Na
América Latina o título mariano que se destaca é, realmente, Nossa Senhora de
Guadalupe. Já existe há quase 500 anos.
Na
liturgia da Igreja Nossa Senhora de Guadalupe tem sua festa celebrada no dia 12
de dezembro. É considerada a padroeira principal da América Latina. A festa foi
instituída em 1754.
A
Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe localize-se na cidade do México. É uma
basílica menor da Igreja Católica.
A
atual Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe constitui um santuário nacional do
México. Está situado no monte de Tepyac.
O
Santuário mariano é considerado o principal templo da Igreja católica no
continente americano. É a segunda igreja mais visitada do catolicismo no mundo,
só perdendo para a Basílica de São Pedro.
A
nova Basílica recebe mais de 20 milhões de visitantes ao longo do ano e
inumeráveis peregrinações de todo o México. As grandes peregrinações chegam a
2.500 por ano. Os grupos espontâneos perfazem 6 mil anuais.
Basílica moderna
O
Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe é composto de várias igrejas e capelas,
dentre elas as duas basílicas, uma do século XVI, e outra da década de 1970. A Basílica
nova foi edificada em razão do afundamento da antiga devido ao terreno
movediço. Isso porque a cidade do México foi construída em cima de um lago
aterrado, o Lago de Texcoco.
A
Basílica nova foi construída entre os anos de 1974 e 1976. Foi projetada pelo
arquiteto mexicano Pedro Ramírez Vásquez. Sua inauguração transcorreu aos 12 de
outubro de 1976.
A
Basílica nova foi idealizada em estilo moderno. Viabiliza permitir uma vista
total do altar para os devotos que estão no interior.
A
estrutura é suportada por 350 pilares. Pode abrigar 10 mil peregrinos dentro da
Igreja.
Na nova Basílica, em celebrações especiais, são colocados assentos adicionais e a capacidade chega até 40 mil lugares. O santuário abriga, em seu interior a tilma de Juan Diego Cuauhtlatoatzin.
Basílica antiga
A
antiga Basílica é o primeiro templo católico dedicado a Nossa Senhora de
Guadalupe. Começou a ser construída em 1531.
Foi
concluída e inaugurada no dia 1º. de maio de 1709. Foi projetada por Pedro Arrieta.
Em 24 de outubro de 1887 foram feitas reparações na igreja.
No
dia 12 de outubro de 1895 a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe foi
solenemente coroada pelo arcebispo do México. 50 mil fiéis participaram com
piedade e comoção.
O
interior do templo é decorado em mármore com duas estátuas de Juan Diego e de
D. Fr. Juan de Zumárraga. Em 1904, foi elevado à categoria de Basílica pelo
Papa São Pio X.
As
vestes de Juan Diego ficaram abrigadas na Igreja até 1974. Quando a nova
Basílica ficou pronta, passaram para ela.
Na
década de 1970 foi descoberto o afundamento do terreno. E novo templo teve que
ser planejado.
Já
em 1979, o Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH), em parceria
com a Igreja católica mexicana, iniciou um trabalho arqueológico para restaurar
o chão da Igreja e impedir a perda de artefatos importantes.
Embora
ainda não tenham sido finalizados os trabalhos na Basílica antiga, a primeira
etapa da restauração já foi concluída com sucesso em 2000. O templo foi
reaberto em 2001.
Origem da devoção
Os
primeiros missionários, que chegaram ao México, eram originários da Espanha,
país de tradição mariana. Além de transmitirem a fé cristã, eles também
ensinaram a devoção da Virgem Maria. Nos albores da evangelização, o primeiro
sinal luminoso do culto mariano foi a presença de Nossa Senhora de Guadalupe na
religiosidade de nosso povo.
A
devoção de Nossa Senhora de Guadalupe é proveniente do país do México, no
século XVI. Surgiu em 1531, quando a Virgem Maria apareceu a Juan Diego, de 48
anos, na colina de Tepyac, localizado a noroeste da cidade do México.
Originário do México, Juan nasceu em 1474, em Calpuli. Era um índio nativo, que antes de ser batizado tinha o nome de Cuauhtlatoatzin.
Juan era um índio pobre, da Tribo de Nahua. Pertencia a mais baixa casta do Império Asteca. Dedicava ao difícil trabalho do campo e à fabricação de esteira.
Possuía um pedaço
de terra, onde vivia feliz com a esposa, numa pequena casa, mas não tinha
filho. Sua esposa se chamava Maria Lúcia.
