III MARATONA SACROSANCTUM CONCILIUM DESTACA IMPORTÂNCIA LITÚRGICA NA VIDA DA IGREJA

No dia 4 de dezembro de 2025, data em que a Igreja celebra o aniversário de promulgação da Sacrosanctum Concilium, documento que inaugurou a renovação litúrgica do Concílio Vaticano II, foi realizada a terceira edição da Maratona Sacrosanctum Concilium. A transmissão ocorreu ao vivo pelo canal das Pias Discípulas do Divino Mestre, em parceria com outras instituições nacionais da pastoral litúrgica no Brasil. A programação, que se estendeu das 8h às 20h, reuniu especialistas, músicos, religiosos, religiosas e leigos engajados, todos com o objetivo comum de aprofundar a compreensão sobre este texto fundamental para a liturgia da Igreja Católica.

Um documento que mudou a relação dos fiéis com a liturgia

Para muitos católicos, o nome Sacrosanctum Concilium pode parecer distante ou técnico. Trata-se, porém, de um documento decisivo na história recente da Igreja. Promulgado em 1963, durante o Concílio Vaticano II, ele estabeleceu princípios que orientam até hoje a celebração da liturgia, ou seja, tudo aquilo que diz respeito às missas, sacramentos, orações comunitárias e ritos oficiais da Igreja.

Seu propósito foi aproximar os fiéis da vida litúrgica, incentivando uma participação mais consciente, ativa e frutuosa. A língua local nas celebrações, o cuidado com os símbolos e a relação entre música e oração são alguns dos temas que o documento aborda de maneira profunda e orientadora.

É por isso que, mesmo décadas depois, a Sacrosanctum Concilium continua sendo um “tesouro de inestimável valor”, expressão escolhida como tema desta edição da maratona. Cada mesa da programação destacou como este texto ainda ilumina a prática pastoral, a formação litúrgica e, especialmente neste ano, a música litúrgica, elemento essencial para a oração comunitária.

Um dia inteiro dedicado à formação

Durante doze horas de programação contínua, a Maratona Sacrosanctum Concilium apresentou, a cada hora, uma mesa temática. O formato dinâmico e acessível permitiu que pessoas de diferentes regiões do país pudessem participar ao vivo, enviando comentários, perguntas e partilhando suas experiências.

Entre os conteúdos abordados, estiveram:

  • a missão da música litúrgica na comunidade cristã;
  • o papel dos ministérios musicais na animação da celebração;
  • a relação entre canto e oração;
  • a formação espiritual e técnica dos músicos litúrgicos;
  • elementos da tradição da Igreja que sustentam o canto litúrgico;
  • experiências pastorais que mostram como a música pode unir, educar e evangelizar.

As mesas foram compostas por músicos, teólogos, religiosas, padres, professores e agentes da pastoral litúrgica que, com linguagem acessível, explicaram tanto os fundamentos da Sacrosanctum Concilium quanto seu impacto nas comunidades de fé.

Por que falar de música litúrgica?

A escolha do tema deste ano não foi por acaso. A música é um dos meios mais diretos de participação da assembleia na celebração. Ela acolhe os fiéis, ajuda a expressar a fé e conduz a comunidade ao mistério celebrado.

A Sacrosanctum Concilium dedica um capítulo inteiro à música litúrgica, sublinhando que o canto não é elemento decorativo, mas parte integrante e necessária da liturgia. A maratona buscou traduzir essa dimensão para o público de hoje, mostrando que:

  • a música litúrgica deve favorecer a oração;
  • o canto precisa estar integrado ao rito;
  • a escolha musical requer sensibilidade pastoral e formação sólida;
  • músicos litúrgicos têm um papel ministerial dentro da celebração.

Os convidados apresentaram reflexões que uniram história, espiritualidade e prática pastoral, ajudando os participantes a compreender a profundidade do tema e seu impacto no cotidiano das comunidades.

Participação crescente e compromisso com a formação

Esta foi a terceira edição da Maratona Sacrosanctum Concilium, consolidando-se como um espaço anual de formação e aprofundamento. O formato online permitiu ampliar o alcance, reunindo participantes de diferentes regiões do Brasil e até do exterior.

Os organizadores destacam que o objetivo não é apenas celebrar o aniversário da Sacrosanctum Concilium, mas oferecer um percurso formativo acessível, gratuito e de qualidade, que contribua para a vivência litúrgica nas paróquias, comunidades e grupos de pastoral.

Ao longo das edições, percebe-se um interesse crescente das pessoas em compreender melhor a liturgia e, sobretudo, o significado da música dentro da prática celebrativa. Muitos participantes comentaram que a maratona os ajudou a redescobrir a beleza e a profundidade da liturgia da Igreja.

Conteúdo disponível para quem quiser aprofundar

A transmissão completa da maratona ficou gravada no canal das Pias Discípulas do Divino Mestre no YouTube. Dessa forma, quem não pôde acompanhar ao vivo pode assistir às mesas individualmente, revisar momentos importantes e utilizar o conteúdo em cursos, encontros de formação e atividades pastorais.

O convite permanece aberto: entrar no canal, inscrever-se e “maratonar” este conjunto de reflexões que ajudam a compreender por que a Sacrosanctum Concilium continua sendo um marco na vida da Igreja e um guia indispensável para todos que servem na liturgia, especialmente os que atuam na música.


Assista à III Maratona Sacrosanctum Concilium:
https://www.youtube.com/watch?v=NIDm9yOLr2o



Nesta Maratona de Liturgia 2025, meditarmos sobre o Capítulo VI da Sacrosanctum Concilium , “A Música Sacra”. Abaixo, o texto deste precioso capítulo sobre a música litúrgica (quem quiser o texto completo da Sacrosanctum Concilium, CLIQUE AQUI) :

CAPÍTULO VI – A MÚSICA SACRA

V 112. A tradição musical da Igreja universal é um tesouro de inestimável valor, que excede todas as outras expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido ao texto, constitui parte necessária ou integrante da Liturgia solene.

Não cessam de a enaltecer, quer a Sagrada Escritura, quer os Santos Padres e os Romanos Pontífices, que ainda recentemente, a começar por S. Pio X, sublinharam com mais insistência a função ministerial da música sacra no culto divino.

A música sacra será, por isso, tanto mais santa quanto mais intimamente unida estiver à ação litúrgica, quer 1) como expressão delicada da oração, quer 2) como fator de comunhão, quer 3) como elemento de maior solenidade nos ritos sagrados.

A Igreja aprova e aceita no culto divino todas as formas autênticas de arte, desde que dotadas das qualidades requeridas. O sagrado Concílio, fiel às normas e determinações da tradição e disciplina da Igreja, e não perdendo de vista o fim da música sacra, que é a glória de Deus e a santificação dos fiéis, estabelece o seguinte:

R 113. A ação litúrgica reveste-se de maior nobreza quando é celebrada de modo solene com canto, com a presença dos ministros sagrados e a participação ativa do povo. Observe-se, quanto à língua a usar, o art. 36; quanto à Missa, o art. 54; quanto aos sacramentos, o art. 63; e quanto ao Ofício divino, o art. 101.

L 114. Guarde-se e desenvolva-se com diligência o património da música sacra. Promovam-se com empenho, sobretudo nas catedrais, as “Scholae cantorum”. Procurem os Bispos e demais pastores de almas que os fiéis participem ativamente nas funções sagradas que se celebram com canto, na medida que lhes compete e segundo os art. 28 e 30.

V 115. Dê-se grande importância nos Seminários, Noviciados e casas de estudo de religiosos de ambos os sexos, bem como noutros institutos e escolas católicas, à formação e prática musical. Para o conseguir, procure-se preparar também e com muito cuidado os professores que terão a missão de ensinar a música sacra.

Recomenda-se a fundação, segundo as circunstâncias, de Institutos Superiores de música sacra.

Os compositores e os cantores, principalmente as crianças, devem receber também uma verdadeira educação litúrgica.

R 116. A Igreja reconhece como canto próprio da liturgia romana o canto gregoriano; terá este, por isso, na ação litúrgica, em igualdade de circunstâncias, o primeiro lugar.

Não se excluem todos os outros gêneros de música sacra, mormente a polifonia, na celebração dos Ofícios divinos, desde que estejam em harmonia com o espírito da ação litúrgica, segundo o estabelecido no art. 30.

L 117. Procure terminar-se a edição típica dos livros de canto gregoriano; prepare-se uma edição mais crítica dos livros já editados depois da reforma de S. Pio X.

Convirá preparar uma edição com melodias mais simples para uso das igrejas menores.

V 118. Promova-se muito o canto popular religioso, para que os fiéis possam cantar tanto nos exercícios piedosos e sagrados como nas próprias ações litúrgicas, segundo o que as rubricas determinam.

R 119. Em certas regiões, sobretudo nas Missões, há povos com tradição musical própria, a qual tem excepcional importância na sua vida religiosa e social. A esta música se dê o devido reconhecimento e o lugar conveniente, tanto na educação do sentido religioso desses povos como na adaptação do culto à sua índole, segundo os art. 39 e 40. Por isso, procure-se cuidadosamente que, na sua formação musical, os missionários fiquem aptos, na medida do possível, a promover a música tradicional desses povos nas escolas e nas ações sagradas.

