LITURGIA DO DIA: 21º DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C

A liturgia deste domingo (24/08/2025) apresenta uma mensagem profunda e desafiadora: a salvação é oferecida a todos, mas exige esforço pessoal e perseverança. Ao longo das leituras, percebemos dois movimentos complementares: a amplitude do chamado de Deus, que abraça toda a humanidade, e a necessidade de uma resposta concreta, marcada por fé e conversão. É uma palavra que conforta e provoca. Conforta porque ninguém está excluído do amor divino; provoca porque não basta estar próximo da mensagem do Evangelho – é preciso acolhê-la com a vida.

Neste domingo, também fazemos memória de um tema especial: estamos no mês vocacional e celebramos a 4ª semana, dedicada à vocação para os ministérios e serviços na comunidade. A Igreja no Brasil reserva o mês de agosto para rezar e refletir sobre as diversas vocações: os ministros ordenados, a vida consagrada, a vocação matrimonial e familiar, e, nesta semana, as vocações laicais e ministeriais, que colocam os dons a serviço da vida comunitária. É um momento para agradecer e rezar por todos aqueles que, nas nossas paróquias, assumem a missão de leitores, catequistas, ministros extraordinários da comunhão, músicos, animadores, líderes pastorais e tantos outros que, com generosidade, fazem a Igreja viva e missionária.

Isaías 66,18-21: um horizonte sem fronteiras

O profeta Isaías nos coloca diante de um Deus que reúne “todas as nações e línguas” para contemplar Sua glória. Não há barreiras étnicas, geográficas ou culturais. Deus envia mensageiros até os lugares mais distantes para anunciar Seu nome. É significativo que Ele escolha até mesmo alguns desses povos para exercer o sacerdócio. Aqui, temos um sinal claro de universalidade: a graça divina não está restrita a um único povo ou tradição.

Essa profecia se cumpre plenamente em Cristo, que envia os discípulos “a todas as nações” (Mt 28,19). A Igreja, portanto, não é uma comunidade fechada, mas missionária por essência. E essa missão não se realiza sozinha: precisa de pessoas que, com seus dons, assumam serviços e ministérios. Por isso, neste mês vocacional, a Palavra nos convida a olhar para nossos talentos e perguntar: como posso servir?

Salmo 116 (117): missão e louvor

O menor dos salmos é também um dos mais universais. Com apenas dois versículos, convida: “Louvai o Senhor, todas as nações, glorificai-o, todos os povos.” É um salmo missionário, em sintonia com a promessa de Isaías. Seu refrão, tomado de Marcos 16,15 – “Ide por todo o mundo, anunciai o Evangelho” – é quase um grito de envio.

Esse louvor não é intimista, mas expansivo. Ele nos recorda que o cristão não guarda para si a boa nova, mas a proclama. Toda liturgia culmina em missão. E para que a missão aconteça, Deus suscita homens e mulheres que servem: ministros que distribuem a Palavra e a Eucaristia, pregadores, visitadores dos enfermos, catequistas que anunciam a fé às novas gerações. Esta semana vocacional é um convite a rezar por todos esses servidores e a reconhecer a grandeza do serviço humilde.

Hebreus 12,5-7.11-13: a pedagogia do amor

A segunda leitura traz um tom diferente: exorta à perseverança e à disciplina. O autor da Carta aos Hebreus lembra que Deus corrige aqueles que ama, como um pai que educa os filhos. A imagem pode parecer dura, mas o texto insiste: a correção não é punição, mas cuidado. É um processo que nos fortalece, purifica nossas intenções e nos ajuda a crescer.

Aqui temos um aspecto teológico precioso: a vida cristã não é apenas consolação, é também caminho de purificação. A santidade não se alcança sem esforço. Cada vocação – seja o matrimônio, a vida consagrada, o ministério ordenado ou o serviço laical – exige paciência, resiliência e fidelidade. As provações, quando acolhidas, geram frutos de paz e justiça. Assim como o atleta se prepara para a corrida, o discípulo de Cristo se exercita na fé, corrigindo rotas, fortalecendo os passos.

Lucas 13,22-30: a porta estreita

O Evangelho de Lucas traz a questão direta: “Senhor, são poucos os que se salvam?” Jesus não responde com estatísticas, mas com um convite exigente: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita.” A salvação é dom, mas requer empenho. Não basta ter contato com Jesus, é necessário segui-Lo, imitá-Lo, deixar-se transformar por Ele.

Ou seja, a pergunta feita a Jesus reflete uma curiosidade bem humana: queremos números, queremos saber “quem entra e quem fica de fora”. Mas Jesus não se prende a curiosidades teóricas. Ele desloca o foco: a salvação não é um dado estatístico, é um caminho de decisão pessoal.

Ao dizer “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita”, Ele:

  1. Chama a responsabilidade individual.
    Em vez de discutir “quantos serão salvos”, Jesus lembra: “E você? Como está vivendo? Está caminhando para o Reino?” A questão não é quantidade, mas fidelidade.
  2. Mostra que a salvação é graça, mas também exige resposta.
    A “porta estreita” não significa que Deus quer dificultar, mas que seguir Cristo exige escolhas, renúncias, coerência. Não basta estar próximo, ouvir, conviver – é preciso viver o Evangelho de fato.
  3. Adverte contra a falsa segurança.
    Muitos no tempo de Jesus confiavam apenas na pertença ao povo eleito, pensando que isso bastava. A resposta mostra que não há privilégios automáticos: o Reino é para quem se abre à conversão.
  4. Revela o caráter universal do chamado.
    Mais adiante, Jesus fala que virão pessoas do oriente e do ocidente, do norte e do sul. Ou seja, a porta está aberta para todos, mas só entra quem responde com vida e coração.

Em resumo: Jesus não quer alimentar a curiosidade sobre “os outros”, mas despertar em cada um um senso de urgência e responsabilidade. Ele transforma uma pergunta teórica em um convite prático: “Você está passando pela porta estreita? Está vivendo como meu discípulo?”

A imagem da porta estreita indica que o caminho não é largo nem confortável. A fé autêntica pede escolhas diárias, renúncias e perseverança. Mas também há uma promessa: “Virão muitos do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul, e se sentarão à mesa do Reino de Deus.” Aqui está a beleza da vocação: Deus chama todos e dá a cada um um lugar e uma missão. Os que servem no silêncio e na simplicidade também são grandes aos olhos do Pai.

Um olhar para hoje

As leituras deste domingo, vividas dentro do mês vocacional, são um chamado à abertura e ao compromisso. Deus nos quer unidos, mas nos pede empenho. O amor se faz concreto quando se transforma em serviço. A vocação para os ministérios e serviços nas comunidades é sinal visível dessa resposta. Cada gesto – do catequista que ensina, do ministro que leva a comunhão, do jovem que canta, do casal que coordena uma pastoral – é uma porta estreita aberta para o Reino.

