19 de outubro — Memória litúrgica do Beato Timóteo Giaccardo
Hoje, a Família Paulina e, de modo muito especial, as Pias Discípulas do Divino Mestre celebram com gratidão e alegria a memória litúrgica do Beato Timóteo Giaccardo, primeiro sacerdote da Sociedade de São Paulo e colaborador fidelíssimo do Bem-aventurado Tiago Alberione.
Sua vida é uma página viva do Evangelho encarnado na obediência, na humildade e no amor total à missão paulina, uma vida oferecida por amor a Cristo Mestre, Caminho, Verdade e Vida, e pelo reconhecimento e consolidação das Pias Discípulas do Divino Mestre na Igreja.
Giuseppe Giaccardo nasceu em 13 de junho de 1896, em Narzole, na região do Piemonte (Itália), em uma família simples de agricultores. Desde criança, mostrava um coração dócil e profundamente religioso. Aos onze anos, ingressou no seminário de Alba, onde conheceu o jovem sacerdote Tiago Alberione.
Esse encontro mudaria para sempre o rumo de sua vida: entre os dois nasceu uma amizade espiritual sólida e fecunda, que se tornaria um dos pilares da futura Família Paulina.
Giaccardo via em Alberione um verdadeiro mestre e pastor; e Alberione via no jovem seminarista um coração generoso, inteligente e disponível, capaz de compreender os “novos tempos” e as novas formas de evangelizar que o Espírito Santo suscitava na Igreja.
Foi o próprio Alberione quem o convidou, anos depois, a fazer parte da nascente Sociedade de São Paulo, que usaria os meios de comunicação para anunciar o Evangelho.
Primeiro sacerdote paulino
Em 19 de outubro de 1919, o jovem Giuseppe foi ordenado sacerdote e, ao fazer sua profissão religiosa na Sociedade de São Paulo, tomou o nome de Timóteo, em referência ao discípulo fiel de São Paulo Apóstolo.
O nome não poderia ser mais profético: assim como Timóteo foi o colaborador mais próximo de Paulo, o padre Giaccardo foi o mais fiel colaborador de Alberione.
A partir daquele momento, ele se tornaria a presença constante, discreta e essencial que ajudou a transformar o sonho paulino em realidade. Em tudo, o padre Giaccardo buscava viver a união íntima com Jesus Mestre.
Ele costumava dizer:
“Tudo em mim deve ser de Jesus Mestre: o pensar, o amar, o agir. A Ele, toda a minha mente, todo o meu coração, todas as minhas forças.”
Seu sacerdócio foi vivido como dom contínuo, como uma oferenda que se consumia silenciosamente na fidelidade cotidiana, na escuta e na comunhão.
Nos primeiros anos da Sociedade de São Paulo, padre Timóteo exerceu diversas funções: formador, diretor, editor e responsável por comunidades.
Foi enviado por Alberione a Roma, em 1926, para fundar a primeira casa paulina fora de Alba. Lá, lançou o periódico La Voce di Roma e trabalhou para consolidar a missão editorial e apostólica.
Mas sua principal característica era o espírito de comunhão. Padre Timóteo não buscava protagonismo: buscava a vontade de Deus. Era o homem do “sim”, o colaborador silencioso que sustentava as obras com oração, equilíbrio e discernimento. Alberione o chamava de “mestre da docilidade ao Espírito Santo”.
A ele, Alberione confiou também uma das missões mais delicadas e belas de toda a Família Paulina: o acompanhamento espiritual e institucional das Pias Discípulas do Divino Mestre.
Um dom oferecido pelas Pias Discípulas
Desde o nascimento das Pias Discípulas, padre Giaccardo foi presença paterna e fraterna, ajudando a formar as primeiras irmãs e a consolidar a espiritualidade própria do Instituto.
Ele compreendeu profundamente o papel das Discípulas como “oração viva” dentro da Família Paulina: mulheres consagradas chamadas a adorar Jesus Mestre na Eucaristia, a servir nos ministérios litúrgicos e a sustentar, com a vida e com a oração, o apostolado dos outros ramos.
Nos anos 1940, quando surgiram incompreensões e dificuldades quanto ao reconhecimento canônico das Pias Discípulas, padre Timóteo assumiu sobre si o peso da prova.
Alberione testemunhou que ele ofereceu a própria vida pela aprovação definitiva da Congregação. De fato, em 12 de janeiro de 1948, o Papa Pio XII assinou o decreto de aprovação das Pias Discípulas, exatamente no mesmo dia em que padre Giaccardo celebrou sua última Missa e entrou no repouso eterno, poucos dias depois, em 24 de janeiro.
Sua morte foi uma verdadeira oblação sacerdotal: o cumprimento de uma vida oferecida. O próprio Alberione afirmou:
“Padre Giaccardo deu a vida pelas Pias Discípulas do Divino Mestre. Ele foi o instrumento escolhido por Deus para selar esta obra com o sacrifício.”
Beatificação e exemplo para os nossos dias
O Papa João Paulo II beatificou o padre Timóteo Giaccardo em 22 de outubro de 1989, reconhecendo oficialmente as virtudes heróicas de sua vida e a autenticidade de sua entrega.
Sua memória litúrgica é celebrada no dia 19 de outubro, data de sua ordenação sacerdotal, símbolo eloquente de uma vida toda oferecida a Deus e ao serviço do Evangelho.
Seu corpo repousa em Alba, na Itália, na cripta do Santuário do Divino Mestre, onde muitos peregrinos vão rezar e pedir sua intercessão. Sobre o seu túmulo, lê-se uma inscrição simples que resume sua existência:
“Viveu e morreu como sacerdote paulino.”
Modelo de discípulo e comunicador do Evangelho
O Beato Timóteo Giaccardo continua a inspirar a Família Paulina e toda a Igreja. Sua vida ensina que a santidade não se mede pela visibilidade do trabalho, mas pela profundidade do amor com que se faz tudo.
Em sua fidelidade silenciosa, ele encarnou o ideal paulino: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
Para as Pias Discípulas do Divino Mestre, ele é irmão e pai espiritual, aquele que sustentou o Instituto com oração, discernimento e sacrifício. Para todos os discípulos e discípulas de Jesus Mestre, ele é modelo de docilidade, humildade e total pertença ao Senhor.
E para os que trabalham nos meios de comunicação e evangelização, é padroeiro da palavra vivida, que comunica mais com o testemunho do que com o discurso.
