SEGUNDA-FEIRA DA SEMANA SANTA: ACOMPANHAR JESUS COM A LITURGIA

As leituras de hoje, Segunda-feira da Semana Santa, (Is 42,1-7; Sl 26(27),1.2.3.13-14; Jo 12,1-11) nos convidam a entrar mais profundamente no mistério da missão de Jesus. Estamos diante de um retrato belíssimo do Servo de Deus, que vem para restaurar, consolar e transformar — não com violência, mas com mansidão, fidelidade e justiça.

O Servo e a Justiça (Isaías 42,1-7)
O profeta Isaías apresenta o “Servo do Senhor”, escolhido por Deus, cheio do Espírito, que traz a justiça às nações. Ele não grita nem quebra o caniço rachado — ao contrário, sustenta e restaura. Esse Servo é figura do próprio Cristo, que caminha com firmeza e compaixão, especialmente junto dos que sofrem e estão à margem. Ele vem como luz para as nações e libertador dos que vivem em trevas.

Confiança em Meio às Provações (Salmo 26(27))
O salmista faz eco a essa esperança, proclamando com força: “O Senhor é minha luz e salvação; de quem terei medo?” Mesmo diante de adversários e perigos, ele mantém os olhos fixos em Deus. Essa confiança serena nos prepara para entender o que significa seguir o Cristo: mesmo quando tudo parece escuro, há uma luz que não se apaga.

Perfume de Entrega (João 12,1-11)
No Evangelho, estamos na casa de Lázaro, seis dias antes da Páscoa. Maria unge os pés de Jesus com um perfume caríssimo, gesto de amor, reverência e antecipação de sua morte. Judas critica, mas Jesus defende Maria: ela entendeu que o tempo era de entrega. Esse perfume enche a casa — assim como o amor verdadeiro deixa marcas profundas onde passa.

Curiosamente, esse gesto se contrapõe à frieza dos que já tramavam a morte não só de Jesus, mas também de Lázaro, cujo testemunho se tornara incômodo. A luz brilha, mas nem todos a acolhem.

Por que este gesto se contrapõe à frieza dos que tramavam a morte de Jesus? O gesto de Maria é gratuito, generoso e profundamente íntimo. Ela unge os pés de Jesus com um perfume caríssimo (nardo puro) e os enxuga com os cabelos — um sinal de adoração, humildade e amor sem reservas. Isso não é só um gesto bonito, é uma declaração de quem ela entende quem é Jesus. Ela o honra como Senhor, como alguém por quem vale a pena gastar o melhor.

Já os líderes religiosos e Judas (neste texto, símbolo do cálculo e da hipocrisia) agem movidos por medo, ciúme e autopreservação. Eles não estão dispostos a perder nada — nem poder, nem prestígio, nem segurança. Por isso tramam a morte de Jesus. Onde Maria vê vida e redenção, eles veem ameaça.

Maria valoriza a presença de Jesus; os outros querem eliminá-la. Maria se coloca aos pés de Jesus — posição de discípula, de quem reconhece sua autoridade e quer aprender com Ele. É um momento de presença real, de escuta silenciosa e amorosa.

Por outro lado, os que conspiram contra Jesus (inclusive muitos dos chefes dos judeus mencionados no texto) não suportam essa presença. Ela incomoda, denuncia, desinstala. O gesto de Maria mostra o quanto é possível se aproximar de Jesus; a conspiração mostra o quanto o coração humano pode se fechar para essa presença.

O gesto de Maria antecipa a paixão; os outros se preparam para executá-la. Jesus mesmo diz: “Deixa-a. Ela fez isto em vista do dia da minha sepultura.” Maria, talvez sem compreender tudo, intui que a hora de Jesus se aproxima. Seu gesto de unção antecipa o que virá: a morte, o sepultamento, a entrega total. Ela acompanha Jesus com amor até o fim.

Enquanto isso, os que tramam sua morte estão endurecendo seus corações, apressando os planos de executá-lo. É como se o amor e o ódio caminhassem lado a lado, mas em direções opostas. Maria representa o amor que reconhece e acolhe. Os conspiradores representam o medo que rejeita e destrói.

O gesto de Maria é um ícone do discipulado verdadeiro: entrega, escuta, amor, presença. Ele ilumina a dureza dos corações que preferem o poder à verdade, o controle ao amor. É um lembrete para nós também: em qual grupo estamos? Somos daqueles que, como Maria, se aproximam de Jesus e o honram com tudo o que têm? Ou nos deixamos levar pela lógica do cálculo, da conveniência, do medo?

Caminhar com o Servo
Essas leituras nos colocam num ponto de decisão: seguir o caminho do Servo, confiando em Deus como luz e salvação, ou nos deixar levar pela lógica do poder, do cálculo, da indiferença. Maria escolhe o amor sem medidas. Isaías fala de um servo que não desiste até que a justiça floresça. O salmista escolhe esperar com coragem.

Neste início de Semana Santa, somos convidados a nos deixar perfumar por esse amor que se entrega. Que nossas atitudes também possam “encher a casa” de esperança, serviço e paz.

POR QUE A SEMANA SANTA AINDA IMPORTA EM 2025?

A Semana Santa é o ponto culminante do ano litúrgico da Igreja. Celebrada pelos cristãos do mundo inteiro, ela nos convida a entrar profundamente no mistério central da nossa fé: a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. Não se trata apenas de recordar um evento passado, mas de vivê-lo liturgicamente, permitindo que a graça da salvação alcance hoje o nosso coração e transforme a nossa vida.

Cada dia da Semana Santa possui um significado especial. O Domingo de Ramos abre as celebrações, recordando a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, acolhido como Rei pelos que dias depois clamariam por sua crucifixão. A liturgia deste dia nos convida a refletir sobre a fragilidade humana e a fidelidade de Cristo.

Na Quinta-feira Santa, a Igreja celebra a instituição da Eucaristia e do sacerdócio, durante a Última Ceia. É também o momento em que Jesus lava os pés dos discípulos, gesto de humildade que nos ensina o caminho do serviço. A celebração se encerra com a transposição simbólica de Jesus ao Horto das Oliveiras, marcando o início de sua Paixão.

A Sexta-feira Santa é o único dia em que não se celebra a Eucaristia. Em silêncio e reverência, os fiéis participam da Celebração da Paixão do Senhor, contemplando a cruz como sinal de amor supremo e redenção. É um dia de jejum, oração e profunda meditação.

O Sábado Santo é marcado pelo silêncio e pela espera. A Igreja permanece em vigília, junto ao túmulo do Senhor, preparando-se para a grande celebração da Vigília Pascal. Na noite do Sábado, a luz do Cristo Ressuscitado rompe as trevas, e a alegria da Ressurreição transforma o luto em júbilo. É a celebração mais importante de todo o ano litúrgico.

Participar da Semana Santa é entrar no coração da fé cristã. É permitir que o amor de Deus, manifestado na Cruz e confirmado na Ressurreição, renove nossa esperança e nos impulsione a viver como discípulos de Cristo no mundo.

Semana Santa

Cronograma da Semana Santa:

📅 Domingo de Ramos da Paixão do Senhor
Evangelho: Mt 21,1-11; Mt 26,14 – 27,66
Jesus é acolhido em Jerusalém como Rei, mas a liturgia já nos conduz ao mistério de sua Paixão.
🕊️ “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor!” (Mt 21,9)

📅 Segunda-feira Santa
Evangelho: Jo 12,1-11
Jesus é ungido em Betânia. Maria reconhece sua dignidade e se antecipa à sua paixão.
🕊️ “Deixa-a, que ela guarde isto para o dia da minha sepultura.” (Jo 12,7)

📅 Terça-feira Santa
Evangelho: Jo 13,21-33.36-38
Jesus anuncia a traição de Judas e a negação de Pedro.
🕊️ “Antes que o galo cante, tu me negarás três vezes.” (Jo 13,38)

📅 Quarta-feira Santa
Evangelho: Mt 26,14-25
Dia em que Judas Iscariotes trama a traição. Conhecida como a “Quarta-feira das Trevas”.
🕊️ “O Filho do Homem vai morrer, conforme está escrito, mas ai daquele por quem o Filho do Homem é traído!” (Mt 26,24)

📅 Quinta-feira Santa – Ceia do Senhor
Evangelho: Jo 13,1-15
Celebramos a instituição da Eucaristia e do sacerdócio ministerial. Jesus lava os pés dos discípulos, ensinando-nos o amor-serviço.
🕊️ “Eu vos dei o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz a vós.” (Jo 13,15)