L 120. Tenha-se em grande apreço na Igreja latina o órgão de tubos, instrumento musical tradicional e cujo som é capaz de dar às cerimônias do culto um esplendor extraordinário e elevar poderosamente o espírito para Deus.

Podem utilizar-se no culto divino outros instrumentos, segundo o parecer e com o consentimento da autoridade territorial competente, conforme o estabelecido nos art. 22 § 2, 37 e 40, contanto que esses instrumentos estejam adaptados ou sejam adaptáveis ao uso sacro, não desdigam da dignidade do templo e favoreçam realmente a edificação dos fiéis.

V 121. Os compositores possuídos do espírito cristão compreendam que são chamados a cultivar a música sacra e a aumentar-lhe o patrimônio.

Que as suas composições se apresentem com as características da verdadeira música sacra, possam ser cantadas não só pelos grandes coros, mas se adaptem também aos pequenos e favoreçam uma ativa participação de toda a assembleia dos fiéis.

Os textos destinados ao canto sacro devem estar de acordo com a doutrina católica e inspirar-se sobretudo na Sagrada Escritura e nas fontes litúrgicas.

Dom Jerônimo Pereira, monge beneditino do Mosteiro de São Bento de Olinda, mestre em Sagrada Teologia com especialização em liturgia pastoral, pelo Instituto de Liturgia Pastoral de Pádua (Itália – 2012), doutor em Sagrada Liturgia, pelo Pontifício Instituto Litúrgico de Roma, Santo Anselmo (Itália, 2016) e especialista em música litúrgica pelo mesmo Pontifício Instituto romano. Ensina nos Institutos italianos onde estudou; na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e na Universidade Católica Rainha do Sertão (Quixadá), é membro do Centro de Liturgia Dom Clemente Isnard, articulista da Revista de Liturgia, membro da Equipe de reflexão para a pastoral litúrgica da CNBB e atual presidente da Associação dos Liturgistas do Brasil (ASLI).

Ir. Priscilla Daniele, religiosa do Instituto das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora do Bom Conselho. É formada em Licenciatura em Música pela UFPE, especialização em Música Litúrgica pela Unicap, participou de diversos encontros de Compositores e Letristas promovido pela CNBB e atualmente estuda Regência de Coro no Pontifício Instituto de Música Sacra em Roma

Pe Danilo César, presbítero da Arquidiocese de Belo Horizonte. Mestre em Liturgia pelo Pontifício Instituto Litúrgico de Roma-It. Doutor em Liturgia pela FAJE-CAPES (BH). Professor de Liturgia da PUC-Minas e membro da Celebra, Rede Nacional de Animação Litúrgica. Articulista da Revista de Liturgia. Atua na recepção e promoção da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II.

Frei Wanderson Luiz Freitas – presbítero da Ordem do Carmo, atuando na Arquidiocese de Olinda e Recife, compositor, membro da Equipe de Reflexão em Música Litúrgica da CNBB e assessor de liturgia do Regional Nordeste II da CNBB.

Glauber Inocêncio – Leigo, membro do Centro de Liturgia Dom Clemente Isnard. É formado em Teologia pelo Seminário Arquidiocesano da Paraíba, especialista em Liturgia pelo CLDCI/UNISAL, e também é Engenheiro Eletricista.

Adenor Leonardo – Doutor em Teologia pela Université Laval (Québec – Canadá); Mestre em Música pela UDESC (Florianópolis – SC); Membro da ASLI (Associação dos Liturgistas do Brasil); Membro da Equipe de Reflexão em Música Litúrgica da CNBB; Professor, regente e compositor.

Pe Jair Costa é Mestrando em Teologia Sistemática pela PUC Rio e especialista em Liturgia Cristã pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE). Graduado em Teologia pela Faculdade Dehoniana de Taubaté SP, atualmente é o assessor de música na Comissão Episcopal para a Liturgia da CNBB. Presbítero da diocese de Guarulhos, atuou na formação litúrgica e musical dos seminários da Diocese. Participou do Curso Ecumênico de Liturgia e Música (CELMU), onde foi professor de violão. Foi um dos fundadores do Projeto de Educação Musical na diocese de Guarulhos, e coordenador da Pastoral Litúrgica.

Caetana Cecília Filha é especialista em Liturgia Cristã pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE) e em Educação Musical pela Faculdade Paulista de Artes (FPA). Bacharela em Sociologia, fez cursos de teatro, música, expressão corporal e dança em escolas livres de arte da ECA – USP.  Atuou por 10 anos nas oficinas de teatro no Curso de Teologia Popular do CESEP – Curso de Verão em São Paulo. Foi professora de técnica vocal no  Curso Ecumênico de Liturgia e Música (CELMU) de 2013 a 2016. Foi uma das fundadoras do Projeto de Educação Musical na diocese de Guarulhos por 19 anos, onde atuou como coordenadora pedagógica. Participou da organização do hinário de cantos litúrgicos para a Diocese de Guarulhos. É Professora de liturgia e canto nos seminários da Diocese de Guarulhos.

Michelle Arype Girardi Lorenzetti é doutora em Música, com ênfase em Educação Musical, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É mestra em Música (Educação Musical), bacharela em Música (Habilitação em Canto) e licenciada em Música, também pela UFRGS. Concluiu, em 2012, a pós-graduação lato sensu em Música Ritual (FACCAMP), em Campo Limpo Paulista/SP. Atuou como educadora musical em escolas de educação básica da rede privada de Porto Alegre, em escolas de música, em projetos sociais e em outros contextos não escolares. Entre setembro de 2018 e julho de 2019, foi professora substituta no Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) Campus Porto Alegre, e, de 2021 a 2024, no Campus Alvorada. Concluiu, em 2022, estágio de pós-doutorado na UFRGS. Desde 2014, atua como formadora litúrgico-musical em Seminários Maiores.

Frei Joaquim Fonseca, pertence à Ordem dos Frades Menores. É bacharel em música e doutor em Teologia, pela PUC-SP. Foi assessor nacional da CNBB para a música litúrgica (2003-2006) e coordenador geral do canto e da música na V Conferência do Episcopado Latino-Americano e Caribenho de Aparecida, em 2007. Coordenou a publicação do livro: “Liturgia das Horas – Música” (CNBB – Paulus). É o idealizador e coordenador da coleção: “Liturgia e música” da Editora Paulus. É professor de Liturgia e Arte Cristã, e assessora cursos de formação litúrgico-musical em todo o País. 

Dom Jerônimo Pereira, monge beneditino do Mosteiro de São Bento de Olinda, mestre em Sagrada Teologia com especialização em liturgia pastoral, pelo Instituto de Liturgia Pastoral de Pádua (Itália – 2012), doutor em Sagrada Liturgia, pelo Pontifício Instituto Litúrgico de Roma, Santo Anselmo (Itália, 2016) e especialista em música litúrgica pelo mesmo Pontifício Instituto romano. Ensina nos Institutos italianos onde estudou; na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e na Universidade Católica Rainha do Sertão (Quixadá), é membro do Centro de Liturgia Dom Clemente Isnard, articulista da Revista de Liturgia, membro da Equipe de reflexão para a pastoral litúrgica da CNBB e atual presidente da Associação dos Liturgistas do Brasil (ASLI).

Madre Martha Lúcia Ribeiro Teixeira, osb. Abadessa do Mosteiro de Nossa Senhora da Paz, Itapecerica da Serra (SP).

Madre Agnes Alves Garcia Santos Silva, osb. Abadessa do Mosteiro de Nossa Senhora das Graças, Belo Horizonte (MG)

Dom Anselmo Giaretta, osb. Monge da Abadia da Ressurreição, Ponta Grossa (PR)

Ir. Penha Carpanedo, Mestra em liturgia, Redatora da Revista de Liturgia, coautora do Ofício Divino das Comunidades, membro da Rede Celebra.

Daniela Oliveira, Mestre em Artes (UFU), Doutora em Performances Culturais (UFG), Membro Rede Celebra, do Centro de Liturgia Dom Clemente Isnard e Membro Equipe Reflexão Música  CNBB

Daniel Oliveira, Doutor em Ciências da Religião pela PUC-Goiás, com estágio doutoral no Pontifício Instituto Litúrgico Santo Anselmo.

João Lucas – Licenciado em Educação Musical (UEMG), Mestre em Práticas Musicais (UEMG), Pós-graduando em Liturgia (IFITEG/CELEBRA), Leigo da Arquidiocese de Belo Horizonte, Membro da Rede CELEBRA.

Pe Jair Costa é Mestrando em Teologia Sistemática pela PUC Rio e especialista em Liturgia Cristã pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE). Graduado em Teologia pela Faculdade Dehoniana de Taubaté SP, atualmente é o assessor de música na Comissão Episcopal para a Liturgia da CNBB. Presbítero da diocese de Guarulhos, atuou na formação litúrgica e musical dos seminários da Diocese. Participou do Curso Ecumênico de Liturgia e Música (CELMU), onde foi professor de violão. Foi um dos fundadores do Projeto de Educação Musical na diocese de Guarulhos, e coordenador da Pastoral Litúrgica.

