Com a Igreja, somamos para uma uma cultura vocacional

Com e como Igreja que dedica o mês de agosto às vocações, este ano com o tema: Amados e chamados por Deus e com o lema: “És precioso a meus olhos… Eu te amo” (cf Is 43,4), as Pias Discípulas e Amigos do Divino Mestre são convidados/as a intensificar o testemunho e empenho em prol das vocações, assumindo o projeto: Cada Discípula do Divino Mestre e cada Cooperador/a Paulino Amigo do Divino Mestre uma nova vocação.

Assim foi proposto pela equipe Vocacional da província do Brasil este projeto com o seguinte Objetivo geral: Assumir no mês de agosto de 2020, o projeto “cada discípula e cada Cooperador/a Paulino Amigos do Divino Mestre” uma nova vocação” à vida religiosa consagrada, como Discípula do Divino Mestre e à vida de Cooperador/a Paulino Amigo do Divino Mestre.

Os bjetivos específicos são:

  1. Cultivar uma cultura vocacional nas comunidades.
  2. Rezar assiduamente pelas vocações.
  3. Tornar o nosso testemunho vocacional pessoal e comunitário um sinal visível da alegria para os/as jovens.
  4. Ajudar os/as jovens a descobrir o sentido da vida e a despertar (re-despertar) a fé em Jesus Cristo e a pertença à Igreja.
  5. Proporcionar aos/as jovens a experiência de comunhão com Jesus Cristo pela oração pessoal, a leitura orante e a participação na liturgia.
  6. Auxiliar as jovens no discernimento vocacional para responder livremente ao chamado de Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida entre as Pias Discipulas do Divino Mestre (Plano Geral de Formação).
  7. Encaminhar para a vocacionista o nome das jovens despertadas para o
    acompanhamento. A idade mínima para ingressar em nossas comunidades é de 17 anos e a idade máxima é de 30 anos.
  8. Encaminhar para a Irmã que acompanha os Cooperadores/as Amigos/as do Divino Mestre nos Núcleos (Manaus, Recife, Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo [Osasco, Cabreúva], Caxias do Sul), ou coordenação nacional (outros estados) os nomes de candidatos/as.

Para isto, foram criadas ações que motivam a oração pelas vocações, bem como uma criativa presença nas redes sociais com o testemunho das irmãs e dos Amigos do Divino Mestre.

Curta a nossa página e acompanhe nossa programação para este mês vocacional:

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“Escute a Palavra do Mestre “

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Amados e chamados por Deus

MÊS VOCACIONAL 2020

Desde 1981, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em sua 19ª Assembleia Geral, instituiu agosto como o Mês Vocacional. O objetivo principal era o de conscientizar as comunidades da responsabilidade que compartilham no processo vocacional.

Assim cada domingo do mês de agosto é dedicado à celebração de uma determinada vocação:

a. primeira semana (este ano, de 2 a 8 de agosto), as vocações dos diáconos, presbíteros e bispos (ministérios ordenados);
b. segunda semana (de 9 a 15), a vocação do pai, da mãe e dos filhos (a família). A Pastoral Familiar celebra a Semana Nacional da Família com o tema: “Eu e minha famíla serviremos ao Senhor” Js 24,15.
c. terceira semana (de 16 a 22), a vocação das pessoas de vida consagrada (aqueles que fazem os votos de Castidade, Pobreza e Obediência). A Semana Nacional da Vida Consagrada, a partir deste ano, é uma novidade no mês vocacional;
d. quarta semana (de 23 a 29), a vocação dos cristãos leigos e leigas e seus diversos serviços na comunidade (ministérios não ordenados);
e. no último domingo, dia 30, celebramos o Dia dos Catequistas, homenageando e valorizando essa vocação tão importante nas comunidades.

Mesmo após décadas da instituição do Mês Vocacional, o arcebispo metropolitano de Porto Alegre (RS), que também já presidiu a Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB, Dom Jaime Spengler, diz que ainda é preciso criar uma cultura vocacional na juventude católica.

“Quando falamos de vocação ou de cultura vocacional, quase sempre temos em mente os ministérios ordenados ou a vida consagrada. Na verdade, trata-se de uma compreensão muito mais ampla da questão. Quanto é necessário, por exemplo, que nas diversas dimensões da vida social haja pessoas leigas, comprometidas com a fé, dispostas a cooperar em construir um mundo um pouco melhor para as futuras gerações”, afirmou em entrevista ao site da CNBB, ressaltando:

“Urge apresentar aos jovens e adolescentes os distintos caminhos do serviço do Senhor e do seu Reino: como leigos engajados nos diversos âmbitos da vida social; casados que assumem o compromisso do matrimônio; consagrados por causa do Reino dos Céus; e ministros ordenados a serviço do povo, nas diversas comunidades de fé”.

Para esta semana, foi pensado e elaborado num subsídio do Mês Vocacional de 2020, a partir do tema “Amados e chamados por Deus”, para se rezar juntos no mês vocacional, por todas vocações. Há três propostas de Terço Vocacional, que poderão ser recitados em família ou em grupo, e três opções de “eventos” ou iniciativas que poderão ser organizados na comunidade: um encontro vocacional para despertar vocações; uma vigília vocacional; e uma leitura orante vocacional. Poderão ser realizados envolvendo – preferencialmente – os jovens, pela própria natureza da idade: é durante a juventude que a dimensão vocacional desperta com maior vigor.

As propostas apresentadas poderão ser utilizadas de acordo com as realidades e necessidades, sem uma ordem sequencial obrigatória. Para a abertura do mês vocacional no dia 1º, um sábado, há a sugestão de uma celebração da Vigília Vocacional, por exemplo. E, na conclusão do mês, no dia 31, uma segunda-feira, o Terço Vocacional com os Mistérios da Luz. A equipe vocacional ou o animador vocacional discernirá a melhor maneira de utilização do subsídio, incrementando com elementos e símbolos locais.

Oração pelas Vocações (Paulo VI)

Jesus mestre divino, que chamastes os Apóstolos a vos seguirem, continuai a passar pelos nossos caminhos, pelas nossas famílias, pelas nossas escolas, e continuai a repetir o convite a muitos de nossos jovens. Dai coragem ás pessoas convidadas. Dai força para que vos sejam fiéis como apóstolos leigos, como sacerdotes, como religiosos e religiosas, para o bem do povo de Deus e de toda a humanidade. Amém

Oração Vocacional ( João Paulo II) 

Senhor Jesus, que chamaste quem tu quiseste, chama muitos de nós para trabalhar para Ti, para trabalhar Contigo.

Tu que iluminaste com tua palavra aqueles que chamaste, ilumina-nos com o dom da fé em Ti. Tu que os amparaste nas dificuldades, ajuda-nos a vencer as nossas dificuldades de jovens de hoje.

E se chamar algum de nós para se consagrar totalmente a Ti, que o teu amor anime essa vocação desde o seu germinar e a faça crescer, cada dia e perseverar. Assim seja.

Oração vocacional (CNBB)

“Senhor da messe e pastor do rebanho, faz ressoar em nossos ouvidos teu forte e suave convite: “Vem e segue-me”! Derrama sobre nós o teu Espírito, que Ele nos dê sabedoria para ver o caminho e generosidade para seguir tua voz. Senhor, que a messe não se perca por falta de operários. Desperta nossas comunidades para a missão. Ensina nossa vida a ser serviço. Fortalece os que querem dedicar-se ao Reino, na vida consagrada e religiosa. Senhor, que o rebanho não pereça por falta de pastores. Sustenta a fidelidade de nossos bispos, padres e ministros. Dá perseverança a nossos seminaristas. Desperta o coração de nossos jovens para o ministério pastoral em tua Igreja. Senhor da messe e pastor do rebanho, chama-nos para o serviço de teu povo. Maria, Mãe da Igreja, modelo dos servidores do Evangelho, ajuda-nos a responder SIM. Amém.

PDDM: 64 anos de Brasil

A “nossa hora”

Ir. Maristela Bravin

Inspirado no ardor missionário do Apóstolo Paulo, desde o começo de suas fundações, Padre Tiago Alberione, almejava alcançar o mundo. Aos 70 anos, na História Carismática da Família Paulina ele afirma: ”De Alba tinha-se em vista a Itália; de Roma, especialmente as outras nações”, pois “a Família Paulina tem grande abertura para o mundo” e “de Roma partem os enviados para todas as direções” (AD 114.65). De fato, a partir de Roma, filhos e filhas de Alberione ganham o mundo “para anunciar o Evangelho” com os meios “mais rápidos e eficazes”.

Apenas consolidadas as três primeiras fundações: Paulinos, Paulinas e Pias Discípulas, em 1931 o Fundador os envia juntos, para implantar a Família além-mar, a começar pelo Brasil. Para as Pias Discípulas, porém, não era ainda o momento. A “hora de Deus” estava sendo preparada de modo singular.

Em 1902, um jovem casal de imigrantes italianos residente na cidade de São Carlos/SP, decide retornar à Itália com sua filhinha Margherita De Lucca, nascida em São Carlos, há poucos meses. Margherita cresce então na Itália, e aos 18 anos, ingressa no grupo inicial das fundações femininas de Padre Alberione, em Alba.

Seus pais, no entanto, voltam definitivamente para o Brasil e Margherita prossegue sua formação na Itália. Em 1924 ela é uma das oito jovens chamadas a constituir o núcleo fundante das Pias Discípulas do Divino Mestre. Ao fazer seus votos religiosos como Pia Discípula, ela recebe o nome de Ir. Maria Paulina.

Ir. M. Paulina deixa a Itália em fevereiro de 1956, para visitar sua família estabelecida no Brasil. Ela vem, porém, com o objetivo de permanecer, aguardando a chegada de outras irmãs para iniciar a vida das Pias Discípulas no Brasil.

De fato, em maio do mesmo ano, a então Madre geral das Pias Discípulas, Lucia Ricci lhe escreve: Finalmente posso dizer-lhe com prazer, que em julho irão as Irmãs: M. Salvatoris, M. Modesta, M. Giancarla, M. Venerina, M. Pasquina, M. Fabiana” (foto ao lado). Estas seis Discípulas,  partem do Porto de Genova no navio Conte Grande, e chegam ao Porto de Santos, dia 26 de julho de 1956.

Acolhidas com alegria e carinho pelas Irmãs Paulinas e pelos padres Paulinos, as recém-chegadas se ambientam na cidade de São Paulo, se orientam para moradia e iniciam a missão “prestando os serviços de oração e de trabalho no seminário Paulino”, na Rua Major Maragliano, Vila Mariana. Ir. M. Paulina, nas palavras da Madre geral que enviara antes, ela foi “uma Discípula da primeira hora na fundação da Congregação, e da primeira hora também, na abertura do novo Tabernáculo em seu solo natal”.

A esperança de vida logo desponta: uma jovem, Teruco Aoki, filha de migrantes japoneses, aguardava com Ir. M. Paulina, a chegada das Pias Discípulas para iniciar sua formação na nova comunidade. Outras jovens chegam e com mais duas Irmãs vindas da Itália se torna realidade a primeira casa de formação em 1957.

“Começar de Belém” sempre foi a indicação de Padre Alberione para as Casas e as obras apostólicas, assim foi para nossos inícios. E na ocasião de sua visita em 1963, ao ver o crescimento das Discípulas e das atividades apostólicas o Fundador afirma: “O dedo de Deus está aqui”.

Para nós, Pias Discípulas, 26 de julho é “memória” da chegada ao Brasil dessas “pioneiras” que vieram providas apenas da graça do carisma, da fé e confiança em Deus, de coragem e de entusiasmo. Brota então em nosso coração, imensa gratidão ao Divino Mestre pelo amor com que conduziu a elas e a todas nós que somos parte de linda história.

Celebrar 64 anos é acolher de novo a herança a nós transmitida, continuar a desenvolvê-la e transmiti-la às novas gerações.

Pela intercessão de São Cristóvão, sejamos santos

O mundo mudou nos últimos meses. Todos os sistemas foram quebrados e tivemos que mudar muitos hábitos e costumes, por causa de um inimigo invisível de nos deixar doentes e poder matar. Passamos por uma crise sanitária, política, econômica e social. Porém a história nos ensina que sempre conseguimos superar todas as dificuldades enfrentadas até os dias de hoje. Por isso que estamos aqui. Isso se dá por causa da nossa capacidade de solidariedade. Não é o pior momento da humanidade, mas é um tempo de sofrimento físico e psíquico. Porém olhando para o passado, a vida de tantos que atravessaram momentos cruéis, descobrimos que Deus vai nos ajudando a preservar a vida e continuar nossa história. Vamos mantendo nossos sonhos.

Todo jovem sonha antes dos 18 anos em tirar sua CNH e poder dirigir um carro. A invenção do carro é fruto de um longo processo da humanidade que busca sempre novas formas de se locomover sem as próprias pernas. Também o carro não se tornou só um objeto de locomoção, mas também virou uma “paixão” mundial. Em novembro de 2017, o Papa Francisco ganhou de presente um Lamborghini Huracán. O carro foi leiloado e os recursos se destinaram a projetos de ajuda no Iraque e na África.

