Nos dois últimos finais de semana de setembro (14 e 21), aconteceram os Encontros Regionais dos Cooperadores Paulinos do Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Esses momentos marcaram o encerramento do itinerário formativo que preparou os participantes para viver o tema central: a identidade do Cooperador Paulino, iluminada pela reflexão “Retomando o meu batismo” e “Nossa Identidade a partir da óptica do Fundador”. Inspirados na imagem da construção de uma casa, todos foram convidados a refletir não apenas sobre a missão da Família Paulina no mundo, mas também sobre a edificação da própria “casa interior”, alicerçada em Cristo.
Em Caxias do Sul (RS), o encontro foi acolhido pela comunidade Santa Lúcia, reunindo Cooperadores vindos de várias partes do Brasil: Boa Vista (RR), Conceição do Tocantins (TO), São Paulo (SP), Presidente Prudente (SP), Curitiba/Pinhais (PR) e Cascavel (PR). Do Rio Grande do Sul, participaram grupos de Santana do Livramento, Bento Gonçalves e Porto Alegre, além dos grupos locais: Santos Apóstolos, Santíssima Trindade, Jesus Mestre e Terceira Légua. A presença do Pe. Francisco Galvão, primeiro Padre Paulino a participar de um Regional no estado, trouxe ainda mais entusiasmo e vitalidade. O encontro também foi enriquecido pela presença das Irmãs Pias Discípulas do Divino Mestre, Irmãs Paulinas e Irmãs Pastorinhas, fortalecendo os laços da Família Paulina.
Já em Anastácio (MS), os Cooperadores receberam com alegria os grupos vindos de Campo Grande e Bodoquena. Foi um momento marcado por emoção, partilha e renovação da fé, em que Cooperadores e religiosas reafirmaram sua identidade e compromisso no seguimento do Mestre Pastor, redescobrindo a beleza de pertencer à Família Paulina.
É importante recordar que o Cooperador Paulino é um leigo batizado que, inspirado pelo carisma paulino, assume a busca da santidade e o compromisso com o apostolado. Vive no coração do mundo a missão de anunciar Jesus Mestre, Pastor, Caminho, Verdade e Vida, tornando-se fermento do Evangelho nas realidades humanas e presença viva da Família Paulina na sociedade.
Em síntese, o Hino dos Regionais dos Cooperadores Paulinos no Brasil – 2025 expressa e confirma essa vivência: o desejo de corresponder à vontade do Mestre Pastor, valorizando a riqueza da diversidade que nos caracteriza e respondendo, com fé e esperança, ao chamado de ser sal e luz no tempo e nos contextos em que estamos inseridos.
“Pedras Vivas em Cristo!”
Atentos aos sinais dos tempos com o coração do Bom Pastor Vemos tanta morte, fake News e divisões Cansaço, desesperança dilaceram os corações Com ardor de Paulo e Alberione um mundo novo edificar
Eu e você, “pedras vivas” da construção Em Cristo Alicerçados, a “Casa Paulina”, edificar: Sal da terra luz do mundo – o Evangelho proclamar!
Na Família Paulina cada membro tem seu lugar Dons diversos, mas unidos, tijolos na construção Palavra e Eucaristia, em Cristo Mestre, inspiração De uma Nova mentalidade, unidade e compaixão. (L.M. Ir. Suzimara B. De Almeida, sjbp)
Liturgia do Dia – Sexta-feira, 19 de Setembro de 2025 – 24ª Semana do Tempo Comum, Ano Ímpar (I)
O evangelho proposto pela liturgia do dia (Lc 8,1-3) nos coloca diante de uma cena de profundo valor teológico e pastoral: Jesus caminha de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, anunciando e proclamando a boa-nova do Reino de Deus. Acompanhavam-no os Doze e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades. Entre elas, Lucas menciona Maria Madalena, da qual tinham saído sete demônios, Joana, esposa de Cuza, administrador de Herodes, Susana e muitas outras, que ajudavam a sustentar Jesus e seus discípulos com os próprios bens.
Esse breve relato mostra um traço fundamental do ministério de Jesus: a itinerância missionária e a inclusão. Jesus não permanece preso a um lugar, mas percorre os caminhos, vai ao encontro das pessoas, leva a Boa-Nova a todos, sem restrições. Além disso, sua missão não é solitária nem exclusiva dos Doze apóstolos: mulheres também estão integradas nesse movimento evangelizador. Em um contexto cultural em que a mulher tinha um papel social limitado, a presença feminina no discipulado de Jesus revela a novidade radical do Evangelho, onde todos têm lugar, todos podem servir, todos podem participar.
Do ponto de vista teológico, o texto aponta para a universalidade da salvação e para a dimensão comunitária do seguimento de Cristo. O Reino não é construído apenas por figuras centrais, mas por uma comunidade variada, com diferentes histórias de vida, marcada por curas, libertações e testemunhos. Jesus mostra que o discipulado é fruto da experiência de encontro e de gratuidade: aqueles que foram alcançados pela graça tornam-se colaboradores na missão.
Essa perspectiva ajuda a compreender a articulação com a primeira leitura (1Tm 6,2c-12). Paulo, dirigindo-se a Timóteo, recorda a importância de ensinar a sã doutrina, evitando a tentação da busca pelo lucro e a avidez pelo dinheiro. O apóstolo exorta a fugir da ganância, pois “a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro”. Em contraste, convida a cultivar a fé, a piedade, a perseverança, o amor e a mansidão, lutando o bom combate da fé e alcançando a vida eterna.
Ao ligar o evangelho com a exortação paulina, podemos perceber um fio condutor: a verdadeira riqueza está em seguir Jesus e partilhar os bens para o serviço do Reino. As mulheres que acompanhavam Cristo sustentavam a missão não por interesse, mas por gratidão e generosidade. Paulo, por sua vez, adverte contra o risco de reduzir a fé a um meio de enriquecimento. A liturgia do dia, portanto, convida a refletir sobre a relação entre fé e bens materiais: o discipulado se expressa também na maneira como administramos aquilo que temos.
O salmo responsorial (Sl 48[49]) reforça essa mensagem, proclamando a relatividade das riquezas. “Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus” é o refrão tirado do Evangelho de Mateus, e o salmo canta a precariedade da confiança nos bens terrenos. O salmista lembra que ninguém leva nada consigo ao morrer; por mais que alguém se enriqueça, sua glória não o acompanha na morte. O que permanece, em última instância, é a confiança em Deus.
Se o evangelho mostra mulheres generosas que oferecem seus recursos para a missão e a carta a Timóteo adverte contra a cobiça, o salmo nos coloca diante da transitoriedade da vida e do chamado à confiança plena no Senhor. O itinerário da liturgia do dia conduz a uma síntese clara: o seguimento de Jesus exige liberdade interior em relação aos bens materiais, disponibilidade para partilhar e coragem para viver uma fé encarnada no serviço.
As implicações pastorais desse conjunto de leituras são riquíssimas. Em primeiro lugar, a comunidade cristã é chamada a reconhecer o valor da diversidade de vocações e ministérios. O evangelho lembra que o seguimento de Jesus é para homens e mulheres, jovens e idosos, ricos e pobres, cada qual com seus dons e com sua história de libertação. A pastoral da Igreja deve sempre cultivar esse espírito de inclusão, rompendo barreiras culturais e sociais que possam restringir a ação do Evangelho.
Em segundo lugar, a liturgia do dia provoca a refletir sobre o uso dos bens. No mundo atual, marcado pelo consumismo, pela desigualdade e pela idolatria do dinheiro, a Palavra convida a um estilo de vida mais simples, solidário e desapegado. Não se trata de desprezar os bens materiais, mas de saber orientá-los para o bem comum, como fizeram aquelas mulheres que ajudaram Jesus e os discípulos. A pastoral social e a prática da caridade são, assim, dimensões inseparáveis da vida cristã.
Outro aspecto importante é a exortação de Paulo a Timóteo: a fé não deve ser instrumentalizada para interesses pessoais. Isso vale também para o nosso tempo, quando muitas vezes se vê a tentação de usar a religião como meio de lucro, de poder ou de manipulação. A liturgia do dia denuncia tais desvios e reafirma que a missão da Igreja é testemunhar o Evangelho com simplicidade e gratuidade, apontando para Cristo e não para si mesma.
Por fim, a palavra proclamada nos chama à esperança e à confiança. O salmo recorda que nada neste mundo é definitivo, exceto a promessa de Deus. Por isso, o cristão é convidado a viver com os pés na terra, comprometido com a justiça, mas com o coração voltado para o céu, buscando sempre o Reino que não passa.
Celebrar a liturgia do dia nesta sexta-feira, 19 de setembro de 2025, é renovar o compromisso de ser discípulo missionário, como aqueles que seguiam Jesus em seu caminho. É deixar-se tocar pela Palavra, rever nossas prioridades, cultivar a generosidade e manter viva a esperança na vida eterna. O convite é claro: lutar o bom combate da fé, viver na mansidão, partilhar os dons, caminhar em comunidade.
Assim, a liturgia não é apenas um rito repetido, mas um encontro transformador com o Senhor que continua a passar por nossas cidades, chamando homens e mulheres a segui-lo. Que essa Palavra inspire nossa vida e nossa pastoral, para que, unidos, possamos proclamar a Boa-Nova com gestos concretos de amor e serviço.
Liturgia do dia – Quinta-feira, 18 de Setembro de 2025 24ª Semana do Tempo Comum, Ano Ímpar (I) Leituras: 1Tm 4,12-16; Sl 110(111),7-8.9.10 (R. 2a); Lc 7,36-50
A liturgia do dia nos convida a mergulhar em uma cena profundamente humana e, ao mesmo tempo, repleta da misericórdia divina revelada por Jesus. O evangelho segundo Lucas apresenta o encontro de Jesus na casa de um fariseu chamado Simão, durante uma refeição, quando uma mulher, conhecida na cidade como pecadora, se aproxima d’Ele com um gesto audacioso e transformador. Ela unge os pés do Senhor com perfume, banha-os com suas lágrimas e os enxuga com os cabelos. Esse ato causa estranheza e até escândalo, sobretudo ao fariseu que havia convidado Jesus, mas se torna a ocasião para que Cristo revele o coração da Boa-Nova: o perdão e a salvação estão disponíveis para todos, especialmente para aqueles que reconhecem sua condição de fragilidade e se abrem ao amor de Deus.
A cena evangélica tem um forte contraste. De um lado, o fariseu, cumpridor da Lei, aparentemente justo, mas preso a uma atitude de julgamento. Ele não consegue ver em Jesus a novidade de Deus e, por isso, interpreta o gesto da mulher como inconveniente e até inadmissível. Do outro, a mulher pecadora, sem méritos sociais ou religiosos, mas que, com humildade e confiança, oferece o que tem de melhor: suas lágrimas, sua coragem, seu perfume, sua vida. Jesus, então, ensina que a verdadeira medida da fé não está na aparência, nem na observância fria de normas, mas na capacidade de amar e deixar-se amar. Quem muito é perdoado, muito ama. E esse amor, expressão de fé, abre caminho para a salvação.
Este evangelho nos provoca profundamente em nossa caminhada cristã. Quantas vezes nos colocamos mais próximos da atitude do fariseu, prontos para julgar os outros segundo nossas categorias humanas, esquecendo que a misericórdia de Deus não se limita aos nossos critérios? A liturgia do dia nos convida a olhar para dentro de nós mesmos e reconhecer que todos precisamos do perdão do Senhor. Só assim podemos acolher os irmãos e irmãs com o coração aberto, sem excluir, sem condenar, mas ajudando-os a se aproximar da fonte de vida que é Cristo.
