Liturgia do Dia – Sábado, 4 de Outubro de 2025 São Francisco de Assis, religioso – Memória 26ª Semana do Tempo Comum
Leituras:
Br 4,5-12.27-29
Sl 68(69),33-35.36-37 (R. 34a)
Lc 10,17-24
A liturgia do dia nos apresenta o retorno jubiloso dos setenta e dois discípulos enviados em missão. Eles voltam cheios de alegria, testemunhando que até os espíritos maus se submetiam em nome de Jesus. O Senhor, porém, os convida a olhar além dos frutos visíveis e a alegrar-se sobretudo porque os seus nomes estão escritos no céu.
Esse trecho revela duas dimensões fundamentais da vida cristã: a missão, que se realiza na autoridade de Cristo e não em nossas forças, e a verdadeira alegria, que nasce da certeza de sermos amados e escolhidos por Deus. Jesus exulta no Espírito Santo e louva o Pai que revela os mistérios do Reino aos pequeninos, não aos sábios e entendidos.
Primeira Leitura (Br 4,5-12.27-29): o profeta Baruc traz uma palavra de esperança a um povo que sofre no exílio: “Coragem, meu povo!”. Ainda que o povo de Israel tenha experimentado a dor e a dispersão por causa de suas infidelidades, Deus não os abandona. Ele promete novamente a misericórdia e a possibilidade de retorno. A mensagem de Baruc conecta-se ao Evangelho, pois a verdadeira alegria não vem da ausência de dificuldades, mas da confiança no amor e na fidelidade de Deus, que nunca abandona os seus filhos.
Salmo Responsorial (Sl 68): o salmista proclama: “Ó humildes, vede isto e alegrai-vos; o vosso coração reviverá se procurardes o Senhor”. O salmo reforça o convite da liturgia de hoje: confiar no Senhor em meio às provações e experimentar n’Ele a verdadeira alegria que sustenta a vida.
A liturgia do dia deste sábado nos convida a redescobrir a fonte da verdadeira alegria cristã: a certeza de que pertencemos a Deus e que nossos nomes estão escritos no céu. Baruc nos recorda a fidelidade divina mesmo nas tribulações; o salmo aponta para a confiança e a esperança dos humildes; e São Francisco de Assis nos mostra, com sua vida, que a simplicidade evangélica é caminho de santidade.
Santo do Dia: São Francisco de Assis
Celebramos hoje a memória de São Francisco de Assis, um dos santos mais amados da Igreja. Conhecido como “o Pobrezinho de Assis”, Francisco viveu de forma radical o Evangelho, abraçando a pobreza, a simplicidade e o amor por toda a criação. Ele se tornou sinal de paz, fraternidade e confiança absoluta em Deus.
São Francisco nos ajuda a compreender melhor o Evangelho do dia: a verdadeira alegria não está no poder, no prestígio ou no sucesso visível, mas em viver como filhos amados de Deus, colocando-se nas mãos do Pai com humildade e confiança.
Que possamos, como os discípulos e como São Francisco, alegrar-nos não pelo que fazemos, mas por aquilo que somos em Cristo: filhos amados do Pai.
Nesta quinta-feira, 2 de outubro de 2025, a Igreja celebra a memória dos Santos Anjos da Guarda, inserida na 26ª Semana do Tempo Comum. A liturgia nos convida a mergulhar no Evangelho segundo São Mateus (Mt 18,1-5.10), em que Jesus coloca uma criança no centro da assembleia dos discípulos e ensina sobre a humildade necessária para entrar no Reino dos Céus.
O capítulo 18 de São Mateus é conhecido como o “discurso comunitário”. Nele, Jesus ensina aos discípulos como deve ser a vida daqueles que vivem reunidos em seu nome: marcada pela humildade, pelo cuidado mútuo, pela reconciliação e pelo perdão.
A cena começa com uma pergunta que revela certa incompreensão dos discípulos: “Quem é o maior no Reino dos Céus?” (Mt 18,1). A lógica dos homens está sempre ligada ao poder, à grandeza e à hierarquia. Jesus, no entanto, subverte essa mentalidade ao colocar uma criança no meio deles.
No tempo de Jesus, a criança não tinha prestígio algum: era símbolo de pequenez, dependência e fragilidade. Ao apontá-la como modelo, o Mestre ensina que o verdadeiro discípulo é aquele que se coloca diante de Deus como um pequeno, consciente de que nada possui de si mesmo, mas tudo recebe como dom.
O gesto é profundamente simbólico. A criança, na sociedade do século I, não tinha direitos, nem importância social ou religiosa. Era sinal de dependência, fragilidade e necessidade de proteção. Jesus não exalta a inocência ou a pureza da criança, mas sua pequenez e sua total confiança no adulto. Ao colocar a criança no meio, Ele muda a lógica da comunidade: no centro não está o poderoso, mas o pequeno.
No versículo 3, lemos: “Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus”. A conversão aqui é dupla: intelectual porque nos propõe mudar a forma de pensar, deixar a mentalidade de grandeza. E também uma conversão existencial, pois nos impele a adotar a atitude de dependência confiante diante de Deus. Jesus não pede apenas “imitar as crianças”, mas “tornar-se” criança, isto é, assumir uma postura contínua de humildade e simplicidade.
“Quem se faz pequeno como esta criança, esse é o maior no Reino dos Céus” (Mt 18, 4): no Reino de Deus, não é a força que garante posição, mas a humildade. A “pequenez” não é passividade, mas atitude ativa de quem se coloca nas mãos de Deus.
Não se trata apenas de tornar-se pequeno, mas também de acolher os pequenos. Receber uma criança (ou qualquer pessoa marginalizada, frágil, dependente) equivale a receber o próprio Cristo. Esse ensinamento ecoa Mt 25,40: “todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes”.
Em Mt 18, 10: “Não desprezeis nenhum desses pequeninos, pois eu vos digo: os seus anjos nos céus veem continuamente a face de meu Pai que está nos céus”, ele reforça a dignidade dos pequenos. O motivo pelo qual ninguém deve ser desprezado é teológico: eles têm anjos que contemplam a face de Deus. Isso significa que, mesmo os mais fracos e sem importância aos olhos do mundo, são infinitamente preciosos aos olhos do Pai. Aqui aparece a base bíblica da doutrina dos anjos da guarda.
E é justamente após esse ensinamento que vem a referência aos anjos: aqueles que assistem os pequenos e que continuamente contemplam a face do Pai. Jesus declara, portanto, que cada pequenino tem diante de Deus uma dignidade infinita e uma proteção especial.
A palavra “anjo” vem do grego angelos, que significa “mensageiro”. Os anjos são criaturas espirituais, puramente imateriais, criados por Deus para O servir e adorar. Ao mesmo tempo, exercem uma missão em relação aos homens, acompanhando-os no caminho da salvação.
O Catecismo da Igreja Católica nos ensina:
“A existência dos seres espirituais, não corporais, que a Sagrada Escritura habitualmente chama de anjos, é uma verdade de fé” (CIC 328).
“Do seu começo até à morte, a vida humana é cercada pela sua proteção e intercessão” (CIC 336).