Neste domingo, rezemos para que nossas comunidades sejam espaços de acolhida e participação, onde todos descubram seus dons e os coloquem a serviço. Que possamos nos perguntar: qual é a minha porta estreita? De que forma posso servir? Essa pergunta é muito bonita e muito pessoal. A “porta estreita” que Jesus menciona (Lc 13,22-30) é, antes de tudo, um convite a viver a fé com autenticidade e perseverança. Cada pessoa tem a sua:

  • Para alguns, pode ser perseverar na oração e no testemunho em casa, cuidando da família e educando os filhos na fé.
  • Para outros, pode ser servir na comunidade, assumindo um ministério (leitor, catequista, músico, ministro da comunhão, animador de grupo).
  • Pode significar também abrir-se ao perdão, cuidar dos doentes, acolher os pobres, praticar a caridade no dia a dia.
  • Às vezes, a porta estreita é vencer o comodismo e dar um passo a mais, como participar de uma pastoral ou oferecer tempo para evangelizar.

O mês vocacional lembra que Deus chama cada um de um jeito. A pergunta “De que forma posso servir?” pode ser respondida olhando para seus dons e para as necessidades ao seu redor. Um bom caminho é:

  1. Rezar pedindo luz: “Senhor, mostra-me onde queres que eu sirva.”
  2. Conversar com pessoas de fé ou com o pároco: eles podem ajudar a identificar os ministérios e serviços que a comunidade precisa.
  3. Experimentar: às vezes, só descobrimos nossos dons quando começamos a atuar.

A salvação é para todos, mas o caminho passa pelo esforço, pela humildade e pela entrega. E cada serviço, por menor que pareça, aproxima o Reino.

O mês vocacional é, então, um convite a olhar para a vida com gratidão: o que eu já faço que aproxima pessoas de Deus? Que novo passo posso dar, sem medo, para servir melhor?

Mais do que preocupar-se com números ou resultados, este domingo nos convida a experimentar a alegria de ser parte da missão de Cristo. Ele nos chama a caminhar juntos, confiantes de que há sempre um lugar para nós na mesa do Reino.

LITURGIA DO DIA: FESTA DE SANTA ROSA DE LIMA, PADROEIRA DA AMÉRICA LATINA

Hoje (23/08/2025) celebramos com júbilo a Festa de Santa Rosa de Lima, virgem, Padroeira da América Latina. Estamos na 20ª Semana do Tempo Comum, Ano C e a liturgia transpira esperança e nos chama à vivência fiel dos mistérios de Cristo no dia a dia.

Leituras do dia

Na Primeira leitura – 2Cor 10,17-11,2, São Paulo exorta: “Quem se gloria, glorie-se no Senhor”. Não em si mesmo, não em suas obras, mas em Deus. Ele lembra que a aprovação verdadeira vem do Senhor, não dos homens. Paulo se apresenta como aquele que desposou a comunidade a Cristo, como uma virgem pura a um único esposo.

O Salmo responsorial – Sl 148,1-2.11-13a.13c-14 (R. cf. 12a.13a) – faz um convite universal ao louvor. O salmista chama anjos, reis, príncipes, jovens, crianças, homens e mulheres a bendizer o nome do Senhor. Toda a criação é chamada a glorificar seu Criador.

No Evangelho – Mt 13,44-46 – Jesus nos apresenta duas breves parábolas. O Reino dos Céus é comparado a um tesouro escondido em um campo. Quem o encontra vende tudo para comprá-lo. É também como um comerciante em busca de pérolas preciosas. Ao encontrar uma pérola de grande valor, vende tudo para adquiri-la. O Reino exige entrega total.

Quem foi Santa Rosa de Lima

Santa Rosa nasceu em Lima, Peru, em 1586. Seu nome de batismo era Isabel, mas a beleza de seu rosto inspirou o apelido “Rosa”. Desde jovem, buscou a vida de oração, penitência e caridade. Pertenceu à Ordem Terceira Dominicana. Fez voto de castidade, cuidou dos pobres, dos indígenas e dos escravos. Viveu austeramente e ofereceu tudo a Cristo. Morreu em 24 de agosto de 1617, com apenas 31 anos. Foi canonizada em 1671 e tornou-se a primeira santa das Américas, padroeira do Peru e de toda a América Latina.

A vida de Santa Rosa reflete a mensagem das leituras. Como Paulo, ela se apresentou a Cristo como uma virgem pura. Não buscou glória própria. Sua vida foi um constante “gloriar-se no Senhor”. Viveu para Ele e por Ele.

O salmo do dia fala do louvor universal. Rosa também louvou com sua vida. Via Deus na beleza da criação, nas flores que cultivava, no cuidado com os pobres. Sua oração se unia ao cântico dos céus.

O Evangelho das parábolas mostra a radicalidade do Reino. Quem encontra o tesouro vende tudo. Quem acha a pérola deixa tudo para adquiri-la. Assim fez Rosa. Abriu mão de riquezas, de prestígio, de comodidades. Tudo para conquistar o Reino.

Mensagem para nós hoje

A festa de Santa Rosa de Lima nos provoca a rever nossas prioridades. Onde está o nosso tesouro? O que valorizamos acima de tudo? O Senhor nos convida a vender, isto é, a deixar de lado o supérfluo para abraçar o essencial.

Rosa nos ensina que a santidade é possível no cotidiano. É escolha diária. É busca de Cristo como a pérola mais preciosa. É olhar para o mundo com humildade, servir com amor, louvar com simplicidade.

Hoje, o convite é claro: não nos gloriemos em nós mesmos. Reconheçamos que tudo vem de Deus. Ele é nosso maior bem. Que possamos viver o desposório com Cristo, como Santa Rosa, com fidelidade e pureza de coração.

Que todo nosso ser, como o salmo pede, seja louvor. Que nossos gestos revelem amor. Que nossas escolhas apontem para o tesouro maior: Cristo. A vida de Santa Rosa nos mostra que vale a pena entregar tudo para ganhar tudo. E esse tudo é Deus.

Assim, celebramos esta festa pedindo a intercessão de Santa Rosa de Lima. Que ela nos ajude a buscar o Reino com coragem. Que nos inspire a trocar as pérolas falsas pelas verdadeiras. Que nossa vida seja um hino de louvor e entrega. Que possamos um dia, com ela, gloriar-nos apenas no Senhor.

LITURGIA DO DIA: MARIA, MÃE E RAINHA, QUE SERVE E INTERCEDE

A liturgia do dia (22/08/2025) celebra a Memória da Bem-aventurada Virgem Maria Rainha, que nos convida a contemplar não apenas a grandeza da Mãe de Deus, mas também o modo como essa realeza é vivida: não como poder que domina, mas como serviço que salva. Inserida na 20ª Semana do Tempo Comum, essa festa nos recorda que a lógica de Deus sempre supera a lógica humana: Maria é Rainha porque foi a primeira discípula, a serva fiel do Senhor, aquela que acolheu com amor o plano divino e nos deu o Salvador.