As outras leituras do dia dialogam com essa mensagem central. Na primeira leitura, tirada da Primeira Carta a Timóteo (1Tm 4,12-16), Paulo exorta seu discípulo a ser exemplo para os fiéis na palavra, no proceder, na caridade, na fé e na pureza. A instrução dada a Timóteo tem grande valor pastoral: não basta apenas ensinar ou transmitir a fé, é necessário testemunhá-la com a vida. Esse testemunho só é autêntico quando nasce de um coração transformado pela experiência de encontro com Cristo, tal como a mulher do evangelho experimentou. Timóteo, mesmo jovem, é chamado a não se deixar intimidar, mas a cultivar fielmente o dom recebido, perseverando na doutrina e na prática. Assim, sua vida se torna sinal para os outros.
O salmo responsorial (Sl 110) reforça a fidelidade do Senhor e a firmeza de suas obras. Ele lembra que a redenção foi enviada ao seu povo e que santo e terrível é o seu nome. O temor do Senhor, isto é, a reverência e o respeito diante de Deus, é o princípio da sabedoria. Essa mesma sabedoria, que orienta o viver do justo, é a que ilumina os gestos concretos de amor e misericórdia. A mulher pecadora não tinha títulos de honra, mas possuía a sabedoria que nasce da humildade e do reconhecimento da própria pequenez diante de Deus. Essa sabedoria a conduziu à salvação.
A liturgia do dia, portanto, apresenta um fio condutor claro: a vida cristã é chamada a ser testemunho, não de perfeição moralista, mas de abertura à misericórdia. O amor de Deus é maior que nossos pecados. A experiência do perdão nos transforma e nos impulsiona a viver de modo novo. É isso que Jesus reconhece na mulher e é isso que Paulo recomenda a Timóteo: perseverar no caminho, renovar o dom recebido, ser sinal vivo do Evangelho.
Do ponto de vista pastoral, essa Palavra ilumina diversos aspectos da vida da Igreja hoje. Em primeiro lugar, recorda a importância da acolhida. Nossas comunidades são chamadas a ser espaços de misericórdia, onde cada pessoa, independentemente de sua história, possa encontrar-se com Cristo e experimentar seu perdão. Muitas vezes, caímos na tentação de excluir, julgar ou classificar os irmãos, mas o Senhor nos mostra outro caminho: o da hospitalidade e do abraço da graça.
Em segundo lugar, a liturgia do dia convida cada batizado a assumir sua responsabilidade missionária. Assim como Timóteo, todos nós recebemos um dom, uma vocação, uma graça particular. É necessário cultivá-la, cuidar dela, colocar em prática, perseverando no caminho da fé. Nossa palavra e nosso testemunho podem ser instrumentos que levam outras pessoas a se abrirem ao amor de Deus. Isso exige coerência, mas sobretudo humildade: não somos melhores que ninguém, apenas reconhecemos que fomos alcançados pela misericórdia.
Em terceiro lugar, o evangelho de hoje nos ajuda a rever a forma como lidamos com o perdão em nossa vida cotidiana. Reconhecer-se pecador e buscar a reconciliação é um gesto de coragem e fé. Ao mesmo tempo, conceder perdão a quem nos ofende também é um desafio, mas que se torna possível quando nos deixamos conduzir pelo Espírito. O mundo atual carece de reconciliação: nas famílias, nas relações sociais, na convivência entre povos. A liturgia nos recorda que tudo começa pelo coração convertido, capaz de amar porque foi amado por primeiro.
Por fim, essa Palavra tem uma dimensão espiritual muito rica. A mulher que se lança aos pés de Jesus nos ensina o caminho da oração verdadeira: aproximar-se de Cristo com humildade, entregar o que temos e confiar em sua graça. Muitas vezes, nossa oração se torna repetição de fórmulas ou busca por recompensas. O evangelho de hoje nos lembra que rezar é, antes de tudo, reconhecer quem somos diante de Deus e deixar que Ele nos transforme. É um convite a renovar nossa vida espiritual na simplicidade e no amor.
Celebrando esta quinta-feira da 24ª semana do Tempo Comum, a liturgia do dia nos convida a olhar para Jesus com o coração aberto. Ele não veio para os justos que se acham perfeitos, mas para os pecadores que necessitam de misericórdia. Sejamos, portanto, como aquela mulher: ousados na fé, sinceros no arrependimento, generosos no amor. E como Timóteo, perseveremos no dom recebido, tornando nossa vida um testemunho vivo da presença de Cristo no mundo.
Música Litúrgica: Tanto que esperou pudesse um dia Compositores (letra e música): Antonio Fabretti e José Thomáz Filho
Tocamos flauta para vós e não dançastes; fizemos lamentações e não chorastes! Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 7,31-35 Naquele tempo, disse Jesus: 31 “Com quem hei de comparar os homens desta geração? Com quem eles se parecem? 32 São como crianças que se sentam nas praças, e se dirigem aos colegas, dizendo: ‘Tocamos flauta para vós e não dançastes; fizemos lamentações e não chorastes!’ 33 Pois veio João Batista, que não comia pão nem bebia vinho, e vós dissestes: ‘Ele está com um demônio!’ 34 Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e vós dizeis: ‘Ele é um comilão e beberrão, amigo dos publicanos e dos pecadores!’ 35 Mas a sabedoria foi justificada por todos os seus filhos”. Palavra da Salvação.
Ler este evangelho me trouxe um desconforto. Reclamar parece tão natural, quase automático, que quando o Evangelho, de forma direta ou indireta, nos mostra que essa atitude pode ser estéril, infrutífera ou até mesmo contrária ao caminho de fé, nasce um choque interior. É como se houvesse um espelho diante de nós: percebemos que não se trata apenas de “alguns” que reclamam, mas de nós também.
Este texto de Lucas 7,31-35 foi proposto para a liturgia do dia 17 de setembro, 4ª feira da 24ª semana do Tempo Comum. De fato, reclamar é uma das atitudes mais estruturais nossas. Algumas pessoas a nossa volta são mais pesadas e negativas. Outras são mais acomedidas e despercebinas neste comportamento (e nós, como somos?). Mas o fato é que todo mundo reclama. Então comecei a pensar nesta característica inerente do ser humano. Reclamar parece ser uma das marcas mais universais da condição humana. Não importa o contexto: no trânsito, no trabalho, em casa, diante da política ou até mesmo nas redes sociais, a queixa é um hábito recorrente. Mas por que o ser humano reclama tanto? A insatisfação constante é apenas um traço cultural, um sintoma psicológico ou um sinal de algo mais profundo?
Freud, em O mal-estar na civilização (1930), sustentou que o ser humano vive condenado a uma insatisfação permanente. A realidade, a cultura e a convivência social limitam a realização de nossos desejos mais profundos. Daí surge o mal-estar, inevitável, que se expressa em frustrações e queixas. Reclamar é, portanto, quase uma necessidade da psique: um sintoma de que o desejo nunca encontra plena satisfação.
Outros psicanalistas confirmaram essa perspectiva. Melanie Klein mostrou que a inveja e o ressentimento acompanham o indivíduo desde cedo, muitas vezes projetando frustrações sobre os outros. Já Lacan radicalizou: o ser humano é um “sujeito do desejo” e, justamente por desejar sempre o que lhe falta, nunca se satisfaz. A queixa não é um acidente, mas o retrato da nossa estrutura desejante.
Já a antropologia entende a reclamação menos como falha individual e mais como fenômeno cultural. Marcel Mauss, ao falar das trocas sociais, mostra que o equilíbrio das relações envolve expectativas e obrigações recíprocas. Reclamar, nesse sentido, é uma forma de marcar desajustes: quando algo não corresponde ao esperado, a queixa entra como sinal de tensão na rede de trocas.
Clifford Geertz, atento aos símbolos, apontaria que reclamar também pode ser um código cultural. Em muitas comunidades, reclamar em grupo cria pertencimento e coesão: trata-se menos de resolver problemas e mais de reforçar laços. Já outros antropólogos críticos das burocracias modernas, via na reclamação cotidiana uma reação espontânea às microviolências do sistema: filas, hierarquias, papéis sem fim. Reclamar, nesse caso, é quase um ato de resistência contra o esmagamento diário.
A sociologia também oferece chaves potentes. Marx interpretaria a insatisfação crônica como efeito da alienação: o trabalhador se queixa porque não controla sua vida nem o fruto de seu trabalho. Weber, por sua vez, falaria do “desencantamento do mundo”: a racionalização e a burocracia aprisionam o indivíduo numa “gaiola de ferro”, de onde brotam queixas contínuas.
Durkheim traz outra luz: em tempos de anomia, quando as normas sociais deixam de regular desejos e expectativas, a insatisfação coletiva explode em frustração e murmuração. A Escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer, Marcuse) acrescenta: reclamar faz parte de uma vida administrada pela indústria cultural. Mas paradoxalmente, a queixa cotidiana raramente leva à transformação; ao contrário, acaba neutralizada pelo próprio sistema.
A filosofia não poderia deixar de se pronunciar. Schopenhauer talvez seja o mais radical: a vida, para ele, é marcada pela dor, e reclamar é apenas a expressão natural desse sofrimento. Nietzsche, em contraste, vê na queixa um sintoma do “espírito ressentido”: ao invés de afirmar a vida, criamos valores negativos e permanecemos presos à moral de escravos. A solução? O amor fati: amar o destino, inclusive suas dores, sem lamentação.
Camus, no existencialismo, fala do absurdo: há um descompasso entre nossos desejos e o mundo. Reclamar é, em parte, uma resposta ao absurdo. Mas, em vez de se resignar, o homem deve encarar a vida com revolta lúcida, criando sentido apesar do vazio. Já Byung-Chul Han, em tempos mais recentes, aponta para a “sociedade do cansaço”: o excesso de positividade e de cobranças internas nos leva a frustrações contínuas. Para ele, a saída está em recuperar o silêncio, a contemplação e a pausa.
Mas existe solução?
Percebe-se que esses pensadores mais descrevem o problema do que oferecem uma cura. Freud admite que a vida nunca será plenamente satisfatória, cabendo buscar compensações parciais. Nietzsche sugere afirmar a vida sem ressentimento. Camus nos chama a viver o absurdo com coragem. Byung-Chul Han recomenda resistir ao excesso com silêncio e descanso. Nenhum, contudo, promete uma resposta definitiva. E isto é um traço das ciências sociais. Não existem respostas definitivas. A insatisfação permanece estrutural. É nesse ponto que a visão bíblica se distingue.
A visão bíblica também não oferece uma cura. Deixa eu adiantar! A Escritura conhece bem a tendência humana de reclamar. O povo de Israel, no deserto, murmura repetidamente contra Deus e contra Moisés (Êx 16; Nm 14). Essa murmuração é vista como falta de fé, como incapacidade de confiar. Ao mesmo tempo, a Bíblia também registra salmos de lamento (Sl 13; Sl 22; Sl 42), em que a queixa se transforma em oração. Aqui, reclamar não é negar a fé, mas abrir diante de Deus a dor e a frustração.
No Novo Testamento, Paulo adverte: “Fazei tudo sem murmurações nem contendas” (Fl 2,14). Ele reconhece, porém, que toda a criação “geme” à espera da redenção (Rm 8,22-25). O gemido humano é assumido pelo Espírito como oração de esperança.
O exemplo máximo está em Jesus na cruz. Ao citar o Salmo 22, no auge do seu sofrimento, na cruz: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mt 27,46). Cristo ali dá voz à mais radical das queixas humanas. Mas, ao mesmo tempo, entrega-se confiante ao Pai. Assim, a murmuração se converte em confiança e esperança.
Filosofia, psicanálise, antropologia e sociologia concordam: reclamar é parte constitutiva da condição humana. A insatisfação é estrutural, seja pelo desejo nunca saciado, pela cultura que nos limita, pela alienação social ou pelo absurdo existencial. Cada campo oferece estratégias de lidar com isso: resignação, afirmação da vida, revolta lúcida, contemplação.