Na liturgia de hoje, celebramos de modo particular os Anjos da Guarda, ou seja, essa presença espiritual personalizada que acompanha cada ser humano. A Tradição da Igreja vê nesse cuidado divino uma expressão concreta do amor de Deus: Ele não nos abandona, mas coloca ao nosso lado um companheiro invisível que nos guia, nos inspira ao bem, nos protege do mal e nos conduz em direção à vida eterna.
Embora a expressão “Anjo da Guarda” não apareça de forma literal na Bíblia, encontramos diversos textos que confirmam sua missão protetora:
Êxodo 23,20-23 – Primeira leitura da liturgia de hoje. Deus promete enviar um anjo à frente do povo, para guardá-lo e conduzi-lo à Terra Prometida. Aqui já se vê o anjo como presença concreta da providência divina.
Salmo 90(91),10-11 – “Ele dará ordem a seus anjos para que te guardem em todos os teus caminhos.” Esse salmo é uma das expressões mais claras da confiança na proteção angelical.
Mateus 18,10 – Evangelho de hoje: Jesus afirma que os anjos dos pequeninos veem continuamente a face do Pai. Isso revela, por um lado, a comunhão íntima que esses seres celestes têm com Deus, e por outro, a dignidade das pessoas que eles protegem.
Atos 12,6-11 – O anjo que liberta Pedro da prisão. Aqui aparece a ação direta de um anjo guardando e conduzindo um apóstolo em perigo.
Esses textos mostram que os anjos são presença real e atuante na história da salvação, sempre a serviço da glória de Deus e do bem das criaturas humanas.
Desde os primeiros séculos, a Igreja reconhece a missão dos anjos na vida dos fiéis. Padres da Igreja como São Basílio Magno já afirmavam: “Cada fiel tem ao seu lado um anjo como protetor e pastor, para conduzi-lo à vida”.
Na Idade Média, São Bernardo de Claraval fez um famoso sermão sobre os anjos da guarda, no qual recorda que devemos honrá-los com respeito, confiar neles com devoção e amá-los com ternura.
A devoção popular aos anjos da guarda floresceu ao longo dos séculos, sendo confirmada na liturgia. Em 1608, o Papa Paulo V estendeu a festa dos Santos Anjos da Guarda a toda a Igreja, e hoje ela é celebrada como memória obrigatória no calendário romano.
Atualizando para nossa vida
Celebrar os Santos Anjos da Guarda é renovar nossa confiança na providência divina. Num mundo onde tantas vezes nos sentimos sozinhos, desprotegidos e vulneráveis, lembrar que Deus nos concede um anjo particular é motivo de esperança.
Ao mesmo tempo, o Evangelho de hoje nos pede que aprendamos das crianças a simplicidade e a humildade, para reconhecermos nossa dependência de Deus. Só quem se faz pequeno percebe a presença delicada dos anjos e se deixa conduzir por eles.
Portanto, a liturgia de hoje une dois grandes ensinamentos:
Do Evangelho: a necessidade da humildade e do cuidado com os pequeninos.
Da memória litúrgica: a certeza de que Deus nos acompanha de modo invisível por meio dos seus anjos.
O Anjo da Guarda é um sinal de que nunca estamos abandonados. Deus, em sua infinita bondade, confiou a cada um de nós um companheiro espiritual que nos guia no caminho do bem. O Evangelho nos ensina que esses anjos contemplam o rosto do Pai, e por isso sua missão é sempre fruto da intimidade com Deus.
Que, nesta memória dos Santos Anjos da Guarda, possamos abrir o coração para essa presença discreta e fiel, e viver com confiança e humildade, como crianças no colo de Deus.
O evangelho de hoje (Lc 9,51-56) mostra Jesus decidido a ir para Jerusalém, lugar do cumprimento de sua missão pascal. Ele não se deixa abalar pela rejeição dos samaritanos, nem cede ao ímpeto de vingança sugerido por Tiago e João. O Senhor ensina que o caminho do discípulo não é o da violência, mas o da fidelidade e da entrega amorosa, mesmo quando encontra incompreensão ou hostilidade.
Este trecho marca um ponto de virada no evangelho de Lucas. Até aqui, Jesus havia realizado sinais, ensinado às multidões e formado seus discípulos. No versículo 51, lemos: “Estava chegando o tempo de Jesus ser levado para o céu. Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém”. Aqui temos duas perspectivas importantes: Jerusalém é o lugar do cumprimento da sua missão: paixão, morte, ressurreição e ascensão. E também a “subida” não é apenas geográfica, mas teológica: é o caminho da obediência ao Pai.
No caminho, Jesus passa pela Samaria. Os samaritanos, por causa das tensões históricas com os judeus (antiga rivalidade sobre o local do culto), não o acolhem. Tiago e João, cheios de zelo, querem invocar o fogo do céu contra eles, lembrando talvez do episódio do profeta Elias (cf. 2Rs 1,10-12). Mas Jesus os repreende.
Na perspectiva teológico-litúrgica, este trecho nos coloca diante da Cristologia do caminho. A liturgia apresenta Jesus como o Servo obediente, que, em plena liberdade, assume a vontade do Pai e não se desvia da missão que lhe foi confiada. A decisão firme de partir para Jerusalém não é apenas um deslocamento geográfico, mas um movimento espiritual e teológico: é o caminho da entrega total, no qual a cruz se torna passagem necessária para a ressurreição e para a glória.
Esse “caminho” revela o rosto de um Messias que não busca triunfos fáceis nem evita a rejeição, mas que se define pelo amor radical e pela misericórdia. Em contraste com a atitude dos discípulos, que desejam recorrer ao fogo do céu para punir os que não acolhem o Mestre, Jesus indica uma nova lógica: a da não-violência, do perdão e da paciência. Assim, o discipulado cristão só se compreende à luz desse itinerário pascal, no qual a centralidade da cruz não é sinal de derrota, mas de fidelidade e de vitória do amor.
Na liturgia, essa dimensão do caminho se transforma em convite permanente para a comunidade: celebrar a Eucaristia é unir-se a Cristo que se oferece no altar como na cruz, e que nos chama a segui-lo na obediência, na perseverança e na esperança. Cada fiel é convidado a “subir com Ele a Jerusalém”, assumindo também os desafios da missão, sustentado pela certeza de que, ao final do caminho, está a vida nova da ressurreição.
Este evangelho também abre uma perspectiva eclesiológica muito clara. A missão da Igreja é universal e deve se manifestar sempre pela misericórdia. Diante do fechamento e da rejeição, a comunidade cristã não pode responder com intolerância ou violência, mas com perseverança e testemunho de amor. A Igreja é chamada a levar a Boa-Nova a todos os povos, mesmo quando encontra oposição, sem impor-se, mas oferecendo a fé como dom e convite. A liturgia ilumina esse ponto ao colocar em diálogo o evangelho com a profecia de Zacarias (1ª leitura), que anuncia o tempo em que “dez homens de todas as línguas agarrarão a orla da veste de um judeu e dirão: queremos ir contigo, pois ouvimos dizer que Deus está contigo”. Assim, a Palavra mostra que a salvação é para todos e que a Igreja é sinal desse projeto de comunhão universal.