A liturgia nos propõe três belíssimas leituras: Isaías 9,1-6, o Salmo 112(113),1-8 e o Evangelho de Lucas 1,26-38. Juntas, elas traçam o retrato da esperança de Israel, o cântico de louvor ao Deus que se inclina para erguer os humildes, e a narrativa da Anunciação, quando Maria, em sua liberdade, diz “sim” ao projeto divino.

A liturgia do dia propõe como primeira leitura (Is 9,1-6) um dos textos mais conhecidos do profeta Isaías, muitas vezes proclamado também no Natal. O povo, que caminhava nas trevas, viu uma grande luz; uma criança foi dada, sobre quem repousa o governo, e que recebe títulos grandiosos: “Conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da paz”.

Essa profecia anuncia a chegada de um Rei diferente: não um guerreiro violento, mas um governante de justiça e paz. Seu trono não será marcado por conquistas humanas, mas pela fidelidade de Deus que cumpre sua promessa.

Maria entra nessa história como aquela que colabora para que a profecia se realize. O Filho prometido nasce de seu ventre, e ela o apresenta ao mundo não apenas como Messias, mas como Salvador universal. Ao celebrarmos Maria Rainha, lembramos que sua realeza está intimamente ligada ao reinado de Cristo. Se Ele é o Príncipe da paz, ela é a Rainha que intercede pela paz; se Ele é o Filho eterno do Pai, ela é a Mãe que nos ensina a viver como filhos.

O salmo responsorial (Sl 112[113]) é um hino de louvor ao Senhor que “ergue do pó o indigente e do lixo levanta o pobre, para fazê-lo assentar-se com os príncipes de seu povo”.

Esse salmo ajuda a compreender a lógica da eleição de Maria. Deus não escolheu uma rainha de palácio, cercada de ouro e poder, mas uma jovem simples de Nazaré, quase invisível aos olhos do mundo. No entanto, a grandeza de Maria não vem dela mesma, mas da ação de Deus que “olhou para a humildade de sua serva”.

Ao proclamar Maria como Rainha, a Igreja não a coloca distante de nós, em um trono inalcançável. Pelo contrário, recorda que sua exaltação é consequência de sua humildade. Como canta o Magnificat, “Deus derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes”. A Rainha dos Céus é a mesma jovem que se declarou serva, mostrando que na lógica do Evangelho, grande é aquele que serve.

O Evangelho de Lucas (Lc 1,26-38) nos leva ao coração da celebração: a cena da Anunciação. O anjo Gabriel é enviado a uma cidadezinha da Galileia, Nazaré, para anunciar a Maria o projeto de Deus: ela conceberá e dará à luz um filho, o Filho do Altíssimo, cujo reino não terá fim.

Esse é o momento em que Maria é convidada a colaborar com o plano divino. Sua resposta, “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”, é o sim que mudou a história da humanidade. Não se trata de um consentimento passivo, mas de uma adesão consciente, cheia de fé e de coragem.

Aqui se revela a verdadeira realeza de Maria: ela reina porque soube obedecer. Ela confiou plenamente em Deus mesmo diante do mistério, sem impor condições. Apenas se entregou. Sua realeza não é de quem manda, mas de quem se deixa conduzir pela vontade divina.

Maria Rainha: uma festa inserida no mistério pascal

A festa de hoje não é apenas uma devoção popular; ela tem fundamento teológico profundo. Em 1954, o papa Pio XII instituiu oficialmente a festa de Maria Rainha. Depois, com a reforma litúrgica, foi colocada no oitavo dia após a Assunção. Isto para que sublinhasse assim a ligação entre os dois mistérios.

Maria é elevada ao céu em corpo e alma porque participou plenamente da vida de seu Filho. E, ao ser coroada como Rainha, não recebe um título honorífico, mas uma missão: interceder por nós junto ao Rei do universo. Ela é Rainha porque está unida a Cristo; e sendo Ele o Rei que veio servir, também sua realeza se manifesta no serviço materno de cuidar da Igreja.

O que aprendemos com Maria Rainha?

A liturgia de hoje nos deixa algumas lições preciosas:

  1. Reinar é servir: Maria nos mostra que a grandeza está na humildade. Ser Rainha significa ser a primeira a amar, a primeira a obedecer, a primeira a confiar.
  2. Deus escolhe os pequenos: O salmo lembra que o Senhor ergue o pobre do pó. Maria é exemplo disso: uma jovem simples é escolhida para a maior das missões. Isso nos encoraja a acreditar que Deus também pode realizar grandes coisas em nós, apesar de nossas limitações.
  3. O sim transforma a história: A decisão de Maria mudou os rumos da humanidade. Também nossas escolhas de fé e amor, ainda que pequenas, podem ter impacto enorme na vida de muitos.
  4. Maria intercede por nós: Como Rainha, ela não se distancia, mas intercede junto a seu Filho. Assim como em Caná, onde pediu a Jesus pelo casal em dificuldade, ela continua hoje a apresentar nossas necessidades ao Senhor.

Em um mundo marcado por divisões, violências e desigualdades, a liturgia deste dia nos lembra que o reinado de Cristo – e consequentemente a realeza de Maria – não se apoia na lógica do poder e da dominação. É um reinado de paz, justiça e serviço.

Celebrar Maria Rainha é deixar-se inspirar por sua fé corajosa, por sua confiança inabalável, por sua disponibilidade sem reservas. É aprender que, mesmo em tempos de trevas, como diz Isaías, Deus sempre acende uma luz. E muitas vezes essa luz se manifesta através de pessoas simples que dizem “sim” ao amor.

Maria Rainha

A memória da Bem-aventurada Virgem Maria Rainha nos conduz a contemplar o mistério de uma mulher que, ao mesmo tempo humilde e grandiosa, tornou-se Mãe do Rei eterno e participa de sua glória.

Isaías anuncia a chegada do Príncipe da paz; o salmo proclama o Deus que exalta os humildes; o Evangelho mostra Maria dizendo sim ao projeto divino. Nessa trama de textos e símbolos, descobrimos a beleza de uma realeza que não oprime, mas serve; que não domina, mas intercede; que não se impõe, mas ama.

Hoje, ao celebrar Maria Rainha, somos convidados a imitá-la em sua confiança e em sua entrega. Que possamos também nós, como ela, dizer: “Eis aqui o servo, a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. Pois é nessa obediência amorosa que está a verdadeira coroa da vida cristã.

JEFTÉ: O LÍDER IMPROVÁVEL E SUA PROMESSA “SEM JEITO”

Se você acha que sua família tem histórias estranhas, espere até conhecer Jefté, o personagem de Juízes 11,29-39a. Imagine só: um líder militar escolhido em meio a um caos de tribos brigando por tudo — sim, nada de reuniões de condomínio aqui — e ele ainda tem que lidar com um passado meio complicado: filho de uma prostituta, marginalizado pela sociedade. Mas Deus, que tem um senso de timing impecável, decide que ele é a pessoa certa para a missão.