Oração ao Beato Timóteo Giaccardo
Senhor Jesus, Mestre e Pastor, nós vos damos graças pelo dom do Beato Timóteo Giaccardo, sacerdote fiel, discípulo humilde, servidor da vossa Igreja. Fazei-nos dóceis ao Espírito, fiéis à missão que nos confiais, ardorosos no amor à Eucaristia e à vossa Palavra. Que sua intercessão nos conduza a viver como ele: com simplicidade, coragem e alegria, em plena comunhão convosco e com a Igreja. Amém.
Neste 19 de outubro, ao celebrar sua memória, renovemos nosso desejo de ser discípulos e discípulas que comunicam a Vida.
Que o Beato Timóteo Giaccardo continue a interceder por cada PIA DISCÍPULA, por toda a Família Paulina e por cada pessoa que deseja, como ele, fazer de sua vida um anúncio silencioso e fecundo do Amor de Cristo Mestre, Caminho, Verdade e Vida.
Nesta semana, toda a Família Paulina vive um tempo especial de preparação para celebrar a Solenidade de Jesus Mestre, centro e expressão da devoção que une todos os seus ramos.
Com o objetivo de favorecer uma reflexão mais profunda sobre este mistério, o site das Pias Discípulas do Divino Mestre apresentará, ao longo dos próximos dias, uma série de textos do Bem-Aventurado Tiago Alberione, o Primeiro Mestre, acerca da devoção a Jesus Mestre, coração da espiritualidade paulina.
A seguir, publicamos o primeiro texto da série, traduzido do original em italiano. O texto integral, em sua versão original, está disponível neste link: APD66
AS TRÊS DEVOÇÕES FUNDAMENTAIS DA FAMÍLIA PAULINA
Meditação às novas professas perpétuas das Pias Discípulas do Divino Mestre Roma, Via Portuense 739 – 7 de maio de 1966
Queridas irmãs,
Hoje vocês fazem a profissão perpétua. Esse é um compromisso de perseverança, mas não apenas de permanecer firmes: é também um chamado ao progresso espiritual, porque a profissão não é o ponto de chegada, e sim um novo começo.
Com ela, vocês se comprometem a crescer cada dia mais no caminho da santidade. Já se provaram capazes de viver essa missão e agora assumem o compromisso de avançar continuamente, buscando um grau cada vez mais alto de perfeição cristã.
Depois, vêm os artigos das Constituições que tratam do apostolado. Mas o primeiro e principal dever é sempre o aperfeiçoamento pessoal. E esse aperfeiçoamento se realiza por meio dos três votos religiosos: pobreza, castidade e obediência.
Esse caminho de progresso deve continuar até o momento em que passarmos desta vida para a eternidade. Vocês deixaram suas famílias para seguir Jesus Cristo, e um dia, deixando esta vida, entrarão com Ele no céu.
Para viver esse caminho de perfeição, há três devoções fundamentais que devem sempre acompanhar vocês:
A devoção a Jesus Mestre, para viver unidas a Ele;
A devoção a Maria, Rainha dos Apóstolos, sob cuja proteção estamos aqui reunidas;
A devoção a São Paulo Apóstolo.
1. A devoção a Jesus Mestre
A devoção a Jesus Mestre pode ser vivida em vários graus — e ela é tanto mais profunda quanto mais a alma vive de Cristo, podendo repetir com São Paulo:
“Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
Jesus disse:
“Eu sou o Caminho” (Jo 14,6).
Seguir o Caminho significa trilhar o mesmo percurso de santidade que Ele percorreu.
Disse também:
“Eu sou a Verdade” (Jo 14,6).
Viver a Verdade é ter uma fé profunda, pensar como Jesus, acolher seus pensamentos e ensinamentos contidos no Evangelho.
E finalmente:
Eu sou a Vida” (Jo 14,6).
Viver a Vida é amar a Deus e amar as almas.
Assim, Jesus Cristo vive em nós como Caminho, Verdade e Vida, comunicando sua graça em abundância, fazendo crescer em nós o amor puro a Deus e às pessoas, eliminando tudo o que possa impedir esse amor.
2. A devoção a Maria, Rainha dos Apóstolos
Desde o momento em que o Filho de Deus se encarnou em seu seio puríssimo até o instante em que Jesus subiu ao céu, Maria sempre esteve ao lado Dele.
Assim também vocês devem acompanhá-lo, como ela o acompanhou até a cruz e além. Vivam unidas a Jesus, seguindo o exemplo da Rainha dos Apóstolos, que nunca se afastou do Mestre Divino.
Quando o caminho parecer difícil, quando surgirem obstáculos, invocai Maria!
Por onde passava, Maria levava a graça. Desde o “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14) até o Calvário, ela permaneceu junto ao Filho.
E ali, Jesus disse:
“Mulher, eis o teu filho” (Jo 19,26). E a João: “Eis a tua mãe” (Jo 19,27).
Ela é, portanto, Mãe e companheira de todos os que seguem o Cristo.
3. A devoção a São Paulo Apóstolo
São Paulo nos ensina, com sua vida e suas virtudes, o que significa ser forte na fé. É essa a virtude que quero destacar hoje: a fortaleza, tanto como virtude humana quanto como dom do Espírito Santo.
Na vida, enfrentamos lutas e sofrimentos; o caminho do discípulo não é isento de cruz. Para perseverar e crescer é preciso fortaleza: para vencer as tentações, resistir ao mal, combater o espírito do mundo, a carne e o demônio.
São João exorta:
“Sede fortes” (1Jo 2,14).
Peçam essa graça por intercessão de São Paulo. Ele trabalhou incansavelmente, sofreu perseguições, foi preso diversas vezes, mas permaneceu fiel até o fim, podendo dizer:
“Agora está reservada para mim a coroa da justiça” (2Tm 4,8).
A fortaleza nos faz superar as dificuldades que vêm de nós mesmas, do ambiente e do inimigo. Quando o amor é forte, tudo vence (cf. Ct 8,6).
Mantenham o coração sempre ardente, especialmente durante e depois da comunhão. Mesmo diante dos desgostos, das enfermidades, dos sacrifícios do apostolado, sejam fortes. E, quando chegar o momento de passar desta vida para a eterna, aceitem com fortaleza a vontade de Deus.