A teologia bíblica, porém, ao meu ver, vai além: não pede que o homem simplesmente deixe de reclamar (diga-se de passagem, que nenhuma destas ciências acima pedem isto). Ela (a teologia bíblica) não nos pede o impossível de silenciar as nossas queixas (como alguns líderes religiosos até propõem em suas reflexões). Pelo contrário, ela nos convida a dar-lhes um novo destino: transformar a reclamação em oração. A murmuração que se perde no vazio não frutifica, mas o lamento que se eleva a Deus se torna fonte de vida. É nesse encontro que a queixa se transfigura em confiança, a frustração floresce em esperança e o gemido humano se revela como a mais autêntica expressão de fé.
Mas o que isto muda? Nas ciências humanas, o máximo que se propõe é administrar a insatisfação: aceitar o destino (Nietzsche), encarar o absurdo (Camus), encontrar pausas (Byung-Chul Han). A Bíblia, porém, oferece uma saída distinta: a queixa não é negada nem reprimida, mas redirecionada para Deus. Isso muda tudo, porque o lamento humano deixa de ser apenas sintoma de mal-estar e passa a ser gesto de fé e esperança.
O que nasce desse movimento? A queixa, quando entregue a Deus, pode gerar consolo e força. O vazio da murmuração se converte em sentido espiritual: o gemido humano torna-se oração inspirada pelo Espírito (Rm 8,26). E o ciclo da insatisfação é quebrado, porque a dor deixa de aprisionar e começa a apontar para a esperança.
Em última análise, reclamar pode ser humano, mas transformar a reclamação em diálogo com Deus é o que abre a possibilidade de redenção.
E aí? Porque o desconforto em falar disto?
O inicial desconforto que senti ao ler o evangelho é legítimo porque o texto bíblico não permite que a gente terceirize a responsabilidade. Ele não fala apenas “dos outros”, mas me interpela: “E eu, como lido com a minha tendência de reclamar?” Esse reconhecimento gera incômodo porque expõe fragilidades que preferimos disfarçar.
No cotidiano, reclamar parece um direito legítimo. No Evangelho, porém, descobrimos que esse mesmo impulso pode se tornar murmuração que nos afasta da confiança em Deus. Isso desmonta nossa lógica e cria tensão: algo que eu achava normal talvez precise ser transfigurado.
O desconforto é, muitas vezes, o primeiro passo da graça. Ele indica que o texto não passou despercebido, mas provocou movimento interior. O convite bíblico não é “calar a boca e aguentar”, mas dar um destino novo à queixa: transformá-la em oração, súplica e confiança.
Ou seja, o desconforto nasce porque o Evangelho tira a reclamação do terreno do “natural e inevitável” e a coloca no horizonte da fé e da confiança. Ele nos revela que não basta apenas reconhecer nossa insatisfação — somos chamados a dar-lhe uma saída mais alta, mais fecunda, mais divina.
Autora do texto: Ir. Julia de Almeida, pddm. Irmã Pia Discípula do Divino Mestre e autora de diversos textos no site institucional das Pias Discípulas do Divino Mestre. Mestra em Comunicação e Semiótica, pela PUC/SP.
A liturgia do dia nos apresenta uma Palavra forte e atual. No Evangelho de Lucas, Jesus compara sua geração a crianças caprichosas, que não querem brincar nem de choro nem de festa. Essa imagem revela a dificuldade de acolher tanto a pregação de João Batista, mais austera, quanto a presença de Jesus, marcada pela proximidade com os pecadores. A mensagem é clara: quando o coração está fechado, nenhuma manifestação de Deus é suficiente. Por isso, a liturgia do dia nos convida a abrir o coração e a reconhecer a sabedoria divina que se manifesta nas obras de Cristo.
Jesus nos mostra que a salvação não cabe em esquemas humanos. João Batista, com sua vida austera, lembrava a necessidade de conversão; Jesus, com sua misericórdia, revelava a ternura de Deus. Ambos eram sinais complementares do mesmo amor. Mas aquela geração não quis ouvir. O Evangelho denuncia, portanto, a imaturidade de quem prefere criticar a acolher.
Aqui podemos olhar também para nós. Quantas vezes fazemos como as “crianças da praça”? Se a mensagem exige esforço, achamos dura demais; se fala de festa e acolhida, julgamos frouxa demais. A liturgia do dia nos chama a crescer espiritualmente, para reconhecer que a sabedoria de Deus é maior que nossos gostos pessoais.
A liturgia é justamente o espaço onde aprendemos esse equilíbrio. Temos tempos de penitência, como a Quaresma, e tempos de festa, como a Páscoa. O caminho cristão precisa dos dois. O rigor e a alegria se completam. A liturgia do dia, ao nos reunir em oração, educa o nosso coração para viver tanto o silêncio da conversão quanto a festa da ressurreição. Assim, celebramos o Mistério Pascal em toda a sua riqueza.
Há também uma dimensão psicológica neste Evangelho. A atitude das crianças mostra imaturidade: nada serve, nada agrada, nada satisfaz. Muitas vezes, também nós usamos críticas como defesa, para não mudar de vida. O coração humano tem medo da novidade de Deus. Mas a liturgia do dia, com sua repetição, seus ritos e símbolos, cria um espaço seguro para que possamos enfrentar nossos medos e permitir que o Espírito nos transforme pouco a pouco.
A Primeira Leitura e a Profissão de Fé
Na primeira leitura, São Paulo recorda a essência da nossa fé: Cristo manifestado na carne, justificado no Espírito, proclamado às nações e elevado à glória. É como um Credo primitivo, um resumo da história da salvação. A liturgia do dia, ao nos colocar diante dessa profissão de fé, fortalece nossa esperança. Diante das mudanças e incertezas da vida, essa certeza nos dá estabilidade: Cristo é o centro de tudo.
O Salmo Responsorial
O Salmo 110(111) reforça essa confiança: “Grandes são as obras do Senhor, dignas de admiração por todos que as amam”. Ao repetir esse refrão na liturgia, somos educados para a gratidão. Enquanto a murmuração e a ingratidão enfraquecem a vida comunitária, a liturgia do dia nos ensina a louvar, a reconhecer que Deus guia a história com amor.
Aplicações para a vida
A Palavra de hoje ilumina situações bem concretas:
Na convivência social, vemos muitos que criticam tudo: se alguém é firme, é acusado de severidade; se é alegre e aberto, é taxado de irresponsável. O Evangelho nos ensina a olhar para os frutos, e não para os preconceitos.
Na política e na vida pública, quantas vezes líderes são julgados mais por estereótipos do que por suas ações. Jesus lembra que a sabedoria se reconhece pelas obras.
Na família e na educação, pais e educadores muitas vezes oscilam entre a exigência e a ternura. O critério não é agradar, mas formar para o bem.
Na vida da Igreja, há quem prefira rigidez litúrgica e outros que valorizam mais abertura pastoral. A liturgia do dia nos mostra que as duas dimensões são importantes: conversão e misericórdia, silêncio e festa.
A mensagem da liturgia do dia é clara: não podemos ser como crianças imaturas, que recusam qualquer proposta. Deus se manifesta de muitos modos, e precisamos acolher sua sabedoria, que se revela nas obras de Cristo. A liturgia é o espaço onde aprendemos a integrar exigência e ternura, penitência e festa, silêncio e louvor.
Que esta celebração nos ajude a reconhecer a presença do Senhor na nossa história, e que possamos ser testemunhas da sabedoria de Deus no mundo.
A liturgia desta terça-feira, 16 de setembro de 2025, convida-nos a mergulhar na profundidade de um dos relatos mais comoventes do Evangelho segundo São Lucas: a ressurreição do filho da viúva de Naim. Jesus, ao entrar na pequena cidade, depara-se com uma cena de dor: um cortejo fúnebre leva o corpo de um jovem, filho único de sua mãe, que era viúva. A narrativa realça a vulnerabilidade daquela mulher: sem marido e agora sem filho, estava desprovida de proteção, sustento e esperança diante da sociedade de seu tempo.
O texto evangélico é marcado por um detalhe essencial: “Ao vê-la, o Senhor encheu-se de compaixão” (Lc 7,13). É esse olhar de Jesus que transforma a história. A compaixão divina não é apenas sentimento humano de solidariedade; é o movimento do coração de Deus que se inclina sobre a miséria humana para restituir a vida. Lucas, o evangelista da misericórdia, quer nos mostrar que em Jesus se revela o Deus que não permanece distante da dor do povo, mas se aproxima para devolver esperança onde parecia haver somente morte.
O gesto de Jesus vai além do milagre: Ele toca o caixão e ordena ao jovem que se levante. Ao tocar o esquife, Jesus rompe barreiras de impureza ritual previstas na Lei judaica, pois o contato com a morte tornava alguém impuro. Mas o Senhor da vida não teme a morte, pois Ele é a própria Vida. Sua presença purifica, restaura, recria. O menino se levanta e fala, e Jesus o entrega novamente à sua mãe. Esse detalhe de “entregar à mãe” sublinha a dimensão relacional do milagre: não se trata apenas de devolver a vida biológica, mas de restaurar vínculos, reconstruir a esperança da família e da comunidade.
No plano teológico-litúrgico, este Evangelho nos faz contemplar o Cristo que vence a morte, antecipando já o mistério de sua Páscoa. O episódio é um sinal que aponta para a ressurreição final, onde a morte será definitivamente vencida. Ao mesmo tempo, é um convite à Igreja para ser presença de compaixão no mundo, tocando as realidades de dor e exclusão, levando vida nova aos que estão à beira do desespero.
Portanto, a liturgia de hoje nos convida a perguntar: em quais situações somos chamados a ser instrumentos do olhar compassivo de Cristo? Quantas viúvas, quantos órfãos, quantos corações desamparados clamam por uma palavra de vida em nosso tempo?
A Primeira Leitura – 1Tm 3,1-13
A primeira leitura, da Carta a Timóteo, apresenta os critérios para os ministérios na comunidade cristã primitiva. Paulo descreve as qualidades necessárias para quem exerce o episcopado e o diaconato: irrepreensível, sóbrio, equilibrado, hospitaleiro, moderado, homem de fé e de bom testemunho. O apóstolo insiste que o ministério na Igreja não é um privilégio, mas um serviço fundamentado na credibilidade e na coerência de vida.
Quando colocamos essa leitura em relação com o Evangelho, percebemos um fio condutor: se Jesus é o modelo do Bom Pastor que se compadece do rebanho e devolve vida, então os pastores da Igreja devem espelhar-se nessa mesma compaixão. O líder cristão não pode ser movido por interesses pessoais, mas por uma entrega total ao serviço da comunidade, especialmente aos mais frágeis. Assim como Jesus restituiu o filho à mãe viúva, também os pastores devem ser instrumentos de reconciliação, de proximidade e de cuidado.
O texto de 1Tm destaca ainda os diáconos, cujo ministério está intrinsecamente ligado ao serviço. Eles devem guardar o mistério da fé com consciência pura e agir com dignidade. Não é por acaso que a liturgia de hoje coloca esse trecho junto ao Evangelho: ambos nos recordam que a Igreja deve ser sinal da vida nova de Cristo no meio do mundo, não apenas com palavras, mas sobretudo com testemunho coerente.
O Salmo Responsorial – Sl 100(101)
O salmo de hoje ressoa como oração de quem deseja viver segundo os caminhos do Senhor: “Vou cantar-vos, Senhor, um canto novo de justiça”. O salmista expressa o anseio de caminhar na integridade e na fidelidade, evitando o mal e buscando uma vida reta diante de Deus.
Na relação com o Evangelho, o salmo se torna eco da atitude de Jesus: Ele é o Justo por excelência, aquele que não compactua com a injustiça, mas se aproxima dos pobres e marginalizados. O canto de justiça do salmo encontra sua realização plena no gesto de compaixão de Cristo em Naim, que devolve dignidade à viúva e vida ao jovem.