Atraído pela
pregação dos frades franciscanos que chegaram ao Méxido em 1524, Juan
converteu-se ao cristianismo. Foi batizado junto com sua esposa. Receberam o
nome cristão de Juan Diego e Maria
Lúcia.
Homem piedoso
Juan era um homem
dedicado e piedoso, que sempre se retirava para fazer suas orações e
penitências. Costumava caminhar de sua vila à cidade do Mèxico, percorrendo três
horas e meia até a igreja, onde participava da missa e aprendia religião.
Juan andava
descalço. Vestia, nas manhãs frias, uma roupa de tecido grosso de fibras de
cactos como um manto, chamado tilma ou ayate, como todos de sua classe social.
Sua
esposa adoeceu e faleceu em 1529. Juan foi morar com seu tio, diminuindo a
distância da igreja. Fazia esse percurso todo sábado e domingo, saindo bem
cedo, antes do amanhecer. Foi numa destas idas que Nossa Senhora lhe apareceu.
Quando
ocorreram as aparições marianas, Juan tinha 57 anos. Ele dedicou-se ao serviço
de Nossa Senhora de Guadalupe em sua pequena igreja. Deixando seu povoado para
sempre, ele foi morar num pequeno quarto junto à igreja como ermitão, com
licença do bispo. Amou, profundamente, o sacramento da eucaristia e consegui
uma especial licença do bispo para receber a comunhão três vezes na semana, um
fato bastante raro na época.
Juan
cuidava bem do templo mariano. Todos os dias fazia uma oração familiar diante
da imagem da Mãe de Deus. Era um homem exemplar, temente a Deus de consciência
reta e louváveis costumes. Tinha tal reputação de santidade que os peregrinos,
que frequentavam o pequeno santuário para suplicar favores a Virgem Maria,
tomavam o indígena como intercessor e se recomendava às suas preces.
Juan
faleceu no dia 30 de maio de 1538, aos 74 anos, de morte natural. Foi
beatificado pelo Papa São João Paulo II em 1990.
Foi
também canonizado por São João Paulo II em 2002. Foi o primeiro santo católico
indígena americano. É modelo de fé simples e humilde nutrida pelo catecismo.
A
festa litúrgica de São Juan é celebrada no dia 9 de dezembro. É padroeiro dos
povos indígenas e floristas.
Aparições marianas
De
acordo com os relatos históricos, a Virgem Maria apareceu primeiro quatro vezes
a Juan. E também apareceu uma vez ao seu tio.
No
dia 9 de dezembro de 1531, sábado, de madrugada, na cidade do México, Juan,
recém batizado, dirigiu-se à Igreja de Santa Cruz de Tlaltelolco, que ficava a
24 km de sua casa, a fim de para participar da missa.
Ao
passar junto à colina de Tepyac, o indígena ouviu um cântico harmonioso e suave,
vindo do alto do morro. Enquanto admirava e olhava ao redor, cessou, de repente,
o canto. Então ouviu uma voz delicada do alto que o chamava carinhosamente pelo
nome.
Ao
olhar em direção à colina, Juan viu uma Senhora belíssima, de pé, que o
convidava a se aproximar. Subiu com toda pressa a encosta do outeiro. No topo
do monte, estando diante dela, ele ficou maravilhado com sua beleza. Sua
vestimenta brilhava.
Com
ternura e polidez, a Senhora se apresentou a Juan como a Virgem Maria, Mãe de
Jesus Cristo, o Verbo de Deus. Falando-lhe em sua língua, náhuatl, ela o enviou
para dizer ao primeiro bispo do México, D. Fr. João de Zumárraga, que era seu desejo
ardente que fosse erigida naquele local uma igreja em sua honra.
Logo
após a aparição, Juan dirigiu-se até a cidade do México, onde ficava o palácio
episcopal. Acanhado, transmitiu ao bispo a mensagem que recebera de Nossa
Senhora. Sua missão não foi bem sucedida, porque a autoridade eclesiástica não
acreditou na veracidade do fato.
Na
tarde do mesmo dia 9, Juan novamente se encontrou com a Virgem Maria, que o
esperava na colina. Ele quis renunciar a ser embaixador da Mãe de Deus junto ao
bispo, pedindo que escolhesse outro mensageiro mais importante.
Missão reafirmada
Entretanto,
Nossa Senhora não aceitou a renúncia de Juan. Reafirmou missão dele,
dizendo-lhe que ele era plenamente capaz. Então, ela solicitou que ele, em seu
nome, voltasse a falar com o bispo no dia seguinte e continuasse insistindo em
seu pedido.