Que essas três devoções vos acompanhem sempre e sejam para vocês luz, força, alegria e esperança. Assim, vossa vida religiosa será também uma vida feliz e cheia de sentido.
Avante!
Guardem bem estes três lembretes da Profissão:
Devoção sempre viva a Jesus Mestre;
Devoção sempre viva à Rainha dos Apóstolos;
Devoção sempre viva — e cada vez mais profunda — a São Paulo Apóstolo.
Agora ofereço a Santa Missa por todas vocês. Unidas, invoquemos: Jesus Mestre, a Rainha dos Apóstolos e São Paulo Apóstolo.
De 9 a 16 de novembro de 2025, a Igreja Católica em todo o mundo celebrará a 9ª Jornada Mundial dos Pobres (JMP), que neste ano traz como tema “Tu és a minha esperança” (cf. Sl 71,5). Inspirada no convite bíblico à esperança, a iniciativa quer fortalecer o compromisso da Igreja com as pessoas em situação de vulnerabilidade, promovendo solidariedade, escuta e fraternidade.
No Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora (Cepast), incentiva dioceses, paróquias e comunidades a viverem não apenas o Dia Mundial dos Pobres, mas oito dias inteiros de mobilização. O objetivo é transformar o período em um tempo de oração, convivência e gestos concretos de amor junto aos mais necessitados.
Caridade e justiça
Mais do que uma ação assistencial, a Jornada é também um convite à escuta e ao aprendizado com aqueles que enfrentam a pobreza — uma realidade que afeta, de modo particular, pessoas negras e moradores das periferias urbanas, historicamente empurrados à exclusão social e econômica.
O Papa Leão XIV faz um chamado direto às comunidades católicas: agir com coerência e enfrentar as causas estruturais da pobreza, lembrando que “ajudar os pobres é uma questão de justiça, muito antes de ser uma questão de caridade”.
Caminho de esperança: orientações pastorais
Para auxiliar na vivência da Jornada, a Comissão elaborou um subsídio pastoral com orientações, propostas de ação, a mensagem do Papa Leão XIV e sugestões de atividades comunitárias. O material convida toda a Igreja a transformar este momento em uma oportunidade não só de ajudar, mas também de reconhecer nos pobres o rosto de Cristo.
“Queremos que as ações não se limitem apenas ao Dia Mundial do Pobre. Por isso, o subsídio também traz propostas para o pós-jornada. Contamos com a participação e o engajamento de todos neste momento forte da Igreja, instituído pelo Papa Francisco no encerramento do Ano da Misericórdia, em 2016, e que agora segue com o Papa Leão XIV”, destaca Alessandra Miranda, assessora da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora.
“Aproveitem o material, mobilizem suas comunidades e grupos, e venham somar nesse grande mutirão de solidariedade que, com certeza, será mais uma vez abraçado por todo o Brasil”, conclui a assessora da CNBB.
Apresentamos a seguir os principais conteúdos e desdobramentos da exortação apostólica Dilexi te (“Eu te amei”), assinada por Papa Leão XIV em 4 de outubro de 2025 — data que coincide com a festa de São Francisco de Assis — e divulgada publicamente em 9 de outubro. (Vaticano)
Contexto e motivação
Dilexi te retoma parte de um projeto iniciado nos últimos meses do pontificado de Francisco, quando ele mesmo preparara uma exortação sobre o serviço aos pobres, cujo título complementa sua encíclica Dilexit Nos. Papa Leão XIV acolhe esse legado, declara que o “faz seu” e acrescenta reflexões próprias no começo de seu pontificado. (Vaticano)
O título “Eu te amei” provém de Apocalipse 3,9 e sugere que Cristo, em particular aos mais fracos, mais pobres ou menos poderosos, dirige uma palavra de amor e reconhecimento: mesmo sem força ou posição, eles são amados por Deus. (Vaticano)
O documento, que possui 121 pontos, busca sublinhar que a proximidade com os pobres é mais do que um programa social: é central à identidade cristã, à missão da Igreja e à vivência autêntica do Evangelho. (Vatican News)
Os capítulos e principais temas
A exortação está estruturada em uma breve introdução seguida por cinco capítulos (cap. I a V), cada um desenvolvendo um aspecto específico do tema do amor e da opção pelos pobres. A seguir, um panorama dos temas centrais:
Capítulo I – “Algumas palavras indispensáveis” Nesta primeira parte, o Papa recorda episódios bíblicos (por exemplo, a mulher que unge Jesus com perfume caro) para mostrar que gestos simples de carinho e proximidade com o que sofre não são insignificantes, sobretudo se dirigidos aos mais vulneráveis. (EWTN Vatican)
Leão XIV enfatiza que o amor a Cristo não pode ser divorciado do amor aos pobres: quem ama o Senhor deve reconhecer Cristo no rosto dos mais pobres e sofredores. (Vaticano)
Capítulo II – “Deus opta pelos pobres” Este capítulo aprofunda a ideia de que a atenção de Deus para os pobres não é acaso nem mero recurso simbólico, mas parte integrante da obra da salvação. Ele remonta à expressão bíblica de Deus “ter ouvido o clamor dos pobres” (por exemplo, no episódio da sarça ardente) para afirmar que a opção divina pelos que sofrem é permanente. (EWTN Vatican)
Aqui também se destaca a encarnação de Jesus como ato de amor e pobreza: o Filho de Deus torna-se pobre, identificado com os pobres, vivenciando rejeição e caminho de cruz. Essa pobreza de Cristo configura a dimensão teológica da proximidade com os mais fracos. (EWTN Vatican)
Capítulo III – “Uma Igreja para os pobres” No capítulo III (e nos subsequentes), Leão XIV discute como a Igreja deve estruturar-se pastoralmente e missionariamente a partir dessa opção preferencial pelos pobres. Ele não propõe que os pobres sejam tratados como “casos sociais” separados, mas que a ação eclesial inteira — liturgia, doutrina, caridade, caminho missionário — seja influenciada por esse olhar preferencial. (Vatican News)
O Papa adverte contra preconceitos ideológicos que segregam os pobres ou os consideram menos dignos e critica a tentação de uma fé acomodada, desvinculada da justiça social. (Vatican News)