Pe Wallison Rodrigues é especialista em Liturgia Cristã pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE). Graduado em Teologia pela PUC Goiás, participou dos Encontros de Compositores da CNBB desde 2014.  É membro da Equipe de Reflexão de Música da Comissão Episcopal para a Liturgia da CNBB, realizando várias formações e encontros na área de liturgia e música litúrgica. Regente do Coral São Luiz Gonzaga, é compositor de música litúrgica e gravou vários CDs nesta direção. É presbítero da Diocese de São Luís de Montes Belos e pároco em Turvânia GO.

Raquel Schneider. Arquiteta, Especialista em Espaço Litúrgico, Arquitetura e Arte Sacra, Mestre em Teologia. Assessora do Setor Espaço Litúrgico Comissão Episcopal para a liturgia da CNBB.

Ignez Filipino Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF (2005). Mestre em Engenharia Civil (Sistemas de Gestão, Produção e Qualidade e Desenvolvimento Sustentável) pela Universidade Federal Fluminense – UFF (2008). Especialista em Espaço Litúrgico – Arquitetura e Arte Sacra pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL (2020). Graduanda em Filosofia pela Universidade Federal de São João del Rei – UFSJ (desde 2016).  Membro da Comissão de Bens Culturais da Diocese de São João del Rei (desde 2014).

Frei Telles Ramon, é frade presbítero da Ordem de Nossa Senhora das Mercês, também conhecidos como Mercedários. Atualmente é pároco da paróquia Nossa Senhora das Mercês, na cidade do Rio de Janeiro. Graduado em filosofia e teologia, estudou música na FMU-FIAM/FAAM – São Paulo, pós-graduando em Liturgia pelo IFITEG/Rede Celebra, também membro da Celebra e desde 2018 atua como redator dos subsídios litúrgicos: folhetos Igreja em Oração (Missa e celebração dominical da palavra) das Edições CNBB.

João Lucas – Licenciado em Educação Musical (UEMG), Mestre em Práticas Musicais (UEMG), Pós-graduando em Liturgia (IFITEG/CELEBRA) Leigo da Arquidiocese de Belo Horizonte, Membro da Rede CELEBRA.



ADVENTO: TEMPO DE VIGILÂNCIA, ESPERA E RECONEXÃO

30 de novembro de 2025

O tempo litúrgico do Advento inicia-se, mais uma vez, com um convite à simplicidade e ao recolhimento interior. Logo ao entrar no espaço orante, a comunidade se depara com a cor roxa, que tinge o ambiente e evoca sobriedade, espera e vigilância. As flores silenciam, cedendo lugar à austeridade. No centro, a coroa do Advento, simples, composta por quatro velas, torna-se o símbolo visível da caminhada espiritual que se renova a cada ano. A iluminação progressiva destas velas recorda que é preciso atravessar a noite com confiança, deixando que a luz do Cristo, que já veio e que virá, encontre espaço dentro de nós.

A liturgia deste primeiro domingo ressalta a tensão fecunda entre a memória da primeira vinda do Senhor e a expectativa de sua manifestação gloriosa no fim dos tempos. Assim, o Advento nos coloca diante do essencial: abandonar os excessos, desprender-se das ilusões que obscurecem o olhar e fazer morada em si mesmo, no silêncio onde o Verbo já habita. É desse lugar interior, muitas vezes marcado pelo vazio, pela busca e pela vulnerabilidade, que a comunidade escuta a Palavra, canta sua fé, eleva sua oração e se une ao mistério do Deus que se fez carne. A Igreja, reunida, torna-se o corpo orante no qual Cristo continua encarnando sua presença.

O Evangelho do 1º Domingo do Advento (Mt 24,37-44)

A liturgia proclama o trecho em que Jesus compara sua geração à dos dias de Noé. Curiosamente, Ele não a qualifica como má ou ímpia, mas como inconsciente: “Eles não perceberam nada” (Mt 24,39). A perda do discernimento tornou-se a causa de sua ruína. Noé, ao contrário, soube ler os sinais, acolher o apelo de Deus e preparar o futuro. Assim, Jesus nos lembra que o discernimento de hoje é possibilidade de salvação para o amanhã.

A imagem dos dois homens no campo e das duas mulheres que trabalham no moinho reforça a imprevisibilidade da vinda do Filho do Homem. A referência ao “dono da casa” que não sabe a hora da chegada do ladrão conduz ao ponto central do Evangelho: a vigilância. Em meio às incertezas do tempo histórico, marcado por mudanças rápidas e instabilidades, a atitude cristã fundamental é manter-se desperto.

O vocabulário do texto chama a atenção: “nos dias”, “dias anteriores”, “até o dia”, “numa hora”. De fato, toda a liturgia deste domingo trata do tempo. Isaías (2,1-5) fala “dos últimos tempos”. Paulo, na Carta aos Romanos (13,11-14), exorta: “Já é hora de despertar”, pois “a noite vai adiantada” e o “dia já vem chegando”. A imagem do amanhecer simboliza a conduta luminosa à qual todos são chamados.

O sentido terapêutico do tempo litúrgico

Carl Gustav Jung observava que o Ano Litúrgico funciona como um sistema terapêutico, pois cada tempo toca dimensões profundas da experiência humana. O Advento, em particular, desperta a consciência sobre o tempo que passa e sobre nossa responsabilidade em habitá-lo com sabedoria. O físico brasileiro Marcelo Gleiser reforça que a percepção da própria finitude é, paradoxalmente, aquilo que nos torna humanos e nos impele a criar, a transcender e a deixar marcas para além do corpo físico.

A fé cristã oferece um horizonte ainda mais amplo: no Advento, o tempo cronológico (chronos) se encontra com o tempo oportuno de Deus (kairós). Cada dia, cada gesto, cada relação pode tornar-se espaço de eternidade quando vivido de maneira consciente. Assim, vigiar não é viver em alerta tenso, mas permitir-se uma atenção plena à própria vida, às relações e à presença de Deus que constantemente se revela.

Gleiser lembra que “é importante cavar um tempo em nossa vida para se sentir vivo”. A espiritualidade cristã completa esse pensamento ao afirmar que perceber-se vivo implica reconhecer o dom recebido e oferecer respostas concretas de amor, justiça e reconciliação.

Chamados a viver como filhos da luz

O Advento é um grito no meio da noite anunciando a chegada do Amado. Ele nos convoca a manter o coração desperto, a ser presença atenta no cotidiano e a cultivar um olhar capaz de discernir as pegadas de Deus. Isaías nos convida a transformar armas em instrumentos de trabalho, metáfora potente para escolhas que constroem paz, não violência. Paulo, na segunda leitura, aponta para um estilo de vida marcado pela sobriedade, pela reconciliação e pelo abandono de rivalidades. Não é por acaso que Santo Agostinho se converteu ao ler esse trecho: para ele, essa Palavra foi luz que dissipou definitivamente a escuridão da dúvida.

Vigilância gera discernimento, discernimento gera ação. A espiritualidade do Advento nos leva a gestos concretos: reconectar-se consigo mesmo, com o outro e com o planeta. Gleiser, em O despertar do universo consciente, propõe três princípios que dialogam profundamente com a ética cristã:

  1. O princípio do menos: menos consumo, menos desperdício, menos agressão ao planeta.
  2. O princípio do mais: mais contemplação, mais tempo diante da natureza, mais sensibilidade ao mistério da vida.
  3. O princípio da sustentabilidade: escolhas responsáveis que protejam as futuras gerações.

Sugestões para a vigília dos domingos do Advento

Mantra do 1º e 2º Domingo:
Por ele esperem, seu dia vem;
Tenham coragem, Jesus já vem.
Senhor, nós te esperamos; Senhor, não tardes mais.

Mantra do 3º Domingo (Taizé):
No Senhor sempre darei graças,
no Senhor me alegrarei.
Venham todos, não tenham medo!
Muita alegria: o Senhor já vem!

Mantra do 4º Domingo:
Senhor, nós te esperamos: vem logo, vem nos salvar.

Acendimento da coroa

Acendamos a lamparina…
Sentinela a vigiar…
Logo o Senhor virá…

Diversas aclamações acompanham este rito: invocações à Luz da Vida, oferta de incenso ou ervas cheirosas, gestos de louvor e vigilância. Cada verso, cada melodia, cada chama acesa recorda a comunidade de que o Senhor está próximo.

Ou esta sugestão:

Quem preside faz o convite:

Acendemos a vela para reacender em nossos corações a mesma esperança que animou, durante séculos, a caminhada do povo de Deus

Canto: [enquanto alguém acende a primeira vela] – https://www.youtube.com/watch?v=kziGYp54DlA

Acendamos a lamparina [bis]
Sentinela a vigiar
Logo o Senhor virar [bis]

Cantora:
Eis que se avista o Senhor chegando
vem aclarando nossa escuridão, o Senhor da luz. [bis]

Acendamos a lamparina [bis]
Sentinela a vigiar
Logo o Senhor virar [bis]

Oração:
Ó Cristo, princípio e fim do Tempo, não deixes faltar, na escuridão desta vida a tua luz que clareia o nosso caminho e nos faz discernir os sinais da tua presença. A ti que eras, que és e que vens, nosso louvor para sempre! Amém.



PE. TIAGO ALBERIONE: FUNDADOR DA FAMÍLIA PAULINA

Hoje, 26 de novembro, fazemos a memória litúrgica do Bem Aventurado Tiago Alberione, fundador da Família Paulina.