O padroeiro dos motoristas e viajantes é São Cristóvão. Pouco se sabe a respeito de sua vida. Dizem na lenda grega que São Cristóvão era um bárbaro antropófago (Aquele que se alimenta de carne humana) da linhagem Cananeia e servia um rei poderoso, considerado o maior da terra, deixou-o, quando soube que Satanás era maior e mais poderoso. Quando ouviu algo sobre Jesus, muitíssimo superior a Satanás, Cristóvão foi atrás de informações. Buscou elucidações com um ermitão e descobriu que Jesus era o reverso do demônio, apreciando os homens pela bondade para com o próximo, não pelo poder e grandeza. Era conhecido como Réprobo (malvado) e media 7 metros de altura, segundo relados da Idade Média.

Então, movido pelo encanto sobre Jesus, Cristóvão foi morar a beira de um rio caudaloso com a intenção de fazer o bem às pessoas e se propôs atravessar de uma margem a outra aquelas pessoas que necessitavam de ajuda, fazendo uso da sua imensa força.

Em uma determinada noite um menino pediu ajuda e Cristóvão pegou o menino e começou a travessia da corrente. Na medida em que caminhava sentiu um enorme peso do menino. Seu peso era assustador. Ficou se perguntando: “O que significava aquilo?” Parecia que estava carregando o peso do mundo nas costas. Cansado, bufando, arrimado no bordão que arcava ao estranho peso. Lutou contra a fadiga e depois de muita luta e muito cansado conseguiu chegar até a outra margem do rio. A caminhada de travessia era longa.

Cristóvão depois da travessia, muito cansado e limpando o suor, exclamou ao menino: “O mundo não é mais pesado do que tu!” O menino o olhou com ternura, sorridente e disse: “Não se espante, você não somente teve o mundo sobre si como carregou em seus ombros aquele que criou o mundo. Eu sou Cristo, seu Rei, cuja obra você tem servido.” Tempos depois, movido pela fé, o gigante iria dar a vida, enfrentando crueldade e torturas por causa da sua fé.

Logo depois Cristóvão passou a ser invocado pelos viajantes. Os viajantes começaram a pedir a sua intercessão para o sucesso de suas viagens.

O martirológico nos diz: “Na Lícia, São Cristóvão, mártir, que, sob o imperador Décio, tendo sido ferido com varas de ferro e preservado da violência do fogo pelo poder de Jesus Cristo, foi, afinal, atravessado de flechas e recebeu o martírio, pela decapitação (III Século?)” (Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Volume XIII, p. 341 á 343).

Sua data é comemorada dia 25 de julho, dia em que se comemora o dia do motorista.

A oração de São Cristóvão é a seguinte:

 “Ó São Cristóvão, que atravessastes a correnteza furiosa de um rio com toda a firmeza e segurança, porque carregáveis nos ombros o Menino Jesus, fazei que Deus se sinta sempre bem em meu coração, porque então eu terei sempre firmeza e segurança no guidão do meu carro e enfrentarei corajosamente todas as correntes que eu encontrar, venham elas dos homens ou do espírito infernal. São Cristóvão, rogai por nós. Amém.”

Oração do motorista a São Cristóvão:

São Cristóvão, que levastes um dia o fardo preciosíssimo, o Menino Jesus e, por isso, és invocado como Patrono Celestial. Abençoa a mim e a meu carro!

Dirige minhas mãos, meus pés, meus olhos. Guarda os freios, protege-me nas curvas fechadas e no asfalto molhado. Guarda-me das colisões e de pneus estourados. Livra-me das derrapagens. Segura animais soltos, pedestres distraídos e imprudentes.

Dá-me cortesia para os outros motoristas e, sobretudo, para com os guardas de trânsito.

Que eu seja cauteloso nas ruas movimentadas, atento nos cruzamentos e nunca alcoolizado, para que eu um dia possa ir segura (o) e diretamente, não antes do prazo, para a garagem do céu.

Amém.

Pe. Walteír Gonçalves Magalhães, C.Ss.R é missionário Redentorista e pároco da Paróquia São José Operário em Paraíso do Tocantins – TO. Ordenado em 1998 em Goiânia. Já morou e trabalhou no Santuário do Divino Pai Eterno em Trindade e na Basílica de Nossa Senhora Aparecida em Aparecida – SP. Também morou e trabalhou na Casa Geral dos Missionários Redentoristas em Roma e prestou serviço na União dos Superiores Gerais no Vaticano. Formado em Filosofia, Teologia e Administração de Empresa.

Madre Escolástica Rivata: modelo de santidade

Irmã Cidinha Batista – pddm

 Uma memória para aquecer o coração, iluminar o olhar e alimentar o sonho.

Afinal, quem é madre Escolástica?  Vamos conhecer, um pouquinho, a vida dessa mulher corajosa, que foi a primeira, entre muitas, a viver o seu discipulado a serviço do Reino na missão Eucarística, Sacerdotal e Litúrgica, no seguimento de Jesus Mestre Caminho, Verdade e Vida.

Num pequeno povoado chamado Guarene, na Itália, nasce a primeira filha do casal Antônio Rivata e Lúcia Alexandria, no dia 12 de julho de 1897. Os pais buscaram logo o sacramento para a recém nascida, que foi batizada com o nome de Úrsula Maria Rivata. Na primeira escola, a família, Úrsula recebeu exemplos que ficaram impressos em sua pessoa desde pequena e que foram um guia constante para seus passos. Sua mãe, Lúcia, adoece e morre aos 24 anos. Úrsula tinha apenas seis anos e, pelo fato de ser a mais velha, sente precocemente o peso da responsabilidade. Era uma bela criança, delicada, graciosa nos gestos, possuía uma voz melodiosa, gostava da escola e aprendia com facilidade, mostrava-se atenta e cuidadosa.

O trabalho sempre fez parte da vida de Úrsula, que crescia num ambiente de pobreza. Aos 15 anos, trabalha como tecelã. Mais tarde passou a trabalhar numa família, como empregada doméstica, por um período de dois anos. Era para ela motivo de grande alegria passar para as mãos do pai o fruto do seu trabalho sem tirar nada para si; agradecia ao Senhor pela oportunidade de ajudar os seus familiares. Um dia seu pai a chama e diz: – “Tem um rapaz que me pediu a sua mão; é um bom moço, está bem de vida. Observe-o, se quiser. Você poderá ser feliz com ele”.  Ela não respondeu de imediato, nem deu grande importância à proposta. Foi à missa e, voltando, correu até seu quarto, ajoelhou-se diante da imagem do Sagrado coração e disse, com toda a força do seu ser: “Senhor, apenas Tu, e basta!” Úrsula comunicou ao pai seu não à proposta de casamento. Sua resposta espontânea e decidida durou a vida toda e permaneceu fiel a essa opção.

Foi em busca de bons livros que Úrsula vai à livraria São Paulo, onde encontra padre Alberione que a convida para ingressar no Instituto. Sua decisão de tornar-se religiosa era clara, faltava-lhe, porém uma orientação precisa sobre qual Instituto escolher. Mas ela mesmo afirma: “O Senhor, quando tem projetos sobre uma pessoa, Ele próprio indica os caminhos a seguir”.

Depois de expor ao pai e à segunda mãe a decisão de ingressar, intensificou a oração e empenhou-se aos necessários preparativos. Teve que suportar, naqueles momentos seguintes, as dificuldades que lhe eram apresentadas pela família, e se tornavam para ela uma batalha diária. Enfim, um dia obteve o consentimento do pai que decidiu que a acompanharia até o Instituto de Padre Alberione. Assim, Úrsula ingressou no dia 29 de julho de 1922; era um sábado, tradicionalmente consagrado a Maria.

Ao chegar na casa, foi acompanhada até a capela. Olhou para o Tabernáculo, observou em volta e, sobretudo, olhou para dentro de si mesma. Com os olhos plenos de luz, repetia com coragem e fé, aquilo que num momento de luta e medo havia dito: “Senhor, só Tu, e basta!” Assim, empreendeu um caminho de fidelidade criativa à vocação que aos poucos Deus ia lhe revelando.

Depois de algum tempo, Padre Tiago Alberione vê na jovem Úrsula que é chegada a hora de “visualizar” um outro ponto de luz que teve em sua intuição carismática; começa a prepará-la; entrega-lhe um livro com o título: As mulheres no Evangelho e pede para lê-lo e meditá-lo. Passados alguns dias ele perguntou se havia lido, Úrsula teve a intuição, dada pelo Espírito, de que poderia colaborar em grandes coisas. Embora sentindo-se pequena e pobre, Sentiu-se iluminada pelo conteúdo do livro; ela, uma jovem do campo, poderia reviver o Evangelho; sentia-se chamada a “seguir o Mestre” como as mulheres do Evangelho.

Dias depois, Alberione reúne a comunidade e diz: – Coloquem-se à parte Úrsula e Metilde, pois confiarei a elas uma missão especial. Em seguida, Metilde, dirigindo-se ao padre Alberione, pergunta – E o que faremos? – Vocês farão silêncio, silêncio, silêncio. Assim começou, de forma silenciosa e operosa, a vida das Discípulas.

A jovem Úrsula de 26 anos, esperta, vivaz e entusiasta assume de forma serena e produtiva a missão que lhe foi confiada publicamente. A elas se unem mais seis jovens e em poucos meses são oito. Padre Alberione, no dia 10 de fevereiro 1924, reuniu as jovens escolhidas para dar orientação a respeito da missão e da vida espiritual. Falou-lhes sobre santa Escolástica e explicou-lhes que o nome ‘Escolástica’ significa “discípula”, e que escolhera propositalmente este dia para formar uma família que se dedique à oração, ao Culto do Divino Mestre eucarístico e ao louvor perene, no silêncio e no recolhimento, em reparação dos pecados cometidos pela má imprensa. Elas iriam se chamar Irmãs Discípulas do Divino Mestre; elegeu Úrsula como responsável pelo grupo e deu-lhe o nome de Irmã Escolástica. Este foi oficialmente o dia da fundação da Congregação.

No dia 25 de março deste mesmo ano as jovens fizeram os votos religiosos, receberam um habito próprio. Úrsula, agora irmã Escolástica, com o entusiasmo que lhe era característico fazia da oração um encontro profundo com Jesus, o Mestre, ao mesmo tempo em que trazia presente toda a realidade da humanidade. Levava para a oração a Bíblia e o jornal; apresentava diariamente ao Senhor as necessidades e os sofrimentos das pessoas, os fatos sociais, as situações políticas e econômicas que afetavam o mundo. Esta atitude revela-nos a grande sensibilidade de uma mulher atenta à realidade e de sua fé encarnada na vida e, de uma vida vivida na fé. Foi para as jovens irmãs guia e intérprete das orientações do fundador, sempre operosa, jovial e contente. Mesmo quando passava por duras provas, seu olhar transparecia alegria e docilidade.

O sonho de Padre Tiago Alberione e o projeto de Deus que irmã Escolástica assumiu custaram-lhe muitos sacrifícios, sofrimentos, incompreensões e até calúnias no interno da Família Religiosa e na cúpula da Igreja. Principalmente no que se refere aos trâmites para o reconhecimento e aprovação jurídica da Congregação. Ela ousou ir ao Vaticano e, pessoalmente, se dirigir à Congregação dos Religiosos para esclarecer alguns aspectos que dificultava a aprovação das Discípulas, pois sentia profundamente que essa era a vontade de Deus. Tal atitude não foi vista com bons olhos pelas autoridades da Igreja; por isso sofreu muito e foi afastada de todas as suas funções (uma espécie de exílio). Apesar da angústia que lhe despedaçava o coração, Escolástica nutria um grande amor pelo Senhor e pela missão, e por isso não se deixava abater pelas adversidades. Viveu seu discipulado na escuta, na criatividade e no amor até o fim a serviço do reino, passando pela experiência do Mistério Pascal.

Na celebração do seu nascimento, 12 de julho, como uma forma de homenagem, a Congregação fixou esse dia como o dia das Aspirantes. Assumindo na força do carisma o exercício de nosso ministério junto ao povo de Deus, temos a alegria de partilhar o dom que é Madre Escolástica. Teríamos ainda muito a dizer diante da longa e intensa vida dessa nossa irmã. Fica o convite para quem deseja juntar-se às Discípulas no desafio de tornar mais conhecida e estimada essa grande mulher.

UM CORAÇÃO SEM DISTÂNCIA

Uma reflexão bíblica feita pelo pe. Adroaldo Palaoro, jejuíta, na reflexão deste 14º domingo do Tempo Comum – ano A, do evangelho de Mateus 11, 25-30.