Capítulo IV – “Uma história que continua” Este capítulo traça um percurso histórico da relação entre a Igreja e os pobres nos últimos 150 anos, situando a exortação dentro da tradição da doutrina social da Igreja. Leão XIV revisita documentos eclesiais anteriores, bem como os concílios latino-americanos (Puebla, Medellín, Aparecida etc.), e destaca que muitas crises contemporâneas — desigualdade, migração, fome, injustiças estruturais — exigem uma resposta renovada da Igreja. (Vatican News)
Nesse contexto, ele denuncia “a economia que mata”, falta de equidade, violência contra mulheres, escassez educacional, estruturas injustas que favorecem alguns em detrimento de muitos. (Vatican News)
Leão XIV também valoriza os movimentos populares e comunitários como expressões de moralidade social, afirmando que a política e as instituições devem escutar os pobres para que a democracia não se torne vazia ou excludente. (EWTN Vatican)
Capítulo V – “Um desafio permanente” No capítulo final, a exortação reitera que o amor aos pobres não é um tema ocasional nem um apêndice da missão, mas “marca” permanente da vida cristã e identidade da Igreja. (EWTN Vatican)
Leão XIV afirma que nenhuma comunidade cristã pode ignorar os pobres, trata-los como “problemas sociais” ou relegá-los a uma esfera secundária. Ao contrário, é preciso uma conversão constante, destruição das “estruturas de injustiça” e generosidade concreta. (EWTN Vatican)
Ele fala de caridade como “justiça restabelecida”, e não como mero paternalismo; da necessidade de oferecer oportunidades reais de desenvolvimento e dignidade; de promover reformas sociais que assegurem educação, trabalho, proteção às mulheres, acolhimento aos migrantes. (Vatican News)
A exortação conclui lembrando que em gestos simples — ouvir, doar, caminhar com os pobres — estamos reenviados ao coração de Cristo, que continua dizendo: “Eu te amei” (Ap 3,9). (EWTN Vatican)
Mensagens centrais e implicações para a Igreja de hoje
A Dilexi te oferece várias teses centrais que devem inspirar a prática eclesial contemporânea:
Unidade entre fé e caridade A exortação insiste que a fé cristã não pode ser separada do compromisso concreto com os pobres. Amar a Deus e amar o próximo são partes inseparáveis da vida cristã.
Opção preferencial pelos pobres como missão estruturante Leão XIV reafirma que esse conceito — já presente em documentos latino-americanos e no magistério recente — não é opcional, mas constitutivo da identidade da Igreja. Ele recorda que a opção não implica exclusão, mas sim radical compaixão. (Desenvolvimento Humano)
Crítica às estruturas injustas A exortação denuncia sistemas econômicos e sociais que produzem desigualdade, privilegiando poucos e marginalizando muitos — “economia que mata” é uma expressão significativa usada pelo Papa. (Vatican News)
Papel evangelizador dos pobres Os pobres não são apenas destinatários da caridade, mas “profetas” que exigem uma escuta eclesial. Eles possuem uma sabedoria da fragilidade que desafia os que estão em conforto a reexaminar prioridades. (Desenvolvimento Humano)
Conversão permanente da comunidade cristã A exortação chama à conversão contínua — mudança de estilo de vida, desprendimento, atenção aos mais frágeis. Não é apenas tarefa social, mas caminho espiritual.
Inovação pastoral e institucional Leão XIV convoca comunidades, paróquias e dioceses a repensarem seus modos de ação: por exemplo, iniciativas de proximidade, escuta, presença concreta, alianças com movimentos sociais e reformulação de políticas paroquiais com foco nos excluídos.
Solidariedade global e dimensão política Não se trata apenas de obras pontuais, mas de influenciar estruturas políticas e econômicas para que priorizem a dignidade humana. A voz cristã deve denunciar desigualdades e injustiças.
Conclusão e convite
A exortação Dilexi te é um documento desafiador e inspirador: coloca no centro da missão da Igreja o serviço aos pobres como expressão vital do amor de Cristo. Não como programa secundário, mas como critério de fidelidade ao Evangelho. O Papa Leão XIV nos convida a reconhecer nos pobres não apenas obra de misericórdia, mas presença de Deus que continua a falar, no “clamar” da pobreza humana.
Que esta carta, associando o Colégio Episcopal e toda a Igreja, desperte em nossas comunidades a coragem de caminhar com aqueles que mais sofrem, de transformar estruturas injustas, de tornar visível o rosto de Cristo naqueles que passam invisíveis. Que, renovados em compaixão, saibamos dizer aos pobres — e viver para eles —: “Eu te amei”.
Domingo, 5 de Outubro de 2025 27º Domingo do Tempo Comum, Ano C
A liturgia deste Domingo nos apresenta uma oração que poderia facilmente sair do nosso próprio coração: “Senhor, aumenta a nossa fé”. Os apóstolos fizeram essa súplica porque perceberam como sua fé era pequena diante das provações. Eles tinham visto Jesus falar com autoridade, curar os doentes, saciar os famintos e perdoar os pecadores. Mesmo assim, ao olharem para si mesmos, sentiram-se frágeis e limitados. Por isso, pediram com humildade: “Senhor, aumenta a nossa fé”.
Quantas vezes nós também repetimos essa oração em momentos de dúvida, sofrimento ou incerteza. Quantas vezes sentimos que nossa fé é pequena, fraca ou facilmente abalada. E Jesus responde com uma imagem surpreendente: mesmo uma fé do tamanho de um grão de mostarda pode realizar o impossível. Em outras palavras, não é a quantidade da fé que importa, mas a sua autenticidade. A fé não é magia, é confiança em Deus.
Três pontos para nossa reflexão hoje:
Primeiro, a fé cresce quando levamos nossas perguntas a Deus. Na primeira leitura, o profeta Habacuc clama: Até quando devo gritar a ti: “Violência!”, sem me socorreres?” Essas não são palavras educadas, mas o grito de um crente escandalizado com o mal ao seu redor.
Hoje vemos guerras que destroem nações, famílias divididas por conflitos, crianças com fome enquanto outros desperdiçam, e pessoas abandonadas em sua dor. Quando a vida nos fere, nossa primeira reação é perguntar: “Senhor, onde estás? Por que não intervéns?” Mas Habacuc não foge de Deus. Ele não fecha o coração na amargura. Ele leva suas dúvidas e queixas diretamente ao Senhor. Isso já é um ato de fé.
