próximo. Esta é a vida interior.

A abundância de oração honra a Deus e alcança as graças de que precisamos; mas, ainda mais, é preciso cuidar do interior mais do que da observância exterior. Assim também devem ser recebidos os sacramentos, assim também se deve participar das celebrações. E, em todo o dia, deve haver uma alegria religiosa, uma santa união com Deus. É verdade que, nas obras e nas tarefas, é necessário cuidar também do aspecto exterior e isso é necessário. Mas que tudo parta, antes de tudo, do íntimo.

São José, que não fez coisas extraordinárias, chegou à mais alta santidade. Ele não foi apóstolo, nem mártir, nem pontífice, e, no entanto, está acima de todos no paraíso, exceto a Santíssima Virgem. Por quê? Porque sua vida foi a de um carpinteiro. Mas chegou a tal santidade por causa de sua interioridade.

Segundo pensamento (belíssima esta igreja, sim; e belíssima a cripta, que favorece e convida ao recolhimento): é preciso obter que, em toda a Família Paulina, se compreenda e se siga verdadeiramente o Divino Mestre, tal como o recebemos na comunhão.

Devemos recordar que o Divino Mestre é honrado, em primeiro lugar, pela verdade — a fé; depois, por sua vida, ou seja, por seus exemplos — o caminho; e, por fim, pelo amor — a vida: amor a Deus e amor às almas. Sim, repitam muitas vezes isso, como se repetem as jaculatórias.

Nesta intimidade, posso dizer assim: até agora, quem compreendeu profundamente e viveu isso foi Pe. Dragone, que já preparou e mandou imprimir outro volume; três volumes já foram publicados, e outro está em preparação. Ele compreendeu profundamente o Divino Mestre, já quando era o Criador. Pois foi Ele quem concebeu o desenho do mundo e o realizou. Assim também aqui, os engenheiros fizeram os desenhos, e vocês deram a sua parte nisso. Sim.

Mas é necessária a ciência e a sabedoria: “Eu sou a Verdade” (Jo 14,6), diz o Filho de Deus no seio do Pai.
O primeiro livro foi feito pela ciência humana, isto é, pela criação, em substância, foi assim: “Tudo foi feito por meio dele” (Jo 1,3).

Depois vem a vontade (depois da inteligência): a vontade, expressa nos mandamentos. E tudo o que é bom e santo está contido nos mandamentos e em tudo o que foi ensinado no Antigo Testamento.
Depois, segue-se a revelação do Filho de Deus encarnado, ou seja, o Evangelho. E depois, a Tradição, porque nem tudo foi escrito nos Evangelhos, muita coisa não foi escrita (cf. Jo 21,25); e então existe a Tradição. O ensinamento do Filho de Deus encarnado, uma parte está escrita nos Evangelhos, outra parte está na Tradição. E, portanto, quem interpreta, compreende e explica é o Magistério da Igreja.

E depois, vem a vida: a vida de Jesus Cristo em nós, e como Ele nos transforma. E o que nos tornamos depois disso? Até podermos dizer: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
E esse é o Magistério.

Ora, o que nós contemplamos e meditamos em Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida, encontra seu reflexo em Maria, que foi quem mais profundamente compreendeu e seguiu o Divino Mestre. Portanto, o que quero dizer é isto: coloquem essas intenções, tanto pelo que já foi feito, quanto pelo que ainda deve ser feito, ou seja, obter que em toda a Família Paulina, em cada um de seus membros, se compreenda e se viva o Divino Mestre. Confio-lhes essa missão. Peçam essa graça. E essa graça está ligada a esta igreja.

Na lista das intenções que apresento ao Senhor todas as manhãs, há esta: pelo menos há seis anos eu lembrava diariamente da construção desta igreja dedicada ao Divino Mestre. Esta igreja será um centro e esse centro é Jesus Cristo: Jesus Cristo presente realmente na Eucaristia; e de onde partirão os raios que se difundirão pelo mundo, começando pela Família Paulina.