Outro aspecto fundamental é a espiritualidade do discipulado. Tiago e João encarnam o risco do falso zelo, que confunde missão com poder e usa a violência como resposta ao não acolhimento. Jesus, ao repreendê-los, corrige essa visão e aponta a verdadeira identidade do discípulo: seguir o Mestre significa assumir a mansidão, a paciência e a lógica do amor. O fogo que consome não é o da vingança, mas o do Espírito que aquece os corações e transforma vidas. A liturgia nos convida, portanto, a rever nossas próprias atitudes diante das dificuldades da missão: não é a força que convence, mas a coerência com a cruz de Cristo. A paciência, a perseverança e o testemunho humilde são os sinais do verdadeiro seguidor do Senhor.
Em síntese, o brano de Lc 9,51-56, dentro da liturgia, inaugura o grande caminho de Jesus para Jerusalém. É uma catequese sobre decisão, rejeição e misericórdia.
Decisão: Jesus não hesita em cumprir a vontade do Pai.
Rejeição: o Evangelho pode ser recusado, e isso faz parte da missão.
Misericórdia: a resposta cristã não é condenação, mas perseverança no amor.
Assim, a perspectiva teológico-litúrgica é clara: Cristo caminha para entregar a vida por todos; a Igreja, unida a Ele, deve percorrer o mesmo caminho, renunciando à violência e testemunhando a misericórdia de Deus.
Portanto, na liturgia do dia, somos chamados a contemplar essa firmeza de Jesus e a aprender que, para seguir seus passos, precisamos cultivar paciência, misericórdia e perseverança. Muitas vezes, o anúncio do Evangelho encontra resistência, mas a resposta cristã deve sempre ser marcada pelo testemunho da paz e do amor que vem de Deus.
A primeira leitura (Zc 8,20-23) anuncia que povos de todas as nações buscarão o Senhor em Jerusalém. Essa profecia se cumpre em Cristo, que reúne em si a salvação para todos. Já o salmo recorda que todos os povos são chamados a fazer parte da cidade santa. Assim, a liturgia do dia nos faz olhar para a universalidade da missão da Igreja: acolher todos, sem distinção, no amor de Deus.
São Jerônimo e a Palavra de Deus
Hoje celebramos São Jerônimo, presbítero e doutor da Igreja, conhecido especialmente por sua dedicação às Sagradas Escrituras. Ele traduziu a Bíblia para o latim (a chamada Vulgata), tornando a Palavra de Deus acessível ao povo de seu tempo.
Neste 30 de setembro, encerrando o Mês da Bíblia 2025, dedicado ao estudo da Carta aos Romanos, a memória de São Jerônimo nos recorda a importância de amar, estudar e viver a Palavra de Deus. Assim como ele se deixou transformar pela Escritura, também somos convidados a deixar que a Palavra ilumine nossas escolhas e nos ajude a caminhar com firmeza na fé, com a mesma decisão de Cristo rumo a Jerusalém.
Vida de São Jerônimo (c. 347–420)
Jerônimo nasceu por volta do ano 347, em Estridão, região da Dalmácia (atual Croácia ou Eslovênia). Desde jovem, demonstrou grande inteligência. Foi enviado a Roma para estudar, onde se destacou como aluno aplicado em gramática, retórica e filosofia. Embora levasse inicialmente uma vida voltada para os prazeres, foi profundamente tocado pela experiência da fé. Batizado na juventude, começou a dedicar-se intensamente à vida cristã.
Após viagens pelo Oriente, Jerônimo optou por uma vida de penitência e oração no deserto da Síria. Ali, mergulhou no estudo das Escrituras, aprendendo grego e hebraico para melhor compreender os textos bíblicos. Em 382, foi chamado a Roma e se tornou secretário do Papa Dâmaso I. A pedido dele, iniciou uma tarefa monumental: revisar e traduzir a Bíblia para o latim. Essa tradução ficou conhecida como Vulgata, e por séculos foi a versão oficial da Igreja.
Depois da morte do Papa, Jerônimo mudou-se para Belém, onde fundou um mosteiro. Ali, viveu até sua morte, dedicando-se à oração, ao estudo bíblico e à escrita. Faleceu em 30 de setembro de 420, em Belém.
Contribuições de São Jerônimo:
A Vulgata, sua tradução da Bíblia para o latim, tornou-se um marco na história da Igreja. Com ela, São Jerônimo ofereceu à comunidade cristã de seu tempo uma Palavra acessível, clara e compreensível, permitindo que a Escritura fosse rezada, estudada e vivida por todos.
No campo do estudo bíblico, destacou-se como pioneiro da exegese cristã. Com dedicação incansável, aprofundou-se nas línguas originais: o hebraico e o grego, para captar a riqueza e a fidelidade do texto sagrado.
Seus escritos (cartas, comentários bíblicos e tratados) permanecem até hoje como fonte preciosa para a teologia, a espiritualidade e a vida pastoral, testemunhando a profundidade de seu pensamento e a força de sua fé.
Mas é sobretudo no seu testemunho de amor à Palavra que resplandece sua herança espiritual. Ele mesmo sintetizou essa paixão numa frase que atravessa os séculos: “Ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo.”
São Jerônimo era um homem de temperamento forte, mas de coração totalmente entregue a Deus. Sua vida mostra que a fidelidade à Palavra exige esforço, estudo e dedicação, mas também humildade diante do mistério de Deus. É considerado Padroeiro dos estudiosos da Bíblia, dos tradutores e dos que se dedicam ao aprofundamento das Escrituras.
Rezar com o ícone de São Jerônimo
Ao contemplar o ícone de São Jerônimo, somos convidados a entrar no silêncio do deserto interior. O santo aparece como eremita, de barba branca e olhar profundo, lembrando-nos que a verdadeira sabedoria nasce da escuta de Deus.
O fundo dourado revela que sua vida foi transfigurada pela luz divina: quem se deixa conduzir pela Palavra participa já da glória do Senhor. As vestes marrons recordam sua humildade e penitência, a terra que acolhe a semente do Espírito. O livro em vermelho nos fala do ardor e da paixão com que ele amou as Escrituras, oferecendo sua vida ao serviço da Igreja. O branco de seus cabelos e barba é sinal da pureza e da maturidade espiritual que brotam da fidelidade.
O livro aberto em suas mãos é a Palavra de Deus, que ele traduziu e meditou, tornando-se para a Igreja um mestre e doutor. Ao rezar diante deste ícone, podemos pedir a graça de amar mais profundamente as Escrituras, deixando que elas transformem nosso coração.
O leão aos seus pés recorda a lenda de sua compaixão: quem acolhe até a dor das criaturas mais temidas, acolhe também a própria humanidade ferida. Rezar com este detalhe do ícone nos convida a pedir a virtude da misericórdia e da coragem. O leão ao seu lado faz referência à famosa lenda segundo a qual Jerônimo retirou um espinho da pata de um leão, que depois se tornou seu companheiro fiel.
As vestes simples e o rochedo indicam desapego, penitência e vida ascética. São Jerônimo nos lembra que a busca pela verdade exige humildade, disciplina e silêncio.
Rezar diante do ícone de São Jerônimo é deixar-se conduzir por sua memória e testemunho. É pedir o dom de um amor sempre renovado pela Palavra de Deus, que ilumina e orienta cada passo. É suplicar a sabedoria que brota da escuta atenta e obediente, capaz de discernir a vontade divina nas pequenas e grandes escolhas da vida. É buscar a coragem para viver na fidelidade, mesmo quando o caminho exige renúncias e firmeza interior. E é, por fim, abrir o coração à compaixão diante das feridas do mundo, para que a Palavra acolhida se torne gesto de cuidado, justiça e misericórdia.