No
domingo de manhã, 10 de dezembro, Juan, obedecendo a Mãe de Jesus, procurou
novamente o bispo. O prelado instruiu que o indígena retornasse ao monte Tepyac
e pedisse a Virgem Maria uma prova de sua identidade sobrenatural.
Ainda
no dia 10, à tarde, Juan voltou para a colina e viu novamente Nossa Senhora,
informando-lhe a resposta do bispo. Ela consentiu em fornecer no dia seguinte o
sinal que o bispo lhe havia solicitado.
Na
segunda-feira, 11 de dezembro, Juan não se apresentou ao encontro marcado com a
Virgem Maria. Teve que cuidar do tio e pai de criação, Juan Bernardino, que
adoecera gravemente. Em vão procurou um médico que atendesse o tio.
Na
terça-feira, dia 12 de dezembro, Juan teve que ir às pressas a Tlatelolco para
buscar um sacerdote para ouvir a confissão do tio e ministrar a unção dos
enfermos em seu leito de morte.
Para
evitar ser atrasado pela aparição e por sentir envergonhado por não ter
conseguido ver a Virgem Maria na segunda-feira, Juan escolheu outra rota ao
redor da colina. Mas a Mãe de Jesus o interceptou no desvio e pergunto-lhe para
onde ele estava indo. O vidente desculpou-se, falando-lhe do tio doente.
Flores raras
Como
mãe benigna, dadivosa e protetora, Nossa Senhora assegurou a Juan que seu tio obteria
perfeito restabelecimento. Logo em seguida, ela lhe pediu que subisse o monte
Tepyac e colhesse flores do seu cume, levando-as ao bispo.
No
alto do morro o solo era estéril, principalmente em dezembro. Era inverno no
hemisfério norte. Seguindo as instruções de Nossa Senhora, Juan colheu rosas
castelhanas, não nativas do México, florescendo lá. Eram flores frescas. Ele as
recolheu e as enrolou na manta.
Chegando
ao palácio episcopal, depois de longa espera, Juan conseguiu a audiência com o
bispo no dia 12 de dezembro. Repetiu-lhe a mensagem da Virgem Maria. Desdobrou a
manta diante do bispo e de um grupo de assistentes.
Surpreso,
o bispo viu a imagem de Nossa Senhora pintada na manta, de onde caíam as flores
frescas em pleno inverno. Era o retrato da Mãe de Jesus que Juan tinha visto
várias vezes na colina de Tepyac.
Emocionados,
o bispo e todos os presentes caíram de joelhos beijando a imagem milagrosa. O
bispo a guardou em sua capela.
Nome querido pela Virgem
No
outro dia, 13 de dezembro, Juan e o bispo, com numeroso séquito, foram conhecer
o lugar das aparições. Imediatamente, foram convidadas pessoas para construir a
igreja no lugar que Nossa Senhora indicara.
No
mesmo dia, Juan e o bispo foram visitar Juan Bernardino, seu tio, encontrando-o
totalmente recuperado. Sorrindo, ouvindo o relato das aparições, Bernardino
contou também que tinha visto a Virgem Maria ao lado de sua cama. Disse-lhe que
ela desejava a construção de um templo na colina de Tepyac. Declarou que a Mãe
de Deus queria que sua imagem fosse chamada: “Santa Maria de Guadalupe”.
Inicialmente,
a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe permaneceu por certo tempo na catedral
da cidade. Os fiéis vinham ver e admirar a imagem como obra divina e rezavam
diante dela. Ficavam muito comovidos da maneira como, por milagre, ela
aparecera. Para eles, ficava evidente que nenhum ser humano da terra havia
pintado aquela imagem da Mãe do Salvador.
Diante
do fenômeno da aparição de Nossa Senhora de Guadalupe, em pouco tempo, os
indígenas se converteram ao catolicismo. Eles “se sentiram amados pela Virgem
Maria” (Pe. Ernesto N. Roman, sacerdote diocesano e escritor).
Em
26 de dezembro de 1531, a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe foi solenemente transladada
para uma pequena capela erguida no outeiro da coluna de Tepyac. No singular templo
a pintura mariana ficou exposta à veneração pública dos fiéis.
O
culto de Nossa Senhora de Guadalupe propagou-se rapidamente na região.