Eis, portanto, os dois pensamentos principais:
Primeiro, a importância da vida interior, da interioridade.
Segundo, obter esta graça: que todos compreendam, que todos entendam: “Eu sou o Mestre”, diz Jesus. Ele vive na Eucaristia, vive no Evangelho e no ensinamento que nos deu.
Portanto, é preciso unir sempre a Palavra de Deus à Eucaristia, sempre unidas: Eucaristia e Evangelho.

Seja louvado Jesus Cristo.

JESUS, O ÚNICO MESTRE

Dando continuidade à leitura de alguns textos do Fundador sobre a devoção a Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida, prosseguimos agora com a homilia do Pe. Alberione, de 1966 (APD66).

A meditação Gesù l’unico Maestro, proferida por Tiago Alberione às Pias Discípulas do Divino Mestre em Roma, em 23 de janeiro de 1966, durante a novena dedicada ao Divino Mestre, é uma profunda reflexão sobre o papel de Cristo como único e verdadeiro Mestre da humanidade. A partir das leituras litúrgicas do III Domingo depois da Epifania, especialmente o Evangelho de Mateus (8,1-13), com as curas do leproso e do centurião, Alberione desenvolve uma catequese centrada em duas disposições interiores fundamentais para a vida espiritual: a humildade e a fé.

Segundo ele, é por meio dessas atitudes que o discípulo acolhe a graça de Deus e cresce na santidade. O leproso e o centurião tornam-se, assim, figuras paradigmáticas da confiança total em Jesus, cuja palavra e presença curam e transformam.

Na segunda parte, Alberione apresenta Cristo como o único Mestre, aquele que ensina pela palavra, pelo exemplo e pela própria vida: privada, pública, dolorosa e eucarística. Recorda os principais textos evangélicos em que Jesus se define como Via, Veritas et Vita, a videira verdadeira e o pão da vida, revelando que toda sabedoria e santidade derivam da comunhão com Ele.

Por fim, dirige-se às Pias Discípulas, convidando-as a aprofundar sua devoção ao Divino Mestre, especialmente na adoração eucarística, e a difundir essa espiritualidade no seio da congregação. Para Alberione, seguir o Mestre é deixar-se formar interiormente por Ele, para pensar, amar e agir segundo Cristo Caminho, Verdade e Vida.

5. JESUS, O ÚNICO MESTRE (Domingo III depois da Epifania)

Meditação à Comunidade das Pias Discípulas do Divino Mestre
Roma, Via A. Severo 56, 23 de janeiro de 1966¹

Na Epístola, Paulo instrui os Romanos com sua grande Carta:

Irmãos, não vos considereis sábios aos vossos próprios olhos.
A ninguém retribuais o mal com o mal, cuidando de fazer o bem não somente diante de Deus, mas também diante de todos os homens.
Se for possível, no que depender de vós, vivei em paz com todos os homens.
Não vos vingueis a vós mesmos, caríssimos, mas deixai lugar à ira de Deus².

E todos os outros ensinamentos que seguem na mesma Carta. Depois, recordemos o Evangelho, que já foi lido na Missa. No entanto, repitamos. As nações temerão o teu Nome, ó Senhor, e todos os reis da terra a tua glória³.

O Evangelho segundo São Mateus:

Naquele tempo, tendo Jesus descido do monte, uma grande multidão o seguiu — Jesus havia feito aquele célebre sermão, aquele grande sermão que começa com: “Bem-aventurados os pobres, etc.”⁴ —.
Assim, descendo depois do monte, um leproso veio prostrar-se diante dele, dizendo: “Senhor, se queres, podes purificar-me.”
E Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: “Eu quero, sê purificado.”
E imediatamente ele foi purificado da lepra.
Disse-lhe então Jesus: “Vê, não o digas a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote e oferece a oferta prescrita por Moisés, em testemunho para eles.”
Ao entrar em Cafarnaum, aproximou-se dele um centurião que o implorava, dizendo: “Senhor, o meu servo jaz em casa paralítico e sofre terrivelmente.”
E Jesus lhe disse: “Irei e o curarei.”
O centurião respondeu: “Senhor, eu não sou digno de que entres sob o meu teto, mas dize apenas uma palavra, e o meu servo será curado.
Pois também eu, ainda que sujeito a outros, tenho sob meu comando soldados; e digo a um: vai — e ele vai; e a outro: vem — e ele vem; e ao meu servo: faze isto — e ele o faz.”
Ouvindo-o, Jesus ficou admirado e disse aos que o seguiam: “Em verdade vos digo: não encontrei tamanha fé em Israel.
E vos digo que muitos virão do Oriente e do Ocidente e se sentarão à mesa no Reino dos Céus com Abraão, Isaac e Jacó, enquanto os filhos do Reino serão lançados nas trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes.”
E Jesus disse ao centurião: “Vai, e seja feito conforme a tua fé.”
E naquele instante o servo foi curado
⁴.

Nós obtemos as graças depois que fazemos atos de humildade e de fé.
O leproso que recorre a Jesus sente-se tão pobre e tão enfermo — leproso; portanto, humilde.
E depois diz: “Se queres, podes purificar-me” — eis aí.
Então: “Se queres, tu podes purificar-me.” — essas são as duas disposições necessárias para obter.

A humildade: reconhecer a própria pobreza.
E o Senhor é rico, é onipotente, e Ele pode tudo.
Eis as duas disposições.

E Jesus estendeu a mão e o tocou, dizendo: “Eu quero, sê purificado.”
E imediatamente foi purificado da lepra.

Depois, outro milagre, outra graça — mas também aí houve humildade e fé.

Ao entrar em Cafarnaum, aproximou-se dele um centurião que o implorava, dizendo:
“Senhor, o meu servo jaz em casa paralítico e sofre terrivelmente.”

Eis a humildade.

E Jesus lhe respondeu:

“Irei e o curarei.”

O centurião replicou:

“Não sou digno de que entres em minha casa.”

Humildade.

Mas acrescenta, como quem diz:

“Tu podes curá-lo de longe, sem vir à minha casa.”

Eis a fé.

A humildade: reconhecer que não é digno de que Jesus entre em sua casa.
E são essas as palavras que nós dizemos antes da comunhão:

Domine, non sum dignus…¹

E depois, a fé:

“Não é necessário que entres em minha casa, mas dize apenas uma palavra — mesmo daqui, de longe — e ele será curado.”

Ele queria dizer:

“Tu és o Senhor de tudo, e portanto, podes tudo.
Também eu tenho autoridade: posso dar ordens àqueles que me são sujeitos.
Assim, tu és o Senhor de todas as coisas, e tudo te é sujeito.
Tu podes ordenar a tudo — inclusive ao mal.”

Portanto, o comando sobre o mal, sobre a doença.

E então o Senhor Jesus realiza uma maravilha.

Este homem era um pagão, e muitos outros, ao contrário, não haviam acreditado.

“E vos digo que muitos virão do Oriente e do Ocidente e se sentarão à mesa, no Reino dos Céus, com Abraão, Isaac e Jacó.”

Isto quer dizer: um dia o Evangelho será pregado “de um mar a outro mar”, ou seja, por todo o mundo; e muitos que hoje são pagãos tornar-se-ão cristãos e entrarão no paraíso.
E muitos dos judeus obstinados serão expulsos do paraíso.

E Jesus disse ao centurião: “Vai, e seja feito conforme a tua fé.”
E naquele instante o servo foi curado.


Vejamos: nós medimos as graças de Deus — e de que modo?

Segundo a nossa fé, se é pequena ou grande.
Assim, obtemos pouco ou muito conforme a nossa fé.

E fé verdadeira — não há muita. Não há muita fé.

Vede: no mundo, há bem pouca.
Mas também nós, depois de tantas graças, depois de tantas instruções, depois de tantas práticas de piedade, ainda não temos aquela fé que faz os santos.

E cada um se faz santo na medida em que tem fé.