Padre Tiago Alberione nasceu em 4 de abril de 1884, em São Lourenço de Fossano, na Itália. Era o quinto filho de Miguel Alberione e Teresa Rosa Alloco, uma família simples de agricultores da região de Bra. De saúde frágil desde o nascimento, foi consagrado por sua mãe a Nossa Senhora das Flores, muito venerada na cidade. Teresa pedia que um de seus filhos fosse chamado ao sacerdócio — pedido que encontrou eco no coração do pequeno Tiago.

Uma vocação que despontou cedo

Aos seis ou sete anos, durante a primeira série, a professora perguntou às crianças o que desejavam ser no futuro. Tiago respondeu sem hesitar: “Eu vou ser padre!” Mais tarde, ele reconheceria essa convicção como sua “primeira luz clara”. Sua maturidade espiritual chamou a atenção dos professores e do pároco, padre João Batista Montersino, que permitiram que Tiago recebesse a Primeira Comunhão aos oito anos e meio, antes do costume da época.

Ingressou no Seminário Menor de Bra, onde viveu anos de estudo, oração e serenidade. Porém, de forma inesperada, foi afastado do seminário por motivos nunca bem esclarecidos. Tiago voltou para casa, mas não abandonou sua vocação. Contou com o apoio do irmão João Luís, que assumiu o trabalho na lavoura para que ele pudesse estudar, e com a ajuda generosa do padre Montersino, que intermediou sua entrada no Seminário de Alba, no outono de 1900.

A noite que mudou seu destino

Na virada do século, entre 1900 e 1901, o jovem seminarista participou de um congresso promovido pela diocese de Alba sobre os desafios da Igreja diante dos novos meios de comunicação. Após a Missa de Ano Novo, Tiago permaneceu em adoração diante do Santíssimo Sacramento. Naquela longa vigília, recebeu uma luz interior decisiva: sentiu-se chamado a “fazer algo pelo Senhor e pelos homens do novo século”, servindo a Igreja por meio da comunicação e em união com outras pessoas. Essa experiência marcou toda sua vida e missão.

Música: Noite de luz Roseli Santo e Dilvia Ludvichack Grupo Chamas

Ordenação e primeiros passos no apostolado

Tiago Alberione foi ordenado sacerdote em 29 de junho de 1907. Exerceu seu ministério inicialmente na paróquia de Narzole e, no Seminário de Alba, atuou como professor, bibliotecário e diretor espiritual. Também colaborou na Comissão Catequética Diocesana e na Associação da Boa Imprensa.

Em 1913, recebeu do bispo a direção do jornal diocesano Gazzetta d’Alba. Era o início concreto de um caminho que ele já intuía desde sua experiência diante da Eucaristia: evangelizar usando os novos meios de comunicação.

O nascimento da Família Paulina

Sentindo chegar “a hora de Deus”, em 1914 Padre Alberione adquiriu os equipamentos necessários para uma tipografia e, no dia 20 de agosto, iniciou a Escola Tipográfica, junto com dois jovens aprendizes. Ali nasceu a Pia Sociedade de São Paulo, primeira de dez fundações que dariam origem à Família Paulina.

Com o passar dos anos, surgiram outros institutos, cada um com missão própria, mas unidos pelo mesmo ideal apostólico:

  • Filhas de São Paulo
  • Pias Discípulas do Divino Mestre
  • Irmãs de Jesus Bom Pastor
  • Irmãs Apostolinas
  • Uniões seculares Jesus Sacerdote, São Gabriel Arcanjo, Nossa Senhora da Anunciação, Santa Família
  • Cooperadores Paulinos

Juntos, esses institutos formam a Família Paulina, dedicada a anunciar o Evangelho através dos meios de comunicação e das diversas expressões da cultura contemporânea.

Últimos anos e legado

Padre Tiago Alberione faleceu em Roma no dia 26 de novembro de 1971, aos 87 anos. Uma hora antes de sua morte, recebeu a visita do Papa Paulo VI, que o reconhecia como pioneiro e mestre da comunicação evangelizadora. Seu corpo repousa na cripta do Santuário Rainha dos Apóstolos, em Roma.

No dia 27 de abril de 2003, foi proclamado Bem-aventurado pelo Papa João Paulo II, que destacou seu “gênio criativo” e seu amor profundo pela Igreja e pela missão.



LITURGIA DO DIA: VIGILÂNCIA E FIDELIDADE NO MEIO DAS RUÍNAS

Reflexão – Terça-feira, 25 de Novembro de 2025
34ª Semana do Tempo Comum – Ano Ímpar

Leituras: Dn 2,31-45 | Dn 3,57-59.60-61 (R. cf. 59b) | Lc 21,5-11

As leituras de hoje nos colocam diante de uma verdade profunda: tudo o que é humano passa, mas o Reino de Deus permanece. Em um tempo no qual tantas estruturas parecem inabaláveis e tantas seguranças são construídas sobre aquilo que vemos, a Palavra nos convida a redescobrir onde está o fundamento que não se abala.

A 1ª leitura (Dn 2,31-45), no sonho interpretado por Daniel, os reinos representados pela grande estátua – por mais grandiosos e variados que pareçam – acabam ruindo. Apenas a pequena pedra, “não cortada por mão humana”, cresce e se torna uma montanha que enche toda a terra.

Essa pedra é símbolo do Reino de Deus, um reino que não se constrói pela força humana, mas pela ação divina; um reino que cresce silenciosamente, muitas vezes sem espetáculos, mas com solidez eterna.

O texto nos questiona: Em que construo minha vida? Nas estátuas brilhantes e frágeis do mundo, ou na pedra firme que é o Senhor?

No salmo responsorial continuamos a cantar com louvor: “A Ele glória e louvor eternamente!” (Dn 3). O cântico dos três jovens na fornalha é uma explosão de confiança. Mesmo no meio do fogo, eles encontram motivos para louvar.

O louvor passa a ser uma forma de resistência espiritual: não deixamos que a adversidade defina nossa fé, mas permitimos que nossa fé ilumine a adversidade.

É um convite a reconhecer que, nas pequenas e grandes lutas, tudo o que existe dá glória ao Criador – e nós também podemos fazer o mesmo, mesmo quando a vida nos atravessa com fogo.

E finalmente o evangelho: “Não ficará pedra sobre pedra…” (Lc 21,5-11). Jesus contempla o templo magnífico e anuncia sua destruição. É um choque para os discípulos, que viam ali a maior expressão da presença de Deus. Mas Jesus revela algo essencial: a fé não pode depender do que é exterior, do que parece grandioso ou seguro.

Guerras, conflitos, catástrofes, rumores… tudo isso pode acontecer. Mas a mensagem final é clara:
não se deixem enganar; mantenham-se firmes. É uma advertência e, ao mesmo tempo, um consolo. Não somos chamados ao medo, mas à vigilância. Não a especulações, mas à fé perseverante.

Num mundo acelerado e instável, facilmente nos apoiamos no que é imediato, visível, impressionante. Contudo, a liturgia nos recorda que o que parece sólido nem sempre é durável; o que parece pequeno e silencioso, quando vem de Deus, transforma a história; a fidelidade no meio das provações é nosso maior testemunho; e que, acima de todas as mudanças, Deus permanece como fundamento firme.

Que hoje sejamos capazes de olhar para nossa vida e perguntar: quais “estátuas” tenho erguido? E, com humildade e coragem, reconstruir tudo sobre Cristo, a Pedra que nunca se desfaz.

Que o Senhor nos dê um coração vigilante, fiel e cheio de confiança.






LITURGIA DO DIA: MEMÓRIA DOS MÁRTIRES VIETNAMITAS ANDRÉ DUNG-LAC E COMPANHEIROS MÁRTIRES

Segunda-feira, 24 de Novembro de 2025

Santo André Dung-Lac, presbítero, e companheiros mártires – Memória
34ª Semana do Tempo Comum

Leituras: Dn 1,1-6.8-20 | Dn 3,52.53-54.55.56-57 (R. 52b) | Lc 21,1-4

A liturgia de hoje nos convida a meditar sobre a fidelidade. Uma fidelidade vivida tanto nos pequenos gestos quanto nos grandes testemunhos de vida, até o martírio.

Para isto, as leituras nos fazem um caminho precioso de reflexão de vida. Na primeira leitura, vemos Daniel e seus companheiros cativos na Babilônia. Apesar da pressão para se conformarem à cultura dominante, eles decidem permanecer fiéis à sua identidade e à sua fé. Recusam o alimento do rei não por capricho, mas para preservar a aliança com Deus.

E o resultado? Deus lhes concede sabedoria, vigor e discernimento superiores, de modo que se destacam entre todos.

A mensagem é clara: a fidelidade, mesmo nas pequenas escolhas, abre espaço para que Deus manifeste Sua luz em nós. Assim como Daniel, também enfrentamos pressões para diluir nossa fé, adequar-nos ao que é mais fácil, apagar os sinais do Evangelho no cotidiano. Mas a história mostra que a verdadeira liberdade nasce da coerência com Aquele em quem acreditamos.

