Nós Irmãs Pias Discípulas do Divino Mestre iremos oferecer um roteiro de oração em preparação para o Domingo Dia do Senhor.
Desejamos a você um frutuoso caminho com Jesus Mestre.
Boa oração!
Algumas recomendações:
-Antes de começar a leitura, prepare o ambiente, acenda uma vela…
Encontre uma posição confortável, acalma-se de toda a agitação, preste atenção aos próprios sentimentos, pensamentos, preocupações…
Deixe que volte ao coração acontecimentos, pessoas, situações…Entregue tudo ao Senhor. Em atitude de fé, invoque o Espírito Santo, pois é ele que ‘perscruta todas as coisas, até mesmo as profundidades de Deus’ (cf. I Coríntios 2,10-12 ).
Se desejar, escreva no seu caderno pessoal tudo o que experimentou durante a oração. Se possível, partilhe com alguém.
Para o ano de 2024, a proposta de estudo e aprofundamento bíblicos no Mês da Bíblia da Igreja Católica é o livro do profeta Ezequiel. O lema inspirador para este estudo é “Porei em vós o meu Espírito e vivereis” (Ez 37,14).
O livro de Ezequiel nos coloca diante de uma das etapas mais atribuladas e trágicas da História do Povo de Deus. O reino de Judá, fraco e indefeso diante dos grandes impérios, se vê mergulhado numa disputa de ordem internacional sem ter condição nenhuma de interferir em seu próprio destino. De um lado, o império babilônico. Do outro, o reino do Egito. No meio, tentando se equilibrar entre poderosos, estavam os sucessivos reis de Judá. A consequência desastrosa deste jogo de poderes internacionais foi o exílio e a destruição do país e da capital Jerusalém. O profeta Jeremias é a grande testemunha histórica de todo este desastre político. O livro das Lamentações é o grito doloroso do povo sofrido, vítima dos erros políticos dos governantes. A mensagem do profeta Ezequiel vem completar este quadro histórico de dor e de morte, mas também trazendo uma centelha de reconstrução e de esperança.
A vivência de Ezequiel junto à comunidade dos exilados mergulhou-o na mesma sorte do povo de Deus naquele momento histórico. Ele também passou pela noite escura do desterro, do medo, da ausência e da saudade. Mas ele continua fiel e teima em continuar a crer na fidelidade do Deus que esteve sempre presente na vida do povo.
Toda a mensagem profética de Ezequiel foi vivida e proclamada no exílio na Babilônia. Ezequiel tenta mostrar aos exilados que, apesar de toda destruição, morte e desterro, ainda há uma esperança, muita esperança. Ainda ardem as brasas da fé por baixo de todas as cinzas da destruição, do sofrimento e do exílio.
Situando a pessoa e o livro do profeta Ezequiel
As várias experiências de exílio e de deportação.
Uma das etapas históricas do povo de Israel é a etapa do Exílio. A ideia mais comum a respeito deste período, que vai de 597 até 538, é a seguinte: houve a invasão da Babilônia contra Judá; Nabucodonosor, o rei da Babilônia, fez duas deportações (597 e 586) e levou muita gente para o Exílio. Com a derrota dos babilônios para os persas (539), Ciro, o rei da Pérsia, permitiu o retorno do povo para sua terra. A partir de 538, em sucessivas levas, os judeus regressaram da Babilônia para a Judéia.
Na realidade, o que houve não foram só estas duas deportações. A Bíblia registra muitos exílios do povo de Israel e de Judá. Já em 734, o rei da Assíria promoveu uma deportação de israelitas para as terras do império assírio (cf. 2Rs 15,29). Com a queda da Samaria (722) muitas outras pessoas do reino de Israel foram levadas para a Mesopotâmia e lá espalhadas entre as várias províncias do império assírio (cf. 2Rs 17,6.23). O mesmo aconteceu com Judá a partir das invasões assírias entre 701 e 669 (2Cr 33,11-13). As sucessivas deportações por ocasião das invasões babilônicas geraram uma comunidade de uns dez mil judeus exilados na Babilônia (cf. 2Rs 24,14). A maior parte destas pessoas não voltou para Jerusalém. Havia uma grande comunicação entre a comunidade dos judeus que permaneceram em Judá e a comunidade dos exilados na Babilônia (cf. Jr 29,5-7).
Foi um processo, cada vez mais amplo, de exílio, saída, dispersão, deportação e emigração do povo para os países ao redor da Palestina. E ao mesmo tempo, houve um processo igualmente crescente de retorno, de reorganização, de reconstrução, de busca de uma nova identidade.
A esperança que nasceu no cativeiro e fez nascer o livro do profeta Ezequiel
Foi nesta noite escura do povo que brilhou a aurora de um novo olhar. Um olhar nascido da experiência do amor fiel de Deus que permitiu à comunidade fazer a releitura do passado. E assim, desta situação de morte, nasceram as imagens mais bonitas de esperança. Jeremias fala do novo coração (Jr 30 a 33), Isaías fala do consolo e do amor que animam o servo de YHWH para ser o revelador da presença de Deus no mundo (Is 40 a 66), como transparece nos quatro cânticos do povo Servo: no primeiro cântico Deus escolhe o seu Servo (Is 42,1-9); no segundo cântico o Servo de Deus descobre a sua missão (Is 49,1-6); no terceiro cântico o Servo assume e executa a sua missão (Is 50,4-9); no quarto cântico temos a paixão e vitória final do Servo de Deus (Is 52,13 a 53,12).
É neste contexto de avaliação e de reconstrução que surge o profeta Ezequiel. Ele fala do novo pastor (Ez 34,11-31), do novo Templo (Ez 40 a 47), da água purificadora que restaura a Criação (Ez 47,1-12). Na visão dos ossos secos, ele descobriu sinais de vida lá onde os outros só enxergavam morte e desespero (Ez 37,1-14).
Ezequiel é um profeta que tem um jeito todo próprio. Ele era da tribo de Levi, e toda a sua espiritualidade transpira o ambiente sacerdotal. Ele anuncia e lamenta a destruição do templo e da cidade como consequência dos desvios, sobretudo cultuais, da elite. Ele tem visões estranhas, difíceis de serem decifradas e interpretadas. Tem desmaios, deve realizar ações simbólicas estranhas, mas que chamam a atenção do povo. Toda a sua vida, tanto pessoal como familiar, se torna uma profecia viva. Ele já não se pertence.
Grande parte das profecias de Ezequiel são denúncias violentas que acusam o povo e anunciam o castigo. Talvez seja a sua experiência da santidade de Deus, profanada tão despudoradamente pelos sacerdotes, pelos reis e pelos falsos profetas, que o levou a essa reação tão agressiva que, até hoje, faz a gente sentir-se incomodada quando lê as profecias de condenação deste profeta. A enormidade dos castigos que ele anuncia revela o tamanho da sua dor ao ver o povo desviado pelos seus maus governantes, nobres, sacerdotes e profetas. E o profeta conclui suas trágicas mensagens com um refrão misterioso da parte de Deus: “Então sabereis que eu sou YHWH!” (cf. Ez 6,7.10.13.14; 7,4.9.26; etc…)
Mas no meio destas visões terríveis aparecem também as visões mais bonitas da Bíblia, como flores brilhantes no meio do mato fechado. Uma destas flores é a visão dos ossos secos que retomam vida sob a ação do espírito de Deus (Ez 37,1-14).
O livro do profeta Ezequiel.
Sendo sacerdote, é evidente que Ezequiel sabia ler e escrever. Desta forma, grande parte dos oráculos podem ter saído de seu próprio punho. Ele mesmo pode ter escrito sobre suas experiências extáticas ou suas ações simbólicas. Mas não podemos pensar que todo o livro foi obra dele. Numerosos acréscimos posteriores são contribuições de seus discípulos.
De qualquer forma, apesar de reunir materiais tão diferentes como visões, sermões complicados, oráculos de difícil intepretação, encenações dramáticas, o livro de Ezequiel é um dos mais bem organizados dentre os livros proféticos.
Divisão do Livro do profeta Ezequiel
1-3: A vocação profética. O profeta recebe sua missão
4-24: Profecias de ameaça e de condenação contra Judá, antes do segundo cerco de Jerusalém Nesta unidade vale destacar o seguinte: as ações simbólicas (4 e 5); a visão da profanação do templo (8 a 11); a parreira inútil (15); a responsabilidade pessoal (18); as duas irmãs (23); a morte da esposa (24,15-27).
25-32: Oráculos contra as nações cúmplices do império. O centro destas denúncias são as duras palavras dirigidas contra a cidade de Tiro, na Fenícia (26 a 28) e contra o Egito e seu faraó (29 a 32).
33-39: Oráculos de salvação durante e depois do cerco final de Jerusalém. O profeta busca animar o povo exilado apontando para um renascimento futuro. Aqui estão as passagens sobre os pastores de Israel (34); o oráculo sobre os montes de Israel (36); a visão dos ossos secos (37,1-14); as duas achas de lenha (37,15-28); os oráculos contra o reino de Gog (38-39).
40-48: Estatuto político e religioso da futura comunidade na nova Cidade Santa. Esta parte apresenta um plano de reconstrução da nova Jerusalém, tendo como centro um templo restaurado para onde voltará a glória de Deus. Sendo um documento que fundamenta o renascimento da religião judaica, algumas Bíblias chamam esta parte de “A Torá de Ezequiel”.