Além disso, o salmo também se conecta com a primeira leitura. Assim como Paulo exorta os ministros da Igreja a viverem de forma irrepreensível, o salmista expressa a decisão de trilhar os caminhos da retidão. O salmo, portanto, é a oração que sustenta e alimenta a vida de quem exerce responsabilidades na comunidade, para que não se perca na corrupção ou na busca de poder, mas mantenha-se fiel ao Senhor.
Memória dos Santos Cornélio e Cipriano
Neste dia, a Igreja celebra também a memória dos santos Cornélio, papa, e Cipriano, bispo, ambos mártires do século III.
São Cornélio, Papa da Misericórdia: eleito papa em 251, em meio às perseguições do imperador Décio, Cornélio enfrentou uma difícil crise: muitos cristãos haviam negado a fé para escapar da morte, os chamados lapsi. Enquanto alguns defendiam que não havia perdão para eles, Cornélio insistia que, com arrependimento sincero, era possível a reconciliação pela penitência. Seu coração pastoral refletia a misericórdia de Cristo, que sempre acolhe o pecador que retorna. Preso e exilado em 253, Cornélio morreu mártir, deixando o testemunho de um pastor que não abandonou o rebanho.
São Cipriano, Bispo de Cartago e Defensor da Unidade: nascido em Cartago, no norte da África, Cipriano era advogado e homem culto antes de sua conversão ao cristianismo. Pouco depois, foi eleito bispo e tornou-se uma das vozes mais influentes da Igreja africana. Assim como Cornélio, também enfrentou a questão dos lapsi e buscou equilíbrio: exigir verdadeira conversão, mas sem fechar as portas da misericórdia. Seu famoso tratado “A Unidade da Igreja Católica” lembra que não se pode ter Cristo sem viver em comunhão com sua Igreja. Na perseguição do imperador Valeriano, em 258, foi preso e condenado à morte. Aceitou o martírio com serenidade e fé, sendo decapitado diante do povo de Cartago.
Pastores Unidos na Fé e na Amizade
Mesmo em cidades diferentes, Cornélio e Cipriano mantiveram uma forte comunhão espiritual. Trocaram cartas, apoiaram-se mutuamente e defenderam a mesma verdade: a Igreja deve ser lugar de misericórdia, unidade e fidelidade a Cristo. Por isso, a liturgia celebra os dois juntos, como sinais da amizade que nasce da fé e do amor à Igreja.
Hoje, Cornélio e Cipriano nos ensinam que a Igreja é chamada a ser sempre fiel a Cristo, mesmo diante das dificuldades, e que nenhum pastor pode se afastar do coração misericordioso do Senhor. Seu martírio nos recorda que a verdadeira liderança na Igreja não é feita de poder, mas de serviço, compaixão e fidelidade até o fim.
Que a memória desses santos pastores nos ajude a viver a fé com coragem, a buscar sempre a unidade e a anunciar, com gestos e palavras, o amor misericordioso de Deus.
LITURGIA DO DIA
A liturgia desta terça-feira nos apresenta um caminho profundo de reflexão:
O Evangelho revela o Cristo da compaixão que vence a morte e restitui a esperança.
A primeira leitura nos recorda que a Igreja precisa de ministros que vivam em coerência e serviço, à imagem de Jesus.
O salmo é a oração que alimenta esse desejo de justiça e retidão.
A memória de Cornélio e Cipriano testemunha que é possível viver essa fidelidade até as últimas consequências.
Assim, a Palavra nos desafia a sermos homens e mulheres de compaixão, testemunhas da vida e da justiça de Deus em nosso tempo. Como discípulos de Cristo, somos chamados a tocar as realidades de morte com a força da fé, a sermos pastores e servidores que cuidam do rebanho, e a viver em integridade diante do Senhor.
Que, pela intercessão dos mártires Cornélio e Cipriano, possamos ser Igreja que canta a justiça, caminha na fidelidade e anuncia sempre a vida nova de Cristo, Senhor da compaixão.
Segunda-feira, 15 de Setembro de 2025 24ª Semana do Tempo Comum
Leituras (próprias): Hb 5,7-9 Sl 30(31),2-3a.3bc-4.5-6.15-16.20 (R. 17b) Jo 19,25-27 ou Lc 2,33-35
Na liturgia do dia, fazemos a grata memória da Bem-Aventurada Virgem Maria das Dores. Lembrando a presença da mãe do salvador junto à cruz e de sua participação dolorosa na obra da nossa salvação, peçamos que também nós, como pede o apóstolo Paulo, cumpramos em nossa carne o que falta à paixão de Cristo.
Neste texto abaixo dos Sermões de São Bernardo, abade(Sermo in dom. infra oct. Assumptionis, 14-15: Opera omnia, Edit. Cisterc. 5[1968],273-274), uma bela meditação sobre o dia de hoje. Geralmente outros pontos da vida de Maria são muito comentados, mas a memória de hoje vai lançar luz sobre o seu martírio de dor. Leia e medite este texto:
O martírio da Virgem é mencionado tanto na profecia de Simeão quanto no relato da paixão do Senhor. Este foi posto, diz o santo ancião sobre o menino, como um sinal de contradição, e a Maria: e uma espada traspassará tua alma (cf. Lc 2,34-35).
Verdadeiramente, ó santa Mãe, uma espada traspassou tua alma. Aliás, somente traspassando-a, penetraria na carne do Filho. De fato, visto que o teu Jesus – de todos certamente, mas especialmente teu – a lança cruel, abrindo-lhe o lado sem poupar um morto, não atingiu a alma dele, mas ela traspassou a tua alma. A alma dele já ali não estava, a tua, porém, não podia ser arrancada dali. Por isto a violência da dor penetrou em tua alma e nós te proclamamos, com justiça, mais do que mártir, porque a compaixão ultrapassou a dor da paixão corporal.
E pior que a espada, traspassando a alma, não foi aquela palavra que atingiu até a divisão entre a alma e o espírito: Mulher, eis aí teu filho? (Jo 19,26). Oh! que troca incrível! João, Mãe, te é entregue em vez de Jesus, o servo em lugar do Senhor, o discípulo pelo Mestre, o filho de Zebedeu pelo Filho de Deus, o puro homem, em vez do Deus verdadeiro. Como ouvir isto deixaria de traspassar tua alma tão afetuosa, se até a sua lembrança nos corta os corações, tão de pedra, tão de ferro?
Não vos admireis, irmãos, que se diga ter Maria sido mártir na alma. Poderia espantar-se quem não se recordasse do que Paulo afirmou que entre os maiores crimes dos gentios estava o de serem sem afeição. Muito longe do coração de Maria tudo isto; esteja também longe de seus servos.
Talvez haja quem pergunte: “Mas não sabia ela de antemão que iria ele morrer?” Sem dúvida alguma. “E não esperava que logo ressuscitaria?” Com toda a confiança. “E mesmo assim sofreu com o Crucificado?” Com toda a veemência. Aliás, tu quem és ou donde tua sabedoria, para te admirares mais de Maria que compadecia, do que do Filho de Maria a padecer? Ele pôde morrer no corpo; não podia ela morrer juntamente no coração? É obra da caridade: ninguém a teve maior! Obra de caridade também isto: depois dela nunca houve igual.
Neste domingo, 14 de setembro, Festa da Exaltação da Santa Cruz, o Papa Leão XIV presidiu na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, em Roma, uma celebração em memória dos mártires e testemunhas da fé do século XXI. O encontro reuniu cerca de 4 mil pessoas, além de representantes de Igrejas Ortodoxas, Antigas Igrejas Orientais, Comunhões cristãs e Organizações ecumênicas.
Na homilia, o Papa destacou que, assim como Cristo carregou a cruz, muitos homens e mulheres hoje enfrentam perseguição e até a morte por permanecerem fiéis ao Evangelho. “São religiosos e religiosas, leigos e sacerdotes, que pagam com a vida a fidelidade ao Evangelho, o compromisso com a justiça, a luta pela liberdade religiosa e a solidariedade com os mais pobres”, afirmou.
A “esperança desarmada” dos mártires
Leão XIV ressaltou que esses testemunhos mantêm viva uma “esperança cheia de imortalidade”, capaz de vencer o ódio e a violência do mundo. Segundo ele, a fé dos mártires nunca recorreu à força, mas à mansidão do Evangelho. “É uma esperança desarmada, porque ninguém poderá silenciar a voz ou apagar o amor que eles deram”, disse o Pontífice.
Homenagem à Irmã Dorothy Stang
Entre os exemplos lembrados, o Papa citou a missionária americana Irmã Dorothy Stang, assassinada no Pará em 2005 após décadas de dedicação à Amazônia e aos direitos dos trabalhadores rurais. Ele recordou o momento em que, diante dos homens que iriam matá-la, ela levantou a Bíblia e declarou: “Esta é a minha única arma”.
Dorothy tinha 73 anos e dedicou quase 40 anos de sua vida ao Brasil. Para o Papa, sua entrega é símbolo de coragem evangélica e memória que não deve ser esquecida.
Unidade dos cristãos e memória viva
Durante a celebração, o Pontífice destacou também o trabalho da Comissão para os Novos Mártires, criada em 2023 pelo Papa Francisco. Desde então, mais de 1.600 testemunhos de fé foram reconhecidos pelo Vaticano, reforçando que a unidade entre os cristãos nasce da cruz de Cristo.
Ao final, Leão XIV citou o exemplo de Abish Masih, um menino paquistanês morto em um atentado, que havia escrito em seu caderno: “Making the world a better place” (“tornar o mundo um lugar melhor”). Para o Papa, esse sonho deve inspirar todos a testemunharem a fé com coragem e a construírem juntos uma humanidade mais pacífica e fraterna.
Liturgia do dia – Domingo, 14 de setembro de 2025 Exaltação da Santa Cruz – Festa – Ano C 24ª Semana do Tempo Comum
A Liturgia do dia nos convida a contemplar o mistério da Santa Cruz, sinal de salvação e vitória. A festa da Exaltação da Santa Cruz recorda que a cruz, antes instrumento de sofrimento e morte, tornou-se para os cristãos a árvore da vida, pela qual recebemos a redenção em Cristo.
Na primeira leitura (Nm 21,4b-9), o povo de Israel, ferido pelas serpentes no deserto, encontra na serpente erguida por Moisés o sinal de cura e salvação. Este gesto já anunciava o mistério de Cristo, elevado na cruz para dar vida ao mundo.
O salmo responsorial (Sl 77) nos convida a recordar as maravilhas de Deus, que sempre perdoa e salva o seu povo, mesmo quando este vacila na fidelidade.
Na segunda leitura (Fl 2,6-11), São Paulo apresenta o hino cristológico que proclama a obediência de Jesus até a morte de cruz. Por isso, Deus o exaltou, dando-lhe o nome acima de todo nome, diante do qual todo joelho se dobra.
O Evangelho (Jo 3,13-17) mostra que a cruz é o grande sinal do amor de Deus pela humanidade: “Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna”. A cruz não é derrota, mas manifestação plena da misericórdia e da vitória da vida sobre a morte.
A liturgia da Exaltação da Santa Cruz nos conduz ao coração do mistério cristão: a cruz, que aos olhos humanos é sinal de sofrimento e condenação, se torna em Cristo a plena revelação do amor de Deus e a fonte de vida eterna. O Evangelho de João nos apresenta Jesus como o Filho do Homem que desceu do céu e que deve ser elevado. Essa elevação possui um duplo sentido: histórico, pois se refere à sua entrega na cruz, e teológico, porque aponta também para sua glorificação junto do Pai. Assim como a serpente de bronze erguida por Moisés no deserto se tornou sinal de salvação para os que olhavam para ela, também o Filho do Homem, elevado na cruz, torna-se fonte de vida para todos os que nele crerem.