O salmo responsorial, tirado do cântico dos jovens na fornalha, é um hino que brota em meio à perseguição. Mesmo cercados pelo fogo, os fiéis proclamam: “A vós, glória e louvor eternamente!”. É um grande cântico de louvor: Deus é bendito para sempre (Dn 3).

É a profissão de fé de quem sabe que Deus não abandona seus servos e que, mesmo em meio às provações, Seu nome permanece bendito.

No Evangelho, Jesus observa aqueles que fazem ofertas no templo. Muitos ricos colocam grandes quantias, mas uma viúva pobre deposita apenas duas pequenas moedas. A viúva pobre dá o valor do coração (Lc 21,1-4). Jesus declara: “Esta viúva ofereceu mais do que todos.”

Por quê? Porque Deus não mede a quantidade, mas o coração. Ela deu “tudo o que possuía para viver”. Seu gesto revela confiança absoluta, entrega total, abandono filial. Essa mulher é ícone do discípulo que não guarda nada para si, mas se lança nas mãos de Deus.

De fato, o breve episódio da viúva pobre no Templo de Jerusalém é um dos textos mais densos da teologia lucana. Em apenas quatro versículos, Lucas nos introduz na lógica paradoxal do Reino: o valor diante de Deus não se mede pelo montante oferecido, mas pela totalidade da entrega.

Este relato está inserido num bloco onde Jesus denuncia a hipocrisia dos escribas (Lc 20,45-47) e anuncia a destruição do Templo (Lc 21,5-6). A viúva aparece imediatamente após a crítica aos escribas “que devoram as casas das viúvas” (Lc 20,47). Jesus, portanto, não apenas elogia a mulher, mas também denuncia o sistema religioso que a leva à miséria.

A cena tem dupla dimensão: a primeira, positiva que o olhar de Jesus reconhece e valoriza a entrega plena; e a outra crítica, pois Ele revela um culto que não protege os pobres e os sacrifica.

    Assim, a oferta da viúva é ao mesmo tempo sinal do Reino e acusação profética.

    Na Escritura, a viúva representa a pessoa socialmente mais vulnerável; alguém sem defesa legal ou econômica; aquela cuja confiança só pode estar em Deus. Ela encarna o anawim, o “pobre de Javé”, cuja força não vem de bens, mas de Deus. Lucas, que tem forte sensibilidade pelos pobres, apresenta esta mulher como modelo do discípulo: ela não dá o que lhe sobra, mas o que é.

    Aprofundamento teológico de Lc 21,1-4

    O texto começa com um detalhe fundamental: “Jesus ergueu os olhos…”. Esse “erguer os olhos” é teologicamente simbólico: é o olhar divino que penetra o interior, que vê o que ninguém vê (cf. 1Sm 16,7). Enquanto muitos observam o quantum, Jesus observa o coração.

    O olhar de Cristo revela a verdade escondida: os ricos oferecem muito, mas sem renúncia; e a a viúva oferece pouco, mas com absoluto abandono. O olhar de Jesus redefine valores, invertendo a escala humana.

    Jesus declara: “Ela deu tudo o que possuía para viver.” O termo grego é bios – “vida”, “meios de subsistência”. Ela não oferece apenas dinheiro: oferece a própria vida.

    Aqui está a profundidade teológica do texto: a viúva realiza, de forma radical, o mandamento de amar a Deus com “todo o coração, toda a alma e todas as forças” (Dt 6,5). Ela antecipa Cristo, que também dará tudo no Templo de seu corpo, no altar da cruz, sem reservas.

    A viúva é imagem da kénosis (esvaziamento) de Cristo (cf. Fl 2,6-11).

    A cena também expõe a diferença entre a economia humana, que calcula, pesa, mede, e a economia do Reino, que valoriza a entrega, o amor e a confiança.

    Na economia divina o valor de uma oferta não está no que se dá, mas no quanto se guarda para si. Também esta economia divina não está na utilidade da ação, mas na pureza da intenção. O Reino de Deus não é movido por grandezas, mas por gratuidades.

    Assim também, teologicamente nos leva a entender a figura da viúva como um modelo para o discípulo, pois propõe uma espiritualidade da confiança absoluta. A viúva, portanto, se torna modelo de discipulado, porque vive a pobreza evangélica; imagem da Igreja, chamada a confiar totalmente em Deus; e profecia da confiança, num sistema religioso que pode se tornar ostentatório.

    Ela representa o discípulo que não oferece apenas “coisas”, mas oferece a vida inteira. É o oposto do “jovem rico” (Lc 18,18-23), que tinha muito, mas não conseguiu se desapegar.

    Na viúva pobre, vemos concretamente a bem-aventurança: “Bem-aventurados os pobres, porque vosso é o Reino de Deus” (Lc 6,20).

    A viúva antecipa sacramentalmente a oferenda total de Cristo; a espiritualidade da oblação; a liturgia da entrega interior. Quem celebra a Eucaristia é chamado a fazer o mesmo: oferecer-se, não apenas oferecer algo.

    O episódio de Lc 21,1-4 não é apenas uma história moral sobre generosidade. É uma revelação profunda sobre a verdadeira religião, o olhar de Deus, a inversão evangélica, o discipulado, a confiança absoluta, a lógica de gratuidade do Reino.

    A viúva pobre é um ícone da fé pura, do amor sem reservas, da entrega total e uma crítica profética a qualquer religiosidade que valorize aparências e despreze os pequenos.

    Memória de Santo André Dung-Lac e Companheiros Mártires

    À luz das leituras, a memória dos mártires vietnamitas ganha ainda maior profundidade. Eles viveram a mesma fidelidade de Daniel e a mesma entrega da viúva.

    Santo André Dung-Lac (1795–1839), presbítero, e outros 116 mártires — homens e mulheres, leigos e clérigos, jovens e idosos — enfrentaram torturas e morte por não renunciarem a Cristo.

    Eles são testemunho vivo de que: “A perseverança salvará as vossas vidas” (cf. Lc 21,19).

    Seu martírio foi a oferta total, semelhante às “duas moedinhas” da viúva: talvez pequena aos olhos do mundo, mas imensamente preciosa aos olhos de Deus.

    Hoje, rezamos pelas comunidades cristãs do Vietnã e por todos aqueles que ainda sofrem por causa da fé. E pedimos, pela intercessão desses santos, a graça da fidelidade nas pequenas escolhas e da coragem nas grandes tribulações.

    Oração

    Ó Deus,
    fonte e origem de toda paternidade,
    que destes aos santos mártires André
    e seus companheiros serem fiéis
    à cruz do teu Filho até a efusão do sangue,
    concede, por sua intercessão,
    que, propagando o teu amor entre os irmãos,
    possamos ser chamados teus filhos e filhas
    e realmente o sejamos.
    Por Cristo, nosso Senhor. Amém.




    LITURGIA DOMINICAL: SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO

    Último Domingo do Tempo Comum – Fim do Ano Litúrgico C
    23 de Novembro de 2025

    Leituras:
    2Sm 5,1-3
    Sl 121(122),1-2.4-5 (R. cf. 1)
    Cl 1,12-20
    Lc 23,35-43

    Neste último domingo do Tempo Comum, concluindo o Ano Litúrgico C, a Igreja nos convida a contemplar o mistério de Cristo como Rei do Universo. Não se trata de um reinado segundo os critérios humanos de poder, força ou domínio, mas de um reinado que se revela plenamente no Evangelho de hoje (Lc 23,35-43): o Cristo Rei é o Cristo Crucificado.

    O Rei que reina da Cruz

    O evangelho nos coloca aos pés da Cruz. Ali, onde o mundo vê fracasso, Deus manifesta Sua realeza. Enquanto líderes zombam e soldados insultam, Jesus permanece silencioso, oferecendo Sua vida. E no meio dessa cena dramática, surge a súplica humilde do “bom ladrão”: “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino.” E Jesus responde com a ternura real de quem veio salvar: “Hoje estarás comigo no Paraíso.”

    Aqui está a chave da Solenidade: Cristo reina salvando, amando até o extremo, acolhendo quem se abre a Ele mesmo no limite da vida. Sua realeza é serviço, misericórdia e entrega. A Cruz é seu trono; o amor, sua lei; a salvação, sua vitória.

    O Rei que reúne e unifica o seu povo

    A primeira leitura (2Sm 5,1-3) apresenta Davi sendo reconhecido como rei por todas as tribos de Israel. Ele se torna símbolo do Messias esperado, aquele que viria reunir o povo disperso. Em Cristo, essa profecia se cumpre de modo definitivo: Ele é o Rei que não apenas governa, mas une, cura e reconcilia.

    No salmo responsorial (Sl 121), o salmista se alegra por subir à Jerusalém, cidade da unidade, “cidade bem compacta”. Assim, neste dia, também nós somos chamados a voltar nosso coração para Cristo, o centro que harmoniza nossa vida, o Rei que nos conduz para a paz e o bem comum.

    O Rei que reconcilia todas as coisas

    Na segunda leitura, São Paulo proclama com força e beleza o hino cristológico (Cl 1,12-20), onde afirma que Cristo é “a imagem do Deus invisível… por Ele e para Ele tudo foi criado”, e que Ele é “o Primogênito dentre os mortos”.