No versículo 29, lemos que o Espírito do Senhor veio sobre Jefté. Ou seja, Deus basicamente disse: “Ok, Jefté, hora de brilhar!” e deu a ele coragem e força para enfrentar os amonitas. E aqui é onde a história fica curiosa. Antes de ir para a batalha, Jefté faz um voto… e é daqueles votos que hoje nos fariam dizer como o João Grilo do “Auto da Compadecida”: “Ô, promessa desgraçada! Ô, promessa sem jeito!” Ele promete entregar ao Senhor a primeira pessoa que saísse da sua casa para encontrá-lo se vencesse a guerra. E adivinhe quem apareceu primeiro? Sua própria filha. 😬

Agora, temos duas leituras possíveis dessa história:

  1. Literal – Jefté cumpre o voto e, bom, digamos que a história não tem final feliz.
  2. Mais suave – alguns estudiosos dizem que a filha foi consagrada ao serviço de Deus, tipo um retiro espiritual eterno, sem precisar morrer. Ainda é estranho, mas pelo menos tem menos tragédia.

O mais incrível dessa história é perceber que Deus trabalha de maneiras inesperadas. Ele pega um líder improvável, que ninguém dava nada, e o capacita para salvar o povo. Além disso, nos lembra que promessas mal pensadas podem trazer confusão — e que talvez seja melhor pedir conselho antes de fazer votos radicais.

No fundo, Jefté nos ensina sobre fé, compromisso e a criatividade divina em transformar situações complicadas. E nos dá uma boa risada (ou suspiro) sobre como a vida pode ser cheia de surpresas — algumas trágicas, outras simplesmente… bizarras.

Jefté foi escolhido por Deus para liderar Israel mesmo sendo marginalizado e sem grande prestígio social. A fé dele — ainda que imperfeita e cheia de falhas humanas — o capacitou a confiar em Deus e enfrentar uma situação difícil: a guerra contra os amonitas. Isso nos lembra que a fé não é ausência de medo ou dúvidas, mas a disposição de se colocar à serviço de Deus mesmo em circunstâncias complicadas.

O voto de Jefté, por mais “sem jeito” que tenha sido, revela sua seriedade em cumprir promessas. Ele mostra que assumir compromissos, especialmente diante de Deus, exige responsabilidade, coragem e consciência das consequências. A narrativa nos alerta sobre a importância de refletir antes de fazer promessas e de honrar aquilo que prometemos.

Deus usa Jefté, um homem improvável e marginalizado, para salvar Israel. Isso mostra a criatividade divina: Deus consegue transformar uma situação aparentemente desastrosa (um líder rejeitado, uma promessa arriscada) em um caminho de libertação para o povo. Mesmo os erros e limites humanos podem ser incorporados ao plano divino, evidenciando que Deus pode operar com recursos que nós nem imaginamos.

A história de Jefté nos inspira a confiar na ação de Deus, a levar a sério nossos compromissos e a reconhecer que Deus tem maneiras surpreendentes de transformar dificuldades em oportunidades de aprendizado e salvação.

Jefté foi escolhido por Deus para liderar Israel mesmo sendo marginalizado e sem grande prestígio social. A fé dele — ainda que imperfeita e cheia de falhas humanas — o capacitou a confiar em Deus e enfrentar uma situação difícil: a guerra contra os amonitas. Isso nos lembra que a fé não é ausência de medo ou dúvidas, mas a disposição de se colocar à serviço de Deus mesmo em circunstâncias complicadas.

O voto de Jefté, por mais “sem jeito” que tenha sido, revela sua seriedade em cumprir promessas. Ele mostra que assumir compromissos, especialmente diante de Deus, exige responsabilidade, coragem e consciência das consequências. A narrativa nos alerta sobre a importância de refletir antes de fazer promessas e de honrar aquilo que prometemos.

Deus usa Jefté, um homem improvável e marginalizado, para salvar Israel. Isso mostra a criatividade divina: Deus consegue transformar uma situação aparentemente desastrosa (um líder rejeitado, uma promessa arriscada) em um caminho de libertação para o povo. Mesmo os erros e limites humanos podem ser incorporados ao plano divino, evidenciando que Deus pode operar com recursos que nós nem imaginamos.

    A história de Jefté nos inspira a confiar na ação de Deus, a levar a sério nossos compromissos e a reconhecer que Deus tem maneiras surpreendentes de transformar dificuldades em oportunidades de aprendizado e salvação.

    Moral da história: pense duas vezes antes de fazer um voto, e nunca subestime alguém que a sociedade considera “sem chance”. Você pode acabar surpreso — e Deus também.

    LITURGIA DE HOJE: REFLEXÕES SOBRE JUÍZES 11,29.39A, SALMO 39(40) E MATEUS 22,1-14

    A liturgia de hoje (21/08/2025) nos apresenta leituras profundamente desafiadoras, capazes de provocar em nós tanto estranhamento quanto esperança. De um lado, a primeira leitura (Jz 11,29-39a) traz a história trágica do voto insensato de Jefté, que termina com a morte de sua própria filha. De outro, o Evangelho (Mt 22,1-14) nos abre a perspectiva de um Deus que convida todos para o banquete de bodas do Reino, revelando sua graça gratuita. O salmo responsorial (Sl 39/40) se coloca no meio desses dois textos como chave de interpretação: “Sacrifício e oblação não quiseste, mas abriste, Senhor, os meus ouvidos”.

    Essas leituras, quando lidas em conjunto, nos ajudam a refletir sobre a diferença entre uma religiosidade baseada em medo, violência e barganha, e a verdadeira fé, fundada na escuta da Palavra e no acolhimento do amor gratuito de Deus.

    A liturgia de hoje e o contexto do Livro dos Juízes

    A liturgia de hoje começa com um episódio marcante do Livro dos Juízes. Jefté, um homem de origem marginalizada, é escolhido para libertar Israel da opressão dos amonitas. Antes da batalha, tomado pelo desejo de vitória, ele faz uma promessa precipitada: se vencer, oferecerá em holocausto a primeira pessoa que sair da porta de sua casa para saudá-lo. Para sua tragédia, quem sai é sua filha única.

    O texto bíblico não é um modelo a ser imitado, mas um retrato cru da mentalidade da época, quando práticas religiosas pagãs — como sacrifícios humanos — ainda influenciavam Israel. Aqui, a Escritura não silencia a dor, nem tenta “adoçar” a dureza do acontecimento. Ela nos coloca diante de uma experiência de fé mal compreendida, que acaba gerando morte e sofrimento.

    Um voto insensato e uma religiosidade distorcida

    O drama de Jefté é, antes de tudo, um alerta. Ele tinha sido revestido pelo Espírito do Senhor para conduzir o povo (Jz 11,29), mas isso não o impediu de agir de maneira equivocada. Seu voto revela uma tentativa de “comprar” o favor divino, como se Deus precisasse de pagamento humano para conceder a vitória.