No centro do Evangelho está o versículo que muitos chamam de “pequeno evangelho”: “Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna”. Neste anúncio, encontra-se resumida toda a Boa Nova. Deus é o sujeito do amor, o mundo inteiro, mesmo em sua fragilidade e pecado, é o destinatário, e o Filho é o dom oferecido até a cruz. O fruto desta entrega é a vida eterna, concedida a quem se abre à fé. A cruz, portanto, não é o lugar da derrota, mas a epifania do amor gratuito e misericordioso de Deus, que não poupa o próprio Filho para salvar a humanidade.
O texto continua afirmando que Deus não enviou o Filho para condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Esse detalhe é essencial: a cruz não é condenação, mas reconciliação; não é sinal da ira divina, mas do excesso de amor que gera salvação. O julgamento não é um castigo imposto, mas a escolha que cada pessoa faz diante do amor manifestado em Cristo. Quem crê encontra vida; quem rejeita permanece nas trevas.
Liturgicamente, a cruz é exaltada como altar do sacrifício, trono de glória e sinal de comunhão. No altar, Cristo se entrega totalmente ao Pai por amor à humanidade. No trono da cruz, Ele reina, pois é precisamente no abaixamento que se manifesta sua exaltação. Como sinal de comunhão, a cruz une o céu e a terra, reconciliando os homens com Deus e entre si. A festa de hoje nos convida, portanto, a olhar para a cruz não como peso, mas como caminho de amor e libertação, celebrando-a como sinal pascal de vitória.
Exaltar a cruz significa reconhecer que nela está a fonte de nossa fé, esperança e caridade. Na fé, porque acreditamos que a vida venceu a morte e que o amor é mais forte que o pecado. Na esperança, porque podemos carregar as nossas cruzes com confiança, certos de que em Cristo já participamos de sua ressurreição. Na caridade, porque somos chamados a viver a mesma entrega de amor que Ele viveu, transformando a vida em dom.
Assim, a Liturgia do dia nos leva a contemplar o grande paradoxo cristão: onde parecia haver derrota, resplandece a vitória; onde se via morte, nasce a vida; onde se esperava condenação, transborda a misericórdia. A cruz, hoje exaltada, é para nós a certeza de que Deus nunca desiste da humanidade, mas a envolve com um amor que se faz total entrega.
Origem da Festa da Exaltação da Santa Cruz
A festa da Exaltação da Santa Cruz remonta aos primeiros séculos do cristianismo e está ligada a acontecimentos marcantes na história da Igreja. Sua origem mais antiga está associada à peregrinação de Santa Helena, mãe do imperador Constantino, à Terra Santa, por volta do ano 326. Movida por profunda devoção, ela procurou os lugares santos ligados à vida de Jesus e, segundo a tradição, encontrou o lenho da verdadeira cruz em Jerusalém. Poucos anos depois, Constantino mandou erguer no local a imponente Basílica do Santo Sepulcro, dedicada em 13 de setembro de 335. No dia seguinte, 14 de setembro, a cruz foi solenemente apresentada aos fiéis, que a veneraram com grande devoção. Esse gesto litúrgico passou a ser celebrado anualmente, dando origem à festa da Exaltação da Santa Cruz.
A importância dessa celebração se fortaleceu ainda mais no século VII, quando o imperador bizantino Heráclio recuperou a relíquia da cruz, que havia sido roubada pelos persas em 614. Em 628, a cruz foi devolvida solenemente a Jerusalém, e esse evento se uniu à memória já existente do dia 14 de setembro, conferindo à festa caráter universal.
Desde então, a Igreja não celebra apenas a descoberta ou a recuperação de uma relíquia, mas sobretudo o mistério que a cruz revela: a vitória de Cristo sobre a morte e a manifestação suprema do amor de Deus. A cruz, que aos olhos do mundo foi instrumento de humilhação, é exaltada como trono da glória de Cristo e árvore da vida, da qual brota a salvação.
Por isso, a liturgia deste dia não se concentra no sofrimento da paixão, como acontece na Sexta-feira Santa, mas na alegria pascal da cruz redentora. Ao celebrarmos a Exaltação da Santa Cruz, contemplamos o sinal do amor infinito de Deus, que transforma aquilo que era derrota em vitória e aquilo que era morte em fonte de vida.
Que esta Liturgia do dia nos ajude a contemplar a cruz não como peso, mas como caminho de amor, entrega e salvação.
A carta aos Romanos é uma das mais profundas e sistemáticas exposições da fé cristã no Novo Testamento. Escrita pelo apóstolo Paulo provavelmente por volta do ano 57 d.C., durante sua estada em Corinto, ela se dirige a uma comunidade mista de judeus e gentios em Roma. Seu tema central é o evangelho como poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm 1,16-17), revelando a justiça de Deus que se manifesta pela fé.
Abaixo apresento um estudo teológico estruturado sobre a carta:
1. Contexto Histórico e Propósito
Paulo ainda não havia visitado Roma, mas desejava estabelecer ali uma base missionária para alcançar a Espanha (Rm 15,22-24).
A igreja de Roma provavelmente surgiu de judeus convertidos no Pentecostes (At 2,10) e posteriormente se expandiu para incluir gentios.
O propósito principal é unir judeus e gentios em torno do evangelho e apresentar a mensagem paulina de forma ordenada, servindo como sua “carta magna” teológica.
A maioria dos estudiosos situa a redação em torno de 57/58 d.C., durante a terceira viagem missionária de Paulo. O apóstolo estava em Corinto (ou em Cencréia, porto próximo), antes de viajar para Jerusalém (cf. Rm 15,25-26). Isso é confirmado pela referência a Febe, diaconisa da Igreja de Cencréia (Rm 16,1).
A comunidade cristã de Roma não foi fundada por Paulo, nem há registro apostólico direto (Atos não menciona a fundação). Provavelmente, os primeiros cristãos romanos foram peregrinos judeus convertidos em Jerusalém no Pentecostes (cf. At 2,10: “visitantes de Roma”). Esses judeus levaram a fé em Cristo ao Império. A comunidade cresceu e passou a incluir gentios convertidos, o que gerou tensões.
No ano 49 d.C., o imperador Cláudio expulsou os judeus de Roma por causa de conflitos ligados a “Chrestus” (Suetônio, Cláudio 25,4) – provavelmente disputas entre judeus sobre Jesus Cristo. Entre os expulsos estavam Áquila e Priscila, que Paulo encontra em Corinto (At 18,2). Após a morte de Cláudio (54 d.C.), os judeus retornaram a Roma, mas a comunidade já havia se tornado majoritariamente gentílica. Isso gerou tensões culturais e religiosas: judeus queriam observar a Lei e tradições; e os gentios viviam a liberdade em Cristo sem a Torá. A carta, portanto, busca unidade entre judeus e gentios.
O propósito desta carta visa apresentar o evangelho de Paulo de forma sistemática, pois ele ainda não conhecia a comunidade pessoalmente (Rm 1,10-13). Também unir judeus e gentios em torno da fé em Cristo, superando divisões e preparar sua missão à Espanha: Paulo queria Roma como base missionária no Ocidente (Rm 15,22-24). Por fim, esta carta recolhe apoio espiritual para sua viagem iminente a Jerusalém, onde levaria a coleta em favor dos pobres (Rm 15,25-27).
O contexto religioso e cultural de Roma
Roma era a capital do Império, multicultural e religiosa, marcada por idolatria e culto ao imperador. A comunidade cristã vivia no coração do paganismo e sob risco de perseguição, ainda que localizada (as grandes perseguições viriam mais tarde, sob Nero e Domiciano). O cristianismo era visto como seita judaica, mas começava a ter identidade própria.
Assim, Romanos funciona como uma “carta magna” da teologia paulina:
O pecado universal (Rm 1–3).
A justificação pela fé (Rm 3–5).
A vida no Espírito (Rm 6–8).
O lugar de Israel no plano de Deus (Rm 9–11).
A vida cristã prática (Rm 12–15).
Enfim a Carta aos Romanos é uma síntese madura de uma reflexão teológica, escrita no fim de mais de 20 anos de missão apostólica.
2. Estrutura da Carta
Introdução à Carta aos Romanos: O Poder Transformador do Evangelho (Rm 1,1-17)
A carta aos Romanos é uma das obras-primas de Paulo, combinando profundidade teológica, clareza e aplicação prática para a vida do cristão. Nos primeiros dezessete versículos do capítulo 1, o apóstolo apresenta-se e resume a essência do evangelho: Cristo como cumprimento das promessas divinas, o poder de Deus para salvar e a justiça que se revela pela fé.
Paulo: servo e apóstolo de Cristo
Paulo começa sua carta dizendo: “Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus” (Rm 1,1). Mais do que uma formalidade, essa introdução estabelece sua credibilidade e compromisso. Ao se declarar “servo”, Paulo mostra que sua vida está totalmente subordinada a Cristo. Ao se identificar como “apóstolo”, destaca que foi enviado diretamente por Deus para compartilhar a boa notícia. E ao dizer que foi “separado para o evangelho”, ele enfatiza que sua missão é clara e única: anunciar Jesus.
Esse cuidado é especialmente importante, já que a igreja de Roma reunia pessoas de diferentes culturas e origens. Paulo ainda não conhecia a comunidade pessoalmente, mas queria que eles compreendessem sua autoridade e seu coração pastoral. Ele nos lembra que, quando falamos de fé, é essencial unir convicção, transparência e respeito pelo outro.
Cristo: cumprimento das promessas de Deus
Nos versículos 2 a 4, Paulo conecta Jesus à história de Israel: o evangelho foi “prometido anteriormente por Deus, por meio dos profetas nas Escrituras Sagradas, a respeito de seu Filho”. Cristo não aparece de forma isolada; Ele é o cumprimento das promessas feitas por Deus ao longo dos séculos.
Paulo menciona que Jesus nasceu da descendência de Davi, reafirmando sua ligação histórica com o povo de Israel, mas também destaca que, pela ressurreição, Ele se tornou Filho de Deus em poder. Essa combinação de humanidade e divindade mostra que Jesus é o ponto central da história da salvação — a ponte entre Deus e a humanidade.
O evangelho: poder de Deus para a salvação
Paulo não apresenta o evangelho como mera teoria ou conjunto de normas, mas como o poder de Deus para salvar todo aquele que crê (Rm 1,16). A palavra “poder” indica eficácia real e transformadora. A salvação não depende de esforço humano, de títulos ou riqueza, mas da ação de Deus na vida de quem confia em Cristo.
Para os romanos, acostumados a valorizar prestígio, força e conquistas, essa mensagem era revolucionária. Paulo nos lembra que o verdadeiro poder não está em nós, mas em Deus — e que Ele age na vida de cada um que se entrega a Ele.
Justiça de Deus revelada pela fé
Outro tema central da introdução é a justiça de Deus, revelada pela fé (Rm 1,17). Paulo cita: “O justo viverá por fé”, mostrando que a fé é o meio pelo qual participamos da justiça de Deus, não um conjunto de obras para ganhar aprovação divina. A justiça de Deus é, portanto, uma realidade viva, que transforma corações e atitudes.
Essa justiça não discrimina. Ela é acessível a todos, independentemente de etnia, cultura ou condição social. O evangelho é inclusivo, oferecendo a mesma esperança e transformação a todos que creem.
O desejo de Paulo de visitar Roma
Nos versículos 8 a 15, Paulo expressa seu desejo de visitar a igreja de Roma. Ele quer compartilhar o evangelho e ser encorajado pela fé dos irmãos. Isso mostra duas dimensões essenciais da vida cristã: comunhão e missão. A fé se fortalece quando é vivida em comunidade, e o evangelho se espalha quando é compartilhado de forma sincera e amorosa.