    Seu reinado não é limitado ao coração humano; é cósmico. Através da cruz, Ele reconcilia todas as coisas, trazendo de volta a harmonia que o pecado havia quebrado. O universo encontra Nele seu sentido, sua origem e seu destino.

    Um reinado que transforma a vida

    Ao encerrarmos o Ano Litúrgico, o Evangelho nos recorda que seguir esse Rei significa escolher Seu modo de reinar: acolher, e não excluir; servir, e não dominar; perdoar, e não condenar; amar, e não buscar poder.

    O pedido do bom ladrão “lembra-te de mim” pode hoje ser também a nossa oração. Pedimos a Cristo que reine em nossa história, em nossas relações, em nossas escolhas, em nossas fragilidades.

    Ele é o Rei que não impõe, mas atrai; que não oprime, mas salva; que não exige, mas oferece.

    Neste último domingo do Ano C, renovemos nossa fé: Jesus Cristo é o Rei do Universo porque reina pela força do amor.

    Ao olharmos para a Cruz, reconhecemos a grandeza de um Deus que escolheu o caminho da entrega total. E ao acolhermos Sua realeza, abrimos nossas vidas para o Reino que começa já aqui e se cumpre plenamente no Paraíso prometido, o hoje de Deus, sempre aberto a quem confia Nele.

    Que Cristo, nosso Rei e Senhor, conduza nossos passos para um novo Ano Litúrgico, no qual possamos viver sempre mais sob Sua luz, Sua paz e Seu amor.





    LITURGIA DO DIA: ENTRE A QUEDA DO PODER E A FORÇA DA FÉ

    Sábado, 22 de Novembro de 2025

    Santa Cecília, virgem e mártir – 33ª Semana do Tempo Comum
    Leituras:
    1Mc 6,1-13
    Sl 9A(9),2-3.4 e 6.16b e 19 (R. cf. 15a)
    Lc 20,27-40

    As leituras deste sábado nos colocam diante de duas realidades profundas e sempre atuais: a fragilidade do poder humano diante da morte e a firme esperança na vida que vem de Deus. Enquanto o Primeiro Livro dos Macabeus nos mostra o fim trágico de um rei tirano, consumido pela sua própria soberba, o Evangelho nos apresenta Jesus respondendo aos saduceus sobre a ressurreição, revelando o coração do plano divino: a vida eterna é real, e Deus é o Deus dos vivos.

    Essa mensagem ressoa de modo especial na memória de Santa Cecília, jovem cristã que enfrentou a morte com fé inabalável na ressurreição. Nela, vemos o que Jesus anunciava: alguém que viveu já nesta terra como “filha da ressurreição”, livre do medo e totalmente entregue a Deus.

    A ilusão do poder que não reconhece Deus (1Mc 6,1-13)

    A primeira leitura narra o declínio do rei Antíoco, que tanto perseguiu o povo de Israel. Depois de ter tentado saquear templos, impor cultos pagãos e matar inocentes, ele experimenta o colapso físico, moral e espiritual. Diante da morte iminente, reconhece sua culpa e percebe que seu poder não o salvou. O brilho das conquistas, o orgulho e a violência se dissolvem rapidamente diante da única certeza que ninguém pode contornar: a vida humana é breve, e a história continua para além dos impérios.

    É impressionante notar que, diante da morte, Antíoco finalmente confessa sua pequenez. Tarde demais para mudar o passado, mas ainda tempo suficiente para compreender que a soberba apenas o conduziu à ruína.

    Este texto não quer apenas relatar fatos históricos; ele atua como um espelho para nós. Quantas vezes também buscamos construir seguranças com base na força, nos bens, nos projetos pessoais, acreditando que tudo depende apenas de nossas mãos? Quantas vezes vivemos como se fôssemos autossuficientes, esquecendo que a vida verdadeira é dom de Deus?

    A queda de Antíoco nos ensina que todo poder que não se apoia no Senhor se desfaz. Descobrimos isso, mais cedo ou mais tarde, quando enfrentamos as fragilidades da vida. Mas a boa notícia é que, ao contrário do rei, nós podemos reconhecer a tempo nossa dependência de Deus e reorientar o coração para o que permanece.

    “Os filhos da ressurreição” (Lc 20,27-40)

    No Evangelho, Jesus é confrontado pelos saduceus, grupo religioso que não acreditava na ressurreição dos mortos. Eles lhe apresentam uma pergunta construída para ridicularizar essa crença: uma mulher que teve sete maridos sucessivamente, segundo a lei do levirato, de quem será esposa na ressurreição?

    A intenção deles não era aprender, mas expor o que julgavam ser uma incoerência. É uma tentativa de reduzir os mistérios de Deus às categorias humanas, como se a vida futura fosse simplesmente uma extensão da vida presente.

    Jesus responde de modo direto, profundo e libertador. Ele afirma que a ressurreição não pertence a esta lógica limitada: “Os filhos deste mundo casam-se e dão-se em casamento; mas aqueles que forem julgados dignos de participar do mundo futuro e da ressurreição dos mortos não se casam, nem se dão em casamento.”

    Aqui não se trata de desvalorizar o matrimônio (que é santo e querido por Deus), mas de mostrar que a vida futura é de uma ordem nova. Lá, nada será marcado pela finitude, pela necessidade de prolongar a vida ou garantir descendência. Todos serão como os anjos: vivos diante de Deus para sempre.

    Mais ainda, Jesus vai ao coração da questão ao citar a passagem da sarça ardente: “Deus não é Deus de mortos, mas de vivos, pois todos vivem para Ele.” Essa é a chave do Evangelho de hoje: a vida não termina na morte. E aqueles que vivem em comunhão com Deus já pertencem, desde agora, à eternidade. A ressurreição não é apenas um fato futuro; ela começa no presente, na medida em que nos deixamos transformar pelo amor de Deus.

    Os saduceus viam apenas limites; Jesus revela um horizonte infinito. Eles pensavam em morte; Jesus fala de vida. Eles tentavam ridicularizar a fé; Jesus a afirma com majestade. É a revelação da verdade última sobre nós: fomos criados para viver eternamente com Deus.

    Vivendo hoje como filhos da ressurreição

    A ressurreição não é somente uma esperança distante. Ela se torna critério para interpretar a vida de hoje. Quem crê na vida eterna vive de maneira diferente:

    1. Vive sem medo exagerado da morte, porque sabe que sua história não termina no túmulo.
    2. Vive com responsabilidade, pois sabe que cada escolha tem peso diante de Deus.
    3. Vive com liberdade, pois não se deixa escravizar por ambições, carreiras ou idolatrias.
    4. Vive com amor, porque o amor é a única realidade que atravessa a morte.
    5. Vive com alegria, porque já experimenta aqui os primeiros sinais da vida que não passa.

    Assim viveu Santa Cecília, cuja memória celebramos. Sua fidelidade a Cristo no meio das perseguições é prova de que a ressurreição não era para ela uma ideia abstrata, mas uma certeza existencial. Ela cantou, segundo a tradição, mesmo no martírio, porque sabia que nada poderia separar sua vida da de Cristo.

    Em sua história, vemos o Evangelho encarnado: quem pertence a Deus não vive aprisionado ao “mundo presente”, mas já participa da vida futura. Santa Cecília aponta para aquilo que Jesus proclama hoje: a verdadeira vida é aquela vivida em Deus.

    Uma liturgia que nos faz olhar para o essencial: a vida eterna

    Ao final do Ano Litúrgico, a Igreja tradicionalmente volta nossa atenção para as realidades últimas: morte, juízo, céu e inferno. O Evangelho de hoje (Lc 20,27-40), com o tema da ressurreição, é uma síntese poderosa dessa espiritualidade.

    Antes de começar o Advento, que fala de espera, esperança e promessa, a Igreja nos pergunta: “Você sabe para onde está caminhando? Você vive com os olhos na eternidade?”

    Fechar o ano litúrgico refletindo sobre a ressurreição não é por acaso: é um convite a purificar a nossa visão para que entremos no novo ciclo não distraídos, mas conscientes do sentido último da nossa vida.

    Nisto, a primeira leitura (1Mc 6,1-13) mostra o fim de Antíoco, símbolo de todo poder que se ergue contra Deus. Ao final do ano litúrgico, ela nos lembra: Tudo o que é construído sem Deus se desfaz.

    A liturgia deste sábado funciona, então, como um exame de consciência coletivo:
    – O que construí ao longo deste ano foi em Deus ou longe Dele?
    – Apoiei minha vida em seguranças falsas ou no Evangelho?
    – Minhas escolhas refletiram a fé, ou apenas interesses humanos?

    Antes de recomeçar o ano litúrgico, é importante encerrar este com lucidez e humildade.

    Uma ponte espiritual para o Advento

    O Advento nos chama à vigilância alegre pela vinda do Senhor. Mas só vigia verdadeiramente quem sabe o que espera e para onde caminha. A liturgia deste sábado nos ajuda a fazer essa transição da ressurreição anunciada por Jesus abre nosso coração para a esperança do Advento. É como se a liturgia dissesse: “Entre no Advento como quem renova a esperança na vida eterna, e não como quem apenas repete ritos.”

    Jesus afirma no Evangelho que aqueles que creem são “filhos da ressurreição”. Encerrar o ano com essa identidade é preparar o coração para viver o novo ano litúrgico não apenas com devoções, mas com uma mudança profunda de mentalidade.