Se se diz: “Fazei-nos santos”¹ — mas quando isso é dito só com os lábios, sem compreender bem o que se diz e qual é a disposição interior…

Portanto, há dois grandes ensinamentos:
o leproso, humilde e cheio de fé;
o centurião, humilde e cheio de fé.
E ambos obtiveram [a graça].

Assim, dois milagres.

Oh! Então devemos extrair deste Evangelho o ensinamento da humildade e da .

Mas é preciso dizer que essas disposições precisam estar no íntimo; e, dolorosamente, muitas vezes — ou melhor, sempre — ainda não fizemos o ato de verdadeira humildade, profunda, aquela que agrada a Deus;
nem a fé profunda, aquela que agrada a Deus.

Então: “Fazei-nos santos.”
E assim será: cada um se fará santo.


Estamos na novena do Mestre Jesus.
E então, lede bem a tradução¹.
E assim, como devemos pensar?

O Mestre Divino é um só, Jesus Cristo — vinde, adoremo-lo².

Ou seja: Ele somente é o verdadeiro Mestre.

E o que ensina o Mestre?

Primeiro, ensina com o exemplo:
sua santíssima vida privada,
sua santíssima vida pública,
sua santíssima vida dolorosa,
e sua santíssima vida eucarística sob as espécies do pão:
está presente na hóstia e se dá a comer a nós.

Pode-se chegar a um ato de humildade assim?
Ele é o Mestre — portanto, o seu exemplo.

Mas há também tudo o que Jesus ensinou com palavras.
E aí devemos considerar os três capítulos do discurso da montanha:

“Bem-aventurados os pobres, etc.”³

Mas são poucos os que sabem observar bem a pobreza;
aqueles que amaram o sofrimento, as dores, etc.

Como estamos distantes de compreender tudo o que está no discurso da montanha, especialmente nas Oito Bem-Aventuranças!

  1. Ego sum Via, Veritas et Vita.
    Então: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida.

Quem me segue não andará nas trevas¹.

Isto é: quem segue — quem procura seguir, imitar — Jesus, não andará nas trevas, mas terá a luz da vida.
Ou seja, seguindo Jesus, terá a vida eterna.

  1. Vós me chamais Mestre e Senhor — e o chamavam, de fato, Mestre —

e dizeis bem, porque o sou: Mestre e Senhor².

Isto é: o Mestre que ensina, e o Senhor, que é o Deus da terra e do céu, o Criador.

Eu, de fato, vos dei o exemplo³ —
eis o primeiro ensinamento: o exemplo —
para que, assim como eu fiz, também vós o façais³.

Humilhar-se como Jesus.

  1. Não vos façais chamar de Doutores — como queriam ser chamados os chefes do povo judeu —

porque um só é o vosso Doutor: o Cristo;
o verdadeiro mestre do caminho do céu.
Vós todos sois irmãos⁴; não mestres.

  1. O discípulo não é mais que o Mestre;

todo aluno, ao completar sua formação, será como o seu mestre⁵.

Ou seja: se seguirmos o Mestre pelos exemplos que ele deixou, também nós seremos como ele — iguais ao Mestre —, isto é, viveremos como Jesus vivia.

  1. Eu sou a videira, vós os ramos.

Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto⁶.

Ou seja: a graça de Deus está na alma boa.
A videira e os ramos: há a mesma seiva em Jesus Cristo — ou seja, a graça — que passa a nós, os membros, assim como a seiva nutre a planta e os ramos.

“Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto.”

Isto é: tendo em nós a graça, o que fazemos dá muito fruto, ou seja, mérito.

  1. Eu sou o pão da vida.

Quem comer deste pão viverá eternamente,
e o pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo⁷.

A sua imolação.

E então: Multifaria multisque modis — isto é, o Senhor ensinou de muitos modos e de diversas maneiras nos tempos antigos:
pelos Profetas, pelos Patriarcas.
Mas agora, nestes últimos tempos, é Jesus quem fala:

Locutus est nobis in Filio⁸ — “falou-nos por meio do Filho”.