    Essa postura mostra uma compreensão distorcida de Deus: em vez de confiar na sua misericórdia e na sua promessa, Jefté se deixou levar pelo medo e pela superstição. O resultado é um ato de violência contra a própria vida, justamente contra a filha que representava sua descendência e esperança de futuro.

    O contraste com o salmo da liturgia de hoje

    É interessante perceber como o salmo responsorial da liturgia de hoje oferece uma resposta direta ao drama de Jefté. O Salmo 39(40) proclama: “Sacrifício e oblação não quiseste, mas abriste, Senhor, os meus ouvidos”. Aqui, o salmista deixa claro que Deus não se agrada de rituais vazios ou de ofertas violentas, mas deseja sobretudo a escuta obediente e a disponibilidade interior.

    Se Jefté tivesse compreendido isso, não teria caído na armadilha de pensar que o sacrifício de uma vida humana poderia agradar ao Senhor. O salmo, portanto, funciona como chave hermenêutica que nos orienta: o verdadeiro culto é feito de fé, obediência e amor, não de gestos desesperados ou supersticiosos.

    O Evangelho e a gratuidade do convite divino

    No Evangelho de Mateus (22,1-14), a liturgia de hoje apresenta a parábola das bodas. Um rei prepara a festa de casamento para seu filho e convida muitos, mas os primeiros convidados recusam, ocupados com seus próprios interesses. Então, o rei manda chamar todos os que encontrarem, bons e maus, para preencher a sala do banquete.

    Aqui vemos o contraste com a primeira leitura. Enquanto Jefté tenta conquistar o favor de Deus por meio de um sacrifício terrível, Jesus revela que o Pai é aquele que oferece gratuitamente a salvação, comparada a um banquete de alegria. Não se trata de negociar com Deus, mas de acolher seu convite.

    Contudo, há também o detalhe da veste nupcial. Isso nos lembra que, embora o convite seja gratuito, ele pede de nossa parte uma resposta sincera. Não basta apenas “estar presente” fisicamente; é preciso deixar-se transformar, vestir-se da graça que nos é oferecida.

    Religião que gera morte versus fé que gera vida

    Colocadas lado a lado, as leituras da liturgia de hoje nos ajudam a discernir entre dois tipos de religiosidade:

    1. Uma religião distorcida, que nasce do medo, da superstição e da tentativa de controlar Deus, mas que termina gerando violência e morte (como no caso de Jefté).
    2. A fé verdadeira, que nasce da escuta e da confiança no amor gratuito de Deus, levando à vida plena e à alegria do banquete (como ensina Jesus na parábola).

    Esse contraste nos convida a examinar a qualidade de nossa própria fé: será que buscamos a Deus por confiança e amor, ou por interesse e medo? Estamos abertos à sua graça gratuita, ou ainda tentamos negociar com Ele?

    A história de Jefté pode parecer distante, mas ela continua atual. Quantas vezes ainda hoje vemos pessoas fazendo “promessas” a Deus, pensando que Ele exige algo em troca para abençoar sua vida? Muitas vezes, essa lógica pode levar a sofrimentos desnecessários e a uma compreensão equivocada do amor divino.

    O Evangelho, ao contrário, nos chama a uma espiritualidade da gratuidade. Deus nos convida a participar de sua festa, independentemente de méritos. O que Ele pede é que tenhamos um coração aberto, revestido de humildade e pronto para acolher sua graça transformadora.

    A liturgia de hoje e a memória de São Pio X

    Além das leituras bíblicas, a liturgia de hoje celebra a memória de São Pio X, Papa (1835–1914). Conhecido como o “Papa da Eucaristia”, ele incentivou fortemente a participação dos fiéis no mistério do altar. Promoveu a comunhão frequente e até mesmo das crianças, convencido de que a Eucaristia é o alimento essencial para a vida cristã.

    Enquanto a primeira leitura nos mostra uma religiosidade que gera morte, e o Evangelho nos revela a festa da vida no Reino, São Pio X nos aponta o caminho concreto para viver essa fé: a comunhão com Cristo na Eucaristia, que fortalece a Igreja e renova os corações. Sua vida foi marcada pelo lema: “Instaurare omnia in Christo” – “Restaurar todas as coisas em Cristo”.

    Celebrar sua memória junto com estas leituras é recordar que a verdadeira fé não exige sacrifícios humanos ou gestos supersticiosos, mas se manifesta na confiança no amor de Deus, na participação no banquete da Eucaristia e na vida transformada pela graça.

    A liturgia de hoje nos provoca com a dureza da história de Jefté e ao mesmo tempo nos consola com a beleza do convite divino ao banquete. De um lado, aprendemos a rejeitar toda religiosidade marcada pela violência e pela barganha; de outro, somos convidados a abrir o coração para a gratuidade da salvação oferecida por Cristo.

    São Pio X foi para o Bem-Aventurado Pe. Tiago Alberione uma inspiração determinante. Seu lema Instaurare omnia in Christo moldou o projeto apostólico da Família Paulina, enquanto sua promoção da Eucaristia como centro da vida cristã alimentou a espiritualidade de Alberione. Pode-se dizer que Pio X foi a grande referência eclesial que confirmou e orientou a vocação do Fundador da Família Paulina.

    Quando ainda seminarista, Alberione participou em 1900 da vigília de Ano Novo em Alba, onde sentiu o chamado para trabalhar pela Igreja do novo século. Pouco depois, Pio X foi eleito Papa e adotou como lema “Instaurare omnia in Christo”. Esse lema se tornou uma inspiração central para Alberione, que o assumiu como guia espiritual e apostólico.

    Pio X também foi o Papa da Eucaristia, incentivando a comunhão frequente e das crianças. Alberione bebeu intensamente dessa espiritualidade: para ele, a Eucaristia deveria ser o centro da vida e da missão apostólica. Não por acaso, a espiritualidade da Família Paulina é marcada pela adoração eucarística e pela centralidade de Cristo Mestre.

    Além disso, Alberione viu em Pio X o impulso para usar os novos meios de comunicação como instrumentos para “restaurar todas as coisas em Cristo”. A missão da Família Paulina nasceu desse horizonte: difundir a Palavra de Deus através da imprensa e, depois, de todos os meios de comunicação social.

    Assim, pode-se dizer que São Pio X foi uma referência determinante para Alberione: sua visão e seu lema inspiraram diretamente a espiritualidade e a missão da Família Paulina.

    Que a memória de São Pio X, Papa da Eucaristia, inspire novos profetas e nos ajude a viver essa fé verdadeira, centrada não em sacrifícios externos, mas na comunhão profunda com o Senhor, que nos chama sempre para o seu banquete de amor.