📅 Sexta-feira Santa – Paixão do Senhor
Evangelho: Jo 18,1 – 19,42
Dia de jejum, silêncio e veneração da Cruz. A Igreja contempla com reverência o mistério da Cruz de Cristo.
🕊️ “Tudo está consumado.” (Jo 19,30)

📅 Sábado Santo – Vigília Pascal
No silêncio do túmulo, a Igreja espera a Ressurreição. À noite, celebra-se a Vigília Pascal, a “mãe de todas as vigílias”.
🕊️ “Por que estais procurando entre os mortos aquele que está vivo?” (Lc 24,5)

📅 Domingo de Páscoa – Ressurreição do Senhor
Evangelho: Jo 20,1-9
Cristo ressuscitou! A vida venceu a morte, e a esperança renasce no coração dos fiéis.
🕊️ “Ele viu e acreditou.” (Jo 20,8)

Semana Santa: Um Convite à Conversão Profunda

Participar da Semana Santa é mais do que acompanhar rituais religiosos. É permitir que o amor de Deus, manifestado na Cruz e confirmado na Ressurreição, transforme o nosso modo de viver. Como diz São Paulo: “Se com Cristo morremos, com Ele também viveremos.” (Rm 6,8)

A Semana Santa não é apenas uma sucessão de ritos sagrados. Ela é, acima de tudo, um espelho que confronta o nosso interior, uma travessia espiritual que nos convida à conversão – não como um dever moral imposto de fora, mas como um movimento íntimo, necessário e transformador.

Liturgia que nos atravessa

A cada dia da Semana Santa, a liturgia da Igreja nos conduz por cenas profundamente humanas: a aclamação entusiasmada que se transforma em rejeição, a traição que nasce no meio dos amigos, o silêncio de Deus diante do sofrimento inocente, o medo da perda, a fuga dos discípulos, o abandono, o luto… e, enfim, a vida que ressurge quando parecia já não haver saída.

Esses momentos não são apenas memórias do passado. Eles são vividos aqui e agora, em nós. A liturgia nos envolve para que passemos, com Cristo, por esses desertos interiores. Como escreveu Santo Agostinho: “Cristo sofreu por nós para que aprendêssemos a sofrer n’Ele.”

Conversão como travessia

Na teologia cristã, conversão (do latim conversio) significa mudança de direção, retorno a Deus, reencontro com a Verdade. Mas essa virada não é apenas racional. É existencial. A cruz que contemplamos não está apenas sobre o altar: ela revela também nossas contradições, nossas feridas, nossas negações internas.

Ao olhar para Cristo que sofre calado, somos convidados a reconhecer aquilo que em nós resiste ao amor, se fecha ao perdão, se esconde da verdade. A conversão, então, não é medo do castigo, mas coragem de encarar a própria sombra, à luz daquele que tudo redime.

Caminho do autoconhecimento

Sob uma perspectiva psicanalítica, poderíamos dizer que a Semana Santa nos obriga a sair das defesas do ego e nos deparar com conteúdos reprimidos – traições internas, impulsos de fuga, desejos ambivalentes, perdas não elaboradas. Judas, Pedro, Pilatos, Maria, Simão de Cirene… todos representam partes de nós.

A paixão de Cristo é um roteiro profundamente humano. É ali que percebemos como o inconsciente atua nos grandes dilemas: entre amor e medo, entre entrega e controle, entre confiança e autossabotagem. Converter-se, portanto, é também integrar, reconhecer o que em nós precisa ser reconciliado.

A cruz como lugar de reconciliação

No ponto culminante da Semana Santa — a Cruz — não vemos apenas o sofrimento de um inocente, mas um gesto absoluto de amor e reconciliação. Cristo, ao entregar-se livremente, cura a ruptura entre Deus e a humanidade. E, ao fazê-lo, nos convida a reconciliar também as rupturas dentro de nós: com o outro, com o passado, com Deus, e com aquilo que somos de verdade.

🕊️ “Ele foi ferido por causa de nossas transgressões, esmagado por causa de nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele.” (Is 53,5)

Por que a Semana Santa é um convite à conversão?

Porque ela nos tira da superficialidade.
Porque nos confronta com o essencial.
Porque nos revela que a mudança não é só possível — é necessária.
Porque nos lembra que a morte, quando vivida com amor, gera vida nova.
E porque, ao final da dor, sempre há ressurreição.

Que esta semana sagrada seja vivida com fé, silêncio interior e espírito de conversão, abrindo nosso coração para o grande dom da vida nova em Cristo.


REFERÊNCIAS:

BÍBLIA. Bíblia Sagrada. Tradução da CNBB. 2. ed. Brasília: Edições CNBB, 2008.

RATZINGER, Joseph (Papa Bento XVI). Introdução ao Cristianismo. São Paulo: Loyola, 2005.

RATZINGER, Joseph. O espírito da liturgia. São Paulo: Loyola, 2001.

REVISTA DE LITURGIA. Semana Santa: Paixão e Ressurreição do Senhor. Ano 38, n. 152, mar./abr. 2007. São Paulo: Pias Discípulas do Divino Mestre.

REVISTA DE LITURGIA. Abrir a porta ao mistério e acender as luzes da fé. São Paulo: Pias Discípulas do Divino Mestre, n. 308, mar./abr. 2025.

REVISTA DE LITURGIA. Do livro à Palavra. São Paulo: Pias Discípulas do Divino Mestre, n. 307, jan./fev. 2025.

REVISTA DE LITURGIA. Oração, Missal Romano e experiência de Deus. São Paulo: Pias Discípulas do Divino Mestre, n. 306, nov./dez. 2024.

REVISTA DE LITURGIA. Semana Santa: Paixão e Ressurreição do Senhor. São Paulo: Pias Discípulas do Divino Mestre, n. 152, mar./abr. 2007.

AUGUSTINUS, Aurelius. Confissões. Trad. J. Oliveira Santos. São Paulo: Paulus, 1999.

FREUD, Sigmund. O ego e o id. Trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

JUNG, Carl Gustav. A psicologia da transferência. Petrópolis: Vozes, 2013.

KÜNG, Hans. Ser Cristão. São Paulo: Verus, 2005.

ALBERIONE E A LITURGIA

Por Ir. Ana Mazzurana, pddm

 A Liturgia é o Cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte donde emana toda a sua força, assim declarou o Concílio na Constituição sobre a Liturgia (SC 10). Para Alberione, esta afirmação calou fundo e veio confirmar sua intuição  de que a  liturgia devia ser  o caminho natural do seguimento de Jesus Cristo no decorrer do Ano Litúrgico.[1]

A formação litúrgica e a atividade apostólica de pe. Alberione a serviço da liturgia têm uma história: leu livros e revistas de liturgia; seguiu a indicações de Pio X para o ensino da liturgia, ao dar aula no seminário; foi cerimoniário do Bispo, com a incumbência de preparar o livro das cerimônias; deu aula de arte sacra e, sobretudo, sempre deu preferência à oração da Igreja e com a Igreja (AD, 71-77).

Cita com muita freqüência o ora et labora da Regra Beneditina eescolheu como data de fundação das Discípulas, 10 de fevereiro, data em que a Igreja faz memória Santa Escolástica, irmã de São Bento. Ele escreve: “Para vocês este dia é muito importante porque lembra o aniversário do seu nascimento.(…) Na comemoração de  Santa Escolástica, recordem a função litúrgica que tiveram os beneditinos e as beneditinas. Portanto, grande estima por tudo o que se refere à liturgia. Não fiquem no exterior, mas penetrem o íntimo da liturgia, façam  algo a mais, diferente para alcançar o verdadeiro apostolado: levar todos à Eucaristia!”[2]

Ter participado do Concílio foi para Alberione, já maduro nos anos, uma confirmação de sua missão de  comunicador do Evangelho com os meios da comunicação social  e um reconhecimento da sua espiritualidade centralizada no Mistério de Cristo, celebrado na Liturgia.

