RETIRO MENSAL – 5º DOMINGO DA QUARESMA – ANO C

Abril de 2025Secretariado da Espiritualidade PDDM

Todo o primeiro domingo do mês, como família religiosa, fazemos o retiro mensal com os textos bíblicos do domingo. Este primeiro domingo do mês de abril, celebramos o 5º Domingo da Quaresma – Ano C. Abaixo o roteiro para a vivência deste retiro mensal.


🕊️ ROTEIRO DO RETIRO

1. Ambiente de Oração
Prepare com carinho o espaço onde será realizado o retiro: uma mesa com toalha, a Bíblia ou o Lecionário, uma vela acesa ao centro, cadeiras dispostas em círculo. Cuide para que todas as pessoas tenham um lugar acolhedor. Inicie acendendo a vela, sinal da presença de Cristo, luz do mundo.

2. Refrão meditativo
“Misericordioso é Deus, sempre, sempre o cantarei.”
Melodia: https://www.youtube.com/watch?v=fIsINtmGu-I

3. Invocação ao Espírito Santo
Peça a presença do Espírito que ilumina, consola e conduz. Pode-se usar uma oração espontânea ou conhecida.

4. Leitura dos Textos Bíblicos do Dia

  • Evangelho: Jo 8,1-11
  • 1ª Leitura: Is 43,16-21
  • Salmo: Sl 125
  • 2ª Leitura: Fl 3,8-14

✨ APROFUNDAMENTO DOS TEXTOS

📖 Evangelho – João 8,1-11
“Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra.”

Neste 5º Domingo da Quaresma, o Evangelho segundo João nos convida a mergulhar na misericórdia de Deus, que não se resume a leis ou julgamentos, mas se manifesta como oportunidade de recomeço e salvação.

A narrativa se passa entre o Monte das Oliveiras e o templo de Jerusalém. O monte representa o lugar da intimidade de Jesus com o Pai, onde Ele assume com coragem o projeto divino de levar as pessoas à vida plena – um caminho que passa pela cruz e culmina na ressurreição. Já o templo, símbolo do poder religioso da época, torna-se o cenário onde Jesus será confrontado pelas autoridades que resistem à novidade do Reino.

Logo ao amanhecer, Jesus está no templo ensinando. Ele é como um novo sol, cuja luz dissipa as trevas da opressão e ilumina o caminho da verdadeira libertação. Nesse momento, escribas e fariseus trazem até Ele uma mulher acusada de adultério. Com a intenção de armá-lo, confrontam-no com a Lei de Moisés, que ordenava o apedrejamento. Se Jesus optasse por seguir a Lei, contrariaria as leis romanas. Se poupasse a mulher, seria acusado de desrespeitar a Tradição.

Com sabedoria divina, Jesus devolve a responsabilidade à consciência dos acusadores:
“Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra.” Diante dessa provocação, um a um se retiram, conscientes de que também carregam suas culpas. Aqueles que se colocavam como juízes reconhecem, em silêncio, sua fragilidade.

Fica então apenas Jesus e a mulher. Ele, o único sem pecado, não a condena, mas oferece a ela uma nova chance: “Eu também não te condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais.”

Neste gesto, Jesus revela o coração do Pai: um Deus que não julga para excluir, mas que acolhe para transformar. Como nos lembra o Evangelho de João (3,17), “Deus não enviou seu Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por Ele.”

Essa passagem nos desafia a abandonar o julgamento e a abrir espaço para a misericórdia. Jesus não elimina o mal punindo o pecador, mas oferecendo-lhe a possibilidade de uma vida nova. Assim também somos chamados: a sermos portadores de esperança e instrumentos da compaixão de Deus.

📖 1ª Leitura – Isaías 43,16-21
“Eis que farei coisas novas e as darei ao meu povo.”

Neste trecho do profeta Isaías, ouvimos uma poderosa mensagem de esperança e renovação. O profeta, porta-voz de Deus, dirige-se a um povo aflito, prestes a enfrentar o exílio. Suas palavras são como um bálsamo, alimentando a fé e renovando a confiança em um Deus que não abandona os seus, mesmo nos tempos de maior penúria.

Isaías relembra a travessia do Mar Vermelho — evento marcante da libertação do Egito — para reacender a memória do poder libertador de Deus. A saída da escravidão em direção à liberdade não é apenas um fato histórico, mas um sinal permanente de que Deus é aquele que transforma a dor em caminho, e a opressão em oportunidade de vida nova. É um convite para levantar os olhos e confiar novamente na ação divina.