Há uma história de um menino que plantou uma pequena semente num vaso. Todas as manhãs ele a regava, mas os dias passavam e nada aparecia. Desanimado, disse ao pai: “Acho que a semente morreu”. O pai respondeu, “Tenha paciência. Mesmo quando você não vê nada, algo está acontecendo debaixo da terra”. Poucos dias depois, surgiu o primeiro broto verde.
Assim é a fé. Deus pode parecer silencioso, mas nunca está ausente. Mesmo quando não vemos nada, Deus continua agindo. Debaixo da superfície, Sua graça continua agindo. A fé não elimina as perguntas, mas confia no tempo de Deus e espera com paciência.
Segundo, a fé é um dom que precisa ser reavivado. Na segunda leitura, São Paulo escreve a Timóteo: “Reavivar a chama do dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos”. A fé é um dom, sim, mas também uma responsabilidade. Não é algo para ser guardado, mas um fogo que precisa ser alimentado e cuidado.
Um homem guardava em casa um velho violão herdado do pai. Com o tempo, ele foi deixando o instrumento de lado. A poeira cobriu as cordas e o som se perdeu. Um dia, ao arrumar o quarto, ele decidiu limpar o violão e afiná-lo novamente. Quando dedilhou as primeiras notas, um som doce encheu o ambiente. Ele disse, “Eu pensei que ele tivesse perdido a voz”. Na verdade, o violão nunca perdeu o som; apenas precisava ser tocado outra vez.
A fé é assim. Às vezes parece adormecida, esquecida no meio das preocupações. Mas quando voltamos a rezar, a ouvir a Palavra, a servir com amor, ela volta a vibrar dentro de nós. Deus não retira o dom da fé, apenas espera que o afinemos de novo, para que sua música volte a encher a nossa vida de sentido.
Por fim, a fé se manifesta no serviço humilde. No Evangelho, Jesus ensina: “Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer”. Essas palavras não diminuem o valor do nosso esforço, mas libertam o coração de toda busca por recompensa. O verdadeiro discípulo serve por amor, não por interesse.
A fé autêntica não se mede por milagres ou grandes feitos, mas pelo amor silencioso que se vive nas pequenas coisas do dia a dia. Ela se revela na mãe que cuida com ternura dos filhos, na enfermeira que consola o doente, no trabalhador que age com honestidade, no sacerdote ou na religiosa que serve com alegria mesmo sem ser notado. Esses gestos simples e escondidos são as flores mais belas da fé.
Como diz o ditado: “A fé move montanhas”. Mas, muitas vezes, Deus a usa para mover o nosso coração em direção ao próximo. A fé viva não fica nas palavras. Ela transforma atitudes, abre os olhos e nos faz servir com amor, certos de que Deus vê e abençoa tudo o que é feito com sinceridade.
Hoje o Senhor nos assegura que mesmo uma fé do tamanho de um grão de mostarda pode transformar vidas. A força da fé não vem de nós, mas daquele em quem confiamos. Como Habacuc, levemos a Deus nossas lutas e perguntas, como Timóteo, reavivemos o dom da fé todos os dias, com oração e perseverança e como servos fiéis, vivamos nossa fé em gestos simples de amor. Amém.
Texto de:
Pe. Reymel Juanillo Ramos, ssp Capelão da Casa Provincial e Casa Marta e Maria das Irmãs Pias Discípulas do Divino Mestre. Mestre dos Aspirantes Paulinos.
O Vaticano anunciou, no dia 29 de setembro, o tema do 60º Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2026: “Preservar vozes e rostos humanos”. A proposta, escolhida pelo Papa Leão XIV, toca uma das questões mais urgentes do nosso tempo: como manter a centralidade da pessoa humana em meio ao avanço acelerado da inteligência artificial e das tecnologias digitais.
O comunicado do Dicastério para a Comunicação destaca que os ecossistemas midiáticos contemporâneos estão profundamente moldados por algoritmos e sistemas automatizados, capazes de selecionar conteúdos, simular vozes e até redigir textos e diálogos. Essa constatação traduz uma preocupação não apenas técnica, mas antropológica e ética: à medida que as máquinas assumem funções comunicativas, corre-se o risco de diluir a presença humana, aquilo que dá sentido, emoção e responsabilidade à palavra.
O tema escolhido pelo Papa ressoa fortemente com a visão cristã de comunicação como encontro pessoal e expressão da dignidade humana. Desde o Concílio Vaticano II, a Igreja vem afirmando que comunicar é mais do que transmitir dados: é partilhar vida e construir comunhão. Nesse contexto, “preservar vozes e rostos humanos” significa resguardar a autenticidade, a empatia e a liberdade diante de um mundo cada vez mais mediado por telas e sistemas automáticos.
Os desafios éticos da inteligência artificial
O comunicado reconhece os avanços da IA, mas também alerta para os seus riscos: manipulação de informações, desinformação massiva, reprodução de preconceitos e invasão da privacidade. Mais do que um discurso alarmista, trata-se de um convite à responsabilidade moral. A tecnologia, segundo a perspectiva cristã, deve estar a serviço da pessoa e do bem comum, e não substituir o discernimento humano nem criar novas formas de dominação ou desigualdade.
Educar para um uso consciente
Um dos pontos mais relevantes do texto é a defesa da alfabetização mediática e digital, especialmente entre os jovens. O Vaticano propõe que se desenvolva também a alfabetização em inteligência artificial (MAIL – Media and Artificial Intelligence Literacy), para que as pessoas saibam pensar criticamente, interpretar as mensagens e usar as ferramentas tecnológicas com liberdade de espírito. Essa orientação reforça a missão educativa da Igreja e seu compromisso com uma cultura digital ética e humanizadora.
Uma mensagem para a sociedade, não só para os católicos
Embora dirigida à comunidade católica, a reflexão proposta pelo Papa Leão XIV tem alcance universal. Em uma era em que as fronteiras entre o real e o virtual se tornam cada vez mais tênues, a preservação das “vozes e rostos humanos” é um apelo à sociedade inteira: governos, empresas, educadores e cidadãos. Trata-se de reafirmar que a tecnologia deve amplificar a humanidade, não substituí-la.
O tema do 60º Dia Mundial das Comunicações Sociais convida a um discernimento profundo: como usar a inteligência artificial sem perder a inteligência do coração. O Papa Leão XIV aponta para um horizonte onde fé, ética e inovação se unem na construção de uma comunicação verdadeiramente humana: aquela que reconhece, escuta e valoriza cada rosto e cada voz.