Alberione, em sua  catequese e ação pastoral, sempre procurava formar as pessoas e comunidades  à luz da liturgia. Nas homilias que fazia, referia-se não somente às leituras do dia, mas também  às orações e prefácio. Ele mesmo escreve, falando de si mesmo na terceira pessoa do singular escreve: “…era preciso explicar o evangelho nas missas,  era o que  fazia aos domingos, na catedral. Esse costume se introduziu depois em muitas paróquias…” “sentia sempre mais o gosto de rezar a oração da Igreja”.[3]

A partir dessa sua experiência, convidava a Família Paulina  a aprender dos santos padres e a fazer da liturgia uma escola de fé: “Os santos padres ajudavam a viver a liturgia, que é uma escola de fé e de oração… Seguindo a liturgia é possível elevar os corações dos irmãos ao Senhor, pois a liturgia não é só uma comemoração de fatos, mas celebração da vida, da vida de Cristo”.[4]

Tinha também uma grande preocupação com o estudo da liturgia e não medida esforços para incentivar o estudo e o cultivo da espiritualidade litúrgica: “É necessário estudar, meditar e difundir a Bíblia,… para conhecer a fonte de onde a Igreja atinge a doutrina e para alimentar nossa espiritualidade…estudar os livros litúrgicos, não só como cultura, mas como fonte de meditação e possibilidade de celebrar com inteligência e com sentimento de quem se apropria do próprio sentimento da Igreja quando celebrar a liturgia”.[5] Alberione desejava que todos, ao celebrar, pudessem “sentir a beleza da Liturgia“.

 Estudo, para Alberione, era também sabedoria da fidelidade dinâmica “precisamos seguir as leis litúrgicas, mas sempre é possível melhorá-las. Observá-las, na medida do possível, com perfeição. Mas acima de tudo interpretar o sentido das funções, o sentido das palavras”.

A Espiritualidade do Ano Litúrgico

Alberione participava ativamente do desenrolar-se do Ano Litúrgico e deixou-se tocar pelo espírito desta dinâmica. De fato, fez do Ano Litúrgico seu itinerário natural no seguimento de Jesus. Vivenciava profundamente a espiritualidade própria de cada tempo, de cada domingo, e não media esforços para formar as comunidades na espiritualidade, centralizada na Palavra de Deus, seguindo o próprio do tempo litúrgico.

Alberione, porém, não tinha a preocupação de escrever sobre o Ano Litúrgico ou a liturgia. Na verdade, ele não foi um teórico da liturgia, no sentido estrito da palavra, e sim um especialista na vivência do Mistério de Cristo celebrado na liturgia. Por isso seu jeito familiar e simples de expressar a profundidade do Mistério celebrado no diferentes tempos litúrgicos:

 “Os ciclos litúrgicos são contemplados a partir de três vertentes: preparação, celebração e frutos. O Advento é um tempo com uma característica  alegre: a espera do Messias e a grande alegria de recebê-lo: Deus conosco, o Redentor, o Salvador que vem para realizar todas as promessas. Por isso, podemos dizer que é um tempo feliz, enquanto a Quaresma é mais penitencial, tem um caráter de sobriedade, é um tempo de preparação de toda a Igreja para ajudar-nos a fazer da Páscoa, da Ressurreição de Jesus, a celebração central do grande Mistério da nossa, fé”.[6]

O Ano Litúrgico era entendido por Alberione como uma grande unidade sem a qual seria impossível perceber a totalidade do Mistério de Cristo: “O Filho de Deus assumiu um corpo, fez-se homem e morreu por nós. Preparar a Páscoa é lembrar que no Natal recebemos do céu o Filho de Deus feito homem. Nós contemplamos Jesus em Belém, no presépio. Na Páscoa vemos Jesus que se imola, fazendo-se dom e entrega de si mesmo a nós”.

Já em 1939 ele falava da dinâmica do Ano Litúrgico, entendida como um processo em espiral: “O Ano Litúrgico, com suas festas, è ordenado a três fins: conhecer Jesus; imitar Jesus; viver Jesus… O Ano Litúrgico é como o caminho que sobe uma montanha de forma circular. O viajante que a percorre se encontra a cada volta num ponto paralelo à aquele da partida, mas sempre mais no alto, até atingir o cume que é a posse do Reino”.[7]

Como instrumento de ajuda na vivencia deste itinerário, Alberione deixou algumas pistas:

“É útil ler alguns comentários que possam ajudar a entender melhor e a acolher os ensinamentos que brotam do Evangelho. Portanto, ler o Evangelho, o catecismo, os livros litúrgicos, e perguntar-nos: como Jesus viveu?  como realizou a vontade do Pai? E nós o  que estamos buscando? Procuramos a Deus como Jesus?. Amar a Palavra de Deus, desejar compreender o sentido da Palavra dita por Jesus. Olhar como Jesus fazia, pensar na sua Palavra e ao mesmo tempo senti-la e praticá-la. Este é o caminho para conhecermos melhor nosso Mestre”.  (Quaresma 1960).

Como celebrar

Alberione foi um homem atento ao Divino e ao humano. Sua preocupação era formar pessoas capazes de totalidade, mente, vontade, coração. Queria pessoas abertas e sensíveis à história, à cultura, à vida. Pessoas livres e participantes do desenrolar da história. Certamente este seu lado humano o ajudou a perceber a importância de preparar  uma celebração, que  cuidasse do espaço, da beleza, que respeitasse a comunidade celebrante,  a cultura, o tempo litúrgico, que tudo favorecesse a celebração do mistério pascal de Cristo: “Estamos na semana santa, é necessário saber explicar (ao povo), por exemplo, porque se cobre o crucifixo ou porque se usa a cor roxa,  porque existe a Páscoa, a festa de Pentecostes ou  Natal, ou ainda, porque a Igreja celebra a festa dos santos, as festas  de Nossa Senhora. Saber explicar tudo para adquirir o verdadeiro espírito da liturgia, mesmo as pequenas coisas, como o cuidado com o altar, a limpeza do espaço, as velas, as vestes. Sobretudo na semana santa preocupar-se para que todos os fiéis se acomodem e se sintam bem confortáveis no espaço litúrgico, assim poderão participar com inteligência, e coração das celebrações litúrgicas”.

O Concílio  lembra exatamente a importância desta participação plena, consciente e ativa, exigida pela própria natureza da liturgia e pelo direito que o povo tem por força do seu batismo (SC 14). “A Liturgia é como um rio  que atravessa todo o Ano: um rio de graças, de luz, de bênçãos”.

Alberione e o Concílio

Alberione seguiu atentamente a evolução do movimento litúrgico e dele falava às Irmãs Pias Discípulas, como fez por exemplo, em 1963, a respeito da Sacrosanctum Concilium, sobre a liturgia, a primeira Constituição aprovada pelo Concílio Ecumênico Vaticano II, votada também pelo pe. Alberione.

Já antes, em outubro de 1962,  portanto, durante Concílio Alberione fala às Pias Discípulas sobre suas preocupações com a reforma litúrgica: “Que o Espírito Santo derrame a suas luzes sobre todos os padres conciliares, a fim de que seja considerado apenas aquilo que melhor apresente o culto e melhor glorifique a Deus, sobretudo o que se refere à Eucaristia… se é preciso rever os livros litúrgicos – Breviário, Missal, Ritual Pontifical – também para isso precisa-se da luz de Deus, sempre na busca de compreender a mentalidade e as necessidade de hoje…é preciso caminhar, isto é, deve-se rodar segundo o desenvolvimento dos tempos…O Concílio Vaticano II vem cumprir a sua missão, que é necessária no momento atual da história e da história da Igreja. Por isso, é preciso colaborar com tudo o que se refira à liturgia, ao centro da liturgia; a Eucaristia”.

E dado que a renovação litúrgica não é só reforma do ritos, mas também a retomada de um novo contato vivo com a Bíblia, Palavra de Deus. Junto com o movimento litúrgico deve ser estudado também o movimento bíblico. Da Bíblia, de fato, é que nasce a compreensão da liturgia. Participante ativo deste movimento eclesial, pe. Alberione rezou, pregou e trabalhou muito para a compreensão e divulgação da Bíblia, e do Evangelho. O binômio Bíblia – Liturgia era, para ele, essencial, como o recorda o próprio Alberione em 1965: “essa contínua descristianização da vida, da arte, do pensamento, deve-se à falta do oxigênio litúrgico-bíblico, que durante séculos sustentou a vida do povo. Do fenômeno da separação entre liturgia e Bíblia resultaram consequências como: a grande massa não entendia mais a Missa, os sacramentos, a funções… A pregação, distante da bíblia, não era mais sentida como Palavra de Deus, e sim um raciocínio humano. A liturgia é a sacramentalidade da Bíblia…, segue-se a necessidade da Bíblia para o povo; do contrário, para o povo a liturgia nada diz, e por isso deixa de louvar a Deus e não faz uma prece consciente”

De fato, uma nova pedagogia espiritual nasceu a partir do Concilio para o crescimento, em Cristo, do povo cristão, chamado a entrar no mistério da salvação.