No entanto, o profeta também alerta: não fiquem presos ao passado, às dores e mágoas. Deus está fazendo algo novo: “Eis que faço novas todas as coisas.” Essa promessa aponta para uma transformação profunda, onde até o deserto se torna lugar de vida. Deus abrirá caminhos onde antes só havia solidão, e fará brotar águas vivas, símbolo da renovação e da aliança.

A imagem da água no deserto nos remete aos antigos encontros matrimoniais dos patriarcas junto aos poços – lugares onde se formavam alianças e nasciam histórias de amor. Assim também é a relação entre Deus e seu povo: uma união profunda e fiel, comparável ao casamento, marcada pela fidelidade e fecundidade.

Essa nova realidade se estenderá a toda a criação. Homens, mulheres e até os animais se alegrarão com a abundância que Deus fará jorrar. A terra será fecundada, e todos louvarão ao Deus da providência, que salva seu povo da aridez e o conduz a uma vida plena.

📖 2ª Leitura – Filipenses 3,8-14
“Por causa de Cristo, eu perdi tudo, tornando-me semelhante a Ele em sua morte.”

Nesta carta apaixonada, escrita provavelmente durante sua prisão em Roma (por volta dos anos 61-62 d.C.), o apóstolo Paulo revela o centro de sua fé: tudo em sua vida perdeu valor diante da grandeza de conhecer e seguir Jesus Cristo.

Para Paulo, seguir Cristo não é apenas uma escolha de fé, mas uma entrega total. Ele abre mão de tudo – status, segurança, prestígio e até da própria liberdade – porque encontrou em Cristo o verdadeiro sentido da vida. Seu maior desejo é ser encontrado n’Ele, unir-se plenamente à sua paixão, morte e ressurreição.

Paulo compreende a justiça não como mérito conquistado por leis ou tradições, mas como dom gratuito de Deus, alcançado pela fé. Conhecer Cristo, para ele, é experimentar o mistério pascal na própria vida: compartilhar os sofrimentos, suportar as provações e, com esperança firme, caminhar em direção à ressurreição.

Mesmo com toda sua vivência espiritual, Paulo reconhece que ainda não chegou à meta. Mas ele se sente impulsionado pelo chamado de Deus, como um atleta que corre decidido rumo ao prêmio final. Com coragem e humildade, afirma: “Não que eu já tenha alcançado tudo… mas continuo correndo para conquistar, porque já fui conquistado por Cristo Jesus.”

Essa imagem da corrida espiritual revela um apóstolo incansável, cheio de fé e esperança. Paulo não se vangloria de suas conquistas passadas, mas vive com os olhos voltados para o futuro – para o céu, onde deseja se unir plenamente a Cristo.

Seu testemunho nos inspira a também corrermos com perseverança, deixando para trás o que nos prende, e abraçando a vida nova em Cristo. Paulo é modelo de fé viva, configurada ao Senhor, e nos convida a trilhar esse mesmo caminho de entrega, paixão e esperança.


🙏 CONCLUSÃO DO RETIRO

6. Retomar o refrão meditativo:
“Misericordioso é Deus, sempre, sempre o cantarei.”
Melodia: https://www.youtube.com/watch?v=fIsINtmGu-I

7. Partilha dos frutos da oração
Momento de escuta fraterna. Cada participante, se desejar, pode partilhar o que a Palavra de Deus tocou em seu coração.

Se você realiza este momento sozinho(a), na partilha anote os frutos da sua oração. Quando puder, partilhe com seu amigo/amiga mais próximo.

Concluir este momento cantando ou rezando o salmo da liturgia do dia: Salmo 125
Melodia: https://www.youtube.com/watch?v=sBN4U20v9Rw

8. Oração Final

  • Rezar juntos o Pai Nosso
  • Rezar a oração do dia
  • Concluir com a bênção final, agradecendo a Deus pelo encontro e pela graça de vivê-lo em comunidade.

Que este retiro fortaleça sua caminhada quaresmal e o ajude a viver mais profundamente a misericórdia, a conversão e a esperança que a Páscoa nos traz. Eis que faço novas todas as coisas” (Is 43,19)

Abaixo, o roteiro em PDF, numa versão mais ampliada:

📍 Acompanhe a Catequese Litúrgica do 5° Domingo da Quaresma.
Texto: Ir. Cidinha Batista, pddm
Voz e Edição: Ir. Neideane Monteiro, pddm
Irmãs Pias Discípulas do Divino Mestre

CHAMADOS À CONVERSÃO: A MISERICÓRDIA E A PACIÊNCIA DE DEUS

Neste 3º Domingo da Quaresma, Ano C, as leituras nos convidam a uma profunda reflexão sobre a necessidade de conversão e a misericórdia de Deus.