Paulo lembra que a igreja não é apenas receptora de instruções, mas parceira na obra de Deus, formando uma rede de fé que atravessa fronteiras geográficas e culturais.
Enfim, uma introdução que transforma
A introdução de Romanos (Rm 1,1-17) é muito mais do que um texto formal. Ela combina autoridade, clareza teológica e sensibilidade pastoral. Paulo apresenta Cristo como cumprimento das promessas, revela o poder do evangelho e destaca a justiça que se recebe pela fé. Ele mostra que a fé cristã não é um ideal distante, mas uma relação viva com Deus, capaz de transformar vidas e comunidades.
Ler esses versículos nos convida a refletir: o cristianismo é um caminho de confiança, mudança e ação. É a experiência de viver pela fé, deixar que Deus nos transforme e compartilhar essa vida com outros. A mensagem que Paulo escreveu há quase dois mil anos continua sendo atual, poderosa e libertadora — um verdadeiro convite para experimentar o evangelho em sua plenitude.
Condição humana e necessidade da salvação (Rm 1,18 – 3,20)
Todos pecaram: os gentios pela idolatria e imoralidade, os judeus por hipocrisia e confiança na lei.
Conclusão: “Não há justo, nem um sequer” (3,10).
Uma das partes centrais da carta aos Romanos é o diagnóstico que Paulo faz da humanidade diante de Deus. Nos capítulos 1,18 até 3,20, ele apresenta com clareza a condição humana, mostrando que todos, sem exceção, estão debaixo do pecado e necessitam da salvação oferecida por Deus através de Jesus Cristo. Essa análise não é apenas teológica; ela tem implicações profundas para a compreensão da fé e da vida cristã.
A revelação da ira de Deus contra o pecado (Rm 1,18-32)
Paulo inicia essa seção afirmando que a ira de Deus se revela contra toda impiedade e injustiça dos homens, aqueles que suprimem a verdade pela injustiça (Rm 1,18). Aqui ele mostra que a humanidade não está neutra diante de Deus; o pecado não passa despercebido.
A revelação de Deus na criação: Mesmo sem ter acesso à Escritura, os seres humanos conhecem Deus por meio da natureza e da criação (Rm 1,19-20). O que vemos no mundo, na complexidade da vida e na ordem do universo, aponta para um Criador.
A recusa em glorificar a Deus: Apesar dessa evidência, muitos rejeitam Deus, tornando-se idólatras e entregues à corrupção moral (Rm 1,21-23). Paulo descreve a consequência de afastar-se da verdade: comportamentos imorais, degradação ética e relacionamentos marcados pelo egoísmo.
O resultado do pecado: Uma sociedade centrada em si mesma e em prazeres passageiros inevitavelmente enfrenta o caos moral e espiritual. Paulo apresenta uma lista de pecados que resultam da rejeição a Deus, incluindo imoralidade sexual, inveja, maldade e desrespeito ao próximo (Rm 1,24-32).
A mensagem é clara: o pecado é universal e suas consequências afetam todos os níveis da vida humana — pessoal, social e espiritual.
Todos os seres humanos estão debaixo do pecado (Rm 2,1 – 3,8)
No capítulo 2, Paulo volta-se para aqueles que poderiam pensar que estão “melhores” ou mais justos do que outros. Ele lembra que não há favoritismo diante de Deus: tanto judeus quanto gentios estão sob a mesma necessidade de salvação.
A tentação do julgamento: Alguns se consideram superiores por conhecer a Lei de Deus ou por seguir tradições religiosas. Paulo alerta que julgar os outros não elimina o pecado pessoal (Rm 2,1).
A responsabilidade universal: Deus “retribuirá a cada um segundo suas obras” (Rm 2,6-10), mas ninguém consegue justificar-se apenas por mérito ou pela observância da lei externa.
O papel da lei: Para os judeus, a Lei de Deus revelava o padrão de justiça. No entanto, mesmo os que têm acesso à lei não estão automaticamente justificados, pois o pecado é mais profundo que simples desobediência externa (Rm 2,12-16).
Paulo mostra que a condição humana não depende de religião, cultura ou conhecimento religioso: todos precisam da intervenção divina.
Conclusão inevitável: ninguém é justo por si mesmo (Rm 3,9-20)
Paulo conclui essa análise com uma afirmação contundente: “Não há ninguém justo, nem um sequer” (Rm 3,10). Aqui ele sintetiza todo o diagnóstico humano: todos, judeus e gentios, estão sob o pecado.
A universalidade do pecado: Todos pecaram e carecem da glória de Deus (Rm 3,23). Não há distinção entre culturas, etnias ou contextos sociais — o problema é universal.
O papel da lei: A lei não é inútil; ela revela o pecado, mostra o padrão de Deus e evidencia a necessidade de justiça. No entanto, ninguém pode alcançá-la perfeitamente apenas por esforço próprio (Rm 3,19-20).
A necessidade da salvação: Diante desse diagnóstico, fica evidente que nenhum ser humano pode salvar-se sozinho. A condição de pecado torna impossível conquistar a justiça por mérito próprio, enfatizando a necessidade do evangelho como única solução.
Paulo prepara o terreno para a revelação da graça: se todos estão sob pecado, a salvação só pode vir de Deus, mediante fé em Jesus Cristo.
Implicações para o leitor moderno
O ensino de Paulo sobre a condição humana não é apenas histórico; tem aplicação direta para a vida de qualquer pessoa hoje:
Reconhecimento do pecado: É necessário reconhecer nossas limitações e falhas, sem cair em autoengano ou comparações.
Dependência da graça de Deus: Nenhuma obra humana é suficiente para obter salvação; a fé em Cristo é essencial.
Humildade e comunhão: Compreender que todos pecam promove humildade, respeito e empatia, fortalecendo a vida comunitária e a solidariedade.
Urgência do evangelho: A consciência da universalidade do pecado evidencia a importância de compartilhar a mensagem de salvação com todos.
Nos capítulos 1,18 a 3,20, Paulo apresenta um diagnóstico preciso da condição humana: todos estão debaixo do pecado e, portanto, necessitam da salvação que somente Deus oferece. Ele mostra que o pecado é universal, afeta todas as pessoas, independentemente de origem, cultura ou religião, e que a Lei de Deus revela, mas não remove, essa condição.
Essa análise prepara o leitor para a grande notícia de Romanos: a salvação pela fé em Jesus Cristo (Rm 3,21 em diante), que é o único caminho para restaurar a relação entre Deus e a humanidade. O evangelho, portanto, não é apenas uma proposta moral ou ética, mas uma resposta à nossa profunda necessidade espiritual.
Justificação pela fé (Rm 3,21 – 5,21)
A justiça de Deus se manifesta independente da lei, mediante a fé em Cristo.
Abraão é exemplo de fé (Rm 4).
A justificação traz paz com Deus e reconciliação (Rm 5).
A carta de Paulo aos Romanos é uma das exposições mais profundas do evangelho no Novo Testamento, e um dos temas centrais dessa epístola é a justificação pela fé. Nos capítulos 3 a 5, o apóstolo apresenta uma explicação detalhada de como a humanidade pode ser reconciliada com Deus, demonstrando que a justiça divina não depende da Lei, mas da fé em Cristo. Essa revelação é fundamental para compreender a essência da mensagem cristã e a maneira como Deus se relaciona com a humanidade.
Em Romanos 3,21, Paulo afirma que a justiça de Deus se manifesta independentemente da Lei, ou seja, não depende das obras humanas ou do cumprimento estrito das regras. A Lei, embora importante como guia moral e revelação da vontade de Deus, não tem o poder de tornar o ser humano justo diante do Criador. Isso ocorre porque o pecado afetou toda a humanidade, tornando impossível que alguém alcance a perfeição necessária para ser aceito por Deus apenas por méritos próprios. A boa notícia é que Deus provê uma justiça alternativa, acessível mediante a fé em Jesus Cristo, oferecida gratuitamente a todos os que creem.
A fé, nesse contexto, não é apenas um assentimento intelectual, mas uma confiança ativa e pessoal na obra de Cristo. Por meio de sua morte e ressurreição, Jesus torna possível que os seres humanos sejam declarados justos, apesar de suas falhas e limitações. A justificação, portanto, não é um prêmio pelas boas ações, mas um dom divino, fruto do amor e da graça de Deus. Essa verdade liberta o crente do medo da condenação, trazendo paz interior e segurança na relação com Deus.
Para ilustrar a natureza da fé, Paulo recorre ao exemplo de Abraão, considerado o pai da fé. No capítulo 4, ele mostra que Abraão foi justificado não por obras, mas por sua confiança nas promessas de Deus, mesmo antes de estas se cumprirem concretamente. Abraão creu que Deus cumpriria aquilo que prometera, e essa fé lhe foi considerada justiça. Esse exemplo tem duas funções importantes: primeiro, conecta a tradição judaica com a nova realidade em Cristo, mostrando continuidade entre Antigo e Novo Testamento; segundo, demonstra que a fé verdadeira sempre foi o caminho para a comunhão com Deus. Assim, Paulo estabelece um modelo para todos os crentes: a fé, não o mérito humano, é o que permite a justificação.
O capítulo 5 de Romanos aprofunda os efeitos da justificação. Paulo explica que a fé não apenas declara o ser humano justo, mas transforma a experiência de vida do crente. A justificação gera paz com Deus, libertando a pessoa da culpa e da condenação, e promove reconciliação, restaurando a relação rompida pelo pecado. Essa reconciliação não é apenas teórica; ela tem implicações práticas, pois transforma o modo como o indivíduo vive, age e se relaciona com os outros. A fé verdadeira, então, é acompanhada de uma vida ética coerente, fundamentada na gratidão e na confiança em Deus.
Paulo também apresenta um contraste entre Adão e Cristo, que ajuda a compreender a profundidade da justificação. Por meio de Adão, o pecado entrou no mundo e trouxe a morte para toda a humanidade. Por meio de Cristo, no entanto, a graça e a vida eterna são oferecidas a todos que creem. Esse contraste evidencia que a fé em Jesus é universal e inclusiva, rompendo barreiras de raça, cultura ou histórico pessoal. A justificação, portanto, não é limitada a um grupo específico, mas está disponível a todos que respondem com confiança ao chamado de Deus.
Além disso, a justificação pela fé tem implicações sociais e comunitárias. Ao ser justificado, o crente é chamado a viver de forma coerente com a graça recebida, manifestando amor, compaixão e justiça em suas relações. A fé não é passiva; ela gera frutos que refletem a transformação interior e a presença do Espírito Santo. A paz e a reconciliação com Deus se estendem, assim, à vida cotidiana, tornando-se fundamento para a ética cristã e para a construção de comunidades justas e fraternas.
Em síntese, Romanos 3 a 5 apresenta um panorama completo da justificação pela fé:
A humanidade não pode ser justificada pela Lei, pois todos são afetados pelo pecado.
A fé em Cristo torna possível a justificação, independentemente das obras humanas.
Abraão exemplifica a fé verdadeira, mostrando que a confiança em Deus é contada como justiça.
A justificação traz paz e reconciliação, transformando a vida do crente.
Cristo supera Adão, oferecendo graça, vida e salvação universal.
Essa doutrina não é apenas teológica, mas profundamente prática. Ela oferece esperança, segurança e liberdade ao crente, ensinando que a salvação é dom de Deus e não conquista humana. Ao mesmo tempo, ela desafia os cristãos a viver de forma coerente com a fé, refletindo a justiça divina em atos concretos de amor e serviço. A justificação pela fé revela o coração do evangelho: Deus, em sua misericórdia, torna possível que a humanidade, apesar do pecado, participe de sua vida e graça, transformando cada pessoa de dentro para fora.
Portanto, entender a justificação pela fé é compreender o cerne do cristianismo: a graça de Deus, manifestada em Cristo, que liberta, reconcilia e transforma. É a certeza de que, independentemente de nosso passado ou imperfeições, a fé em Jesus nos garante justiça, paz e vida eterna, inaugurando uma nova realidade de comunhão com Deus e com os irmãos.