Algumas chaves de leitura para ajudar a descobrir a mensagem do profeta Ezequiel.
A pessoa de Ezequiel
Ezequiel era um sacerdote (Ez 1,3). Ele teve uma boa formação e um bom nível de instrução. O templo e o culto eram suas principais preocupações. Assim entendemos a gravidade de suas denúncias. Suas palavras são dirigidas, tanto em relação ao templo de sua época, maculado por ritos impuros (Ez 8,7-16) e que será abandonado pela Glória de YHWH (Ez 10,18-22), quanto ao templo futuro (Ez 40,1 a 42,20), para o qual ele vê a Glória de Deus voltar (Ez 43,1-9).
Temos poucas informações sobre a vida pessoal de Ezequiel. Seu pai, Buzi, estava entre os sacerdotes selecionados para o desterro na Babilônia na primeira leva. Sinal de que ele ocupava um lugar de destaque no serviço do templo. Não temos certeza de sua idade, mas como ele dá a entender que sabe dos ritos e das funções sacerdotais, tinha mais de vinte anos. Era casado, mas não sabemos se teve filhos. Ficou viúvo pouco antes da queda de Jerusalém. Tendo sido exilado muito novo, ele não pôde exercer seu sacerdócio no templo de Jerusalém. Pelas datas presentes no livro, sua atividade profética vai do ano 593 (Ez 1,1-2) até 571 (Ez 29,17).
Ezequiel é uma pessoa singular. Ele tem contínuas visões, realiza ações simbólicas com frequência; perde a fala por períodos relativamente longos; e é meio propenso a desânimos. Ele sofre de paralisia, mas continua trabalhando em seu leito de enfermo (Ez 4,4). A dor da morte da esposa faz com que ele perca a fala completamente. Estes dados acabam revelando uma personalidade um pouco doentia. Ele provavelmente morreu na Babilônia.
Como sacerdote, ele guarda o culto e a lei e, na história das infidelidades de Israel (20), a censura de eles terem “profanado os sábados”, volta como um refrão (Ez 20,13.16.21.24 23,38.39). Ele tem horror às impurezas legais (cf. Ez 4,14) e uma grande preocupação por separar o sagrado do profano (Ez 45,1-6). Na sua qualidade de sacerdote, resolvia os casos de direito ou de moral e por isso o seu ensinamento assume um tom casuístico (Ez 18,1-23).
Durante seu ministério, Ezequiel é chamado por Deus de “Filho do Homem” (cf. Ez 2,1.3.8 etc…). Esta expressão tem um sentido poético significando “um ser humano”, a humanidade da pessoa na sua fraqueza e fragilidade (cf. Sl 8,5; Is 51,12; 56,2; Jó 25,6; Dn 8,17). Ao chamar assim o profeta, o próprio Deus quer estabelecer uma distância entre divindade e humanidade, entre YHWH e o povo de Israel. Ao animar o profeta chamando-o assim, o próprio Deus quer superar esta distância através a atuação de Ezequiel. Esta expressão é específica de Ezequiel, mas é retomada por Jesus ao falar de si mesmo e de suas fraquezas e humilhações (cf. Mt 8,20; 11,19; 17,22; 20,28; etc…). Uma possível tradução desta expressão seria “Filho da Humanidade”. Como o próprio Jesus faz um paralelo com o título de “Filho do Homem” em Ezequiel, não é bom traduzir por “Criatura Humana”, como fazem algumas Bíblias.
Ezequiel, o profeta dos gestos simbólicos
Mais que nenhum outro profeta da Bíblia, Ezequiel multiplicou os gestos simbólicos e mímicas. Em suas atividades Ezequiel faz muitos gestos como bater palmas, sapatear e dançar com frequência (Ez 6,11; 21,17.19). Representou com mímica o cerco de Jerusalém (Ez 4,1 a 5,4); a partida dos exilados (Ez 12,1-7); o rei da Babilônia na encruzilhada dos caminhos (Ez 21,23s); a união de Judá com Israel (Ez 37,15s).
Ações simbólica são encenações públicas transformadas em oráculos. São muitas as ações simbólicas de Ezequiel. Logo no início de suas atividades ele é convidado a engolir um livro (Ez 3,3). Depois temos as ações do tijolo escrito, da frigideira de ferro; das cordas e do pão assado sobre excrementos (Ez 4,1-16). Em seguida temos a faca afiada e a queima dos cabelos e da barba (Ez 5,1-3). Temos também a encenação do desterrado (Ez 12,7). Até nas provações que Deus lhe envia, como a morte de sua amada esposa, ele acolhe o fato como uma ação simbólica e um “sinal” para Israel (Ez 24,15-18).
Na verdade, Ezequiel age como tinham agido outros profetas como Oseias, Isaías ou Jeremias. Mas a complexidade de suas ações simbólicas contrasta com a simplicidade dos gestos dos seus predecessores.
Ezequiel, o homem das visões
Ezequiel é sobretudo o homem das visões. Seu livro contém apenas quatro visões propriamente ditas, mas elas ocupam um espaço considerável: Ez 1-3; 8-11; 37; 40-48. Estas visões do profeta manifestam um mundo fantástico: os quatro seres vivos do carro de YHWH (Ez 1,4-28), a sarabanda cultual do Templo, com seu pulular de animais e de ídolos (Ez 8,7-18), a planície dos ossos que se reanimam (Ez 37), um templo futuro desenhado como numa planta de arquiteto, donde brota um rio de sonhos numa geografia utópica (Ez 40 a 48).
Este poder de imaginação estende-se aos quadros alegóricos que o profeta descreve: as das irmãs Oola e Ooliba (Ez 23,1-45), o naufrágio da rica cidade de Tiro (Ez 26 e 27), o faraó-crocodilo (Ez 29 e 32), a árvore gigante (Ez 31,1-18) e a descida do faraó aos infernos (Ez 32,17-32). As visões amplas e detalhadas de Ezequiel, algumas de difícil interpretação, apontam para uma transição entre a profecia clássica e a nova profecia de cunho apocalítico. Muitas destas visões de Ezequiel são retomadas em Daniel e no Apocalipse.
O caminho novo aberto por Ezequiel
Já se vê que, diante da nova realidade do exílio, Ezequiel abre um caminho novo para o povo de Deus. Ele rompe com o passado da sua nação. Em seus oráculos, a lembrança das promessas feitas aos antepassados e da Aliança concluída no Sinai aparece esporadicamente. Mas, se até aqui, Deus continuamente salvou seu povo, manchado desde o nascimento (Ez 16,3s), não foi para cumprir as promessas, mas sim para defender a honra do seu nome (Ez 20,9-17). E se agora, Deus substituirá a Aliança antiga por uma Aliança eterna (Ez 16,60; 37,26s), e tal gesto por parte de Deus não será em recompensa de uma “volta” do povo para ele, mas por pura benevolência, por graça. O arrependimento virá depois (Ez 16,62-63). Um capítulo importante do livro é onde a responsabilidade coletiva do passado é substituída pela responsabilidade pessoal no presente (Ez 18,1-32). A pessoa é responsável pelo seu destino, a partir das opções que faz em vida.
O messianismo de Ezequiel, aliás pouco explícito, já não é régio e glorioso: sem dúvida ele anuncia um futuro Davi, o qual será, porém, apenas “pastor” do seu povo (Ez 34,23;37,24), “príncipe” (Ez 24,24) e não rei, pois não há lugar para reis na visão teocrática do futuro (Ez 45,7s). Ele rompe com a tradição da solidariedade no castigo e afirma o princípio da retribuição individual (Ez 18; cf. 33,10-20).
A Torá de Ezequiel
Os capítulos 40 a 48 de Ezequiel formam uma ampla unidade literária, trazendo uma única visão: num plano minucioso de reconstrução religiosa e de um recomeço político, o profeta revela a futura Jerusalém centralizada num templo reconstruído. É como se fosse uma carta de fundação de um novo país. Segundo o próprio texto destas visões, a data é bem precisa: o profeta está entre setembro e outubro de 573.
Num texto seco e esquemático, bastante detalhado e minucioso, a visão mostra um plano de reconstrução para o país e para a cidade. No centro de tudo está o novo Templo, para onde voltará a Glória de Deus. Os grandes agentes deste novo Judá são os sacerdotes. Ezequiel, na verdade, aponta para uma reconstrução após o exílio comandada pela classe sacerdotal sadoquita. As visões de Ezequiel estabelecem um novo estatuto político e religioso, uma nova redistribuição da terra e um novo calendário litúrgico. São orientações para a comunidade que retornasse a Judá, quando terminasse o exílio. Seu objetivo é conscientizar os exilados de que uma hora o exílio iria terminar e, ao mesmo tempo, eles deveriam ter um projeto de reconstrução da nação destruída. Ezequiel busca dar uma nova organização ao povo de Deus, descrevendo a comunidade perfeita. Seu projeto será retomado no pós-exílio pelo profeta Zacarias e pelo sumo-sacerdote Josué (cf. Zc 3,1-7; Esd 3,1-6; 5,1-2).
A presença de Ezequiel no Novo Testamento
Existem muitas referências ou alusões às passagens de Ezequiel nos livros do Novo Testamento. Ez 32,7, junto com outras passagens apocalípticas, é citado em Mt 24,29 e Lc 13,24-25. Em Mc 8,18 Jesus cita Ez 12,2.