Primeira Leitura: Êxodo 3,1-8a.13-15, Moisés, ao apascentar o rebanho de seu sogro Jetro, aproxima-se do monte Horeb e presencia uma sarça ardente que não se consome. Deus o chama do meio da sarça, revelando-Se como o Deus de seus antepassados e manifestando Seu desejo de libertar o povo de Israel da opressão no Egito. Este encontro destaca a santidade de Deus e Sua compaixão diante do sofrimento humano.

No Salmo 102(103),1-2.3-4.8.11, o salmista exalta a bondade e a misericórdia de Deus, que perdoa as faltas, cura enfermidades e resgata a vida da morte. Este salmo reforça a imagem de um Deus compassivo e amoroso, sempre disposto a acolher aqueles que O buscam com sinceridade.

Na Segunda Leitura, retirada de 1 Coríntios 10,1-6.10-12, São Paulo relembra aos coríntios os eventos do Êxodo, enfatizando que, apesar de todos terem recebido as mesmas bênçãos, muitos caíram devido à desobediência e falta de fé. Ele alerta para que não murmuremos e permaneçamos vigilantes, pois quem pensa estar de pé deve cuidar para não cair.

No evangelho de Lucas 13,1-9, Jesus aborda duas tragédias recentes e questiona a ideia de que essas vítimas eram mais pecadoras que outras. Ele enfatiza a necessidade urgente de arrependimento para todos. Na parábola da figueira estéril, o proprietário deseja cortá-la por não produzir frutos, mas o vinhateiro pede mais um ano, comprometendo-se a cuidar dela para que frutifique. Esta parábola ilustra a paciência e misericórdia de Deus, que nos concede tempo e oportunidades para nos convertermos e darmos frutos de boas obras.

Assim, as leituras deste domingo nos chamam à conversão sincera, reconhecendo a presença amorosa de Deus que nos oferece continuamente Sua misericórdia e nos convida a uma vida fecunda em boas ações.

Para aprofundar esta reflexão, você pode assistir ao vídeo a seguir:

SUGESTÕES PARA OS CANTOS NESTA CELEBRAÇÃO:

1 – ABERTURA – EIS O TEMPO DE CONVERSÃO
Áudio: https://www.youtube.com/watch?v=eYz25RU7-Us

2 – SALMO 102 (103) – O SENHOR BONDOSO E COMPASSIVO
Áudio: https://www.youtube.com/watch?v=9qMfJ_XD-nc

3 – ACLAMAÇÃO
GLÓRIA E LOUVOR…CONVERTEI-VOS, NOS DIZ O SENHOR
Áudio: https://www.youtube.com/watch?v=dO5TAmbzEXQ

4 – OFERENDAS – O VOSSO CORAÇÃO DE PEDDRA SE CONVERTERÁ
Áudio: https://www.youtube.com/watch?v=nI8LGfCBdp0

10 – COMUNHÃO – TANTO DEUS AMOU O MUNDO
Áudio: http://www.youtube.com/watch?v=RLc03QE221k

11 – CANTO FINAL – HINO DA CF
Áudio: https://www.youtube.com/watch?v=puXg_QBgzY4

PARTITURAS OU CIFRAS: https://www.arquidiocesedegoiania.org.br/liturgia/cifras-partituras/celebracoes-dominicais/ano-c-2024-2025

CATEQUESE LITÚRGICA: FESTA DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR NO TEMPLO

Catequese Litúrgica – Festa da Apresentação do Senhor (Ano C)

Neste vídeo, o programa Catequese Litúrgica, preparado e apresentado pela Ir. Cidinha Batista, pddm, com edição de vídeo de Ir. Neideane Monteiro, pddm, propõe uma reflexão profunda sobre o Evangelho da Festa da Apresentação do Senhor (Ano C).

A festa, celebrada no dia 2 de fevereiro, recorda o momento em que Maria e José apresentam o menino Jesus no Templo de Jerusalém, cumprindo a tradição judaica. Com base no Evangelho de Lucas 2,22-40, o programa convida os fiéis a refletirem sobre a luz que Jesus traz ao mundo, simbolizada pela presença de Simeão e Ana, que reconhecem o Messias como a salvação prometida a todos.