Contribuiu muito para a difusão da fé católica entre os indígenas.
A
devoção mariana provocou rápidas conversões dos mexicanos à Igreja de Cristo.
Os franciscanos batizaram dez milhões de pessoas.
Padroeira da América Latina
Em
25 de maio de 1754, o Papa Bento XIV declarou Nossa Senhora de Guadalupe
patrona da chamada Nova Espanha, que correspondia à América Central e América
do Norte. Aprovou também os textos litúrgicos para a missa e breviário em sua
homenagem.
Em
1891, o Papa Leão XII concedeu novos textos litúrgicos. Em 8 de fevereiro de 1895,
ele autorizou a coroação canônica da imagem. Aos 12 de outubro de 1897, a
imagem foi solenemente coroada.
Em
1910, São Pio X proclamou Nossa Senhora de Guadalupe como Padroeira da América
Latina.
Em
1945, o Papa Pio XII deu-lhe o título de “Imperatriz da América”.
Atualmente,
no centro da abside da majestosa Basílica observa-se o manto com as feições da
Virgem Maria, conservados durante os últimos 500 anos. Testemunha o culto
ininterrupto da Virgem Maria desde os inícios até hoje. “A presença de Maria de
Guadalupe é um abraço amoroso a todos os seus devotos” (Pe. Corrado Maggioni,
sacerdote montfortiano e escritor mariano).
Os
devotos têm visitado continuamente a Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe.
Não só peregrinos do país, mas também do estrangeiro. O Santuário se transforma
em centro de evangelização e nicho de aconchego dos filhos de Maria. “As
aparições da Virgem Maria oficializadas pela Igreja sempre deixaram profundas
marcas na história, na alma e no coração dos fiéis” (Pe. Reginaldo Manzotti,
sacerdote evangelizador, escritor e cantor).
Ao
contemplar a imagem de Nossa Senhora, todos os fiéis experimentam nela a
ternura, a acolhida, a solicitude e o amparo daquela que é Mãe da humanidade,
que intercede sempre por seus filhos junto a Jesus Cristo, o Salvador. Eles a
veneram e a invocam com piedade, confiança e carinho.
Tilma e os olhos
A
tilma de Juan é uma espécie de tecido tradicionalmente indígena dos povos
pré-colombianos. Era um manto feito de fibras de cacto agave manguey.
Na
tilma, usada por Juan, ficou originalmente estampada a imagem de Nossa Senhora
de Guadalupe. A tilma mede 168 x 105 cm. A pintura tem 143 x 55 cm.
A
pintura retrata uma mulher contemplativa de pele mestiça, rodeada por raios
solares. Trata-se de uma jovem, com pele morena e rosto ovalado. Seu rosto é
modesto, formoso e amável, de beleza inimitável. Suas mãos estão postas.
Na
cabeça, por cima do manto, a imagem tinha uma coroa dourada, de dez pontas.
Todavia, ao fazerem os preparativos para a solene coroação da Virgem Maria, a
coroa havia desaparecido misteriosamente, sem deixar vestígio de raspadura ou
outra intervenção humana.
A
jovem está vestida com uma túnica de cor rosa, com arabescos dourados. A túnica
é coberta por manto azul esverdeado, todo adornado de estrelas de oito pontas.
Está em cima de uma lua crescente escurecida, que representa as forças do mal.
É carregada por um anjo querubim.
O
tecido da tilma é fraco, porque é constituído de fibras vegetais. Pode durar no
máximo 20 anos.
A
tilma ficou exposta ao longo de quase cinco séculos em lugares abertos. Foi
levada em procissões. Ficou em diferentes templos. Tem sido atingida pelas
emanações gasosas do lago subterrâneo vizinho.
No entanto, não se deteriorou. Ao contrário, tem resistido até hoje,
permanecendo intacta mesmo após a passagem de quase 500 anos.
Os
olhos de Nossa Senhora de Guadalupe estão sendo estudas por inúmeras
investigações cientificas durante os últimos cinquenta anos.
Em
1929, os pesquisadores descobriram que as pupilas dos olhos dela refletem o momento
em que Juan abriu o manto diante do bispo em 1531.
Nos
olhos da Virgem de Guadalupe estão reproduzidos o pátio da residência
episcopal, Juan e mais dez pessoas, algumas das quais estão sentadas.
Pe. Eugênio Antônio Bisinoto C.Ss.R.
Missionário Redentorista
Sacerdote e escritor
Igreja Santa Cruz – Araraquara – SP