UM NATAL DE LUZ

“E aconteceu que eles estando ali,
se cumpriram os dias em que ela havia de dar à luz.
E deu à luz seu filho primogênito e envolveu-o em panos,
e deitou-o em uma manjedoura,
porque não havia lugar para eles na estalagem. ” (Lc 2,6-7)

A espiritualidade natalina nos convida a celebrarmos a chegada da grande luz que é Jesus. É um convite para olharmos nossa trajetória e nos perguntarmos: “Estou sendo luz na vida dos solidários, dos doentes, dos perturbados e dos empobrecidos? ”. Essa luz é relação, comunicação e comprometimento com o amor para conosco e para com o nosso próximo. É disso que nos conscientiza o Advento, ele nos iguala na experiência espiritual na luz do Natal. A disciplina do Advento nos ensina a fazer bem as pequenas coisas, amando sem acepções de pessoas, até porque a criatividade generosa do espírito natalino está na paz enraizada nos corações dos homens e mulheres de boa vontade.

O Natal é nosso lembrete anual de que a luz que escolhemos abraçar e acolher em qualquer nível está lá para nós sempre brilhando intensamente, esperando corações que queiram acolher e compartilhar a luz que habita seus corações. Acolhendo essa luz assumimos a
fertilidade do seu significado, ou seja, vivenciaremos uma busca do nosso verdadeiro EU, que se encontra adormecido dentro de nós.

Infelizmente, o simbolismo e o significado do Natal foram deturpados por nosso EGO ferido, na busca da constante dos lucros, do ter, do prazer e do poder. Precisamos passar por um esvaziamento para vivenciarmos o sentido originário do Natal. Isso pode ter apenas uma
explicação: as pessoas encontram-se vazias por dentro! Do contrário, não esvaziariam as demais coisas de seu sentido originário.

Por isso, Deus Se desprendeu do céu, rumando ao mundo terreno, encarnado no ventre de Maria, para que pudessem ser reatados os laços com a luz. Cristo, como uma parte do Criador, serviu de ponte para que a humanidade pudesse despertar do seu sono espiritual. No entanto, poucos ouviram a sua Palavra, conforme o seu sentido originário. A maioria interpretou segundo os seus interesses, sendo que ocorreu a perda do seu significado, geração após geração. O nascimento do Menino Jesus foi usurpado pelo Papai Noel e isso foi desviando a proposta do nascimento e renascimento do amor, que é celebrar o nascimento do verdadeiro sol, ou seja, Cristo, que apareceu no mundo depois de uma longa noite de trevas. O natal do Senhor nos alerta a lutar contra as trevas da hipocrisia, contra as trevas da corrupção, contra as trevas da miséria que vem assolando milhões de filhos e filhas de Deus. A celebração do Natal não pode ser desperdiçada em recordações sentimentais ou discursos polêmicos, mas valorizada como dom de amor, de verdade e de esperança para todos os homens e mulheres de nosso tempo.

Portanto, a luz da espiritualidade natalina revela para nós que uma estrela brilhou intensamente no céu e sua luz desceu sobre um menino chamado Jesus. Aí começou o Natal, por meio de uma luz, um Natal de luz. Isso para dissipar as trevas, pois, como cantamos, “A luz
resplandeceu em plena escuridão, jamais irão as trevas vencer o seu clarão”. É essa a proposta verdadeira do Natal. Sejamos confiantes e cheios de esperanças para a construção de um mundo mais fraterno e cheio de compaixão.

Que o espírito do Natal alcance cada um de nós como uma força avassaladora e nos revista de empoderamento da justiça e da paz! E que nossos corações sejam verdadeiras manjedouras para acolher a luz que vem para habitar e renascer nos nossos corações! Não se esqueça: Natal feliz é Natal com Cristo!

Pe. Kleber Farias, OMI

SANTA LUZIA: UMA LUZ!

            Falar e pensar em Santa Luzia deveria ser momento de se refletir sobre a luz. Luzia é mais que uma santa. Ela carrega outro código que, em geral, não é observado. Assim é a vida dos santos. Em geral, a nossa catequese é deficiente e não atinge a sua realidade e grandeza da santidade de um cristão.

            Luzia nasce em Siracusa, na Itália, nos meados do ano de 283, na região da atual Sicília. Não seria uma mulher diferente se ela não fosse cristã, virgem, mártir e corajosa. Trazia dentro de si um punhado de luz. Era irreverente para o seu tempo. Tinha a força virginal do Espírito.

            Amiga de Santa Águeda que não se deixou seduzir pelos deuses daquele tempo. Era sua líder espiritual. As pessoas buscam líderes fracos e, humanamente, destronados. Ela era uma brava cristã. Mantinha o tino da altivez diante daquilo que acreditava.

            Luzia é mulher do êxtase. Ao despertar adentra-se à missão que lhe seria peculiar: ser testemunho de vida. Começa a se desfazer dos seus bens dando-os aos pobres. Primeira atitude de libertação. Não adianta imaginar cura e libertação se não se desfaz daquilo que nos prende às barganhas materiais.

            Um jovem pretendente indaga à sua mãe a razão de tanto esbanjamento. A mãe lhe responde que a filha encontrou as belezas do Paraiso mais estimulantes que as migalhas do mundo. O jovem entendeu que ela era cristã e a denunciou ao Imperador Diocleciano.

            Começa uma saga de atropelos desejando persuadi-la desse propósito cristão. Luzia se mantem firme na fé e no testemunho vital por uma fé inabalável. As tentativas de persuasão de nada valiam e não surtiam efeito algum. Tudo era em vão e os detratores vão se irritando com as derrotas.

            Luzia era uma luz que apagava todas as labaredas que se apresentavam diante dela. Era um milagre atrás do outro. Tudo a olhos vistos. Era uma jovem plena e tomada do Espírito de Deus que ascendia nela o desejo do testemunho cristão. O Imperador, soldados e os demais detratores ficavam corados e envergonhados.

            As chamas não surtiam o menor efeito; a degolação de nada adiantou até que lhe arrancaram os olhos e nasceram dois olhos mais lindos que os anteriores. Em síntese, degolaram seu pescoço como último recurso e sem sucesso em demover seu propósito de cristã.

Luzia dizia: “Adoro a um só Deus verdadeiro, a quem prometi amor e fidelidade”.  No mesmo instante a sua cabeça rolou pelo o chão. Era 13 de Dezembro do ano de 304 d.C.

Os cristãos recolheram o seu corpo e sepultaram-no nas catacumbas de Roma. A sua fama de santa se espalhou por toda a Itália e Europa e depois para todo o mundo, sendo hoje venerada e honrada como a “Santa da Visão”. Amemos Luzia e demos graças a Deus pela sua coragem e dedicação pela causa do Reino. Imploremos a sua proteção nas necessidades dos cuidados com os olhos.

“Nesse túnel escuro da vida, deve-se recorrer à Santa Luzia, buscando algumas fagulhas de luz. Por ele muitos passam, de modo que as carências sociais e econômicas têm levado muitas pessoas a buscarem, nos Santos de Deus, uma luz, uma esperança de iluminação” (p. 11. Santa Luzia: o brilho de uma luz, Paulus Editora).

Pe. Jerônimo Gasques
Paróquia Santo Antônio de Pádua
Presidente Prudente, SP

NOSSA SENHORA DE GUADALUPE

Na América Latina o título mariano que se destaca é, realmente, Nossa Senhora de Guadalupe. Já existe há quase 500 anos.

Na liturgia da Igreja Nossa Senhora de Guadalupe tem sua festa celebrada no dia 12 de dezembro. É considerada a padroeira principal da América Latina. A festa foi instituída em 1754.

A Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe localize-se na cidade do México. É uma basílica menor da Igreja Católica.

A atual Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe constitui um santuário nacional do México. Está situado no monte de Tepyac.

O Santuário mariano é considerado o principal templo da Igreja católica no continente americano. É a segunda igreja mais visitada do catolicismo no mundo, só perdendo para a Basílica de São Pedro.

A nova Basílica recebe mais de 20 milhões de visitantes ao longo do ano e inumeráveis peregrinações de todo o México. As grandes peregrinações chegam a 2.500 por ano. Os grupos espontâneos perfazem 6 mil anuais.

Basílica moderna

O Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe é composto de várias igrejas e capelas, dentre elas as duas basílicas, uma do século XVI, e outra da década de 1970. A Basílica nova foi edificada em razão do afundamento da antiga devido ao terreno movediço. Isso porque a cidade do México foi construída em cima de um lago aterrado, o Lago de Texcoco.

A Basílica nova foi construída entre os anos de 1974 e 1976. Foi projetada pelo arquiteto mexicano Pedro Ramírez Vásquez. Sua inauguração transcorreu aos 12 de outubro de 1976.

A Basílica nova foi idealizada em estilo moderno. Viabiliza permitir uma vista total do altar para os devotos que estão no interior.

A estrutura é suportada por 350 pilares. Pode abrigar 10 mil peregrinos dentro da Igreja.

Na nova Basílica, em celebrações especiais, são colocados assentos adicionais e a capacidade chega até 40 mil lugares. O santuário abriga, em seu interior a tilma de Juan Diego Cuauhtlatoatzin.

Basílica antiga

A antiga Basílica é o primeiro templo católico dedicado a Nossa Senhora de Guadalupe. Começou a ser construída em 1531.

Foi concluída e inaugurada no dia 1º. de maio de 1709. Foi projetada por Pedro Arrieta. Em 24 de outubro de 1887 foram feitas reparações na igreja.

No dia 12 de outubro de 1895 a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe foi solenemente coroada pelo arcebispo do México. 50 mil fiéis participaram com piedade e comoção.

O interior do templo é decorado em mármore com duas estátuas de Juan Diego e de D. Fr. Juan de Zumárraga. Em 1904, foi elevado à categoria de Basílica pelo Papa São Pio X.

As vestes de Juan Diego ficaram abrigadas na Igreja até 1974. Quando a nova Basílica ficou pronta, passaram para ela.

Na década de 1970 foi descoberto o afundamento do terreno. E novo templo teve que ser planejado.

Já em 1979, o Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH), em parceria com a Igreja católica mexicana, iniciou um trabalho arqueológico para restaurar o chão da Igreja e impedir a perda de artefatos importantes.

Embora ainda não tenham sido finalizados os trabalhos na Basílica antiga, a primeira etapa da restauração já foi concluída com sucesso em 2000. O templo foi reaberto em 2001.

Origem da devoção

Os primeiros missionários, que chegaram ao México, eram originários da Espanha, país de tradição mariana. Além de transmitirem a fé cristã, eles também ensinaram a devoção da Virgem Maria. Nos albores da evangelização, o primeiro sinal luminoso do culto mariano foi a presença de Nossa Senhora de Guadalupe na religiosidade de nosso povo.

A devoção de Nossa Senhora de Guadalupe é proveniente do país do México, no século XVI. Surgiu em 1531, quando a Virgem Maria apareceu a Juan Diego, de 48 anos, na colina de Tepyac, localizado a noroeste da cidade do México.

Originário do México, Juan nasceu em 1474, em Calpuli. Era um índio nativo, que antes de ser batizado tinha o nome de Cuauhtlatoatzin.

Juan era um índio pobre, da Tribo de Nahua. Pertencia a mais baixa casta do Império Asteca. Dedicava ao difícil trabalho do campo e à fabricação de esteira.

Possuía um pedaço de terra, onde vivia feliz com a esposa, numa pequena casa, mas não tinha filho. Sua esposa se chamava Maria Lúcia.

Atraído pela pregação dos frades franciscanos que chegaram ao Méxido em 1524, Juan converteu-se ao cristianismo. Foi batizado junto com sua esposa. Receberam o nome cristão de  Juan Diego e Maria Lúcia.

Homem piedoso

Juan era um homem dedicado e piedoso, que sempre se retirava para fazer suas orações e penitências. Costumava caminhar de sua vila à cidade do Mèxico, percorrendo três horas e meia até a igreja, onde participava da missa e aprendia religião.

Juan andava descalço. Vestia, nas manhãs frias, uma roupa de tecido grosso de fibras de cactos como um manto, chamado tilma ou ayate, como todos de sua classe social.

Sua esposa adoeceu e faleceu em 1529. Juan foi morar com seu tio, diminuindo a distância da igreja. Fazia esse percurso todo sábado e domingo, saindo bem cedo, antes do amanhecer. Foi numa destas idas que Nossa Senhora lhe apareceu.

Quando ocorreram as aparições marianas, Juan tinha 57 anos. Ele dedicou-se ao serviço de Nossa Senhora de Guadalupe em sua pequena igreja. Deixando seu povoado para sempre, ele foi morar num pequeno quarto junto à igreja como ermitão, com licença do bispo. Amou, profundamente, o sacramento da eucaristia e consegui uma especial licença do bispo para receber a comunhão três vezes na semana, um fato bastante raro na época.

Juan cuidava bem do templo mariano. Todos os dias fazia uma oração familiar diante da imagem da Mãe de Deus. Era um homem exemplar, temente a Deus de consciência reta e louváveis costumes. Tinha tal reputação de santidade que os peregrinos, que frequentavam o pequeno santuário para suplicar favores a Virgem Maria, tomavam o indígena como intercessor e se recomendava às suas preces.

Juan faleceu no dia 30 de maio de 1538, aos 74 anos, de morte natural. Foi beatificado pelo Papa São João Paulo II em 1990.

Foi também canonizado por São João Paulo II em 2002. Foi o primeiro santo católico indígena americano. É modelo de fé simples e humilde nutrida pelo catecismo.

A festa litúrgica de São Juan é celebrada no dia 9 de dezembro. É padroeiro dos povos indígenas e floristas.

Aparições marianas

De acordo com os relatos históricos, a Virgem Maria apareceu primeiro quatro vezes a Juan. E também apareceu uma vez ao seu tio.

No dia 9 de dezembro de 1531, sábado, de madrugada, na cidade do México, Juan, recém batizado, dirigiu-se à Igreja de Santa Cruz de Tlaltelolco, que ficava a 24 km de sua casa, a fim de para participar da missa.

Ao passar junto à colina de Tepyac, o indígena ouviu um cântico harmonioso e suave, vindo do alto do morro. Enquanto admirava e olhava ao redor, cessou, de repente, o canto. Então ouviu uma voz delicada do alto que o chamava carinhosamente pelo nome.

Ao olhar em direção à colina, Juan viu uma Senhora belíssima, de pé, que o convidava a se aproximar. Subiu com toda pressa a encosta do outeiro. No topo do monte, estando diante dela, ele ficou maravilhado com sua beleza. Sua vestimenta brilhava.

Com ternura e polidez, a Senhora se apresentou a Juan como a Virgem Maria, Mãe de Jesus Cristo, o Verbo de Deus. Falando-lhe em sua língua, náhuatl, ela o enviou para dizer ao primeiro bispo do México, D. Fr. João de Zumárraga, que era seu desejo ardente que fosse erigida naquele local uma igreja em sua honra.

Logo após a aparição, Juan dirigiu-se até a cidade do México, onde ficava o palácio episcopal. Acanhado, transmitiu ao bispo a mensagem que recebera de Nossa Senhora. Sua missão não foi bem sucedida, porque a autoridade eclesiástica não acreditou na veracidade do fato.

Na tarde do mesmo dia 9, Juan novamente se encontrou com a Virgem Maria, que o esperava na colina. Ele quis renunciar a ser embaixador da Mãe de Deus junto ao bispo, pedindo que escolhesse outro mensageiro mais importante.

Missão reafirmada

Entretanto, Nossa Senhora não aceitou a renúncia de Juan. Reafirmou missão dele, dizendo-lhe que ele era plenamente capaz. Então, ela solicitou que ele, em seu nome, voltasse a falar com o bispo no dia seguinte e continuasse insistindo em seu pedido.

No domingo de manhã, 10 de dezembro, Juan, obedecendo a Mãe de Jesus, procurou novamente o bispo. O prelado instruiu que o indígena retornasse ao monte Tepyac e pedisse a Virgem Maria uma prova de sua identidade sobrenatural.

Ainda no dia 10, à tarde, Juan voltou para a colina e viu novamente Nossa Senhora, informando-lhe a resposta do bispo. Ela consentiu em fornecer no dia seguinte o sinal que o bispo lhe havia solicitado.

Na segunda-feira, 11 de dezembro, Juan não se apresentou ao encontro marcado com a Virgem Maria. Teve que cuidar do tio e pai de criação, Juan Bernardino, que adoecera gravemente. Em vão procurou um médico que atendesse o tio.

Na terça-feira, dia 12 de dezembro, Juan teve que ir às pressas a Tlatelolco para buscar um sacerdote para ouvir a confissão do tio e ministrar a unção dos enfermos em seu leito de morte.

Para evitar ser atrasado pela aparição e por sentir envergonhado por não ter conseguido ver a Virgem Maria na segunda-feira, Juan escolheu outra rota ao redor da colina. Mas a Mãe de Jesus o interceptou no desvio e pergunto-lhe para onde ele estava indo. O vidente desculpou-se, falando-lhe do tio doente.

Flores raras

Como mãe benigna, dadivosa e protetora, Nossa Senhora assegurou a Juan que seu tio obteria perfeito restabelecimento. Logo em seguida, ela lhe pediu que subisse o monte Tepyac e colhesse flores do seu cume, levando-as ao bispo.

No alto do morro o solo era estéril, principalmente em dezembro. Era inverno no hemisfério norte. Seguindo as instruções de Nossa Senhora, Juan colheu rosas castelhanas, não nativas do México, florescendo lá. Eram flores frescas. Ele as recolheu e as enrolou na manta.

Chegando ao palácio episcopal, depois de longa espera, Juan conseguiu a audiência com o bispo no dia 12 de dezembro. Repetiu-lhe a mensagem da Virgem Maria. Desdobrou a manta diante do bispo e de um grupo de assistentes.

Surpreso, o bispo viu a imagem de Nossa Senhora pintada na manta, de onde caíam as flores frescas em pleno inverno. Era o retrato da Mãe de Jesus que Juan tinha visto várias vezes na colina de Tepyac.

Emocionados, o bispo e todos os presentes caíram de joelhos beijando a imagem milagrosa. O bispo a guardou em sua capela.

Nome querido pela Virgem

No outro dia, 13 de dezembro, Juan e o bispo, com numeroso séquito, foram conhecer o lugar das aparições. Imediatamente, foram convidadas pessoas para construir a igreja no lugar que Nossa Senhora indicara.

No mesmo dia, Juan e o bispo foram visitar Juan Bernardino, seu tio, encontrando-o totalmente recuperado. Sorrindo, ouvindo o relato das aparições, Bernardino contou também que tinha visto a Virgem Maria ao lado de sua cama. Disse-lhe que ela desejava a construção de um templo na colina de Tepyac. Declarou que a Mãe de Deus queria que sua imagem fosse chamada: “Santa Maria de Guadalupe”.

Inicialmente, a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe permaneceu por certo tempo na catedral da cidade. Os fiéis vinham ver e admirar a imagem como obra divina e rezavam diante dela. Ficavam muito comovidos da maneira como, por milagre, ela aparecera. Para eles, ficava evidente que nenhum ser humano da terra havia pintado aquela imagem da Mãe do Salvador.

Diante do fenômeno da aparição de Nossa Senhora de Guadalupe, em pouco tempo, os indígenas se converteram ao catolicismo. Eles “se sentiram amados pela Virgem Maria” (Pe. Ernesto N. Roman, sacerdote diocesano e escritor).

Em 26 de dezembro de 1531, a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe foi solenemente transladada para uma pequena capela erguida no outeiro da coluna de Tepyac. No singular templo a pintura mariana ficou exposta à veneração pública dos fiéis.

O culto de Nossa Senhora de Guadalupe propagou-se rapidamente na região. Contribuiu muito para a difusão da fé católica entre os indígenas.

A devoção mariana provocou rápidas conversões dos mexicanos à Igreja de Cristo. Os franciscanos batizaram dez milhões de pessoas.

Padroeira da América Latina

Em 25 de maio de 1754, o Papa Bento XIV declarou Nossa Senhora de Guadalupe patrona da chamada Nova Espanha, que correspondia à América Central e América do Norte. Aprovou também os textos litúrgicos para a missa e breviário em sua homenagem.

Em 1891, o Papa Leão XII concedeu novos textos litúrgicos. Em 8 de fevereiro de 1895, ele autorizou a coroação canônica da imagem. Aos 12 de outubro de 1897, a imagem foi solenemente coroada.

Em 1910, São Pio X proclamou Nossa Senhora de Guadalupe como Padroeira da América Latina.

Em 1945, o Papa Pio XII deu-lhe o título de “Imperatriz da América”.

Atualmente, no centro da abside da majestosa Basílica observa-se o manto com as feições da Virgem Maria, conservados durante os últimos 500 anos. Testemunha o culto ininterrupto da Virgem Maria desde os inícios até hoje. “A presença de Maria de Guadalupe é um abraço amoroso a todos os seus devotos” (Pe. Corrado Maggioni, sacerdote montfortiano e escritor mariano).

Os devotos têm visitado continuamente a Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe. Não só peregrinos do país, mas também do estrangeiro. O Santuário se transforma em centro de evangelização e nicho de aconchego dos filhos de Maria. “As aparições da Virgem Maria oficializadas pela Igreja sempre deixaram profundas marcas na história, na alma e no coração dos fiéis” (Pe. Reginaldo Manzotti, sacerdote evangelizador, escritor e cantor).

Ao contemplar a imagem de Nossa Senhora, todos os fiéis experimentam nela a ternura, a acolhida, a solicitude e o amparo daquela que é Mãe da humanidade, que intercede sempre por seus filhos junto a Jesus Cristo, o Salvador. Eles a veneram e a invocam com piedade, confiança e carinho.

Tilma e os olhos

A tilma de Juan é uma espécie de tecido tradicionalmente indígena dos povos pré-colombianos. Era um manto feito de fibras de cacto agave manguey.

Na tilma, usada por Juan, ficou originalmente estampada a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe. A tilma mede 168 x 105 cm. A pintura tem 143 x 55 cm.

A pintura retrata uma mulher contemplativa de pele mestiça, rodeada por raios solares. Trata-se de uma jovem, com pele morena e rosto ovalado. Seu rosto é modesto, formoso e amável, de beleza inimitável. Suas mãos estão postas.

Na cabeça, por cima do manto, a imagem tinha uma coroa dourada, de dez pontas. Todavia, ao fazerem os preparativos para a solene coroação da Virgem Maria, a coroa havia desaparecido misteriosamente, sem deixar vestígio de raspadura ou outra intervenção humana.

A jovem está vestida com uma túnica de cor rosa, com arabescos dourados. A túnica é coberta por manto azul esverdeado, todo adornado de estrelas de oito pontas. Está em cima de uma lua crescente escurecida, que representa as forças do mal. É carregada por um anjo querubim.

O tecido da tilma é fraco, porque é constituído de fibras vegetais. Pode durar no máximo 20 anos.

A tilma ficou exposta ao longo de quase cinco séculos em lugares abertos. Foi levada em procissões. Ficou em diferentes templos. Tem sido atingida pelas emanações gasosas do lago subterrâneo vizinho.  No entanto, não se deteriorou. Ao contrário, tem resistido até hoje, permanecendo intacta mesmo após a passagem de quase 500 anos.

Os olhos de Nossa Senhora de Guadalupe estão sendo estudas por inúmeras investigações cientificas durante os últimos cinquenta anos.

Em 1929, os pesquisadores descobriram que as pupilas dos olhos dela refletem o momento em que Juan abriu o manto diante do bispo em 1531.

Nos olhos da Virgem de Guadalupe estão reproduzidos o pátio da residência episcopal, Juan e mais dez pessoas, algumas das quais estão sentadas.

Pe. Eugênio Antônio Bisinoto C.Ss.R.
Missionário Redentorista
Sacerdote e escritor
Igreja Santa Cruz – Araraquara – SP

Betânia: 20 anos de amor

Ontem, dia 01/12/2019, foi marcado pela emoção. A Associação Solidários Amigos de Betânia (ASAB) celebrou 20 anos da sua criação. A ir. Elci Zerma, pddm; a superiora provincial Irmã Marilez Furlanetto e o Cardeal Dom Orani Tempesta marcaram presença no evento que iniciou-se embaixo do Viaduto Edson Passos, Alto da Boa Vista, RJ, em frente a casa das Irmãs Pias Discípulas do Divino Mestre, lugar que Betânia nasceu.

A Associação Solidários Amigos de Betânia (ASAB) , fundada no Município do Rio de Janeiro, em 03 de Dezembro de 1999, partiu de iniciativa da religiosa Irmã Maria Elci Zerma junto ao grupo da Pastoral Missionária do Santuário São Camilo de Lellis – Tijuca. Em julho do ano 2000, iniciou suas atividades na Freguesia-Jacarepaguá, com a colaboração da comunidade local.

Domingo foi realizada a benção do Totem em homenagem aos 20 anos, missa e almoço beneficente. A tônica do dia não poderia ser outra: gratidão pelos 20 anos de fundação do projeto Betânia. Foi um tempo de graça na vida de tantas pessoas em situação de rua que tiveram a oportunidade de uma reabilitação e integração na sociedade através de tantas atividades promovidas pela Betânia.

Conheça o projeto Betânia

Este projeto tem como missão ser referência para a população de rua adulta com acolhida solidária, com foco na dependência química e inclusão social. A obra realizar atendimento social sem discriminação de etnia, gênero, orientação sexual e religiosa, bem como a portadores de deficiência, inspirando na parábola do bom samaritano e na convivência de Jesus em Betânia com os irmãos Marta, Maria e Lazaro. (Lc 10,25-41; Jo 12, 1-11)

A Associação Solidários Amigos de Betânia – ASAB é uma Instituição filantrópica, sem fins lucrativos e de Utilidade Pública Municipal e Federal, Certificada como Entidade Beneficente de Assistência Social e Tecnologia Social pela Fundação do Banco do Brasil.

Método de trabalho

A Metodologia da ASAB é desenvolvida num processo contínuo e avaliativo através do Programa Geral, subdividido em etapas sucessivas e distintas em cores motivacionais, definidas em cinco módulos compreendidos em até nove meses. Tendo em vista as particularidades, estes períodos podem ser reduzidos a partir da situação do usuário sob avaliaçãoda equipe técnica em consonância ao Plano de Desenvolvimento Individual (PDI).

1º Mês
Módulo Branco

Processo de adaptação, desintoxicação e necessidades básicas. Iniciação as atividades e o Programa.

1º ao 3º Mês
Módulo Vemelho

Assinatura do Programa sócio educativo e disciplinar da ASAB. Compromisso com o Plano Terapêutico individual. Atendimento de dependência química e psicologia.

4º ao 5º Mês
Módulo Amarelo

Iniciação a autonomia. Recuperação dos documentos junto aos órgãos públicos. Capacitação através de oficinas diversificadas em vista de sua reinserção no mundo do trabalho . Construção de vínculos em grupos de autoajuda (AA e NA).

6º ao 7º Mês
Módulo Verde

Integração ao grupo de família “Criando Laços”, atividades sócio-educativas-culturais. Preparação para emprego e cursos breves.

8º ao 9º Mês
Módulo Azul

Preparação para sua inclusão social no trabalho, moradia e família ou núcleo de moradia. Elaboração do projeto de Vida com definição de renda.

A Associação Solidários Amigos de Betânia (ASAB),desenvolve um programa sócio-pedagógico e terapêutico com uma equipe multidisciplinar.

O programa da ASAB nos Espaços de Convivência visa acolher, tratar, acompanhar e capacitar homens em situação de rua, que queiram efetivamente participar do processo terapêutico baseado na seguinte metodologia:

Os módulos motivacionais, em cores, num ciclo de até nove meses têm como objetivo a interação do indivíduo no seu processo de sua reinserção.
Outras ações que são desenvolvidas nos diversos estágios do programa terapêutico visando resultados particulares e eficazes contribuem para uma Inclusão Social efetiva.

A Betânia Jesus Mestre é outra unidade que desenvolve o mesmo programa terapêutico de recuperação em dependência química direcionado ao público masculino, morador de rua.

O programa constitui-se das seguintes etapas:
• Intervenção na Situação de Rua e da Dependência Química.

• Recuperação nas dimensões Biopsico-Social-Espiritual.

• Inclusão Social através do processo de resgate da Autoestima, Cidadania, Habilidades de Trabalho, Geração de Renda e Vínculos com a Família.

• Prevenção na recaída na situação de rua e na dependência das drogas.

Para a execução de todos os trabalhos, Betânia conta com um equipe multidisciplinar: educadores sociais, psicólogos, técnicos de reabilitação em dependência química, assistentes sociais.

Voluntariado: sinal de amor

A ASAB conta com voluntários para os diversos serviços e atividades desenvolvidas. Mais informações: http://www.betaniasab.org.br/Voluntarios.html

Veja as atividades/equipes que um voluntário pode colaborar:

Bazar Beneficente
Coleta seletiva
Artesanato
Música (Coral)
Cozinha
Psicologia
Dependência Química
Esporte Judô | Futebol
Serviço Social
Liturgia
Técnicos de reforma e construção
Horta
Reciclagem
Oficinas socioeducativas culturais

Como doar e apoiar o projeto financeiramente?

Se a ajudar presencial é difícil, mas você gostaria de apoiar o projeto, seja um doador. Você pode fazer a diferença na vida de muitas pessoas em estado de rua, qualquer doação é muito importante para que as ações sejam contínuas e efetivas.

Todos os recursos da ASAB provêm de contribuições voluntárias de pessoas físicas e jurídicas, de organizações e da venda de produtos do bazar e reciclados.

Sua doação vai ajudar projetos e iniciativas planejadas e monitorados por profissionais dedicados, que priorizam a melhoria das políticas públicas voltadas para a garantia daqueles em situação de rua: garantindo sobrevivência, desenvolvimento, terapias de qualidade e proteção.

Com a sua ajuda, a ASAB pode levar suas ações àqueles que mais precisam.

Cada projeto é uma estrutura desenvolvida para funcionar dentro do processo de recuperação dos acolhidos. Cada qual com necessidades específicas.

Recebemos praticamente em nossa sede na Freguesia vários tipos de descartáveis que ainda podem ser útilizados dentro dos projetos recicláveis.

Moradores da região e adjacências chegam à nossa instituição com materiais pré-selecionados como donativos e tudo se converte em recursos para a manutenção da instituição.

A exelência desse trabalho circunscreve sua participação dentro do circuito modelo da ASAB, o esforço conjunto abraçado por parcerias que nos assistem tornam possível a superação nas fases mais críticas.

Conheça a dimensão que todo o processo adquiri durante o preparo dos 100 acolhidos que passam por Betânia a cada nove meses.

Participe como um Parceiro Solidário dessa obra que recicla vidas.
Doe em conta corrente

CNPJ: 03.653.432/0001-90
BANCO: BRADESCO – 371
AGÊNCIA: 1804
CONTA CORRENTE: 43815-4
(Favor identificar o depósito com seu nome).

Comunique seu depósito por estes e-mails: [email protected] ou [email protected]

Advento

Estamos no tempo e assim como o tempo passa, também a liturgia tem sua cadência e seu tempo que passa. A liturgia cristã é movimento, é dinâmica e leva o ser humano a mergulhar toda a sua vida, na experiência mais profunda do mistério da vida, paixão , morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Nossa formação hoje não tem a pretensão de fazer um estudo profundo sobre o ano litúrgico, até porque o nosso tempo não permite. Mas, desejamos provocar em cada um, curiosidade de conhecer melhor o ano litúrgico e celebrá-lo bem.

Hoje no último domingo do ano litúrgico de 2019 vamos contemplar o mistério de um ano que não está preso ao Kronos (ao tempo do relógio ), mas vamos mergulhar nossa reflexão no tempo da “Graça”, da profunda experiência do celebrar em comunidade, do fazer memória de um amor tão grande que não se deixa aprisionar em um tempo: Ele (Cristo Jesus) é o Senhor que transcende o tempo, até o Dia em que Ele virá uma segunda vez, concluindo o tempo e inaugurando o verdadeiro Tempo: a Eternidade. Enquanto isso não chega, a Igreja, celebra a cada tempo, a liturgia fazendo das estações litúrgicas espaços de tempos celebrativos que se renova a cada movimento do ser humano, em direção ao Sagrado, ao Santo, ao Indizível…

O que é Advento?

Todo começo requer uma preparação. Toda visita que vem, nos motiva a preparar o ambiente para a chegada. O tempo do advento na cadência celebrativa, inaugura o novo ano litúrgico: é a porta para a entrada no mistério da humanização do Verbo de Deus. Cf. O prólogo do Ev. de João: ” e o Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós.” O advento consiste nas quatro semanas que antecedem o Natal do Senhor. É um tempo rico em simbolismo e denso no que diz respeito ao conteúdo teológico.
Por isso, nosso estudo é incompleto e abre perspectiva para outros estudos.

A Liturgia do Advento

  • A palavra liturgia no grego significa serviço ao povo. A liturgia do Advento é a forma como a Igreja prepara e celebra a chegada do Senhor.
  • Observem que os dois verbos condutores da dinâmica celebrativa é: preparar e chegar.
  • Advento – significa chegada. Então, que chegada se espera no Advento? A vinda de Jesus, o seu nascimento no tempo cronológico. O nascimento do Emanuel, do Deus em meio a nós é a grande novidade mistérica do estudo e da especulação da religião. A chegada do príncipe da paz em forma de bebê, desconcerta qualquer coração cético. Se o verbo “chegar” conduz a densidade do advento, podemos de igual modo conjugar o verbo “preparar” e colocá-lo em justa posição com o verbo “chegar”.
  • Preparar, esperar e chegar são os verbos do advento. preparar o coração, preparar a mente, preparar a família, preparar o ambiente, preparar a Igreja e comunidade para e esperar com alegria a CHEGADA do Salvador.
  • No Evangelho de Lucas temos toda a narrativa da preparação da Chegada do Menino Jesus: desde a anunciação até a fuga ao Egito. Lucas conta com detalhes a riqueza do tempo que se cumpre com a chegada de um menino.
  • Contudo, a liturgia do Advento é espera sempre nova do novo que vem a cada ano com o Natal. Muito suave e cheio de detalhes é o advento: os canto, os salmos e orações são alusivos à chegada do Salvador. Usa-se as antífonas “Ó” nos nove dias que antecedem o Natal: nas missas e na liturgia das horas nos nove dias antes da noite do dia 24 de dezembro todos rezam e cantam com um Ó que ressoa admiração, o mundo se plasma diante do mistério do Nascimento de Jesus Cristo, o verdadeiro Sol da Justiça (se antes na liturgia pagã 25 de dezembro era a Festa do Sol, na liturgia cristã celebra-se o nascimento daquele que aquece mentes e corações como sua forma de ser.
  • Essas antifonas “Ó” são uma proposição de admiração e vislumbre pelo Menino nasce. A cor litúrgica é o roxo claro. Usa-se a coroa do advento com quatro velas, três roxas e uma róseo. Essas velas são acesas em cada domingo do advento. A róseo acende-se no domingo letarae (domingo da alegria – 3o. domingo.)
  • Não se canta o Glória nas missas, para evocar uma expectativa para a Santa Noite do Natal. Prepare-se na Igreja e nas casas uma árvore de Natal que simboliza a árvore da vida, cujo fruto é o próprio Salvador. E também se constrói um presépio para ilustrar o ambiente do nascimento, não coloca -se o menino na manjedoura, somente na noite de Natal o expõe, ou cobre-o com um lenço e o descobre na noite Santa.
  • Pode-se cantar o Aleluia nas celebrações e também decorar a Igreja com discreta ambientação lembrando que o roxo deve ser o mais sóbrio e não intenso quanto o roxo da quaresma.

Aprofundando o tema:

  • É importante perceber o simbolismo do tronco de Jessé (Aqui é um mergulho na tradição salvífica – cf. Isaías, 11/ Confira também 2 Samuel 7,14. ) Da casa de Davi, do tronco de Jessé, da raiz de Davi nasce um ‘Rei que reinará para sempre’. Importante mergulhar a reflexão com ajuda do Livro do Profeta Isaías nos capítulos 11, 42, 61.
  • Os personagens que são aprofundados na liturgia do Advento são: Maria e José, Isabel e Zacarias: João Batista. Dentro do tempo litúrgico do Advento se celebra também a Festa da Imaculada Conceição, 08 de dezembro. Festa da Igreja que recorda que Maria foi concebida e preservada da culpa Adâmica (dogma proclamado pelo papa Pio IX em 1854).
  • Não cabe ao tempo do Advento o papai Noel, não é uma figura litúrgica o Noel. Importante que se dê ênfase a chegada do Salvador. Nas nove noites que antecedem o Natal, as famílias e comunidades podem celebrar a novena de preparação para o Natal. Advento é tempo de preparação para o advento, na tradição cristã os presentes ficam em baixo da árvore e são dados na noite do dia 24 de dezembro recordando que aquele presentinho é um mimo ao menino Jesus que mora no coração dos irmãos a quem vamos presentear.

Conclusão

Importante entender que o Natal não é o centro do Ano Litúrgico. A festa principal e mais densa da liturgia cristã é a Páscoa da Ressurreição.

O Natal mesmo com suas luzes e colorido não pode sobrepor-se à Luz da noite gloriosa da Ressureição de Nosso Senhor, onde o Cristo Rei do Universo e servidor da humanidade com sua paixão, morte e ressureição abre para nós as portas do Paraíso: fechadas desde a desobediência de Adão.

Seguir a Luz da Estrela e buscar a gruta de Belém, nos conduz a uma outra gruta-sepulcro, onde na aurora de um domingo glorioso a vida vence a morte e as mulheres que possuem útero, órgão gerador da vida, anunciam assustadas que o Senhor ressuscitou. Façamos a ponte entre o Natal e a Páscoa sejamos como os reis magos, os pastores e corramos à Belém (casa do pão) para ver Jesus-menino. Sejamos como as mulheres e tenhamos coragem de gritar alegres, que Jesus está vivo e presente no meio de nós.

Concluamos com a metáfora do Jardim:

Imaginemos novamente o Jardim, você, eu, nós somos os ajudantes do ‘jardineiro’: na primeira semana do advento vamos tirar as ervas daninhas do terreno, limpá-lo com cuidado, na segunda semana vamos cavar os sulcos na terra, adubá-la para colocarmos a roseira. Na terceira semana plantemos a roseira e a reguemos, fiquemos alegres pois já se vê um rebento e na quarta semana vejamos que da roseira brotou um botão: uma semana depois nascerá para nós o Salvador, como o fruto mais genuíno que a humanidade pode receber. Preparemos o nosso coração e a nossa voz para cantar um expectante: Maranatha: vem Senhor Jesus, vem não tardes mais.

Pe. Sóstenes Luna,
Missionário da Sagrada Família.

Celebração da Memória Litúrgica do Bem-aventurado Tiago Alberione

26-11-2019 | A Família Paulina presente nas comunidades de São Paulo juntamente com a comunidade paroquial de Santo Inácio de Loyola celebraram a Eucaristia presidida pelo Pe. Antônio Lúcio e concelebrada pelos padres paulinos.

Nesta celebração do 48º Aniversário da Páscoa do Bem-aventurado Alberione, foi recordado a sua vida: o testemunho da missão carismática e valores vivenciados por ele como: a experiência de oração diária, a meditação, a contemplação, o silêncio, o carisma apostólico, amor à Palavra de Deus e seu anúncio.

Na homilia Padre Antonio Lúcio recordou as palavras do Papa Paulo IV ditas no dia 28 de Junho de 1969 durante sua visita ao bem-aventurado Pe. Tiago Alberione: Ei-lo humilde, silencioso, incansável, recolhido nos seus pensamentos, que passam da oração à obra, sempre atento a perscrutar os sinais dos tempos”. Lembrou também as palavras ditas pelo próprio Pe. Tiago Aberione, dois anos mais tarde, no dia 26 de Novembro de 1971, deixadas como testamento espiritual aos seus filhos e filhas: Morro… rezo por todos, Paraíso”. Estas palavras são incentivo e sinais de esperança para todos da Família Paulina, desejosos de fazer reverberar o carisma proposto à Igreja.

No final da celebração foi lida a Carta do Superior Geral Padre Valdir de Castro que recordou os 100 anos da oração do Segredo de Êxito e a sua importância na construção da espiritualidade e missão na obra deixada pelo Bem-Aventurado Alberione.

Após a celebração membros da Família paulina visitaram a exposição: “O silêncio do comunicador – A vida de Padre Alberione contada em fotografias”. Esta exposição foi organizada pela Equipe de Pastoral da Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (FAPCOM).

26-11: Memória do Bem-Aventurado Tiago Alberione

26-11-BEM-AVENTURADO-TIAGO-ALBERIONE

Tiago Alberione nasceu a 4 de abril de 1884, em São Lourenço de Fossano, Itália. Era o quinto filho de Miguel Alberione e Teresa Alloco. Porque nascera muito fraco e seus pais temiam perdê-lo em pouco tempo, o pequeno Tiago foi batizado pelo padre João Ferrero no dia seguinte a seu nascimento, na igreja de São Lourenço.

Quando o menino recobrou as forças, sua mãe, então com 34 anos, o levou ao Santuário das Flores para consagrá-lo à Virgem Maria. Um ano depois, por causa de problemas financeiros, toda a família de Miguel Alberione mudou-se para uma colônia agrícola perto de Monte Capriolo, no município de Cherasco.

No campo, trabalhava desde o amanhecer até à noite, aproveitando o máximo possível a luz do sol ou da lua cheia. Tiago tinha que trabalhar à noite e, tomado pelo sono, balançava o lampião para todos os lados, deixando os trabalhadores no escuro; a mãe tinha que repetir: “Tiago, a luz!” Nessa frase estava oculto um grande projeto de Deus: Tiago deveria, por toda a vida, irradiar luz.

Em Cherasco, Alberione frequentou a escola primária de 1890 a 1895. Nos três primeiros anos, teve como professora Rosina Cardona, “mulher muito piedosa, verdadeira Rosa de Deus, delicadíssima no cumprimento de seus deveres”. Como Tiago sempre a recordará com estima e gratidão, foi a essa professora que ele disse, iluminado: “Vou ser padre!”

Em 1896-1897, feito o exame de admissão, ingressou no seminário menor de Brá, diocese de Turim, onde completou o ginásio. No seminário, cultivou a devoção, eucarística e mariana. No entanto, os anos transcorridos no seminário de Brá conheceram também uma queda nos estudos e no comportamento de Tiago, tanto que chegou a ser mandado de volta para casa a 7 de abril de 1900, antes de terminar o ano letivo. Demitido do seminário de Brá, Tiago voltou a Monte Capriolo para ajudar a família; mas continuava a devorar livros e a meditar inquieto sobre o futuro. Seu pároco, padre João Batista Montersino, o aconselhou a voltar ao seminário, agora em Alba, onde Tiago entrou no outono de 1900.

A noite entre 31 de dezembro de 1900 e 1° de janeiro de 1901, foi decisiva para a vida e missão do jovem Alberione, que tinha apenas 16 anos. Permaneceu por quatro horas em oração diante do Santíssimo Sacramento, solenemente exposto na Catedral de Alba. “Sentiu-se profundamente obrigado a preparar-se para fazer alguma coisa pelo Senhor e pelas pessoas do novo século”, como escreverá mais tarde. Tiago Alberione respirava ar de espiritualidade evangélica, mas também sacudido pelos angustiantes problemas sociais, econômicos e políticos.

Em 1906, quinto ano de teologia, a 14 de outubro, foi ordenado diácono, e a 29 de junho de 1907 foi ordenado presbítero, aos 23 anos de idade. A 10 de abril de 1908, terminou em Gênova o doutorado em Teologia. Nomeado vice-pároco em Narzole, encontrou pela primeira vez o jovem Timóteo Giaccardo, que se tornaria o primeiro sacerdote Paulino e que seria beatificado por João Paulo II.

Padre Alberione, após o breve período de experiência na paróquia e como diretor espiritual do Seminário de Alba, assumiu em 1913, a pedido do bispo local, a direção do jornal diocesano Gazzetta D’Alba. A nova função veio ao encontro do seu ideal: evangelizar e fazer o bem com os meios que atingissem não só as pessoas que frequentavam as igrejas, mas também as que estavam distantes.

O Senhor o guiou nesse novo empreendimento. Os mesmos meios que propagam o mal devem ser usados para difundir o bem: levar o Evangelho a todos os povos, com os meios modernos de comunicação, no espírito do Apóstolo Paulo. Obedecendo a Deus e à Igreja, dava início, em Alba, a 20 de agosto de 1914, à “Família Paulina”, com a fundação Padres e Irmãos Paulinos.

Em 1924, na festa de Santa Escolástica (10 de fevereiro) iniciou a fundação da Congregação das Pias Discípulas do Divino Mestre. Escolheu a Serva de Deus Madre Escolástica Rivata como a sua colaboradora em Cristo e lhe confiou a primeira comunidade de irmãs. 

Padre Tiago Alberione faleceu a 26 de novembro de 1971 e foi beatificado pelo Papa João Paulo II a 27 de abril de 2003. Sua festa litúrgica celebra-se a 26 de novembro.

DIA DA POSTULANTE PIA DISCÍPULA

No último dia 21 de novembro, festa da Apresentação de Maria, as postulantes Pias Discípulas celebraram o dia dedicado a elas. Aqui no Brasil vivemos a grata experiência da unificação da formação do continente americano. Atualmente temos 4 postulantes vindas de outras nações: Amira (Argentina), Belimar (Venezuela), Odete (EUA) e Virgínia (México). Agradecemos a Deus por esta experiência enriquecedora da formação internacional aqui na nossa nação.

Pias discípulas do Divino Mestre
Comunidade reunida no almoço do Domingo de Cristo Rei para festejar as Postulantes Pias Discípulas.

A celebração foi feita em duas etapas: no dia 21 de novembro, com a Celebração Eucarística da festa litúrgica da Apresentação de Maria e, no domingo, Festa de Cristo Rei, houve um delicioso almoço que contou com a presença da ir. Marilez Furlanetto, provincial do Brasil, e outras irmãs da comunidade provincial.

Agora porquê esta data para comemorar nossas postulantes?

Um dos motivos pode estar implícito ao sentido desta data para a fundação das Pias Discípulas. Segundo a ir. Micaela Moneti, superiora geral da Congregação das Pias Discípulas, em sua última circular ela recorda:

Hoje é o dia em que recordamos o germe de vida nova para a nascente Família Paulina, isto é, o dia em que Padre Alberione pôs à parte as jovens Úrsula Rivata e Matilde Gerlotto para compartilhar a inspiração do Espírito ao iniciar uma obra nova, fundamental para a missão moderna da comunicação do Evangelho a todas as pessoas com todos os meios. Hoje, como então, podemos ouvir ressoar a palavra profética: “Eis que eu faço uma coisa nova. Agora mesmo está brotando. Não percebeis?” (Is. 43,18). Hoje, como em 1923, deveríamos alegrar-nos e olhar com confiança para a vida nova que nasce e flui pela força geradora da graça, na vocação recebida. Capazes de acolher os sinais dos tempos e dos lugares grávidos de esperança porque neles percebemos o grito da humanidade sedenta de paz, de justiça e de salvação; isto é, de Deus.

“Separai Úrsula e Matilde”, para uma nova missão. Cada uma poderá ouvir pronunciar sobre si e sobre as irmãs da própria comunidade estas palavras geradoras sugeridas pelo Espírito de Deus e responder com generosidade: “Eis-me, envia-me”. “O que faremos?”. Às discípulas de Jesus Mestre, mulheres do Evangelho e da Eucaristia, ontem como hoje Padre Alberione repete: “Fareis silêncio, silêncio, silêncio”. Ou seja: “Ouvireis, ouvireis, ouvireis”. Aquela escuta que é favorecida pelo silêncio interior e profundo e que é o ambiente propício ao diálogo e à comunicação para a comunhão (cf. RV 66).

Foi neste dia, portanto, o início memorável para as Pias Discípulas do Divino Mestre. O Bem-Aventurado Tiago Alberione separou do grupo das Filhas de São Paulo, duas jovens que iriam iniciar a nova congregação inspirada pelo Espírito Santo para a Igreja.

O segundo motivo está ligado também a celebração litúrgica: Festa da Apresentação de Nossa Senhora. Esta memória mariana é de origem devocional e sua celebração eucarística remonta do século VI no Oriente e século XIV no Ocidente. Esta festa realça a primeira doação que Maria fez de si mesma, tornando-se modelo de toda pessoa que se consagra ao Senhor. Toda Pia Discípula é chamada a seguir a Maria no modelo de vida. Confiar as postulantes a ela neste dia, é pedir que, sob sua intercessão, o caminho de cada jovem torne-se igual ao dela: com Maria a Jesus.

Rezemos por cada postulante Pia Discípula e por todos aqueles e aquelas que se colocam no seguimento mais de perto de Jesus. Que sob a intercessão de Maria, possam viver e buscar participar da plenitude da graça, seguindo o exemplo dela que viveu e deu Jesus, seu Filho, ao mundo.

SOLENIDADE DE CRISTO REI

Pe. Eugênio Antônio Bisinoto C. Ss. R

Nosso Senhor Jesus, Rei do Universo, é solenidade que transcorre no último domingo do tempo comum. É a derradeira celebração dominical do ano litúrgico.

A solenidade é conhecida popularmente como festa de Cristo Rei. Vem recordar o reinado que Cristo deve exercer sobre os seres humanos.

A origem da solenidade é recente. Foi instituída pelo Papa Pio XI com a Encíclica “Quas Prima”. Foi publicada no dia 11 de dezembro de 1965.

Na ocasião, Pio XI afirmou: “É costume geral e antigo chamar Cristo de Rei, diante do supremo grau que ocupa sobre todas as coisas. Diz que Ele reina sobre as inteligências e sobre as vontades dos homens. Finalmente, Cristo é reconhecido como Rei dos corações”. A primeira celebração de Cristo Rei aconteceu no dia 31 de outubro de 1926.

A solenidade era celebrada no último domingo de outubro. Com a reforma do Concílio Vaticano II (1962-1965), foi colocada no último domingo do tempo comum, concluindo o ano litúrgico.

A solenidade coroa o itinerário da vida e missão de Jesus, testemunhado o direito do Salvador ser reconhecido como legislador, chefe e juiz supremo de toda a humanidade. “Jesus Cristo é o Senhor: possui todo o poder nos céus e na terra” (Catecismo da Igreja Católica, no. 668).

A solenidade evidencia que Jesus é o centro de todo o ano litúrgico. É o ápice de toda a história da salvação.

Em seu plano de amor, o Pai constituiu e consagrou seu Filho Unigênito como sacerdote eterno e rei do universo. Por sua morte e ressurreição, Ele realizou a salvação da humanidade.

Depois da ascensão ao céu, Jesus sentou-se à direita do Pai como juiz dos povos e rei do mundo. Intercessor supremo, Jesus exerce sua missão contínua de governar as inteligências, as vontades e os corações dos seres humanos com sabedoria, benevolência e graça.

Jesus é o começo e o fim, o alfa e o ômega de toda a obra redentora. Dele provém toda a criação e para ele convergem todas as realidades naturais. Nele são recapituladas.

Em sua bondade e providência, o Pai dispôs restaurar todos os elementos do mundo em seu Filho Único, Rei do Universo. Oferecendo-se na cruz como vítima pura e pacifica, o Cristo realizou a redenção da humanidade.

Submetendo ao seu poder toda a criatura, o Filho de Deus entregará à majestade o Reino de Deus eterno e universal, caracterizado pela verdade, vida, santidade, graça, justiça, amor e paz. Jesus é o Rei que serve à humanidade, salvando-a e encaminhando para participar do desígnio do Pai.

Em sua missão real, Jesus procura promover a reconciliação do gênero humano com o Pai e no Pai. Busca congregar todas as pessoas na unidade do amor, da verdade, do bem e da justiça.

No mundo Jesus efetua a paz e a harmonia. No meio da humanidade divida em contínua discórdia, Jesus sempre sabe levar as pessoas a procurar o perdão e a amizade.

Jesus consegue reunir na sociedade nova, onde brilham a solidariedade e a mansidão, os homens e as mulheres de todas as classes nações, para a comunhão fraterna. Derruba as barreiras que separam as criaturas humanas para construir os elos duradouros da fé, da caridade e da esperança.

A solenidade convida a todos reconhecerem e honrarem Jesus como Rei do Universo. Amando-o acima de tudo, os seres humanos são convidados a conhecê-lo, segui-lo e servi-lo sempre.

Como discípulos e discípulas, os cristãos devem ter fé madura em Jesus, dando-lhe completa adesão de inteligência e de vontade. Deve se configurar paulatinamente ao Salvador, assemelhando seus corações ao coração dele.

Pe. Eugênio Antônio Bisinoto C. Ss. R.
Sacerdote e escritor
Igreja Santa Cruz – Araraquara – SP

A consciência negra: a busca da visibilidade de um grupo de jovens na periferia de Salvador.

Padre Bernardino Mossi K. Anoumou

A sociedade brasileira, marcada pela história da escravidão, avançou nesses últimos anos no processo de reconhecimento povo negro. Nota-se um avanço na tentativa de superação da desigualdade entre brancos e negros.  As condições de vida começaram a melhorar, as discriminações raciais tiveram uma decaída e o negro começou a ascender na vida social, intelectual e política, em comparação ao período colonial onde esse povo não tinha nem voz nem visibilidade. Mas ao lado dessa ascensão do negro na vida social, encontra-se ainda, infelizmente, um registro de várias formas de discriminação, de racismo e de negação. Voltar a lutar pela integração igual e completa do povo negro na sociedade brasileira é celebrar a consciência negra, é celebrar o dia de Zumbi, é reconhecer e respeitar os direitos, a cultura, a identidade, e a religião desse povo.

Nas linhas a seguir, iremos analisara vivência de um grupo de jovens soteropolitanos que luta pela sua visibilidade identitáriano bairro de Sussuarana. Esta experiência começou com a chegada dos missionários combonianos no bairro para desenvolver um trabalho com os afrodescendentes.  No ano 2000, criaram o Centro de Pastoral Afro Pe. Heitor Frisotti (CENPAH)para exercer atividades de formação identitária, arte-educação, promoção da autoestima de grupos, coletivos e comunidades na luta contra toda e qualquer discriminação. Tornou-se assim, um espaço em construção de resistência, de luta, de identificação, onde jovens de ambos os sexos podem analisar a sua situação atual de exclusão, tomar consciência disso e buscar estratégias para marcar a sua visibilidade.Fazendo assim, eles continuam a luta iniciada pelo líder do Quilombo dos Palmares: Zumbi dos Palmares. Para esses jovens, a grande metamorfose começou quando em 2011 nasceu o Sarau da Onça. Trata-se duma atividade cultural soteropolitana, tendo como objetivo despertar nos jovens negros o desejo de buscar sua visibilidade a partir da poesia. Esses encontros de poesias têm“como foco o acesso aos bens culturais, a ressocialização de populações marginalizadas, buscando promover e incluir socialmente esses sujeitos no modo como negociam e elaboram sua memória e suas identidades” (OLIVEIRA, Esmael; OLIVEIRA, AUGUSTO,2017).Em outras palavras, os encontros de poesias tornam-se momentos de partilha e reflexão sobre as realidades vividas de discriminação, racismo e rejeição no dia a dia. Essas poesias de afirmação do “ego” negro como sujeito e não objeto vãomudando o jeito de ser, de pensar, de falar, de vestir-se desses jovens. A repetição das poesias de afirmação da pele escura e de resistência vai reconfigurando os participantes para aceitarem o que são realmente: Negros e Negras. A nova resistência à discriminação é a afirmação da identidade negra como uma identidade autônoma, com seus privilégios e direitos iguais às outras identidades.Bispo diria que “na perspectiva da resistência cultural, essas identidades vêm sendo ressignificadas como forma de enfrentar o preconceito e o etnocídio praticado contra povos afro-pindorâmicos e os seus descendentes” (BISPO,2015, p. 38). Fazer memória do Zumbi é refletir e buscar novas formas de resistência contra a marginalização e o racismo. Para os jovens do Sarau da Onça, basta assumir a sua própria identidade e manifestar o orgulho de ser negro ou negra.

Celebrar o dia da consciência negra volta a desenvolver uma força estruturante que (re)constrói as identidades do povo negro de maneira efetiva. Essas identidades “deixam de ser apenas “faladas”, ou estudadas, para se tornarem acadêmica e juridicamente “falantes”; saem da apenas voz passiva e incorporam a voz ativa, em articulações, intercâmbios e ações afirmativas (OLIVEIRA, Esmael; OLIVEIRA, AUGUSTO,2017).A necessidade é buscar um espaço onde o sujeito marginalizado pode ter voz e sair da zona de instrumentalidade para o lugar de voz e protagonismo. Esse grupo de jovens tem demostrado essa força transformadora da realidade, quando começou a incentivar e criar atividades que visam à conscientização, o avivamento da identidade e a preservação de seus valores e de sua memória histórica.

O impacto social dessa busca de identidade no Sarau da Onça vai alargando seus limites quando o que é aprendido nos sábados através da poesia é colocado em prática emespaços públicos como nas faculdades, escolas e trabalhos. O sentimento de frustração passa a ser o de orgulho, aceitação e apreciação. Usar o turbante, ter cabelo crespo, usar vestimenta com uma imagem do continente africano torna-se um modelo para quem frequenta o Sarau; isso, sobretudo, observa-se entre as mulheres do grupo. Assim, pode-se dizer que “Identidades étnicas e culturais são armas que muitos grupos minoritários podem utilizar para se defenderem contra outros grupos mais fortes” (ALMEIDA, 2007). Vamos agora ler uma dessas poesias para contemplar a força transformadora escondida nelas:

Negaram-me,
Me manipularam o tempo todo
Me dizendo que as coisas que eu gostava não prestavam
Meu cabelo não prestava, minhas crenças não prestavam
Que os meus reis e rainhas não existiam
Me fizeram escravo
Definiram um padrão e eu estava à margem dele
Me negaram o direito de viver, ser livre
As minhas escolhas só eram aceitas se fossem as escolhidas deles
Hoje, sem o efeito do veneno que foi injetado em minha mente
Vejo o quanto é importante ser mais consciente
O quanto a minha presença significa uma ameaça
Nunca fui aceito e por isso eu não aceito
Esse papo de que somos todos iguais
Pra mim sempre teve uma outra balança
Na hora da abordagem dos policiais
Ser crespo sempre feriu os bons costumes
Por isso é mais que afirmação quando
Um preto seu crespo assume
É acima de tudo um ato político
Mostrar que não desistimos
E nunca estivemos satisfeitos com o padrão
Se o Black atrapalha, sempre foi essa nossa condição
E entenda que eu sou lindo e não preciso de opinião
Com a minha família aprendi sobre a autoafirmação
Vim para escurecer, porque tá muito claro
E falar em alto e bom som
Que sou descendente de reis e rainhas
E não de escravos.

(Sandro Sussuarana, 2018)

Essa poesia ressalta bem essa práxis de subversão.Pode-se se perceber uma mudança de mentalidade que encarreta o desejo de continuar a luta a favor da igualdade, da fraternidade, de respeito… Esse é o que chamamos a busca da visibilidade através da construção da identidade. Para chegar a essa construção, segundo Ferreira, foi necessário que a juventude negra passasse por quatro estágios: estágio de submissão, de impacto, de militância e estágio de articulação (Ferreira, 2004).  Assim, o jovem que frequenta o Sarau chega submisso e se desperta com a realidade vivida no cotidiano através das atividades. A partir desse momento, “inicia-se um processo de intensa metamorfose pessoal, em que ele vai, gradualmente, demolindo velhas perspectivas e, ao mesmo tempo, passa a desenvolver uma nova estrutura pessoal referenciada em valores etno-raciais de matrizes africanas” (Ferreira, 2004). Essa nova estrutura pessoal é a forma mais eficaz de resistir hoje, pois leva a reclamar seus direitos e a lutar pela total igualdade.

Em resumo, pode-se dizer que celebrar o dia de Zumbi é parar de tachar os negros como pessoas “inferiores, religiosamente tidas como sem almas, intelectualmente tidas como menos capazes, esteticamente tidas como feias, sexualmente tidas como objeto de prazer, socialmente tidas como sem costumes e culturalmente tidas como selvagens”. (Bispo dos Santos Antônio, 2015). Infelizmente, como no passado, a população negra no Brasil continua sendo considerada assim e só uma mudança de mentalidade promoverá a igualdade. Isto é celebrar o dia da consciência negra, entrar no processo de uma “metanoia” individual e coletiva, transformar nosso olhar sobre a população negra no Brasil.

Padre Bernardino Mossi K. Anoumou, missionário comboniano. Ele é encarregado da pastoral afro na província. Mora e trabalha em Salvador.