Já vimos como Jesus assume para si mesmo a expressão “Filho do Homem”, característica da profecia de Ezequiel. Jesus se apresenta assim diante da reação à sua mensagem, feita pelos sacerdotes, escribas e fariseus (cf. Mt 8,20; 11,19; 20,28).
Mas grandes referências são feitas por Jesus em parábolas, como na parábola do Bom Pastor (Jo 10,7-16), inspirada em Ez 34,23-30 e que também inspira outras citações tais como Mt 25,31-46; Lc 9,10; 15,4-7; Hb 13,20 e 1Pd 2,25; 5,2-4. Da mesma forma, a alegoria da vinha (Jo 15,1 -6) se inspira nas parábolas da vinha em Ez 15,1-8; 17,6-10. O lamento de Ezequiel sobre Jerusalém (Ez 16,1-5) inspira Jesus em Mt 28,2-14.
Outras alusões são: a denúncia dos pecados do povo (Ez 7,15-22 em Mt 24,16-19); a santificação do Nome de Deus (Ez 36,23 em Mt 6,9); o desejo divino de que todos se salvem (Ez 18,23 em 1Tm 2,4); o julgamento que começa pela casa de Deus (Ez 9,6 em 1Pd 4,17); a recusa em comer alimentos impuros (Ez 4,14 em At 10,14).
Mas a grande releitura de Ezequiel no Novo Testamento encontra-se no livro do Apocalipse. Eis alguns exemplos:
A visão do carro de YHWH (Ez 1,4-26) inspira Ap 4,6-8.
A visão do livro (Ez 2,8 a 3,3) é relida em Ap 5,1; 10,8-11.
A visão do fim próximo (Ez 7,1-9) inspira Ap 8,13; 9,12; 11,14.
Os assinalados com o sinal da cruz (Ez 9,3-4) é retomada em Ap 7,2-3; 9,4.
O lamento denunciando a prostituição (Ez 16,35-43) inspira Ap 17,15-16.
A ampla denúncia de Ezequiel sobre a cidade de Tiro (Ez 26 a 28) inspira o jogral do Apocalipse sobre a cidade de Roma, a Grande Prostituta (Ap 18,1-24).
A visão dos ossos secos (Ez 37-9-10) é retomada em Ap 11,11.
O reino de Gog (Ez 38,1-7) é retomado em Ap 20,7-10.
A convocação das aves do céu (Ez 39,17-20) é retomada em Ap 19,17-18.
A água que purifica e traz vida (Ez 47,1-12) inspira Ap 22,1-2.
A visão da Nova Jerusalém (Ez 48,30-35) é retomada em Ap 21,12-13.
De 8 a 15 de setembro de 2024, a cidade de Quito (Equador) vai vestir-se de festa para o 53º Congresso Eucarístico Internacional, e no entrelaçado colorido das suas ruas coloniais receberá milhares de pessoas provenientes de todo o mundo para celebrar o Mistério da nossa fé e renovar, numa alegre partilha de dons, o amor a Cristo, Pão vivo descido do céu.
O Congresso Eucarístico Internacional é destinado a leigos, religiosos, pessoas consagradas, padres e bispos em geral. Todos estão convidados a participar. O Congresso Eucarístico Internacional será realizado no Centro de Convenções Metropolitano de Quito “CCMQ”. O Centro de Convenções é o mais moderno e funcional do Equador, com todas as características e condições para o desenvolvimento de grandes eventos, congressos, feiras, exposições e convenções.
Sua localização em Quito é privilegiada. Quito foi declarada Cidade Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1978, o que a torna um destino turístico de eleição.
Os congressos eucarísticos, que nos últimos tempos foram introduzidos na vida da Igreja como manifestação peculiar do culto eucarístico, devem ser considerados como uma «estação» para a qual uma comunidade convida toda a Igreja local, ou uma Igreja local convida as outras Igrejas duma região ou nação, ou até as do mundo todo, a fim de, em conjunto, reconhecerem mais profundamente o mistério da Eucaristia sob algum aspecto, e lhe prestarem um culto público nos laços da caridade e da união. É pois necessário que tais congressos sejam um verdadeiro sinal de fé e de caridade pela plena participação da Igreja local e pela associação significativa das outras Igrejas.
O logo do 58º Congresso Eucarístico Internacional
O logotipo representa a identidade visual do evento de uma forma distinta e memorável. Uma combinação de símbolos e letras permite que a marque o Congresso com elementos característicos da identidade cultural do Equador neste momento histórico da Igreja Católica.
A CRUZ
A Cruz de Cristo entra na carne do mundo para curar as feridas abertas pelo pecado. Onde a humanidade desferiu a máxima violência contra o Cordeiro de Deus, Deus derramou o seu amor nos sinais da água e do sangue que brotaram do lado aberto de Cristo. O Crucificado – Ressuscitado, abraça a todos como irmãos reconciliados com o Pai.
O CORAÇÃO
O Coração aberto de Cristo na Cruz é a fonte do amor que torna novas todas as coisas. A sua ferida é fonte de vida e de reconciliação. As feridas abertas do Ressuscitado são as feridas do amor que curam as feridas do ódio, da inimizade, da violência e da morte que afligem a humanidade.
A HÓSTIA
A Hóstia lembra a Eucaristia, ápice e fonte de toda a vida cristã. Oferece um novo rumo à história humana para que Deus continue a reunir o seu povo, de Oriente a Ocidente, congregando-o em torno da Palavra de vida e do Pão vivo descido do céu. A Eucaristia é um vínculo de fraternidade: se o pecado a fratura, a celebração eucarística reúne-nos na única mesa como filhos do mesmo Pai celeste.
QUITO
Quito, uma cidade no meio do mundo, localizada na latitude zero, alarga a sua tenda para se tornar uma imensa cidade eucarística onde todos estão convidados a construir o sonho de uma fraternidade curada pelo amor de Cristo que nesta hora da história nos diz: “Todos vós sois irmãos” (Mt 23,8).
A EVANGELIZAÇÃO NO EQUADOR
A descoberta e a evangelização da América Latina estão ligadas à data simbólica de 12 de outubro de 1492, quando as caravelas de Cristóvão Colombo, sob a égide dos reis católicos Isabel e Fernando de Espanha, desembarcaram na ilha de Guanahaní (Bahamas), que foi chamada San Salvador, um prenúncio da futura evangelização. Esta começou com os doze sacerdotes que chegaram ao Novo Mundo na segunda expedição de Colombo: foram orientados pelo vigário apostólico Frei Bernardo Boyl que celebrou a primeira missa solene na América em 6 de janeiro de 1494. Estas crónicas marcaram a história fascinante da evangelização de um continente que, no espaço de pouco mais de um século, mudou o rumo da trajetória da humanidade.
Na obra de evangelização houve luzes e sombras porque a difusão do Evangelho no Equador fez parte do processo de colonização do que restava do Império Inca, que ruiu após o assassinato de Atahualpa (1533). Muitos dos franciscanos, mercedários, dominicanos e agostinianos que chegaram às atuais terras equatorianas como capelães das tropas espanholas tinham amadurecido a sua experi-ência missionária em outras partes do continente. Por isso, em primeiro lugar, procuraram conhecer os habitantes das regiões de Quito, as suas línguas, estruturas sociais, crenças, hábitos e costumes, conscientes de que a melhor forma de evangelizar era fazê-lo na língua indígena, a partir dos filhos dos caciques, os chefes das comunidades tribais. O tom repressivo dos primeiros contactos deu gra-dualmente lugar à persuasão: não se impunha a conversão imediata, mas esperava-se a livre adesão dos indígenas, porque a aceitação da fé era incompatível com a coerção.
Pelos dados de que dispomos, a fundação indo-hispânica da cidade de São Francisco de Quito em 1534 é a referência que marcou a história da Igreja nesses territórios. Dois anos após a fundação da cidade, iniciou-se a construção da igreja e convento de São Francisco, conjunto arquitetônico denominado Escorial de los Andes. Nesse local, já estimado pelos indígenas, o padre Rique e os seus companheiros semearam no terreno em frente da nova igreja a primeira semente de trigo da terra fértil do Equador e, com ela, confiaram a boa semente do Evangelho a Quito.
Em 1545 a comunidade quitenha (de Quito) foi elevada a diocese, sufragânea de Lima e as “doctrinas”, núcleo das futuras paróquias, multiplicaram-se graças às congregações religiosas, per-mitindo o nascimento político da Real Audiência de Quito (29 de agosto de 1563). Depois da adesão também dos jesuítas à obra evangelizadora, a Igreja colonial deu vida a uma rede de escolas que levou à fundação das universidades de São Fulgêncio e de São Gregório, enquanto as artes e os ofícios encontraram a sua expressão máxima nas obras-primas da escola quitenha. Enquanto isso, o Evange-lho penetrou na faixa amazónica do país.
A evangelização desenvolveu-se rapidamente a partir dos ambientes urbanos apoiada pelos bis-pos que convocaram concelhos metropolitanos e sínodos provinciais para orientar a atividade missi-onária, ratificar os direitos e as liberdades dos indígenas, incentivar a catequese e a pregação nas línguas indígenas através do uso de imagens, da música e do canto. Assim se desenvolveu o grande mosaico da piedade popular que é o tesouro precioso da Igreja Católica na América Latina.