Santificação e vida nova em Cristo (Rm 6 – 8)
O crente está morto para o pecado e vivo para Deus.
A lei revela o pecado, mas não salva.
O Espírito Santo capacita para a vida cristã (Rm 8), culminando com a esperança da glória futura.
Após apresentar a justificação pela fé, Paulo continua em Romanos 6 a 8 explicando a vida nova que o crente recebe em Cristo. Enquanto a justificação trata de ser declarado justo diante de Deus, a santificação refere-se ao processo pelo qual essa justiça começa a se manifestar na vida cotidiana, transformando atitudes, desejos e ações.
No capítulo 6, Paulo introduz a ideia de que aqueles que foram batizados em Cristo compartilham de sua morte e ressurreição. Ele enfatiza que, assim como Cristo morreu para o pecado e ressuscitou para a vida, os cristãos também são chamados a morrer para o pecado e viver para Deus. Essa morte simbólica ao pecado significa que o crente não está mais escravizado às práticas e desejos antigos que o afastavam de Deus. A ressurreição em Cristo representa, portanto, uma nova vida, caracterizada pela liberdade espiritual e pela possibilidade de viver segundo a vontade divina. Paulo ressalta que essa transformação não é superficial: ela atinge o coração e a mente, permitindo uma mudança duradoura de comportamento.
A santificação não é obra humana isolada; ela ocorre pela graça de Deus e pela ação do Espírito Santo. Em Romanos 7, Paulo descreve o conflito interno que permanece no crente: apesar de desejar obedecer a Deus, o ser humano ainda sente a presença do pecado em sua carne. Esse conflito mostra que a santificação é um processo contínuo, que exige dependência constante de Deus. É nesse contexto que Paulo apresenta a figura do Espírito Santo, no capítulo 8, como aquele que capacita o crente a viver de maneira plena e livre. O Espírito não apenas fortalece a obediência, mas também produz frutos espirituais, como amor, paciência, bondade e autocontrole, evidenciando a transformação interior.
Romanos 8 apresenta uma das promessas mais consoladoras do evangelho: não há condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus. Esse capítulo reforça que a vida nova em Cristo não é marcada por medo ou insegurança, mas por liberdade, esperança e intimidade com Deus. O Espírito Santo intercede pelos crentes, garantindo que suas fraquezas e limitações não os separem do amor divino. Assim, a santificação é inseparável da vida no Espírito: é por meio dele que a fé se traduz em ações concretas, em uma vida alinhada à vontade de Deus.
Paulo também destaca a dimensão escatológica da santificação. A vida nova em Cristo é uma antecipação da glória futura, quando o pecado e a morte serão finalmente derrotados. Mesmo diante das dificuldades, sofrimentos e lutas diárias, o crente pode viver com confiança, sabendo que Deus trabalha para o bem daqueles que O amam. A santificação, portanto, não é apenas moralização ou esforço pessoal, mas participação na obra contínua de Deus de restaurar e transformar toda a criação.
Em síntese, Romanos 6 a 8 apresenta uma progressão clara na vida do crente:
Morte para o pecado e nova vida em Cristo – a ressurreição de Cristo se torna modelo e força para a transformação pessoal.
Conflito interno e dependência do Espírito – o pecado ainda é realidade, mas o Espírito Santo capacita o crente a vencê-lo.
Liberdade e segurança no amor de Deus – a vida no Espírito garante que não há condenação, mesmo diante das falhas humanas.
Esperança futura e glorificação – a santificação aponta para a participação plena na glória de Deus, quando a vida nova se consumará eternamente.
A santificação, portanto, é uma vida de constante crescimento em Cristo, marcada pela transformação de pensamentos, atitudes e relacionamentos. É viver a fé de forma prática, traduzindo a justificação recebida em liberdade, amor e integridade diária. Essa vida nova não é fruto de esforço humano isolado, mas da cooperação com Deus, que atua no coração do crente por meio do Espírito Santo.
Romanos 6 a 8 revela que a santificação é um chamado à consciência de identidade em Cristo. O crente não é mais definido pelo pecado, pelo passado ou por falhas humanas, mas por sua união com Cristo e pela obra do Espírito em sua vida. É um convite a viver de maneira coerente com a graça recebida, experimentando a liberdade, a paz e a plenitude que só podem ser encontradas em Deus. Essa transformação não é apenas individual, mas comunitária, refletindo-se na ética, no amor ao próximo e na contribuição para a construção de um mundo mais justo e compassivo.
Em resumo, a santificação e a vida nova em Cristo mostram que a fé cristã não se limita a um estado legal diante de Deus, mas se manifesta em uma experiência diária de crescimento, liberdade e comunhão com Deus. A vida nova em Cristo é a evidência prática da graça recebida, o testemunho de que Deus transforma, renova e conduz aqueles que confiam plenamente em Seu poder. Ela nos lembra que a fé verdadeira se traduz em ação, esperança e perseverança, mesmo diante dos desafios da vida.
O plano de Deus para Israel e os gentios (Rm 9 – 11)
A eleição divina e a soberania de Deus.
Israel rejeitou o Messias, mas não foi rejeitado definitivamente.
O mistério: a inclusão dos gentios e a futura restauração de Israel.
Nos capítulos 9 a 11 da carta aos Romanos, Paulo aborda uma questão delicada e central para a compreensão do evangelho: a relação entre Deus, Israel e os gentios. Ele trata da fidelidade divina às promessas feitas ao povo de Israel, da responsabilidade humana diante da fé e do papel dos gentios no plano redentor de Deus. Esse trecho revela a sabedoria e a soberania de Deus na condução da história da salvação.
Paulo começa no capítulo 9 expressando sua profunda dor e preocupação pelo seu povo, Israel. Ele reconhece que, embora Israel tenha sido o escolhido de Deus e tenha recebido as promessas, nem todos se voltaram para a fé em Cristo. Essa realidade levanta a questão de por que alguns são alcançados pela salvação e outros não. Paulo enfatiza que a escolha de Deus não depende de mérito humano, mas de sua misericórdia e propósito soberano. Ele cita exemplos do Antigo Testamento, como Isaque e Jacó, para ilustrar que Deus atua segundo seu plano e chama aqueles que Ele deseja, conforme Sua sabedoria e justiça.
No capítulo 10, Paulo apresenta uma resposta pastoral e prática: a salvação está disponível a todos, mas depende da confissão de fé e da pregação do evangelho. Ele afirma que “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”, destacando que a justiça que vem da fé é acessível tanto a judeus quanto a gentios. A obediência à Lei, por si só, não garante a salvação; é a fé em Cristo que une a humanidade ao plano de Deus. Assim, Paulo demonstra que o evangelho não anula a promessa feita a Israel, mas a cumpre e a expande, incluindo os gentios.
O capítulo 11 aprofunda a compreensão do papel de Israel e dos gentios no plano divino. Paulo apresenta a metáfora da oliveira: os judeus, como ramos naturais, foram parcialmente endurecidos, enquanto os gentios, como ramos enxertados, participam agora da mesma árvore de vida espiritual. Essa imagem mostra que a salvação é um dom de Deus, oferecido pela graça, sem distinção de origem étnica. Ao mesmo tempo, Paulo enfatiza que Deus não rejeitou definitivamente Israel; há sempre a possibilidade de arrependimento e restauração, demonstrando que o plano divino é inclusivo e fiel às promessas feitas aos antepassados.
Paulo também ensina que a história da salvação é marcada por mistério e sabedoria divina. Deus permite que algumas situações, como o endurecimento temporário de Israel, sirvam para que os gentios conheçam a graça, enquanto mantém a promessa de restauração futura para Israel. Esse equilíbrio revela a justiça e misericórdia divinas, mostrando que o plano de Deus é maior do que a compreensão humana e que Ele age sempre para cumprir seus propósitos eternos.
Em síntese, Romanos 9 a 11 apresenta os seguintes pontos centrais:
Soberania e fidelidade de Deus – Ele escolhe segundo seu propósito, não pelo mérito humano.
Inclusão dos gentios – A salvação é oferecida a todos os que creem, integrando-os no povo de Deus.
Esperança para Israel – O povo escolhido permanece parte do plano divino, com possibilidade de arrependimento e restauração.
Mistério da história da salvação – Deus conduz a história de forma sábia, equilibrando justiça e misericórdia.
O ensino de Paulo sobre Israel e os gentios é relevante não apenas para a compreensão histórica, mas também para a vida cristã contemporânea. Ele nos lembra que a salvação é obra de Deus, não fruto do esforço humano, e que o evangelho é universal, rompendo barreiras culturais, étnicas e sociais. Além disso, destaca a importância de respeitar a diversidade dentro do plano de Deus, reconhecendo que cada pessoa, povo e história estão sob a providência divina.
Portanto, Romanos 9 a 11 revela a complexidade e profundidade do plano de Deus para a humanidade. Ele é justo, misericordioso, soberano e fiel às promessas. Israel e os gentios participam da mesma obra de salvação, mostrando que a graça divina é universal e transformadora. Esse trecho da carta convida os crentes a confiar na sabedoria de Deus, a viver a fé de forma inclusiva e a reconhecer que o plano divino é maior do que qualquer compreensão humana limitada. A história da salvação, portanto, não é apenas um relato do passado, mas um convite contínuo à esperança, à fidelidade e à participação ativa na obra de Deus no mundo.
Exortações práticas (Rm 12 – 15,13)
Vida cristã transformada: amor, serviço, submissão às autoridades, cuidado com os fracos na fé.
O evangelho se manifesta em ética comunitária.
Após apresentar a doutrina da justificação, da santificação e da vida no Espírito, Paulo dedica os capítulos 12 a 15,13 de Romanos a instruções práticas sobre como a fé deve se manifestar na vida diária do cristão. Essas exortações têm um caráter ético, relacional e comunitário, mostrando que o evangelho não é apenas conhecimento teológico, mas força transformadora para a ação, convivência e serviço.
No início do capítulo 12, Paulo enfatiza a consagração total a Deus, chamando os crentes a oferecerem seus corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Essa linguagem remete à ideia de entrega integral, sugerindo que a fé não se limita a crenças ou rituais, mas se traduz em atitudes concretas de obediência, serviço e amor. A consagração envolve tanto a esfera espiritual quanto as escolhas práticas da vida cotidiana, desde decisões éticas até comportamentos sociais.
Paulo segue com instruções sobre humildade, serviço e diversidade de dons. Ele compara a comunidade cristã a um corpo, no qual cada membro desempenha um papel específico, mas todos são essenciais para o funcionamento saudável do todo. Essa metáfora reforça a importância de reconhecer talentos, vocações e funções diferentes, promovendo unidade, colaboração e respeito mútuo. Os dons espirituais — como ensino, serviço, administração e hospitalidade — devem ser usados não para glória própria, mas para edificação da comunidade e expansão do Reino de Deus.
O capítulo 13 enfatiza a responsabilidade social e ética. Paulo instrui os crentes a se submeterem às autoridades civis, pagando impostos e vivendo de forma honesta e pacífica. Ele destaca que o amor ao próximo é o cumprimento da Lei, lembrando que a ética cristã não se restringe ao culto, mas se manifesta no respeito às regras, à justiça e à convivência harmoniosa na sociedade. Nesse contexto, o amor é entendido como força transformadora que orienta comportamentos e decisões.
No capítulo 14 e início do 15, Paulo aborda questões de consciência e convivência entre diferentes membros da comunidade. Ele reconhece que existem diferenças legítimas entre os crentes, como práticas alimentares ou observância de dias específicos, e exorta a não julgar uns aos outros. A prioridade deve ser preservar a unidade, edificar o próximo e agir com sensibilidade, evitando causar escândalo ou tropeço. Essa orientação evidencia que a vida cristã envolve responsabilidade comunitária, empatia e discernimento, equilibrando liberdade e cuidado pelo outro.