Que o mesmo Espírito que guiou São Jerônimo no deserto e no estudo das Escrituras, nos guie também no caminho da oração e da vida cristã.
Liturgia do Dia – Sexta-feira, 19 de Setembro de 2025 – 24ª Semana do Tempo Comum, Ano Ímpar (I)
O evangelho proposto pela liturgia do dia (Lc 8,1-3) nos coloca diante de uma cena de profundo valor teológico e pastoral: Jesus caminha de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, anunciando e proclamando a boa-nova do Reino de Deus. Acompanhavam-no os Doze e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades. Entre elas, Lucas menciona Maria Madalena, da qual tinham saído sete demônios, Joana, esposa de Cuza, administrador de Herodes, Susana e muitas outras, que ajudavam a sustentar Jesus e seus discípulos com os próprios bens.
Esse breve relato mostra um traço fundamental do ministério de Jesus: a itinerância missionária e a inclusão. Jesus não permanece preso a um lugar, mas percorre os caminhos, vai ao encontro das pessoas, leva a Boa-Nova a todos, sem restrições. Além disso, sua missão não é solitária nem exclusiva dos Doze apóstolos: mulheres também estão integradas nesse movimento evangelizador. Em um contexto cultural em que a mulher tinha um papel social limitado, a presença feminina no discipulado de Jesus revela a novidade radical do Evangelho, onde todos têm lugar, todos podem servir, todos podem participar.
Do ponto de vista teológico, o texto aponta para a universalidade da salvação e para a dimensão comunitária do seguimento de Cristo. O Reino não é construído apenas por figuras centrais, mas por uma comunidade variada, com diferentes histórias de vida, marcada por curas, libertações e testemunhos. Jesus mostra que o discipulado é fruto da experiência de encontro e de gratuidade: aqueles que foram alcançados pela graça tornam-se colaboradores na missão.
Essa perspectiva ajuda a compreender a articulação com a primeira leitura (1Tm 6,2c-12). Paulo, dirigindo-se a Timóteo, recorda a importância de ensinar a sã doutrina, evitando a tentação da busca pelo lucro e a avidez pelo dinheiro. O apóstolo exorta a fugir da ganância, pois “a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro”. Em contraste, convida a cultivar a fé, a piedade, a perseverança, o amor e a mansidão, lutando o bom combate da fé e alcançando a vida eterna.
Ao ligar o evangelho com a exortação paulina, podemos perceber um fio condutor: a verdadeira riqueza está em seguir Jesus e partilhar os bens para o serviço do Reino. As mulheres que acompanhavam Cristo sustentavam a missão não por interesse, mas por gratidão e generosidade. Paulo, por sua vez, adverte contra o risco de reduzir a fé a um meio de enriquecimento. A liturgia do dia, portanto, convida a refletir sobre a relação entre fé e bens materiais: o discipulado se expressa também na maneira como administramos aquilo que temos.
O salmo responsorial (Sl 48[49]) reforça essa mensagem, proclamando a relatividade das riquezas. “Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus” é o refrão tirado do Evangelho de Mateus, e o salmo canta a precariedade da confiança nos bens terrenos. O salmista lembra que ninguém leva nada consigo ao morrer; por mais que alguém se enriqueça, sua glória não o acompanha na morte. O que permanece, em última instância, é a confiança em Deus.
Se o evangelho mostra mulheres generosas que oferecem seus recursos para a missão e a carta a Timóteo adverte contra a cobiça, o salmo nos coloca diante da transitoriedade da vida e do chamado à confiança plena no Senhor. O itinerário da liturgia do dia conduz a uma síntese clara: o seguimento de Jesus exige liberdade interior em relação aos bens materiais, disponibilidade para partilhar e coragem para viver uma fé encarnada no serviço.
As implicações pastorais desse conjunto de leituras são riquíssimas. Em primeiro lugar, a comunidade cristã é chamada a reconhecer o valor da diversidade de vocações e ministérios. O evangelho lembra que o seguimento de Jesus é para homens e mulheres, jovens e idosos, ricos e pobres, cada qual com seus dons e com sua história de libertação. A pastoral da Igreja deve sempre cultivar esse espírito de inclusão, rompendo barreiras culturais e sociais que possam restringir a ação do Evangelho.
Em segundo lugar, a liturgia do dia provoca a refletir sobre o uso dos bens. No mundo atual, marcado pelo consumismo, pela desigualdade e pela idolatria do dinheiro, a Palavra convida a um estilo de vida mais simples, solidário e desapegado. Não se trata de desprezar os bens materiais, mas de saber orientá-los para o bem comum, como fizeram aquelas mulheres que ajudaram Jesus e os discípulos. A pastoral social e a prática da caridade são, assim, dimensões inseparáveis da vida cristã.
Outro aspecto importante é a exortação de Paulo a Timóteo: a fé não deve ser instrumentalizada para interesses pessoais. Isso vale também para o nosso tempo, quando muitas vezes se vê a tentação de usar a religião como meio de lucro, de poder ou de manipulação. A liturgia do dia denuncia tais desvios e reafirma que a missão da Igreja é testemunhar o Evangelho com simplicidade e gratuidade, apontando para Cristo e não para si mesma.
Por fim, a palavra proclamada nos chama à esperança e à confiança. O salmo recorda que nada neste mundo é definitivo, exceto a promessa de Deus. Por isso, o cristão é convidado a viver com os pés na terra, comprometido com a justiça, mas com o coração voltado para o céu, buscando sempre o Reino que não passa.
Celebrar a liturgia do dia nesta sexta-feira, 19 de setembro de 2025, é renovar o compromisso de ser discípulo missionário, como aqueles que seguiam Jesus em seu caminho. É deixar-se tocar pela Palavra, rever nossas prioridades, cultivar a generosidade e manter viva a esperança na vida eterna. O convite é claro: lutar o bom combate da fé, viver na mansidão, partilhar os dons, caminhar em comunidade.
Assim, a liturgia não é apenas um rito repetido, mas um encontro transformador com o Senhor que continua a passar por nossas cidades, chamando homens e mulheres a segui-lo. Que essa Palavra inspire nossa vida e nossa pastoral, para que, unidos, possamos proclamar a Boa-Nova com gestos concretos de amor e serviço.
Liturgia do dia – Quinta-feira, 18 de Setembro de 2025 24ª Semana do Tempo Comum, Ano Ímpar (I) Leituras: 1Tm 4,12-16; Sl 110(111),7-8.9.10 (R. 2a); Lc 7,36-50
A liturgia do dia nos convida a mergulhar em uma cena profundamente humana e, ao mesmo tempo, repleta da misericórdia divina revelada por Jesus. O evangelho segundo Lucas apresenta o encontro de Jesus na casa de um fariseu chamado Simão, durante uma refeição, quando uma mulher, conhecida na cidade como pecadora, se aproxima d’Ele com um gesto audacioso e transformador. Ela unge os pés do Senhor com perfume, banha-os com suas lágrimas e os enxuga com os cabelos. Esse ato causa estranheza e até escândalo, sobretudo ao fariseu que havia convidado Jesus, mas se torna a ocasião para que Cristo revele o coração da Boa-Nova: o perdão e a salvação estão disponíveis para todos, especialmente para aqueles que reconhecem sua condição de fragilidade e se abrem ao amor de Deus.