Sem silenciar os erros, é preciso reconhecer que no período colonial a Igreja foi considerada uma “formadora do sentimento nacional” graças à sua atenção às necessidades do povo e à promoção da dignidade dos povos indígenas. Marcos neste trabalho de consolidação social e de serviço pastoral são o Itinerário para os párocos dos índios do bispo de Quito, Alonso de la Pena (+1687), a primeira Carta fundamental do Equador republicano, elaborada pelos sacerdotes da Assembleia eclesiástica quitenha em 1812, a orientação social e científica das cátedras dos jesuítas na Universidade nacional e da primeira escola politécnica. No Equador republicano, bispos, sacerdotes diocesanos, religiosos e religiosas, eminentes leigos construíram e reafirmaram, até hoje, o caráter cristão e cultural do país.
O povo de Deus no Equador é fruto do encontro fecundo com o Evangelho de populações de diferentes culturas, línguas e tradições. A sua fé vivida encontra clara expressão na santidade de numerosos homens e mulheres entre os quais brilham Santa Mariana de Jesus (1618 – 1645), “lírio de Quito”; a “rosa de Baba e Guayaquil”, Beata Mercedes de Jesus (1828 – 1883); Santa Narcisa de Jesus Martillo y Morán (1832-1869), “Menina Narcisa” para muitos devotos; o Beato Emílio Moscoso (1846-1897), mártir da Eucaristia.
Tudo isto ainda hoje é visível nas instituições educativas, nas magníficas obras de arte, nas igrejas da cidade de Quito, declarada “património cultural da humanidade” pela UNESCO. Mas o património mais importante é constituído pelos valores que impregnam as famílias e a sociedade, a vida privada e pública: a sabedoria que vem da memória histórica das derrotas e dos triunfos, da vitalidade dos grandes temas religiosos que inspiram a cultura, a arte, o artesanato, a festa e o repouso, o nascimento e a morte. Um espírito de fraternidade sincera, mais forte que qualquer inimizade violenta, manifesta-se na alegria e no entusiasmo das “mingas”,60 nas festas, na cordialidade para com os forasteiros, na solidariedade na hora difícil da provação.
O advento do Evangelho de Cristo Salvador nesta terra da América, consagrada desde 1874 ao Sagrado Coração de Jesus, fez amadurecer, entre alegrias e dores, o fruto genuíno de uma Igreja viva que deseja partilhar a sua vitalidade com os peregrinos que, de todas as partes do mundo, chegarão a Quito para celebrar o 53.º Congresso Eucarístico Internacional.
O PAPA FRANCISCO E O 58º CONGRESSO EUCARÍSTICO INTERNACIONAL
O Papa Francisco escolheu o Equador para celebrar o 53º Congresso Eucarístico Internacional porque o ano de 2024 marcará o 150º aniversário da consagração do Equador ao Sagrado Coração de Jesus.
O Santo Padre espera que a experiência deste Congresso manifeste a fecundidade da Eucaristia para a evangelização e a renovação da fé no continente latino-americano.
O tema escolhido pelo Papa Francisco é: “Fraternidade para curar o mundo”. Iluminado pelo texto bíblico: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8). Um Congresso Eucarístico Internacional tem como objetivo conhecer melhor, amar e servir Nosso Senhor Jesus Cristo em Seu Mistério Eucarístico, o centro da vida e da missão da Igreja para curar as feridas do mundo.
Este tema é muito consonante com as pregações do Papa Francisco que, constantemente, pede e conclama o mundo a uma teologia do cuidado. E as relações são o principal objeto de cura, para que possamos fazer, de fato, o encontro com Jesus Eucarístico.
Os Congressos são a expressão de uma veneração e de um amor particulares da Igreja Universal pelo Mistério Eucarístico, fonte de fraternidade e paz. Desde o Concílio Vaticano II, os Congressos Eucarísticos são uma melhor expressão da “Statio orbis”, ou seja, onde as Igrejas particulares se unem ao Papa ou ao seu legado em uma cidade para celebrar a Eucaristia e trazer à tona seu pleno significado.
Basta recordar os recentes Congressos Eucarísticos: o Congresso de Dublin (“A Eucaristia, comunhão com Cristo e entre nós”) que procurou recuperar a eclesiologia de comunhão que era “a ideia central e fundamental dos documentos conciliares”. O Congresso de Cebu (Filipinas), que, com sua reflexão sobre a relação entre a Eucaristia e a dimensão missionária da Igreja, faz parte de um dos aspectos mais atuais do trabalho pastoral. Finalmente, o Congresso de Budapeste, que identificou a Eucaristia como a fonte capaz de oferecer à Europa e ao mundo vida e futuro.
ORAÇÃO PARA O CONGRESSO EUCARÍSTICO
Senhor Jesus Cristo, Pão vivo descido do céu: Olhai para o povo do vosso coração que hoje vos louva, adora e bendiz. Vós que nos reunis em redor da vossa mesa para nos alimentardes com o vosso Corpo concedei que, superando toda a divisão, ódio e egoísmo, nos unamos como verdadeiros irmãos, filhos do Pai do céu. Enviai-nos o vosso Espírito de amor para que, procurando caminhos de fraternidade: paz, diálogo e perdão, ajudemos a sarar as feridas do mundo. Amém.
Nós irmãs Pias Discípulas do Divino Mestre neste mês de agosto iremos oferecer a cada sexta-feira um roteiro de oração em preparação para o Domingo Dia do Senhor.
No Brasil o mês de agosto é dedicado a oração pelas vocações. Esse ano de 2024 tem como tema: “Igreja como uma sinfonia vocacional” e o lema é: “Pedi, pois, ao Senhor da Messe” (Mt 9, 38).
Desejamos a você um frutuoso caminho com Jesus Mestre.
Boa oração!
Algumas recomendações:
-Antes de começar a leitura, prepare o ambiente, acenda uma vela…
Encontre uma posição confortável, acalma-se de toda a agitação, preste atenção aos próprios sentimentos, pensamentos, preocupações…
Deixe que volte ao coração acontecimentos, pessoas, situações…Entregue tudo ao Senhor. Em atitude de fé, invoque o Espírito Santo, pois é ele que ‘perscruta todas as coisas, até mesmo as profundidades de Deus’ (cf. I Coríntios 2,10-12 ).
Se desejar, escreva no seu caderno pessoal tudo o que experimentou durante a oração. Se possível, partilhe com alguém.
Na tarde do dia 18 de julho de 2024 iniciou-se, em São Paulo, mais um módulo do Curso sobre o Carisma da Família Paulina no Brasil. A Missa de abertura foi presidida pelo Vigário Geral da Sociedade de São Paulo, Pe. Bugoslaw Zeman, e concelebrada pelo Pe. Antonio Pimienta, Conselheiro Geral, e Pe. Francisco Galvão, coordenador do Curso. Além da Equipe Organizadora (Ir. Josefa, fsp, Ir. Marilez, pddm, Ir. Júlia, pddm, Ir. Suzana, Ap),também estava presente o Padre Antônio da Silva, idealizador do curso (que iniciou em 2015).
Para dar início à Celebração Eucarística, os participantes do curso e demais convidados (Ir. Marlene, fsp, Ir. Cristiane, sjbp, Ir. Suzana, Ap, Ir. Vera, pddm) reuniram-se na Capela da Casa de Oração das Paulinas para – de maneira simbólica – acender a “chama do Carisma”, enquanto cantavam “O Senhor vai acendendo luzes”. Na homilia, Padre Boguslaw destacou – com base no Evangelho do dia – três passos para seguir o caminho de Jesus: “Vinde a mim”, “Tomai o meu jugo”, “Aprendei de mim”.
Ao final da Celebração, a irmã Marlene, provincial das Filhas de São Paulo, fez uso da palavra e dirigiu uma esperançosa mensagem aos participantes. O Pe. Antônio da Silva também expressou sua alegria pela continuidade do Curso. Após a Celebração e jantar, os participantes reuniram-se no saguão e, orientados pela Equipe organizadora, fizeram um momento de apresentação e entrosamento.
O Curso irá até o dia 28 de julho e, neste segundo módulo, contará com os seguintes temas e convidados:
A Igreja Catól.ica, a falência da sociedade cristã e a ascensão dos totalitarismos de 1930-1955 – Profa. Andrea Gripp.
A fundação da Família Paulina – de 1930 a 1955 – Ir. Suzimara Barbosa de Almeida, SJBP.
O carisma da comunicação hoje – Pe. Antônio Iraido, ssp.
“No centro está Jesus Cristo Caminho Verdade e Vida” e “As obras de Pe. Tiago Alberione” – Ir. Josefa Soares dos Santos, fsp.
Da Filosofia Escolástica a Alberione e a Francesco Chiesa – Prof. Pedro Monticelli.
Raízes teológicas da Família Paulina: “Pensei que o Cônego Chiesa poderia nos escrever uma Teologia” – Cl. Bento Maria, ssp.
O evangelho anunciado por Paulo na Carta aos Gálatas – Profa. Maria Antônia Marques.
Entre os dias 07 a 10 de julho de 2024, o segundo grupo das Irmãs Pias Discípulas do Divino Mestre, província do Brasil, se reuniu para vivenciar a 26º Semana de Formação Intensiva, com o tema: “A voz da mulher nos ministérios da Igreja, um diálogo sinodal”.