Em 1963 Alberione, em pleno Concílio, Alberione lembrava às Pias Discipulas: “ Rezai para que os padres conciliares sejam iluminados e todos compreendam o que é essencial na liturgia, não somente na parte técnica, mas sobretudo o espírito, o que constitui a vida. A liturgia tem um corpo esterno, mas este corpo deve ter uma alma, e a alma é o espírito”.[8]

O caminho percorrido por pe. Alberione

Na igreja do Brasil, Alberione é conhecido como o homem que dedicou toda a sua vida ao anúncio do Evangelho através da comunicação social.  Alberione, ainda jovem, intuiu  que os meios da comunicação  formariam a cultura do novo século (1900) e  dos séculos  futuros,  e consequentemente que também a Igreja, já não poderia mais evangelizar sem contar com a ajuda destes meios e das novas técnicas que haveriam de surgir. Assim dizia Alberione nos anos 50: “A imprensa, o cinema, o rádio e a televisão, constituem hoje os mais urgentes, rápidos e eficazes meios para a missão evangelizadora. Com essas técnicas, deve-se comunicar às pessoas a mensagem do Evangelho e tudo o que é bom, verdadeiro e útil”.

Mas Pe. Alberione foi também o homem da universalidade e da intimidade com Deus: “é preciso ter no coração todos os povos e fazer com que em todos os problemas, se sinta a presença da Igreja”. Seus olhos de apóstolo estavam fixos no Cristo do Evangelho, o Mestre Caminho, Verdade e Vida da humanidade. A Bíblia, a Eucaristia, a Igreja, o ecumenismo, o mundo moderno, a necessidade de novos apóstolos povoavam sua mente e fizeram dele  um grande místico, ativo e inquieto. Sua espiritualidade era alimentada nas fontes das águas puras da liturgia. Talvez esta última característica seja a menos conhecida na vida de Alberione, e com este artigo queremos  tornar conhecido um pouco do coração litúrgico deste homem do nosso tempo.


[1] Sobre a contribuição dada pelo pe. Alberione ao movimento litúrgico, há a tese de doutorado em Sagrada Liturgia da primeira mulher doutora, pelo Instituto de Santo Anselmo, em Roma. Trata-se da Pia Discípula Agnes Abayan Tapang – Giacomo Alberione – 1884-1971 – and the liturgical movement, Roma, 1988.

[2] Tiago Alberione, Opera omnia, Alle Pie Discepole Del Divin Maestro (=APD)(1946/47)98, 138-141

[3] Tiago Alberione, opera omnia, Abundantes Divitae Gratiae suae, Ed. Paulus, Roma (2000)nº 72. 140

[4] Alberione, Giacomo, Opera Omnia, 2 “Mihi vivere Christus est.”, Roma,  (1971), p.98

[5] Opera Omnia APD – 1960, p. 182

[6] Opera Omnia APD 1961, p.27

[7] Citado no livro Vade-mecum, nº 755,  St Paul publications, Roma 1989.

[8]  Tiago Alberione, APD, nº 340, 1963

A RECONCILIAÇÃO QUE LIBERTA: UM CAMINHO PARA A NOVA VIDA

Domingo, 30 de Março de 2025 | 4º Domingo da Quaresma, Ano C

Leituras: Js 5,9a.10-12; Sl 33(34),2-3.4-5.6-7 (R. 9a); 2Cor 5,17-21; Lc 15,1-3.11-32

No 4º Domingo da Quaresma, Ano C, as leituras nos conduzem a uma reflexão profunda sobre a reconciliação e a transformação que ela opera em nossa vida. A primeira leitura, de Josué (Js 5,9a.10-12), narra o momento em que os israelitas celebram a Páscoa já na Terra Prometida, um marco de renovação e transição. O maná cessa, pois o povo agora se alimenta dos frutos da terra. Esta passagem simboliza a passagem do deserto para a promessa, do antigo para o novo.

No Salmo 33 (34), somos convidados a bendizer ao Senhor e confiar nele, pois Ele está sempre pronto a salvar aqueles que O buscam. O salmista nos lembra que o Senhor é refúgio para os corações atribulados, trazendo um eco da esperança que se concretiza na segunda leitura.

Na segunda carta aos Coríntios (2Cor 5,17-21), Paulo afirma: “Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura. O que era antigo passou; agora tudo é novo!”. Essa passagem reforça a ideia de que a reconciliação com Deus nos transforma radicalmente, tornando-nos embaixadores da sua paz. Cristo, ao assumir nossos pecados, nos reconcilia com o Pai, permitindo-nos experimentar uma vida renovada.

O Evangelho de Lucas (Lc 15,1-3.11-32) traz a Parábola do Filho Pródigo, um dos textos mais emblemáticos sobre misericórdia e reconciliação. O filho mais jovem, ao se afastar do pai e dissipar seus bens, simboliza a condição humana quando se distancia de Deus. Sua volta representa a consciência do erro e o desejo de reconciliação, que é recebida com alegria pelo pai. Já o filho mais velho manifesta ressentimento, incapaz de compreender a graça do perdão.

A DINÂMICA DA RECONCILIAÇÃO

A experiência do perdão e da reconciliação passa por um profundo processo interno. Muitas vezes, a busca pela liberdade nos leva a agir impulsivamente, distanciando-nos de nossas raízes e de nossa essência. O reconhecimento do erro e a aceitação da realidade nos convidam a um movimento de retorno, onde a verdadeira transformação ocorre.

O desejo de autonomia, tão presente no ser humano, pode nos levar a rupturas e desencontros. No entanto, o reencontro com aqueles que nos amam nos permite reorganizar nossa identidade e compreender que a liberdade não está na separação, mas na construção de vínculos autênticos. O ressentimento, por sua vez, surge quando não conseguimos lidar com as diferenças e com o amor incondicional, que se manifesta de formas inesperadas.

O amadurecimento emocional exige um ambiente de acolhimento, onde possamos ser aceitos sem condições. A figura do pai na parábola representa essa capacidade de receber e reintegrar, sem julgamentos, aquele que retorna arrependido. Esse acolhimento nos permite reconstruir nossa identidade e nos fortalecer para novos caminhos.

CAMINHO DE CONVERSÃO

A Quaresma é um tempo propício para refletirmos sobre nossas relações e buscarmos a reconciliação. Que possamos, à luz das Escrituras e da compreensão da condição humana, permitir que Deus transforme nosso coração, para que sejamos, como diz Paulo, “embaixadores de Cristo”, anunciadores do amor que renova todas as coisas.

A RECONCILIAÇÃO E A CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025

A Campanha da Fraternidade de 2025 traz o tema “FRATERNIDADE E ECOLOGIA INTEGRAL” e o lema “DEUS VIU QUE TUDO ERA MUITO BOM” (Gn 1,31), convidando-nos a refletir sobre a relação entre fé e responsabilidade socioambiental. Assim como a reconciliação transforma nossa relação com Deus e com o próximo, ela também deve abranger nossa relação com a criação.

A Parábola do Filho Pródigo nos mostra um caminho de transformação, no qual a reconciliação vai além da dimensão pessoal e alcança o coletivo. Da mesma forma, a ecologia integral propõe que a conversão não seja apenas espiritual, mas também uma mudança na maneira como nos relacionamos com a natureza, os recursos naturais e toda a criação divina.

Se o filho mais novo da parábola desperdiça seus bens e só percebe sua verdadeira condição ao se ver em necessidade, também a humanidade, muitas vezes, esgota os recursos da Terra sem pensar nas consequências. O retorno à casa do Pai pode ser visto como um convite à conversão ecológica, reconhecendo que a criação é um dom de Deus e que precisamos cuidar dela com responsabilidade.

A Campanha da Fraternidade 2025 nos lembra que a ecologia integral envolve aspectos sociais, econômicos e espirituais. Assim como o Pai misericordioso acolhe o filho que retorna, somos chamados a reestabelecer nossa relação com o mundo criado, promovendo justiça, sustentabilidade e respeito pela vida em todas as suas formas.

Que este tempo de Quaresma nos inspire a um compromisso renovado com a reconciliação, não apenas com Deus e com nossos irmãos, mas também com a Casa Comum, para que possamos testemunhar o amor de Deus em todas as dimensões da vida.