Liturgia do Dia – Sábado, 4 de Outubro de 2025 São Francisco de Assis, religioso – Memória 26ª Semana do Tempo Comum
Leituras:
Br 4,5-12.27-29
Sl 68(69),33-35.36-37 (R. 34a)
Lc 10,17-24
A liturgia do dia nos apresenta o retorno jubiloso dos setenta e dois discípulos enviados em missão. Eles voltam cheios de alegria, testemunhando que até os espíritos maus se submetiam em nome de Jesus. O Senhor, porém, os convida a olhar além dos frutos visíveis e a alegrar-se sobretudo porque os seus nomes estão escritos no céu.
Esse trecho revela duas dimensões fundamentais da vida cristã: a missão, que se realiza na autoridade de Cristo e não em nossas forças, e a verdadeira alegria, que nasce da certeza de sermos amados e escolhidos por Deus. Jesus exulta no Espírito Santo e louva o Pai que revela os mistérios do Reino aos pequeninos, não aos sábios e entendidos.
Primeira Leitura (Br 4,5-12.27-29): o profeta Baruc traz uma palavra de esperança a um povo que sofre no exílio: “Coragem, meu povo!”. Ainda que o povo de Israel tenha experimentado a dor e a dispersão por causa de suas infidelidades, Deus não os abandona. Ele promete novamente a misericórdia e a possibilidade de retorno. A mensagem de Baruc conecta-se ao Evangelho, pois a verdadeira alegria não vem da ausência de dificuldades, mas da confiança no amor e na fidelidade de Deus, que nunca abandona os seus filhos.
Salmo Responsorial (Sl 68): o salmista proclama: “Ó humildes, vede isto e alegrai-vos; o vosso coração reviverá se procurardes o Senhor”. O salmo reforça o convite da liturgia de hoje: confiar no Senhor em meio às provações e experimentar n’Ele a verdadeira alegria que sustenta a vida.
A liturgia do dia deste sábado nos convida a redescobrir a fonte da verdadeira alegria cristã: a certeza de que pertencemos a Deus e que nossos nomes estão escritos no céu. Baruc nos recorda a fidelidade divina mesmo nas tribulações; o salmo aponta para a confiança e a esperança dos humildes; e São Francisco de Assis nos mostra, com sua vida, que a simplicidade evangélica é caminho de santidade.
Santo do Dia: São Francisco de Assis
Celebramos hoje a memória de São Francisco de Assis, um dos santos mais amados da Igreja. Conhecido como “o Pobrezinho de Assis”, Francisco viveu de forma radical o Evangelho, abraçando a pobreza, a simplicidade e o amor por toda a criação. Ele se tornou sinal de paz, fraternidade e confiança absoluta em Deus.
São Francisco nos ajuda a compreender melhor o Evangelho do dia: a verdadeira alegria não está no poder, no prestígio ou no sucesso visível, mas em viver como filhos amados de Deus, colocando-se nas mãos do Pai com humildade e confiança.
Que possamos, como os discípulos e como São Francisco, alegrar-nos não pelo que fazemos, mas por aquilo que somos em Cristo: filhos amados do Pai.
A Família Paulina é chamada a se reunir, em cada primeiro domingo do mês, para recordar e celebrar Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida.
Neste mês de outubro, o convite ganha uma conotação ainda mais especial: todo o mês é dedicado a Jesus Divino Mestre, cuja Solenidade celebraremos no último domingo do mês.
O roteiro deste Retiro Mensal do Mês de Outubro contempla os textos deste 27º Domingo do Tempo Comum (Ano C) que nos ajudam a mergulhar na caminhada da comunidade cristã. A Palavra nos convida a reavivar a fé, perseverar na esperança e testemunhar com coragem o Evangelho em nossa vida diária.
“Senhor, aumenta a nossa fé!” (Lc 17,5)
Convidamos todos os que desejarem rezar conosco a participar deste momento de espiritualidade e silêncio, deixando-se guiar pela luz do Mestre Divino.
📖 O roteiro do Retiro, preparado pelo Secretariado da Espiritualidade PDDM, está disponível em PDF para ser rezado individualmente ou em comunidade:
Nesta quinta-feira, 2 de outubro de 2025, a Igreja celebra a memória dos Santos Anjos da Guarda, inserida na 26ª Semana do Tempo Comum. A liturgia nos convida a mergulhar no Evangelho segundo São Mateus (Mt 18,1-5.10), em que Jesus coloca uma criança no centro da assembleia dos discípulos e ensina sobre a humildade necessária para entrar no Reino dos Céus.
O capítulo 18 de São Mateus é conhecido como o “discurso comunitário”. Nele, Jesus ensina aos discípulos como deve ser a vida daqueles que vivem reunidos em seu nome: marcada pela humildade, pelo cuidado mútuo, pela reconciliação e pelo perdão.
A cena começa com uma pergunta que revela certa incompreensão dos discípulos: “Quem é o maior no Reino dos Céus?” (Mt 18,1). A lógica dos homens está sempre ligada ao poder, à grandeza e à hierarquia. Jesus, no entanto, subverte essa mentalidade ao colocar uma criança no meio deles.
No tempo de Jesus, a criança não tinha prestígio algum: era símbolo de pequenez, dependência e fragilidade. Ao apontá-la como modelo, o Mestre ensina que o verdadeiro discípulo é aquele que se coloca diante de Deus como um pequeno, consciente de que nada possui de si mesmo, mas tudo recebe como dom.
O gesto é profundamente simbólico. A criança, na sociedade do século I, não tinha direitos, nem importância social ou religiosa. Era sinal de dependência, fragilidade e necessidade de proteção. Jesus não exalta a inocência ou a pureza da criança, mas sua pequenez e sua total confiança no adulto. Ao colocar a criança no meio, Ele muda a lógica da comunidade: no centro não está o poderoso, mas o pequeno.
No versículo 3, lemos: “Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus”. A conversão aqui é dupla: intelectual porque nos propõe mudar a forma de pensar, deixar a mentalidade de grandeza. E também uma conversão existencial, pois nos impele a adotar a atitude de dependência confiante diante de Deus. Jesus não pede apenas “imitar as crianças”, mas “tornar-se” criança, isto é, assumir uma postura contínua de humildade e simplicidade.