Depois, as Pias Discípulas deveriam cantar de preferência essas coisas:
a antífona:

“Deus, que antigamente falou muitas vezes e de muitas maneiras aos Pais por meio dos Profetas, nestes últimos tempos falou também a nós por meio do Filho”¹;

e esses hinos que estão traduzidos:

  • Ego sum Via² — primeiro;
  • Ego sum Veritas³ — segundo;
  • Ego sum Vita⁴ — terceiro.

Se não cantardes vós, que sois as Discípulas do Mestre, quem cantará?

Parece-me que se exige muito mais devoção ao Mestre Divino, que é o Caminho, a Verdade e a Vida.

Empenhei bastante tempo em preparar estas coisas — e com o conselho que recebi, e com o estudo, e com o que submeti à Santa Sé, como a Missa do Mestre Divino; e isso levou três, quatro anos (…).

E agora seria bom que justamente as Discípulas cantassem ao Mestre.
Por quê?
Porque não se considera suficientemente o Evangelho, onde o Mestre ensina, onde Ele instrui.

E nós devemos — e vós deveis — ter uma devoção particular ao Divino Mestre.

E estamos na novena.
Mas não deve ser apenas agora.
Isso, sim, para o mês de janeiro, para a novena.

Mas qual é a vossa devoção?
A vossa devoção é o Mestre.

E os louvores?
E como são as orações ao Divino Mestre no livro das Orações?

O diabo tenta sempre desviar um pouco a espiritualidade, a piedade deste ou daquele.
Muitas vezes nem se compreende, nem sequer se percebe Jesus —
às vezes, nem mesmo na Comunhão,
que é o Mestre (…),
aquele que orienta a mente, o coração e a vontade,
para que sejamos nEle, para que Ele seja em nós.

Há comunhões que são assim… mais ou menos.
Mas serão realmente aquelas que agradam plenamente a Jesus Mestre?

Assumi este compromisso: considerar e ensinar isto,
começando pela casa do noviciado, passando depois às irmãs professas e depois às outras casas.

É preciso mais devoção ao Divino Mestre.

E quando se está ajoelhada fazendo a Adoração,
eis o Mestre, que então fala a nós.

Orar com distração (…), ler isto e aquilo…
Mas é preciso rezar de verdade,
e rezar ao próprio Mestre, que é a nossa devoção,
e que é a vossa devoção em particular.

Peço ao Senhor esta graça:
que a devoção ao Divino Mestre domine sobre todas as outras.

Seja louvado Jesus Cristo.


Notas

  1. Fita 134/b (= cassete 206/a).
    Para a datação, cf. PM: “Estamos na novena do Mestre Jesus (festa em 30 de janeiro de 1966)” (cf. PM em c41).
    Com base neste dado seguro, a datação das outras meditações n.º 3 e 8, gravadas na mesma fita e em sequência, foi considerada muito provável.
    dAS, 23 de janeiro de 1966 (domingo): “Por volta das 5h, Missa e meditação às PD (na capela). Às 15h, em Ariccia, para uma meditação às PD em Exercícios.” — VV (cf. c20).
  2. Epístola: Rm 12,16–21.
  3. Gradual: Sl 101,16–17.
  4. Evangelho: Mt 8,1–13.
    (Cf. Mt 5,3–10 para as Bem-Aventuranças).
  5. Domine, non sum dignus… — Cf. Missale Romanum, Cânon da Missa.
  6. Fazei-nos santos: referência ao uso tradicional da coroinha:
    “Virgem Maria, Mãe de Jesus, fazei-nos santos”, recitada na hora de levantar-se e de deitar-se.
  7. Novena a Jesus Mestre, em As Orações da Família Paulina, ed. 1965, pp. 350–352.
  8. Invitatório da novena, cf. Mt 23,8.