Para aprofundar esta reflexão, você pode assistir ao vídeo a seguir:

SUGESTÕES PARA OS CANTOS NESTA CELEBRAÇÃO:

1 – ABERTURA – EIS O TEMPO DE CONVERSÃO
Áudio: https://www.youtube.com/watch?v=eYz25RU7-Us

– SALMO 33 (34) – PROVAI E VEDE
Áudio: https://www.youtube.com/watch?v=ZfL-QcFCz5U

3 – ACLAMAÇÃO
LOUVOR E HONRA… VOU LEVANTAR-ME…
Áudio: https://www.youtube.com/watch?v=Y2eN6GmTNtc

4 – OFERENDAS – O VOSSO CORAÇÃO DE PEDDRA SE CONVERTERÁ
Áudio: https://www.youtube.com/watch?v=nI8LGfCBdp0

5 – COMUNHÃO – TANTO DEUS AMOU O MUNDO
Áudio: http://www.youtube.com/watch?v=RLc03QE221k

6 – FINAL – HINO DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025

Áudio: https://www.youtube.com/watch?v=puXg_QBgzY4

15º ENCONTRO NACIONAL DE ARQUITETURA E ARTE SACRA (ENAAS) REFLETIRÁ ESPAÇO LITÚRGICO E PIEDADE POPULAR

Estão abertas as inscrições para o XV ENAAS, de 02 a 06 de junho de 2025, em Goiânia.
Inscreva-se e participe: https://app.ciaticket.com.br/e/ENCONTROARTESACRA

15º Encontro Nacional de Arquitetura e Arte Sacra
02 a 06 de junho de 2025
Tema: Espaço Litúrgico e Piedade Popular

Sobre o ENAAS 2025

A Comissão Episcopal para Liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio do Setor Espaço Litúrgico, convida a todos para o 15º Encontro Nacional de Arquitetura e Arte Sacra (ENAAS). O evento bienal, consolidado como referência na Igreja e no meio acadêmico, ocorre em Goiânia-GO, em parceria com a Arquidiocese de Goiânia, PUC-Goiás, Santuário do Divino Pai Eterno e a Associação dos Liturgistas do Brasil (ASLI).

O ENAAS 2025 acontece em um contexto especial: o Ano Jubilar de 2025, que celebra os 60 anos do encerramento do Concílio Vaticano II. O evento promoverá um amplo debate acadêmico e interdisciplinar sobre a relação entre espaço celebrativo, liturgia e piedade popular, além da importância da preservação do patrimônio artístico e cultural da Igreja.

Local

Cidade da Comunhão – Centro Pastoral Dom Fernando (CPDF), Goiânia-GO.

Quem pode participar do 15º ENCONTRO NACIONAL DE ARQUITETURA E ARTE SACRA?

  • Estudantes, docentes e profissionais de arquitetura, engenharia e artes;
  • Padres, diáconos, seminaristas e religiosos;
  • Membros dos conselhos de economia e administração de paróquias e santuários;
  • Equipes de liturgia e leigos envolvidos em projetos de construção, reforma e decoração de igrejas;
  • Decoradores, organizadores de espaços celebrativos para eventos religiosos e técnicos de som e iluminação.

Inscrições no ENAAS:

As inscrições serão feitas pelo site da CiaTicket, com confirmação mediante pagamento da taxa:

  • 1º Lote: R$ 250,00 (28/nov/2024 a 31/dez/2024) – à vista;
  • 2º Lote: R$ 300,00 (01/jan/2025 a 31/mar/2025) – em até 2 vezes;
  • 3º Lote: R$ 350,00 (01/abr/2025 a 10/mai/2025) – à vista.

Estudantes têm 50% de desconto, mediante comprovação.

Hospedagem e Alimentação

Os participantes são responsáveis por sua hospedagem e alimentação. O evento sugere algumas opções:

Opção 1 – Cidade da Comunhão (CPDF)

Reserva diretamente pelo Centro Pastoral Dom Fernando. Valores incluem hospedagem de 02 a 06 de junho de 2025:

  • Quarto triplo (ventilador): R$ 240,00/pessoa
  • Quarto casal (ventilador): R$ 280,00/pessoa
  • Quarto duplo (ar-condicionado): R$ 400,00/pessoa
  • Quarto individual (ventilador): R$ 400,00/pessoa

Contato: Karla – WhatsApp: (62) 98178-0249
Pagamento via PIX: cpdf@arquidiocesedegoiania.org.br

Opção 2 – Hotel Santos Dumont

  • Quarto individual: R$ 298,00 (diária c/ café da manhã)
  • Quarto duplo: R$ 385,00 (diária c/ café da manhã)
  • Quarto triplo: R$ 480,00 (diária c/ café da manhã)

Opção 3 – Airbnb e Outras Modalidades

O participante pode escolher outras opções, considerando custo e deslocamento.

Pacote de Alimentação

Valor: R$ 530,00/pessoa (inclui todas as refeições durante o evento).
Pagamento até 10 de maio de 2025.
Contato: Karla – WhatsApp: (62) 98178-0249
PIX: cpdf@arquidiocesedegoiania.org.br

Seminários

Os participantes poderão se inscrever em 2 Seminários Temáticos, realizados nos dias 03 e 04 de junho. Inscrição a partir de 10 de março de 2025 pelo site: enaas2025.com.

Comunicações Científicas

Alunos de Graduação (TCC), Iniciação Científica, pós-graduandos, mestres e doutores podem submeter trabalhos.
Prazo para envio de resumos: 31 de março de 2025
Divulgação dos aprovados: 12 de abril de 2025
Edital completo no site: enaas2025.com

Outras Informações

A programação detalhada e a lista de palestrantes confirmados serão divulgadas nas redes sociais do Setor Espaço Litúrgico.

Dúvidas?
Contato: Raquel Tonini Schneider (assessora do Setor Espaço Litúrgico)
WhatsApp: (27) 99941-4644
E-mail: espacoliturgico@cnbb.org.br

ARTE FLORAL NA LITURGIA: O SIGNIFICADO DAS FLORES

Por Ir. Cidinha Batista, pddm
cidabatista2001@yahoo.com.br

As flores sempre estiveram presentes nos momentos mais marcantes da vida humana. Desde tempos imemoriais, elas simbolizam alegria, celebração e beleza. Seja em ocasiões festivas, cerimônias religiosas ou momentos de luto, as flores desempenham um papel essencial na expressão de sentimentos e emoções.

Na tradição bíblica, as flores são frequentemente mencionadas como símbolos da efemeridade da vida e da graça divina. São João da Cruz as via como representações das virtudes da alma, enquanto o ramalhete simbolizava a plenitude espiritual. A infância e a pureza são também associadas às flores, remetendo, de certa forma, ao Paraíso.

No entanto, devido à sua delicadeza, as flores também podem representar a transitoriedade da existência e a fugacidade da beleza terrena. Isso pode ser observado nos túmulos do cristianismo primitivo, frequentemente situados em jardins e adornados com flores frescas e gravuras florais, evocando a imagem de um paraíso repleto de vida. Inscrições tumulares e mosaicos costumam exibir coroas e cestos floridos, além da icônica figura da pomba segurando uma flor no bico.

A natureza efêmera das flores é especialmente evidente na Palestina, onde, após as chuvas de inverno, o solo árido se transforma em um vasto tapete colorido de flores silvestres. Contudo, essa exuberância dura pouco, já que as flores murcham rapidamente em poucos dias. As Escrituras fazem menção a essa efemeridade, associando-a à fragilidade humana (Sl 103,15-16; Jó 14,2; Is 40,6-8).

A ARTE FLORAL NA LITURGIA

A arte floral aplicada à liturgia deve refletir o Mistério Pascal e expressar a alegria da Ressurreição. A celebração pascal é perene e sempre traz consigo a novidade da criação. Assim, a fragilidade da flor pode simbolizar a força que se manifesta na simplicidade. Um arranjo floral, cuidadosamente planejado, é capaz de traduzir esse mistério profundo.

As flores possuem um papel fundamental na estética litúrgica, não apenas como meros adornos, mas como elementos que enriquecem e comunicam o sentido das celebrações. Elas não devem ser vistas apenas como enfeites decorativos, mas como participantes da linguagem litúrgica, contribuindo para a harmonia do espaço sagrado. O Bispo Auxiliar de Paris, Albert Rouet, ressalta que a liturgia é uma experiência integral, onde iluminação, música, cores, ornamentos e outros elementos sensoriais colaboram para a plena imersão na Palavra de Deus.

Um arranjo floral bem elaborado pode elevar a beleza das celebrações, conduzindo os fiéis a uma maior comunhão com Deus, que é a suprema Beleza. Santo Agostinho já afirmava que Deus é “a beleza de todas as belezas”.