A cena evangélica tem um forte contraste. De um lado, o fariseu, cumpridor da Lei, aparentemente justo, mas preso a uma atitude de julgamento. Ele não consegue ver em Jesus a novidade de Deus e, por isso, interpreta o gesto da mulher como inconveniente e até inadmissível. Do outro, a mulher pecadora, sem méritos sociais ou religiosos, mas que, com humildade e confiança, oferece o que tem de melhor: suas lágrimas, sua coragem, seu perfume, sua vida. Jesus, então, ensina que a verdadeira medida da fé não está na aparência, nem na observância fria de normas, mas na capacidade de amar e deixar-se amar. Quem muito é perdoado, muito ama. E esse amor, expressão de fé, abre caminho para a salvação.
Este evangelho nos provoca profundamente em nossa caminhada cristã. Quantas vezes nos colocamos mais próximos da atitude do fariseu, prontos para julgar os outros segundo nossas categorias humanas, esquecendo que a misericórdia de Deus não se limita aos nossos critérios? A liturgia do dia nos convida a olhar para dentro de nós mesmos e reconhecer que todos precisamos do perdão do Senhor. Só assim podemos acolher os irmãos e irmãs com o coração aberto, sem excluir, sem condenar, mas ajudando-os a se aproximar da fonte de vida que é Cristo.
As outras leituras do dia dialogam com essa mensagem central. Na primeira leitura, tirada da Primeira Carta a Timóteo (1Tm 4,12-16), Paulo exorta seu discípulo a ser exemplo para os fiéis na palavra, no proceder, na caridade, na fé e na pureza. A instrução dada a Timóteo tem grande valor pastoral: não basta apenas ensinar ou transmitir a fé, é necessário testemunhá-la com a vida. Esse testemunho só é autêntico quando nasce de um coração transformado pela experiência de encontro com Cristo, tal como a mulher do evangelho experimentou. Timóteo, mesmo jovem, é chamado a não se deixar intimidar, mas a cultivar fielmente o dom recebido, perseverando na doutrina e na prática. Assim, sua vida se torna sinal para os outros.
O salmo responsorial (Sl 110) reforça a fidelidade do Senhor e a firmeza de suas obras. Ele lembra que a redenção foi enviada ao seu povo e que santo e terrível é o seu nome. O temor do Senhor, isto é, a reverência e o respeito diante de Deus, é o princípio da sabedoria. Essa mesma sabedoria, que orienta o viver do justo, é a que ilumina os gestos concretos de amor e misericórdia. A mulher pecadora não tinha títulos de honra, mas possuía a sabedoria que nasce da humildade e do reconhecimento da própria pequenez diante de Deus. Essa sabedoria a conduziu à salvação.
A liturgia do dia, portanto, apresenta um fio condutor claro: a vida cristã é chamada a ser testemunho, não de perfeição moralista, mas de abertura à misericórdia. O amor de Deus é maior que nossos pecados. A experiência do perdão nos transforma e nos impulsiona a viver de modo novo. É isso que Jesus reconhece na mulher e é isso que Paulo recomenda a Timóteo: perseverar no caminho, renovar o dom recebido, ser sinal vivo do Evangelho.
Do ponto de vista pastoral, essa Palavra ilumina diversos aspectos da vida da Igreja hoje. Em primeiro lugar, recorda a importância da acolhida. Nossas comunidades são chamadas a ser espaços de misericórdia, onde cada pessoa, independentemente de sua história, possa encontrar-se com Cristo e experimentar seu perdão. Muitas vezes, caímos na tentação de excluir, julgar ou classificar os irmãos, mas o Senhor nos mostra outro caminho: o da hospitalidade e do abraço da graça.
Em segundo lugar, a liturgia do dia convida cada batizado a assumir sua responsabilidade missionária. Assim como Timóteo, todos nós recebemos um dom, uma vocação, uma graça particular. É necessário cultivá-la, cuidar dela, colocar em prática, perseverando no caminho da fé. Nossa palavra e nosso testemunho podem ser instrumentos que levam outras pessoas a se abrirem ao amor de Deus. Isso exige coerência, mas sobretudo humildade: não somos melhores que ninguém, apenas reconhecemos que fomos alcançados pela misericórdia.
Em terceiro lugar, o evangelho de hoje nos ajuda a rever a forma como lidamos com o perdão em nossa vida cotidiana. Reconhecer-se pecador e buscar a reconciliação é um gesto de coragem e fé. Ao mesmo tempo, conceder perdão a quem nos ofende também é um desafio, mas que se torna possível quando nos deixamos conduzir pelo Espírito. O mundo atual carece de reconciliação: nas famílias, nas relações sociais, na convivência entre povos. A liturgia nos recorda que tudo começa pelo coração convertido, capaz de amar porque foi amado por primeiro.
Por fim, essa Palavra tem uma dimensão espiritual muito rica. A mulher que se lança aos pés de Jesus nos ensina o caminho da oração verdadeira: aproximar-se de Cristo com humildade, entregar o que temos e confiar em sua graça. Muitas vezes, nossa oração se torna repetição de fórmulas ou busca por recompensas. O evangelho de hoje nos lembra que rezar é, antes de tudo, reconhecer quem somos diante de Deus e deixar que Ele nos transforme. É um convite a renovar nossa vida espiritual na simplicidade e no amor.
Celebrando esta quinta-feira da 24ª semana do Tempo Comum, a liturgia do dia nos convida a olhar para Jesus com o coração aberto. Ele não veio para os justos que se acham perfeitos, mas para os pecadores que necessitam de misericórdia. Sejamos, portanto, como aquela mulher: ousados na fé, sinceros no arrependimento, generosos no amor. E como Timóteo, perseveremos no dom recebido, tornando nossa vida um testemunho vivo da presença de Cristo no mundo.
Música Litúrgica: Tanto que esperou pudesse um dia Compositores (letra e música): Antonio Fabretti e José Thomáz Filho
A liturgia do dia nos apresenta uma Palavra forte e atual. No Evangelho de Lucas, Jesus compara sua geração a crianças caprichosas, que não querem brincar nem de choro nem de festa. Essa imagem revela a dificuldade de acolher tanto a pregação de João Batista, mais austera, quanto a presença de Jesus, marcada pela proximidade com os pecadores. A mensagem é clara: quando o coração está fechado, nenhuma manifestação de Deus é suficiente. Por isso, a liturgia do dia nos convida a abrir o coração e a reconhecer a sabedoria divina que se manifesta nas obras de Cristo.
Jesus nos mostra que a salvação não cabe em esquemas humanos. João Batista, com sua vida austera, lembrava a necessidade de conversão; Jesus, com sua misericórdia, revelava a ternura de Deus. Ambos eram sinais complementares do mesmo amor. Mas aquela geração não quis ouvir. O Evangelho denuncia, portanto, a imaturidade de quem prefere criticar a acolher.