Referências bíblicas:

  1. Jo 14,6; 8,12.
  2. Jo 13,13.
  3. Jo 13,15.
  4. Mt 23,8.
  5. Lc 6,40.
  6. Jo 15,5.
  7. Jo 6,48.51.
  8. Hb 1,1–2.
  9. Cf. Liber Usualis Missae et Officii, In Circumcisione Domini et Octavam Nativitatis, ad Missam, Alleluia. Cf. também Hb 1,1–2.
  10. Cf. As Orações da Família Paulina, op. cit. (1965), p. 234.
  11. Ib., p. 232.
  12. Ib., p. 236.

BEATO TIMÓTEO GIACCARDO: DISCÍPULO FIEL, DOM OFERECIDO À IGREJA

19 de outubro — Memória litúrgica do Beato Timóteo Giaccardo

Hoje, a Família Paulina e, de modo muito especial, as Pias Discípulas do Divino Mestre celebram com gratidão e alegria a memória litúrgica do Beato Timóteo Giaccardo, primeiro sacerdote da Sociedade de São Paulo e colaborador fidelíssimo do Bem-aventurado Tiago Alberione.

Sua vida é uma página viva do Evangelho encarnado na obediência, na humildade e no amor total à missão paulina, uma vida oferecida por amor a Cristo Mestre, Caminho, Verdade e Vida, e pelo reconhecimento e consolidação das Pias Discípulas do Divino Mestre na Igreja.

Giuseppe Giaccardo nasceu em 13 de junho de 1896, em Narzole, na região do Piemonte (Itália), em uma família simples de agricultores. Desde criança, mostrava um coração dócil e profundamente religioso. Aos onze anos, ingressou no seminário de Alba, onde conheceu o jovem sacerdote Tiago Alberione.

Esse encontro mudaria para sempre o rumo de sua vida: entre os dois nasceu uma amizade espiritual sólida e fecunda, que se tornaria um dos pilares da futura Família Paulina.

Giaccardo via em Alberione um verdadeiro mestre e pastor; e Alberione via no jovem seminarista um coração generoso, inteligente e disponível, capaz de compreender os “novos tempos” e as novas formas de evangelizar que o Espírito Santo suscitava na Igreja.

Foi o próprio Alberione quem o convidou, anos depois, a fazer parte da nascente Sociedade de São Paulo, que usaria os meios de comunicação para anunciar o Evangelho.

Primeiro sacerdote paulino

Em 19 de outubro de 1919, o jovem Giuseppe foi ordenado sacerdote e, ao fazer sua profissão religiosa na Sociedade de São Paulo, tomou o nome de Timóteo, em referência ao discípulo fiel de São Paulo Apóstolo.

O nome não poderia ser mais profético: assim como Timóteo foi o colaborador mais próximo de Paulo, o padre Giaccardo foi o mais fiel colaborador de Alberione.

A partir daquele momento, ele se tornaria a presença constante, discreta e essencial que ajudou a transformar o sonho paulino em realidade. Em tudo, o padre Giaccardo buscava viver a união íntima com Jesus Mestre.

Ele costumava dizer:

“Tudo em mim deve ser de Jesus Mestre: o pensar, o amar, o agir. A Ele, toda a minha mente, todo o meu coração, todas as minhas forças.”

Seu sacerdócio foi vivido como dom contínuo, como uma oferenda que se consumia silenciosamente na fidelidade cotidiana, na escuta e na comunhão.

Nos primeiros anos da Sociedade de São Paulo, padre Timóteo exerceu diversas funções: formador, diretor, editor e responsável por comunidades.

Foi enviado por Alberione a Roma, em 1926, para fundar a primeira casa paulina fora de Alba. Lá, lançou o periódico La Voce di Roma e trabalhou para consolidar a missão editorial e apostólica.

Mas sua principal característica era o espírito de comunhão. Padre Timóteo não buscava protagonismo: buscava a vontade de Deus. Era o homem do “sim”, o colaborador silencioso que sustentava as obras com oração, equilíbrio e discernimento. Alberione o chamava de “mestre da docilidade ao Espírito Santo”.

A ele, Alberione confiou também uma das missões mais delicadas e belas de toda a Família Paulina: o acompanhamento espiritual e institucional das Pias Discípulas do Divino Mestre.