A catequese litúrgica explora o significado teológico dessa festa e ajuda os fiéis a compreenderem a importância da Apresentação de Jesus no Templo, como um gesto de consagração e fé, que nos convida a oferecer nossa própria vida ao Senhor.

O vídeo proporciona uma oportunidade de aprofundar a compreensão do mistério da encarnação de Cristo, através de uma explicação acessível e edificante, guiada pelas reflexões de Ir. Cidinha Batista e enriquecida pela edição cuidadosa de Ir. Neideane Monteiro.

Se você busca uma forma de meditar sobre o evangelho e o significado desta importante festa litúrgica, este vídeo oferece uma reflexão significativa e inspiradora.


ADVENTO: TEMPO DE ESPERAR

No próximo domingo, dia 01º de dezembro de 2024, iniciamos um novo tempo litúrgico: o Advento. É começo também do novo ano litúrgico, Ano C, o qual o evangelista Lucas nos guiará no conhecimento do Mestre. Reunindo desejos, sonhos da humanidade por profundas transformações e dias melhores, manifestadas em veementes clamores em nossos dias. Como “memorial de esperanças”, o advento alarga nossa vida para acolher o grande mistério da encarnação. Na perspectiva do Natal e Epifania do Senhor, como acontecimentos sempre novos e atuais, vislumbramos vigilantes e esperançosos, a lenta e paciente chegada de seu Reino e sua manifestação em nossa vida e na história. O Senhor nos garante que, nesta espera, não seremos desiludidos, como lembra a antífona de entrada deste domingo.

A liturgia abre para nós um tempo favorável de vigilância e conversão, de retomada de nossas opções como discípulos/as daquele que sempre vem e cuja ação é libertadora, consoladora e salvífica.

Acendendo, neste domingo, a primeira vela da coroa do Advento, somos convidados a aguçar nossa atenção, acordarmos do sono da passividade para melhor percebermos os sinais da chegada do reino no cotidiano e, mais despertos, nos levantar da acomodação, do individualismo e do comodismo que marcam nosso tempo e nos paralisam. A ti, Senhor, confio minha vida. Não será desiludido quem espera em ti (SL 25,1-3).

SINAIS SENSÍVEIS

  • A cor roxa, a ausência do glória e de flores aponta para o necessário vazio para acolher Aquele que vem na fraqueza de nossa condição humana. A cor rosa/lilás a partir do 3º domingo, anuncia a proximidade da sua chegada.
  • A coroa do advento com 4 e/ou 9 que vão se acendendo progressivamente, expressa nossa atitude de vigilância como as moças do evangelho (Mateus 25,1-13) que vão de noite ao encontro do noivo, com suas lamparinas acesas. A luz da vela evoca o próprio Cristo, Sol da justiça, a quem esperamos ‘com toda a ternura do coração’. A forma circular da coroa refere-se à harmonia cósmica, ao feminino. O verde dos ramos sinaliza a esperança…
  • Os textos bíblicos trazem à memória os nossos pais e mães na fé: Isaías o profeta do desterro anunciando o retorno, João Batista, a voz que clama no deserto, Maria a virgem grávida que dará à luz um Filho; Isabel, a mulher estéril grávida; Zacarias, o profeta que recupera a fala e bendiz a Deus pelo nascimento de João o precursor do Messias; José, o homem justo e solidário; os anjos que anunciam a boa nova: a Zacarias no templo, a Maria na casa, a José em sonho. O grande personagem é o Cristo, o esperado, o desejado, o sol do oriente, o Emanuel.
  • A invocação “Vem, Senhor Jesus!” que aparece nas orações e nos cantos, é um grito que expressa os gemidos e anseios da humanidade e de todo o universo à espera de libertação.
  • Os prefácios, as demais orações, as antífonas da LH, os cantos, fazendo eco aos textos bíblicos, sintetizam o sentido teológico e espiritual que a tradição da Igreja atribuiu ao advento, valendo-se de imagens eloqüentes: “o deserto irá florir”; “da raiz cortada vai nascer um broto” “dos céus vai chover o Salvador”; “da terra vai germinar a justiça”. “os caminhos tornos serão endireitados”; “as noivas com lâmpadas acesas”; “espadas transformadas em instrumentos de trabalho”.
    Nas duas primeiras semanas, até o dia 16 de dezembro: os textos referem-se à segunda vinda de Cristo. Nos dias 17 a 24, “semana santa do natal” – preparação imediata ao natal, memória da expectativa da primeira vinda. É importante permitir que o advento seja advento, e não antecipar o natal, como faz o ‘mundo’ do consumo.