    Ser “filho da ressurreição” significa:

    • viver com liberdade interior,
    • amar com generosidade,
    • não se deixar sufocar pelo imediato,
    • enxergar a mão de Deus na história,
    • manter a esperança mesmo nas noites escuras.

    Essas atitudes são justamente as que o Advento pede: vigilância, esperança, prontidão. Hoje, a Palavra nos coloca diante de três tempos, preparando-nos para o novo ano litúrgico:

    Passado: a história de Antíoco nos lembra os erros e desvios que precisamos reconhecer e deixar para trás.

    Presente: a resposta de Jesus aos saduceus nos ajuda a compreender quem somos hoje: pessoas chamadas a viver já como ressuscitadas.

    Futuro: a certeza da vida eterna abre para nós o horizonte para o qual caminhamos — e que começamos a preparar de novo com o Advento.

    Assim, a liturgia fecha o ano com maturidade espiritual e abre o próximo com renovação e propósito. A liturgia deste sábado é uma espécie de “último capítulo” do Ano Litúrgico, que resume a grande mensagem da vida cristã: somos feitos para Deus, e Nele encontramos a vida plena. Ela nos convida a entrar no Advento com o coração alinhado ao destino final para o qual caminhamos.

    Depois de olharmos para a ressurreição, a Igreja nos conduz agora ao presépio. Depois de meditarmos sobre o fim, abrimos espaço para um novo começo. Depois de recordarmos que Deus é o Senhor dos vivos, acolheremos Aquele que vem ao mundo para nos dar a vida eterna.

    Essa liturgia, portanto, é um ponto de passagem espiritual: encerra-nos no essencial e nos abre para a esperança nova que começa no Advento.

    Deus dos vivos

    A liturgia deste dia nos convida a dar um passo decisivo na fé: deixar que a certeza da ressurreição ilumine todas as dimensões de nossa existência. Não somos desfecho de acaso, nem condenados à morte; somos chamados a viver eternamente no amor de Deus.

    Frente às instabilidades do mundo, às forças que tentam impor medo, e às tentações de construir seguranças falsas, Jesus nos devolve a palavra que sustenta os santos de todas as épocas: “Deus não é Deus de mortos, mas de vivos.”

    Que vivamos, hoje e sempre, como filhos da ressurreição: em esperança, liberdade e amor. Que Santa Cecília interceda por nós para que nada nos desvie dessa certeza que transforma tudo.




    As Irmãs Pias Discípulas do Divino Mestre, fundadas pelo Padre Tiago Alberione, em Alba, Itália, em 10 de fevereiro de 1924. O nome Pias Discípulas do Divino Mestre sinaliza a nossa identidade carismática, centrada em Jesus Cristo Mestre Caminho, Verdade e Vida.

    Contato:
    vocacional@piasdiscipulas.org.br
    Whats/fone: +55 11 98797-2304


    LITURGIA DO DIA: MEMÓRIA DA APRESENTAÇÃO DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA

    Liturgia do dia – Sexta-feira, 21 de Novembro de 2025

    Apresentação da Bem-aventurada Virgem Maria – Memória
    33ª Semana do Tempo Comum

    Leituras (próprias):
    Zc 2,14-17
    Lc 1,46-47.48-49.50-51.52-53.54-55 (R. cf. 54b)
    Mt 12,46-50

    A liturgia do dia celebra hoje a Apresentação da Bem-aventurada Virgem Maria, ocasião em que a Igreja nos convida a contemplar Maria como exemplo de fé, entrega e obediência à vontade de Deus. O Evangelho de hoje nos lembra que o verdadeiro laço com Jesus não se limita aos vínculos de sangue, mas se funda na obediência à vontade de Deus e na vivência do amor fraterno.

    A liturgia de hoje nos faz entrar nessa atitude de entrega através de três movimentos: a alegria messiânica de Zacarias, o louvor do Magnificat, e a redefinição da verdadeira família de Jesus. Em cada uma dessas páginas bíblicas ressoa a mesma verdade: Deus encontra sua morada naqueles que se fazem disponíveis para Ele.

    1. “Exulta, filha de Sião!” (Zc 2,14)

    O profeta Zacarias anuncia um futuro em que o Senhor habitará novamente no meio do Seu povo. É uma cena marcada pela ternura de Deus, que visita, aproxima-se e restaura.

    No contexto da festa, Maria aparece como a própria Filha de Sião, aquela na qual Deus realmente veio habitar. Nela, a promessa se tornou carne. Maria é o cumprimento vivo do oráculo: Deus veio morar no seu ventre e na sua história, e por meio dela entrou definitivamente no mundo.

    Celebrar sua apresentação é reconhecer que, antes mesmo do “sim” explícito da Anunciação, sua vida já estava orientada para Deus, como uma terra aberta para acolher Sua presença.

    2. O Magnificat: Deus que se inclina para quem se faz pequeno (Lc 1,46-55)

    A liturgia responde à profecia de Zacarias com o Magnificat, não em sua versão completa, mas em trechos que concentram o essencial: Deus enxerga, visita e exalta os humildes. Aqui está o coração da espiritualidade mariana.

    O cântico revela dois movimentos complementares:

    • O olhar de Maria sobre Deus: “A minh’alma engrandece ao Senhor” — ela começa olhando para Ele antes de olhar para si.
    • O olhar de Deus sobre Maria: “Porque olhou para a humildade de sua serva” — Maria se sabe vista, acolhida, escolhida.

    Neste encontro de olhares, a história da salvação avança. A apresentação de Maria, portanto, não é apenas um gesto ritual; é símbolo de sua interioridade: ela é a criatura totalmente entregue, totalmente disponível. Sua pequena vida se torna espaço para que Deus realize “coisas grandiosas”.

    3. “Quem faz a vontade do meu Pai…” (Mt 12,50)

    No Evangelho, Jesus amplia a compreensão da verdadeira família de Deus. Não são os vínculos biológicos que determinam a proximidade com Ele, mas a confiança e a obediência à vontade do Pai.

    Quando Jesus nos diz que “todo aquele que faz a vontade de meu Pai é meu irmão, minha irmã e minha mãe”, Ele nos convida a viver a intimidade com Ele através da fé e da ação concreta, reconhecendo que a verdadeira família de Deus é construída no amor e na fidelidade à Sua vontade. A teologia cristã entende que a verdadeira relação com Deus e com Cristo não é apenas afetiva ou cultural, mas existencial e prática: envolve ouvir, acolher e viver a Palavra de Deus. Obedecer à vontade divina é tornar-se membro da família espiritual de Jesus.

    Essa palavra poderia parecer distante da figura de Maria, mas é exatamente o contrário. Maria é o modelo perfeito daqueles que fazem a vontade de Deus. Muito antes de ser a mãe biológica de Jesus, ela o “gerou” na fé, na disponibilidade e na docilidade.

    Por isso a Igreja vê nesta memória a celebração de Maria como discípula por excelência, aquela que oferece sua vida como espaço para Deus agir e o faz livremente, em plena consciência, com alegria.

    Embora Jesus enfatize a importância da obediência à vontade de Deus acima do laço sanguíneo, Maria continua sendo o exemplo perfeito dessa obediência. Desde a Anunciação até a Cruz, ela se identifica plenamente com a vontade de Deus.

    A celebração da Apresentação de Maria nos lembra que toda a vida de Maria é um “sim” contínuo ao plano divino. Maria é o modelo perfeito desse seguimento: desde sua infância, entregou-se totalmente ao plano divino, tornando-se mãe do Salvador. Como ela, somos chamados a abrir o coração à Palavra de Deus, permitindo que o Espírito nos guie e nos transforme em instrumentos de vida e de esperança para os outros.

    Para a vida cristã, o Evangelho é um chamado à fidelidade e à prática concreta do amor de Deus. Não basta dizer que seguimos Cristo; é preciso agir conforme a vontade do Pai, transformando nossas atitudes, relações e escolhas diárias.

    4. A liturgia do dia nos ensina a viver a espiritualidade da Apresentação de Maria

    A festa de hoje nos convida a perguntar: onde, em minha vida, o Senhor deseja habitar?

    Assim como Maria foi oferecida ao Templo, cada um de nós é chamado a tornar-se templo vivo, não por méritos, mas pela abertura humilde. Maria nos ensina:

    • a escuta que acolhe a Palavra;
    • a humildade que se deixa transformar;
    • a confiança que permite a Deus fazer novas todas as coisas;
    • a coragem de oferecer-se inteira e continuamente.

    Apresentar-se ao Senhor significa deixar-se tomar por Ele: nos afetos, nos projetos, na inteligência, no trabalho, nos relacionamentos. É entrar no dinamismo da obediência confiante que fez de Maria a mulher plenamente disponível ao Reino.

    Celebrar a Apresentação de Nossa Senhora é contemplar o começo silencioso da história da salvação, uma vida que, desde cedo, foi moldada para Deus.

    Hoje, o Evangelho nos recorda que a verdadeira proximidade com Cristo nasce daquilo que uniu Maria a Ele: fazer a vontade do Pai. Que possamos, como ela, nos apresentar ao Senhor e permitir que Sua Palavra habite em nós, transforme-nos e, através de nós, alcance o mundo.