As Irmãs Penha Carpanedo e Veronice Fernandes, foram as facilitadoras gerais do encontro e nos ajudaram com as reflexões bíblicas nas rodas de conversas programadas após as explanações via Meet com Ir. Regina Cesarato, pddm e Joseph Oberto pddm, da Província Itália. Igualmente nos ajudou de modo online, com seu amplo conhecimento litúrgico, bíblico e pastoral, Pe. Patrick Brandão, da Diocese Duque de Caxias-RJ e de modo presencial a Ir. Helena Ghiggi, pddm.
Nos primeiros dias, refletimos com Ir. Regina C. o texto bíblico de Gênesis 1, 1-2, 4ª e 2, 4b-25; Êxodo 1,15-2,10 e sobre as mulheres discípulas no evangelho de Lucas 8, 1-3. Presencialmente com Ir. Helena Ghiggi, pddm, vimos sobre Os ‘’Ministérios das Mulheres nas Comunidades Paulinas’’ e o quanto São Paulo, Apóstolo, às acolhia e integrava com o mesmo valor e igualdade aos homens das comunidades.
Com a assessoria de Pe. Patrick, Doutor em Sagrada Teologia pelo Instituto Santa Justina em Padova, Itália, refletimos sobre o ‘’Ministério na Igreja, antes do Vaticano II e mudança de paradigma com o Vaticano II’’ e também ‘’ A prática da Igreja na América Latina e especificamente no Brasil. As mudanças com Papa Francisco (Spiritus Domini-mudança no CDC, Antiquum Ministerium: mudança no rito do lava-pés).
Por vez, com grande entusiasmo, nos ajudou nesse estudo, Ir. Joseph Oberto (pddm), abordando sobre os ‘’Ministérios das PDDM na Igreja, recebido do Pe. Alberione, com destaque às figuras femininas: Escolástica e Tecla’’
Bendizemos a Deus por este retorno das nossas semanas de formações intensivas, em modo presencial, pós-pandemia e pela alegria do encontro com cada irmã que veio participar desta 26º semana de formação, em que pudemos rezar, conviver, partilhar, estudar e interagir juntas no mesmo projeto de formação e missão apostólica para melhor servir na Igreja de Cristo e com o seu povo.
A voz das Mulheres nos Ministérios da Igreja-Diálogo Sinodal
Nestes dias, de 23 a 28 de junho, nós, Irmãs Pias Discípulas do Divino Mestre estamos vivendo a 26º Semana de Formação Intensiva no Jardim Divino Mestre, Cabreúva-SP.
Somos 26 irmãs, vindas de todas as comunidades do Brasil, acolhidas com a sororidade e o carinho da Comunidade do Jardim DM.
Iniciamos com a Celebração Eucarística na tarde deste domingo, presidida pelo Pe. Alberto Simionato que nos incentivou a aprender do Divino Mestre que nos forma com sua Palavra e sua vida. Após o jantar, Ir. Aparecida Batista, provincial, com as boas-vindas nos introduziu no tema da semana que viveremos em clima sinodal.
Com uma dinâmica interativa ao som de música e concentração, Ir. Juceli Aparecida Mesquita nos orientou e cada uma das irmãs teceu sua própria mandala e o conjunto delas enfeitou nossa sala de encontro.
Nosso primeiro dia foi orientado por Ir. Penha Carpanedo e Ir. Veronice Fernandes, com a participação remota de Ir. Regina Cesarato, de Roma, Itália. Nos adentramos no fundamento bíblico com o método da conversação espiritual.
Foi uma riqueza de conteúdos e de participação. Amanhã continuaremos nosso estudo e aprofundamento.
26ª Semana de Formação Intensiva
Além desta semana que acontece de 23 a 28 de junho, as Irmãs Pias Discípulas do Divino Mestre terão mais dois outros grupos: 07 a 12 de julho; e 04 a 09 de agosto de 2024.
A temática é a mesma para os três grupos formativos: A voz da mulher nos ministérios da Igreja – um diálogo sinodal. Este foi o tema do Congresso que aconteceu em Ariccia, Itália, na comemoração do Centenário da Congregação, de 28 de janeiro a 03 de fevereiro de 2024. Ir. Penha, Ir. Veronice e Ir. Laíde participaram deste importante evento e agora fazem o repasse para todas as irmãs da província.
O Congresso tinha como objetivo celebrar o Centenário da Fundação das Pias Discípulas do Divino Mestre, o aniversário de 60 anos da Sacrosanctum Concilium, a partir das Escrituras, do Concílio Vaticano II e do legado carismático do Bem-aventurado Tiago Alberione. Assim, foi proposto neste Congresso:
Ouvir, com atenção e respeito, a voz das mulheres em uma Igreja ministerial e missionária, em estilo sinodal e em diálogo com outras denominações cristãs;
Aprofundar o tema e a prática dos ministérios eclesiais, particularmente aqueles exercidos pelas mulheres na Igreja de ontem e de hoje, de acordo com contextos culturais específicos;
Iniciar processos transformadores e geradores que favoreçam escolhas corajosas para a missão dos Discípulos do Divino Mestre na vida da Igreja, na Família Paulina, em uma forma mais participativa e samaritana.
Na 26ª Semana de Formação Intensiva, as Irmãs Penha, Veronice e Laíde propuseram de usar o método da conversação espiritual, integrado com o método da Leitura Orante da Bíblia.
O MÉTODO DA CONVERSAÇÃO ESPIRITUAL
O método do diálogo sinodal é uma modalidade de diálogo. Mais que método é uma “Regra de conversação espiritual” [Regra de vida] que busca purificar o olhar e o coração com o máximo de participação para chegar ao discernimento espiritual. Esta regra foi usada no sínodo. Aliás o sínodo não é um método. É da natureza da Igreja ser sinodal. Na Igreja não há nada mais sinodal do que a liturgia [fazer coletivo].
Esta Regra de vida não é o jeito de fazer funcionar melhor um processo mas despertar em nós a natureza do ser Igreja. A Regra da conversação espiritual, é uma espécie de “ginástica” que nos coloca no eixo. É exigente, é a passagem caminho estreito como no parto, para nascer em um lugar amplo.
Os participantes formam pequenos círculos de 5 a 8pessoas. Cada círculo será acompanhado por uma facilitadora que tem a função de vigilância sobre o andamento dos trabalhos com a participação de todas as pessoas do círculo.
Invocação do Espírito. Ele age quando o invocamos. Seguido de um tempo pessoal para organizar-nos interiormente.
Primeiro passo: faz-se um primeiro giro, na sequencia do circulo. Cada pessoa partilha um aspecto que seja importante, bonito, útil e necessário, a partir da minha condição batismal de discipula, mulher, não a partir da função que exerço. Os demais membros do círculo estão à escuta.
Silencio: Terminado o 1º giro seguem um ou dois minutos de silêncio, que faz parte do diálogo. Neste silêncio deixar ressoar o que tocou nas falas do primeiro giro. Não podemos falar nada da própria fala no primeiro giro.
Segundo passo: Faz-se um segundo giro, ressoando o que ouviu nas outras falas. Não só repetir, mas ampliar: que imagem esta palavra despertou em mim, que movimento? Se no grupo não ressoar a minha fala não é porque foi esquecida, mas porque não foi considerada importante neste momento.
Silêncio, dois minutos para iniciarmosa síntese, dentro de nós. Não é um resumo, onde nos preocupamos em juntar todas as falas. Dois critérios para saber se é uma passagem do Espírito. Primeiro: a insistência de um argumento em diferentes falas é um indicador da passagem do Espírito, Não vem só de uma pessoa. Segundo: a originalidade, no sentido de originário, do nosso ser como Igreja, do nosso carisma, do nosso ministério também é um indicador da passagem. Cada pessoa busca esta síntese e depois partilha.
O terceiro passo; não propriamente um giro. As pessoas partilham o que emergiu na sua síntese pessoal, e no círculo se discute à luz destes dois critérios para chegar a dois ou três núcleos. Discussão é energia, que reconhecendo a pessoa, pode discordar do seu argumento, até chegar ao consenso que o discernimento espiritual requer. No círculo pode ter uma secretária que toma nota de tudo. A síntese se configura em dois ou três núcleos de significância espiritual, que vem ao nosso encontro, que não decidimos por nossa vontade e que acolhemos como dom do Espírito. A elaboração do texto final pode ser depois, mas é preciso que o círculo saia com o consenso sobre os núcleos que emergiram. [Se há uma posição A diferente da B ou se deixa perder ou devemos buscar uma posição C].
MÉTODO SINODAL E LEITURA ORANTE
Considerando que boa parte do nosso trabalho tem como ponto de partida leitura de textos biblicos, procuramos fazer uma articulação entre conversaão espiritual e os dois primeiros passos da leitua orante: leitura e meditação. Em certa medida, quando o ponto de partida é um texto biblico, a prmeira rodada no métoda conversação coincide com leitura, ao passo que a segunda coincide com a meditação. Nunca é demais lembrar em que consiste a leitura e meditação, no método da lectio divina.
Como já conhecemos e praticamos, a leitura é atenção às palavras, às imagens, às personagens, ações, sentimentos, atitudes. Importante: despojar-nos de todo saber sobre o texto.
Enquanto se lê, pode ser que um versículo ou uma palavra, chame a nossa atenção. Alessandro Borban[1] faz uma distinção entre “versículo de cabeça” e o “versículo de coração”. O “versículo de cabeça” é aquele filtrado pela nossa compreensão imediata, nossas memórias. Hoje em dia temos opinião sobre tudo. O versículo de “cabeça” coincide com o já dito, o já explicado, escutado, digamos, o lugar comum. O “versículo de coração”, é algo inédito, surpreendente, que não tínhamos percebido antes, ou não tínhamos percebido ainda desta maneira. O versículo do coração é um dom que requer uma qualidade na escuta: “atenção como escutais” [LC 8,18].