    JUBILEU DE OURO DA ORAÇÃO EUCARÍSTICA V É CELEBRADO EM LIVE ESPECIAL

    Em 2025, a Oração Eucarística V, composta por ocasião do Congresso Eucarístico Nacional de Manaus (1975), completa 50 anos de existência. Para celebrar este marco histórico e espiritual da Igreja no Brasil, a Revista de Liturgia promoveu uma Live especial no dia 18 de agosto de 2025 (segunda-feira), às 20h, pelo canal do YouTube da Revista.

    O encontro, intitulado “Jubileu de Ouro da Oração Eucarística V”, será conduzido pela Ir. Maria da Penha Carpanedo, pddm, diretora da Revista de Liturgia, e terá como convidados especiais Dom Jerônimo Pereira Silva, monge beneditino do Mosteiro de São Bento de Olinda-PE, e Frei Telles Ramon, O. de M., da Ordem de Nossa Senhora das Mercês.

    Dom Jerônimo é Mestre em Teologia, com especialização em Liturgia Pastoral pelo Instituto de Liturgia Pastoral de Santa Justina (Pádua, Itália – 2012), e Doutor em Sagrada Liturgia pelo Pontifício Instituto Litúrgico Santo Anselmo, em Roma (2016). Já Frei Telles Ramon, músico e integrante da Rede Celebra de Animação Litúrgica, atua especialmente na área da música litúrgica. A contribuição de ambos promete enriquecer a reflexão, destacando a profundidade e a atualidade desta oração eucarística.

    A Oração Eucarística V é reconhecida por sua beleza teológica e pastoral, marcada pelo forte espírito de comunhão e pela dimensão missionária da Igreja, que se deixa conduzir pelo Espírito para formar um só corpo em Cristo.

    Este momento foi marcado por formação, espiritualidade e gratidão pela riqueza litúrgica da Igreja no Brasil, especialmente pela herança do Congresso Eucarístico de Manaus.

    🔗 A transmissão será feita no YouTube da Revista de Liturgia: Live sobre a Oração Eucarística V.

    Todos são convidados a rever este momento especial.

    Revista de Liturgia
    Nosso compromisso é com a formação litúrgica

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    A SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

    No dia 15 de agosto, a Igreja Católica celebra a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora. Esta festa recorda que Maria, ao final de sua vida terrena, foi elevada por Deus em corpo e alma à glória do Céu. É um mistério de fé que nos lembra a dignidade da Mãe de Jesus e, ao mesmo tempo, aponta para o destino final de todos os cristãos: a vida plena junto de Deus.

    Aqui no Brasil, por determinação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a solenidade é transferida para o domingo seguinte ao dia 15 de agosto. Essa decisão pastoral busca facilitar a participação de todos os fiéis na celebração deste importante mistério da fé.

    Fundamentos bíblicos e litúrgicos

    A Bíblia não descreve diretamente a Assunção de Maria, mas a liturgia associa a este mistério algumas passagens que iluminam sua importância:

    • Apocalipse 11,19a; 12,1-6a.10ab: apresenta a “mulher revestida de sol, coroada de doze estrelas”, figura tradicionalmente associada a Maria e à Igreja.
    • 1 Coríntios 15,20-27a: São Paulo recorda que Cristo venceu a morte. Maria participa dessa vitória de forma plena, sendo a primeira depois de Jesus a experimentar a glória da ressurreição.
    • Lucas 1,39-56 (Magnificat): Maria é proclamada bem-aventurada por todas as gerações. Sua fé e disponibilidade a Deus são a razão de sua glorificação.

    Essas leituras, proclamadas na liturgia da solenidade, ajudam a compreender o significado espiritual da Assunção: em Maria, vemos realizada a promessa da vida eterna.

    A festa da Assunção tem raízes muito antigas. Já no século V, os cristãos do Oriente celebravam a “Dormição de Maria”, ou seja, o seu trânsito da vida terrena para a glória de Deus. No século VII, a celebração chegou a Roma e, pouco a pouco, se espalhou por toda a Igreja. Com o passar do tempo, tornou-se uma das mais importantes solenidades marianas do calendário litúrgico.

    A fé na Assunção sempre fez parte da tradição cristã, mas foi proclamada oficialmente como dogma pelo Papa Pio XII, em 1º de novembro de 1950, na Constituição Apostólica Munificentissimus Deus.
    O texto define que: “A Imaculada Mãe de Deus, sempre Virgem Maria, terminado o curso de sua vida terrena, foi elevada em corpo e alma à glória celeste.”

    Essa definição não especifica se Maria morreu antes de ser assumida, deixando aberta a questão. O essencial é afirmar que ela foi glorificada de modo integral, em corpo e alma, como fruto de sua união única com Cristo.

    Significado teológico

    A Assunção de Nossa Senhora não é apenas uma festa litúrgica; ela possui um profundo valor espiritual e teológico para todos os fiéis. Cada aspecto desse mistério nos convida a refletir sobre a fé, a esperança e a vida cristã.

    Assunção de Nossa Senhora

    Maria é sinal de esperança: a Assunção revela que a vida terrena é apenas uma etapa do nosso caminho. Maria, elevada em corpo e alma à glória celestial, torna-se um sinal de esperança para todos os cristãos. Ela nos mostra que a morte não é o fim, mas uma passagem para a plenitude da vida em Deus. Assim como Maria foi glorificada, todos os batizados são chamados à ressurreição final e à participação na vida eterna. Celebrar a Assunção é, portanto, renovar a confiança de que o amor de Deus vence a morte e transforma a existência humana, tornando possível a vida plena junto do Criador.

    Maria é modelo de discipulado: esta solenidade também destaca Maria como modelo de discípula. Desde a anunciação, ela se colocou inteiramente à disposição de Deus, dizendo seu “sim” com humildade e coragem. Sua vida é exemplo de fé, escuta da Palavra e serviço ao próximo, caminhos que todo cristão é chamado a percorrer. Ao contemplarmos Maria elevada aos céus, percebemos que o discipulado verdadeiro não é apenas seguir Jesus nos momentos de conforto, mas permanecer fiel mesmo diante das dificuldades. A Assunção reforça que a entrega total a Deus conduz à glória eterna.

    Maria e a dignidade do corpo humano: a Assunção de Maria ressalta, ainda, a dignidade do corpo humano. Ao ser elevada em corpo e alma, Maria mostra que o corpo, criado por Deus e destinado à comunhão com Ele, não é descartável nem secundário em relação à alma. Pelo contrário, o corpo participa da glória divina e será transformado na ressurreição. Esse ensinamento é importante para a teologia cristã: cada pessoa é chamada a cuidar de si mesma e dos outros, respeitando a vida e valorizando a corporeidade como parte essencial da criação. A Assunção nos lembra que nosso corpo também é chamado à glorificação, assim como Maria já experimentou.

    Em resumo, o significado teológico da Assunção nos apresenta três verdades essenciais: a esperança da vida eterna, o modelo de fé e entrega e a dignidade integral do ser humano, corpo e alma. Ao celebrarmos Maria glorificada, somos convidados a caminhar com confiança, a imitar sua fidelidade e a reconhecer o valor da vida em todas as suas dimensões.