Paulo também enfatiza a importância da esperança, da paciência e da perseverança. Ele encoraja os crentes a se alegrarem na esperança, suportarem as tribulações e manterem a prática da oração constante. Essas exortações revelam que a fé cristã é dinâmica, exigindo resistência diante das dificuldades e confiança na fidelidade de Deus. O foco não está apenas na sobrevivência, mas em uma vida ativa de serviço, amor e crescimento espiritual.
Em resumo, as exortações práticas de Romanos 12 a 15,13 apresentam princípios claros para a vida cristã:
Entrega e consagração a Deus – a fé deve guiar pensamentos, ações e decisões.
Humildade e uso dos dons – cada membro da comunidade tem um papel único, a serviço do bem comum.
Amor e responsabilidade ética – a moral cristã se manifesta em respeito, honestidade e serviço social.
Unidade na diversidade – diferenças legítimas devem ser respeitadas, priorizando a edificação do outro.
Esperança e perseverança – viver a fé exige paciência, oração e confiança na obra de Deus.
Essas instruções permanecem extremamente relevantes para os cristãos hoje. Elas lembram que a fé verdadeira não é isolada, mas se manifesta na convivência, no serviço, no amor e no cuidado pelos outros. Paulo mostra que a vida cristã é integral, conectando crença, ética, relacionamentos e missão.
Em síntese, Romanos 12 a 15,13 ensina que a fé deve ser prática e transformadora, conduzindo o credente a viver com integridade, amor e responsabilidade. Ao seguir essas exortações, a comunidade cristã se fortalece, a sociedade é impactada positivamente e o evangelho é vivido de forma concreta, fiel à mensagem de Cristo.
Conclusão (Rm 15,14 – 16,27)
Saudações, recomendações e bênção final.
Nos capítulos finais da carta aos Romanos, Paulo encerra sua exposição teológica com instruções práticas, saudações pessoais e palavras de encorajamento, mostrando que a fé não é apenas conhecimento, mas se traduz em relações, serviço e comunhão. A conclusão (Rm 15,14 – 16,27) revela a dimensão pastoral da carta e oferece importantes lições sobre a vida cristã em comunidade.
Paulo começa reafirmando sua confiança na maturidade espiritual dos cristãos em Roma. Ele os descreve como pessoas cheias de capacidade para ensinar e exortar uns aos outros, evidenciando que a fé verdadeira gera sabedoria, discernimento e ação prática. Essa afirmação reforça que a teologia apresentada ao longo da carta não é apenas teoria, mas deve produzir frutos na vida cotidiana: encorajamento mútuo, edificação da comunidade e unidade entre judeus e gentios.
Em seguida, Paulo apresenta sua intenção missionária. Ele compartilha seu desejo de visitar Roma e, a partir daí, seguir para a Espanha, mostrando que a missão cristã é global e que a propagação do evangelho depende da mobilidade, coragem e fidelidade dos crentes. Esse aspecto revela a dimensão universal do evangelho, que não se restringe a uma cultura ou território específico, mas se estende a todos os povos.
A carta também enfatiza a importância da união e da humildade dentro da comunidade. Paulo exorta os cristãos a aceitarem uns aos outros, assim como Cristo os aceitou, promovendo harmonia entre diferentes grupos étnicos e sociais. Essa instrução é particularmente relevante, considerando que a igreja de Roma incluía tanto judeus quanto gentios, cada um com suas tradições e experiências espirituais. O apóstolo destaca que a verdadeira unidade cristã não é conformidade superficial, mas um respeito profundo e mútuo, enraizado no amor e na fé em Cristo.
Nos versículos finais, Paulo dedica uma atenção especial às saudações pessoais, mencionando diversos colaboradores, líderes e irmãos na fé. Essa lista de nomes revela a rede de relacionamentos que sustentava a missão cristã e mostra como a vida da igreja dependia de comunhão, apoio mútuo e serviço conjunto. Cada saudação transmite reconhecimento, gratidão e incentivo, refletindo a importância do cuidado pastoral e da valorização das pessoas dentro da obra de Deus.
Paulo conclui com orações e bênçãos, destacando a grandeza e a fidelidade de Deus. Ele enfatiza que todo louvor e glória pertencem a Deus, que é capaz de fortalecer, orientar e guardar a comunidade em união com Cristo. Essa doxologia final (Rm 16,25-27) serve como um lembrete de que, apesar das dificuldades e desafios enfrentados na vida cristã, o plano de Deus é soberano e eficaz, garantindo que a mensagem do evangelho seja propagada e que a obra de salvação seja consumada.
A conclusão da carta aos Romanos, portanto, cumpre várias funções essenciais:
Reforço da maturidade espiritual – Paulo reconhece a capacidade dos cristãos de viver e ensinar a fé.
Dimensão missionária – O apóstolo expressa seu compromisso de levar o evangelho a outros lugares, inspirando a comunidade a apoiar a missão.
Unidade e aceitação – Paulo enfatiza a necessidade de harmonizar diferenças culturais e sociais na comunidade cristã.
Reconhecimento das pessoas – As saudações pessoais mostram a importância da rede de apoio e do cuidado pastoral.
Doxologia final – A carta termina com louvor a Deus, lembrando que a salvação e a propagação do evangelho dependem da ação soberana do Criador.
Além disso, a conclusão de Romanos tem um valor pedagógico e inspirador. Ela ensina que a fé deve se manifestar em atitudes concretas: amor ao próximo, serviço, unidade e reconhecimento das contribuições de cada membro da comunidade. Paulo mostra que a vida cristã é simultaneamente profunda em doutrina e prática, combinando teologia com vivência comunitária e compromisso missionário. É um convite a viver a fé de forma integral, unindo conhecimento, ação e relacionamento.
Em suma, Romanos 15,14 – 16,27 encerra a carta com uma síntese do que Paulo defendeu desde os primeiros capítulos: a graça de Deus transforma vidas, promove reconciliação e estabelece a comunidade como instrumento de propagação do evangelho. A conclusão reforça a centralidade de Cristo na vida do crente, a importância da unidade na diversidade e a necessidade de viver a fé de maneira prática, amorosa e missionária. Ela serve como um modelo para todas as comunidades cristãs, lembrando que a teologia deve sempre conduzir à ação, à edificação e à glorificação de Deus.
3. Temas Teológicos Principais
Justificação pela fé: A salvação não depende de obras da lei, mas da graça de Deus recebida pela fé em Jesus Cristo.
Universalidade do pecado e da salvação: Tanto judeus como gentios estão debaixo do pecado, mas também são chamados à mesma salvação.
O papel da lei: A lei é santa, mas impotente para salvar; ela aponta para Cristo.
O Espírito Santo: Central na vida cristã, como poder para vencer o pecado e viver em santidade (Rm 8).
Eleição e soberania de Deus: Deus dirige a história da salvação segundo sua misericórdia.
Unidade da igreja: A diversidade entre judeus e gentios deve ser superada em Cristo.
4. Relevância Atual
Estes temas teológicos são os principais tópicos que fazem com que a Carta aos Romanos tenha ainda a sua relevância para o cristianismo ainda nos dias de hoje. A Carta aos Romanos, escrita pelo apóstolo Paulo no século I, continua sendo uma das epístolas mais influentes do Novo Testamento, com profunda relevância para a fé cristã contemporânea. Apesar de seu contexto histórico distante, os temas centrais da carta — justificação pela fé, santificação, graça de Deus, vida no Espírito e relação entre judeus e gentios — oferecem orientações práticas e espirituais que permanecem essenciais para os cristãos de hoje.
Uma das principais contribuições de Romanos é a ênfase na justificação pela fé. Em um mundo marcado por competição, busca por mérito e autoafirmação, a carta lembra que a salvação não depende de esforço humano ou status social, mas da fé em Cristo e da graça divina. Essa mensagem oferece segurança, paz interior e liberdade diante de pressões externas, reforçando que o valor do ser humano não é medido por conquistas, mas pela aceitação e amor de Deus.
A Carta aos Romanos também destaca a vida nova em Cristo e a santificação. Em um contexto contemporâneo de crises éticas e conflitos sociais, Paulo oferece um modelo de transformação pessoal que vai além de normas externas: a fé verdadeira produz mudanças internas, moldando pensamentos, atitudes e relacionamentos. A santificação é apresentada como um processo de crescimento contínuo, auxiliado pelo Espírito Santo, que capacita o crente a viver de maneira coerente com seus valores e princípios, mesmo diante de desafios e tentações.
Outro ponto de grande relevância é a universalidade do evangelho. Romanos mostra que a graça de Deus não se limita a um povo ou cultura específica; judeus e gentios, diferentes grupos sociais e históricos, são igualmente convidados a participar da salvação. Para o cristão moderno, essa mensagem reafirma a importância da inclusão, tolerância e respeito à diversidade, fortalecendo a visão de uma comunidade de fé que transcende barreiras étnicas, culturais e sociais.
A carta também trata do propósito e soberania de Deus na história, especialmente na relação entre Israel e os gentios. Para os leitores contemporâneos, isso oferece esperança em meio às incertezas da vida, lembrando que Deus está trabalhando para o bem de todos que confiam Nele. Essa perspectiva ajuda a enfrentar dificuldades pessoais e coletivas com paciência, confiança e perseverança, sabendo que os eventos da vida não ocorrem ao acaso, mas fazem parte de um plano maior.
Além disso, Romanos apresenta um modelo de ética comunitária e responsabilidade social. Paulo enfatiza a necessidade de viver em harmonia, de apoiar uns aos outros e de servir com humildade. Em sociedades frequentemente marcadas por individualismo, conflitos e desigualdades, esses ensinamentos inspiram práticas de solidariedade, justiça e cuidado com o próximo. A carta mostra que a fé não é apenas experiência pessoal, mas deve se manifestar em ações concretas de amor, reconciliação e serviço.
Finalmente, a carta oferece fundamento teológico sólido para a reflexão e ensino cristão. Temas como a natureza do pecado, a graça, a fé, a ressurreição e a esperança eterna ajudam o cristão a compreender a profundidade do evangelho, fortalecendo a fé e fornecendo respostas para questões existenciais e espirituais. Em um mundo que frequentemente questiona sentido, propósito e moralidade, Romanos continua sendo uma fonte de clareza, orientação e segurança espiritual.
Em síntese, a relevância atual da Carta aos Romanos se manifesta em múltiplos níveis:
Espiritual: reforça a fé e a confiança na graça de Deus.
Ético: orienta a transformação de vida e prática do amor ao próximo.
Comunitário: promove unidade, inclusão e cooperação entre diferentes pessoas.
Esperança: lembra que Deus é soberano e fiel aos seus propósitos.
Missionário: incentiva a propagação do evangelho de forma global e inclusiva.
Romanos não é apenas um documento histórico ou teológico; é um guia para viver a fé de forma plena e prática no mundo atual. Ele desafia o cristão a equilibrar conhecimento, espiritualidade e ação ética, mostrando que a fé verdadeira transforma o indivíduo e a sociedade. Por isso, a carta continua sendo indispensável, oferecendo inspiração, direção e esperança a todos que buscam compreender e viver o evangelho de maneira autêntica.
Fontes:
BROWN, Raymond E. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 2004.
FITZMYER, Joseph A. Romanos: Introdução, Tradução e Comentário. São Paulo: Paulus, 1993. (Comentário Bíblico)
SUETÔNIO. A Vida dos Doze Césares. Trad. Sady Garibaldi. São Paulo: Penguin / Companhia das Letras, 2017.
WRIGHT, N. T. Paul and the Faithfulness of God. Minneapolis: Fortress Press, 2013.
KONINGS, Johan. Cartas Paulinas. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2009.