A meditação, segundo Alessandro, não é tempo de silêncio, nem exercício de ioga. Isso pode ser bom antes, para favorecer uma postura física correta e um acordo de paz no corpo.[2] Na meditação a escuta transforma-se em interpretação. Não uma interpretação, fundamentalista, mas um olhar que leva em conta o autor, o contexto, a questão vital a que o texto responde. Também não é necessariamente uma interpretação do texto em todas as direções ou em todos os seus aspectos. O ponto de partida da meditação é o “versículo do coração”, ou seja, aquela, palavra que nos atraiu como a sarça atraiu Moisés. À medida que nos aproximamos da Palavra como Moisés da sarça, outras palavras da Escritura quem venham enriquecer o nosso versículo, inicia-se um êxodo pessoal que “abre a inteligência das Escrituras [Lc 24,45]. Eis a importância dos textos paralelos ou memórias bíblicas, que se prolonga depois da lectio, mas durante toda a jornada, entre os afazeres cotidianos e compromisso, sempre à espera de faíscas emanadas do texto, verdadeiras intuições de sentido nunca antes entendido.
Muito esclarecedor é o que diz Ivan Nicoletto citado por Alessandro Barban: “Começas a colocar tua atenção em uma palavra, em um versículo, em uma pericote e ela te introduz em outras salas, espalha-se por toda a bíblia, as literaturas, os grandes mitos e símbolos da humanidade, e depois envolve as interpretações e as experiências às quais aquelas imagens deram vida. Estende-se ao presente da tua vida, te eleva talvez ao coração inexaurível da energia criadora e amante”.[3]
[1] Cf. Alessandro Barban. O Caminho espiritual da lectio divina. No livro Como água da fonte: a espiritualidade monástica camaldolense entre memória e profecia. São Paulo Edições Loyola, 2009,p. 174.
Inteligência artificial e sabedoria do coração: para uma comunicação plenamente humana
Queridos irmãos e irmãs!
A evolução dos sistemas da chamada «inteligência artificial», sobre a qual já me debrucei na recente Mensagem para o Dia Mundial da Paz, está a modificar de forma radical também a informação e a comunicação e, através delas, algumas bases da convivência civil. Trata-se duma mudança que afeta não só aos profissionais, mas a todos. A rápida difusão de maravilhosas invenções, cujo funcionamento e potencialidades são indecifráveis para a maior parte de nós, suscita um espanto que oscila entre entusiasmo e desorientação e põe-nos inevitavelmente diante de questões fundamentais: O que é então o homem, qual é a sua especificidade e qual será o futuro desta nossa espécie chamada homo sapiens na era das inteligências artificiais? Como podemos permanecer plenamente humanos e orientar para o bem a mudança cultural em curso?
A partir do coração
Antes de mais nada, convém limpar o terreno das leituras catastróficas e dos seus efeitos paralisadores. Já há um século Romano Guardini, refletindo sobre a técnica e o homem, convidava a não se inveterar contra o «novo» na tentativa de «conservar um mundo belo condenado a desaparecer». Ao mesmo tempo, porém, com veemência profética advertia: «O nosso posto é no devir. Devemos inserir-nos nele, cada um no seu lugar (…), aderindo honestamente, mas permanecendo sensíveis, com um coração incorruptível, a tudo o que nele houver de destrutivo e não-humano». E concluía: «Trata- se – é verdade – de problemas de natureza técnica, científica e política; mas só podem ser resolvidos passando pelo homem. Deve-se formar um novo tipo humano, dotado duma espiritualidade mais profunda, duma nova liberdade e duma nova interioridade». [1]
Neste tempo que corre o risco de ser rico em técnica e pobre em humanidade, a nossa reflexão só pode partir do coração humano. [2] Somente dotando-nos dum olhar espiritual, apenas recuperando uma sabedoria do coração é que poderemos ler e interpretar a novidade do nosso tempo e descobrir o caminho para uma comunicação plenamente humana. O coração, entendido biblicamente como sede da liberdade e das decisões mais importantes da vida, é símbolo de integridade e de unidade, mas evoca também os afetos, os desejos, os sonhos, e sobretudo é o lugar interior do encontro com Deus. Por isso a sabedoria do coração é a virtude que nos permite combinar o todo com as partes, as decisões com as suas consequências, as grandezas com as fragilidades, o passado com o futuro, o eu com o nós.
Esta sabedoria do coração deixa-se encontrar por quem a busca e deixa-se ver a quem a ama; antecipa-se a quem a deseja e vai à procura de quem é digno dela (cf. Sab 6, 12-16). Está com quem aceita conselho (cf. Pr 13, 10), com quem tem um coração dócil, um coração que escuta (cf. 1 Re 3, 9). É um dom do Espírito Santo, que permite ver as coisas com os olhos de Deus, compreender as interligações, as situações, os acontecimentos e descobrir o seu sentido. Sem esta sabedoria, a existência torna-se insípida, pois é precisamente a sabedoria que dá gosto à vida: a sua raiz latina sapere associa-a ao sabor.
Oportunidade e perigo
Não podemos esperar esta sabedoria das máquinas. Embora o termo inteligência artificial já tenha suplantado o termo mais correto utilizado na literatura científica de machine learning (aprendizagem automática), o próprio uso da palavra «inteligência» é falacioso. É certo que as máquinas têm uma capacidade imensamente maior que os seres humanos de memorizar os dados e relacioná-los entre si, mas compete ao homem, e só a ele, descodificar o seu sentido. Não se trata, pois, de exigir das máquinas que pareçam humanas; mas de despertar o homem da hipnose em que cai devido ao seu delírio de omnipotência, crendo-se sujeito totalmente autónomo e autorreferencial, separado de toda a ligação social e esquecido da sua condição de criatura.
Realmente o homem sempre teve experiência de não se bastar a si mesmo, e procura superar a sua vulnerabilidade valendo-se de todos os meios. Partindo dos primeiros instrumentos pré-históricos, utilizados como prolongamento dos braços, passando pelos meios de comunicação como extensão da palavra, chegamos hoje às máquinas mais sofisticadas que funcionam como auxílio do pensamento. Entretanto cada uma destas realidades pode ser contaminada pela tentação primordial de se tornar como Deus sem Deus (cf. Gen 3), isto é, a tentação de querer conquistar com as próprias forças aquilo que deveria, pelo contrário, acolher como dom de Deus e viver na relação com os outros.
Cada coisa nas mãos do homem torna-se oportunidade ou perigo, segundo a orientação do coração. O próprio corpo, criado para ser lugar de comunicação e comunhão, pode tornar-se instrumento de agressão. Da mesma forma, cada prolongamento técnico do homem pode ser instrumento de amoroso serviço ou de domínio hostil. Os sistemas de inteligência artificial podem contribuir para o processo de libertação da ignorância e facilitar a troca de informações entre diferentes povos e gerações. Por exemplo, podem tornar acessível e compreensível um património enorme de conhecimentos, escrito em épocas passadas, ou permitir às pessoas comunicarem em línguas que lhes são desconhecidas. Mas simultaneamente podem ser instrumentos de «poluição cognitiva», alteração da realidade através de narrações parcial ou totalmente falsas, mas acreditadas – e partilhadas – como se fossem verdadeiras. Basta pensar no problema da desinformação que enfrentamos, há anos, no caso das fake news [3] e que hoje se serve da deep fake, isto é, da criação e divulgação de imagens que parecem perfeitamente plausíveis mas são falsas (já me aconteceu a mim também ser objeto delas), ou mensagensáudio que usam a voz duma pessoa, dizendo coisas que ela própria nunca disse. A simulação, que está na base destes programas, pode ser útil nalguns campos específicos, mas torna-se perversa quando distorce as relações com os outros e com a realidade.
Já desde a primeira vaga de inteligência artificial – a das redes sociais – compreendemos a sua ambivalência, constatando a par das oportunidades também os riscos e as patologias. O segundo nível de inteligências artificiais geradoras marca, indiscutivelmente, um salto qualitativo. Por conseguinte é importante ter a possibilidade de perceber, compreender e regulamentar instrumentos que, em mãos erradas, poderiam abrir cenários negativos. Os algoritmos, como tudo o mais que sai da mente e das mãos do homem, não são neutros. Por isso é necessário prevenir propondo modelos de regulamentação ética para contornar os efeitos danosos, discriminadores e socialmente injustos dos sistemas de inteligência artificial e contrastar a sua utilização para a redução do pluralismo, a polarização da opinião pública ou a construção do pensamento único. Assim reitero aqui a minha exortação à «Comunidade das Nações a trabalhar unida para adotar um tratado internacional vinculativo, que regule o desenvolvimento e o uso da inteligência artificial nas suas variadas formas». [4] Entretanto, como em todo o âmbito humano, não é suficiente a regulamentação.