Aqui podemos olhar também para nós. Quantas vezes fazemos como as “crianças da praça”? Se a mensagem exige esforço, achamos dura demais; se fala de festa e acolhida, julgamos frouxa demais. A liturgia do dia nos chama a crescer espiritualmente, para reconhecer que a sabedoria de Deus é maior que nossos gostos pessoais.
A liturgia é justamente o espaço onde aprendemos esse equilíbrio. Temos tempos de penitência, como a Quaresma, e tempos de festa, como a Páscoa. O caminho cristão precisa dos dois. O rigor e a alegria se completam. A liturgia do dia, ao nos reunir em oração, educa o nosso coração para viver tanto o silêncio da conversão quanto a festa da ressurreição. Assim, celebramos o Mistério Pascal em toda a sua riqueza.
Há também uma dimensão psicológica neste Evangelho. A atitude das crianças mostra imaturidade: nada serve, nada agrada, nada satisfaz. Muitas vezes, também nós usamos críticas como defesa, para não mudar de vida. O coração humano tem medo da novidade de Deus. Mas a liturgia do dia, com sua repetição, seus ritos e símbolos, cria um espaço seguro para que possamos enfrentar nossos medos e permitir que o Espírito nos transforme pouco a pouco.
A Primeira Leitura e a Profissão de Fé
Na primeira leitura, São Paulo recorda a essência da nossa fé: Cristo manifestado na carne, justificado no Espírito, proclamado às nações e elevado à glória. É como um Credo primitivo, um resumo da história da salvação. A liturgia do dia, ao nos colocar diante dessa profissão de fé, fortalece nossa esperança. Diante das mudanças e incertezas da vida, essa certeza nos dá estabilidade: Cristo é o centro de tudo.
O Salmo Responsorial
O Salmo 110(111) reforça essa confiança: “Grandes são as obras do Senhor, dignas de admiração por todos que as amam”. Ao repetir esse refrão na liturgia, somos educados para a gratidão. Enquanto a murmuração e a ingratidão enfraquecem a vida comunitária, a liturgia do dia nos ensina a louvar, a reconhecer que Deus guia a história com amor.
Aplicações para a vida
A Palavra de hoje ilumina situações bem concretas:
Na convivência social, vemos muitos que criticam tudo: se alguém é firme, é acusado de severidade; se é alegre e aberto, é taxado de irresponsável. O Evangelho nos ensina a olhar para os frutos, e não para os preconceitos.
Na política e na vida pública, quantas vezes líderes são julgados mais por estereótipos do que por suas ações. Jesus lembra que a sabedoria se reconhece pelas obras.
Na família e na educação, pais e educadores muitas vezes oscilam entre a exigência e a ternura. O critério não é agradar, mas formar para o bem.
Na vida da Igreja, há quem prefira rigidez litúrgica e outros que valorizam mais abertura pastoral. A liturgia do dia nos mostra que as duas dimensões são importantes: conversão e misericórdia, silêncio e festa.
A mensagem da liturgia do dia é clara: não podemos ser como crianças imaturas, que recusam qualquer proposta. Deus se manifesta de muitos modos, e precisamos acolher sua sabedoria, que se revela nas obras de Cristo. A liturgia é o espaço onde aprendemos a integrar exigência e ternura, penitência e festa, silêncio e louvor.
Que esta celebração nos ajude a reconhecer a presença do Senhor na nossa história, e que possamos ser testemunhas da sabedoria de Deus no mundo.
A liturgia desta terça-feira, 16 de setembro de 2025, convida-nos a mergulhar na profundidade de um dos relatos mais comoventes do Evangelho segundo São Lucas: a ressurreição do filho da viúva de Naim. Jesus, ao entrar na pequena cidade, depara-se com uma cena de dor: um cortejo fúnebre leva o corpo de um jovem, filho único de sua mãe, que era viúva. A narrativa realça a vulnerabilidade daquela mulher: sem marido e agora sem filho, estava desprovida de proteção, sustento e esperança diante da sociedade de seu tempo.
O texto evangélico é marcado por um detalhe essencial: “Ao vê-la, o Senhor encheu-se de compaixão” (Lc 7,13). É esse olhar de Jesus que transforma a história. A compaixão divina não é apenas sentimento humano de solidariedade; é o movimento do coração de Deus que se inclina sobre a miséria humana para restituir a vida. Lucas, o evangelista da misericórdia, quer nos mostrar que em Jesus se revela o Deus que não permanece distante da dor do povo, mas se aproxima para devolver esperança onde parecia haver somente morte.
O gesto de Jesus vai além do milagre: Ele toca o caixão e ordena ao jovem que se levante. Ao tocar o esquife, Jesus rompe barreiras de impureza ritual previstas na Lei judaica, pois o contato com a morte tornava alguém impuro. Mas o Senhor da vida não teme a morte, pois Ele é a própria Vida. Sua presença purifica, restaura, recria. O menino se levanta e fala, e Jesus o entrega novamente à sua mãe. Esse detalhe de “entregar à mãe” sublinha a dimensão relacional do milagre: não se trata apenas de devolver a vida biológica, mas de restaurar vínculos, reconstruir a esperança da família e da comunidade.
No plano teológico-litúrgico, este Evangelho nos faz contemplar o Cristo que vence a morte, antecipando já o mistério de sua Páscoa. O episódio é um sinal que aponta para a ressurreição final, onde a morte será definitivamente vencida. Ao mesmo tempo, é um convite à Igreja para ser presença de compaixão no mundo, tocando as realidades de dor e exclusão, levando vida nova aos que estão à beira do desespero.
Portanto, a liturgia de hoje nos convida a perguntar: em quais situações somos chamados a ser instrumentos do olhar compassivo de Cristo? Quantas viúvas, quantos órfãos, quantos corações desamparados clamam por uma palavra de vida em nosso tempo?
A Primeira Leitura – 1Tm 3,1-13
A primeira leitura, da Carta a Timóteo, apresenta os critérios para os ministérios na comunidade cristã primitiva. Paulo descreve as qualidades necessárias para quem exerce o episcopado e o diaconato: irrepreensível, sóbrio, equilibrado, hospitaleiro, moderado, homem de fé e de bom testemunho. O apóstolo insiste que o ministério na Igreja não é um privilégio, mas um serviço fundamentado na credibilidade e na coerência de vida.
Quando colocamos essa leitura em relação com o Evangelho, percebemos um fio condutor: se Jesus é o modelo do Bom Pastor que se compadece do rebanho e devolve vida, então os pastores da Igreja devem espelhar-se nessa mesma compaixão. O líder cristão não pode ser movido por interesses pessoais, mas por uma entrega total ao serviço da comunidade, especialmente aos mais frágeis. Assim como Jesus restituiu o filho à mãe viúva, também os pastores devem ser instrumentos de reconciliação, de proximidade e de cuidado.
O texto de 1Tm destaca ainda os diáconos, cujo ministério está intrinsecamente ligado ao serviço. Eles devem guardar o mistério da fé com consciência pura e agir com dignidade. Não é por acaso que a liturgia de hoje coloca esse trecho junto ao Evangelho: ambos nos recordam que a Igreja deve ser sinal da vida nova de Cristo no meio do mundo, não apenas com palavras, mas sobretudo com testemunho coerente.