“…porque sou manso e humilde de coração,
e encontrareis descanso para vós” (Mt 11,29)

Inútil discutir e dar voltas: o distanciamento social veio e começou a fazer parte do nosso ritmo cotidiano; não nos resta outro remédio a não ser tomar medidas para aprender a manejá-lo e a incorporá-lo em nossa vida da maneira menos danosa possível. De fato, seus perigos são evidentes: o distanciamento físico (“que só se aproximem até um metro”), pode gerar o distanciamento social (“que não me venham com mais problemas, porque já tenho os meus”) e desembocar no distanciamento emocional (“olho ao meu redor e sinto as pessoas como uma ameaça”).

O evangelho deste domingo pode nos oferecer uma inspiração neste momento dramático que vivemos.

Jesus nos revela que toda manifestação de distanciamento (sanitário, físico, social, religioso, cultural, político…) pode ser quebrado a partir do coração. Toda proximidade com o outro começa pelo coração. Nesse sentido, encontramos uma pérola de grande valor naquilo que o evangelista Mateus nos des-vela: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração”.

Ao se apresentar como referência para os seus discípulos – “aprendam de mim! ”-, Jesus frisou duas atitudes pelas quais pautava a sua vida: a mansidão e a humildade. Elas são o reflexo das bem-aventuranças que Ele sempre deixou transparecer no encontro com os outros. É do coração que brotam a mansidão e a humildade, únicos remédios que substituem a expressão do afeto e a cordialidade manifestada por via táctil (dar as mãos, abraçar…). Mesmo quando a situação impede que mãos e braços se encontrem, os corações se abraçam.

Este “tempo de confinamento” está nos fazendo tomar consciência de nossas debilidades, quebrando toda pretensão de auto-suficiência e de soberba; ao mesmo tempo, está nos fazendo experimentar que não somos donos de nossos estados de ânimo e que precisamos dedicar tempos ao descanso e à gratuidade. Vivemos em meio à cultura da produtividade, da competição, da eficiência, e isso nos deixa cansados, raivosos, angustiados e tristes, sem um motivo aparente e sem poder encontrar uma solução para isso.  Constatamos que nossa fragilidade carrega em si a necessidade de sair, de passar tempos distendidos, de reaprender a estar com os outros, de oxigenar nossa vida em meio a tantos venenos que nos asfixiam…

A humildade e a mansidão do coração nos trazem para o chão da vida e nos possibilitam viver com mais humanidade. E estas duas virtudes estão disponíveis, em abundância, no nosso interior. Basta abrir espaços para elas e o nosso cotidiano adquirirá novo sabor e calor. É suave a condição humana quando, em vez de ocultar nossa debilidade, descobrimos com assombro que é ela que nos conduz pela mão a nos aproximar calorosamente dos demais. Quando vivemos a debilidade de forma agradecida, é mais fácil perdoar que condenar, compreender que murmurar, aceitar que julgar. A debilidade humana descansa nas mãos de Deus. Talvez seja esta a aprendizagem principal de nossa vida, pois a temos saboreado internamente. Só assim poderemos oferecer, também nós, um lugar acessível de repouso para os cansaços e fragilidades dos outros.

“Descansar” não é a outra face da ação de trabalhar; é participar, ter parte, na vida mesma de Deus, onde ação e repouso coincidem numa única pulsação, num único movimento de segurança e de felicidade, de consentimento e de abandono, nessa Presença Humilde que flui dentro de nós, nos atrai e nos conduz com suavidade. O decisivo é ir ao seu encontro e deixar-nos aliviar, para aprender d’Ele a sermos mais humanos. Se vivemos só em chave de mandamentos, de doutrinas, de normas…, comeremos pão de fadigas e sentimento de culpa; se vivemos em chave de bem-aventuranças, certamente poderemos caminhar aliviados, porque o peso e a fecundidade da vida estão apoiados em Outro e não dependem só de nós. Nesse sentido, as bem-aventuranças da humildade e a mansidão são o terreno sólido sobre o qual podemos assentar nossa vida e ativar todas as potencialidades humanas que nos habitam.

“Humildade” vem de húmus, chão, barro. Ela está vinculada ao amor à verdade e a ele se submete.  Ser humilde é amar a verdade mais que a si mesmo. Humildade é andar na verdade” (S. Teresa). “Onde está a humildade, está também a caridade” (S. Agostinho). É que a humildade leva ao amor, e todo amor verdadeiro a supõe; sem a humildade, o ego ocupa o espaço disponível, e só vê o outro como objeto ou como inimigo. A humildade nos conduz à pura gratuidade do amor desinteressado.

Por outro lado, aqueles que vivem sob o impulso da mansidão, não rejeitam nada, não exigem nada. Estão abertos às surpresas da vida, vão interiorizando as contrariedades de cada dia e ampliando um espaço no próprio interior, onde acolher a realidade e reafirmá-la; revelam um coração que cria e alimenta proximidades com todos, porque pulsa no ritmo do coração do outro, fisicamente presente ou distante.

A mansidão se assemelha a um sentimento de não-violência ativa, a “essa capacidade passiva de recepção que se encontra no fundo da estrutura da pessoa” (Edith Stein).

Mansidão não é debilidade, mas força suavizada; ela não é a atitude medíocre daqueles que se sentem anulados pela presença violenta do outro. É força que não provém da violência externa, mas de uma transformação interna. Por isso, o manso pode realizar ações impossíveis a quem é violento e sentir-se bem-aventurado e feliz, uma vez que tem esperança de conquistar o coração dos outros e se encontra entre os que herdarão a “terra prometida” do coração de Deus. A mansidão cristã, reflexo daquela de Jesus, é plena de força. Suavidade e força que recorda o modo “suave-forte” divino de agir. Trata-se daquela harmonia conquistada pelo ser humano que alcançou seu centro mais profundo e ali encontra o dom da liberdade. A mansidão é o estado interior a ser alcançado pelos corações dos homens e mulheres livres. Nessa ótica, de fato, quando perdemos a mansidão, vemos nossa liberdade diminuída. Entramos na lógica do revide e a emoção indomada preside nossas ações.

Vivemos em um mundo onde imperam a prepotência, a agressividade, a vingança, o ataque e o desafio preventivo, o amedrontamento, a extorsão e a imposição violenta como meios habituais para conseguir os fins que se pretendem. Esta mesma estratégia de morte é utilizada em diferentes ambientes, tanto civis como religiosos, políticos como econômicos, entre pessoas e entre grupos ou nações. Com isso, a vida e as relações se convertem num campo de batalha contínua, como se fosse uma manada de lobos disputando o cordeiro.

Como seguidores (as) d’Aquele que é o humilde artífice da paz, testemunhamos e profetizamos que a mansidão é o verdadeiro rosto da Igreja. Não é por acaso que muitas pessoas que lutaram em favor da justiça, pagando com a própria vida, tenham essa característica comum: a mansidão (Gandhi, Luther King, Dom Romero…). São descritos como indivíduos mansos e humildes, amáveis e de agir discreto, abertos ao diálogo e à acolhida do outro, pacientes e simples. E, exatamente por isso, dotados de uma força diferente e, sobretudo, muito eficaz. Bem-aventurados os humildes e os mansos! Graças a eles o mal, na terra, pode se transformar em bem!

Texto bíblico:  Mt 11,25-30

Na oração: De onde brotam a mansidão e a humildade? Como ativá-las e fazê-las crescer? Ninguém pode improvisá-las. A raiz última da mansidão-humildade é contemplativa. Nasce em um clima de oração, numa proximidade íntima que faz o nosso coração pulsar no mesmo movimento do Coração compassivo de Deus. Desse encontro, de coração a Coração, emergem das profundezas de nosso ser estes dinamismos mais humanos e mais divinos. A partir da fonte original, a mansidão e a humildade vão se expandindo na direção dos outros, alimentando novas relações, acolhendo o diferente, vibrando com o bem presente no outro…

– No ritmo de sua vida, o que mais se faz visível: mansidão e humildade? Ego inflado e soberba? Agradecimento assombrado ou ingratidão venenosa? Suavidade divina ou prepotência que petrifica? ..

Corpus Christi: a festa da comunhão e da esperança

A festa de “Corpus Christi”, celebra solenemente o mistério da Eucaristia que é o Sacramento do Corpo e do Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Esta é celebrada sempre em uma quinta-feira (após a oitava de Pentecostes, mais precisamente depois da festa da Santíssima Trindade), fazendo alusão à quinta-feira santa, dia em que Jesus instituiu este sacramento salutar.

A celebração de Corpus Christi tem origem no Séc. XIII, em 1243, na Cidade de Liège na Bélgica. Uma freira chamada Juliana de Cornion que depois foi canonizada, teria tido visões de Jesus Cristo demonstrando-lhe o desejo que a Eucaristia fosse celebrada com destaque. Vale também ressaltar o milagre eucarístico com o padre da Boemia, na Alemanha, que tinha dúvidas a respeito da veracidade da transubstanciação. Durante uma viagem da cidade de Praga a Roma, ao celebrar a santa missa na tumba de Santa Cristina, em Bolsena na Itália, no momento da consagração, viu sangue escorrer da Hóstia Consagrada, banhando desta forma as alfaias litúrgicas e também a pedra do altar. Impressionado com o fato, o sacerdote dirigiu-se até a cidade de Orvieto, onde residia o Papa Urbano IV, que logo enviou a Bolsena o Bispo Giacomo, para atestar o ocorrido e levar até ele o linho ensanguentado. Desta forma, a relíquia venerada foi levada em procissão a Orvieto em 19 de junho de 1264. O Papa então mostrou a relíquia ao povo.

O Santo Padre motivado pelas visões de Santa Juliana, e por este fato, fez com que a festa de Corpus Christi se estendesse por toda a Igreja por meio da Bula “Transiturus de hoc mundo”, em 11 de Agosto de 1264. Assim sendo, Santo Tomás de Aquino ficou encarregado de preparar as leituras e os textos litúrgicos que, até hoje, são usados na celebração. Em 1274, acontece a procissão com a Hóstia Consagrada conduzida em um ostensório. Contudo, na época barroca, esta procissão se torna um grande cortejo de ação de graças.

Tradicionalmente, muitas famílias e comunidades, se unem para preparar os tapetes pelas ruas cuja procissão com o Santíssimo Sacramento irá percorrer, é um gesto profundamente bonito e especial. Assim, a festa de Corpus Christi se torna um movimento de comunhão e participação, revelando o grande sentido de estarmos unidos ao mistério eucarístico que se revela no amor e na colaboração mútua.

Corpus Christi, reacende em nós a esperança, de que juntos podemos lutar por um mundo melhor, mais humano, mais fraterno e justo. Através da oração e da ação, podemos efetivar a vontade plena de Jesus que é a vida abundante para todos.

Neste ano, somos chamados a celebrar esta festa de um modo diferente, em casa, no seio de nossas famílias. Isto, de forma alguma tira a beleza desta festa, pois podemos acolher o Corpo e o Sangue de Jesus através da vivência do diálogo, do amor, da compreensão, do respeito, do perdão e de tudo aquilo que faz com que nosso espaço comum seja lugar da presença amorosa Dele.

Neste tempo desafiador, nossas famílias são agraciadas com esta oportunidade de celebrar Corpus Christi, contemplando a face de Jesus através daqueles que se fazem mais próximos. Um novo tempo se descortina diante de nós, tempo este que nos faz enxergar com mais dedicação antes algumas coisas que passavam despercebidas diante dos nossos sentidos, e que agora exige a nossa atenção e cuidado.

A mesa de nossas casas se torna então um lugar sagrado, onde podemos tomar a refeição comum permeada pela graça de estarmos unidos, cuidando uns dos outros, seguindo o exemplo de Jesus. A comunhão com o Senhor desperta em nós o desejo de sermos homens e mulheres de fé, que colocam em prática a Boa Nova que gera esperança e força em tempos de medo e desespero.

O desejo de Jesus é habitar no coração e na vida daqueles que se dispõe a construir seu reino de amor. Com isso, efetivamente, cada um precisa tomar a decisão de acolher a presença eucarística do Cristo através da vivência em família. Certamente o Senhor está em primeiro lugar no interior de todos os que se esforçam para fazer a comunhão acontecer de verdade.

Que a festa de Corpus Christi nos aproxime mais ainda de Jesus e dos irmãos, para que de fato a vida seja celebrada com entusiasmo e esta esteja sempre em primeiro lugar.

Frei Danilo Gomes de Almeida, OSA

Ordem de Santo Agostinho

Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Assunção.

São Félix do Araguaia, MT

Logo do Ano Bíblico da Família Paulina é escolhido

Na véspera da solenidade de Pentecostes, que se celebra para a Família Paulina Maria Rainha dos Apóstolos, os provinciais das congregações lançam oficialmente a logo que acompanhará o Ano Bíblico que se inicia no dia 26 de novembro de 2020.