Crescer em humanidade
Somos chamados a crescer juntos, em humanidade e como humanidade. O desafio que temos diante de nós é realizar um salto de qualidade para estarmos à altura duma sociedade complexa, multiétnica, pluralista, multirreligiosa e multicultural. Cabe a nós questionar-nos sobre o progresso teórico e a utilização prática destes novos instrumentos de comunicação e conhecimento. As suas grandes possibilidades de bem são acompanhadas pelo risco de que tudo se transforme num cálculo abstrato que reduz as pessoas a dados, o pensamento a um esquema, a experiência a um caso, o bem ao lucro, com o risco sobretudo de que se acabe por negar a singularidade de cada pessoa e da sua história, dissolvendo a realidade concreta numa série de dados estatísticos.
A revolução digital pode tornar-nos mais livres, mas certamente não conseguirá fazê-lo se nos prender nos modelos designados hoje como echo chamber (câmara de eco). Nestes casos, em vez de aumentar o pluralismo da informação, corre-se o risco de se perder num pântano anónimo, favorecendo os interesses do mercado ou do poder. Não é aceitável que a utilização da inteligência artificial conduza a um pensamento anónimo, a uma montagem de dados não certificados, a uma desresponsabilização editorial coletiva. A representação da realidade por big data (grandes dados), embora funcional para a gestão das máquinas, implica na realidade uma perda substancial da verdade das coisas, o que dificulta a comunicação interpessoal e corre o risco de danificar a nossa própria humanidade. A informação não pode ser separada da relação existencial: implica o corpo, o situar-se na realidade; pede para correlacionar não apenas dados, mas experiências; exige o rosto, o olhar, a compaixão e ainda a partilha.
Penso na narração das guerras e naquela «guerra paralela» que se trava através de campanhas de desinformação. E penso em tantos repórteres que ficam feridos ou morrem no local em efervescência para nos permitir a nós ver o que viram os olhos deles. Pois só tocando pessoalmente o sofrimento das crianças, das mulheres e dos homens é que poderemos compreender o caráter absurdo das guerras.
A utilização da inteligência artificial poderá proporcionar um contributo positivo no âmbito da comunicação, se não anular o papel do jornalismo no local, antes pelo contrário se o apoiar; se valorizar o profissionalismo da comunicação, responsabilizando cada comunicador; se devolver a cada ser humano o papel de sujeito, com capacidade crítica, da própria comunicação.
Interrogativos de hoje e de amanhã
E surgem, espontâneas, algumas questões: Como tutelar o profissionalismo e a dignidade dos trabalhadores no campo da comunicação e da informação, juntamente com a dos utentes em todo o mundo? Como garantir a interoperabilidade das plataformas? Como fazer com que as empresas que desenvolvem plataformas digitais assumam as suas responsabilidades relativamente ao que divulgam daí tirando os seus lucros, de forma análoga ao que acontece com os editores dos meios de comunicação tradicionais? Como tornar mais transparentes os critérios subjacentes aos algoritmos de indexação e desindexação e aos motores de pesquisa, capazes de exaltar ou cancelar pessoas e opiniões, histórias e culturas? Como garantir a transparência dos processos de informação? Como tornar evidente a paternidade dos escritos e rastreáveis as fontes, evitando o para-vento do anonimato? Como deixar claro se uma imagem ou um vídeo retrata um acontecimento ou o simula? Como evitar que as fontes se reduzam a uma só, a um pensamento único elaborado algoritmicamente? E, ao contrário, como promover um ambiente adequado para salvaguardar o pluralismo e representar a complexidade da realidade? Como podemos tornar sustentável este instrumento poderoso, caro e extremamente energívoro? Como podemos torná-lo acessível também aos países em vias de desenvolvimento? A partir das respostas a estas e outras questões compreenderemos se a inteligência artificial acabará por construir novas castas baseadas no domínio informativo, gerando novas formas de exploração e desigualdade ou se, pelo contrário, trará mais igualdade, promovendo uma informação correta e uma maior consciência da transição de época que estamos a atravessar, favorecendo a escuta das múltiplas carências das pessoas e dos povos, num sistema de informação articulado e pluralista. Dum lado, vemos assomar o espetro duma nova escravidão, do outro uma conquista de liberdade; dum lado, a possibilidade de que uns poucos condicionem o pensamento de todos, do outro a possibilidade de que todos participem na elaboração do pensamento. A resposta não está escrita; depende de nós. Compete ao homem decidir se há de tornar-se alimento para os algoritmos ou nutrir o seu coração de liberdade, sem a qual não se cresce na sabedoria. Esta sabedoria amadurece valorizando o tempo e abraçando as vulnerabilidades.
Cresce na aliança entre as gerações, entre quem tem memória do passado e quem tem visão de futuro. Somente juntos é que cresce a capacidade de discernir, vigiar, ver as coisas a partir do seu termo. Para não perder a nossa humanidade, procuremos a Sabedoria que existe antes de todas as coisas (cf. Sir 1, 4), que, passando através dos corações puros, prepara amigos de Deus e profetas (cf. Sab 7, 27): há de ajudar-nos também a orientar os sistemas da inteligência artificial para uma comunicação plenamente humana.
Roma – São João de Latrão, 24 de janeiro de 2024.
[Francisco]
[1] Cartas do Lago de Como (Brescia 52022), 95-97 [2] Em continuidade com as anteriores Mensagens para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, dedicadas a «encontrar as pessoas onde estão e como são» (2021), «escutar com o ouvido do coração» (2022) e «falar com o coração» (2023). [3] Cf. Mensagem para o LII Dia Mundial das Comunicações (2018): «“A verdade vos tornará livres” (Jo 8, 32). Fake news e jornalismo de paz». [4] Mensagem para o LVII Dia Mundial da Paz: 1 de janeiro de 2024, 8
Promovida mundialmente pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e pelo Conselho Mundial de Igrejas, a Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC) acontece em períodos diferentes nos dois hemisférios.
No hemisfério Norte, o período tradicional para a Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC) é de 18 a 25 de janeiro. Essas datas foram propostas em 1908, por Paul Watson, pois cobriam o tempo entre as festas de São Pedro e São Paulo, e tinham, portanto, um significado simbólico.
Sobre o Cartaz da Semana de Oraçãopela Unidade dos Cristãos 2024
Larissa Bichuete, uma talentosa arquiteta e artista de 31 anos, natural de São Paulo, SP, foi a vencedora do concurso para o cartaz que ilustrará as comunicações visuais da Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC) deste ano, que ocorrerá de 12 a 19 de maio (este que está a primeira página).
Larissa é graduada em Arquitetura e Urbanismo e sua arte reflete a interseção entre arte, tecnologia e comunicação, com o desenho desempenhando um papel central nessa jornada criativa.
Explicação do cartaz
O foco principal está na palavra “reconciliação“. Inspirada por suas próprias experiências, ela procurou transmitir a ideia de reencontro, diálogo e escuta mútua como elementos essenciais para a reconciliação. A paleta de cores terrosas representa o solo árido, enquanto o trajeto em vermelho simboliza o óleo e o vinho, e o curativo representa a ferida cicatrizando. Larissa enfatizou que, em sua visão, a reconciliação surge quando as pessoas se unem na mesma direção, buscando aliviar uma dor compartilhada.
O cartaz de Larissa representa não apenas sua habilidade artística, mas também sua profunda compreensão do tema e capacidade de transmitir conceitos complexos por meio de representações gráficas. A arte, aliás, será o símbolo visual da SOUC deste ano, convidando igrejas de todo o Brasil a se unirem em oração e diálogo ecumênico pela unidade cristã.
A busca da unidade ao longo de todo o ano
Promovida mundialmente pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e pelo Conselho Mundial de Igrejas, a Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC) acontece em períodos diferentes nos dois hemisférios.
No hemisfério Norte, o período tradicional para a Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC) é de 18 a 25 de janeiro. Essas datas foram propostas em 1908, por Paul Watson, pois cobriam o tempo entre as festas de São Pedro e São Paulo, e tinham, portanto, um significado simbólico.
No hemisfério Sul, por sua vez, as Igrejas geralmente celebram a Semana de Oração no período de Pentecostes (como foi sugerido pelo movimento Fé e Ordem, em 1926), que também é um momento simbólico para a unidade da Igreja. No Brasil, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) lidera e coordena as iniciativas para a celebração da Semana em diversos estados.
Levando em conta essa flexibilidade no que diz respeito à data, estimulamos a todos os cristãos, ao longo do ano, a expressar o grau de comunhão que as Igrejas já atingiram e a orar juntos por uma unidade cada vez mais plena, que é desejo do próprio Cristo (Jo 17,21).
Duas proposta de roteiros de oração com o Ofício Divino das Comunidades para a Semana de Oração pela Unidade Cristã e a Novena de Pentecostes:
O Dia Mundial de Oração pelas Vocações convida-nos, cada ano, a considerar o precioso dom da chamada que o Senhor dirige a cada um de nós, seu povo fiel em caminho, pois dá-nos a possibilidade de tomar parte no seu projeto de amor e encarnar a beleza do Evangelho nos diferentes estados de vida. A escuta da chamada divina, longe de ser um dever imposto de fora – talvez em nome de um ideal religioso –, é antes o modo mais seguro que temos de alimentar o desejo de felicidade que trazemos no nosso íntimo: a nossa vida realiza-se e torna-se plena quando descobrimos quem somos, as qualidades que temos e o campo onde é possível pô-las a render, quando descobrimos que estrada podemos percorrer para nos tornarmos sinal e instrumento de amor, acolhimento, beleza e paz nos contextos onde vivemos.