O Salmo Responsorial – Sl 100(101)
O salmo de hoje ressoa como oração de quem deseja viver segundo os caminhos do Senhor: “Vou cantar-vos, Senhor, um canto novo de justiça”. O salmista expressa o anseio de caminhar na integridade e na fidelidade, evitando o mal e buscando uma vida reta diante de Deus.
Na relação com o Evangelho, o salmo se torna eco da atitude de Jesus: Ele é o Justo por excelência, aquele que não compactua com a injustiça, mas se aproxima dos pobres e marginalizados. O canto de justiça do salmo encontra sua realização plena no gesto de compaixão de Cristo em Naim, que devolve dignidade à viúva e vida ao jovem.
Além disso, o salmo também se conecta com a primeira leitura. Assim como Paulo exorta os ministros da Igreja a viverem de forma irrepreensível, o salmista expressa a decisão de trilhar os caminhos da retidão. O salmo, portanto, é a oração que sustenta e alimenta a vida de quem exerce responsabilidades na comunidade, para que não se perca na corrupção ou na busca de poder, mas mantenha-se fiel ao Senhor.
Memória dos Santos Cornélio e Cipriano
Neste dia, a Igreja celebra também a memória dos santos Cornélio, papa, e Cipriano, bispo, ambos mártires do século III.
São Cornélio, Papa da Misericórdia: eleito papa em 251, em meio às perseguições do imperador Décio, Cornélio enfrentou uma difícil crise: muitos cristãos haviam negado a fé para escapar da morte, os chamados lapsi. Enquanto alguns defendiam que não havia perdão para eles, Cornélio insistia que, com arrependimento sincero, era possível a reconciliação pela penitência. Seu coração pastoral refletia a misericórdia de Cristo, que sempre acolhe o pecador que retorna. Preso e exilado em 253, Cornélio morreu mártir, deixando o testemunho de um pastor que não abandonou o rebanho.
São Cipriano, Bispo de Cartago e Defensor da Unidade: nascido em Cartago, no norte da África, Cipriano era advogado e homem culto antes de sua conversão ao cristianismo. Pouco depois, foi eleito bispo e tornou-se uma das vozes mais influentes da Igreja africana. Assim como Cornélio, também enfrentou a questão dos lapsi e buscou equilíbrio: exigir verdadeira conversão, mas sem fechar as portas da misericórdia. Seu famoso tratado “A Unidade da Igreja Católica” lembra que não se pode ter Cristo sem viver em comunhão com sua Igreja. Na perseguição do imperador Valeriano, em 258, foi preso e condenado à morte. Aceitou o martírio com serenidade e fé, sendo decapitado diante do povo de Cartago.
Pastores Unidos na Fé e na Amizade
Mesmo em cidades diferentes, Cornélio e Cipriano mantiveram uma forte comunhão espiritual. Trocaram cartas, apoiaram-se mutuamente e defenderam a mesma verdade: a Igreja deve ser lugar de misericórdia, unidade e fidelidade a Cristo. Por isso, a liturgia celebra os dois juntos, como sinais da amizade que nasce da fé e do amor à Igreja.
Hoje, Cornélio e Cipriano nos ensinam que a Igreja é chamada a ser sempre fiel a Cristo, mesmo diante das dificuldades, e que nenhum pastor pode se afastar do coração misericordioso do Senhor. Seu martírio nos recorda que a verdadeira liderança na Igreja não é feita de poder, mas de serviço, compaixão e fidelidade até o fim.
Que a memória desses santos pastores nos ajude a viver a fé com coragem, a buscar sempre a unidade e a anunciar, com gestos e palavras, o amor misericordioso de Deus.
LITURGIA DO DIA
A liturgia desta terça-feira nos apresenta um caminho profundo de reflexão:
O Evangelho revela o Cristo da compaixão que vence a morte e restitui a esperança.
A primeira leitura nos recorda que a Igreja precisa de ministros que vivam em coerência e serviço, à imagem de Jesus.
O salmo é a oração que alimenta esse desejo de justiça e retidão.
A memória de Cornélio e Cipriano testemunha que é possível viver essa fidelidade até as últimas consequências.
Assim, a Palavra nos desafia a sermos homens e mulheres de compaixão, testemunhas da vida e da justiça de Deus em nosso tempo. Como discípulos de Cristo, somos chamados a tocar as realidades de morte com a força da fé, a sermos pastores e servidores que cuidam do rebanho, e a viver em integridade diante do Senhor.
Que, pela intercessão dos mártires Cornélio e Cipriano, possamos ser Igreja que canta a justiça, caminha na fidelidade e anuncia sempre a vida nova de Cristo, Senhor da compaixão.
Segunda-feira, 15 de Setembro de 2025 24ª Semana do Tempo Comum
Leituras (próprias): Hb 5,7-9 Sl 30(31),2-3a.3bc-4.5-6.15-16.20 (R. 17b) Jo 19,25-27 ou Lc 2,33-35
Na liturgia do dia, fazemos a grata memória da Bem-Aventurada Virgem Maria das Dores. Lembrando a presença da mãe do salvador junto à cruz e de sua participação dolorosa na obra da nossa salvação, peçamos que também nós, como pede o apóstolo Paulo, cumpramos em nossa carne o que falta à paixão de Cristo.
Neste texto abaixo dos Sermões de São Bernardo, abade(Sermo in dom. infra oct. Assumptionis, 14-15: Opera omnia, Edit. Cisterc. 5[1968],273-274), uma bela meditação sobre o dia de hoje. Geralmente outros pontos da vida de Maria são muito comentados, mas a memória de hoje vai lançar luz sobre o seu martírio de dor. Leia e medite este texto:
O martírio da Virgem é mencionado tanto na profecia de Simeão quanto no relato da paixão do Senhor. Este foi posto, diz o santo ancião sobre o menino, como um sinal de contradição, e a Maria: e uma espada traspassará tua alma (cf. Lc 2,34-35).
Verdadeiramente, ó santa Mãe, uma espada traspassou tua alma. Aliás, somente traspassando-a, penetraria na carne do Filho. De fato, visto que o teu Jesus – de todos certamente, mas especialmente teu – a lança cruel, abrindo-lhe o lado sem poupar um morto, não atingiu a alma dele, mas ela traspassou a tua alma. A alma dele já ali não estava, a tua, porém, não podia ser arrancada dali. Por isto a violência da dor penetrou em tua alma e nós te proclamamos, com justiça, mais do que mártir, porque a compaixão ultrapassou a dor da paixão corporal.
E pior que a espada, traspassando a alma, não foi aquela palavra que atingiu até a divisão entre a alma e o espírito: Mulher, eis aí teu filho? (Jo 19,26). Oh! que troca incrível! João, Mãe, te é entregue em vez de Jesus, o servo em lugar do Senhor, o discípulo pelo Mestre, o filho de Zebedeu pelo Filho de Deus, o puro homem, em vez do Deus verdadeiro. Como ouvir isto deixaria de traspassar tua alma tão afetuosa, se até a sua lembrança nos corta os corações, tão de pedra, tão de ferro?
Não vos admireis, irmãos, que se diga ter Maria sido mártir na alma. Poderia espantar-se quem não se recordasse do que Paulo afirmou que entre os maiores crimes dos gentios estava o de serem sem afeição. Muito longe do coração de Maria tudo isto; esteja também longe de seus servos.