SENTIDO TEOLÓGICO

Qual é o fato de salvação celebrado na liturgia e que está por detrás dos textos, das imagens, dos símbolos, das músicas neste tempo de advento? Trata-se do mistério da vinda de Deus, da sua visita à nossa terra no Emanuel, o desejado das nações, o anunciado pelos profetas e esperado por Maria.

Toda celebração cristã tem uma dimensão de espera do Reino. A cada dia suplicamos na oração do Senhor: “Venha o teu reino!” E no coração da prece eucarística aclamamos: “Vem Senhor Jesus”. Entretanto, o advento nos é dado a cada ano, como sacramento da ESPERA que nos prepara para celebrar as solenidades do natal, quando ele veio a primeira vez “revestido de nossa fragilidade, para realizar seu eterno plano de amor”; e nos coloca na perspectiva da segunda vinda quando ele virá “revestido de glória, para conceder-nos plenitude de salvação”.

Entre a primeira e a última vinda, há a vinda intermediária (S. Bernardo). Ele veio, virá e VEM agora. A liturgia do advento nos situa neste VEM, no HOJE intermediário entre o passado e o futuro, e nos impulsiona a fazer de cada AGORA um tempo de salvação.

No advento, fazemos nosso o comovente grito de Israel na expectativa do Messias e o insistente clamor que vem da assembleia cristã primitiva: “Maranatá, Vem, Senhor Jesus!” (1Cor 16,22 e Ap 22,20). É um clamor, carregado de dor, porque emerge do meio das contradições de tempos difíceis, mas é um grito cheio de esperança e de desejo do próprio Espírito que se une à noiva para dizer: VEM!

“Aparecido como por um instante em nosso meio, o messias se deixou tocar e ver solenemente para perder-se de novo, mais luminoso e inefável que nunca, no abismo insondável do futuro. Veio. Mas agora temos que esperá-lo mais do que nunca, e já não apenas por um pequeno grupo de eleitos, mas por todos. O Senhor Jesus virá na medida que saibamos esperá-lo ardentemente. Há de ser um acúmulo de desejos que fará apressar o seu retorno”. (Teilhard Chardin 1881-1955) “Toda carne verá a salvação de Deus” (Lc 3,6).

ATITUDE ESPIRITUAL

A liturgia do advento repleta de expectativa nos remete a nós mesmos como sujeitos de desejo, inacabados, sempre “em devir”, nós e a realidade social e cósmica da qual fazemos parte… É um peregrinar em busca do essencial, sem flores e sem glória, sem instrumentos e sem as cores da festa, a conviver com o vazio que nos conduz à Belém para abraçar a fraqueza humana habitada pelo Verbo…

A atitude fundamental é a vigilância:

  • Estar vigilantes a nós mesmos, para não nos deixar enganar… para não confundir o nosso desejo mais profundo com os objetos do nosso desejo, com o desejo de posse; para dar nomes aos nossos desejos desorientados: desejo de vingança, desejo de sempre ter razão, de vencer a qualquer preço…
  • Estar vigilantes à Palavra que nos é dada na liturgia, prolongando a escuta na oração pessoal, para que possamos encontrar a plena orientação dos nossos desejos pela mediação do Verbo que vem ao nosso encontro. “É Ele que ama em nós” (Jean Yves Leloup).
  • Estar vigilantes no cotidiano, no ‘cuidado da casa’; viver o momento presente com atenção ao espaço que ocupamos, aos gemidos da terra… exercitar-se no amor concreto em relação às pessoas, ‘acorrendo com as nossas boas obras ao encontro do Cristo que vem’…
  • Tal como a noiva vai ao encontro do seu bem-amado, ou como a terra se abre à semente, ou como a sentinela espera a aurora, entramos nesta atmosfera
    de “piedosa e alegre espera”, para celebrar a encarnação do Filho de Deus que se faz um de nós, para que, nele, nós nos tornemos divinos, por um caminho pascal. Cremos que o Senhor vem independente de nossa conversão, mas justamente porque ele vem, tão certo como a aurora, nos apressamos em preparar a sua vinda.