Um dom oferecido pelas Pias Discípulas

Desde o nascimento das Pias Discípulas, padre Giaccardo foi presença paterna e fraterna, ajudando a formar as primeiras irmãs e a consolidar a espiritualidade própria do Instituto.

Ele compreendeu profundamente o papel das Discípulas como “oração viva” dentro da Família Paulina: mulheres consagradas chamadas a adorar Jesus Mestre na Eucaristia, a servir nos ministérios litúrgicos e a sustentar, com a vida e com a oração, o apostolado dos outros ramos.

Nos anos 1940, quando surgiram incompreensões e dificuldades quanto ao reconhecimento canônico das Pias Discípulas, padre Timóteo assumiu sobre si o peso da prova.

Alberione testemunhou que ele ofereceu a própria vida pela aprovação definitiva da Congregação.
De fato, em 12 de janeiro de 1948, o Papa Pio XII assinou o decreto de aprovação das Pias Discípulas, exatamente no mesmo dia em que padre Giaccardo celebrou sua última Missa e entrou no repouso eterno, poucos dias depois, em 24 de janeiro.

Sua morte foi uma verdadeira oblação sacerdotal: o cumprimento de uma vida oferecida. O próprio Alberione afirmou:

“Padre Giaccardo deu a vida pelas Pias Discípulas do Divino Mestre. Ele foi o instrumento escolhido por Deus para selar esta obra com o sacrifício.”

Beatificação e exemplo para os nossos dias

O Papa João Paulo II beatificou o padre Timóteo Giaccardo em 22 de outubro de 1989, reconhecendo oficialmente as virtudes heróicas de sua vida e a autenticidade de sua entrega.

Sua memória litúrgica é celebrada no dia 19 de outubro, data de sua ordenação sacerdotal, símbolo eloquente de uma vida toda oferecida a Deus e ao serviço do Evangelho.

Seu corpo repousa em Alba, na Itália, na cripta do Santuário do Divino Mestre, onde muitos peregrinos vão rezar e pedir sua intercessão. Sobre o seu túmulo, lê-se uma inscrição simples que resume sua existência:

“Viveu e morreu como sacerdote paulino.”

Modelo de discípulo e comunicador do Evangelho

O Beato Timóteo Giaccardo continua a inspirar a Família Paulina e toda a Igreja. Sua vida ensina que a santidade não se mede pela visibilidade do trabalho, mas pela profundidade do amor com que se faz tudo.

Em sua fidelidade silenciosa, ele encarnou o ideal paulino: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).

Para as Pias Discípulas do Divino Mestre, ele é irmão e pai espiritual, aquele que sustentou o Instituto com oração, discernimento e sacrifício. Para todos os discípulos e discípulas de Jesus Mestre, ele é modelo de docilidade, humildade e total pertença ao Senhor.

E para os que trabalham nos meios de comunicação e evangelização, é padroeiro da palavra vivida, que comunica mais com o testemunho do que com o discurso.

Oração ao Beato Timóteo Giaccardo

Senhor Jesus, Mestre e Pastor,
nós vos damos graças pelo dom do Beato Timóteo Giaccardo,
sacerdote fiel, discípulo humilde, servidor da vossa Igreja.
Fazei-nos dóceis ao Espírito,
fiéis à missão que nos confiais,
ardorosos no amor à Eucaristia e à vossa Palavra.
Que sua intercessão nos conduza
a viver como ele: com simplicidade, coragem e alegria,
em plena comunhão convosco e com a Igreja.
Amém.

Neste 19 de outubro, ao celebrar sua memória, renovemos nosso desejo de ser discípulos e discípulas que comunicam a Vida.

Que o Beato Timóteo Giaccardo continue a interceder por cada PIA DISCÍPULA, por toda a Família Paulina e por cada pessoa que deseja, como ele, fazer de sua vida um anúncio silencioso e fecundo do Amor de Cristo Mestre, Caminho, Verdade e Vida.