ORIENTAÇÕES PARA A UTILIZAÇÃO DE FLORES NA LITURGIA

Segundo Jeanne Emard, as flores e plantas enriquecem o ambiente litúrgico, mas seu uso deve ser supervisionado por aqueles que compreendem a arte e a ambientação na comunidade. Não se trata apenas de encher o espaço de flores, mas de posicioná-las estrategicamente para contribuir com a harmonia do ambiente e destacar os elementos essenciais do culto.

Dessa forma, algumas diretrizes devem ser seguidas:

  • Evitar obstruções visuais e movimentação litúrgica: Os arranjos não devem bloquear a visibilidade dos fiéis nem atrapalhar a dinâmica das celebrações. O altar, por exemplo, não deve ser sobrecarregado com flores, pois sua importância central já é suficiente para captar a atenção.
  • Uso de elementos naturais: O princípio da autenticidade deve ser respeitado. Flores artificiais não são recomendadas, pois não refletem a vida e a renovação, que são aspectos fundamentais da mensagem cristã.
  • Simplicidade e equilíbrio: A exuberância excessiva pode desviar a atenção dos elementos principais da liturgia. Os arranjos devem ser equilibrados e permitir que cada flor respire e seja apreciada em sua individualidade.

PRINCÍPIOS DA VIVIFICAÇÃO FLORAL (ESCOLA SANGUETSU)

A técnica de vivificação floral, difundida pela Escola Sanguetsu, propõe uma abordagem artística e contemplativa na composição dos arranjos. Alguns princípios fundamentais são:

  1. Naturalidade: As flores devem ser valorizadas em sua essência, sem forçar formas ou posições artificiais. É essencial respeitar a natureza de cada espécie e priorizar flores da estação.
  2. Precisão no corte: O corte dos caules deve ser feito com exatidão, garantindo a melhor absorção da água e harmonizando cada ramo com o vaso.
  3. Expressividade artística: Arranjar flores deve ser como pintar um quadro, onde cada elemento contribui para uma composição equilibrada e expressiva.
  4. Harmonia entre flor, vaso e ambiente: O arranjo deve estar em sintonia com o espaço em que será inserido, criando uma unidade estética.
  5. Alegria na composição: A vivificação floral deve ser feita com alegria, pois essa energia se transmite a quem observa e participa da experiência litúrgica.

ASPECTOS PRÁTICOS PARA A MONTAGEM DOS ARRANJOS

Para obter um arranjo litúrgico harmonioso, alguns cuidados básicos são recomendados:

  • Escolher os galhos mais bonitos e valorizá-los no arranjo.
  • Selecionar um ramo principal que expresse movimento e graça.
  • Utilizar linhas complementares para reforçar a harmonia visual.
  • Dispor flores abertas e de cores fortes na parte inferior, enquanto as flores em botão ou de tons suaves podem ficar mais altas.
  • Preencher espaços vazios com discrição, utilizando folhagens e flores menores.
  • Manter as folhas fora da água para evitar deterioração precoce.
  • Cortar os caules submersos em água, garantindo uma melhor absorção hídrica e prolongando a durabilidade do arranjo.

CONCLUSÃO

A arte floral a serviço da liturgia é um convite à contemplação e à celebração da beleza divina. Ela transcende a estética e se torna um meio de comunicação simbólica, expressando os mistérios da fé cristã. Os arranjos florais devem ser concebidos com sensibilidade e respeito ao ambiente sagrado, colaborando para que a liturgia seja uma experiência profunda e transformadora.

Quando bem planejados, os arranjos florais não apenas embelezam o espaço, mas também elevam a alma dos fiéis, conduzindo-os a um encontro mais íntimo com o Criador. O uso de flores na liturgia é, portanto, uma arte sagrada, que une a criação divina ao louvor humano.

Referências:

  • EMARD, Jeanne. A arte floral a serviço da liturgia. São Paulo: Paulinas, 1999.
  • Dicionário dos Símbolos. São Paulo: Paulus, 1994.
  • Dicionário Bíblico. São Paulo: Ed. Paulinas, 1983.

O ARRANJO LITÚRGICO

Por Ir. Cidinha Batista, pddm
cidabatista2001@yahoo.com.br

O arranjo floral na liturgia é concebido a partir da Palavra de Deus proclamada e exerce um papel fundamental na criação de um ambiente propício à oração e à contemplação. Contribui para a beleza da celebração, ajudando os fiéis a mergulharem no mistério divino e a se unirem ao Deus de Amor, que Santo Agostinho descreve como “a Beleza de toda beleza”.

As flores, quando dispostas com inteligência e sensibilidade, podem ser um instrumento valioso para facilitar a vivência espiritual da comunidade. Elas evocam a grandeza da criação e ajudam a glorificar a Deus. Não é raro que, a cada fim de semana, em muitas igrejas ao redor do mundo, mãos habilidosas e dedicadas se empenhem na confecção de arranjos florais para a celebração dominical, tornando o espaço litúrgico mais acolhedor e harmonioso.

Apesar da importância desses arranjos, não existem regras estritas para sua elaboração, e essa liberdade é algo positivo. O princípio fundamental que deve guiar a ornamentação de uma igreja é a simplicidade. A decoração deve sempre estar a serviço da celebração, e não o contrário. O arranjo floral precisa integrar-se ao edifício e aos espaços litúrgicos, como o altar, o ambão e a pia batismal, sublinhando a relevância desses lugares sem jamais se tornar um elemento distrativo ou excessivamente chamativo.

A arte floral na liturgia deve estar plenamente a serviço da celebração e do seu conteúdo essencial: a presença de Cristo na assembleia, no ministro, na Palavra e na Eucaristia. Para isso, a escolha e a disposição das flores devem respeitar as particularidades do tempo litúrgico, as estações do ano e as festas religiosas. Celebrações como as do Senhor, da Virgem Maria, dos santos padroeiros ou dos domingos do Tempo Comum exigem diferentes abordagens na ornamentação.

A técnica floral, no sentido estrito, não é o fator mais relevante. Em contrapartida, princípios básicos, guiados pelo espírito da liturgia e pelo bom senso, devem ser seguidos. Exageros devem ser evitados: um excesso de flores pode ter um efeito contrário ao desejado, sobrecarregando o ambiente em vez de contribuir para a harmonia da celebração. A escolha das flores deve ser determinada pelo contexto litúrgico, e isso inclui decidir não apenas quais flores serão utilizadas, mas também quais espaços permanecerão sem ornamentação.

Um bom arranjo litúrgico não deve chamar atenção para si mesmo, mas sim conduzir os fiéis a uma experiência espiritual mais profunda. Seu papel não é ser contemplado por si só, mas ajudar a comunidade a contemplar o que ele representa e honra. As flores, como expressão do dom gratuito de Deus, simbolizam a criação e a vida, e ao mesmo tempo manifestam a gratuidade daqueles que, com amor e dedicação, se reúnem para celebrar o divino.

Em si mesmas, as flores não transmitem uma mensagem específica, mas, dentro do contexto litúrgico, tornam-se expressão de alegria, esperança na ressurreição e memória da fidelidade de Deus. Celebrar a liturgia com a arte floral é um autêntico serviço à Igreja. A experiência de se utilizar a natureza para expressar a fé reforça a maravilha da criação e a conexão entre a beleza e a espiritualidade. Assim, os arranjos litúrgicos se tornam um caminho de fé e reflexão.

A Arte da Ikebana

A Ikebana, arte floral japonesa, traz um significado profundo para a relação entre o homem e a natureza. Seu nome deriva das palavras japonesas “ikeru” (fazer viver) e “hana” (flor), podendo ser traduzido como “criar e conduzir as flores à vida”.

Essa arte milenar possui um simbolismo próprio e foi influenciada pela tradição budista. Introduzida no Japão no século VI por monges budistas, a prática da oferenda de flores a Buda rapidamente se tornou uma forma refinada de expressar a harmonia entre o ser humano e o universo. Inicialmente, era praticada apenas por monges, mas, com o tempo, foi sendo incorporada à cultura japonesa e ganhando novos significados.

O princípio fundamental da Ikebana baseia-se em três elementos: céu, homem e terra. Cada composição floral busca integrar esses três aspectos em um equilíbrio harmonioso. O processo de criação é, acima de tudo, um exercício espiritual e estético, que permite ao praticante entrar em sintonia com a essência das flores, um conceito conhecido no Japão como “o coração da flor” (Hana).

Na Ikebana, cada composição é única, pois reflete a energia, os sentimentos e a percepção da natureza de quem a cria. Seja na primeira ou na centésima composição, a busca pela harmonia é sempre a mesma. Como destaca L. Labarrière: “A Ikebana pode ser comparada à pintura, à música, à caligrafia e à escultura. Seu aspecto efêmero a torna ainda mais poética”.