    Dimensão pastoral e espiritual

    Celebrar a Assunção é renovar a confiança na vitória de Cristo sobre o pecado e a morte. É também olhar para Maria como mãe e intercessora, que já participa plenamente da glória do Filho.
    Ao contemplar sua Assunção, os cristãos são convidados a viver com esperança, cultivando a fé e a caridade, sabendo que a vida terrena é caminho para a vida eterna.

    Aqui no Brasil, a celebração em domingo reforça esse aspecto pastoral, garantindo que a comunidade de fé possa se reunir em maior número para celebrar a vitória de Maria e, nela, a promessa da vida eterna para todos os batizados.

    A Solenidade da Assunção de Nossa Senhora é uma celebração de fé, esperança e alegria. Ela nos lembra que Maria, a primeira discípula de Jesus, já alcançou a plenitude da salvação e nos encoraja a seguir seu exemplo de escuta da Palavra e de confiança em Deus.

    O dogma proclamado em 1950 apenas confirmou aquilo que o povo cristão já acreditava e celebrava há séculos: Maria está junto de Deus, em corpo e alma, e de lá continua a cuidar da Igreja e de cada um de seus filhos.

    69 ANOS DE PRESENÇA DAS PIAS DISCÍPULAS NO BRASIL

    Memória agradecida e fidelidade criativa à missão

    No dia 26 de julho de 2025, celebramos com profunda gratidão os 69 anos da chegada das Irmãs Pias Discípulas do Divino Mestre ao Brasil. Foi em 1956 que as primeiras irmãs pisaram em terras brasileiras, vindas da Itália, acolhendo com generosidade o chamado da missão confiada pelo Bem-aventurado Tiago Alberione: ser presença orante, litúrgica e formativa no coração da Igreja e da Família Paulina.

    Esses quase sete decênios de história são marcados por uma entrega silenciosa e fiel, construída dia a dia nas comunidades, nos bastidores da liturgia, na atenção aos ministros ordenados, na acolhida aos que buscam um espaço de silêncio e oração, na evangelização através da arte e da beleza.

    Ao longo deste caminho, foram muitos os rostos, nomes e histórias que deram corpo à missão das Pias Discípulas no Brasil. Mulheres consagradas, discípulas e apóstolas do Divino Mestre, que, com simplicidade e ousadia, lançaram as sementes do carisma e cuidaram para que crescessem em solo brasileiro, sempre em sintonia com os tempos, as culturas e os desafios de cada época.

    Hoje, a presença das Pias Discípulas se estende por diferentes regiões do país, com comunidades e centros de missão que continuam a proclamar, com a vida e o serviço, a centralidade da Eucaristia, da Palavra e da Liturgia na vida da Igreja.

    Celebrar este aniversário é mais do que recordar o passado. É renovar o compromisso de ser hoje “memória viva de Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida”, como nos lembra a espiritualidade que herdamos. É continuar, com fidelidade criativa, a missão iniciada por Ir. M. Escolástica Rivata e tantas irmãs que nos precederam, tendo os olhos fixos no Mestre que caminha conosco.

    Nesta linda festa, recordamos com gratidão a vida e a fidelidade de nossas Irmãs jubilandas:
    Ir. Neusa, Ir. Auxiliadora, Ir. Clarinda, Ir. Rosângela e Ir. Vera,
    que celebram 60 anos de consagração religiosa. Suas vidas testemunham o “sim” perseverante, a comunhão fraterna e o amor apaixonado por Jesus Mestre, vivido no cotidiano da missão. Com elas, louvamos ao Senhor por tantas graças derramadas!

    A Ele, a glória!
    A Maria, Rainha dos Apóstolos, nossa confiança!
    Aos irmãos e irmãs que caminham conosco, a nossa gratidão!

    “NAS PEGADAS DO MESTRE”: IRMÃS PIAS DISCÍPULAS VIVEM EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS COMO PEREGRINAS DE ESPERANÇA

    Taboão da Serra, SP — De 29 de junho a 6 de julho de 2025, trinta Irmãs Pias Discípulas do Divino Mestre, provenientes de diversas comunidades do Brasil, reuniram-se na Casa de Retiros Cenáculo, em Taboão da Serra (SP), para viverem um intenso tempo de Exercícios Espirituais. Acompanhadas pela Ir. Suzimara Barbosa de Almeida, SJBP, as irmãs foram conduzidas a um caminho de interiorização e renovação à luz do tema: “Nas pegadas do Mestre – Peregrinas de Esperança: um caminho de renovação espiritual”, inspirado no itinerário do Ano Jubilar da Esperança convocado pelo Papa Francisco para 2025.

    O retiro, vivido em clima de profundo silêncio, oração e escuta da Palavra, foi uma oportunidade privilegiada para reavivar o chamado pessoal à vida consagrada e renovar o ardor missionário. O tema, em sintonia com a preparação espiritual para o Jubileu, levou as irmãs a reconhecerem-se como peregrinas em busca de esperança, seguindo os passos do Divino Mestre com fé e coragem, mesmo entre os desafios do tempo presente.

    A Casa das Irmãs do Cenáculo de Taboão da Serra, envolta por paisagens silenciosas e acolhedoras, tornou-se espaço fecundo de encontro com Deus e de revisão de vida. O ritmo dos Exercícios contemplou meditações diárias conduzidas pela Ir. Suzimara, acompanhamento espiritual individual, celebrações comunitárias e momentos de oração pessoal.

    A assessora, com sabedoria e sensibilidade espiritual, ofereceu pistas de meditação enraizadas na Palavra de Deus e nos apelos da Igreja para o tempo jubilar. As irmãs foram convidadas a colocar-se a caminho com simplicidade, permitindo que o Espírito Santo renovasse em cada uma a alegria do primeiro chamado e a esperança que não decepciona.

    As trinta participantes representavam comunidades de norte a sul do Brasil: Manaus, Codajás, Brasília, Olinda, Belo Horizonte, Cabreúva, Caxias do Sul, São Paulo, entre outras localidades. Essa diversidade regional refletiu a universalidade da missão das Pias Discípulas e a comunhão que une todas no seguimento do mesmo Mestre e na vivência do mesmo carisma.

    Mesmo no silêncio proposto pelo retiro, a presença de cada irmã tornava-se elo de comunhão: um silêncio habitado pela oração, pela escuta e pela fraternidade discreta, mas profunda. Como peregrinas, cada uma reconheceu-se parte de um povo em marcha, sustentado pela fé e pelo testemunho recíproco.

    Os Exercícios Espirituais foram estruturados em torno da metáfora do caminho: caminhar com o Mestre, aprender d’Ele, deixar-se transformar e ser enviada novamente com esperança renovada. As reflexões tocaram temas sensíveis e concretos do caminho da vida consagrada, como o chamado, a fidelidade nas provações, o dom da fraternidade, a configuração a Cristo Mestre, o serviço generoso dentro da Família Paulina e a esperança como virtude ativa.