Segundo Pe. Valdir José de Castro, ssp, Ir. Anna Caiazza, fsp, Ir. Micaela Monetti, pddm, Ir. Aminta Sarmiento Puentes, sjbp e Ir. Marina Beretti, ap, neste dia que nos unimos em torno a Maria Santíssima, nossa Mãe, Mestra e Rainha dos Apóstolos, é iluminador para se dar a conhecer a oração e o logo que a Comissão Bíblica central preparou para o Ano Bíblico da Família Paulina, que iniciará no dia 26 de novembro próximo, 49º aniversário da eterna Páscoa do Bem-aventurado Tiago Alberione, nosso Fundador. “Confiamos a Maria, Rainha dos Apóstolos, o caminho da Família Paulina durante este Ano Bíblico que estamos prestes a viver, na vida e no apostolado. Ela que foi a primeira discípula, acolhendo em seu ventre o Verbo de Deus, e depois mãe, dando à luz Jesus de Nazaré, guie nossos passos para que a Palavra de Deus se espalhe rapidamente em nós e ao nosso redor, na cultura da comunicação”, escrevem os gerais da Família Paulina.
Nesse sentido, renovando a visão apostólica do Pe. Alberione, aprofundamos a atualidade do que ele nos disse: «Com o termo “edição”, não entendemos apenas um livro: nos referimos a outras coisas. A palavra edição tem muitas aplicações: edição do periódico, edição daqueles que preparam o roteiro para o filme, que preparam o programa para a televisão, que preparam coisas para se comunicar por meio do rádio. “Edidit nobis Salvatorem”, diz a liturgia. A Virgem Maria nos deu o Salvador. Usa o verbo “edidit”. A edição inclui o conceito artístico, o estudo para produzir um objeto que seja ao mesmo tempo litúrgico e artístico. Também inclui o trabalho das Irmãs que se preparam para fazer o catecismo às crianças e depois realmente, na caridade, o explicam.» (Per un rinnovamento spirituale).

Ainda segundo eles, a oração é livremente inspirada no texto escrito pelo Pe. Alberione e publicado em seu livro Leggete le Sacre Scritture (p. 320).

Sobre a marca

O logo se inspira em duas imagens bíblicas: o semeador (Lc 8,4-15) e o atleta (1Cor 9,24). Ambas referências bíblicas indicam uma ação que deve ser feita com profunda responsabilidade e urgência. O semeador deve semear de modo que se possa esperar uma colheita abundante no tempo apropriado. O atleta, depois de se preparar suficientemente, deve vencer a corrida. A combinação destas duas referências nos conduz ao tema do Ano Bíblico da Família Paulina: “Para que a Palavra do Senhor se espalhe rapidamente” (2Ts 3,1).

O logo, evitando distrair o observador, utiliza formas e cores simples. O semeador, desenhado em posição de movimento e inclinado para frente, lança com sua mão 10 sementes que simbolizam os 10 componentes da Família Paulina. As diferentes dimensões e direções das sementes indicam as diversas capacidades e esferas sociais nas quais eles são chamados a plantar a si mesmo. O vermelho, por outro lado, é a cor universal do zelo e da paixão. É a cor do sangue que nos impulsiona a fixar o nosso olhar sobre um objetivo, neste caso que a Palavra do Senhor possa ser amplamente difundida.

VIRGEM MARIA, MÃE DA IGREJA

MEMÓRIA E MENSAGEM

A invocação da Virgem Maria, Mãe da Igreja, já faz parte da tradição cristã e católica. Só no Brasil existem 13 paróquias e igreja dedicadas a Mãe da Igreja.

Mãe da Igreja é uma designação honorífica dada à Maria, a mãe de Jesus Cristo. É um título da doutrina e piedade do povo cristão.

Hoje, a denominação mariana está inscrita na liturgia oficial. Já há a memória litúrgica de Maria, Mãe da Igreja, entre as celebrações marianas no ano litúrgico. A comunidade eclesial a celebra uma vez por ano.

Os cristãos são chamados a reconhecer a importância e a riqueza do título de Mãe da Igreja no seio do povo de Deus. A Igreja tem sua Mãe: Maria. Ela não está órfã e abandonada. Mas está muito bem assistida e amparada pela Mãe do Salvador.

IGREJA E MARIA

A Igreja é a comunidade do povo de Deus constituída por todos os cristãos no mundo. O vocábulo “Igreja” provém da língua grega, “ekklesía” (hebraico: “gahal”, “edah”; latim: “ecclesia”), que significa convocação, reunião, assembléia, comunidade (At 19,32.39-41).

A Igreja é o povo de Deus convocado pelo Pai, reunido por Jesus Cristo e animado pelo Espírito Santo. “Prefigurada já no Antigo Testamento, a Igreja é o povo de Deus caminhando para seu Senhor. É um povo universal, não dependente de raça, idioma ou qualquer particularidade humana. Nasce de Deus pela fé. É um povo de redimidos pelo sangue de Cristo, um povo em marcha, chamado para levar a todos os homens a libertação definitiva que, acontecendo já na história, terá sua plenitude somente na eternidade. É um povo de servidores, no qual cada um desempenha sua função para o crescimento de todos” (CNBB. Catequese Renovada, nº. 206).

A Igreja é a comunidade dos discípulos de Jesus. Pelo fato de serem discípulos, os cristãos fazem opção explícita por Jesus, seguem seus passos, abraçam seus critérios e procuram realizar o projeto do Reino de Deus. O Cristo Redentor ocupa o centro da existência dos cristãos.

Na Igreja os cristãos estão unidos pelos laços da fé, da caridade e da esperança. Eles creem em Deus como Pai, Filho de Deus e Espírito Santo. Amam a Deus acima de tudo e, por causa de Deus, amam aos outros e a si mesmos. Otimistas, aguardam, com confiança e perseverança, o Reino de Deus e a vida eterna, apoiados na fidelidade do Senhor e na força do Espírito Santo.

O batismo é o sacramento de ingresso na da Igreja. Pelo batismo, os seres humanos são incorporados à comunidade dos discípulos de Jesus. Da fonte batismal nasce o único povo de Deus, firmando pela nova e eterna aliança de Cristo, agregados pelo compromisso com o Salvador, e não pelos vínculos naturais, culturais, biológicos e raciais (1Cor 12,13;1Pd 2,5;Ef 4,4-6;At 2,41-47). Os batizados tornam-se membros da Igreja, comprometidos com sua vida, sua caminhada, suas lutas, sua organização e suas atividades.

Continuando a presença salvadora de Jesus, a Igreja tem a missão de evangelizar, anunciando e propagando a boa nova do Reino de Jesus a todos os seres humanos. A missão da Igreja nasce do mandato de Cristo (Mt 28,16-20;Mc 16,12-20).

A fonte da missão da Igreja é o amor de Deus pela humanidade (2Cor 5,14;1Tm 2,4). Guiada pelo Espírito Santo, a Igreja realiza a evangelização por gestos, palavras e sinais.

A figura da Virgem Santíssima está inserida no mistério da Igreja. Faz parte integrante do povo de Deus. Ela é, efetivamente, “um membro eminente e absolutamente único da Igreja” (Concílio Vaticano II. Lumen Gentium, no. 53). Toda a vida e missão de Maria são esclarecidas e iluminadas a partir de seu relacionamento com a Igreja, comunidade de salvação.

CELEBRAÇÃO MARIANA

A Virgem Maria, Mãe da Igreja, constitui uma das celebrações marianas recentes, que pertencem ao calendário religioso do povo católico. Nesta celebração os cristãos honram e veneram a Mãe de Jesus dentro do mistério da comunidade eclesial.

Motivados pela fé e piedade, os cristãos celebram o mistério da Mãe de Jesus de modo singular. Na “celebração anual dos mistérios de Cristo, a Santa Igreja venera com especial amor a Bem-aventurada Mãe de Deus, que por vínculo indissolúvel está unida à obra salvífica de seu Filho. Nela admira e exalta o mais excelente furto da redenção e a contempla com alegria como uma puríssima imagem daquilo que ela mesma anseia e espera ser” (Concílio Vaticano II. Sacrosanctum Concilium, no. 103).

O mistério da Virgem Santíssima está presente na liturgia da Igreja por meio das celebrações marianas inseridas no decorrer do ano litúrgico, na lembrança de que dela se faz nas diversas orações eucarísticas, na evocação dos grandes temas mariais e na coletânea de missas de Nossa Senhora, contidas em seu lecionário. A pessoa de Maria é ainda evocada na liturgia das horas e outros ritos sacramentais e orações da Igreja.

As celebrações marianas expressam o culto oficial que a Igreja presta à Virgem Maria. Esse culto “encontra sua expressão nas festas litúrgicas dedicadas à Mãe de Deus” (Catecismo da Igreja Católica, nº. 971).

No decorrer do ano litúrgico, a Igreja realiza três tipos de celebrações marianas, de acordo com sua importância: solenidades, festas e memórias. Essas celebrações ressaltam a beleza da figura de Maria na obra salvífica de Jesus e na vida da Igreja.

As solenidades são as celebrações marianas mais importantes, com um sabor peculiar. São dias relevantes do calendário litúrgico. Suas celebrações se iniciam com as primeiras vésperas na tarde precedente.

As solenidades têm três leituras próprias na missa e também na liturgia das horas. As solenidades são quatro: Santa Maria, Mãe de Deus (1º. de janeiro), Anunciação do Senhor (25 de março), Assunção de Nossa Senhora (15 de agosto) e Imaculada Conceição de Maria (8 de dezembro). No Brasil há também a solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, sua padroeira principal (12 de outubro).

As festas são celebrações marianas que, em ordem de importância, vêm depois das solenidades. São realizadas nos limites do dia natural. Não têm as primeiras vésperas. Mas têm tudo próprio, tanto as leituras e orações da missa, com os textos da liturgia das horas.

As festas são os dias em que os cristãos rompem a monotonia do ordinário e celebra algum acontecimento de Maria com alegria, gratidão e tranquilidade. As principais festas são: apresentação do Senhor (2 de fevereiro), visitação de Nossa Senhora (31 de maio) e natividade de Maria (8 de setembro). No Brasil e outros países latino-americanos, há a festa de Nossa Senhora de Guadalupe (12 de dezembro), padroeira da América Latina.

As memórias são celebrações marianas de menor importância. São obrigatórias ou facultativas. São harmonizadas com a liturgia do dia da semana corrente.

As memórias são: Nossa Senhora de Lourdes (11 de fevereiro), Nossa Senhora de Fátima (13 de maio), Imaculado Coração de Maria (sábado depois da solenidade do Sagrado Coração de Jesus), Nossa Senhora do Carmo (16 de julho), Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior (5 de agosto), Nossa Senhora Rainha (22 de agosto), Nossa Senhora das Dores (15 de setembro), Nossa Senhora do Rosário (7 de outubro) e apresentação de Nossa Senhora (21 de setembro)

Na semana os cristãos dedicam os sábados à memoria da Virgem Santíssima. Recordam a participação constante de Nossa Senhora na vida de Jesus e nas existências das pessoas.

Se no sábado não há nenhuma festa ou memória obrigatória, pode-se celebrar pela manhã a missa de Nossa Senhora. Essa tradição mariana remonta ao século IX.

A Virgem Maria, Mãe da Igreja constitui uma memória litúrgica. Está integrada no conjunto das celebrações marianas que os cristãos celebram durante o ano.

ORIGEM DA MEMÓRIA

A memória da Virgem Maria, Mãe da Igreja, é recente na liturgia cristã. Mas seu título é antigo, proveniente da literatura patrística do século IV.

A denominação de Maria como Mãe da Igreja foi utilizada pela primeira vez por Santo Ambrósio de Milão (338-397). Esse dado foi redescoberto por Hugo Rahner, um jesuíta, que era irmão do renomado teólogo Karl Rahner.

O próprio Santo Agostinho (354-430) afirmava que Maria é mãe dos membros de Cristo, porque cooperou, com sua caridade, para o renascimento dos fiéis na Igreja.

São Leão Magno (440-461), papa e doutor da Igreja, quando diz que o nascimento da Cabeça é, também, o nascimento do Corpo, indica que Maria é, ao mesmo tempo, Mãe de Cristo, o Filho de Deus, e Mãe do seu Corpo Místico, isto é, a Igreja.

Na Idade Média, a partir do século IX, os pregadores, os escritores e os devotos empregavam com maior frequência a maternidade eclesial e espiritual de Maria. Eles também usaram diversos títulos equivalentes, como Mãe dos seres humanos, Mãe dos discípulos, Mãe dos cristãos, Mãe dos redimidos e Mãe de todos aqueles que renascem em Cristo. A invocação torna-se comum nos pronunciamentos e documentos dos papas dos últimos séculos.

No dia 29 de junho de 1943, o Papa Pio XII (1939-1958) já preconizava Maria, a nova Eva, como Mãe de todos os cristãos na Igreja. Maria, que “era fisicamente Mãe da nossa divina Cabeça, foi, com novo título de dor e de glória, feita espiritualmente mãe de todos os seus membros” no Calvário (Carta Encíclica Mystici Corporis, no. 106). Ela é “Mãe santíssima de todos os membros de Cristo, a cujo Coração Imaculado confiadamente consagramos todos os homens, e agora em corpo e alma refulge na glória e reina juntamente com seu Filho, nos alcance dele que sem interrupção corram os caudais da graça da excelsa Cabeça para todos os membros do Corpo Místico” (Carta Encíclica Mystici Corporis, no. 107).

Na Igreja Católica, o título de Mãe da Igreja foi dado oficialmente à Maria pelo Papa Paulo IV (1963-1978), em meados dos anos 60. Bem acolhido pelos cristãos, foi rapidamente divulgado dentro da cristandade. Diversas igrejas e capelas passaram a ter como patrona a Mãe da Igreja.

Aos 21 de novembro de 1964, ao encerrar a terceira sessão do Concílio Vaticano II, Paulo VI declarou a Mãe de Jesus como Mãe da Igreja. Foi durante a promulgação da Constituição Dogmática sobre a Igreja: “Lumen Gentium”, documento considerado a pedra angular da doutrina conciliar, pois faz uma profunda meditação sobre a natureza e a missão da Igreja à luz de Jesus Cristo.

Para o Papa, a missão maternal de Maria na Igreja é expressão de sua bondade, solicitude e caridade atenta e afetuosa. A invocação de Mãe da Igreja sempre foi querida e reconhecida dentro do povo de Deus. Foi também sugerida por muitos ministros ordenados, teólogos, religiosos e leigos de diversos seguimentos, lugares e partes do mundo.

Paulo VI afirmou que Maria é Mãe de todo o povo de Deus, tanto os cristãos leigos como o clero. Em seu discurso oficial, ele pontuava: “Para a glória da Virgem e para nosso conforto, proclamamos Maria Santíssima ‘Mãe da Igreja’, isto é, de todo o povo de Deus, tanto dos fiéis como dos pastores que lhe clamam Mãe amorosíssima; e queremos que com este título suavíssimo seja a Virgem doravante ainda mais honrada e invocada por todo o povo cristão”. Em seu pronunciamento, o Papa precisa, por três vezes, que Maria é mãe de todos os membros da Igreja.

O título de Mãe da Igreja, oficializado por Paulo VI, alicerça-se na união de Maria com Jesus. “Com esse título, se expressa a realidade do vínculo mais profundo de Maria com o Senhor e, nele, conosco. Sua maternidade em relação à comunidade cristã é derivação do dom e da tarefa que recebeu do próprio Deus” (Pe. Angel L. Strada, teólogo e escritor).

Em 13 de maio de 1967, Paulo VI propôs a Exortação Apostólica Signum Magnum, dedicada ao culto da Virgem Maria, Mãe da Igreja e modelo de todas as virtudes. O Papa exorta os cristãos a honrarem, com veneração especial, Nossa Senhora como Mãe espiritual perfeita da Igreja e a imitarem suas virtudes como caminho seguro de fidelidade ao seguimento de Cristo.

Em 1975, por ocasião do Ano Santo da Reconciliação, a Sé Apostólica propôs uma missa votiva em honra de Santa Maria, Mãe da Igreja. A celebração foi inserida no Missa Romano.

Em 1980, durante o pontificado de João Paulo II, a Sé Apostólica concedeu a possibilidade de acrescentar a invocação de Mãe da Igreja na Ladainha Lauretana. Em 1986, publicou também outros formulários de missas votivas com o título de Mãe e Imagem da Igreja na Coletânea de Missas de Nossa Senhora. Para alguns países, dioceses e institutos religiosos, autorizou a inserir a celebração da Mãe da Igreja em seu calendário particular.

Considerando toda a tradição cristã e a importância da maternidade eclesial no mistério da Igreja, Papa Francisco instituiu a memória de Maria, Mãe da Igreja, no calendário romano geral. Determinou que a celebração mariana fosse feita todos os anos na segunda-feira depois da solenidade de Pentecostes.

A instituição da memória está no Decreto “Ecclesia Mater”, da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos. O documento foi assinado pelo Cardeal Robert Sarah, prefeito do Dicastério, em 11 de fevereiro de 2018, quando se comemorara o centésimo sexagésimo aniversário da primeira aparição de Nossa Senhora em Lurdes, França.

O Decreto foi publicado no dia 3 de março de 2018. O documento orienta que a memória de Maria, Mãe da Igreja, deva figurar em todos os calendários e livros litúrgicos para a celebração da missa e da liturgia das horas.

A memória litúrgica visa favorecer o crescimento do sentido materno da Igreja nos pastores, nos religiosos e nos leigos. Busca também incrementar o senso materno na genuína piedade mariana.

Para instituir a celebração mariana, o Papa Francisco considerou o valor fundamental da presença de Maria na comunidade cristã primitiva, quando se esperava o Espírito Santo em Pentecostes (At 1,14). Desde então, a Mãe de Jesus sempre se ocupou maternalmente com a Igreja peregrina no tempo.

A memória mariana auxilia a recordar e a reforçar que a vida cristã, para progredir, deve ser ancorada no mistério da redenção de Jesus na cruz e no mistério de Maria, a Mãe do Redentor e dos redimidos, como Virgem oferente no Calvário. Esses são mistérios que Deus deu ao mundo para orientar, fecundar e santificar os cristãos. Tais mistérios visam também conduzi-los a Jesus Cristo, o Senhor Ressuscitado.

Os bispos brasileiros reconhecem as implicações da invocação de Mãe da Igreja no bojo da comunidade cristã. “Assim, Maria, para além de toda a ternura que sua devoção inspira, deve ser vista, sobretudo, como Mãe da Igreja; pois assim como o filho traz em seu rosto os traços da sua mãe, nós cristãos nos empenhamos por marcar nossa vida com a escuta da Palavra, o amor incondicional a Cristo e a caridade solícita para com os irmãos, que caracterizaram a santidade de Maria” (Animação da vida litúrgica no Brasil. Doc. da CNBB, 43. no. 135).

MATERNIDADE ECLESIAL

A maternidade eclesial designa o fato de que Maria é considerada a Mãe da Igreja. Essa dimensão é relevante tanto para a eclesiologia como para a mariologia. O título deriva do latim, “Mater Ecclesiae”, que significa Mãe da Igreja.

Maria ocupa lugar especial no povo de Deus por ser a Mãe da Igreja. Essa invocação é muito preciosa e atual. Comentando-a poeticamente, Ives Gandra da Silva Martins, jurista brasileiro, diz a respeito de Maria: “Tornaste-te, Mãe da Igreja, / Sinaleira intemporal / Da mensagem benfazeja / Que semeia a terra em sal”. É um título que Nossa Senhora merece perfeitamente.

Nos documentos oficiais, o magistério eclesiástico considera que Maria é verdadeiramente a Mãe dos membros da Igreja.  De acordo com o Concílio Vaticano II, a Virgem Maria é “reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus e do Redentor. Ela é também verdadeiramente Mãe dos membros de Cristo, porque cooperou pela caridade para que na Igreja nascessem os fiéis que são os membros desta cabeça” (Lumen Gentium, 53). A denominação de Mãe da Igreja é real e autenticamente devido à Mãe do Redentor.

A maternidade eclesial de Maria está baseada em sua maternidade divina. Ela é Mãe da Igreja “por ser Mãe de Jesus Cristo e sua muito íntima colaboradora na nova economia, quando o Filho de Deus assume nela a natureza humana, para libertar o homem do pecado mediante os mistérios da sua carne” (Paulo VI. Exortação Apostólica Signum Magnum, no. 1).

Maria é Mãe de Jesus por tê-lo concebido e gerado em seu ventre puríssimo por obra do Espírito Santo (Mt 1,18-25;Lc 1,26-38;Gl 4,4). Com o nome de “mãe”, Maria é designada 25 vezes no Novo Testamento.

Cercado pela proteção de São José, seu esposo, Maria deu à luz Jesus na cidade de Belém, há sete km ao sul de Jerusalém, na região de Judá (Mt 2,1-12;Lc 2,1-7). Morando em sua casa em Nazaré, na Galiléia, Maria criou e educou seu filho Jesus com amor, atenção, responsabilidade e constância (Mt 2,21-23;Lc 2,39-40.51-52).

No Evangelho, São João destaca Maria como companheira de Jesus. Ela está presente nas bodas de Caná (Jo 2,1-12) e na cena do Calvário (Jo 19,25-27). Assim, Maria aparece no início e no final do ministério público de seu Filho.

Maria é Mãe da Igreja por sua vocação de ser Mãe de Jesus, o Salvador da humanidade. Assim explica o padre Ignace de la Potterie, mariólogo, em seu livro “Mãe de Deus”: “Se nos tornamos filhos de Deus por causa de nossa fé em Cristo, sua mãe, que teve um papel único na encarnação do Filho de Deus, terá certamente também a função no renascimento espiritual dos filhos de Deus porque a encarnação é precisamente o modelo de nossa vida filial. Como nossa filiação espiritual divina é paralela da filiação de Cristo, a maternidade de Maria em relação a nós será igualmente em relação à sua maternidade em relação Jesus”.

Por ter cooperado na encarnação do Verbo de Deus na condição humana, Maria é, por direito, Mãe da Igreja. “Com o consentimento e participação de Maria na encarnação do Redentor, a Virgem concebeu a Igreja” (Pe. Juan Rey, jesuíta e teólogo).

DOM DE JESUS

A maternidade eclesial de Maria é graça e dom de Jesus em sua obra redentora. Antes de morrer na cruz, Jesus constitui Maria, sua mãe, como Mãe da Igreja.

De acordo com os escritores eclesiásticos, Jesus, no alto da cruz, nos deu Maria como Mãe de todos os redimidos na pessoa de João, que ali representava todos os discípulos (Jo 19,26-27). A maternidade divina de Maria estendeu-se a dimensão universal, abrangendo a maternidade eclesial.

Como Mãe de Jesus, Maria é Mãe da Igreja na ordem da graça por ter cooperado decisivamente na realização da obra salvadora da humanidade. No povo de Deus ela torna possível o nascimento dos cristãos para a vida espiritual, que provém de seu Filho. É justo que Maria seja a Mãe da Igreja porque coopera, com amor incondicional, para o Cristo na geração, formação e desenvolvimento dos membros da comunidade de fé. “O conjunto dos cristãos, integrados tanto na hierarquia como no povo fiel, são a Igreja nascida do Salvador na cruz, qual nova Eva, Mãe de todos os viventes” (Pio XII).

Associada ao sacrifício redentor de Jesus, a Virgem Santíssima coopera na redenção dos seres humanos, realizada por seu Filho no Calvário. Com “ânimo materno se associou ao sacrifício de Jesus, consentindo com amor na imolação da vítima por ela mesma gerada. Finalmente, pelo próprio Cristo Jesus moribundo na cruz, foi dada como mãe ao discípulo com elas palavras: Mulher, eis aí teu filho (cf. Jo 19,26-27)” (Concílio Vaticano II. L.G., nº. 58). Na crucificação de Jesus, Maria assume ser a Mãe de todos os redimidos.

O grande teólogo contemporâneo Hans Urs von Balthasar (1905-1988) resgatou o fundamento bíblico da maternidade eclesial de Maria. Dizia o pensador cristão: “Junto à cruz, já que o Pai abandonara o Filho, o Filho abandona a sua mãe. Confia a mãe à Igreja. A partir do Calvário, Maria torna-se mãe da Igreja, é a primeira entre os seus membros. Trata-se de um novo empenhamento, a que Maria se consagra. Assim, tudo se desenvolverá até à Assunção ao céu, no qual ela começará a agir como medianeira da Igreja do Senhor. Por isso, o Senhor envia-a continuamente à Igreja e aos homens”.

Sendo Mãe de Jesus e contribuindo com Ele na obra salvadora, Maria é Mãe de todos os membros da Igreja na ordem da graça. “Concebendo seu Filho, dando-o à luz, alimentando-o, apresentando-o ao Pai no templo e participando de seus sofrimentos até a morte de cruz, ela cooperou de maneira toda especial com a obra do Salvador, pela obediência, pela fé e pela caridade ardente, para a restauração da vida sobrenatural das pessoas. Por isso, é nossa Mãe na ordem da graça” Concílio Vaticano II. Lumen Gentium, nº. 61)

Em Jerusalém, no Cenáculo, a comunidade cristã está reunida na fé. Os apóstolos e discípulos estão em oração, aguardando a vinda o Espírito Santo em Pentecostes (At 1,12-14). Quando chegou o dia de Pentecostes, eles se encontram no mesmo lugar e recebem a infusão do Espírito Santo como dom, luz e força para testemunharem e anunciarem a boa de Jesus como Igreja (At 2,1-13).

No próprio livro dos Atos dos apóstolos, São Lucas salienta que Maria está presente na comunidade cristã (At 1,14). Sua presença não é secundária e ocasional, mas é significativa, viva e consciente. Maria participa da comunidade cristã com consciência e constância.

Cheia de fé e de amor, Maria é a Mãe que anima, sustenta e fortalece a vida e a missão da comunidade cristã inicial. “Maria tornou-se a Mãe da Igreja nascente, pois, ao redor dela se reuniam os apóstolos, sob a autoridade de Pedro, para o lugar de Judas escolheu-se outro apóstolo. Esta escolha foi feita sob os olhares e assistência de Maria” (Pe. Adalíbio Barth, escritor mariano).

No Cenáculo, Maria, com sua oração confiante, implora a vinda do Espírito Santo sobre a Igreja aí congregada. Ela pede que desça sobre a comunidade cristã “o Espírito Santo, a santifique e lhe comunique todos os seus dons, principalmente o da fortaleza e da ciência, de que vai precisar em breve para enfrentar um mundo pagão e regenerá-lo em Cristo e para Cristo” (Pe. Juan Rey, jesuíta e teólogo).

A missão maternal de Maria foi muito importante para que a Igreja começasse e consolidasse sua missão evangelizadora no meio da humanidade. “Com santidade exemplar, com autoridade de seu conselho, com a palavra consoladora e com a eficácia das suas preces, Maria amparou maravilhosamente os primeiros passos do povo cristão” (Papa Leão XIII).

Já ingressa na pátria eterna, Maria passa a exercer sua missão de Mãe da Igreja por sua intercessão atual, eficaz e constante. Ela “continua agora no céu a cumprir a missão que teve na terra de cooperadora no nascimento e desenvolvimento da vida divina no ser de cada pessoa redimida” (Paulo VI. Exortação Apostólica Signum Magnum, no. 1). Essa verdade religiosa faz parte integrante do mistério da salvação humana.

A maternidade eclesial de Maria não termina no fim de seu trajeto histórico na terra, mas prossegue no céu, com sua assunção. Presente na comunhão dos santos, Maria coopera na obra salvadora de Jesus, gerando e formando os filhos de Deus na Igreja.

Na pátria eterna, Maria implora a Jesus pelo povo de Deus, que está na terra. Ressuscitada e viva, ela vela pelos membros da Igreja em sua peregrinação terrestre para que perseverem no seguimento de Jesus e possam alcançar seu destino final: participar da vida plena e definitiva da Santíssima Trindade. Maria coopera com Jesus na Igreja “mediante a sua incessante súplica, inspirada por uma caridade ardente” (Paulo VI. Exortação Apostólica Signum Magnum, no. 2)

Como Mãe da Igreja, Maria empenha-se junto a Jesus para que os cristãos possam ser fiéis aos seus compromissos como família do Salvador. A Igreja “é a família de todos os cristãos e seguidores de Jesus. Nela e através dela prolonga-se a sua ação libertadora. É sinal de salvação para todos: é o povo de Deus que, vivendo a unidade da fé, animado pelo Espírito de Jesus, caminha para seu destino definitivo, para a verdadeira pátria prometida: a casa do Pai” (Vital Ayala, escritor mariano). A Igreja conta com a cooperação preciosa e sempre solícita de Nossa Senhora.

Como Mãe da Igreja, Maria guia, ilumina e protege os cristãos, suplicando por suas necessidades junto a seu Filho. Ela acompanha e orienta o povo de Deus desde o início do cristianismo até hoje. E permanecerá em sua missão maternal até a parusia. “De fato, da Jerusalém celeste ela está a guiar a Igreja peregrina na terra, animando-a, confortando-a até que todos estejam na gloriosa comunidade dos eleitos” (Credo do Povo de Deus. Profissão da fé solene, nº. 15).

Em sua missão maternal, Maria está com a Igreja em todos os momentos e lugares. “Quem podemos pensar que leve mais no coração a Igreja que a Mãe de Cristo, que esteve com ela, não só apenas quando esta nasceu do coração aberto de Cristo e quando se apresentou ao mundo sob a efusão do Espírito Santo em Jerusalém, mas sempre e em todas as lutas, em todos os seus merecimentos, em todos os seus caminhos ao longo dos séculos?” (Papa Paulo VI).

CORPO DE CRISTO

Maria é Mãe da Igreja por ser a Mãe do Corpo de Cristo em sua totalidade. É a mãe de Jesus e, ao mesmo tempo, é a mãe da comunidade cristã. “Repleta do Espírito Santo, Maria concebeu seu Filho Jesus. Repleta do Espirito, ela concebeu e deu à luz o corpo místico de Cristo, pois ela foi constituída a ‘Mãe da igreja'” (Fr. Alberto Beckauser, liturgista e teólogo).

De acordo com a reflexão eclesiológica, a Igreja é concebida como Corpo de Cristo. Jesus e a Igreja formam o “Cristo total” (Santo Agostinho, bispo e doutor da Igreja). “Cabeça e membros são como uma só pessoa mística” (São Tomás de Aquino, teólogo e doutor da Igreja).

Já na Bíblia os hagiógrafos afirmam que a Igreja é o Corpo de Cristo porque seus membros estão unidos sob Jesus, como sua cabeça, e por um único Espírito, o Espírito Santo (1Cor 10,17;12,12-26). Tem muitos e diferentes membros, unificados pela graça de Jesus (Rm 12.4-5; Gl 3,27-28;Ef 4,4.12;5,30).

Jesus é o princípio vital da Igreja. Ele é a cabeça do Corpo, pois a Igreja vive dele, nele e por Ele (Gl 4,19;Ef 1,22-23;4,11-16;Cl 1,18;1Pd 2,25). “Nosso Redentor mostrou-se como uma só pessoa com a santa Igreja, que Ele assumiu” (São Gregório Magno, papa e doutor da Igreja).

Como cabeça da Igreja, Jesus aparece como esposo dela, formando com ela profunda unidade. “Na qualidade de cabeça Ele se diz ‘esposo’, na qualidade de Corpo se diz ‘esposa’” (Santo Agostinho).

Jesus é esposo da Igreja porque Ele a amou e se entregou por Ela. Jesus cuida da Igreja com carinho, solicitude e atenção. Ele a purifica, a santifica e a oriente durante seu trajeto terrestre Mt 22,1-14;25,1-13;Mc 2,19;1Cor 6,15-16;2Cor 11,2;Ef 1,4-5.27;5,26;Ap 217).

Jesus é o esposo que fecunda e faz crescer a Igreja cada vez mais. Ele atrai muitas pessoas para que ingressem na Igreja mediante a conversão, a fé, a formação catequética e iniciação cristã. Jesus faz dela “a mãe fecunda de todos os filhos de Deus” (Catecismo da Igreja Católica, no. 808).

A união da Igreja com o Cristo é efetuada pelo batismo e sustentada pela eucaristia (Mt 26;26-27;28,19;Mc 14,22-23;15,16;Lc 22,19-20;24,3035;Jo 6,56;At 3,39-41; Rm 6,1-5;1Cor 11,17-34). “A comparação da Igreja com o corpo projeta uma luz sobre os laços íntimos entre a Igreja e Cristo. Ela não é somente congregada em torno dele; é unificada nele, em seu Corpo” (Catecismo da Igreja Católica, nº 789).

Maria é a Mãe da Igreja por ser a Mãe do Redentor e da Cabeça do Corpo de Cristo. “Maria é Mãe de Deus, Mãe de Jesus Cristo no seu ‘sim’ da anunciação. É Mãe da Igreja, porque é Mãe de Cristo, Cabeça do Corpo Místico” (CNBB. Catequese Renovada. Doc. 26, no. 231).

Em 27 de janeiro de 1979, no Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, no México, o Papa João Paulo II dizia aos participantes da III Conferência Geral do Episcopado Latino-americano: “A divina maternidade é o fundamento da relação especial de Maria com Cristo e de sua presença na economia da salvação operada por Cristo, e também o fundamento das relações de Maria com a Igreja, por ser Mãe daquele que, desde o primeiro instante da encarnação em seu seio virginal, constitui-se em cabeça do Corpo místico, que é a Igreja” (Documento de Puebla. Homília).

Maria é a Mãe de todo o Corpo de Cristo: todos os fiéis e pastores. “Maria é mãe de Cristo que, não só assumiu a natureza humana no seio virginal dela, mas também ligou a si, como cabeça, o seu corpo místico, que é a Igreja. Consequentemente, como mãe de Cristo, Maria é também mãe dos fiéis e de todos os pastores, isto é, a Igreja” (Papa Paulo VI).

Com bondade e solicitude, Maria, em sua missão maternal, coopera na obra de seu Filho para resgatar e salvar os seres humanos, fazendo-os filhos de Deus na Igreja, o Corpo de Cristo (Gl 4,4-5).  A Mãe do Redentor “está unida de modo especial com a Igreja, que o Senhor constitui como seu corpo” (Papa João Paulo II. Carta Encíclica Redemptoris Mater, nº. 66).

Como Mãe, Maria atua ativamente na Igreja como Corpo de Cristo, gerando e formando os seus membros para que possam conservar a graça de filhos de Deus e progredir na fé, na caridade e na esperança. “Sendo a Virgem verdadeira Mãe de Cristo, ela gerou seu Filho, que é a Cabeça de todo o gênero humano. É por isso, coisa inteiramente lógica, que a Santíssima Virgem proceda a geração de todos os membros de Cristo, até a perfeita formação do seu Corpo. Esta geração espiritual se dá com a comunicação da graça, dos dons e das virtudes, que são exigidas para a Salvação” (Santo Agostinho, bispo e doutor da Igreja).

Maria teve e tem solicitude maternal para com a Igreja como Corpo de Cristo. “Maria dispensou ao Corpo Místico, recém-nascido do coração aberto do Salvador, os mesmos cuidados maternais e o mesmo carinho que tinha tratado o Menino Jesus em seu berço” (Pio XII. Carta Encíclica Corpo Místico).

MATERNIDADE MÍSTICA

A maternidade mística de Maria refere-se ao fato de que ela é considerada como Mãe espiritual no seio do povo de Deus. Esse termo significa que Maria é mãe dos cristãos, membros da Igreja.

No dia 11 de outubro de 1963, na Basílica de Santa Maria Maior, Paulo VI, ladeado pelos participantes do Concílio Vaticano II, pronunciou a seguinte oração, dirigida a Nossa Senhora: “Ó Maria, olhai para a Igreja e para os membros responsáveis do Corpo Místico de Cristo, reunidos ao pé de vós para vos reconhecer e venerar como mística Mãe. Fazei, ó Maria, que esta sua e vossa Igreja, ao querer definir-se a si própria, vos reconheça como Mãe, Filha e Irmã escolhida, como modelo inigualável, sua glória e sua esperança”.

Depois de sua assunção gloriosa, Maria, como Mãe espiritual, está junto a Jesus, presente na comunhão dos santos, intervindo em favor de todos aqueles que a invocam no céu. “Maria continua a interceder pelos seus filhos” (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, no. 197).

A maternidade mística de Maria é decorrente de sua maternidade eclesial. Tendo em vista que é a Mãe da Igreja, Maria acompanha todos os membros do povo de Deus e se preocupa com a vida, a missão e o destino de cada um deles. “Santa Maria, como Mãe de Cristo, é Mãe da Igreja, quer dizer, de todo o povo de Deus” (Pablo Arce e Ricardo Sada, escritores catequéticos).

Durante sua existência histórica, Maria foi mãe espiritual dos discípulos de Jesus, que seguiam o Mestre de Nazaré, comprometiam-se com seu projeto do Reino de Deus e participavam de sua comunidade. Ela sempre esteve ao lado dos discípulos, ajudando-os em suas necessidades e conduzindo-os a seu Filho Jesus (Lc 1,39-56;Jo 2,1-12).

Desde a origem e fundação da Igreja, Maria teve presença atuante e constante na vida e missão dos discípulos. Ela soube orientá-los, animá-los, consolá-los e encorajá-los em todos os momentos históricos como sua bondade maternal.

Após a morte, a ressurreição e a ascensão de Jesus, Maria permaneceu com a Igreja, dando aos discípulos toda a assistência maternal e atenciosa. Estando com os discípulos em Pentecostes, “Maria implorou para a Igreja o Espírito Santo Vivificador” (CELAM. Documento de Puebla, no. 287).

Após sua assunção gloriosa, Maria continua sua ação de Mãe espiritual dos cristãos que estão fazendo sua peregrinação terrestre rumo ao Reino definitivo do Pai. Isso porque ela possui a prerrogativa de onipotência suplicante, dada pelo Senhor Ressuscitado (Concílio Vaticano II. Lumen Gentium, no. 62). Essa onipotência suplicante significa o papel atual de Maria que implora os benefícios e as graças para os seus filhos junto a Jesus, o Salvador da humanidade.

No céu, Maria exerce sua onipotência suplicante em virtude de sua maternidade divina e mística. A ligação íntima de Nossa Senhora com Jesus faz com que a súplica seja poderosa e eficaz, ou seja, possa ser atendida pelo Salvador.

Na comunhão dos santos, Maria está próxima de Jesus por encontrar-se ressuscitada e gloriosa na vida eterna. Todavia, ela também está próxima dos cristãos por ser sua Mãe imensamente poderosa e extremamente bondosa.

Como Mãe Espiritual, Maria acompanha cada cristão em sua caminhada humana e religiosa, estando perto dele, compreendendo seus desafios, interessando-se por ele e cuidando dele. “A Virgem Maria, Rainha dos Apóstolos, é modelo perfeito de vida espiritual e apostólica. Enquanto viva na terra uma vida comum, cheia de solicitudes familiares e de trabalho, estava sempre inteiramente unida a seu Filho, cooperando de modo singular para a obra do Salvador. Agora, que está no céu, com sua maternal caridade, cuida dos irmãos de seu Filho, que peregrinam ainda e estão entre os perigos e afazeres, até serem conduzidos à Pátria celeste” (Livro: “Senhor, que queres que faça?” – Pe. Mário Tranquilli, jesuíta e escritor).

Na pátria celeste, Maria é a Mãe carinhosa e compassiva, que está atenta à vida de seus filhos desde sua concepção no útero até seu final na terra. Em sua benevolência maternal, ela procura manter um relacionamento personalizado com cada um deles, auxiliando-o, protegendo-o e defendendo-o

Maria é a mãe generosa e compassiva que se coloca a serviço dos cristãos, zelando por eles em seu trajeto histórico. Participando do domínio de Cristo Ressuscitado, ela “cuida com amor materno dos irmãos de seu Filho, que ainda peregrinam” (Concílio Vaticano II. Lumen Gentium, no. 62).

Velando pelos cristãos na terra, Maria é a educadora da fé deles por ser sua Mãe Espiritual. “Ela cuida que o Evangelho nos penetre intimamente, plasme nossa vida de cada dia e produza em nós frutos de santidade” (CELAM. Documento de Puebla, no. 290).

Como Mãe Espiritual, Maria educa também educa os cristãos pelo exemplo de suas virtudes. A “suavidade e o encanto das excelsas virtudes da Imaculada Mãe de Deus atraem de maneira irresistível os ânimos para a imitação do divino modelo, Jesus Cristo, de que Ela foi a mais fiel imagem” (Paulo VI. Exortação Apostólica Signum Magnum, no. 3).

Os evangelistas, os padres da Igreja, os doutores, os teólogos, os escritores e os pregadores ressaltaram as virtudes admiráveis que transpareceram na vida da Virgem Maria. Associados a todos eles, nós “contemplamos Maria, firme na fé, pronta na obediência, simples na humildade, exultante no louvor do Senhor, ardente na caridade, forte e constante no cumprimento de sua missão até ao holocausto de si própria, em plena comunhão de sentimentos com seu Filho, que se imolava na cruz para dar aos homens uma vida nova” (Paulo VI. Exortação Apostólica Signum Magnum, no. 6).

Por ser Mãe espiritual, Maria é a Serva do Senhor, que inspira os cristãos a terem uma vida de união cada vez mais com seu Filho Jesus. “Maria é modelo de vida cristã, pois toda a sua existência é plena comunhão com o Filho, uma entrega total a Deus em todos os seus caminhos, numa união única que culmina na glória” (CNBB. Documento Catequese Renovada, no. 233).

Como Mãe pronta e misericordiosa, Maria ostenta um coração universal, capaz de abarcar os cristãos e todas as pessoas. “Tem um coração tão grande quanto ao mundo e intercede ante o Senhor da história por todos os povos. Isto bem registra a fé popular que põe nas mãos de Maria, como rainha e mãe, o destino de nossas nações” (CELAM. Documento de Puebla, no. 289).

MISSA DE MARIA, MÃE DA IGREJA

No Decreto em que aprovou e oficializou a memória da Virgem Maria como Mãe da Igreja, a Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos acrescentou os textos litúrgicos, em latim, para a missa, a liturgia das horas e o martiriológico romano.

Nos diversos países e lugares, as Conferências episcopais deverão providenciar a tradução dos textos necessários e, depois de confirmados, a publicação nos livros litúrgicos de sua jurisdição.

A missa, que celebra a memória de Maria como Mãe da Igreja, começa com a antífona de entrada: “Os discípulos unidos perseveravam em oração com Maria, a Mãe de Jesus”. Lembra a presença de Nossa Senhora na comunidade cristã em Jerusalém à espera de Pentecostes (At 1,14).

A oração do dia diz o seguinte: “Deus, Pai de misericórdia, vosso Filho, pregado na cruz, nos deu por mãe a sua Mãe. Pela intercessão amorosa da Virgem Maria, fazei que a vossa Igreja se torne cada vez mais fecunda e se alegre pela santidade de seus filhos e filhas, atraindo para o seu convívio as famílias de todos os povos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo”. Recorda a função de Maria como Mãe da Igreja, dada por Jesus na cruz e continuada hoje.

Na oração sobre as oferendas o sacerdote pronuncia: “Recebei, Senhor, as nossas oferendas e transformai-as em sacramento da salvação. Pela força deste mistério, sejamos inflamados no mesmo amor da Virgem Maria, Mãe da Igreja, e mereçamos com ela associar-nos mais estreitamente à obra da redenção. Por Cristo, nosso Senhor”. Suplica que os participantes da missa sejam inflamados pelo amor de Maria.

No início da oração eucarística, o presidente abre os braços e profere o seguinte prefácio:

Pres.: O Senhor esteja convosco.

Ass.: Ele está no meio de nós.

Erguendo as mãos, o presidente prossegue:

Pres.: Corações ao alto.

Ass.: O nosso coração está em Deus.

O sacerdote, com os braços abertos, acrescenta:

Pres.: Demos graças ao Senhor, nosso Deus.

Ass.: É nosso dever e nossa salvação.

O sacerdote, de braços abertos, continua o prefácio.

Pres.:  Na verdade, é justo e necessário, é nosso dever e salvação dar-vos graças, sempre e em todo o lugar, Senhor, Pai santo, Deus eterno e todo-poderoso, e na celebração da santa Virgem Maria engrandecer-vos com os devidos louvores. Acolhendo a vossa Palavra no coração sem mancha, mereceu concebê-lo no seio virginal e, ao dar à luz o Fundador, acalentou a Igreja que nascia. Recebendo aos pés da cruz o testamento da caridade divina, assumiu todos os seres humanos como filhos e filhas, renascidos para a vida eterna, pela morte de Cristo. Ao esperar com os Apóstolos o Espírito Santo, unindo suas súplicas às preces dos discípulos, tornou-se modelo da Igreja orante. Arrebatada à glória dos céus, acompanha até hoje com amor de mãe a Igreja que caminha na terra, guiando-lhe os passos para a pátria, até que venha o dia glorioso do Senhor. Portanto, com todos os anjos e santos, vos louvamos eternamente cantando (dizendo) a uma só voz: 

Durante o prefácio, o sacerdote louva a Deus que nos concedeu Maria como modelo e Mãe da Igreja. Ela é exemplo de acolhida da Palavra de Deus e de oração. É a Mãe da Igreja desde a encarnação do Verbo de Deus, da crucificação de Jesus e de pentecostes até hoje. Assunta à gloria celeste, Maria acompanha com amor maternal a Igreja, guiando-lhe no caminho da salvação até a parusia.

O texto antífona da comunhão é o seguinte: “Celebrou-se um casamento em Caná da Galiléia, e a Mãe de Jesus estava lá. Jesus deu início aos seus milagres, manifestou a sua glória e os discípulos creram nele”. Rememora as bodas de casamento em Caná da Galiléia, onde Maria estava presente com Jesus e os discípulos (Jo 2,1-12). Além do papel de intercessora, Maria é a pedagoga de fé, que conduz as pessoas ao seguimento de Jesus na comunidade cristã.

Após da comunhão eucarística, o sacerdote faz a seguinte oração: “Tendo recebido o penhor da redenção e da vida, nós vos pedimos, Senhor, que vossa Igreja, pela intercessão da Virgem Maria,  instrua todas as nações pelo anúncio do Evangelho e encha toda a terra com a efusão do Evangelho”. Implora a intercessão Maria para que ajude a Igreja em sua missão de evangelizar todos os povos.

LEITURAS BÍBLICAS

Na missa de Maria, Mãe da Igreja, a Liturgia da Palavra abrange os textos bíblicos que iluminam e esclarecem a missão maternal da Virgem Santíssima no seio do povo de Deus. Reunida para celebrar a memória litúrgica, a assembléia de fé ouve os textos e compreendem o sentido da maternidade eclesial de Maria à luz da Palavra de Deus.

Durante a celebração da missa, a Liturgia da Palavra apresenta uma leitura, um salmo e o Evangelho. São leituras bíblicas muito oportunas, instrutivas e inspiradoras.

Na primeira leitura pode-se escolher um dos trechos bíblicos: Gn 3,9-15.20 ou At 1,12-14. O primeiro trecho de Gênesis descreve a promessa de salvação que Deus faz aos seres humanos, após o pecado. Destaca a vinda futura do Messias, que irá salvar a humanidade, e a figura da Mãe do Salvador. De acordo com a tradição cristã, o Messias é identificado com Jesus e a Mãe refere-se à Virgem Maria.

O trecho dos Atos dos Apóstolos aponta a presença viva e atuante de Maria na Igreja primitiva, em Jerusalém. No cenáculo, ela está junto dos apóstolos e discípulos perseverando na oração, aguardando a vinda do Espírito Santo em Pentecostes.

Na liturgia da Palavra, o salmo responsorial é o 86 (87). É um hino a Jerusalém, cidade do povo de Deus. Jerusalém tem a vocação de ser mãe do povo. Ela é chamada a se expandir, reunindo pessoas de todos os povos. Essa missão passará mais tarde para a Igreja, aberta a todos. Maria é a mãe do povo de Deus, que zela por ele com carinho e solicitude.

Durante a missa, o presidente proclama o Evangelho, que é extraído de São João (19,25-34). O texto narra a cena da crucificação de Jesus no Gólgota. A morte de Jesus foi ato extremo de caridade, pois Ele, com amor e liberdade, faz a entrega generosa e incondicional de sua vida ao Pai em favor da humanidade. Exprime e concretiza a ação redentora de Jesus no mundo, tendo em vista que, ao ser crucificado, Ele liberta os seres humanos da morte e do pecado e os reconcilia com o Pai.

No Calvário, perto da cruz de Jesus, Maria estava de pé, junto com Maria de Cléofas, Maria Madalena e João Evangelista, o discípulo amado pelo Salvador. Em sua bondade, Jesus, pregado na cruz, deu aos discípulos por Mãe sua mãe, Maria. Recebendo no alto do monte o testamento da caridade divina, Maria assumiu todos os seres humanos como filhos, renascidos para a vida plena mediante a morte redentora de Cristo. A maternidade divina de Maria se ampliou e se universalizou, tornando-se também maternidade eclesial.

CULTO MARIANO

O culto mariano é a honra que os cristãos prestam a Virgem Maria na Igreja. Tem servido como alimento de fé, de esperança e de caridade para o povo de Deus.

O culto mariano faz parte integrante da espiritualidade da Igreja e do patrimônio da religiosidade popular. “A piedade da Igreja para com a bem-aventurada Virgem Maria é elemento intrínseco do culto cristão” (Paulo VI. Culto da Virgem Maria, no. 56).

O culto marino constitui uma prática qualificadora e constante da Igreja desde as origens do cristianismo. Os evangelhos e outros escritos neotestamentários registram e recordam a pessoa e a missão de Maria na história da salvação (Lc 1,26-38;At 1,14;Gl 4,4).

O Novo Testamento destaca a figura de Maria de forma explícita, lúcida e personalizada. Ela aparece sempre unida a Jesus Cristo e à sua obra evangelizadora. É mencionada cerca de 183 versículos, os quais se encontram em 17 trechos. São sete livros que se referem à Mãe do Salvador.

Enraizado na tradição bíblica e cristã, o culto mariano é válido e atual na Igreja. O Concílio Vaticano II recomenta que a Igreja venere, “com amor peculiar, a bem-aventurada Mãe de Deus, que está associada à obra salutar de seu Filho. Em Maria brilha, na sua expressão máxima, o fruto da redenção, e nela se contempla, como em sua imagem puríssima, tudo o que se pode desejar e esperar”  (Sacrosanctum Concilium, no. 103).

A memória de Maria, Mãe da Igreja, constitui uma das formas litúrgicas da expressão do culto mariano da Igreja nos dias atuais. “Igreja, instruída pelo Espírito Santo, venera Maria como Mãe muito amada, com afeto e piedade filial” (CNBB. Documento de Catequese Renovada”, no. 230).

Ao celebrar a memória mariana, todos nós, cristãos, honramos Maria como Mãe da Igreja, que lá do céu, junto de Jesus, nos escuta, nos norteia, nos guarda, nos ensina, conhece nossas necessidades e nos atende “Arrebatada à glória dos céus, ela acompanha a Igreja que caminha na terra, guiando-lhe os passos para a pátria, até que venha o dia glorioso do Senhor” (Prefácio da memória de Maria, Mãe da Igreja). Em sua bondade maternal, Maria cuida da Igreja e de todos com generosidade e constância.

Na memória litúrgica, nós conhecemos, aprofundamos e assumimos o culto de Maria como Mãe da Igreja de maneira consciente, convicta e piedosa. Assunta e glorificada, Maria, como Mãe de Cristo, está próxima de seu Filho, recorrendo a Ele em nosso favor. Como Mãe da Igreja está próxima de povo de Deus e de cada um de nós, ensinando-nos a seguir a Jesus e socorrendo-os perpetuamente.

Confiantes, nós, cristãos, contamos com o auxílio carinhoso, certo, pronto, seguro e eficaz da Mãe da Igreja em nossa peregrinação de fé na terra. Como devotos, nós amamos a Virgem Maria como nossa mãe com afeto filial e terno. “A Igreja Católica, guiada pelo Espírito Santo, honra-a como Mãe amantíssima, dedicando-lhe afeto de piedade filial” (Concílio Vaticano II. Constituição Dogmática Lumen Gentium, no. 53).

Em suas orações, a Igreja recorre a Maria como Mãe bondosa, suplicando-lhe pelas suas precisões e urgências. “A Igreja teve desde sempre a consoladora experiência de encontrar em Maria a Mãe de misericórdia e de graça, que ela tão frequentemente invoca em suas preces” (Papa Bento XV. Encíclica Fausto Appetente Die, 1921).

Na celebração mariana, nós, peregrinos, somos chamados persistir na fé cristã, inspirados pela esperança de Maria, a Mãe da Igreja. “Glorificada no céu de corpo e alma, a mãe de Jesus é a imagem e início da Igreja perfeita, no fim da história. Por agora, na  terra, enquanto não chega o Dia do Senhor (cf. 2Pd 3,10), brilha como sinal e auxílio do povo de Deus em peregrinação” (Concílio Vaticano II. Constituição Dogmática Lumen Gentium, no. 68).

Pe. Eugênio Antônio Bisinoto C. Ss. R.

Sacerdote Redentorista e Escritor

Igreja Santa Cruz, Araraquara – SP

Atos dos Apóstolos e a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos

 “Eles nos demonstraram uma benevolência fora do comum” (At 28,2), lema escolhido para esta semana de oração: “24 a 31 de maio”. As pessoas que haviam sofrido um naufrágio, durante a viagem de Paulo a Roma, foram acolhidas com generosidade pelos habitantes da ilha de Malta. Essa ilha, situada no coração do mar Mediterrâneo, marca o encontro de civilizações, culturas e religiões. A leitura de “Atos dos Apóstolos 27,18–28,10”, utilizada na festa em Malta para celebrar a chegada da fé cristã através de Paulo, é o texto indicado para iluminar a oração e as celebrações pela unidade dos cristãos, no respeito às diferenças e comunhão na diversidade. O texto bíblico mostra o drama enfrentado pelos diversos grupos de passageiros do navio, para vencer as divisões e garantir a vida para todos em meio à tempestade. A travessia do mar Mediterrâneo reflete também a situação de tantos migrantes e refugiados em busca de vida mais digna.

& Atos dos Apóstolos 27,18–28,10, últimos capítulos do livro que foi escrito em torno do ano 90 da era cristã, quando a perseguição aumentava com o imperador Dominicano (81–96).  Segundo Fernando Altemeyer, o livro dos Atos dos Apóstolos se estrutura em cinco grandes sessões ou blocos:

1. Origens da Igreja em Jerusalém, onde a questão ecumênica está no conflito com o judaísmo legalista. O preço humano desse conflito serão as vidas ceifadas de Estevão e Tiago.

2. Perseguição e missão ecumênica: de Jerusalém a Antioquia, onde a crise ecumênica se situará no encontro das diversas identidades culturais dos samaritanos, antioquenos e etíopes. Aqui vivemos a conversão de Paulo e a perseguição de Pedro.

3. Primeira viagem e Concílio, sendo questão chave no ecumenismo o debate em Jerusalém sobre a circuncisão e os costumes judaicos.  A proclamação de Pedro e o decreto conciliar abrirão caminho para a liberdade ecumênica sem rupturas internas.

4. Grande viagem e fundação das Igrejas na Ásia e na Grécia, sendo o tema ecumênico central a inserção do Evangelho de Cristo no mundo cultural grego e o confronto com as autoridades e estruturas imperiais de Roma.

5. Paulo prisioneiro, desde Jerusalém (ano 58) e Cesareia, e o complexo processo diante de Félix com a narração da viagem à capital do Império, Roma (no outono-inverno do ano 60), e sua prisão domiciliar entre os anos 61-63.

Paulo de Tarso é o defensor de metodologia e pedagogia ecumênicas, marcadas pela abertura e pela superação de imposições. De perseguidor a evangelizador, vive na carne o drama das primeiras divisões entre os cristãos. O clímax da crise ele vive na Igreja de Éfeso. A experiência pessoal de Damasco irá impregnar-se em seus atos e palavras. Sua conversão constitui-se na reviravolta histórica fundamental no movimento cristão primitivo. Depois do que Paulo viveu ali em Damasco, tudo será feito como uma grande tarefa ecumênica.  O “néo-apóstolo ecumênico”, após permanecer três dias sem ver, comer e beber, está preparado para empreender o caminho novo. Escreve cartas para animar e superar conflitos e preconceitos. Fala do único corpo de Cristo em suas epístolas e realiza viagens para costurar e compor um corpo firme e unido. Paulo reconhece que todos têm a possibilidade de conhecer a vontade de Deus e viver o Evangelho (Vida Pastoral – Julho-Agosto de 2001).

& Atos dos Apóstolos 27,1-12: “Embarque para Roma”

A viagem a Roma é consequência do recurso de Paulo ao imperador (25,11; 26,32), mas também a realização de um projeto apostólico (19,21) e de um desígnio providencial (23,11). Paulo viaja em companhia de outros prisioneiros e do centurião com seus soldados. A navegação dependia de ventos favoráveis. A escala em Sidônia possibilitaPaulo “encontrar seus amigos e receber assistência deles” (27,3). Ao chegar a Mira, embarcam em um navio comercial vindo de Alexandria, no Egito, carregado de trigo (27,38) e com outros passageiros. Em Bons Portos tiveram que decidir os rumos da viagem. Já havia passado o “jejum”, o Dia da Expiação celebrado entre o fim de setembro e o início de outubro, e aproximava-se o inverno, quando a navegação era suspensa. Paulo aconselha a permanecer ao abrigo de Creta, a fim de preservar a carga, o navio e, sobretudo as vidas. O piloto queria chegar a Fênix, um porto de Creta mais seguro para passar o inverno. O centurião desejava continuar a viagem e prevalece sua opinião.

& Atos dos Apóstolos 27,13-26: “A tempestade”

O início do inverno no mar Mediterrâneo oriental se caracterizava pela formação de repentinas tempestades. Em tais circunstâncias abandonar a costa meridional de Creta era uma decisão imprudente, pois a embarcação ficava exposta a fortes ventos do norte como o “euraquilão”. Por isso, enfrentaram uma violenta tempestade e o apóstolo Paulo lembra sua predição profética para não deixar Creta. Neste momento difícil, a presença de Paulo anima a esperança dos tripulantes e passageiros:Convido a manter a coragem; pois nenhum de vós perderá a vida” (27,22). Deus manifesta seu plano salvífico mediante o apóstolo Paulo, que transmite confiança a todos os seus companheiros de travessia: “Confio em Deus, que tudo acontecerá como me foi dito” (27,23-25).  “Devemos encalhar em alguma ilha”.

& Atos dos Apóstolos 27,27-44: “Salvos do naufrágio”

 O navio continuava à deriva no mar “Adriático”, parte do Mediterrâneo entre Creta (Grécia) e a Cicília (Itália). Os marinheiros pressentem a aproximação de terra e têm a intenção de abandonar o navio. Paulo comunica paz, promove o diálogo e a colaboração entre todos os passageiros. Ele mesmo se fortalece ao “tomar o pão, dar graças a Deus, partir o pão e comer”, exemplo que reanima todos a se alimentarem também (27,33-38). Esta comida tem sentido eucarístico e o barco neste momento simboliza as comunidades dos seguidores de Cristo, navegando entre ondas tormentosas, porém oferecendo segurança aos que estão a bordo.  O navio finalmente encalha, mas os soldados decidem matar os prisioneiros, os mais vulneráveis (27,41-42). A vida dos descartáveis é conservada em vista de Paulo, instrumento de salvação ao qual Deus confiou a vida de todos os seus companheiros de viagem (27,24).  Assim, “todos chegaram sãos e salvos em terra”.

& Atos dos Apóstolos 28,1-10: “Paulo em Malta”

Malta, com seus portos, servia de base para o comércio no mar Mediterrâneo e era utilizada para passar o inverno. Os que haviam sofrido o naufrágio foram acolhidos com amabilidade: “Eles nos demonstraram uma benevolência fora do comum” (28,2). Unidos ao redor do fogo com os povos da ilha, os grupos que estavam no navio superam as divisões e fortalecem a comunhão na diversidade. “Acolhida e hospitalidade” (28,7) contribuem para o apóstolo Paulo evangelizar, mesmo sob a total vigilância da tropa. A víbora, o poder opressor (Mc 16,18; Lc 10,19) não impede o prisioneiro Paulo de realizar sinais libertadores em favor da vida e dignidade das pessoas.  O pai de Públio, governador da ilha, estava doente e “Paulo foi visitá-lo, rezou, impôs-lhe as mãos e o curou” (28,8). Os habitantes da ilha reconhecem que o apóstolo Paulo é sinal da presença de Deus: “Os doentes vinham ter com ele e eram curados” (28,9).  Eles nos deram numerosas provas de estima, e quando partimos “proveram-nos de todo o necessário” (28,10).  Acolhem com gratidão a Boa Nova que chega por meio de Paulo, o apóstolo de todas as gentes.

O cuidado, a solidariedade demonstra sintonia com Jesus e seu projeto (Mt 25,31-46). O papa Francisco fala dos migrantes e refugiados, forçados como Jesus Cristo a fugir. Convida a acolher, proteger, promover e integrar os deslocados. Quase todos os dias, a televisão e os jornais dão notícias de refugiados que fogem da fome, guerra e outros perigos graves, em busca de segurança e de uma vida digna para si e para as suas famílias. Em cada um deles, está presente Jesus, forçado – como no tempo de Herodes – a fugir para Se salvar. Os conflitos e as emergências humanitárias, agravadas pelas convulsões climáticas, aumentam o número dos deslocados e se repercutem sobre as pessoas que já vivem em grave estado de pobreza. Muitos dos países atingidos por estas situações carecem de estruturas adequadas, que permitam atender às necessidades daqueles que foram deslocados. 

            A pandemia recordou-nos como é essencial a corresponsabilidade, pois só é possível enfrentar a crise com a contribuição de todos, mesmo de categorias frequentemente subestimadas. Devemos encontrar a coragem de abrir espaços onde todos possam sentir-se chamados e permitir novas formas de hospitalidade, de fraternidade e de solidariedade.  É necessário colaborar para construir. O apóstolo Paulo recomenda a superar as divisões e a permanecer unidos no mesmo espírito(1Cor 1,10). A construção do Reino de Deus é um compromisso comum a todos os cristãos. Para salvaguardar a Casa Comum e torná-la cada vez mais parecida com o plano original de Deus, devemos empenhar-nos em garantir a cooperação internacional, a solidariedade global e o compromisso local, sem deixar ninguém de fora.

No próximo dia 24 de maio terá início o Ano Especial dedicado à “Laudato Si”. No Brasil, em particular, é urgente concretizar essa Encíclica no contexto da Amazônia. Estamos bem próximos do ponto de não retorno, à beira da desertificação desse bioma. O Grito da terra e dos pobres na Amazônia chega ao limite, denuncia Pe. Dario Bossi. E, com a pandemia, todos estamos na mesma tempestade mesmo se, em barcos muito diferentes: alguns mais frágeis, outros mais fortes. Porém, mais uma vez, os mais pobres estão sendo as maiores vítimas de um mundo desajustado que traiu o sonho de Deus.

Que o clamor em prol de vida digna para todos leve a superar as divisões e desigualdades como propõe o apóstolo Paulo ao dizer: “Não há mais judeu ou grego, escravo ou livre, homem ou mulher, pois todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,28). Ao longo desta semana de oração pela unidade dos cristãos, invoquemos confiantes: “Vinde, Espírito de Deus, e enchei os corações dos fiéis com vossos dons! Acendei neles o amor como um fogo abrasador! Vós que unistes tantas gentes, tantas línguas diferentes numa fé, na unidade e na mesma caridade”.     

Irmã Helena Ghiggi, da congregação Discípulas do Divino Mestre.