No Ocidente, ao aplicarmos princípios da Ikebana aos arranjos litúrgicos, podemos aprender muito sobre linearidade, essencialidade e a dimensão contemplativa. Os arranjos devem brotar da Palavra de Deus e do mistério celebrado, ao mesmo tempo em que expressam a acolhida da natureza e a oferta da criação a Deus. A disciplina e o rigor da Ikebana nos ensinam que a beleza está ligada à simplicidade e à verdade, valores que também moldam nosso caráter e espiritualidade.

Assim, ocupar-se da arte floral litúrgica não é apenas uma questão decorativa, mas um verdadeiro serviço à Igreja e à fé.

 

ESPAÇO PARA CELEBRAR: COMO A ARQUITETURA E O AMBIENTE INFLUENCIAM AS LITURGIAS

Por Ir. Cidinha Batista
cidabatista2001@yahoo.com.br

Em nossos espaços de celebração, é comum realizarmos diversas liturgias ao longo dos tempos litúrgicos, sempre no mesmo local: o salão, com os mesmos móveis e a mesma igreja. De forma semelhante, a vida também se desenrola no mesmo cenário natural, com as mesmas montanhas, rios, árvores e o céu que nos circundam. No entanto, a natureza, com seus ciclos diários e sazonais, com o frio e o calor, a chuva e o vento, e os diferentes aromas, enriquece constantemente este cenário e nos permite fugir da rotina.

Inspirar-se na natureza pode ser uma excelente forma de enriquecer os espaços litúrgicos, ajustando-os aos tempos e celebrações da Igreja. A natureza sabe utilizar a luz e a sombra, as cores, os cheiros e as diferentes atmosferas de cada estação. No inverno, a luz escassa e as cores mais apagadas trazem uma sensação de introspecção, enquanto no verão, a abundância de água e a vegetação vibrante despertam ânimo. A primavera é uma explosão sensorial, e o outono nos prepara para a melancolia do inverno. Para cada tempo litúrgico, podemos (e devemos) adaptar os espaços de celebração de forma discreta e coerente com a essência do momento.

A Luz: Elemento Essencial da Liturgia

A iluminação é um fator fundamental para o desenvolvimento da liturgia e deve ser cuidadosamente planejada. Cada ambiente requer um tipo de luz específico, com intensidades variadas conforme a função do local. A luz em uma igreja, por exemplo, não deve ser a mesma que em uma sala de aula ou escritório. Uma igreja iluminada excessivamente pode perder seu caráter acolhedor, enquanto a iluminação fluorescente, típica de escritórios, não é indicada para ambientes de oração.

A iluminação pode, inclusive, ser usada de forma estratégica. Destacar certos espaços, como o altar ou a mesa da Palavra, com uma iluminação direcionada, valoriza os elementos essenciais da celebração. O contraste entre luz e sombra, além de ser esteticamente atraente, remete à dinâmica da fé, que transita entre a luz e as trevas.

Cores e Texturas: O Conforto Estético

As cores e as texturas desempenham um papel crucial na criação de um ambiente acolhedor e propício à oração. Cores frias, como o cinza e o gelo, tendem a afastar, criando uma atmosfera de frieza. Já tons como areia, camurça, terra e pérola são acolhedores, promovendo um ambiente confortável. Além disso, as texturas dos materiais que revestem o interior e o exterior das igrejas podem reforçar essa sensação de acolhimento, como as paredes texturizadas que não só enriquecem visualmente o espaço, mas também contribuem para a acústica.

Decoração: Simplicidade e Coerência

É comum vermos construções feitas de forma desordenada, para depois buscar um toque de beleza e acolhimento através da decoração. No entanto, a decoração não deve ser um elemento isolado. Ela deve estar sempre a serviço do projeto arquitetônico e litúrgico, criando uma unidade harmoniosa. Seja através de vitrais, pinturas ou outros elementos decorativos, tudo deve ser pensado de maneira cuidadosa, alinhado à teologia e à liturgia. O excesso de decoração pode tornar o ambiente sobrecarregado, o que acaba afastando os fiéis da experiência de oração, dispersando sua atenção.

Em espaços litúrgicos, menos é mais. A sobriedade, a simplicidade e a discrição devem ser priorizadas, evitando a tentação de enfeitar o ambiente de maneira exagerada.

Flores: Moderação na Simplicidade

Quanto às flores, a discrição é essencial. Muitas vezes, os arranjos florais ganham destaque de forma excessiva, obscurecendo o altar e a mesa da Palavra. É importante que o arranjo não seja mais notável que o próprio espaço sagrado. Além disso, plantas e flores artificiais não devem ser utilizadas. Em um ambiente de celebração, onde a verdade é proclamada e experimentada, o uso de materiais artificiais – como o plástico, símbolo de descarte – não é apropriado.

Vasos de barro, madeira ou ferro são os mais indicados, trazendo um toque de nobreza e dignidade ao ambiente. A escolha do material e a quantidade de decoração devem sempre estar em consonância com o objetivo litúrgico e teológico do momento.

Conclusão: Um Espaço Coerente com a Liturgia

Para cada liturgia, a dinâmica do espaço deve ser cuidadosamente planejada. O local de celebração não deve ser apenas um ambiente decorado, mas um espaço com um objetivo claro e definido. A arquitetura e a decoração devem ser pensadas para servir à liturgia, para enriquecer a experiência de oração e promover uma verdadeira vivência da fé. O segredo está na simplicidade, no equilíbrio, e na coerência com o tempo litúrgico.


Bibliografia:

  • Carpanedo, Penha e Guimarães, Marcelo. Dia do Senhor: Guia para as Celebrações das Comunidades. São Paulo, Ave Maria, 1997.
  • Beckhäuser, Alberto. Celebrar a Vida Cristã. Petrópolis, Vozes, 1984.
  • Machado, Regina Céli de Albuquerque. O Local de Celebração: Arquitetura e Liturgia. São Paulo, Paulinas, 2001.

 

A Sacramentalidade da Revelação e da Liturgia

O vídeo acima, acessível através do link https://www.youtube.com/watch?v=VX7pbMYk0Co, integra a programação da 2ª Maratona Sacrosanctum Concilium 2024. Neste material, o Pe. Danilo César e a Ir. Veronice Fernandes, pddm, nos conduzem em uma reflexão enriquecedora e profunda sobre um tema central para a vida litúrgica e espiritual da Igreja: “A Sacramentalidade da Revelação e da Liturgia”. Através de suas palavras e ensinamentos, ambos aprofundam o entendimento sobre como a Revelação de Deus se manifesta de forma sacramental e como a Liturgia é o espaço privilegiado para essa manifestação se tornar visível e concreta na vida dos fiéis. A reflexão proporcionada por esse vídeo é uma oportunidade para compreender melhor os mistérios da fé e a importância da Liturgia no caminho de santificação e encontro com Deus.

A Sacramentalidade da Revelação e da Liturgia

A palavra “sacramentalidade” remete à presença de Deus nas realidades visíveis e tangíveis do mundo, algo que é um ponto central na fé cristã. A sacramentalidade é um conceito que se desvela principalmente na Revelação de Deus e na Liturgia, sendo estes dois pilares inseparáveis da experiência cristã. A Revelação de Deus, ao se manifestar de forma concreta através da história e da encarnação de Jesus Cristo, torna-se um dos principais pontos de encontro entre o divino e o humano. Já a Liturgia, como expressão pública e comunitária da fé, oferece um espaço privilegiado onde o mistério divino é celebrado e vivido de maneira sacramental.

A Revelação: Deus se Faz Presente

A Revelação de Deus é a manifestação de Sua vontade, Sua essência e Sua presença no mundo. A Bíblia, a Tradição e a Igreja como toda são canais através dos quais Deus se comunica com a humanidade. A sacramentalidade da Revelação está justamente no fato de que Deus escolheu se revelar de maneira acessível e concreta, em momentos e gestos específicos, que tocam o ser humano de maneira profunda e transformadora.

O ponto culminante dessa Revelação é a encarnação de Jesus Cristo. A Palavra de Deus, que estava com Deus desde o início, se fez carne e habitou entre nós (João 1,14). A sacramentalidade aqui se dá pela presença visível e histórica de Cristo, que é o próprio Deus em forma humana. Sua vida, sua morte e sua ressurreição são acontecimentos fundantes da nossa fé, e todas essas ações de Cristo são, de certa forma, sacramentos – sinais visíveis de uma graça invisível que nos une a Deus.