    COMUNIDADE DIVINO MESTRE EM CAXIAS DO SUL/RS RECEBE VISITA FRATERNA DE DOM JOSÉ GISLON E DA PROVINCIAL, IR. CIDINHA BATISTA

    A Comunidade Divino Mestre, em Caxias do Sul, recebeu na manhã de 19 de novembro a visita fraterna de Dom José Gislon, bispo da Diocese de Caxias do Sul. A presença do bispo marcou um momento significativo para a comunidade religiosa, que vive um período de reorganização e fortalecimento de suas atividades. A visita também coincidiu com a estadia da provincial das Irmãs Pias Discípulas do Divino Mestre, Irmã Cidinha Batista, que realiza sua visita fraterna à comunidade.

    Durante a visita, Dom José Gislon foi acolhido pela comunidade. O encontro foi marcado por diálogo, proximidade e partilha sobre a missão evangelizadora realizada no território diocesano. O bispo manifestou apoio e incentivo ao trabalho desempenhado pela comunidade, reconhecendo sua presença na diocese.

    A presença da provincial Irmã Cidinha Batista acrescentou um caráter ainda mais especial ao encontro. Sua visita fraterna tem o objetivo de acompanhar de perto as irmãs, fortalecer e reorganizar a vida comunitária, em vista dos projetos em andamento. Para a comunidade local, a presença simultânea da provincial e do bispo representou um momento de comunhão e confirmação da missão desempenhada no território.

    Uma das razões desta visita foi a recente mudança de endereço da casa religiosa e do Apostolado Litúrgico, que agora funcionam na Rua Bento Gonçalves, 980, no Bairro Nossa Senhora de Lourdes, em Caxias do Sul/RS. A transferência para o novo espaço representa uma etapa importante no processo de renovação das atividades da comunidade, oferecendo melhores condições para o atendimento ao público, para o desenvolvimento do trabalho pastoral e para a vida comunitária das irmãs. O novo ambiente também possibilita maior visibilidade e acessibilidade ao Apostolado Litúrgico, que se dedica à produção e à oferta de materiais que inspiram, formam e alimentam a vida litúrgica das comunidades.

    Durante a manhã, Dom José Gislon conheceu o novo espaço, ouviu as irmãs sobre as motivações da mudança e expressou alegria pela continuidade da missão da congregação na cidade. Ele destacou a importância do testemunho religioso e do serviço pastoral oferecido à Diocese de Caxias do Sul.

    Ao final da visita, a Comunidade Divino Mestre manifestou gratidão ao bispo pela atenção e pela presença fraterna, bem como à provincial pelo acompanhamento constante e pela orientação. O encontro reforçou o compromisso da comunidade com sua missão evangelizadora e renovou o ânimo para as atividades desenvolvidas no novo endereço.


    Apostolado Litúrgico em novo endereço em Caxias do Sul/RS:

    Rua: Bento Gonçalves, 980
    Bairro: Nossa Senhora de Lourdes
    Caxias do Sul – RS CEP: 95020-411
    Telefone: (54) 3229-2907
    WhatsApp/telefone: (54) 98124-7266





    DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA: MEMÓRIA, RESISTÊNCIA E COMPROMISSO COM A IGUALDADE

    O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, é mais do que uma data no calendário: é um marco de memória, reconhecimento e responsabilidade social. Criado para valorizar a história, a cultura e a contribuição da população negra para o Brasil, o dia também nos convida a olhar de frente para as desigualdades raciais que ainda persistem. Sua escolha está ligada à morte de Zumbi dos Palmares, símbolo maior da resistência contra a escravidão, e ao trabalho contínuo do Movimento Negro brasileiro, que transformou memória em consciência política.

    A origem da data: da história à ação política

    O 20 de novembro marca o assassinato de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, morto em 1695 após longa perseguição dos colonizadores. Palmares foi o maior e mais duradouro território de resistência negra no período colonial. A morte de Zumbi, cujo corpo foi exposto em praça pública para “dar exemplo”, gerou justamente o contrário: consolidou-o como um símbolo de luta por liberdade, autonomia e dignidade.

    A data, no entanto, é uma construção contemporânea. Em 1971, ativistas negros do Rio Grande do Sul propuseram pela primeira vez o 20 de novembro como dia de reflexão racial. Em 1978, o Movimento Negro Unificado (MNU) adotou oficialmente o 20 de novembro como data nacional, em contraposição ao 13 de maio, visto como uma celebração da abolição sem reconhecimento das lutas dos próprios negros. O objetivo disto era claro: deslocar o protagonismo da narrativa da abolição, tradicionalmente centrada na ação da Princesa Isabel, para a população negra e sua resistência ativa.

    O fortalecimento da data veio gradualmente por meio de leis. A Lei 10.639/2003 incluiu o 20 de novembro no calendário escolar e tornou obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira. A Lei 12.519/2011: oficializou o Dia Nacional da Consciência Negra. Em diversos estados e municípios o reconhecem como feriado, a exemplo de SP, RJ, AL, MT, entre outros.

    Assim, o Dia da Consciência Negra nasce da junção entre memória histórica, movimento social e reconhecimento institucional.

    Por que o 20 de novembro?

    A escolha da data reflete um posicionamento ético e político. O movimento negro argumenta que o 13 de maio, embora marque a abolição, reforça uma narrativa que apresenta a liberdade como concessão, apagando os séculos de resistência negra.

    Já o 20 de novembro celebra a luta, a autonomia, a organização comunitária e a capacidade de resistência da população negra frente a um sistema de violência e dominação.

    O Dia da Consciência Negra celebra, portanto, não apenas um personagem histórico, mas um legado coletivo.

    Desafios contemporâneos: enfrentando narrativas de deslegitimação

    Nos últimos anos, tornou-se comum ver circular discursos que tentam diminuir o valor da data atacando a figura de Zumbi dos Palmares. Frases como “Zumbi não era flor que se cheire” ou “matava seus próprios pares” surgem especialmente em contextos em que se tenta relativizar ou deslegitimar a luta antirracista.

    É importante esclarecer alguns pontos. As fontes históricas sobre Palmares são escassas e, em grande parte, produzidas por colonizadores interessados em justificar ataques e enfraquecer a resistência. Portanto, narrativas negativas sobre líderes quilombolas muitas vezes serviam como instrumento político da época e continuam sendo utilizadas hoje com funções semelhantes.

    Discutir a complexidade de figuras históricas é legítimo. O problema é usar interpretações duvidosas ou anacrônicas para desvalorizar o significado da data.

    Outro desafio a ser considerado é que os Movimentos sociais não dependem de “heróis perfeitos”. Nenhum processo social ou histórico foi construído por figuras imaculadas. Martin Luther King, Gandhi, Tiradentes e tantos outros também têm aspectos controversos em suas trajetórias. Isso não anula o valor das causas que defenderam.

    Da mesma forma, o Dia da Consciência Negra não existe para canonizar Zumbi. Ele existe para reconhecer a existência de quilombos como espaços de liberdade; a resistência da população negra à escravidão; e a continuidade da luta por justiça racial. Símbolos históricos representam valores coletivos, não biografias perfeitas.

    A quem interessa esse discurso?

    É importante perguntar: por que essas críticas ressurgem sempre no 20 de novembro? Muitas vezes, elas funcionam como estratégia para desviar o foco do racismo estrutural; também como uma forma de desqualificar a pauta da igualdade racial e um contra-ataque retórico que evita enfrentar desigualdades atuais.

    Enquanto se tenta provar se Zumbi era “bom ou mau”, deixa-se de discutir:

    • violência policial;
    • desigualdade no mercado de trabalho;
    • exclusão escolar;
    • racismo religioso;
    • falta de representatividade;
    • desigualdade de renda e acesso a direitos.

    Por isso, ao dialogar com essas críticas, é essencial recentrar a conversa: o 20 de novembro não celebra a perfeição de um indivíduo, mas a luta pela liberdade e pela igualdade.

    O que significa celebrar a Consciência Negra hoje

    Celebrar o Dia da Consciência Negra é reconhecer que a população negra construiu este país em suas dimensões culturais, linguísticas, religiosas, políticas e afetivas. É reconhecer que o racismo ainda é uma realidade estruturante e exige enfrentamento cotidiano. E que a educação, a memória e o diálogo são caminhos fundamentais para transformar a sociedade. É também reafirmar que a luta por igualdade racial é tarefa de todas e todos, não apenas da população negra.

    Dia da Consciência Negra: memória que inspira compromisso

    O Dia da Consciência Negra é, acima de tudo, um convite à responsabilidade coletiva. Ele nos lembra que a liberdade não foi presente: foi conquista. E continua sendo.

    Ao reconhecer a importância histórica de Zumbi e dos quilombos, homenageamos a resistência que moldou o Brasil. Ao enfrentar narrativas que tentam deslegitimar essa memória, fortalecemos o compromisso com a verdade histórica e com a justiça social. Ao celebrar a Consciência Negra, reafirmamos um projeto de futuro: um país onde a dignidade não seja privilégio, mas direito.

    Que este 20 de novembro inspire escuta, aprendizado, ações concretas e coragem para que a memória da resistência negra siga iluminando caminhos de inclusão, respeito e igualdade.

    Ir. Julia de Almeida, pddm