“Quem se faz pequeno como esta criança, esse é o maior no Reino dos Céus” (Mt 18, 4): no Reino de Deus, não é a força que garante posição, mas a humildade. A “pequenez” não é passividade, mas atitude ativa de quem se coloca nas mãos de Deus.
Não se trata apenas de tornar-se pequeno, mas também de acolher os pequenos. Receber uma criança (ou qualquer pessoa marginalizada, frágil, dependente) equivale a receber o próprio Cristo. Esse ensinamento ecoa Mt 25,40: “todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes”.
Em Mt 18, 10: “Não desprezeis nenhum desses pequeninos, pois eu vos digo: os seus anjos nos céus veem continuamente a face de meu Pai que está nos céus”, ele reforça a dignidade dos pequenos. O motivo pelo qual ninguém deve ser desprezado é teológico: eles têm anjos que contemplam a face de Deus. Isso significa que, mesmo os mais fracos e sem importância aos olhos do mundo, são infinitamente preciosos aos olhos do Pai. Aqui aparece a base bíblica da doutrina dos anjos da guarda.
E é justamente após esse ensinamento que vem a referência aos anjos: aqueles que assistem os pequenos e que continuamente contemplam a face do Pai. Jesus declara, portanto, que cada pequenino tem diante de Deus uma dignidade infinita e uma proteção especial.
A palavra “anjo” vem do grego angelos, que significa “mensageiro”. Os anjos são criaturas espirituais, puramente imateriais, criados por Deus para O servir e adorar. Ao mesmo tempo, exercem uma missão em relação aos homens, acompanhando-os no caminho da salvação.
O Catecismo da Igreja Católica nos ensina:
“A existência dos seres espirituais, não corporais, que a Sagrada Escritura habitualmente chama de anjos, é uma verdade de fé” (CIC 328).
“Do seu começo até à morte, a vida humana é cercada pela sua proteção e intercessão” (CIC 336).
Na liturgia de hoje, celebramos de modo particular os Anjos da Guarda, ou seja, essa presença espiritual personalizada que acompanha cada ser humano. A Tradição da Igreja vê nesse cuidado divino uma expressão concreta do amor de Deus: Ele não nos abandona, mas coloca ao nosso lado um companheiro invisível que nos guia, nos inspira ao bem, nos protege do mal e nos conduz em direção à vida eterna.
Embora a expressão “Anjo da Guarda” não apareça de forma literal na Bíblia, encontramos diversos textos que confirmam sua missão protetora:
Êxodo 23,20-23 – Primeira leitura da liturgia de hoje. Deus promete enviar um anjo à frente do povo, para guardá-lo e conduzi-lo à Terra Prometida. Aqui já se vê o anjo como presença concreta da providência divina.
Salmo 90(91),10-11 – “Ele dará ordem a seus anjos para que te guardem em todos os teus caminhos.” Esse salmo é uma das expressões mais claras da confiança na proteção angelical.
Mateus 18,10 – Evangelho de hoje: Jesus afirma que os anjos dos pequeninos veem continuamente a face do Pai. Isso revela, por um lado, a comunhão íntima que esses seres celestes têm com Deus, e por outro, a dignidade das pessoas que eles protegem.
Atos 12,6-11 – O anjo que liberta Pedro da prisão. Aqui aparece a ação direta de um anjo guardando e conduzindo um apóstolo em perigo.
Esses textos mostram que os anjos são presença real e atuante na história da salvação, sempre a serviço da glória de Deus e do bem das criaturas humanas.
Desde os primeiros séculos, a Igreja reconhece a missão dos anjos na vida dos fiéis. Padres da Igreja como São Basílio Magno já afirmavam: “Cada fiel tem ao seu lado um anjo como protetor e pastor, para conduzi-lo à vida”.
Na Idade Média, São Bernardo de Claraval fez um famoso sermão sobre os anjos da guarda, no qual recorda que devemos honrá-los com respeito, confiar neles com devoção e amá-los com ternura.
A devoção popular aos anjos da guarda floresceu ao longo dos séculos, sendo confirmada na liturgia. Em 1608, o Papa Paulo V estendeu a festa dos Santos Anjos da Guarda a toda a Igreja, e hoje ela é celebrada como memória obrigatória no calendário romano.
Atualizando para nossa vida
Celebrar os Santos Anjos da Guarda é renovar nossa confiança na providência divina. Num mundo onde tantas vezes nos sentimos sozinhos, desprotegidos e vulneráveis, lembrar que Deus nos concede um anjo particular é motivo de esperança.
Ao mesmo tempo, o Evangelho de hoje nos pede que aprendamos das crianças a simplicidade e a humildade, para reconhecermos nossa dependência de Deus. Só quem se faz pequeno percebe a presença delicada dos anjos e se deixa conduzir por eles.
Portanto, a liturgia de hoje une dois grandes ensinamentos:
Do Evangelho: a necessidade da humildade e do cuidado com os pequeninos.
Da memória litúrgica: a certeza de que Deus nos acompanha de modo invisível por meio dos seus anjos.
O Anjo da Guarda é um sinal de que nunca estamos abandonados. Deus, em sua infinita bondade, confiou a cada um de nós um companheiro espiritual que nos guia no caminho do bem. O Evangelho nos ensina que esses anjos contemplam o rosto do Pai, e por isso sua missão é sempre fruto da intimidade com Deus.
Que, nesta memória dos Santos Anjos da Guarda, possamos abrir o coração para essa presença discreta e fiel, e viver com confiança e humildade, como crianças no colo de Deus.
O mês de outubro é, em toda a Igreja Católica, um tempo especial de oração, reflexão e compromisso missionário. No Brasil, esse período ganha ainda mais força com a Campanha Missionária, promovida pelas Pontifícias Obras Missionárias (POM), em comunhão com o Conselho Missionário Nacional (COMINA) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Em 2025, a Campanha nos convida a aprofundar a vivência da fé a partir do tema “Missionários da esperança entre os povos” e do lema “A esperança não decepciona” (Rm 5,5).
Essa escolha ressoa de forma muito significativa, especialmente porque este ano celebramos também o Ano Jubilar da Esperança. É um tempo de graça em que somos chamados a renovar nosso compromisso com Cristo e com a missão de testemunhar o Evangelho até os confins do mundo.
O símbolo do barco e da cruz
Tema: Missionários da esperança entre os povos.
Lema: A esperança não decepciona.