Além disso, a Revelação não se limita a um passado distante, mas continua viva na vida da Igreja. Cada vez que a Palavra de Deus é proclamada, ela se torna um canal de encontro com o divino. A Revelação é, portanto, dinâmica e transformadora, porque, por meio da Palavra e da ação de Cristo, ela é sempre atualizada e vivida nas comunidades cristãs.

A Liturgia: O Encontro com o Divino no Mundo Visível

A Liturgia, por sua vez, é o espaço onde a sacramentalidade da Revelação se torna visível e palpável. Ela é a ação pública da Igreja, que celebra os mistérios de Deus, especialmente através dos sacramentos. A Liturgia é, portanto, uma forma de “vivenciar” a Revelação de Deus, de transformar os mistérios da fé em ações e gestos que podem ser percebidos pelos sentidos humanos.

Cada sacramento, por exemplo, é um “sinal visível” da graça de Deus, sendo uma mediação através da qual o divino se torna acessível e presente no cotidiano dos fiéis. Na Eucaristia, por exemplo, o pão e o vinho se tornam o Corpo e o Sangue de Cristo, uma transformação que é simultaneamente visível e invisível. O ritual, as palavras e os gestos litúrgicos são canais através dos quais Deus se comunica, tornando-se presente na vida da comunidade. A água do batismo, o óleo da unção, o pão e o vinho da Eucaristia, todos esses elementos se tornam meios pelos quais a graça de Deus se torna tangível e real.

A Liturgia, portanto, não é apenas um conjunto de rituais, mas é uma forma de participar da própria vida de Deus, de ser transformado por Ele. Cada celebração litúrgica é uma oportunidade de viver a Revelação de Deus de maneira concreta, de experimentar Sua presença e de ser conduzido à santidade.

A Sacramentalidade como Caminho de Santidade

A sacramentalidade da Revelação e da Liturgia, em última análise, nos chama à santidade. A Revelação de Deus, que se fez carne em Cristo, nos oferece o modelo perfeito de vida, enquanto a Liturgia nos proporciona os meios de viver essa vida em Cristo, por meio dos sacramentos e da celebração comunitária.

Através dos sacramentos, os cristãos recebem a graça necessária para viver de acordo com a vontade de Deus. A confissão purifica a alma, a Eucaristia fortalece espiritualmente, o matrimônio santifica a união entre os esposos, e a unção dos enfermos oferece conforto e cura. Cada sacramento é um momento de encontro com o divino, que nos transforma de dentro para fora, ajudando-nos a viver mais plenamente de acordo com o Evangelho.

Além disso, a Liturgia, como um evento comunitário, reflete a Igreja em sua totalidade, enquanto Corpo de Cristo. Participar da Liturgia é, portanto, também uma forma de aprofundar nossa comunhão com outros membros da Igreja, com a qual compartilhamos a mesma fé e esperança. A sacramentalidade da Liturgia nos une uns aos outros e nos fortalece na caminhada cristã, pois nos coloca na presença de Deus e nos torna participantes da Sua ação salvífica.

Conclusão: A Presença de Deus no Mundo Visível

A sacramentalidade da Revelação e da Liturgia nos lembra que Deus não está distante, mas se faz presente nas realidades do mundo e da história. A Revelação de Deus, em Cristo e nas Escrituras, é a chave para compreendermos o sentido da vida e o mistério da nossa salvação. A Liturgia, por sua vez, oferece o meio pelo qual experimentamos a presença de Deus de maneira concreta e acessível, transformando o que é visível em um sinal de Sua graça. Juntas, a Revelação e a Liturgia nos convidam a uma vida de fé profunda e de comunhão com Deus, uma vida em que o divino toca o humano e nos chama à santidade.

Arte Floral na Liturgia: A Estética a Serviço da Fé

Por Ir. Cidinha Batista
cidabatista2001@yahoo.com.br

A estética em nossa liturgia

A estética de uma celebração afeta todos os sentidos, e não apenas a visão. Também o ouvido pode se abrir mais a uma mensagem profunda quando a escuta em um som mais harmônico.

A liturgia tem essencialmente uma linguagem simbólica, com a qual nos introduz em uma visão mais profunda das coisas e do mistério que celebramos. A liturgia é feita de ideias e palavras, de ação misteriosa de Deus, de fé, mas também de intuição, comunicação, gestos e símbolos, alegria festiva, contemplação… Por isso, a linguagem da estética pertence a sua expressividade, porque pretende nos conduzir a uma sintonia profunda com a fonte de toda a salvação que Deus nos quer comunicar. Herdamos uma mentalidade que se mostra, em parte, demasiadamente, preocupada com a validade dos gestos sacramentais ou da ortodoxia das palavras. Sem descuidar disso – que já seria o suficiente – a liturgia nos faz celebrar os dons de Deus com uma riqueza muito mais expressiva de símbolos que afetam não só nossa mente ou nossa consciência de fé, mas também nossa sensibilidade e nosso senso afetivo. A estética afeta toda a liturgia: os quadros, os sinais, os gestos e movimentos, o canto, as flores…

A estética do lugar

Quando se refere ao lugar em que a comunidade se reúne para sua oração, a estética equivale a um ambiente acolhedor e confortável. Por sua iluminação, sua disposição ordenada e pela harmonia de seu conjunto, um espaço celebrativo deve proporcionar desde o primeiro momento uma sensação agradável: uma primeira prova do apreço que todos merecem pela celebração que vai ter lugar e pela comunidade que foi convocada.

A linguagem das flores

Um dos elementos que podem ser considerados representativos de nosso sentido da estética em torno da celebração são as flores. Todos entendem a linguagem das flores. Um ramalhete no cemitério, ou na missa festiva, ou como presente, não necessita de apresentação. Tanto na vida social como na liturgia, algumas flores dispostas harmoniosamente, cheias de cor e perfume cantam uma série de sentimentos: a alegria, a festa, o respeito, o amor, a dedicação de uma homenagem interior. O que pensamos quando observamos algumas flores diante da imagem de Nossa Senhora, ou diante do Santíssimo, ou na frente do ambão, ou junto ao túmulo de um ente querido? Desde a exuberante oferenda de milhares de flores a Nossa Senhora até a rosa solitária que uma criança oferece a sua mãe, ou um apaixonado a sua amada, ou um ramalhete que alguém carrega na procissão na Missa, tudo é um discurso de amor e de fé.

O autor (Rimaud) conta a respeito de um grupo de jovens que celebrava a Eucaristia ao ar livre, na África, sobre uma grande pedra que fazia as vezes de altar. Um pastorzinho os contemplou por longo tempo, e a seguir, silenciosamente, aproximou-se deles e colocou uma flor, que acabava de colher no campo, sobre a pedra do altar, junto ao pão e ao vinho, e retirou-se. Os jovens ficaram contemplando em silêncio o sentido de um gesto: uma flor que com sua beleza e seu perfume queria somar-se expressivamente à fé de um grupo e à consciência do encontro com o dom de Deus… A beleza de uma criatura somava-se à homenagem a seu Criador.

O senso estético das pessoas que se ocupam do adorno de uma igreja saberá, naturalmente, encontrar o equilíbrio e o lugar certo para as flores, sem sobrecarregar excessivamente os espaços. É toda uma linguagem expressiva, aquela falada pelas flores. Como também o é o fato de que no Advento e na Quaresma não apareçam em nosso espaço de celebração, porque queremos reservar sua alegria visual para o Natal ou para a Noite de Páscoa.

A estética a serviço da celebração

Evidentemente, a arte não é tudo. A dimensão estética de nossa celebração não é a última meta da liturgia. Não se trata de cair no esteticismo, que nos faria supervalorizar algo que é importante, mas, todavia, não é o mais importante. Não podemos nos contentar com uma realização harmônica dos ritos ou com a limpeza e o decoro do espaço celebrativo. A arte e a estética estão a serviço da fé, como o estão a Palavra, o canto e a linguagem dos símbolos. A estética é parte da linguagem da liturgia e, portanto, de sua eficácia e sua dinâmica. Faz-nos superar uma visão “consumista” ou “validista” dos sacramentos, torna-nos expressivos em nossa oração, alimenta-nos em nosso apreço pelo que celebramos, recordando-nos suavemente os valores transcendentes com os quais entramos em contato em nossa celebração. A estética não é algo que esteja fora da liturgia: está dentro dela, é algo integrante de nosso fazer ritual e nos ajuda a celebrar melhor.

ADALZÁBAL, José. Gestos e Símbolos. Ed Loyola. São Paulo, 2005.