Talvez haja quem pergunte: “Mas não sabia ela de antemão que iria ele morrer?” Sem dúvida alguma. “E não esperava que logo ressuscitaria?” Com toda a confiança. “E mesmo assim sofreu com o Crucificado?” Com toda a veemência. Aliás, tu quem és ou donde tua sabedoria, para te admirares mais de Maria que compadecia, do que do Filho de Maria a padecer? Ele pôde morrer no corpo; não podia ela morrer juntamente no coração? É obra da caridade: ninguém a teve maior! Obra de caridade também isto: depois dela nunca houve igual.
Hoje a Igreja celebra com alegria a Natividade de Maria, a Mãe do Senhor. É uma festa de esperança: ao nascer aquela que seria escolhida para ser a Mãe do Salvador, já desponta a aurora da redenção. Maria é dom de Deus para a humanidade, sinal do amor fiel que conduz a história da salvação desde as origens.
Primeira Leitura: Mq 5,1-4a ou Rm 8,28-30 O profeta Miqueias anuncia que de Belém surgirá aquele que será o Pastor de Israel. Em Maria, filha de Israel, vemos cumprida a promessa, pois é dela que nasce o Messias. Já na carta aos Romanos, São Paulo recorda que todos fomos chamados e predestinados no amor de Deus, que age em nossa história.
Salmo: Sl 70(71) ou Sl 12(13) O salmista louva a fidelidade divina desde o ventre materno e exulta no Senhor que realiza maravilhas. Assim como Maria, podemos cantar: “Exulto de alegria no Senhor, a minha alma se alegra em Deus.”
Evangelho: Mt 1,1-16.18-23 O Evangelho apresenta a genealogia de Jesus e o anúncio de sua concepção. Essa lista de nomes mostra que a encarnação não aconteceu de forma mágica, mas dentro de uma história concreta, feita de gerações, com luzes e sombras.
A genealogia revela que Jesus é o cumprimento das promessas de Deus, descendente de Abraão e Davi, o Messias esperado que realiza a aliança. Ela também recorda que a salvação passa pela fragilidade humana: entre os antepassados de Jesus há justos e pecadores, mas Deus conduz sua promessa mesmo assim. A presença de mulheres estrangeiras e improváveis — Tamar, Raab, Rute e Betsabé — mostra que a salvação é universal e que Deus age de modo surpreendente.
Tudo culmina em Maria. Diferente das mulheres anteriores, nela a promessa se realiza plenamente: pelo poder do Espírito Santo, ela concebe o Emanuel, “Deus conosco”. O texto de Mateus conclui com o anúncio: “Ela dará à luz um filho, e ele será chamado Jesus, porque salvará o seu povo de seus pecados”. Assim, a vida de Maria está desde o início totalmente orientada para Cristo.
Celebrar sua natividade é contemplar a delicadeza de um Deus que prepara, com amor e paciência, cada passo da salvação. O nascimento de Maria é como a aurora que precede o Sol da justiça, Cristo.
Hoje também é um dia especial para as Irmãs Pias Discípulas do Divino Mestre. Ao fazer a profissão religiosa, todas recebem o nome Maria. Esse nome é mais do que devoção: é missão. Significa viver à semelhança da Virgem, discípula fiel e disponível à vontade do Pai, configurando-se cada vez mais a Cristo Mestre, Caminho, Verdade e Vida.
Que também nós, como Maria, saibamos acolher a vontade de Deus e ser sinais de esperança em nosso tempo.
Quinta-feira, 4 de setembro de 2025 22ª Semana do Tempo Comum – Ano Ímpar (I)
Leituras:
Primeira Leitura: Cl 1,9-14
Salmo: Sl 97(98),2-3ab.3cd-4.5-6 (R. 2a)
Evangelho: Lc 5,1-11
Na primeira leitura, São Paulo reza pelos colossenses pedindo que sejam cheios do conhecimento da vontade de Deus e que caminhem de modo digno, dando frutos em boas obras. A vida cristã é um constante crescer na fé, na esperança e no amor, sustentados pela força do Espírito Santo.
O salmo responsorial exalta as maravilhas realizadas pelo Senhor em favor de seu povo, proclamando que sua salvação é para todos os povos. Ele é fiel às suas promessas e manifesta sua justiça diante das nações.
No Evangelho, vemos o chamado dos primeiros discípulos. Após uma pesca milagrosa, Jesus convida Pedro, Tiago e João a deixarem tudo e a segui-lo, tornando-se “pescadores de homens”. Esse momento marca o início de uma nova missão: confiar na palavra de Cristo e entregar-se totalmente a Ele.
O relato da pesca milagrosa em Lucas 5,1-11 é mais do que uma cena de abundância material. Ele traz uma forte dimensão teológica e eclesial, iluminando a identidade de Jesus, a missão da Igreja e a resposta do discípulo. O texto começa com Jesus ensinando a multidão à beira do lago. A Palavra é o centro do episódio: antes do milagre, é pela escuta que tudo acontece. A fé de Pedro não nasce de uma visão extraordinária, mas da confiança na palavra de Cristo: “Sobre a tua palavra, lançarei as redes” (v. 5). A obediência à Palavra antecede o milagre e revela que a verdadeira fecundidade da missão vem do Senhor, não do esforço humano.
Pedro e seus companheiros tinham trabalhado a noite inteira sem nada conseguir. Esta realidade simboliza os limites da ação humana quando se apoia apenas em si mesma. A esterilidade da pesca noturna contrasta com a abundância quando se acolhe a orientação de Jesus. A cena aponta para a verdade da missão da Igreja: sem Cristo, o trabalho pastoral se torna infrutífero; com Ele, a missão se abre ao impossível.
Diante do milagre, Pedro reage com temor: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador!” (v. 8). Esta atitude ecoa a experiência dos profetas (cf. Is 6,5), que ao se encontrarem com a santidade de Deus, reconhecem sua própria indignidade. A vocação cristã nasce justamente da consciência da própria fraqueza. Deus não chama os perfeitos, mas os que se deixam transformar pela sua graça.
A resposta de Jesus a Pedro é consoladora e missionária: “Não tenhas medo! De hoje em diante serás pescador de homens” (v. 10). O medo é substituído pela confiança, e a experiência do milagre é reinterpretada como sinal de uma missão maior. A abundância de peixes se torna imagem da abundância de pessoas que serão atraídas ao Reino por meio do testemunho dos discípulos.
O texto conclui com uma ruptura radical: “Eles deixaram tudo e seguiram a Jesus” (v. 11). O chamado implica um êxodo interior, deixar para trás seguranças, projetos pessoais e bens materiais, para confiar totalmente no Mestre. Este gesto revela que o discipulado é, antes de tudo, uma adesão a uma Pessoa, não a uma ideia ou projeto apenas humano.
Em síntese, o evangelho da liturgia de hoje, Lc 5,1-11, revela que a missão da Igreja nasce da escuta da Palavra, da obediência confiada a Cristo e do reconhecimento da própria fragilidade diante da sua santidade. O verdadeiro discípulo é aquele que, chamado na sua pobreza, se abre à abundância da graça e se dispõe a seguir o Senhor, participando da sua obra de salvação.