A arte que inspira a Campanha Missionária 2025 parte da construção simbólica do logotipo oficial do Jubileu. Nela, vemos um barco formado pelos diferentes povos, conduzido pela força da cruz de Cristo, que se ergue como vela e também como âncora. Essa imagem nos fala profundamente sobre a identidade da Igreja: somos um povo em constante travessia, peregrinos que seguem rumo a novos horizontes, sustentados pela fé em Cristo que jamais nos abandona.
Na proposta da Campanha Missionária, o olhar se coloca a partir de dentro do barco. Estamos junto com Cristo, vivendo a missão, confiando que Ele é a força que nos impulsiona e, ao mesmo tempo, a âncora que nos mantém firmes. Essa perspectiva nos ajuda a compreender que a missão não é apenas algo externo, mas uma experiência de comunhão que transforma a vida de quem parte e de quem acolhe.
A esperança como força missionária
O lema escolhido, “A esperança não decepciona”, recorda-nos uma verdade essencial da fé cristã: é no amor de Deus derramado em nossos corações que encontramos forças para enfrentar as dificuldades e seguir adiante. Ser missionário é ser portador de esperança, sobretudo em um mundo marcado por guerras, desigualdades, crises ambientais e tantas situações de sofrimento humano.
Ao proclamar que “a esperança não decepciona”, a Campanha Missionária nos envia como testemunhas da ressurreição. O missionário não leva apenas palavras, mas anuncia com sua vida que a presença de Cristo é fonte de sentido, de paz e de transformação.
Pontifícias Obras Missionárias: um serviço à Igreja no mundo inteiro
As Pontifícias Obras Missionárias (POM), fundadas pelo Papa Pio XI em 1922, têm desempenhado um papel essencial na promoção e apoio à missão da Igreja em todos os continentes. Desde então, têm sido presença de solidariedade e estímulo aos missionários que atuam em regiões marcadas pela pobreza, pela exclusão social e por desafios culturais ou religiosos.
No Brasil, as POM assumiram a responsabilidade de promover a Campanha Missionária, que acontece todos os anos no mês de outubro. Trata-se de uma oportunidade privilegiada para despertar a consciência missionária nas comunidades e para angariar recursos que sustentam milhares de projetos em diferentes países.
O Dia Mundial das Missões
O ponto alto do mês missionário é celebrado em todo o mundo no Dia Mundial das Missões, instituído pelo Papa Pio XI em 1926. Neste ano de 2025, a celebração acontece nos dias 19 e 20 de outubro. Em comunhão com a Igreja universal, todas as comunidades são convidadas a intensificar as orações, a partilha e o compromisso missionário.
A coleta realizada nesse final de semana é destinada ao Fundo Mundial de Solidariedade, administrado pela Santa Sé, que apoia diretamente projetos de evangelização, educação, saúde, desenvolvimento comunitário e assistência social em territórios de missão. Assim, cada oferta, por menor que seja, torna-se sinal concreto de fraternidade universal e de compromisso com o Evangelho.
Experiências missionárias no Brasil e no mundo
Durante o mês missionário, diversas iniciativas acontecem em nossas dioceses, paróquias, escolas e comunidades:
Celebrações especiais que ressaltam o caráter universal da missão;
Formações missionárias para leigos, religiosos e sacerdotes;
Novena missionária, que reúne famílias, grupos e comunidades em oração;
Experiências de missão local, incentivando a visita às famílias, aos doentes e às comunidades mais afastadas;
Partilhas solidárias, reforçando o sentido concreto da caridade missionária.
Essas atividades ajudam a manter viva a chama missionária que, desde 1972, vem sendo fortalecida no Brasil através da Campanha Missionária.
Missão e solidariedade: um chamado para todos
É importante lembrar que a missão não é tarefa apenas de alguns, mas de toda a Igreja. Cada batizado é chamado a ser missionário, seja no seu ambiente de trabalho, na escola, na família ou mesmo nos lugares mais distantes para onde alguns são enviados.
A solidariedade expressa na Campanha Missionária é também um gesto de corresponsabilidade. Ao colaborar, cada fiel se torna parte ativa de uma rede de amor e esperança que ultrapassa fronteiras. A partilha possibilita que missionários e missionárias levem o Evangelho a regiões onde a Igreja ainda é jovem ou enfrenta grandes dificuldades.
Ano Jubilar: peregrinos da esperança
Em sintonia com o Jubileu 2025, a Campanha Missionária deste ano reforça a vocação da Igreja como “peregrina da esperança”. O Jubileu é tempo de renovar a fé, de fortalecer a comunhão e de redescobrir o chamado a sermos sinal de esperança para o mundo.
Oração, partilha e testemunho são os três pilares que sustentam o compromisso missionário. A Campanha Missionária 2025 nos recorda que ser discípulo de Jesus significa lançar-se à travessia, confiando no barco da Igreja conduzido pela cruz de Cristo.
Oração da Campanha Missionária 2025
Deus Pai, Filho e Espírito Santo, fonte da esperança que não decepciona, fortaleça o espírito missionário em todos os cristãos, para que o Evangelho chegue a todos os lugares do mundo, nossa Casa Comum. Que a graça do Ano Jubilar renove em nós, peregrinos da esperança, o desejo de buscar os bens eternos e o empenho em promover um mundo mais humano e fraterno. Maria, Estrela da Evangelização, interceda por nós, junto a Jesus Cristo, o Missionário do Pai, para sermos Igreja sinodal em missão, testemunhando o Reino de Deus até os confins do mundo, rumo à plenitude. Amém.
Um convite à participação
A Campanha Missionária 2025 é um convite para que cada um de nós seja missionário da esperança. Em um mundo tantas vezes marcado pela desesperança, pelo medo e pelo fechamento, a Igreja nos envia como portadores de uma Boa Nova que não passa: Cristo ressuscitou e caminha conosco.
Participar da Campanha é uma forma concreta de viver a fé: rezando, partilhando e testemunhando. Como discípulos missionários, somos chamados a remar juntos nesse barco, certos de que a cruz de Cristo é nossa vela e nossa âncora.
Que este mês missionário fortaleça em todos nós a certeza de que a esperança não decepciona e de que, unidos, podemos levar o Evangelho da vida e da paz até os confins da terra.
Para mais informações, materiais de apoio, orações e subsídios, acesse: https://cm.pom.org.br