REACENDENDO A CHAMA DA NOSSA ESPERANÇA

A cada ano o advento nos é dado como SACRAMENTO DA NOSSA ESPERANÇA. Recordando o anseio do povo hebreu pela vinda do Messias, preparamo-nos para celebrar a primeira vinda de Jesus em Belém, tendo nossos corações voltados para a sua segunda vinda no fim dos tempos. Na primeira parte do advento, focando mais a segunda vinda, as leituras, as músicas, os gestos e as orações, nos convidam à vigilância e à mudança do coração. A partir do dia 17 (ou do dia 15 para quem faz a novena), o clima é de ‘alegre expectativa’ pela proximidade do natal do Senhor.

A coroa do advento, com suas velas que se acendem progressivamente, é um dos sinais que colocamos em nossas casas e igrejas. Originariamente, as velas eram de cor vermelha, mas elas podem ser simplesmente brancas.

Quando coloridas, uma boa alternativa é preferir que sejam duas de cor roxa correspondendo à primeira parte do advento e duas de cor lilás ou rosa, na proximidade do natal. Há comunidades que adotam 4 cores: o roxo da vigilância e da conversão, o verde da esperança, o lilás da alegria e o branco da paz. O multicolorido indica também as diversas culturas, nos 4 cantos do mundo, onde estão plantadas as sementes do Verbo.

O mais importante, porém, não é a cor das velas, mas o gesto do acendimento. Ao acender cada vela da coroa, reacendemos no coração a chama da vigilância e da esperança, da alegria e do desejo pela vinda do Salvador em nossa humanidade. Comprometemo-nos a apressar, no amor concreto de cada dia, a chegada do seu reino entre nós.

Sobre os textos bíblicos do primeiro domingo

Lucas 21,25-28.34-36:

Em estilo apocalíptico enfatiza a relatividade e instabilidade do mundo criado, o qual um dia chegará ao fim. Retoma o alerta dos profetas sobre o “dia do Senhor”, em que Deus vai intervir na história para libertar definitivamente o seu Povo da escravidão. De repente, diante da atual crise ecológica, estes textos chamam especialmente a nossa atenção. No entanto, para o evangelista o decisivo não é o fim do mundo, mas o fato de que o mundo decadente vai dar lugar a um mundo novo. O fim coincide com a vinda do Filho do Homem “com grande poder e glória” (v. 28). O próprio Jesus é o caminho de como encarar a situação. “A libertação está próxima”, mas enquanto ela não chega os discípulas precisa vigiar e orar, contribuindo para interromper e para que o mundo alcance ver sua libertação.

Jeremias 33, 14-16:

O contexto é o décimo ano do reinado de Sedecias (587 a.C.). O exército babilônico de Nabucodonosor cerca Jerusalém e Jeremias está detido no cárcere do palácio real, acusado de derrotismo e de traição (cf. Jr 32,1). Parece o princípio do fim. É neste contexto que o profeta, proclama a chegada de um tempo novo, no qual Deus vai “curar as feridas” (Jr 33,6). Numa situação limite, Jeremias anuncia a fidelidade de Deus às promessas feitas a David (cf. 2 Sm 7), de um futuro descendente (“rebento justo”), que assegurará a paz e a salvação a todo o povo. A palavra “rebento” evoca fecundidade, vida em abundância (cf. Is 4,2; Ez 16,7) e “Messias” (cf. Zc 3,8; 6,12).

1Tessalonicenses 3,12–4,2:

A comunidade cristã de Tessalônica foi fundada por Paulo, Silvano e Timóteo durante a segunda viagem missionária de Paulo, no ano 50 (cf. At 17,1). Em pouco tempo, Paulo desenvolveu uma intensa atividade missionária, que resultou numa comunidade numerosa e entusiasta, constituída na sua maioria por não-judeus convertidos (cf. 1Ts 1,9-10). No entanto, devido a reação da colônia judaica, Paulo teve de fugir, deixando para trás uma comunidade em perigo, insuficientemente evangelizada. Preocupado, Paulo envia Timóteo a Tessalônica para saber notícias e encorajar a comunidade. Quando Timóteo regressa, encontra Paulo em Corinto e comunica-lhe notícias animadoras: apesar das provações, a fé dos tessalonicenses continua bem vivos e mais profundos (cf. 1Ts 1,3; 3,6-8). A comunidade pode ser apontada como modelo aos cristãos das regiões vizinhas (cf. 1Ts 1,7-8). Mas Paulo exorta a que progridam ainda mais (1Ts 4,1), sobretudo no amor para com todos (1Ts 3,12. É nesta atitude de não acomodação que a comunidade deve esperar “vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 3,13).

Abaixo, um roteiro de Celebração penitencial no Advento, com o Ofício Divino das Comunidades: