POR QUE A SEMANA SANTA AINDA IMPORTA EM 2025?

A Semana Santa é o ponto culminante do ano litúrgico da Igreja. Celebrada pelos cristãos do mundo inteiro, ela nos convida a entrar profundamente no mistério central da nossa fé: a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. Não se trata apenas de recordar um evento passado, mas de vivê-lo liturgicamente, permitindo que a graça da salvação alcance hoje o nosso coração e transforme a nossa vida.

Cada dia da Semana Santa possui um significado especial. O Domingo de Ramos abre as celebrações, recordando a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, acolhido como Rei pelos que dias depois clamariam por sua crucifixão. A liturgia deste dia nos convida a refletir sobre a fragilidade humana e a fidelidade de Cristo.

Na Quinta-feira Santa, a Igreja celebra a instituição da Eucaristia e do sacerdócio, durante a Última Ceia. É também o momento em que Jesus lava os pés dos discípulos, gesto de humildade que nos ensina o caminho do serviço. A celebração se encerra com a transposição simbólica de Jesus ao Horto das Oliveiras, marcando o início de sua Paixão.

A Sexta-feira Santa é o único dia em que não se celebra a Eucaristia. Em silêncio e reverência, os fiéis participam da Celebração da Paixão do Senhor, contemplando a cruz como sinal de amor supremo e redenção. É um dia de jejum, oração e profunda meditação.

O Sábado Santo é marcado pelo silêncio e pela espera. A Igreja permanece em vigília, junto ao túmulo do Senhor, preparando-se para a grande celebração da Vigília Pascal. Na noite do Sábado, a luz do Cristo Ressuscitado rompe as trevas, e a alegria da Ressurreição transforma o luto em júbilo. É a celebração mais importante de todo o ano litúrgico.

Participar da Semana Santa é entrar no coração da fé cristã. É permitir que o amor de Deus, manifestado na Cruz e confirmado na Ressurreição, renove nossa esperança e nos impulsione a viver como discípulos de Cristo no mundo.

Semana Santa

Cronograma da Semana Santa:

📅 Domingo de Ramos da Paixão do Senhor
Evangelho: Mt 21,1-11; Mt 26,14 – 27,66
Jesus é acolhido em Jerusalém como Rei, mas a liturgia já nos conduz ao mistério de sua Paixão.
🕊️ “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor!” (Mt 21,9)

📅 Segunda-feira Santa
Evangelho: Jo 12,1-11
Jesus é ungido em Betânia. Maria reconhece sua dignidade e se antecipa à sua paixão.
🕊️ “Deixa-a, que ela guarde isto para o dia da minha sepultura.” (Jo 12,7)

📅 Terça-feira Santa
Evangelho: Jo 13,21-33.36-38
Jesus anuncia a traição de Judas e a negação de Pedro.
🕊️ “Antes que o galo cante, tu me negarás três vezes.” (Jo 13,38)

📅 Quarta-feira Santa
Evangelho: Mt 26,14-25
Dia em que Judas Iscariotes trama a traição. Conhecida como a “Quarta-feira das Trevas”.
🕊️ “O Filho do Homem vai morrer, conforme está escrito, mas ai daquele por quem o Filho do Homem é traído!” (Mt 26,24)

📅 Quinta-feira Santa – Ceia do Senhor
Evangelho: Jo 13,1-15
Celebramos a instituição da Eucaristia e do sacerdócio ministerial. Jesus lava os pés dos discípulos, ensinando-nos o amor-serviço.
🕊️ “Eu vos dei o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz a vós.” (Jo 13,15)

📅 Sexta-feira Santa – Paixão do Senhor
Evangelho: Jo 18,1 – 19,42
Dia de jejum, silêncio e veneração da Cruz. A Igreja contempla com reverência o mistério da Cruz de Cristo.
🕊️ “Tudo está consumado.” (Jo 19,30)

📅 Sábado Santo – Vigília Pascal
No silêncio do túmulo, a Igreja espera a Ressurreição. À noite, celebra-se a Vigília Pascal, a “mãe de todas as vigílias”.
🕊️ “Por que estais procurando entre os mortos aquele que está vivo?” (Lc 24,5)

📅 Domingo de Páscoa – Ressurreição do Senhor
Evangelho: Jo 20,1-9
Cristo ressuscitou! A vida venceu a morte, e a esperança renasce no coração dos fiéis.
🕊️ “Ele viu e acreditou.” (Jo 20,8)

Semana Santa: Um Convite à Conversão Profunda

Participar da Semana Santa é mais do que acompanhar rituais religiosos. É permitir que o amor de Deus, manifestado na Cruz e confirmado na Ressurreição, transforme o nosso modo de viver. Como diz São Paulo: “Se com Cristo morremos, com Ele também viveremos.” (Rm 6,8)

A Semana Santa não é apenas uma sucessão de ritos sagrados. Ela é, acima de tudo, um espelho que confronta o nosso interior, uma travessia espiritual que nos convida à conversão – não como um dever moral imposto de fora, mas como um movimento íntimo, necessário e transformador.

Liturgia que nos atravessa

A cada dia da Semana Santa, a liturgia da Igreja nos conduz por cenas profundamente humanas: a aclamação entusiasmada que se transforma em rejeição, a traição que nasce no meio dos amigos, o silêncio de Deus diante do sofrimento inocente, o medo da perda, a fuga dos discípulos, o abandono, o luto… e, enfim, a vida que ressurge quando parecia já não haver saída.

Esses momentos não são apenas memórias do passado. Eles são vividos aqui e agora, em nós. A liturgia nos envolve para que passemos, com Cristo, por esses desertos interiores. Como escreveu Santo Agostinho: “Cristo sofreu por nós para que aprendêssemos a sofrer n’Ele.”

Conversão como travessia

Na teologia cristã, conversão (do latim conversio) significa mudança de direção, retorno a Deus, reencontro com a Verdade. Mas essa virada não é apenas racional. É existencial. A cruz que contemplamos não está apenas sobre o altar: ela revela também nossas contradições, nossas feridas, nossas negações internas.

Ao olhar para Cristo que sofre calado, somos convidados a reconhecer aquilo que em nós resiste ao amor, se fecha ao perdão, se esconde da verdade. A conversão, então, não é medo do castigo, mas coragem de encarar a própria sombra, à luz daquele que tudo redime.

Caminho do autoconhecimento

Sob uma perspectiva psicanalítica, poderíamos dizer que a Semana Santa nos obriga a sair das defesas do ego e nos deparar com conteúdos reprimidos – traições internas, impulsos de fuga, desejos ambivalentes, perdas não elaboradas. Judas, Pedro, Pilatos, Maria, Simão de Cirene… todos representam partes de nós.

A paixão de Cristo é um roteiro profundamente humano. É ali que percebemos como o inconsciente atua nos grandes dilemas: entre amor e medo, entre entrega e controle, entre confiança e autossabotagem. Converter-se, portanto, é também integrar, reconhecer o que em nós precisa ser reconciliado.

A cruz como lugar de reconciliação

No ponto culminante da Semana Santa — a Cruz — não vemos apenas o sofrimento de um inocente, mas um gesto absoluto de amor e reconciliação. Cristo, ao entregar-se livremente, cura a ruptura entre Deus e a humanidade. E, ao fazê-lo, nos convida a reconciliar também as rupturas dentro de nós: com o outro, com o passado, com Deus, e com aquilo que somos de verdade.

🕊️ “Ele foi ferido por causa de nossas transgressões, esmagado por causa de nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele.” (Is 53,5)

Por que a Semana Santa é um convite à conversão?

Porque ela nos tira da superficialidade.
Porque nos confronta com o essencial.
Porque nos revela que a mudança não é só possível — é necessária.
Porque nos lembra que a morte, quando vivida com amor, gera vida nova.
E porque, ao final da dor, sempre há ressurreição.

Que esta semana sagrada seja vivida com fé, silêncio interior e espírito de conversão, abrindo nosso coração para o grande dom da vida nova em Cristo.


REFERÊNCIAS:

BÍBLIA. Bíblia Sagrada. Tradução da CNBB. 2. ed. Brasília: Edições CNBB, 2008.

RATZINGER, Joseph (Papa Bento XVI). Introdução ao Cristianismo. São Paulo: Loyola, 2005.

RATZINGER, Joseph. O espírito da liturgia. São Paulo: Loyola, 2001.

REVISTA DE LITURGIA. Semana Santa: Paixão e Ressurreição do Senhor. Ano 38, n. 152, mar./abr. 2007. São Paulo: Pias Discípulas do Divino Mestre.

REVISTA DE LITURGIA. Abrir a porta ao mistério e acender as luzes da fé. São Paulo: Pias Discípulas do Divino Mestre, n. 308, mar./abr. 2025.

REVISTA DE LITURGIA. Do livro à Palavra. São Paulo: Pias Discípulas do Divino Mestre, n. 307, jan./fev. 2025.

REVISTA DE LITURGIA. Oração, Missal Romano e experiência de Deus. São Paulo: Pias Discípulas do Divino Mestre, n. 306, nov./dez. 2024.

REVISTA DE LITURGIA. Semana Santa: Paixão e Ressurreição do Senhor. São Paulo: Pias Discípulas do Divino Mestre, n. 152, mar./abr. 2007.

AUGUSTINUS, Aurelius. Confissões. Trad. J. Oliveira Santos. São Paulo: Paulus, 1999.

FREUD, Sigmund. O ego e o id. Trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

JUNG, Carl Gustav. A psicologia da transferência. Petrópolis: Vozes, 2013.

KÜNG, Hans. Ser Cristão. São Paulo: Verus, 2005.

Batistérios e a Arquitetura da Iniciação Cristã: um mergulho simbólico e arquitetônico

A dissertação de mestrado “Batistérios e a Arquitetura da Iniciação Cristã: um percurso histórico-simbólico”, defendida por Maria Jeydjane Lunguinho Gomes no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, apresenta uma densa investigação sobre os espaços batismais cristãos sob o olhar da arquitetura. A pesquisa foi orientada pela Profª Drª Ruth Verde Zein e avaliada pelas professoras Profª Drª Patrícia Pereira Martins (Universidade Presbiteriana Mackenzie) e Prof. Dr. Gabriel dos Santos Frade (Faculdade de Teologia do Mosteiro de São Bento/SP), que compuseram a banca examinadora.

Partindo de uma inquietação surgida no exercício profissional da autora, que atua com projetos de arquitetura religiosa, a dissertação aborda um tema muitas vezes negligenciado nas discussões sobre o espaço litúrgico: os batistérios. Estes espaços, destinados ao rito do batismo – porta de entrada da fé cristã –, têm um profundo valor simbólico, teológico e litúrgico, mas nem sempre recebem o devido cuidado em sua representação arquitetônica. A pesquisa busca, então, resgatar a centralidade desse espaço a partir de um percurso que une teoria e prática, história e contemporaneidade.

Dividida em duas partes principais, a primeira fundamenta-se em aportes teóricos oriundos da antropologia, da história e da liturgia cristã, para discutir o simbolismo do batismo e os elementos que moldam os espaços batismais, como a água, a luz e a geometria. A segunda parte dedica-se à análise de três estudos de caso em igrejas localizadas na América Latina – mais especificamente no Uruguai, México e Brasil – com o objetivo de observar como os conceitos litúrgicos e simbólicos se expressam (ou não) na prática projetual.

A primeira etapa da dissertação percorre o papel dos batistérios desde os primeiros séculos do cristianismo, investigando sua evolução histórica e espacial. Desde as Domus Ecclesiae – casas adaptadas ao culto cristão nos primórdios da fé –, passando pelas grandes basílicas paleocristãs, até as reformas do Concílio Vaticano II (1962-1965), o estudo mostra como os espaços destinados ao batismo acompanharam (e em muitos casos, resistiram a) transformações profundas na teologia e nas práticas eclesiais.

Nesse percurso, elementos simbólicos ganham destaque: a água, símbolo de purificação e renascimento; a luz, representação da iluminação espiritual; e a forma arquitetônica, como expressão visível de um mistério invisível. A autora demonstra como a arquitetura, ao integrar esses elementos, pode contribuir para uma experiência mais profunda e significativa do rito batismal.

Na segunda parte da dissertação, os estudos de caso ilustra redescobrir o sentido do batistério como espaço de iniciação, renascimento e luz. Trata-se de um convite à contemplação e ao projeto: pensar o espaço não apenas como função, mas como linguagem do sagrado.

Ao reunir história, simbolismo e análise arquitetônica, a dissertação de Maria Jeydjane oferece uma contribuição significativa para o campo da arquitetura religiosa, especialmente no que diz respeito à valorização dos ritos iniciáticos dentro do espaço litúrgico. Sua pesquisa propõe um olhar atento e sensível para os batistérios, não como apêndices da arquitetura eclesial, mas como espaços centrais na vida de fé.

Em tempos nos quais a arquitetura muitas vezes é guiada pela funcionalidade imediata, este trabalho nos lembra da importância do símbolo, da beleza e da espiritualidade na composição dos espaços. Ao investigar como o batismo é representado materialmente, a autora nos provoca a refletir sobre como nossas igrejas comunicam — ou silenciam — as verdades mais profundas da fé cristã.

Mais do que uma dissertação acadêmica, o estudo de Maria Jeydjane é uma ponte entre teoria e prática, entre liturgia e arquitetura, entre o passado da tradição cristã e os desafios contemporâneos de projetar o sagrado. Uma leitura fundamental para todos os que se dedicam à arquitetura, à teologia e à renovação da experiência litúrgica.

AONDE ESTÁ O CRISTO NESTAS CAMPANHAS DA FRATERNIDADE?

A Campanha da Fraternidade de 2025, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), traz como tema “Fraternidade e Ecologia Integral” e o lema “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). Essa escolha reflete a preocupação da Igreja com a preservação do meio ambiente e a construção de relações mais fraternas entre os seres humanos.

A ecologia integral é um conceito que busca valorizar a interdependência entre todos os elementos da criação: seres humanos, natureza e Deus. Ao abordar esse tema, a Campanha da Fraternidade nos convida a refletir sobre a urgência de cuidar da nossa Casa Comum, promovendo uma ecologia integral que conecta a fé cristã com a responsabilidade socioambiental.

O Papa Francisco, na encíclica Laudato Si’, enfatiza a necessidade de uma conversão ecológica que una a dimensão espiritual à prática cotidiana de cuidado com o meio ambiente. Ele nos lembra que “tudo está interligado” e que o clamor da terra é inseparável do clamor dos pobres. Assim, ao promover a ecologia integral, a Campanha da Fraternidade de 2025 nos chama a reconhecer a presença de Cristo em toda a criação e a agir em conformidade com esse reconhecimento.

Além disso, a identidade visual da Campanha deste ano foi cuidadosamente elaborada para refletir essa mensagem. O cartaz apresenta elementos que simbolizam a harmonia entre a humanidade e a natureza, ressaltando a beleza da criação divina e a responsabilidade humana em preservá-la.

Portanto, ao questionarmos “Aonde está o Cristo nestas Campanhas da Fraternidade?”, especialmente na de 2025, encontramos a resposta na centralidade de Cristo como fundamento e inspiração para o cuidado com a criação. Ele está presente no chamado à conversão ecológica, na promoção da justiça socioambiental e na vivência concreta do amor ao próximo e à natureza. Assim, a Campanha da Fraternidade nos convida a reconhecer e a responder ao chamado de Cristo para sermos guardiões responsáveis e amorosos da obra criada por Deus.

Aonde está o Cristo nestas Campanhas da Fraternidade?

É uma pergunta que ecoa com força, especialmente nos tempos atuais, quando tantos questionam as intenções por trás de ações e movimentos da Igreja. Ao longo dos anos, a Campanha da Fraternidade tem sido alvo de críticas, incompreensões e, às vezes, desconfianças. Muitos se perguntam: “Onde está o Cristo nesta campanha?” A resposta, porém, é clara para aqueles que se permitem olhar com o coração atento ao Evangelho: Cristo está no centro de cada Campanha da Fraternidade. Ele está presente em cada tema, em cada gesto concreto, em cada chamado à conversão, à justiça e ao amor ao próximo.

Para entender onde está o Cristo nas Campanhas da Fraternidade, é preciso antes lembrar quem é esse Cristo a quem seguimos. Não é um Cristo apenas espiritualizado, distante das dores humanas, mas o Cristo encarnado, que andou com os pobres, tocou os doentes, defendeu os excluídos, enfrentou as estruturas injustas de seu tempo e nos ensinou a amar não com palavras, mas com gestos concretos de compaixão e justiça. O Cristo do Evangelho não é um conceito, mas uma pessoa viva que age na história — especialmente por meio da sua Igreja.

Desde 1964, quando foi lançada a primeira Campanha da Fraternidade, a proposta sempre foi inspirar a vivência do tempo da Quaresma com profundidade: oração, jejum e esmola, sim, mas também compromisso com a transformação da sociedade à luz do Evangelho. A cada ano, um tema nos convida a olhar com mais atenção para uma dimensão concreta da vida que precisa ser iluminada pela Palavra de Deus. E é exatamente aí que Cristo se revela: onde há sofrimento humano, onde há injustiça, ali está o Cristo crucificado; e onde há ações de amor, justiça, escuta, solidariedade, ali está o Cristo ressuscitado.

As campanhas não têm por objetivo substituir a fé pelo ativismo, mas tornar a fé operante pelo amor, como nos ensina São Paulo (Gl 5,6). Elas são um chamado à coerência entre aquilo que professamos aos domingos e aquilo que vivemos de segunda a sábado. São um convite a transformar nossa oração em ação, e nossa devoção em compromisso. Em outras palavras: a Campanha da Fraternidade nos desafia a viver um cristianismo encarnado.

Quando a campanha trata da fome, por exemplo, Cristo está ali — porque Ele mesmo disse: “Tive fome e me destes de comer” (Mt 25,35). Quando o tema é o cuidado com a casa comum, Cristo está ali — pois Ele é o Verbo por quem todas as coisas foram criadas, e nos chama a sermos bons administradores da criação. Quando a campanha fala sobre políticas públicas, fraternidade, superação da violência, diálogo e cultura de paz, Cristo está presente — porque foi Ele quem disse: “Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9). Cada tema pode parecer, à primeira vista, “social demais” para alguns, mas todos são profundamente evangélicos, pois tocam na dignidade da vida humana e no mandamento do amor.

É importante também recordar que Cristo nos deixou um mandamento: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13,34). E esse amor não é apenas sentimental. É um amor que age, que se compromete, que serve. A Campanha da Fraternidade é um exercício quaresmal de viver esse amor de maneira concreta e transformadora. É o esforço da Igreja no Brasil para ajudar os fiéis a verem os rostos sofredores de Cristo hoje, em cada irmão e irmã feridos pelas estruturas do pecado social.

Há quem diga que certas campanhas parecem políticas, ideológicas ou “progressistas”. Mas é necessário discernir: a caridade cristã é necessariamente política, no sentido mais nobre da palavra — ou seja, relacionada à vida da polis, da cidade, da sociedade. O Papa Francisco nos lembra constantemente que a fé sem compromisso social é uma fé estéril. Ele mesmo afirma, na Evangelii Gaudium: “Nenhum cristão pode pensar que a preocupação com os pobres é uma missão reservada a alguns. Todos somos chamados a cuidar dos mais frágeis da terra.” E é exatamente isso que a Campanha da Fraternidade tenta despertar.

Portanto, ao perguntarmos “Onde está o Cristo?”, precisamos nos abrir para perceber que Ele está na ação concreta da Igreja que se movimenta com compaixão pelos dramas do povo. Cristo está nas comunidades que se organizam para debater soluções para os problemas sociais. Está nos jovens que são sensibilizados a fazer o bem. Está nos padres e leigos que se doam para formar consciências críticas e solidárias. Está no gesto da criança que compartilha o pouco que tem com o coleguinha da escola. Está no olhar da idosa que reza o terço e depois participa das reuniões para pensar a realidade do bairro.

Cristo está na proposta da Campanha da Fraternidade não como um adereço, mas como o centro. Porque Ele mesmo disse: “O que fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25,40). A campanha é, assim, um reflexo da presença de Cristo em meio ao povo, um convite para que não celebremos a Páscoa sem antes termos passado pela cruz do compromisso com os irmãos.

Em resumo, o Cristo está na Campanha da Fraternidade porque Ele é a fonte, o caminho e o objetivo de tudo que ela propõe. Que possamos, então, abrir os olhos e o coração para reconhecê-Lo, assim como os discípulos de Emaús, que só perceberam a presença do Ressuscitado ao partir do pão. Que também nós possamos reconhecê-Lo no partir do pão da solidariedade, no partir do pão da justiça e no partir do pão do amor ao próximo.

A Campanha da Fraternidade acaba com o espírito da Quaresma?

Entre tantos comentários que circulam nas comunidades e nas redes sociais durante o período quaresmal, uma dúvida tem ganhado espaço: “A Campanha da Fraternidade acaba com o espírito da Quaresma?” A resposta, com serenidade e clareza, é não. Pelo contrário: a Campanha da Fraternidade aprofunda, amplia e dá carne ao espírito da Quaresma, fazendo com que esse tempo litúrgico se torne ainda mais autêntico, mais encarnado e verdadeiramente cristão.

Mas para compreender essa afirmação, de novo, é preciso, antes, entender o que é a Quaresma e qual o seu verdadeiro espírito.

A Quaresma é o tempo litúrgico de preparação para a Páscoa. São quarenta dias de oração, penitência e caridade. É um convite à conversão, à mudança de vida e à renovação da fé. A Igreja propõe a todos os fiéis três práticas fundamentais: oração, jejum e esmola. Ou seja, não se trata apenas de um tempo de espiritualidade interior, mas também de um tempo de abertura ao outro, de solidariedade, de escuta e reconciliação com Deus, consigo mesmo e com os irmãos.

Mais uma vez, retomando a história da Campanha da Fraternidade que nasce em 1964, vemos que ela surge numa iniciativa da Igreja no Brasil que, longe de esvaziar a Quaresma, foi pensada como um instrumento para viver a Quaresma com profundidade e coerência. Ela é uma proposta concreta de conversão que nos ajuda a ver, julgar e agir à luz da fé. A cada ano, a campanha propõe um tema que toca alguma realidade sofrida ou desafiadora da sociedade e nos convida a refletir, rezar e agir de forma comprometida com o Evangelho.

Em 2025, por exemplo, a Campanha da Fraternidade tem como tema “Fraternidade e Ecologia Integral” e o lema “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). Esse tema não é algo “fora da fé”, mas profundamente bíblico e espiritual. Cuidar da criação é cuidar da obra de Deus. A destruição do meio ambiente, a poluição, o desmatamento e a exploração desenfreada da natureza afetam diretamente os mais pobres e vulneráveis, e ferem o projeto divino de harmonia entre todas as criaturas.

Logo, a pergunta se inverte: como poderíamos viver a Quaresma ignorando essas realidades? Como rezar, jejuar e dar esmola sem nos importar com o clamor da terra e o clamor dos pobres? Como preparar o coração para a Páscoa sem olhar para os irmãos que sofrem e para a criação ferida?

A espiritualidade quaresmal nos convida à conversão integral, e isso inclui uma conversão social e ecológica. O Papa Francisco nos lembra, na encíclica Laudato Si’, que tudo está interligado. Cuidar do meio ambiente é uma forma concreta de amar o próximo e de obedecer ao mandamento de Deus. Portanto, a Campanha da Fraternidade nos oferece uma oportunidade de tornar visível e operante nossa fé.

Infelizmente, algumas críticas surgem por falta de compreensão ou por uma visão reducionista da espiritualidade. A espiritualidade cristã não é fuga do mundo, mas presença transformadora nele. Jesus nos ensinou a ir ao encontro dos que sofrem, a agir com misericórdia, a denunciar o pecado — não só o individual, mas também o social e estrutural. A verdadeira espiritualidade não se fecha em si mesma: ela se torna amor ativo.

A Campanha da Fraternidade, nesse sentido, não concorre com a Quaresma — ela a encarna. Ela traduz em linguagem contemporânea aquilo que os profetas já anunciavam no Antigo Testamento: Deus não se agrada de sacrifícios vazios, mas de um coração convertido, que pratica a justiça, defende os oprimidos e cuida dos necessitados (cf. Is 1,11-17; Am 5,21-24).

Ao participar da Campanha da Fraternidade, o fiel é chamado a viver um jejum mais profundo: não apenas o jejum de alimentos, mas o jejum da indiferença, do egoísmo e da omissão. A oração se amplia: não é só súplica individual, mas intercessão por todos que sofrem. E a esmola se concretiza não apenas na oferta material, mas na doação do tempo, do cuidado e do compromisso.

Em nível comunitário, a Campanha da Fraternidade ajuda as paróquias a viverem a Quaresma em comunhão, debatendo realidades que precisam ser evangelizadas. Ela forma a consciência social dos cristãos e fortalece o laço entre fé e vida. Muitas vezes, desperta vocações para o serviço, inspira projetos sociais e transforma realidades locais — tudo isso como fruto do tempo de conversão.

Por isso, é injusto e equivocado dizer que a Campanha da Fraternidade “acaba” com o espírito da Quaresma. Na verdade, ela o amplia, o concretiza e o renova. É um instrumento precioso da Igreja do Brasil para que não celebremos uma Páscoa abstrata, mas a Páscoa da vida que vence a morte em todas as suas formas — inclusive a morte causada pela injustiça, pela exclusão e pela destruição da criação.

Portanto, acolher a Campanha da Fraternidade é acolher o chamado de Cristo à conversão. É caminhar com Ele pelo deserto da Quaresma, atentos às dores do povo e dispostos a sermos sinais de esperança. É preparar o coração para a verdadeira alegria pascal, aquela que brota de uma vida transformada pelo amor.

Que possamos viver esta Quaresma com profundidade, sabendo que oração e ação caminham juntas, e que a espiritualidade cristã verdadeira não se fecha nas práticas internas, mas se abre ao mundo como luz, sal e fermento do Reino de Deus.


REFERÊNCIAS

BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada: tradução da CNBB. Brasília: Edições CNBB, 2008.

CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB). Campanha da Fraternidade 2025: conheça o tema, a identidade visual e a oração. Brasília: CNBB, 2024. Disponível em: https://www.cnbb.org.br/campanha-da-fraternidade-2025-conheca-o-tema-a-identidade-visual-e-a-oracao/. Acesso em: 5 abr. 2025.

CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB). Campanha da Fraternidade 2025: Fraternidade e Ecologia Integral. “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). Brasília: CNBB, 2024. Disponível em: https://www.cnbb.org.br/campanha-da-fraternidade-2025-conheca-o-tema-a-identidade-visual-e-a-oracao/. Acesso em: 5 abr. 2025.

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CATÓLICA DO BRASIL (ANEC). Campanha da Fraternidade 2025. Brasília: ANEC, 2024. Disponível em: https://anec.org.br/acao/campanha-da-fraternidade-2025/. Acesso em: 5 abr. 2025.

FRANCISCO. Laudato Si’: sobre o cuidado da casa comum. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2015. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html. Acesso em: 5 abr. 2025.

RETIRO MENSAL – 5º DOMINGO DA QUARESMA – ANO C

Abril de 2025Secretariado da Espiritualidade PDDM

Todo o primeiro domingo do mês, como família religiosa, fazemos o retiro mensal com os textos bíblicos do domingo. Este primeiro domingo do mês de abril, celebramos o 5º Domingo da Quaresma – Ano C. Abaixo o roteiro para a vivência deste retiro mensal.


🕊️ ROTEIRO DO RETIRO

1. Ambiente de Oração
Prepare com carinho o espaço onde será realizado o retiro: uma mesa com toalha, a Bíblia ou o Lecionário, uma vela acesa ao centro, cadeiras dispostas em círculo. Cuide para que todas as pessoas tenham um lugar acolhedor. Inicie acendendo a vela, sinal da presença de Cristo, luz do mundo.

2. Refrão meditativo
“Misericordioso é Deus, sempre, sempre o cantarei.”
Melodia: https://www.youtube.com/watch?v=fIsINtmGu-I

3. Invocação ao Espírito Santo
Peça a presença do Espírito que ilumina, consola e conduz. Pode-se usar uma oração espontânea ou conhecida.

4. Leitura dos Textos Bíblicos do Dia

  • Evangelho: Jo 8,1-11
  • 1ª Leitura: Is 43,16-21
  • Salmo: Sl 125
  • 2ª Leitura: Fl 3,8-14

✨ APROFUNDAMENTO DOS TEXTOS

📖 Evangelho – João 8,1-11
“Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra.”

Neste 5º Domingo da Quaresma, o Evangelho segundo João nos convida a mergulhar na misericórdia de Deus, que não se resume a leis ou julgamentos, mas se manifesta como oportunidade de recomeço e salvação.

A narrativa se passa entre o Monte das Oliveiras e o templo de Jerusalém. O monte representa o lugar da intimidade de Jesus com o Pai, onde Ele assume com coragem o projeto divino de levar as pessoas à vida plena – um caminho que passa pela cruz e culmina na ressurreição. Já o templo, símbolo do poder religioso da época, torna-se o cenário onde Jesus será confrontado pelas autoridades que resistem à novidade do Reino.

Logo ao amanhecer, Jesus está no templo ensinando. Ele é como um novo sol, cuja luz dissipa as trevas da opressão e ilumina o caminho da verdadeira libertação. Nesse momento, escribas e fariseus trazem até Ele uma mulher acusada de adultério. Com a intenção de armá-lo, confrontam-no com a Lei de Moisés, que ordenava o apedrejamento. Se Jesus optasse por seguir a Lei, contrariaria as leis romanas. Se poupasse a mulher, seria acusado de desrespeitar a Tradição.

Com sabedoria divina, Jesus devolve a responsabilidade à consciência dos acusadores:
“Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra.” Diante dessa provocação, um a um se retiram, conscientes de que também carregam suas culpas. Aqueles que se colocavam como juízes reconhecem, em silêncio, sua fragilidade.

Fica então apenas Jesus e a mulher. Ele, o único sem pecado, não a condena, mas oferece a ela uma nova chance: “Eu também não te condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais.”

Neste gesto, Jesus revela o coração do Pai: um Deus que não julga para excluir, mas que acolhe para transformar. Como nos lembra o Evangelho de João (3,17), “Deus não enviou seu Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por Ele.”

Essa passagem nos desafia a abandonar o julgamento e a abrir espaço para a misericórdia. Jesus não elimina o mal punindo o pecador, mas oferecendo-lhe a possibilidade de uma vida nova. Assim também somos chamados: a sermos portadores de esperança e instrumentos da compaixão de Deus.

📖 1ª Leitura – Isaías 43,16-21
“Eis que farei coisas novas e as darei ao meu povo.”

Neste trecho do profeta Isaías, ouvimos uma poderosa mensagem de esperança e renovação. O profeta, porta-voz de Deus, dirige-se a um povo aflito, prestes a enfrentar o exílio. Suas palavras são como um bálsamo, alimentando a fé e renovando a confiança em um Deus que não abandona os seus, mesmo nos tempos de maior penúria.

Isaías relembra a travessia do Mar Vermelho — evento marcante da libertação do Egito — para reacender a memória do poder libertador de Deus. A saída da escravidão em direção à liberdade não é apenas um fato histórico, mas um sinal permanente de que Deus é aquele que transforma a dor em caminho, e a opressão em oportunidade de vida nova. É um convite para levantar os olhos e confiar novamente na ação divina.

No entanto, o profeta também alerta: não fiquem presos ao passado, às dores e mágoas. Deus está fazendo algo novo: “Eis que faço novas todas as coisas.” Essa promessa aponta para uma transformação profunda, onde até o deserto se torna lugar de vida. Deus abrirá caminhos onde antes só havia solidão, e fará brotar águas vivas, símbolo da renovação e da aliança.

A imagem da água no deserto nos remete aos antigos encontros matrimoniais dos patriarcas junto aos poços – lugares onde se formavam alianças e nasciam histórias de amor. Assim também é a relação entre Deus e seu povo: uma união profunda e fiel, comparável ao casamento, marcada pela fidelidade e fecundidade.

Essa nova realidade se estenderá a toda a criação. Homens, mulheres e até os animais se alegrarão com a abundância que Deus fará jorrar. A terra será fecundada, e todos louvarão ao Deus da providência, que salva seu povo da aridez e o conduz a uma vida plena.

📖 2ª Leitura – Filipenses 3,8-14
“Por causa de Cristo, eu perdi tudo, tornando-me semelhante a Ele em sua morte.”

Nesta carta apaixonada, escrita provavelmente durante sua prisão em Roma (por volta dos anos 61-62 d.C.), o apóstolo Paulo revela o centro de sua fé: tudo em sua vida perdeu valor diante da grandeza de conhecer e seguir Jesus Cristo.

Para Paulo, seguir Cristo não é apenas uma escolha de fé, mas uma entrega total. Ele abre mão de tudo – status, segurança, prestígio e até da própria liberdade – porque encontrou em Cristo o verdadeiro sentido da vida. Seu maior desejo é ser encontrado n’Ele, unir-se plenamente à sua paixão, morte e ressurreição.

Paulo compreende a justiça não como mérito conquistado por leis ou tradições, mas como dom gratuito de Deus, alcançado pela fé. Conhecer Cristo, para ele, é experimentar o mistério pascal na própria vida: compartilhar os sofrimentos, suportar as provações e, com esperança firme, caminhar em direção à ressurreição.

Mesmo com toda sua vivência espiritual, Paulo reconhece que ainda não chegou à meta. Mas ele se sente impulsionado pelo chamado de Deus, como um atleta que corre decidido rumo ao prêmio final. Com coragem e humildade, afirma: “Não que eu já tenha alcançado tudo… mas continuo correndo para conquistar, porque já fui conquistado por Cristo Jesus.”

Essa imagem da corrida espiritual revela um apóstolo incansável, cheio de fé e esperança. Paulo não se vangloria de suas conquistas passadas, mas vive com os olhos voltados para o futuro – para o céu, onde deseja se unir plenamente a Cristo.

Seu testemunho nos inspira a também corrermos com perseverança, deixando para trás o que nos prende, e abraçando a vida nova em Cristo. Paulo é modelo de fé viva, configurada ao Senhor, e nos convida a trilhar esse mesmo caminho de entrega, paixão e esperança.


🙏 CONCLUSÃO DO RETIRO

6. Retomar o refrão meditativo:
“Misericordioso é Deus, sempre, sempre o cantarei.”
Melodia: https://www.youtube.com/watch?v=fIsINtmGu-I

7. Partilha dos frutos da oração
Momento de escuta fraterna. Cada participante, se desejar, pode partilhar o que a Palavra de Deus tocou em seu coração.

Se você realiza este momento sozinho(a), na partilha anote os frutos da sua oração. Quando puder, partilhe com seu amigo/amiga mais próximo.

Concluir este momento cantando ou rezando o salmo da liturgia do dia: Salmo 125
Melodia: https://www.youtube.com/watch?v=sBN4U20v9Rw

8. Oração Final

  • Rezar juntos o Pai Nosso
  • Rezar a oração do dia
  • Concluir com a bênção final, agradecendo a Deus pelo encontro e pela graça de vivê-lo em comunidade.

Que este retiro fortaleça sua caminhada quaresmal e o ajude a viver mais profundamente a misericórdia, a conversão e a esperança que a Páscoa nos traz. Eis que faço novas todas as coisas” (Is 43,19)

Abaixo, o roteiro em PDF, numa versão mais ampliada:

📍 Acompanhe a Catequese Litúrgica do 5° Domingo da Quaresma.
Texto: Ir. Cidinha Batista, pddm
Voz e Edição: Ir. Neideane Monteiro, pddm
Irmãs Pias Discípulas do Divino Mestre

ALBERIONE E A LITURGIA

Por Ir. Ana Mazzurana, pddm

 A Liturgia é o Cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte donde emana toda a sua força, assim declarou o Concílio na Constituição sobre a Liturgia (SC 10). Para Alberione, esta afirmação calou fundo e veio confirmar sua intuição  de que a  liturgia devia ser  o caminho natural do seguimento de Jesus Cristo no decorrer do Ano Litúrgico.[1]

A formação litúrgica e a atividade apostólica de pe. Alberione a serviço da liturgia têm uma história: leu livros e revistas de liturgia; seguiu a indicações de Pio X para o ensino da liturgia, ao dar aula no seminário; foi cerimoniário do Bispo, com a incumbência de preparar o livro das cerimônias; deu aula de arte sacra e, sobretudo, sempre deu preferência à oração da Igreja e com a Igreja (AD, 71-77).

Cita com muita freqüência o ora et labora da Regra Beneditina eescolheu como data de fundação das Discípulas, 10 de fevereiro, data em que a Igreja faz memória Santa Escolástica, irmã de São Bento. Ele escreve: “Para vocês este dia é muito importante porque lembra o aniversário do seu nascimento.(…) Na comemoração de  Santa Escolástica, recordem a função litúrgica que tiveram os beneditinos e as beneditinas. Portanto, grande estima por tudo o que se refere à liturgia. Não fiquem no exterior, mas penetrem o íntimo da liturgia, façam  algo a mais, diferente para alcançar o verdadeiro apostolado: levar todos à Eucaristia!”[2]

Ter participado do Concílio foi para Alberione, já maduro nos anos, uma confirmação de sua missão de  comunicador do Evangelho com os meios da comunicação social  e um reconhecimento da sua espiritualidade centralizada no Mistério de Cristo, celebrado na Liturgia.

Alberione, em sua  catequese e ação pastoral, sempre procurava formar as pessoas e comunidades  à luz da liturgia. Nas homilias que fazia, referia-se não somente às leituras do dia, mas também  às orações e prefácio. Ele mesmo escreve, falando de si mesmo na terceira pessoa do singular escreve: “…era preciso explicar o evangelho nas missas,  era o que  fazia aos domingos, na catedral. Esse costume se introduziu depois em muitas paróquias…” “sentia sempre mais o gosto de rezar a oração da Igreja”.[3]

A partir dessa sua experiência, convidava a Família Paulina  a aprender dos santos padres e a fazer da liturgia uma escola de fé: “Os santos padres ajudavam a viver a liturgia, que é uma escola de fé e de oração… Seguindo a liturgia é possível elevar os corações dos irmãos ao Senhor, pois a liturgia não é só uma comemoração de fatos, mas celebração da vida, da vida de Cristo”.[4]

Tinha também uma grande preocupação com o estudo da liturgia e não medida esforços para incentivar o estudo e o cultivo da espiritualidade litúrgica: “É necessário estudar, meditar e difundir a Bíblia,… para conhecer a fonte de onde a Igreja atinge a doutrina e para alimentar nossa espiritualidade…estudar os livros litúrgicos, não só como cultura, mas como fonte de meditação e possibilidade de celebrar com inteligência e com sentimento de quem se apropria do próprio sentimento da Igreja quando celebrar a liturgia”.[5] Alberione desejava que todos, ao celebrar, pudessem “sentir a beleza da Liturgia“.

 Estudo, para Alberione, era também sabedoria da fidelidade dinâmica “precisamos seguir as leis litúrgicas, mas sempre é possível melhorá-las. Observá-las, na medida do possível, com perfeição. Mas acima de tudo interpretar o sentido das funções, o sentido das palavras”.

A Espiritualidade do Ano Litúrgico

Alberione participava ativamente do desenrolar-se do Ano Litúrgico e deixou-se tocar pelo espírito desta dinâmica. De fato, fez do Ano Litúrgico seu itinerário natural no seguimento de Jesus. Vivenciava profundamente a espiritualidade própria de cada tempo, de cada domingo, e não media esforços para formar as comunidades na espiritualidade, centralizada na Palavra de Deus, seguindo o próprio do tempo litúrgico.

Alberione, porém, não tinha a preocupação de escrever sobre o Ano Litúrgico ou a liturgia. Na verdade, ele não foi um teórico da liturgia, no sentido estrito da palavra, e sim um especialista na vivência do Mistério de Cristo celebrado na liturgia. Por isso seu jeito familiar e simples de expressar a profundidade do Mistério celebrado no diferentes tempos litúrgicos:

 “Os ciclos litúrgicos são contemplados a partir de três vertentes: preparação, celebração e frutos. O Advento é um tempo com uma característica  alegre: a espera do Messias e a grande alegria de recebê-lo: Deus conosco, o Redentor, o Salvador que vem para realizar todas as promessas. Por isso, podemos dizer que é um tempo feliz, enquanto a Quaresma é mais penitencial, tem um caráter de sobriedade, é um tempo de preparação de toda a Igreja para ajudar-nos a fazer da Páscoa, da Ressurreição de Jesus, a celebração central do grande Mistério da nossa, fé”.[6]

O Ano Litúrgico era entendido por Alberione como uma grande unidade sem a qual seria impossível perceber a totalidade do Mistério de Cristo: “O Filho de Deus assumiu um corpo, fez-se homem e morreu por nós. Preparar a Páscoa é lembrar que no Natal recebemos do céu o Filho de Deus feito homem. Nós contemplamos Jesus em Belém, no presépio. Na Páscoa vemos Jesus que se imola, fazendo-se dom e entrega de si mesmo a nós”.

Já em 1939 ele falava da dinâmica do Ano Litúrgico, entendida como um processo em espiral: “O Ano Litúrgico, com suas festas, è ordenado a três fins: conhecer Jesus; imitar Jesus; viver Jesus… O Ano Litúrgico é como o caminho que sobe uma montanha de forma circular. O viajante que a percorre se encontra a cada volta num ponto paralelo à aquele da partida, mas sempre mais no alto, até atingir o cume que é a posse do Reino”.[7]

Como instrumento de ajuda na vivencia deste itinerário, Alberione deixou algumas pistas:

“É útil ler alguns comentários que possam ajudar a entender melhor e a acolher os ensinamentos que brotam do Evangelho. Portanto, ler o Evangelho, o catecismo, os livros litúrgicos, e perguntar-nos: como Jesus viveu?  como realizou a vontade do Pai? E nós o  que estamos buscando? Procuramos a Deus como Jesus?. Amar a Palavra de Deus, desejar compreender o sentido da Palavra dita por Jesus. Olhar como Jesus fazia, pensar na sua Palavra e ao mesmo tempo senti-la e praticá-la. Este é o caminho para conhecermos melhor nosso Mestre”.  (Quaresma 1960).

Como celebrar

Alberione foi um homem atento ao Divino e ao humano. Sua preocupação era formar pessoas capazes de totalidade, mente, vontade, coração. Queria pessoas abertas e sensíveis à história, à cultura, à vida. Pessoas livres e participantes do desenrolar da história. Certamente este seu lado humano o ajudou a perceber a importância de preparar  uma celebração, que  cuidasse do espaço, da beleza, que respeitasse a comunidade celebrante,  a cultura, o tempo litúrgico, que tudo favorecesse a celebração do mistério pascal de Cristo: “Estamos na semana santa, é necessário saber explicar (ao povo), por exemplo, porque se cobre o crucifixo ou porque se usa a cor roxa,  porque existe a Páscoa, a festa de Pentecostes ou  Natal, ou ainda, porque a Igreja celebra a festa dos santos, as festas  de Nossa Senhora. Saber explicar tudo para adquirir o verdadeiro espírito da liturgia, mesmo as pequenas coisas, como o cuidado com o altar, a limpeza do espaço, as velas, as vestes. Sobretudo na semana santa preocupar-se para que todos os fiéis se acomodem e se sintam bem confortáveis no espaço litúrgico, assim poderão participar com inteligência, e coração das celebrações litúrgicas”.

O Concílio  lembra exatamente a importância desta participação plena, consciente e ativa, exigida pela própria natureza da liturgia e pelo direito que o povo tem por força do seu batismo (SC 14). “A Liturgia é como um rio  que atravessa todo o Ano: um rio de graças, de luz, de bênçãos”.

Alberione e o Concílio

Alberione seguiu atentamente a evolução do movimento litúrgico e dele falava às Irmãs Pias Discípulas, como fez por exemplo, em 1963, a respeito da Sacrosanctum Concilium, sobre a liturgia, a primeira Constituição aprovada pelo Concílio Ecumênico Vaticano II, votada também pelo pe. Alberione.

Já antes, em outubro de 1962,  portanto, durante Concílio Alberione fala às Pias Discípulas sobre suas preocupações com a reforma litúrgica: “Que o Espírito Santo derrame a suas luzes sobre todos os padres conciliares, a fim de que seja considerado apenas aquilo que melhor apresente o culto e melhor glorifique a Deus, sobretudo o que se refere à Eucaristia… se é preciso rever os livros litúrgicos – Breviário, Missal, Ritual Pontifical – também para isso precisa-se da luz de Deus, sempre na busca de compreender a mentalidade e as necessidade de hoje…é preciso caminhar, isto é, deve-se rodar segundo o desenvolvimento dos tempos…O Concílio Vaticano II vem cumprir a sua missão, que é necessária no momento atual da história e da história da Igreja. Por isso, é preciso colaborar com tudo o que se refira à liturgia, ao centro da liturgia; a Eucaristia”.

E dado que a renovação litúrgica não é só reforma do ritos, mas também a retomada de um novo contato vivo com a Bíblia, Palavra de Deus. Junto com o movimento litúrgico deve ser estudado também o movimento bíblico. Da Bíblia, de fato, é que nasce a compreensão da liturgia. Participante ativo deste movimento eclesial, pe. Alberione rezou, pregou e trabalhou muito para a compreensão e divulgação da Bíblia, e do Evangelho. O binômio Bíblia – Liturgia era, para ele, essencial, como o recorda o próprio Alberione em 1965: “essa contínua descristianização da vida, da arte, do pensamento, deve-se à falta do oxigênio litúrgico-bíblico, que durante séculos sustentou a vida do povo. Do fenômeno da separação entre liturgia e Bíblia resultaram consequências como: a grande massa não entendia mais a Missa, os sacramentos, a funções… A pregação, distante da bíblia, não era mais sentida como Palavra de Deus, e sim um raciocínio humano. A liturgia é a sacramentalidade da Bíblia…, segue-se a necessidade da Bíblia para o povo; do contrário, para o povo a liturgia nada diz, e por isso deixa de louvar a Deus e não faz uma prece consciente”

De fato, uma nova pedagogia espiritual nasceu a partir do Concilio para o crescimento, em Cristo, do povo cristão, chamado a entrar no mistério da salvação.

Em 1963 Alberione, em pleno Concílio, Alberione lembrava às Pias Discipulas: “ Rezai para que os padres conciliares sejam iluminados e todos compreendam o que é essencial na liturgia, não somente na parte técnica, mas sobretudo o espírito, o que constitui a vida. A liturgia tem um corpo esterno, mas este corpo deve ter uma alma, e a alma é o espírito”.[8]

O caminho percorrido por pe. Alberione

Na igreja do Brasil, Alberione é conhecido como o homem que dedicou toda a sua vida ao anúncio do Evangelho através da comunicação social.  Alberione, ainda jovem, intuiu  que os meios da comunicação  formariam a cultura do novo século (1900) e  dos séculos  futuros,  e consequentemente que também a Igreja, já não poderia mais evangelizar sem contar com a ajuda destes meios e das novas técnicas que haveriam de surgir. Assim dizia Alberione nos anos 50: “A imprensa, o cinema, o rádio e a televisão, constituem hoje os mais urgentes, rápidos e eficazes meios para a missão evangelizadora. Com essas técnicas, deve-se comunicar às pessoas a mensagem do Evangelho e tudo o que é bom, verdadeiro e útil”.

Mas Pe. Alberione foi também o homem da universalidade e da intimidade com Deus: “é preciso ter no coração todos os povos e fazer com que em todos os problemas, se sinta a presença da Igreja”. Seus olhos de apóstolo estavam fixos no Cristo do Evangelho, o Mestre Caminho, Verdade e Vida da humanidade. A Bíblia, a Eucaristia, a Igreja, o ecumenismo, o mundo moderno, a necessidade de novos apóstolos povoavam sua mente e fizeram dele  um grande místico, ativo e inquieto. Sua espiritualidade era alimentada nas fontes das águas puras da liturgia. Talvez esta última característica seja a menos conhecida na vida de Alberione, e com este artigo queremos  tornar conhecido um pouco do coração litúrgico deste homem do nosso tempo.


[1] Sobre a contribuição dada pelo pe. Alberione ao movimento litúrgico, há a tese de doutorado em Sagrada Liturgia da primeira mulher doutora, pelo Instituto de Santo Anselmo, em Roma. Trata-se da Pia Discípula Agnes Abayan Tapang – Giacomo Alberione – 1884-1971 – and the liturgical movement, Roma, 1988.

[2] Tiago Alberione, Opera omnia, Alle Pie Discepole Del Divin Maestro (=APD)(1946/47)98, 138-141

[3] Tiago Alberione, opera omnia, Abundantes Divitae Gratiae suae, Ed. Paulus, Roma (2000)nº 72. 140

[4] Alberione, Giacomo, Opera Omnia, 2 “Mihi vivere Christus est.”, Roma,  (1971), p.98

[5] Opera Omnia APD – 1960, p. 182

[6] Opera Omnia APD 1961, p.27

[7] Citado no livro Vade-mecum, nº 755,  St Paul publications, Roma 1989.

[8]  Tiago Alberione, APD, nº 340, 1963

141º ANIVERSÁRIO DO NASCIMENTO DO BEM ABENTURADO TIAGO ALBERIONE

4 DE ABRIL: UMA DATA DE GRATIDÃO E REFLEXÃO

Neste dia especial, celebramos com gratidão o nascimento do Bem Aventurado Tiago Alberione, fundador da Família Paulina e apóstolo incansável da comunicação a serviço do Evangelho. Nascido em 4 de abril de 1884, em San Lorenzo di Fossano, Itália, Alberione veio ao mundo em uma família humilde, mas profundamente enraizada na fé cristã. Desde cedo, sentiu-se chamado por Deus a uma grande missão: evangelizar com os meios de comunicação e formar apóstolos para o Reino de Deus.

Ele mesmo, ao longo de sua vida, reconheceu a obra da misericórdia divina sobre si. Em um de seus escritos espirituais, expressou com humildade:

“Tua misericórdia é infinita: nunca poderei compreendê-la totalmente. Quero mais adorá-la do que investigá-la. Como escolheste para ser Sacerdote […] um tão grande pecador, que previas que trairia tuas expectativas?… Foi toda e somente tua misericórdia. Sou um milagre de Deus!”
(G. Alberione, Paulo Apóstolo Inspirador e Modelo, 163-164.)

As palavras do Bem Aventurado Alberione são um chamado à confiança na graça divina e um lembrete de que a missão é um caminho a ser percorrido com fé e fidelidade. Assim como ele respondeu ao chamado divino, somos convidadas a renovar nosso compromisso missionário e a adaptar nossa evangelização aos desafios do nosso tempo, com criatividade e coragem.

O CHAMADO À RENOVAÇÃO: UMA MISSÃO PERMANENTE

A conversão pastoral é um dos grandes desafios da Igreja hoje. O Papa Francisco nos convida a repensar nossas estruturas e métodos para que estejam a serviço da missão evangelizadora, como afirmou na Evangelii Gaudium:

“Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que costumes, estilos, horários, linguagem e estruturas eclesiais se tornem um canal adequado para a evangelização do mundo atual, mais do que para a autopreservação.”
(EG 27)

Esse pensamento ressoa com as palavras de Alberione, que, ao comentar a renovação da vida religiosa, disse:

“Renovação significa ser sempre mais religiosos, a cada dia, a cada mês, a cada ano. […] Devemos nos perguntar se estamos nos renovando e melhorando.”
(APD 1966, 375)

Ser fiéis ao carisma de Alberione significa manter viva essa atitude de renovação e compromisso missionário. Precisamos nos questionar:

  • Quero ser mais perfeita?
  • Quero ainda me converter?
  • Desejo mudar para me tornar mais discípula e apóstola de Jesus?

ORAÇÃO PELO BEM AVENTURADO TIAGO ALBERIONE

Com o coração cheio de gratidão, elevemos nossa oração:

“Senhor, te agradecemos pelo nascimento da Família Paulina por meio do Bem Aventurado Tiago Alberione. Que os apóstolos do Evangelho tenham o desejo ardente de levar tua Palavra a todos os povos. Ajuda-nos a usar os meios de comunicação para o bem e a paz no mundo. Que o Bem AventuradoAlberione seja reconhecido como santo, para que sua obra de amor seja ainda mais louvada. Concede-nos seguir seus passos com fidelidade e coragem, como peregrinas da esperança. Amém.”

Que o Bem Aventurado Tiago Alberione interceda por nós, para que possamos irradiar Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida, sendo instrumentos de sua luz no mundo!

Texto escrito pelo Secretariado de Espiritualidade do Governo Geral.

78º ANIVERSÁRIO DA APROVAÇÃO DIOCESANA DAS PIAS DISCÍPULAS DO DIVINO MESTRE

Texto do Secretariado de Espiritualidade do Governo Geral PDDM

3 de abril de 2025

Neste dia especial, celebramos com gratidão o 78º aniversário da Aprovação Diocesana da Congregação das Pias Discípulas do Divino Mestre (PDDM), ocorrida em 3 de abril de 1947, na cidade de Alba. Com o coração cheio de louvor, rendemos graças ao Mestre Divino por ter suscitado nossa Congregação e confirmado-a na Igreja.

A liturgia deste dia nos convida a acolher Jesus como a manifestação do amor do Pai. Ele é o Enviado, aquele a quem o próprio Deus dá testemunho. Nossa esperança está inteiramente nele, e nosso desejo é buscar unicamente a glória do Pai.

Relembramos, com emoção, os trechos do documento de fundação do Instituto, escrito e assinado pelo Beato Timóteo Giaccardo em nome do Fundador:

“Veneráveis Pias Discípulas do Divino Mestre, em memória de sua Paixão, hoje o Divino Mestre, em seu amor sem medidas e sem limites, instituiu a Eucaristia e o Sacerdócio. Neste dia sacerdotal e no mesmo amor, Ele lhes concede uma vida jurídica nova, plena e própria, e as chama a prestar ao seu Sacerdócio um contributo de oração e apostolado, segundo sua condição e com pleno amor. […] À Venerável Mestra M. Escolástica Rivata, que foi como a nutriz das Pias Discípulas e sua Mestra até a instituição canônica própria, deseja-se que seja demonstrada filial gratidão, respeito, deferência e piedade, como todas as Pias Discípulas desejam manifestar. […] A caridade do Pai, a graça do Divino Mestre e as doces comunicações do Espírito Santo estejam sempre com vocês.”

Com alegria e espírito renovado, reafirmamos nosso compromisso de viver as quatro estrelas que guiam nossa Congregação desde o 10º Capítulo Geral: interculturalidade, missão, discernimento e formação integral e contínua. Estes são os “projetos do coração de Deus (Salmo 32) para nós, suas discípulas, na Igreja e na humanidade de hoje”.

Oremos juntas pela nossa Congregação:

“Jesus Mestre,
Te confiamos nossa Congregação.
Vive em nós, tuas discípulas,
para que, renovadas na caridade,
possamos irradiar-te no mundo
como Caminho, Verdade e Vida,
até o dia da eterna Liturgia.
Amém.”

Neste Ano Jubilar da Igreja, seguimos firmes como peregrinas da esperança, elevando nosso canto de louvor ao Senhor. Que esta celebração fortaleça nossa missão e renove nossa caminhada na fé!

A CONTRIBUIÇÃO DO VENERÁVEL FRANCISCO CHIESA PARA A FAMÍLIA PAULINA E O BEM-AVENTURADO TIAGO ALBERIONE

O Venerável Francisco Chiesa (1874-1946) foi uma figura fundamental na trajetória do Bem-Aventurado Tiago Alberione e na fundação da Família Paulina. Sacerdote piedoso e intelectual respeitado, Chiesa exerceu um papel crucial na formação espiritual e teológica de Alberione, influenciando profundamente seu pensamento e sua missão apostólica.

VIDA E FORMAÇÃO

Francisco Chiesa nasceu em Montà d’Alba (Cuneo, Piemonte) em 2 de abril de 1874. Estudou no seminário de Alba e foi ordenado sacerdote. Depois de se formar em filosofia em Roma, em teologia em Gênova e em utroque jure em Turim, dedicou-se ao ensino por mais de cinquenta anos. Lecionou especialmente no Seminário de Alba, comunicando aos jovens clérigos e padres, junto com a ciência, o espírito sacerdotal.

UM MENTOR ESPIRITUAL E INTELECTUAL

Desde os tempos de seminário, o Cônego Chiesa foi um guia para Alberione, ajudando-o a aprofundar sua compreensão da Palavra de Deus e da missão evangelizadora da Igreja. Seu testemunho de vida sacerdotal e seu compromisso com a santidade inspiraram Alberione a buscar um apostolado voltado à comunicação e à propagação do Evangelho.

PUBLICAÇÕES E TRABALHO PASTORAL

Ao mesmo tempo em que se dedicava ao ensino, Chiesa também atuou na publicação de livros e artigos para revistas. Em 1913, foi eleito pároco da paróquia dos Santos Cosme e Damião, que guiou com sabedoria e amor por 33 anos, até sua morte em 1946.

APOIO NA FUNDAÇÃO DA FAMÍLIA PAULINA

Chiesa foi um dos primeiros a incentivar Alberione na realização de sua visão: criar instituições dedicadas à evangelização pelos meios de comunicação modernos. Seu apoio moral e intelectual foi decisivo nos primeiros anos de formação da Sociedade de São Paulo e das demais congregações da Família Paulina. Durante todo o desenvolvimento da Família Paulina, ele esteve presente como diretor espiritual e conselheiro de Dom Tiago Alberione.

UM MODELO DE SANTIDADE

A influência do Venerável Chiesa transcendeu a academia e o apoio institucional. Ele encorajou Alberione a confiar na Providência Divina e a manter-se fiel à oração e ao trabalho. Sua espiritualidade e sua profunda humildade deixaram marcas indeléveis na espiritualidade paulina.

LEGADO E RECONHECIMENTO

Francisco Chiesa faleceu em Alba no dia 14 de junho de 1946. Seu testemunho de vida e santidade continua inspirando aqueles que seguem os passos da espiritualidade paulina. Em reconhecimento à sua virtude heroica, foi proclamado venerável em 11 de dezembro de 1987.

Graças à sua orientação, Alberione seguiu em frente com sua missão, fundando a grande obra da Família Paulina, que hoje continua evangelizando em todo o mundo. O Venerável Francisco Chiesa permanece como um exemplo de fidelidade, dedicação e apoio ao chamado de Deus, sendo uma inspiração para todos aqueles que seguem a espiritualidade paulina.

A RECONCILIAÇÃO QUE LIBERTA: UM CAMINHO PARA A NOVA VIDA

Domingo, 30 de Março de 2025 | 4º Domingo da Quaresma, Ano C

Leituras: Js 5,9a.10-12; Sl 33(34),2-3.4-5.6-7 (R. 9a); 2Cor 5,17-21; Lc 15,1-3.11-32

No 4º Domingo da Quaresma, Ano C, as leituras nos conduzem a uma reflexão profunda sobre a reconciliação e a transformação que ela opera em nossa vida. A primeira leitura, de Josué (Js 5,9a.10-12), narra o momento em que os israelitas celebram a Páscoa já na Terra Prometida, um marco de renovação e transição. O maná cessa, pois o povo agora se alimenta dos frutos da terra. Esta passagem simboliza a passagem do deserto para a promessa, do antigo para o novo.

No Salmo 33 (34), somos convidados a bendizer ao Senhor e confiar nele, pois Ele está sempre pronto a salvar aqueles que O buscam. O salmista nos lembra que o Senhor é refúgio para os corações atribulados, trazendo um eco da esperança que se concretiza na segunda leitura.

Na segunda carta aos Coríntios (2Cor 5,17-21), Paulo afirma: “Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura. O que era antigo passou; agora tudo é novo!”. Essa passagem reforça a ideia de que a reconciliação com Deus nos transforma radicalmente, tornando-nos embaixadores da sua paz. Cristo, ao assumir nossos pecados, nos reconcilia com o Pai, permitindo-nos experimentar uma vida renovada.

O Evangelho de Lucas (Lc 15,1-3.11-32) traz a Parábola do Filho Pródigo, um dos textos mais emblemáticos sobre misericórdia e reconciliação. O filho mais jovem, ao se afastar do pai e dissipar seus bens, simboliza a condição humana quando se distancia de Deus. Sua volta representa a consciência do erro e o desejo de reconciliação, que é recebida com alegria pelo pai. Já o filho mais velho manifesta ressentimento, incapaz de compreender a graça do perdão.

A DINÂMICA DA RECONCILIAÇÃO

A experiência do perdão e da reconciliação passa por um profundo processo interno. Muitas vezes, a busca pela liberdade nos leva a agir impulsivamente, distanciando-nos de nossas raízes e de nossa essência. O reconhecimento do erro e a aceitação da realidade nos convidam a um movimento de retorno, onde a verdadeira transformação ocorre.

O desejo de autonomia, tão presente no ser humano, pode nos levar a rupturas e desencontros. No entanto, o reencontro com aqueles que nos amam nos permite reorganizar nossa identidade e compreender que a liberdade não está na separação, mas na construção de vínculos autênticos. O ressentimento, por sua vez, surge quando não conseguimos lidar com as diferenças e com o amor incondicional, que se manifesta de formas inesperadas.

O amadurecimento emocional exige um ambiente de acolhimento, onde possamos ser aceitos sem condições. A figura do pai na parábola representa essa capacidade de receber e reintegrar, sem julgamentos, aquele que retorna arrependido. Esse acolhimento nos permite reconstruir nossa identidade e nos fortalecer para novos caminhos.

CAMINHO DE CONVERSÃO

A Quaresma é um tempo propício para refletirmos sobre nossas relações e buscarmos a reconciliação. Que possamos, à luz das Escrituras e da compreensão da condição humana, permitir que Deus transforme nosso coração, para que sejamos, como diz Paulo, “embaixadores de Cristo”, anunciadores do amor que renova todas as coisas.

A RECONCILIAÇÃO E A CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025

A Campanha da Fraternidade de 2025 traz o tema “FRATERNIDADE E ECOLOGIA INTEGRAL” e o lema “DEUS VIU QUE TUDO ERA MUITO BOM” (Gn 1,31), convidando-nos a refletir sobre a relação entre fé e responsabilidade socioambiental. Assim como a reconciliação transforma nossa relação com Deus e com o próximo, ela também deve abranger nossa relação com a criação.

A Parábola do Filho Pródigo nos mostra um caminho de transformação, no qual a reconciliação vai além da dimensão pessoal e alcança o coletivo. Da mesma forma, a ecologia integral propõe que a conversão não seja apenas espiritual, mas também uma mudança na maneira como nos relacionamos com a natureza, os recursos naturais e toda a criação divina.

Se o filho mais novo da parábola desperdiça seus bens e só percebe sua verdadeira condição ao se ver em necessidade, também a humanidade, muitas vezes, esgota os recursos da Terra sem pensar nas consequências. O retorno à casa do Pai pode ser visto como um convite à conversão ecológica, reconhecendo que a criação é um dom de Deus e que precisamos cuidar dela com responsabilidade.

A Campanha da Fraternidade 2025 nos lembra que a ecologia integral envolve aspectos sociais, econômicos e espirituais. Assim como o Pai misericordioso acolhe o filho que retorna, somos chamados a reestabelecer nossa relação com o mundo criado, promovendo justiça, sustentabilidade e respeito pela vida em todas as suas formas.

Que este tempo de Quaresma nos inspire a um compromisso renovado com a reconciliação, não apenas com Deus e com nossos irmãos, mas também com a Casa Comum, para que possamos testemunhar o amor de Deus em todas as dimensões da vida.

Para aprofundar esta reflexão, você pode assistir ao vídeo a seguir:

SUGESTÕES PARA OS CANTOS NESTA CELEBRAÇÃO:

1 – ABERTURA – EIS O TEMPO DE CONVERSÃO
Áudio: https://www.youtube.com/watch?v=eYz25RU7-Us

– SALMO 33 (34) – PROVAI E VEDE
Áudio: https://www.youtube.com/watch?v=ZfL-QcFCz5U

3 – ACLAMAÇÃO
LOUVOR E HONRA… VOU LEVANTAR-ME…
Áudio: https://www.youtube.com/watch?v=Y2eN6GmTNtc

4 – OFERENDAS – O VOSSO CORAÇÃO DE PEDDRA SE CONVERTERÁ
Áudio: https://www.youtube.com/watch?v=nI8LGfCBdp0

5 – COMUNHÃO – TANTO DEUS AMOU O MUNDO
Áudio: http://www.youtube.com/watch?v=RLc03QE221k

6 – FINAL – HINO DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025

Áudio: https://www.youtube.com/watch?v=puXg_QBgzY4

15º ENCONTRO NACIONAL DE ARQUITETURA E ARTE SACRA (ENAAS) REFLETIRÁ ESPAÇO LITÚRGICO E PIEDADE POPULAR

Estão abertas as inscrições para o XV ENAAS, de 02 a 06 de junho de 2025, em Goiânia.
Inscreva-se e participe: https://app.ciaticket.com.br/e/ENCONTROARTESACRA

15º Encontro Nacional de Arquitetura e Arte Sacra
02 a 06 de junho de 2025
Tema: Espaço Litúrgico e Piedade Popular

Sobre o ENAAS 2025

A Comissão Episcopal para Liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio do Setor Espaço Litúrgico, convida a todos para o 15º Encontro Nacional de Arquitetura e Arte Sacra (ENAAS). O evento bienal, consolidado como referência na Igreja e no meio acadêmico, ocorre em Goiânia-GO, em parceria com a Arquidiocese de Goiânia, PUC-Goiás, Santuário do Divino Pai Eterno e a Associação dos Liturgistas do Brasil (ASLI).

O ENAAS 2025 acontece em um contexto especial: o Ano Jubilar de 2025, que celebra os 60 anos do encerramento do Concílio Vaticano II. O evento promoverá um amplo debate acadêmico e interdisciplinar sobre a relação entre espaço celebrativo, liturgia e piedade popular, além da importância da preservação do patrimônio artístico e cultural da Igreja.

Local

Cidade da Comunhão – Centro Pastoral Dom Fernando (CPDF), Goiânia-GO.

Quem pode participar do 15º ENCONTRO NACIONAL DE ARQUITETURA E ARTE SACRA?

  • Estudantes, docentes e profissionais de arquitetura, engenharia e artes;
  • Padres, diáconos, seminaristas e religiosos;
  • Membros dos conselhos de economia e administração de paróquias e santuários;
  • Equipes de liturgia e leigos envolvidos em projetos de construção, reforma e decoração de igrejas;
  • Decoradores, organizadores de espaços celebrativos para eventos religiosos e técnicos de som e iluminação.

Inscrições no ENAAS:

As inscrições serão feitas pelo site da CiaTicket, com confirmação mediante pagamento da taxa:

  • 1º Lote: R$ 250,00 (28/nov/2024 a 31/dez/2024) – à vista;
  • 2º Lote: R$ 300,00 (01/jan/2025 a 31/mar/2025) – em até 2 vezes;
  • 3º Lote: R$ 350,00 (01/abr/2025 a 10/mai/2025) – à vista.

Estudantes têm 50% de desconto, mediante comprovação.

Hospedagem e Alimentação

Os participantes são responsáveis por sua hospedagem e alimentação. O evento sugere algumas opções:

Opção 1 – Cidade da Comunhão (CPDF)

Reserva diretamente pelo Centro Pastoral Dom Fernando. Valores incluem hospedagem de 02 a 06 de junho de 2025:

  • Quarto triplo (ventilador): R$ 240,00/pessoa
  • Quarto casal (ventilador): R$ 280,00/pessoa
  • Quarto duplo (ar-condicionado): R$ 400,00/pessoa
  • Quarto individual (ventilador): R$ 400,00/pessoa

Contato: Karla – WhatsApp: (62) 98178-0249
Pagamento via PIX: cpdf@arquidiocesedegoiania.org.br

Opção 2 – Hotel Santos Dumont

  • Quarto individual: R$ 298,00 (diária c/ café da manhã)
  • Quarto duplo: R$ 385,00 (diária c/ café da manhã)
  • Quarto triplo: R$ 480,00 (diária c/ café da manhã)

Opção 3 – Airbnb e Outras Modalidades

O participante pode escolher outras opções, considerando custo e deslocamento.

Pacote de Alimentação

Valor: R$ 530,00/pessoa (inclui todas as refeições durante o evento).
Pagamento até 10 de maio de 2025.
Contato: Karla – WhatsApp: (62) 98178-0249
PIX: cpdf@arquidiocesedegoiania.org.br

Seminários

Os participantes poderão se inscrever em 2 Seminários Temáticos, realizados nos dias 03 e 04 de junho. Inscrição a partir de 10 de março de 2025 pelo site: enaas2025.com.

Comunicações Científicas

Alunos de Graduação (TCC), Iniciação Científica, pós-graduandos, mestres e doutores podem submeter trabalhos.
Prazo para envio de resumos: 31 de março de 2025
Divulgação dos aprovados: 12 de abril de 2025
Edital completo no site: enaas2025.com

Outras Informações

A programação detalhada e a lista de palestrantes confirmados serão divulgadas nas redes sociais do Setor Espaço Litúrgico.

Dúvidas?
Contato: Raquel Tonini Schneider (assessora do Setor Espaço Litúrgico)
WhatsApp: (27) 99941-4644
E-mail: espacoliturgico@cnbb.org.br