Assim, este Dia proporciona-nos sempre uma boa ocasião para recordar, com gratidão, diante do Senhor o compromisso fiel, quotidiano e muitas vezes escondido daqueles que abraçaram uma vocação que envolve toda a sua vida. Penso nas mães e nos pais que não olham primeiro para si mesmos, nem seguem a tendência dum estilo superficial, mas organizam a sua existência cuidando das relações com amor e gratuidade, abrindo-se ao dom da vida e pondo-se ao serviço dos filhos e seu crescimento. Penso em todos aqueles que realizam, dedicadamente e em espírito de colaboração, o seu trabalho; naqueles que, em diferentes campos e de vários modos, se empenham por construir um mundo mais justo, uma economia mais solidária, uma política mais equitativa, uma sociedade mais humana, isto é, em todos os homens e mulheres de boa vontade que se dedicam ao bem comum. Penso nas pessoas consagradas, que oferecem a sua existência ao Senhor quer no silêncio da oração quer na atividade apostólica, às vezes na linha de vanguarda e sem poupar energias, servindo com criatividade o seu carisma e colocando-o à disposição de quantos encontram. E penso naqueles que acolheram a chamada ao sacerdócio ordenado, se dedicam ao anúncio do Evangelho, repartem a sua vida – juntamente com o Pão Eucarístico – pelos irmãos, semeiam esperança e mostram a todos a beleza do Reino de Deus.
Aos jovens, especialmente a quantos se sentem distantes ou olham a Igreja com desconfiança, gostaria de dizer: deixai-vos fascinar por Jesus, dirigi-Lhe as vossas perguntas importantes, através das páginas do Evangelho, deixai-vos desinquietar pela sua presença que sempre nos coloca, de forma benfazeja, em crise. Ele respeita mais do que ninguém a nossa liberdade, não Se impõe mas propõe-Se: dai-Lhe espaço e encontrareis a vossa felicidade no seu seguimento e, se vo-la pedir, na entrega total a Ele.
Um povo em caminho
A polifonia dos carismas e das vocações, que a Comunidade Cristã reconhece e acompanha, ajuda-nos a compreender plenamente a nossa identidade de cristãos: como povo de Deus em caminho pelas estradas do mundo, animados pelo Espírito Santo e inseridos como pedras vivas no Corpo de Cristo, cada um de nós descobre-se membro duma grande família, filho do Pai e irmão e irmã de seus semelhantes. Não somos ilhas fechadas em si mesmas, mas partes do todo. Por isso, o Dia Mundial de Oração pelas Vocações traz gravada a marca da sinodalidade: há muitos carismas e somos chamados a escutar-nos reciprocamente e a caminhar juntos para os descobrir discernindo aquilo a que nos chama o Espírito para o bem de todos.
Além disso, no momento histórico presente, o caminho comum conduz-nos para o Ano Jubilar de 2025. Caminhamos como peregrinos de esperança rumo ao Ano Santo, para, na descoberta da própria vocação e pondo em relação os diversos dons do Espírito, podermos ser no mundo portadores e testemunhas do sonho de Jesus: formar uma só família, unida no amor de Deus e interligada pelo vínculo da caridade, da partilha e da fraternidade.
Este Dia é dedicado de modo particular à oração para implorar do Pai o dom de santas vocações para a edificação do seu Reino: «Rogai ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe» (Lc 10, 2). E, como sabemos, a oração é feita mais de escuta que de palavras dirigidas a Deus. O Senhor fala ao nosso coração e quer encontrá-lo aberto, sincero e generoso. A sua Palavra fez-Se carne em Jesus Cristo, que nos revela e comunica toda a vontade do Pai. Neste ano de 2024, dedicado precisamente à oração como preparação para o Jubileu, somos chamados a descobrir o dom inestimável de poder dialogar com o Senhor, de coração a coração, tornando-nos assim peregrinos de esperança, porque «a oração é a primeira força da esperança. Tu rezas e a esperança cresce, avança. Diria que a oração abre a porta à esperança. A esperança existe, mas com a minha oração abro a porta» (Francisco, Catequese, 20/V/2020).
Peregrinos de esperança e construtores de paz
Mas que significa ser peregrinos? Quem empreende uma peregrinação procura, antes de mais nada, ter clara a meta, e conserva-a sempre no coração e na mente. Mas, para atingir esse destino, é preciso ao mesmo tempo concentrar-se no passo presente: para o realizar, é necessário estar leve, despojar-se dos pesos inúteis, levar consigo apenas o essencial e esforçar-se cada dia por que o cansaço, o medo, a incerteza e a escuridão não bloqueiem o caminho iniciado. Por isso ser peregrino significa partir todos os dias, recomeçar sempre, reencontrar o entusiasmo e a força de percorrer as várias etapas do percurso que, apesar das fadigas e dificuldades, sempre abrem diante de nós novos horizontes e panoramas desconhecidos.
Este é precisamente o sentido da peregrinação cristã: estamos em caminho à descoberta do amor de Deus e, ao mesmo tempo, à descoberta de nós mesmos, através duma viagem interior, mas sempre estimulados pela multiplicidade das relações. Portanto, peregrinos porque chamados: chamados a amar a Deus e a amar-nos uns aos outros. Assim, o nosso caminho sobre esta terra nunca se reduz a uma labuta sem objetivo nem a um vaguear sem meta; pelo contrário, cada dia, respondendo à nossa chamada, procuramos realizar os passos possíveis rumo a um mundo novo, onde se viva em paz, na justiça e no amor. Somos peregrinos de esperança, porque tendemos para um futuro melhor e empenhamo-nos na sua construção ao longo do caminho.
Tal é, em última análise, a finalidade de cada vocação: tornar-se homens e mulheres de esperança. Como indivíduos e como comunidade, na variedade dos carismas e ministérios, todos somos chamados a «dar corpo e coração» à esperança do Evangelho neste mundo marcado por desafios epocais: o avanço ameaçador duma terceira guerra mundial aos pedaços, as multidões de migrantes que fogem da sua terra à procura dum futuro melhor, o aumento constante dos pobres, o perigo de comprometer irreversivelmente a saúde do nosso planeta. E a tudo isto vêm ainda juntar-se as dificuldades que encontramos diariamente com o risco de nos precipitar, às vezes, na resignação ou no derrotismo.
Por isso é decisivo, para nós cristãos, cultivar um olhar cheio de esperança no nosso tempo, para podermos trabalhar frutuosamente respondendo à vocação que nos foi dada ao serviço do Reino de Deus, Reino do amor, de justiça e de paz. Esta esperança – assegura-nos São Paulo – «não engana» (Rm 5, 5), porque se trata da promessa que o Senhor Jesus nos fez de permanecer sempre connosco e de nos envolver na obra de redenção que Ele quer realizar no coração de cada pessoa e no «coração» da criação. Tal esperança encontra o seu centro propulsor na Ressurreição de Cristo, que «contém uma força de vida que penetrou o mundo. Onde parecia que tudo morreu, voltam a aparecer por todo o lado os rebentos da ressurreição. É uma força sem igual. É verdade que muitas vezes parece que Deus não existe: vemos injustiças, maldades, indiferenças e crueldades que não cedem. Mas também é certo que, no meio da obscuridade, sempre começa a desabrochar algo de novo que, mais cedo ou mais tarde, produz fruto» (Francisco, Exort. ap. Evangeliigaudium, 276). E o apóstolo Paulo afirma ainda que fomos salvos na esperança (cf. Rm 8, 24). A redenção realizada na Páscoa dá a esperança, uma esperança certa, fiável, com a qual podemos enfrentar os desafios do presente.
Então ser peregrinos de esperança e construtores de paz significa fundar a própria existência sobre a rocha da ressurreição de Cristo, sabendo que todos os nossos compromissos, na vocação que abraçamos e levamos por diante, não caiem no vazio. Apesar dos fracassos e retrocessos, o bem que semeamos cresce de modo silencioso e nada pode separar-nos da meta última: o encontro com Cristo e a alegria de viver na fraternidade entre nós por toda a eternidade. Esta vocação final, devemos antecipá-la cada dia: a relação de amor com Deus e com os irmãos e irmãs começa desde agora a realizar o sonho de Deus, o sonho da unidade, da paz e da fraternidade. Que ninguém se sinta excluído desta chamada! Cada um de nós, no seu lugar próprio, no seu estado de vida, pode ser, com a ajuda do Espírito Santo, um semeador de esperança e de paz.
A coragem de se envolver
Por tudo isso digo mais uma vez, como durante a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa: «rise up – levantai-vos!» Despertemos do sono, saiamos da indiferença, abramos as grades da prisão em que por vezes nos encerramos, para que possa cada um de nós descobrir a própria vocação na Igreja e no mundo e tornar-se peregrino de esperança e artífice de paz! Apaixonemo-nos pela vida e comprometamo-nos no cuidado amoroso daqueles que vivem ao nosso lado e do ambiente que habitamos. Repito-vos: tende a coragem de vos envolver! Padre Oreste Benzi, apóstolo incansável da caridade, sempre da parte dos últimos e indefesos, repetia que ninguém é tão pobre que não tenha algo para dar, e ninguém é tão rico que não precise de receber alguma coisa.
Levantemo-nos, pois, e ponhamo-nos a caminho como peregrinos de esperança, para que também nós, como fez Maria com Santa Isabel, possamos comunicar boas-novas de alegria, gerar vida nova e ser artesãos de fraternidade e de paz.
Roma, São João de Latrão, no IV Domingo de Páscoa, 21 de abril de 2024.