    O tempo de oração pessoal ajudou cada irmã a reler a própria história à luz da Palavra e do olhar misericordioso de Deus. Houve também espaço para confrontar os desafios da vida consagrada hoje (como o cansaço espiritual, o ativismo e a dispersão interior) e para renovar o desejo de seguir Jesus com inteireza de coração.

    Em contraste com o ritmo acelerado do cotidiano, o silêncio vivido nos Exercícios revelou-se não como ausência, mas como presença viva do Senhor. “Foi um silêncio que falava ao coração, que curava, que fazia ouvir com mais nitidez a voz do Mestre”, relatou uma das participantes.

    Esse ambiente favoreceu a escuta interior e a abertura à ação do Espírito Santo. O silêncio tornou-se espaço de fecundidade espiritual, onde cada irmã pôde redescobrir a beleza da própria vocação e reavivar o sentido da consagração como dom e missão.

    Gratidão e missão

    A Província do Brasil manifesta sua gratidão à Ir. Suzimara Barbosa de Almeida pelo serviço prestado com sabedoria, escuta e fidelidade ao carisma. Agradece também à Casa de Retiros das Irmãs do Cenáculo, em Taboão da Serra/SP, que proporcionou um ambiente acolhedor e propício à oração, e a cada irmã que, com generosidade, entrou na dinâmica dos Exercícios como verdadeira peregrina do Espírito.

    Que este primeiro grupo de Exercícios Espirituais de 2025 inspire muitas outras irmãs a buscarem, “nas pegadas do Mestre”, a força e a esperança necessárias para a missão que continua. O Ano Jubilar é convite à renovação da fé, à vivência alegre da esperança e ao testemunho de caridade. Que, como Pias Discípulas, possamos seguir firmes e disponíveis, anunciando com a vida: Cristo vive! Ele é nossa esperança!

    SOLENIDADE DE CORPUS CHRISTI: O PÃO QUE DÁ VIDA AO MUNDO

    Quinta-feira, 19 de junho de 2025
    “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Lc 9,13)

    A Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo (Corpus Christi) é uma das mais belas expressões da fé católica na presença real de Jesus Cristo na Eucaristia. Neste dia, a Igreja celebra com solenidade, louvor e gratidão o mistério do pão consagrado, que é o próprio Cristo, oferecido por amor ao Pai e por nós.

    A festa teve início no século XIII e foi instituída oficialmente pelo Papa Urbano IV, diante do desejo de reafirmar a fé na Eucaristia em tempos de incerteza. Desde então, ela se tornou uma celebração que une liturgia, piedade e missão, levando o Corpo de Cristo a percorrer nossas ruas em procissão, como sinal de bênção e esperança.

    As leituras proclamadas neste ano (Ano C) nos conduzem a uma profunda compreensão teológica da Eucaristia como presença viva, sacrificial e salvífica de Cristo.

    Na primeira leitura (Gn 14,18-20), encontramos Melquisedec, figura enigmática e ao mesmo tempo profética, que oferece pão e vinho em ação de graças e bênção. Este gesto antigo, realizado por um sacerdote-rei, já prefigura a oferta eucarística de Cristo, Sumo e eterno Sacerdote, que nos alimenta com o pão da vida e o cálice da salvação. Não por acaso, o Salmo responsorial recorda: “Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem do rei Melquisedec!” (Sl 109/110,4).

    A segunda leitura (1Cor 11,23-26) nos leva ao coração da ceia de Jesus. São Paulo transmite à comunidade aquilo que ele mesmo recebeu: “Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória.”

    Celebrar a Eucaristia é tornar presente a entrega de Cristo, sua morte e ressurreição, até que ele venha. Trata-se de uma memória viva e transformadora: ao partilhar do mesmo pão e do mesmo cálice, a comunidade é chamada a se tornar o que recebe, Corpo de Cristo no mundo, unido, reconciliado e comprometido.

    No Evangelho de Lucas (9,11b-17), Jesus multiplica os pães e peixes diante de uma multidão faminta. O cenário é revelador: Jesus acolhe, ensina, cura e alimenta. Diante da escassez, Ele não manda o povo embora, mas confia aos discípulos uma missão ousada: “Dai-lhes vós mesmos de comer.”

    A multiplicação é mais do que um milagre físico: é sinal e antecipação da Eucaristia, onde Jesus toma o pão, ergue os olhos ao céu, pronuncia a bênção, parte e o entrega. É o mesmo gesto da Última Ceia, é o mesmo gesto da Missa.

    Na Eucaristia, não apenas comungamos um alimento espiritual, mas aprendemos o gesto do dom: abençoar, partir e repartir. A lógica do Evangelho não é a do acúmulo, mas a da entrega. Por isso, “todos comeram e ficaram satisfeitos” e ainda sobrou.

    A sequência litúrgica tradicional de Corpus Christi, atribuída a São Tomás de Aquino, é uma verdadeira catequese em forma de poesia. Em versos belíssimos, proclamamos o mistério de fé: “Faz-se carne o pão de trigo, faz-se sangue o vinho amigo: deve-o crer todo cristão.”

    A sequência nos convida a olhar com fé para o altar: vemos pão e vinho, mas cremos no Cristo inteiro, que se dá em cada partícula da Hóstia e em cada gota do Cálice. Alimentar-se da Eucaristia é entrar em comunhão com o próprio Deus, é ser nutrido para a vida eterna.

    A Eucaristia é presença. Não é apenas símbolo ou lembrança, mas o Senhor Ressuscitado realmente presente, que permanece conosco até o fim dos tempos. Adorá-Lo no Sacramento é reconhecer que Ele está vivo entre nós e que o altar é o centro e o coração da Igreja.

    A Eucaristia também é missão. Como afirmou o Papa Francisco: “A Missa é o céu na terra, mas também é um apelo à caridade no mundo.” Quem comunga o Corpo do Senhor é chamado a ser corpo doado, pão repartido, vida entregue. Não há verdadeira adoração sem compromisso com a justiça, a fraternidade e a dignidade humana. A procissão de Corpus Christi, ao sair do templo, nos lembra disso: Cristo quer caminhar pelas ruas, encontrar as feridas do povo, alimentar os famintos do corpo e da alma.

    Celebrar Corpus Christi é renovar a fé no mistério da Eucaristia, que nos forma, transforma e envia. É deixar que Jesus nos nutra com o Pão da vida e nos ensine a repartir com generosidade. “Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente.” (Jo 6,51)

    Que nesta festa, cada comunidade cristã se reúna com alegria, fé e reverência ao redor da mesa da Palavra e da Eucaristia, reconhecendo no pão consagrado o Cristo vivo que caminha conosco. E que, ao final da celebração, ao sair em procissão pelas ruas, cada fiel seja sinal de esperança, de comunhão e de solidariedade, levando a presença de Jesus aos cantos do mundo que mais precisam Dele.